O combustível que vem dos telhados

Page 1

espaço lneg

o combustível que vem dos telhados

LNEG António Joyce e Teresa Ponce de Leão

Num cenário de mudança climática foi estabelecido um acordo (COP 21 – Acordo de Paris 2015) cujo principal objetivo é o de limitar o aumento do aquecimento global em, no máximo, 2° C (a referência é a temperatura média do período pré-industrial). Esta necessidade é indutora de novos paradigmas que implicam novas soluções e, simultaneamente, oportunidades para a economia dos países. Os transportes representam cerca de 1/3 das nossas emissões, pelo que a necessidade de garantir a mobilidade com base em fontes de energia não poluente torna incontornável a necessidade de explorar novas fontes de abastecimento da energia, em particular, a sua eletrificação. Os ministros do Ministerial e os países aderentes ao reforçaram no COP 21 o compromisso neste sentido. Induzido pelas políticas públicas resultantes de uma forte consciencialização e responsabilização, o mercado elétrico está a descolar estando o seu crescimento em fase exponencial. Mais de metade das vendas dos Veículos Elétricos (VE) em todo o mundo ocorreu em 2015. A mudança está a ser disruptiva e transversal. Acontece na rede pública, terra, água e ar, nas frotas, no turismo, nos táxis, nas duas rodas, no veículo privado, ou em novos modos de mobilidade (bike, car sharing/pooling, micro logística urbana, entre outros). Segundo a Associação Portuguesa do Veículo Elétrico, a venda de VE aumentou mais de 25 vezes, desde 2010, em Portugal. Mas como garantir que essa eletricidade, essa fonte de energia para a mobilidade tem origem numa fonte renovável? Uma vez que uma componente importante da mobilidade está associada ao nosso transporte diário entre e dentro das cidades porque não pensar em soluções simples associadas ao binómio edifícios/veículos? Recentemente a empresa norte-americana Tesla anunciou um investimento na solução telhados solares, associado a baterias domésticas e ao veículo elétrico. Trata-se de uma proposta integrada verdadeiramente em linha com a estratégia correta para a independência dos combustíveis fósseis e luta contra as alterações climáticas. Só com uma integração devidamente avaliada e adaptada às soluções específicas e locais será possível otimizar o mix energético.

A novidade está na forma do anúncio ao associar de forma direta os veículos elétricos aos telhados fotovoltaicos. Há muito que sabemos, tema amplamente discutido quer na OCDE/AIE quer fora da CE, que a questão chave para a otimização da penetração de renováveis é a integração de sistemas. Isto é, em concreto, a utilização de fontes renováveis cujo somatório ao longo do tempo segue a curva do consumo e vice-versa, ou seja a gestão do sistema ser capaz de fazer coincidir a oferta e a procura, e este equilíbrio implica a adequada gestão do lado da produção mas também do lado do consumo, o que se consegue através da garantia de oferta e mecanismos de mercado adequados. É do domínio comum que a produção tem que seguir o consumo e que para que este equilíbrio seja atingido há que garantir que a incerteza na produção é mitigada pela capacidade de backup de forma a garantir segurança no abastecimento. Ao introduzir capacidade de armazenamento de energia elétrica nas nossas casas que permita diferir a entrega da energia produzida estamos a garantir esse equilíbrio e neste aspeto é de realçar o papel que o advento da mobilidade elétrica pode trazer. Numa lógica de produtor consumidor, quer seja residencial quer seja nos serviços, em particular nas cidades, a penetração da mobilidade elétrica desempenha aqui um papel fundamental. Os nossos veículos poderão vir a ser uma dupla vantagem para o sistema, ter funções de armazenamento, acumulando energia nos momentos de excesso, muitas vezes coincidentes com as horas de trabalho, e fornecendo aos pontos de consumo nos períodos de maior procura muitas vezes coincidentes com os períodos de descanso nas habitações. Assim a instalação de sistemas fotovoltaicos nos edifícios, em particular nas coberturas dos edifícios residenciais, públicos, ou de utilização pública, instalações militares ou comerciais, nomeadamente grandes superfícies, começa a ser uma realidade e poderão funcionar como fontes de energia para abastecimentos dos nossos veículos elétricos. Do ponto de vista da sua integração arquitetónica as soluções são muito distintas e vão desde a simples instalação dos sistemas nas coberturas, sem qualquer perspetiva

Fonte: www.tesla.com/solar

8


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.
O combustível que vem dos telhados by cie - Issuu