Catálogo_E o Palhaço o que é? A PalhaçA é Mulher!

Recife/PE, abril de 2021.

E o palhaço o que é?

A palhaçA é mulher!

Catálogo "E o palhaço o que é? A palhaçA é mulher!"

Cia Brincantes de Circo - 2021.

Recife/PE, abril de 2021

Realização Cia Brincantes de Circo Idealizadora do Projeto e Pesquisadora Jerlâne Silva Orientação da Pesquisa Bóris Trindade Júnior Social Media do Projeto Thais Silva Projeto Gráfico e Diagramação Jerlâne Silva e Thais Silva Revisão Rejane Silva

Este catálogo contou com recursos da Lei Aldir Blanc, através da Secretaria Estadual de Cultura (SECULT-PE) e da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (FUNDARPE).

Ubuntu - "Sou porque nós somos”.

(Filosofia africana)

“Agradeço e dedico esse escrito à minha mãe, que sempre foi minha maior fonte de inspiração e força e a todas as palhaçAs que estão, que foram e que virão brincar e tornar esse mundo um lugar melhor!

Sumário

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Apresentação

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Introdução

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Aldenir de Araujo - Palhaça Doroquinha

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Ana Flávia - Palhaça Nana

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Anny Rafaella Ferli - Palhaça Mariolla

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Camila Garrett - Palhaça Mariola

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Cindy Fragoso - Palhaça Fujona

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Cristina de Aquino - Palhaça Pito

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Enne Marx - Mary En

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Jerlâne Silva - Palhaça Bilac

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Laurimar T. da Rocha - Palhaça MarMuvuca

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Lila Verri - Palhaça Rodó

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Luana Freire - Palhaça Alecrina

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Malu Paz - Palhaça Lulu

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Márcia Cruz - Palhaça Gertrudes

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Marina Rotenberg - Palhaça Carica

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Mirela Borba - Palhaça Pirueta

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Odilia Nunes - Palhaça Bandeira

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Thais Silva - Palhaça Pixuruca

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Veridiana - Palhaça Verilha

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Williams Santana - Palhaça Zulmira

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Wislania Mª dos S. Vasconcelos Palhaça Pimentinha

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Apresentação Senhoras, senhores e senhorxs, com vocês, o fruto!

Esse catálogo é o resultado da primeira parte da pesquisa E O PALHAÇO O QUE É? A PALHAÇA É MULHER, que tem como objetivo dar visibilidade a atuação e criação da palhaçaria feminina de Pernambuco, além de valorizar a atuação de mulheres em uma linguagem que, durante muito tempo, foi dominada pelo sexo masculino.

As indagações envolvendo o espaço e o lugar da mulher palhaça na Palhaçaria brasileira já me chamavam a atenção, mas foi durante a oficina "Dramaturgia na Palhaçaria", com Karla Concá, que fui provocada, afetada e atravessada, então, o desejo de levantar questões sobre esse tema chegou com toda força e tornou-se necessário e urgente trazê-lo para minha pesquisa.

O objetivo desse catálogo, não é dividir, separar, anular os caminhos e as lutas traçadas pelos palhaços, mas unir força e valorizar a história, a caminhada e a importância de mulheres palhaças na história da Palhaçaria.

Esse catálogo foi organizado por uma mulher e escrito por várias, todas aquelas que contribuíram com relatos de suas experiências e caminhos traçados na arte da Palhaçaria, então a elas agradeço e dedico cada página.

Jerlâne Silva Palhaça, Atriz, Produtora Cultural, Educadora e Pesquisadora.

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Introdução

Quando Jerlâne me convidou para fazer a introdução desse trabalho eu fiquei apreensiva, como sempre fico quando preciso falar da criação de alguém. Acho as criações de valores ímpares e falar delas nunca chega a altura do que elas realmente são e irão despertar depois que caem no mundo.

A história da mulher na Palhaçaria é muito nova, no Brasil estamos falando de 30 anos aproximadamente e hoje já podemos afirmar: Estamos na segunda geração de palhaças.

Fazendo uma analogia cronológica com as fases da vida humana, nesses 02 anos de geração já aprendemos a falar, a andar e estamos nos sustentando, no processo da caminhada, na nossa dramaturgia. Tudo muito novo, precisando de uma minuciosa atenção, incentivo e cada narrativa que venha para fortalecer, estimular e dar visibilidade a Palhaçaria feita por mulheres cis, trans é de muita valia.

E a proposta de “E o palhaço o que é? A PalhaçA é mulher!” vem trazendo ainda um recorte de regionalidade dramatúrgica, já que se propõe a dar foco para as palhaças de Pernambuco. Esse tratamento empírico em se tratando de um país como o Brasil, com uma diversidade cultural imensa, só nos fortalece ainda mais.

Outro fato que chamou minha atenção é o título: “E o palhaço o que é? A PalhaçA é mulher!”

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Enquanto a expressão interrogativa "O palhaço, o que é?" muito conhecida através da música de Carlos Galhardo, que tem como resposta na própria música, "É ladrão de mulhé", a proposta do título ao afirmar "A PalhaçA é mulher!”, sem uma indagação interrogativa, mas com sugestão de afirmação com foco nela mesma, só reforça uma característica bem marcante da Palhaçaria feita por mulheres em suas dramaturgias. Não poderia deixar de observar o tamanho da reflexão que podemos desenvolver só a partir desse título.

Ao longo dessa caminhada tão jovem que é a nossa, estamos construindo um caminho de quem somos, o que queremos e como vamos realizar, precisamos acreditar que, o que temos a oferecer é valioso.

Não existe certo, não existe errado, existe o que você pode oferecer naquele momento.

Tudo que é nosso é bom, acredite.

Karla Concá Palhaça desde 1991 Cofundadora do grupo "As Marias da Graça" Professora, Diretora e Pesquisadora da linguagem Dramatúrgica na Palhaçaria feita por mulheres e da lógica pessoal do riso.

Por trás da máscara Por trás do nariz Por trás da cara melada Por dentro da roupa folgada ou ajustada Uma Mulher, uma Palhaça!

Uma Palhaça, uma Mulher!

Evocando o riso Ecoando sua fala, sua voz... vozes Ganhando o picadeiro, os palcos, as ruas Fertilizando seu espaço!

Bóris Trindade Junior Palhaço, Diretor Circense e Fundador da Cia Brincantes de Circo, Educador Social, Produtor e Pesquisador.

ECEB R , O C I AM L B C Ú P

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ELAS!

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Nome artístico: Aldenir de Araujo Saraiva Palhaça: Doroquinha Exu/PE

"JÁ BRINQUEI COM OUTRA PALHAÇAS, SEU NOME ERA JURIBALDINA – PATRÍCIA ELAINE MILFFONT."

Iniciei na palhaçaria em 2019, esse primeiro contato foi mágico para mim e causou surpresa em quem me viu como palhaça. Mas, por ser professora sentia a necessidade de algo mais, do lúdico, da descoberta e busquei a Palhaçaria que também seria uma forma de autoconhecimento.

Minhas referências na construção de Dorotinha foram a Escola da Andreia Macera, oficinas virtuais de Palhaçaria e a minhas vivências, em particular, o convívio com a família da minha mãe. Toda minha dramaturgia é pautada, primeiramente no que trago de bagagem, dentro de mim e do meu cotidiano.

Sinto que a principal diferença na palhaçaria feminina e masculina é que na feminina existe mais respeito as diferenças e a singeleza nos atos.

"Ao atuar como Palhaça percebo certos preconceitos e indiferença por ser mulher palhaça".

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Nome artístico: Ana Flávia Palhaça: Nana Banana Nanica de Prata Comprida da Terra Cozida ou Assada com Queijo por Cima Açúcar e Canela Batida Amassada de Casca Amarela Grupo/Trupe/Cia: Doutores da Alegria Olinda/PE

"Acho que na Palhaçaria

é preciso estar muito ligado a questões sociais para não praticar qualquer tipo de exclusão social com as Brincadeiras."

Atuo na Palhaçaria desde 2011. Eu sempre tive muito apreço pelos palhaços e palhaças que eu conhecia e via no circo, no teatro ou na rua e sempre nutria a vontade de fazer essa arte, mas não tinha tido oportunidade de estudar e praticar. Foi quando me escrevi no curso de extensão em palhaçaria na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ministrado por Marianne Consentino e descobri a possibilidade de atuar como palhaça.

Nana - Nana nasceu Banana, mas com sua entrada nos Doutores da Alegria, ganhou um pré-nome e outros muitos nomes, ficando conhecida como Nana Banana Nanica de Prata Comprida da Terra Cozida ou Assada com Queijo por Cima Açúcar e Canela Batida Amassada de Casca Amarela. A primeira aparição de Nana falando sobre sua experiência de mãe foi no FETEAG, em 2013. Durante um bom tempo, Nana ficou quietinha, estudando e arquitetando sua volta e voltou quando fez a seleção para os Doutores da Alegria e passou a integrar o grupo, desde 2018.

Gosto de ter como referência minhas vivências como mãe. Não tenho uma palhaça ou uma corrente que eu siga conscientemente, mas gosto de ver espetáculos de mulheres palhaça. Na criação da dramaturgia, gosto de me basear nas minhas experiências com a maternidade, com o cuidado com o outro, mas, no meu trabalho com os Doutores, lido muito com o improviso.

Acredito que há diferença na atuação da palhaça em relação a atuação do palhaço, principalmente no reconhecimento das pessoas com o trabalho da mulher na palhaçaria.

Nome artístico: Anny Rafaella Ferli Palhaça: Mariolla da Conceição Moura Grupo/Trupe/Cia: Cia de Teatro Cria do Palco Recife/PE

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"AINDA ESTOU EM PROCESSO DE DESCOBERTA DE MARIOLLA. ACREDITO QUE ELA SERÁ ETERNA E CADA VEZ MAIS CONSCIENTE." O palhaço chegou para mim na pré-escola. Mas foi na Universidade que a figura do palhaço se fez mais presente e diferente das que eu via quando criança, conheci uma mulher palhaço. PALHAÇA. Me encantei. Tempos depois veio meu primeiro contato com a Palhaçaria. Me conectei com Mariolla, em 2019, durante o curso de introdução à palhaçaria da Cia 2 em cena. Foi lá também que uni meu gosto e contato com a cultura popular, criando uma palhaça mais ou menos nesse mote.

Olho para mim e: Eu criança, eu artista, eu mulher, eu pessoa, eu artista e no meio de “eu’s” em mim... Mariolla. Mas, porque Mariolla? Porque eu tenho uma conexão forte com esse doce, bem pernambucano, que pode ser de banana ou de goiaba coberto de açúcar. Também por minha avó, Maria, com quem eu sonhava quase todas as noites no ano em que meu ser, meu “eu palhaça” estava ganhando mais forma, ganhando nome... uma identidade talvez. Mas, só Mariolla? Eu Anny Rafella e três sobrenomes (02 de família e 01 artístico) e a palhaça só com 01 nome? Não... Vamos pensar: Mariolla da Conceição. Eu que sempre fui tão ligada à minha família que, não vejo como ser diferente, trago o nome das mulheres “raízes de mim”, Maria e Conceição, minhas avós.

Mariolla ganhou um nome e um nariz preto, por intuição e por gostar da cor que contrasta com o batom vermelho, eu defini que usaria o nariz dessa cor. Pesquisando depois, eu vi que essa cor de nariz pode representar também o luto. Faz sentido para mim, pois o renascimento da minha palhaça, se deu um ano após a morte da minha mãe, uma das pessoas mais importantes para mim. Quando penso nesse luto, penso também no luto como verbo. Eu luto para que Mariolla tenha espaço em mim, para que a minha essência se abra cada vez para ela. Isso está ligado à minha palhaçaria. A ancestralidade, o ser como um ser de cura, onde a essência da criança interior seja relembrada, onde a arte tem um foco terapêutico, um foco sistêmico onde possamos pensar em "palhaces" como um ser total. Meu ser artista/pesquisadora que habita tantos mundos anda buscando um foco. E, talvez eu esteja pertinho dele, ops, dela, minha talismã!

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Nome artístico: Camila Garrett Palhaça: Mariola Grupo/Trupe/Cia: Cia Garrett Circus Recife/PE

“ASSIM COMO NA VIDA, NA PALHAÇARIA, ACREDITO QUE HOMENS E MULHERES TEM UMA NATUREZA DIFERENTE. PERCEBO QUE OS DOIS VEEM E RESOLVEM DE FORMAS DIFERENTES O MESMO PROBLEMA”.

Minha relação com a Palhaçaria começou em 2005, quando aos 16 anos, fui convidada por meu namorado (Wally Garrte) para fazer uma visita a um hospital, com um grupo de voluntários. Ensaiamos algumas cenas e fomos fantasiados de palhaços. As reações que nossas brincadeiras proporcionaram as pessoas me deixou encantada e depois daquele dia, ele ganhou uma companheira de pesquisa e de cena.

No início foi bem difícil porque não havia muitas referências feminina na palhaçaria.

Então fui experimentando, desde os trejeitos a forma de conduzir a cena.

Mesmo com tanto tempo de caminhada, ainda me sinto no processo de descoberta de Mariola, pois com ela, aprendo a cada dia.

Mariola já percorreu uma longa caminhada, já arrancou sorrisos de crianças, adultos e velhos. Juntas vamos descobrindo e atravessando os obstáculos... E crescendo. Já brincamos em ruas, semáforos, espetáculos, praças, teatros, empresas, festas infantis e na lona do circo. Nossa dramaturgia é recheada de improviso, malabarismo e mágicas.

"Já enfrentei dificuldade ao atuar como palhaça. Já sofri assédio, várias vezes".

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Nome artístico: Cindy Fragoso Palhaça: Fujona Grupo/Trupe/Cia: Cia 2 em cena de teatro, circo Page 33 e dança Recife/PE

"ESTOU EM CONSTANTE DESCOBERTA DE MINHA PALHAÇA, POIS ACREDITO QUE SÓ A PRÁTICA APERFEIÇOA A TÉCNICA EXISTENTE."

dividi a cena (em dupla ou trio) com 03 Palhaças, que fazem parte da Cia, Bilac /Jerlane "Já

Silva, Carambola/Paula de Tássia e Pixuruca/Thais Silva."

Fujona nasceu em 2010, em uma oficina com Bóris Trindade Jr (Borica), para o espetáculo "Lona Estrelada" da CIA 2 em Cena. Foi um Processo de descoberta super interessante onde não só encontramos a palhaça interior, ao trabalhar nossa essência, como também tiramos preconceitos que só homens podem “colocar” palhaçx.

Minhas referências foram a Palhaça Carambola e o Palhaço Risadinha da Cia 2 em Cena, assim como a palhaçaria tradicional, acessada através da pesquisa “Laboratório de palhaçaria - uma pesquisa sobre o palhaço no Brasil”, realizada pelos componentes da Cia desde 2007.

Fujona nasceu querendo fugir do tradicional e começou a usar um nariz azul, mas quando percebeu que ela era a própria fuga passou a usar nariz vermelho. Fujona é bobona, grande no tamanho e no coração, atrapalhada e que sabe que precisa aprender muito, por isso vive em constante construção e descoberta.

Não vejo diferença na atuação da palhaça em relação a atuação do palhaço. Acredito que ser palhaço ou palhaça só muda o gênero e suas peculiaridades, pois a atuação só depende das técnicas usadas.

Nome artístico: Cristina de Aquino Palhaça: Pito Recife/PE

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"A CRIAÇÃO DA MINHA DRAMATURGIA ACONTECE ATRAVÉS DE JOGOS DE IMPROVISO, PERGUNTAS E RESPOSTAS."

Muito cedo fiz trabalhos em festas e eventos infantis como palhaça, mas foi em 2017, no curso de Licenciatura em Teatro, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), quando participou de uma disciplina específica sobre palhaços, que encontrei/descobri Pito, quando ela ainda se chamava Rosita.

Minhas referências, primeiramente, foram o teatro de rua e o improviso. Depois, alguns estudiosos sobre palhaços (em sua maioria homens). Mas, descobri que minha maior referência, é minha mãe, a grande palhaça das dores e ironias. Tanto que, após a sua morte, ainda não revisitei a Pito.

Pito é um “ser político”, ela desestabiliza e estabiliza seu público, ela faz você se perceber e rir de si mesmo e depois refletir sobre seus valores e sobre o que realmente importa na vida. Pito é uma adulta, mas se comunica melhor com as crianças. Ela fala todos os idiomas, menos o dela própria. Pito é triste, mas não tem medo de mostrar essa tristeza.

A diferença que percebo na atuação da palhaça em relação a atuação do palhaço é que o palhaço tem liberdade de não ter sexo, sexualidade. Enquanto a palhaça é sexualizada o tempo todo.

"Minha dificuldade em atuar como Palhaças é que Pito é mandona e como, até o momento só joguei com palhaços, percebo certas resistências, por parte deles, em obedecer a uma palhaça."

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"A DRAMATURGIA DA PALHAÇA PERPASSA NÃO SÓ POR TEMAS TIPICAMENTE FEMININOS, MAS TEMAS QUE ATINGEM UM FUNDO COLETIVO, ONDE O RISO NEM SEMPRE É O MAIS IMPORTANTE."

Foto_Rogério Alves

Nome artístico: Enne Marx Palhaça: Mary En Grupo/Trupe/Cia: Cia Animèe Recife/PE

"Já atuei com outras mulheres Palhaças, Nara Menezes (Aurhelia), Juliana de Almeida (Baju) e Tamara Floriano (Tan Tan)."

Foto_Rogério Alves

Atuo como palhaça desde 2002, quando entrei para os Doutores da Alegria/Recife e até 2017 investiguei continuadamente a linguagem no trabalho em hospitais com os Doutores e, posteriormente, com outros grupos em intercâmbios por outros países, Argentina, Portugal e Itália. Nos Doutores, também atuei como Coordenadora Artística e Formadora de palhaços. Em 2009 fundei, junto com Nara Menezes, a Cia Animèe e como produto, em 2010, criamos a primeira banda de palhaças do Brasil, "As Levianas". Em 2012 a Cia Animèe lançou o PalhaçAria - Festival Internacional de Palhaças do Recife, que já realizou 3 edições e atua na promoção do fazer artístico e formação das mulheres palhaças. Desde 2016 atuo como formadora no TeachingClowning fundada por mim na Itália. Em 2020 como resposta ao momento pandêmico fundei a Rede de Festivais de Palhaças do Brasil, e através de lives temos conectado palhaças de todo o Brasil e outros países. Em 2021 criei e apresentei meu primeiro espetáculo solo, o experimento virtual "Mary En Virtual Mood" onde pude desenvolver com maior espaço a minha dramaturgia e auto poética. Tanto o meu mestrado quanto o doutorado investigam possibilidades de ser e estar relacionados à linguagem da palhaçaria, onde reconheço a sua importância e benesses para a sociedade.

Com treinamentos em sala e nos hospitais. A metodologia foi baseada na pedagogia do fracasso e autenticidade, de Jacques Lecoq, mas outras metodologias se somaram ao longo do tempo.

Minhas maiores referências são os palhaços de cinema como Chaplin, Buster Keaton, Laurel and Hardy, Jacques Tati, Giulietta Masina e também os palhaços contemporâneos, como os próprios Doutores da Alegria. Na Trajetória pessoal somaram-se diversas pesquisas e grandes referências como Leo Bassi e Gardi Hurtter.

Minha dramaturgia e auto poética passa muito pelos temas trágicos, onde entram elementos considerados fortes, como bebida, cigarro, palavrões, sem, no entanto, descartar a ternura que acompanha a linguagem, de certa forma.

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Foto_Rodrigo Garcia

Nome artístico: Jerlâne Silva Palhaça: Bilac Grupo/Trupe/Cia: Cia 2 em Cena e Cia Brincantes de Circo Recife/PE

"A EXPERIÊNCIA DE TER COLOCADO BILAC NO MUNDO ME COLOCOU NO LUGAR DE ESCULTA." Bilac foi semeada em 2004, mas ficou adormecida. Em 2007 passei a integrar a Cia 2 em Cena, onde temos uma pesquisa intitulada “Laboratório de palhaçaria - uma pesquisa sobre o palhaço no Brasil”, e foi na Cia que, em 2010, Bilac brotou. Em 2011 entrei na Cia. Brincantes de Circo, onde também realizamos uma pesquisa em circo, intitulada “Memórias circenses: relatos de uma vida itinerante”. Então esse universo me cercou, me tomou e foi nesse contexto que Bilac floresceu e encheu-se de vida. Ela foi se fortalecendo através do contato com outros palhaços da Cia 2 em Cena, com Bóris Trindade Jr / Borica - da Cia Brincantes e com as diversas empreitadas na área, incluindo essa pesquisa “E o Palhaço o que É? A PalhaçA é mulher”. Então, nesse meu perene processo de criação, muitas são minhas referências.

Minhas escolhas dramatúrgicas se fortalecem nas experiências como atriz, como pesquisadora e nas revisitações dos clássicos, assim como, nos diversos contatos com o “meu ser”, com o público, com a poesia e com a brincadeira.

Bilac me afeta, me emociona, me desafia, me provoca e me atravessa por inteira. Ela chegou de mansinho, como quem não quer se “amostrar”, mas logo foi tomando seu espaço e me provocando a dizer mais do que eu imaginava ter para expressar. Bilac é uma brincante por natureza. Ela me acolhe ao mesmo tempo que é acolhida por mim.

"O caminho de Bilac já cruzou com o de outras Palhaças, entre elas, Bandeira (Odília Nunes), Carambola (Paula de Tássia), Fujona (Cindy Fragoso), Madorna (Gilvana Silva) e Pixuruca (Thais Silva)."

Nome: Laurimar Thomé da Rocha Palhaça: Mar-Muvuca Recife/PE

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"A DIFICULDADE MAIOR QUE ACREDITO QUE ENFRENTAMOS É A "INVISIBILIDADE" DA PALHAÇARIA FEMININA COMO CAMPO DE ATUAÇÃO E ARTE." O processo de descoberta da minha palhaça foi em 2005, durante um trabalho com crianças na comunidade do Coque (Recife-PE). Na construção de Mar-Muvuca me inspiro principalmente no trabalho de várias outras palhaças mulheres, além das experiências de teatro de rua.

Minha dramaturgia vem das minhas experiências com as crianças do projeto que faço parte e de forma espontânea nas improvisações.

Mar-Muvuca - sempre esteve dento de mim. Desde criança já gostava de fazer palhaçada e fazer sorrir as demais crianças e adultos. Ao poder fazer parte do trabalho da AVIPA (Instituição que trabalho voluntariamente com as crianças/jovens/mães), pude dar vazão a esse processo de (des)construção de tudo que achava que poderia me impedir de VI-VER a palhaçaria em mim. Trabalho formalmente na área de saúde, minha primeira formação é medicina veterinária e minha atual é a pedagogia, mas a palhaçaria sempre foi a minha paixão.

Consigo ver a Palhaçaria em tudo que faço e tudo que ainda sinto vontade de realizar.

"Percebo que na atuação da Palhaçaria feminina há uma maior

profundidade e sensibilidades ímpares em relação a atuação dos palhaços."

Nome artístico: Lila Verri Palhaça: Rodó - Rodonilda Cadeiruda Recife/PE

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“IDENTIFICO DIFERENÇA NA ATUAÇÃO DA PALHAÇA EM RELAÇÃO A DO PALHAÇO, MAS ACHO NATURAL QUE ISSO OCORRA, AFINAL NOSSO PALHAÇO NÃO DEIXA DE SER UMA EXTENSÃO DE NÓS MESMOS.” Fui batizada como palhaça em 2015, no curso de iniciação com Rafael Barreiros, Dom Gentileza. Naquele ano, retomei a prática do teatro, que tinha feito ainda no ensino médio.

Fiz um curso de teatro com o grupo O Poste, com Samuel Santos, onde conheci um aluno de Gentileza, que falava com brilho nos olhos do ser palhaço. A seguir entrei no curso de teatro do SESC Casa Amarela, com Samara Lacerda. Lá, novamente tomei conhecimento do curso de Gentileza, então fiz o curso em julho de 2015, me apaixonei pelo clown e Rodó nasceu.

Foi incrível, transformador. Precisávamos encarar muitos desafios para encontrar o eu ridículo, com grande trabalho físico, muitos jogos, diários de bordo compartilhados e um processo de construção da pele. Tudo isso envolvia grande aprofundamento emocional.

Depois fiz o segundo módulo, quando somos convidados às intervenções de rua e interação com o público. O processo é contínuo, aprofundado durante novos cursos, apresentações e intervenções de rua. Em 2018 fiz o módulo 3 com Gentileza, quando fizemos a montagem de um espetáculo. Também fiz outros cursos, com a Cia 2 em Cena, sob coordenação de Alexsandro Silva, Oficinas com Arilson Lopes, Paolo Nani, Neto Holanda, Tato Villanueva e Leticia Vetrano. Participei de alguns espetáculos como palhaça e atuei em intervenções de rua com diversas parcerias.

A personagem Monica do Maurício de Souza e o arquétipo da bailarina clássica foram as minhas referências mais evidentes. A dramaturgia de Rodó está relacionada à musica, ao cantar e tocar um instrumento. Outras temáticas também estão presentes, como a sedução com o público.

Encontro duas dificuldades no meu palhacear, uma é a de encontrar parcerias para pôr em prática a Palhaçaria, tipo um ecossistema que promova a prática. A outra é quanto ao processo de enfrentamento de padrões comportamentais de Marilia, do que eu considero adequado e me permito ou não que Rodó faça. Ainda que Rodó tenha vida própria, se liberte de muita coisa e tenha me ensinado muito, ela é parte de mim. Tenho valores, pensamentos, comportamentos e emoções que me constrangem a fazer certas coisas. O Superego Marilia delimita Rodó a ser uma palhaça fofinha, carismática. No lugar de palhaça me permito explorar comportamentos que na versão Marilia à paisana não ocorreria e isso é divertido, mas nem por isso minha identidade está completamente transfigurada. A palhaça não é um personagem de teatro alheio a si mesmo e com vida própria, ser palhaço, ser palhaça é uma dilatação de si própria, é brincar com seu eu ridículo e permitir-se ao erro.

Nome artístico: Luana Freire Palhaça: Alecrina Recife/PE

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“O QUE É RISÍVEL PARA A MULHER AINDA ESTÁ SENDO DITO E DESCOBERTO ATRAVÉS DA PALHAÇARIA FEMININA”.

A Palhaçaria é um universo muito novo para mim. Meu primeiro contato com essa arte foi há pouco menos de um ano -2020, no curso de iniciação à palhaçaria da Cia 2 em Cena. Foi tudo muito novo, sequer sabia da existência desse espaço ocupado por nós mulheres. Mas, a partir dali senti a necessidade de seguir estudando e continuar a trajetória de descoberta da minha palhaça, pois me senti confortável ao descobrir que a comicidade que existe em mim pode ganhar forma e voz, dentro da lógica da palhaçaria.

Alecrina ainda está no “Jardim de infância da Palhaçaria”, mas ela já sente que há um universo ilimitado para descobrir. Ela foi/está chegando pouco a pouco, primeiro sua sombra, sua corporeidade, seu cabelo, sua maquiagem, seus movimentos e o seu olhar.

Sinto que seus movimentos corporais e seu olhar falam muito e aos poucos vou ouvindo e sendo guiados por eles.

Alecrina é curiosa e não tem afobação. Suas referências e sua dramaturgia vêm chegando aos poucos, à medida que vamos descortinando novas possibilidades, mas as questões do universo feminino já pulsam e movem sua caminhada.

“Sinto que a comicidade na palhaçaria feminina é tão ampla que vai muito além do óbvio e tradicionalmente visto nos palhaços. O repertório feminino sempre foi muito extenso e é alicerçado na vivência de cada mulher no seu processo de vida, imersas todas no mesmo caldo cultural.”

Nome artístico: Malu Paz Palhaça: Lulu Grupo/Trupe/Cia: Trupe Circus (Escola Pernambucana de Circo) e Violetas da Aurora Recife/PE

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"LULU CHEGOU PARA SAUDAR O RISO E DESBRAVAR ESSE “MUNDÃO” AFORA!"

Meu primeiro contato com a palhaçaria foi em julho de 2020, em um projeto que a Trupe Circus, Escola Pernambucana de Circo, lançou durante a pandemia e, a partir disso, fui descobrindo e me descobrindo mais como palhaça. A Trupe trabalha com a pedagogia do circo social, onde todo o trabalho é realizado numa perspectiva de igualdade, homem, mulher, lgbtqi+, preto ou branco tem os mesmos direitos de voz e estão sujeitos aos mesmos desafios no processo de criação artística, logo, como mulher, não encontrei nenhuma dificuldade em ser palhaça.

A vontade de ser palhaça sempre esteve em mim, mesmo sendo um pouco tímida, acho um trabalho incrível, então quando surgiu a oportunidade, agarrei. Também fui agarrada por Lulu. Que chegou de mansinho, com uma mala cheia de vontades e desejos e, aos poucos, fui deixando minha timidez de lado e desbravando o delicioso caminho do ser Palhaça.

Minha maior referência é a Palhaça Aninha, que também é da Circus Trupe. Mas além dela sou rodeada de mulheres palhaças, pois sou do coletivo Violetas da Aurora - um coletivo que pesquisa e atua a arte da Palhaçaria, então posso dizer que sou uma privilegiada por conviver e dividir a cena com elas.

Nome artístico: Márcia Cruz Palhaça: Gertrudes (Gêgê) Grupo/Trupe/Cia: Companhia Maravilhas de Teatro.

Recife/PE

"O NOME DA MINHA PALHAÇA É UMA HOMENAGEM À MINHA AVÓ MATERNA."

Meu primeiro contato com a palhaçaria foi em 1993, quando participei do Curso de Clown, ministrado por Roberto Genta, na Fundaj. Em 2017, estreei com o número Missão IM-POS-SÍ-VEL, no Festival Internacional Palhaças do Recife, sob a direção de Boris Trindade Júnior. Em 2010, mergulhei profundamente na palhaçaria feminina, através de uma formação com Adelvane Néia, então, em 2012 Gertrudes (Gêgê) nasceu e chegou com tudo.

Gertrude é parte de mim mesma e suas maiores referências é sobretudo minhas memórias pessoais. Nossas escolhas dramatúrgicas vêm a partir de minhas vivências no teatro e no próprio circo e atravessam desde o repertório poético clássico da Palhaçaria a cenas curtas criadas intuitivamente, que surgem de uma necessidade do brincar e do falar.

"Identifico total diferença na atuação da

Palhaça em relação a atuação do palhaço. A visão de mundo, as piadas, os tempos, enfim, a dramaturgia é completamente diferente."

Foto_Lana Pinho

Foto_Fabiana Pirro

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Nome artístico: Marina Rotenberg Palhaça: Carica Bonito/PE

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“PARA MIM, O GRANDE DESAFIO E BELEZA É ENCONTRAR ESPAÇO, ONDE AS PALHAÇAS POSSAM ATUAR CORRELACIONADO AO NOSSO TEMPO: NOSSAS CONQUISTAS, DIREITOS E LUTAS.”

A admiração pela arte da palhaçaria e da cultura popular me fizeram buscar a minha palhaça, a partir da consciência corporal, do contato com o outro e da descoberta do risível em mim e de mim e, desde 2019, atuo como palhaça.

Meu primeiro contato com a arte da palhaçaria foi por meio de uma oficina com a palhaça Laura Becker, Rio de Janeiro, depois, alcancei um maior aprofundamento, a partir do curso com a Cia 2 em Cena, Pernambuco. Esse foi o início de um caminho, que busco me aprofundar em leituras e desejo de dar continuidade nos palcos e nas ruas.

A construção de Carica vem do meu espontâneo e autêntico, daquilo que é meu, desde a minha criança, até aquilo que também sou hoje. Em alguns contextos tende a ser exagerado ou inapropriado, mas na minha palhaça encontro espaço.

Ainda não construí uma dramaturgia própria, mas, tendo a colocar que - ainda que a palhaça, em si, já seja uma figura política - busco uma dramaturgia que traga as questões de gênero para a cena. Pois, a presença de esquetes, músicas e referências que propõem o riso a partir da diminuição da mulher, são minhas grandes dificuldades. Encontrar espaço da palhaçaria feminina e feminista ainda é um desejo, já que, hoje, ainda vejo, prioritariamente, uma dramaturgia onde mulheres competem e/ou brigam por seus pares masculinos, ou piadas que fazem referência às capacidades, jeitos de ser e vestir e características físicas do gênero feminino.

"Já brinquei em dupla e/ou trio com algumas mulheres palhaças, entre elas, Rodó (Marilia Verri), Bilac (Jerlâne Silva) e Lady Lu (Luciana Dias)."

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Nome artístico: Mirela Borba Palhaça: Pirueta Recife/PE

"APESAR DE SEMPRE TER A VONTADE DE ATUAR COM MULHERES PALHAÇAS, AINDA NÃO TIVE A OPORTUNIDADE." Meu primeiro contato na palhaçaria foi, em 2018, com os Doutores da Alegria e depois na Escola Pernambucana de Circo, onde fiz parte por um bom tempo e, onde conheci alguns palhaços que se tornaram minhas primeiras referências.

Também foi lá que Pirueta conheceu o picadeiro, se desenvolveu e a partir disso, ganhou vida. O seu processo de descoberta foi bem longo, na verdade, ainda sinto que a descubro a cada dia.

Pirueta é muito esperta, “bulinosa” e, mesmo estando rodeada de palhaços, foi trazendo a cena o seu mundo particular, seus desejos, seu repertório e uma forma própria de comunicação com o outro, com o público e com ela mesma.

A princípio sua dramaturgia vem dos números clássicos do circo, mas Pirueta é inquieta e logo foi explorando, revelando e trazendo novas possibilidades.

O que me deixa desconfortável e posso dizer que é minha dificuldade ao atuar como palhaça é sair do padrão que a sociedade impõe às mulheres. Sei que o palhaço acaba encontrando mais liberdade em cena do que a palhaça, que muitas vezes tem que quebrar paradigmas, mas Pirueta quer e vai quebra-los.

"O que me deixa desconfortável e posso dizer que é minha dificuldade ao atuar como palhaça é sair do padrão que a sociedade impõe às mulheres."

Nome artístico: Odilia Nunes Palhaça: Bandeira Ingazeira/PE

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"A DIFICULDADE QUE ENCONTREI AO ATUAR COMO PALHAÇA É QUE ALGUNS HOMENS SE SENTIRAM CONSTRANGIDOS AO VER UMA MULHER BRINCAR DE CATITA. MAS RAPIDAMENTE CONTORNEI A SITUAÇÃO E O BRINCAR SE DEU."

"Já brinquei com algumas Palhaças, entre elas Bilac - Jerlane Silva, Uruba - Fabiana Pirro, Zanoia - Livia Falcão (em espetáculos temporários) e até hoje com minhas filhas Violeta - Viola e Helena Gerimum."

Foto_Leonardo Valério

Vivo Bandeira desde 2005, mas meu primeiro contato foi aos 08 (oito) anos de idade (1990), quando vi um circo pela primeira vez e entendi que era esta função que eu gostaria de viver.

O processo de descoberta de Bandeira foi inteiramente inspirado nos brincantes da cultura popular, principalmente nos palhaços de cara preta (Mateus, Bastião e Catirina), além de muitos artistas de rua. Descobri Bandeira no meu corpo observando Juraci, uma mulher que ocupava de forma muito poética a praça Marciel Pinheiro no Recife/PE (2005) e Efigênia, a rainha do papel, artista mineira radicada em Curitiba (2007). Bandeira até hoje se reinventa. Segue criando suas próprias memórias, se descobrindo, experimentando a vida através de meu corpo e da minha voz.

Bandeira diz o que deseja dizer. A dramaturgia surge de improvisos e de memórias construídas no aqui e agora.

Bandeira - surge em 2005 no espetáculo DECRIPOLOU TOTEPOU e desde lá nunca mais parou de vadiar. Já brincou em praças, ruas, escolas, teatros, circos, feiras, festivais, igrejas de diversas cidades do Brasil, (muitas mesmo). Ela Conhece um pedacinho da Espanha, de Portugal, da Argentina e do Chile. Já se apaixonou, ficou grávida duas vezes e conheceu o mar em 2019.

Atualmente, além de Bandeira brinco de Catirina e esta aparição é a maior referência de Bandeira.

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"PERCEBO QUE AO BRINCAR, INFELIZMENTE, OS PALHAÇOS TÊM UMA LIBERDADE MAIOR DE EXPRESSÃO, PARA AS PALHAÇAS ALGUMAS COISAS AINDA SÃO TABUS."

Foto_Arnaldo Sete

Nome artístico: Thais Silva Palhaça: Pixuruca Grupo/Trupe/Cia: Cia 2 em cena de teatro, circo e dança Recife/PE

"Já joguei com outras palhaças, Bilac (Jerlane Silva) e Carambola (Paula de Tássia). Elas são incríveis e são minha fonte de inspiração. São muito generosas, e o processo de criação de Pixuruca deve muito a elas."

Foto_Arnaldo Sete

Meu primeiro contato com Palhaçaria foi há 09 anos (2012), aconteceu através do meu irmão que já é palhaço e através do meu primeiro espetáculo com Palhaçaria, "Fuzarca uma brincadeira de rua". Tenho formação livre em teatro e Palhaçaria. Iniciei fazendo o curso de iniciação à Palhaçaria da cia 2 em cena “E o palhaço o que é?” e não parei mais.

Também sou pesquisadora e já participei de algumas pesquisas da Cia relacionadas à Palhaçaria, " Laboratório de palhaçaria - uma pesquisa sobre o palhaço no Brasil”, "o ator circense" e Labôpalhaçaria - pedagogias do palhacear. Faço parte do espetáculo do “Vestido ao Nariz” composto só por mulheres palhaças.

O processo de descoberta de Pixuruca foi difícil, a Palhaçaria está para além de tudo que acreditamos como ator. É difícil abrir mão do Ego de sempre estar belo em cena, ou de sempre ser o protagonista de algo, o palhaço não tem essa vaidade, ele é livre e sempre tem que estar disposto para ao jogo. Demorei um pouquinho pra entender isso e deixar que Pixuruca aparecesse, mas no momento certo Pixuruca chegou e foi lindo.

Minhas referências são os palhaços da Cia 2 em Cena. Pixuruca tem um pouquinho de cada um, a doçura de Bilac, a esperteza de carambola, a lerdeza de risadinha... Durante o processo de construção eu assisti vários vídeos de vários palhaços e palhaças do Brasil e do mundo, fiz várias vivência e oficinas que foram importantes, mas minhas maiores referências sempre estiveram ao meu lado, tive esse privilégio de trocar experiência com quem sou fã de verdade.

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Nome artístico: Veridiana Palhaça: Verilha Grupo/Trupe/Cia: Trupe P.i.A Recife/PE

"SEMPRE ME IDENTIFIQUEI COM A BOBAGEM, A DELICADEZA E A INOCÊNCIA DA PALHAÇA."

Sempre me identifiquei com a bobagem, a delicadeza e a inocência da palhaça e, em 2015, iniciei minha jornada e digo que desde então, eu tento ser palhaça.

Até o momento minhas maiores referências são palhaços homens.

Tenho algumas dificuldades em atuar como palhaça, porque algumas pessoas que eu trabalhava não achavam que eu tinha potencial. Mas sigo na luta e aos poucos sei que vou descobrir minha própria dramaturgia, porque quero criar uma trajetória.

E vai criar porque o universo está ao nosso lado e conspira para que nossos desejos e lutas sejam vencidas.

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Nome artístico: Williams Santana Palhaça: Zulmira Grupo/Trupe/Cia: Trupe Carcará Recife/PE

“MINHA DIFICULDADE AO ATUAR COMO PALHAÇA FOI O CONHECIMENTO LIMITADO DO UNIVERSO FEMININO.”

Apesar de já ter contato com a Palhaçaria a mais de trinta anos, Zulmira nasceu a pouco menos que dois - 2019. Ela nasceu do respeito e admiração pelas mulheres, da enorme referência ao movimento de mulheres palhaças e da vontade de deixar uma mulher vigorosa brotar. ZULMIRA é mulher num corpo com genitália masculina, mas nem por isso, menos mulher. Quiçá seja uma mulher trans, uma TRANSPALHAÇA. Ela abrolhou de um processo completamente orgânico - fazendo, experimentando, errando e acertando – Só depois passei a estudar, compreender seus processos e a conceituar o trabalho.

Zulmira é fruto de diversas referências teóricas, assim como, de inúmeras observações de mulheres palhaças. Mas a base indissolúvel da sua identidade é, sem dúvida, a luta pelos direitos das mulheres.

Sua dramaturgia parte da necessidade de se afirmar, de referendar algo. Sempre estabelece um conflito ligado aos direitos das mulheres, ou a desconstrução de questões machistas ou heteronormativas.

“Eu vejo uma grande diferença na atuação da Palhaça em relação a do palhaço, por exemplo, se eu fizer uma comparação com meu palhaço Xicó, a diferença é abismal. Zulmira é empoderada , autora de seus atos, sentimentos, destino.

Xicó é dependente, frágil, ingênuo, precisa de impulso externo."

Nome: Wislania Maria dos Santos Vasconcelos Palhaça: Pimentinha Grupo/Trupe/Cia: Circo das Paixões Olinda/PE

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"COM PIMENTINHA, JÁ ATUAMOS EM DIFERENTES ESPAÇOS, ENTRE ELES, EM HOSPITAIS, CLINICAS E FESTAS INFANTIS." O processo de descoberta da minha palhaça foi em 2009, através do estudo de clown, no teatro. Mas comecei no Circo das Paixões, grupo de teatro mambembe que misturava arte circense e palhacaria em seus espetáculos, depois participei da Cia do Riso e da cidadania.

Pimentinha é uma criança levada e esperta. Sua dramaturgia parte do Teatro de rua e do improviso. Com Pimentinha, já atuamos em diferentes espaços, entre eles, em hospitais, clinicas e festas infantis e trazemos muitas histórias na mala, histórias felizes, histórias tristes, algumas divertidas, outras inspiradoras, mas todas vivenciadas e carregadas de significado.

Minha dificuldade ao atuar como palhaça foi quando, no hospital, uma criança faleceu depois da minha visita.

@CiaBrincantesdeCirco ciabrincantesdecirco@gmail.com