A estética espetacular da religiosidade

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aestéticaESPETACULARdareligiosidade Cícero Félix


Universidade de Brasília Instituto de Artes Programa de Pós-graduação em Artes Cênicas (Doutorado) 2° Semestre de 2020 Disciplina: Etnocenologia Professor: Dr. Graça Veloso Discente: Cícero Félix

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aestética ESPETACULAR dareligiosidade Desde 2010, coleciono fotografias, entrevistas e registros audiovisuais da cultura sanfranciscana do Oeste da Bahia, no Médio São Francisco. Desse material, selecionei parte do conteúdo religioso e fiz este ensaio, a partir de fotos e fotogramas dos filmes (por essa razão, temi pela qualidade técnica dessas imagens capturadas, mas, a composição estética me animou). Como resultado, compus esse ensaio cartográfico da espetacularidade religiosa dos povos sanfranciscanos que habitam essa região, para a disciplina de Etnocenologia. Reuni 13 manifestações religiosas espetaculares que acontecem em 11 municípios, situando o leitor sobre o lugar e o período de sua realização. Trata-se de um recorte sensível do extraordinário que perturba a rotina do cotidiano através de práticas sagracionais realizadas por esses povos.

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Sexta-feira Santa: Penitentes e lamentadores 2 de fevereiro: Dia de Iemanjá

2 de julho: peregrinação ao Cantinho do Senhor dos Aflitos 2 de fevereiro: Dia de Iemanjá e Dia de Nossa Senhora das Candeias

5 de agosto: Romaria ao Senhor Bom Jesus

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24 de dezembro a 6 de janeiro: Altar do Menino Deus 2 de fevereiro: Folia de Nossa Senhora do Livramento Sexta-feira Santa: Lamentação dos homens

24 de dezembro a 6 de janeiro: Lapinha da Sú 1° a 6 de janeiro: Reisado do Salto

Semana Santa: Encomendação de Alma

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penitentes e lamentadores Duas tradições se entrelaçam na Sexta-feira Santa, no bairro São Francisco, na cidade da Barra: Penitentes e Lamentadores. Os Lamentadores saem de um barranco às margens do rio São Francisco para cumprir o percurso de 14 estações. Na terceira estação, eles encontram os penitentes, homens vestidos de “nágua” na cintura, lenço à cabeça e pequenos chicotes com lâminas amarradas a uma chapa de couro nas pontas. Eles se dirigem ao puxador da lamentação e, à sua frente, se ajoelham e se benzem como a pedir permissão para iniciar a penitência. Em seguida, eles começam o autoflagelo. Em transe, enquanto lançam o chicote às costas, rezam o Pai Nosso entre grunhidos de dor. O ritual dos penitentes segue até a meia noite. A essa altura, as “nágua” estão tomadas do vermelho do sangue e o penitente aliviado por cumprir mais um dos sete anos de corte a que a tradição recomenda. Os lamentadores continuam a rezar pelas almas até chegar a última estação, no cruzeiro do bairro às margens do Velho Chico.

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Cemitério na margem direita da rodovia estadual BA-161, que dá acesso à cidade, na noite de Sexta-feira Santa, 18 de abril de 2014.

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Em um barranco às margens do rio São Francisco, grupo de lamentadores se preparam para cumprir as 14 estações do lamento.

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Geraldo Vieira, puxador da lamentação, em uma das primeiras estações

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Penitentes em ação de autoflagelo. “Queremos sofrer o mesmo que Jesus sofreu”, explicou à época (2013) João Vitorino, que já se cortava há 26 anos. Herdara a tradição da penitência com seu avô

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De brancas, a “nágua” e o pano sobre a cabeça ficam vermelhas do sangue espirrado e escorrido dos golpes de chicotes nas costas.

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Cruzeiro do bairro São Francisco, 14ª e última estação da lamentação, que se encerra por volta de uma hora da manhã.

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iemanjá e a arte de gerard Depois de algumas manifestações no salão do babalorixá e santeiro José Geraldo Machado da silva, conhecido apenas por Gerard, os devotos de Iemanjá, vestidos de orixás e mães-de-santo, saem em desfile seguido por um trator com uma enorme imagem de Iemanjá. O grupo para o cortejo em frente a igreja de Nossa Senhora do Rosário e lavam a calçada. Depois seguempara o cais no centro da cidade. Um grupo de percussionistas saúda o desfile, um foguetório explode no ar. Logo, mães e pais-de-santo sobem em barcos fazer as oferendas nas águas do encontro do rio São Francisco com o Rio Grande. Gerard, organizador do cortejo há 28 anos, é um dos artistas mais conhecidos da cidade, com seus santos de dupla face (de um lado um santo católico e do outro um orixá).

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O cortejo para na Igreja Nossa Senhora do Rosário e fazem algumas evoluções enquanto as mães-de-santo se preparam para lavar a calçada da frente da igreja.

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A imagem de Nossa Senhora do Rosário é colocada na porta central da igreja para abençoar o cortejo.

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Imagens dupla face produzidas por Gerard: de um lado um santo católico, do outro um orixá.

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Santo é santo. Orixá é orixá Mas somos todos filhos de Deus” Gerard, santeiro e babalorixá da Barra

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No encontro entre as águas barrentas do rio São Francisco e escuras do rio Grande, as oferendas são entregues à Iemanjá.

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à iemanjá, oxum e nossa senhora das candeias No final da tarde do dia 2 de fevereiro, ás águas do rio Grande recebem as oferendas para Iemanjá, orixá das águas salgadas, e para Oxum, orixá das águas doces. O cais de Barreiras, localizado no centro histórico da cidade, se torna palco para celebração e encontro dos terreiros da cidade. Ao anoitecer, em ruas não muito longe dali, moradores mais velhos colocam velas acesas nas frentes das portas e janelas. É uma tradição que resiste em na região mais antiga da cidade. É dia de Nossa Senhora das Candeias, aquela que ilumina os caminhos.

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O cais às margens do rio Grande é ponto de encontro dos terreiros da cidade para homenagear Iemanjá e Oxum

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No roteiro dos festejos à Iemanjá e Oxum, barcos desfilam pelo rio Grande até aportar no cais, onde a celebração continua

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Casa na rua Professora Guiomar Porto, no dia 2 de fevereiro de 2015. É uma rua curta e das mais arborizadas da cidade.

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Rua José Bonifácio, no dia 2 de fevereiro de 2015. É uma das ruas antigas mais movimentadas.

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cantinho do senhor dos aflitos O Dia da Independência da Bahia (2 de julho), para os barreirense, é dia também de devoção ao Senhor dos Aflitos. Milhares de pessoas saem à meia noite da igreja matriz e caminham por 20 quilômetros por uma estrada de terra, até a comunidade chamada Cantinho, onde há uma capela do Senhor dos Aflitos. Ainda de madrugada, acontece uma celebração simbólica com a chegada dos primeiros grupos de peregrinos. Depois, alguns fiéis se deitam pelas calçadas em torno da capela e alpendres de casas vizinhas; outros, se esquentam em torno de velas fumegantes em um cruzeiro em frente a capela. Às 7h horas da manhã, é realizada a primeira missa do dia. A tradicional romaria acontece há 300 anos e atrai católicos de toda a região. De acordo com a Diocese de Barreiras, a imagem do Senhor dos Aflitos chegou ao Brasil em 1710, trazida por uma família de portugueses e, em 1720, foi construída a capela para os romeiros venerarem a imagem.

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Caminhada de 20 quilômetros é feita em grupo ou solitária, com peregrinos disputando com carros espaço na estrada

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Uma das formas ddos peregrinos aguardarem a missa das 7h da manhã e se esquentar em torno do cruzeiro em frente à capela, tomado de velas em chamas.

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A frente da casa paroquial, ao lado da capela do Cantinho, serve de abrigo para os peregrinos. Outros se divertem pelas barracas de bebidas e comidas instaladas exclusivamente para a festa do Senhor do Aflitos

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santuário do senhor bom jesus A gruta onde hoje é um dos salões do complexo de cavernas da montanha de pedra às margens do rio São Francisco é local de peregrinação desde que o português Francisco Mendonça Mar chegou ao local em 1691 e fez dali sua morada. Investido de generosidade e espírito religioso messiânico, dispôs a imagem de Nossa Senhora da Soledade e o crucifixo de Bom Jesus que carregava consigo a um canto da gruta, passou a cultivar hortas e cuidar dos povos pobres, doentes e famintas daqueles sertões abandonados. A bondade do “Monge da Gruta”, o “Santo Penitente”, correu o sertão e chegou ao arcebispo da Bahia, que em 1706 o ordenou sacerdote e capelão da gruta. Desde então, as grutas da montanha de pedra virou lugar de peregrinação. A Romaria do Senhor Bom Jesus, que acontece em 6 de agosto é considerado um dos maiores eventos religiosos do país.

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Esplanada do santuário, um dia antes da Romaria do Senhor Bom Jesus, em 5 de agosto de 2015.

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As confissões pouco discretas se espalham por vários espaços das principais grutas do santuário.

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Fiéis disputam as gotas “milagrosas” que “transpiram” das rochas nas grutas

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Gruta dos Milagres, ex-votos representam desejo de melhores condições de vida social

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altar do menino deus Há cerca de cinco décadas, Apolinária Barbosa da Silva, conhecida como Dona Pulú, levanta o Altar do Menino Deus. Ela nascera em 1947 e aprendera a tradição ainda criança, com sua avó materna. O Altar é montado no dia 24/12, a um canto da sala, que ganha decoração especial com bandeirolas e frutas no teto. Nesse dia, Dona Pulú recebe em sua casa, na comunidade rural Jataí, gente de vários lugares que vêm celebrar o nascimento do Menino Deus. A reza começa assim que as rezadeiras chegam, por volta das 20h. Elas rezam mais de dez orações até meia noite, inclusive alguns resíduos do devocionário colonial como a Ladainha de Nossa Senhora em latim. Terminada a reza, o foguetório alumia o céu no terreiro. O Menino nasceu! Nessa hora um grupo de reisado adentra a sala para cantar e sambar a lapinha. O Altar continua a ser rezado até o Dia de Reis, 6 de janeiro. No dia seguinte, o Altar é desmontado. O pequeno quadro do Menino Deus, herdado de sua avó, é guardado junto com outros adereços para o nascimento do próximo ano.

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Altar montado na sala da casa de Dona Pulú. O pequeno quadro ao centro do Menino Deus foi herdado de sua avó

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Penduradas ao teto, a decoração com fruta faz parte de uma estética que atravessa gerações

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Dona Pulú única neta a aprender as rezas da avó, guarda saberes ancestrais que a tornaram uma benzedeira bastante solicitada no Jataí, o que não a impedia de ser preconceituosamente de “feiticêra”

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Muitos sente orgulo deu num sê uma ninguém (sic)” Dona Pulú, rezadeira e benzedeira

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Parceiras de Dona Pulú na reza, as rezadeiras participam de várias manifestações religiosas realizadas no Jataí, a exemplo da Folia de Nossa Senhora do Livramento.

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Terminada a reza realizada pelas mulheres, um grupo de reisado adentra à sala onde está o Altar e canta e dança para celebrar o nascimento do Menino

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folia de nossa senhora do livramento O giro da Folia de Nossa Senhora do Livramento pela comunidade rural do Jataí começa no dia 31 de janeiro e se encerra no dia 2 de fevereiro, dia de Nossa Senhora do Livramento. Nessa data, por volta do meio-dia, a folia retorna à casa de Seu Reinaldo Vieira de Farias, organizador da manifestação e alferes do grupo. Depois de muito samba de chula, a folia dá vez à reza feita pelo folião Né de Teodózio, que é acompanhado por diversas rezadeiras da comunidade. Depois das devidas homenagens a santa, agradecimentos e pedidos silenciosos, os devotos saem em procissão ao redor da casa e encerram a folia com um almoço coletivo. Essa folia é realizada desde 1991, e foi idealizada por Seu Reinaldo para pagar uma promessa de livramento de uma doença que o fazia cair, principalmente nas “quadra da lua”.

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Estandarte conduzido por Seu Reinaldo, o promesseiro e alferes do grupo que gira por dezenas de casas do Jataí do dia 31/01 ao 02/02.

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Seu Reinaldo acompanha toda a reza de joelhos, com uma toalha branca na cabeça e uma vela na mão. Ao seu lado, sua companheira segura um pequeno quadro com a imagem de Nossa Senhora do Livramento sobre sua cabeça

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O folião Seu Né de Teodózio faz a reza da folia desde que foi criada. Ao lado de Dona Ana, sua companheira, ele conduz a reza como uma autoridade católica oficial.

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Grupo de chula que acompanha a Folia de Nossa Senhora do Livramento e outras manifestações religiosas da região, a exemplo das folias de Reis e de São Sebastião.

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alimentação dos homens Durante a quaresma, o centenário cemitério da comunidade Cafundó dos Gerais, em Canápolis, é palco de diversas rezas. Mas é na Sexta-feira Santa que o cemitério, de fato, aceso por milhares de velas, recebe visitas de gente de vários lugares para acompanhar a Alimentação dos Homens. A manifestação é feita em torno do cemitério por homens com toalhas sobre a cabeça e matracas na mão. Eles cantam o Pai Nosso, Ave-Maria e Ofício da Morte percorrendo 12 estações, como na via-sacra. Essa tradição vem de Macário Moreira dos Santos, bisavô de Antônio Moreira, um dos organizadores da tradicional reza.

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A noite de Sexta-feira Santa, no cemitério do Cafundó dos Gerais é um momento que celebra o encontro da vida e da reza para os mortos

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É comum encontrar no cemitério, nesse dia, grupos reunidos em túmulos rezando o Ofício da Morte e outras rezas. Alguns usam toalha sobre a cabeça e portam matracas.

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Grupo de homens que fazem a Alimentação das Almas têm à frente um trio que conduz uma cruz e lanternas. A dinâmica consiste em percorrer todas as estações em torno do cemitério, que é circular.

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Após completar o circuito de estações, os alimentadores retornam para o centro do cemitério para encerrar a reza.

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reisado do salto O grupo surgiu no Salto, comunidade rural tradicional de Correntina, em 1976, com Jaime da Cosa, vulgo Nego do Salto. Quando o grupo começou a sair, iniciava o giro no dia 24 de dezembro e só encerrava no Dia de Reis, em 6 de janeiro. Hoje, o Reisado do Salto canta a Lapinha de Sú, no dia 24 de dezembro, mas só sai em giro no dia 1° de janeiro. Em 2016, o grupo visitou cerca de 150 casas nas comunidades do Salto, Barreiro Vermelho, Vereda Grande, Sussuarana e Toledo, em um percurso próximo dos cem quilômetros. No reencontro com a Lapinha de Sú, no Dia de Reis, após a reza feita só por mulheres é servido um almoço coletivo. Esse momento de confraternização reúne gente de várias comunidades em torno do Salto.

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O grupo criado há mais de quatro décadas é formado por 13 foliões que usam chapéus com fitas coloridas, camiseta iguais e estolas bordados em volta do pescoço.

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Além do Salto, o grupo circulou também, em 2016, por mais quatro comunidades (Barreiro Vermelho, Vereda Grande, Sussuarana e Toledo) nos seis dias de giro.

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Como regra, a cada visitação o grupo pode realizar até três cantos (do dono da casa, da lapinha e louvação da mesa), a depender do que acontecer na visita. Eles só cantam a lapinha, por exemplo, quando na casa tiver a lapinha; só fazem a louvação da mesa, se o dono da casa oferecer um “lanche”.

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lapina de sú A Lapinha de Sú começa a ser montada no dia 19 de dezembro, na comunidade do Salto. Na tarde do dia 24 já está pronta. Maria Sueli Neiva Costa, 61 anos, conhecida por Sú, começou a levantar lapinha com sua avó, em meados dos anos 1970. A Lapinha de Sú toma conta de quase toda a sala e reúne centenas e centenas de objetos em torno do Menino Jesus, que fica ao centro, na manjedoura, no final de uma rampa repleta de animais. O surfista prateado, o caubói americano, campo de futebol, carrinhos, pássaros eletrônicos que cantam ao som de palmas e diversos outros objetos da indústria cultural se misturam às imagens de santos. Sú rezadeiras da comunidade rezam a lapinha todas as noites, até 6 de janeiro, Dia de Reis, dia em que o Reisado do Salto retorna do giro.

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A reza da lapinha acontece do dia 24 de dezembro a 6 de janeiro, às noites, na casa de Sú.

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A lapinha tem uma dinâmica própria. No dia 24/12, todos os animais estão subindo a rampa na direção da manjedoura, seguindo os reis magos. No dia 06/01, os animais já estão descendo a rampa (foto seguinte), assim como os reis magos.

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As rezas são conduzidas por Sú e feitas apenas por mulheres. Entre as orações, elas rezam a Ladainha de Nossa Senhora em latim.

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encomendação de alma Cobertas por lençóis ou túnicas brancas, os diversos grupos de encomendação de alma da cidade, formados por mulheres, saem a rezar pelas ruas durante toda a Semana Santa. Guiadas pela portadora da matraca, todo dia elas rezam à porta de algumas casas e encerram o ritual da noite rezando na frente da igreja matriz. Cada grupo vem de uma tradição e ten modo de cantar e rezar próprios, embora eles encerrem a encomendação, na Sexta-feira Santa, rezando no cemitério Bosque da Saudade.

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Quatro gerações de encomendação: na frente, “Alminha”, com a camiseta da falecida bisavó Odete que liderava o grupo; com a matraca em punho, Paizinha, filha de Odete, que atualmente comanda a encomendação; e a filha de Paizinha, a terceria da esquerda para direita. Um registro icônico na noite de 28 de março de 2013.

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A encomendação acontece durante toda a Semana Santa. Os grupos, como o de Paizinha, cantam durante o percurso e rezam à porta de algumas casas, até encerrar o percurso do ritual em frente da igreja matriz.

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Fotograma de registro audiovisual realizado em 13 de abril de 2017. Este grupo surgiu de repente na rua, enquanto registrava mais uma encomendação do grupo de Paizinha.

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Um dos grupos mais traidicionais da cidade está órfão de sua principal encomendadeira, Dona Maria do Barro (terceira da direita para esquerda), que faleceu em junho de 2020.

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