Cidadanista 2

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número de pessoas que decidem abandonar seus modos de vida tóxicos, nas cidades médias e nos grandes centros urbanos, em busca de comportamentos menos destrutivos. Há também grande interesse por parte de movimentos sociais que reivindicam a posse e o uso da terra, no Brasil e América Latina, pela incorporação dos conhecimentos da permacultura, como é o caso do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e Via Campesina. O aumento no número de comunidades intencionais, que em sua maioria se utilizam da permacultura para manejar seus espaços, é outro indicativo da expansão deste movimento na região. Empoderamento, autonomia e trabalho criativo são aspectos comumente relacionados à prática da permacultura. Isso ocorre na medida em que seus conhecimentos são acessíveis a qualquer um, não existindo barreiras quanto ao sexo, idade, religião, educação ou cultura. Além do mais, o que se privilegia na construção de espaços guiados pelos princípios éticos e de design é a capacidade de observação, entendimento e conexão entre padrões naturais de modo a satisfazer as necessidades locais, priorizando o uso dos recursos que se encontram disponíveis no próprio lugar. Para muitos permacultores e estudiosos do meio ambiente, a divulgação e apropriação das tecnologias e conhecimentos permaculturais podem ter a capacidade de mobilizar comunidades

em movimentos autogestionários, contribuindo para a recuperação da autoestima do grupo, reconstruindo laços de solidariedade comunitários e ativando o potencial para a articulação de projetos políticos viáveis 2. Entretanto, há que se levar em conta a imensa capacidade da qual dispõem atualmente o sistema capitalista, seus principais atores e burocracias; seus meios de dominação material e cultural que, por sua vez, operam na legitimação da barbárie ecológica e social. Não é raro nos depararmos com cursos e projetos permaculturais que não guardam relação alguma com os princípios éticos enunciados por seus criadores, ou que são deliberadamente arquitetados para servir às classes mais favorecidas tendo como principal objetivo o lucro. BEM VIVER E A CRÍTICA AO DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA Paralelamente ao surgimento da permacultura, os debates em torno do conceito de Bem Viver aparecem com força no cenário político latino-americano a partir da década de 1970. Fruto de intensa mobilização por parte dos movimentos indígenas, que passam a ganhar protagonismo em meio ao impulso decolonial em intenso diálogo e aprendizado mútuo junto a movimentos ecologistas e ONGs comprometidas. O Bem Viver, ou Teko Porã em tupi-guarani, CIDADANISTA

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