vozes do mercado
um novo paradigma para as companhias elétricas: a ascensão do prosumer
Filipe Gil Electric Utilities Account Manager Schneider Electric Portugal
O modelo de negócio da indústria elétrica permaneceu praticamente inalterado no decorrer do último século. É um modelo saído da época de Edison, onde as companhias elétricas eram responsáveis por produzir e vender energia ao consumidor. Os consumidores eram simplesmente consumidores de energia, o fluxo de energia era de um só sentido e a procura era bastante previsível. Hoje em dia, o modelo de companhias elétricas está a atravessar uma mudança de paradigma. Com a emergência de uma tecnologia mais avançada e inteligente, os consumidores podem agora fazer escolhas mais informadas acerca do uso de energia e tornarem-se produtores e armazenadores de energia – conhecidos como prosumers – contribuindo para um fluxo de energia bidirecional. Mas a transformação não termina aqui. Imagine um mundo onde os consumidores de energia são capazes de escolher proativamente o tipo de fonte de energia que querem consumir. Imagine que as fontes de energia verde e renovável fornecem a maior parte ou toda a energia necessária para cada propósito: iluminação, aquecimento, processos e transporte. Imagine uma fonte de eletricidade completamente fiável. Embora seja claro que a ascensão do prosumer alterou o modelo das companhias elétricas como o conhecemos, que oportunidades existem para os clientes e utilities nesta nova era de gestão de energia bidirecional? Que desafios se encontram no caminho de uma transição suave? E quem serão os verdadeiros vencedores?
Organizações impulsionadas por “prosumers” À medida que os custos de energia continuam a aumentar, campus educativos, bases militares, hospitais, edifícios comerciais, fábricas, habitações – até mesmo distritos inteiros de cidades – estão a tornar-se prosumers que
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consomem, produzem e controlam o seu próprio uso de energia. Uma das maiores áreas de oportunidade para reduzir os custos operacionais nas empresas é a gestão do consumo de energia. Com o aumento da disponibilidade e acessibilidade da informação, os consumidores têm agora as ferramentas e a compreensão para assumir o controlo do seu consumo de energia. Em indústrias eletrointensivas como a fabricação de aço, os trabalhadores podem observar padrões na produção de energia e destacar áreas onde eficiências poderão ser aplicadas. Em ambientes corporativos, a informação sobre o uso de energia pode ser partilhada com os colaboradores de forma a incentivá-los a participar ativamente na redução de gastos. A um nível mais elevado – a partir do momento em que os consumidores empresariais aprendam o significado da sua fatura de energia e como controlá-la, rapidamente perceberão que existem incentivos financeiros eficazes para o consumo de energia de forma pré-ajustada e previsível. As companhias elétricas e os operadores de rede de algumas regiões estão a introduzir “programas de rede inteligente” para incentivar grandes consumidores, comerciais e industriais, a utilizar melhores práticas de gestão energética, especialmente durante os horários de ponta, quando existem riscos para a estabilidade do sistema elétrico. As verdadeiras organizações de prosumers também estão a investir na produção de energia localizada. Esta medida pode incluir painéis solares, turbinas eólicas, sistemas combinados de calor e energia, ou motores a diesel ou a gás. Construir este tipo de microrrede local pode não só compensar o custo da compra de energia a partir da rede central mas, se uma fonte de energia renovável como a solar for instalada, pode também reduzir a pegada de carbono de uma organização e aumentar a sua imagem como um “cidadão corporativo ecológico”. Muitas organizações já se aperceberam dos benefícios do modo prosumer. A Austrália, por exemplo. De acordo