SAL ~ SOL ; SOLO

SAL ~ SOL ; SOLO entre lágrimas e fertilidade

Uma colecção de poemas – inspirada em Portugal e na língua portuguesa

POEMAS p. 8

PRELÚDIO

p. 10 p. 12 p. 13/14

RE:FLEXÃO NÓ BALANÇA

p. 18 p. 20

NA BOCA MOTIVO

p. 21/22 p. 24 p. 25

A/ONDE CAMINHO TRAÇO

p. 29/30 p. 32 p. 34

DE MANHÃ SONHO PASSAR (O TEMPO)

p. 35 p. 36 p. 38

PÓ-EMA POEMINHO RE:MAR

p. 40 p. 42

PONTO FINAL PONTO FRACO

p. 43/44

ADDENDUM

PRELÚDIO Esmalte vermelho Um pouco acinzentado Cinza sobre a mesa pequena Na varanda, conchas Cheias da cinza, lembremo-nos, Humano, este és tu também Matéria leve, cinzas voando Carregadas pelo vento Que sobe Pelo rio Estou a sentir-me Como na borda de um navio Eu, inclinada sobre A delicada estrutura de ferro Olá, liberdade!

Olá, pássaros!

Olá, perigo!

As bocas vermelhas Dos meus dedos Feitos pelo Deus-ferreiro Dedos selados, Cumprimentando com cortesia Enquanto incluem Penugens cinzentas, incenso Contam-me sobre o calor De fogo, vulcões. Olá, Liberdade! Olá, phoenix!

Olá, vida!

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RE:FLEXÃO Eu peço-te Que me vires Como o vento dobra As ondas, peço-te Que me consertes Para ter a força, concentrada Para não estar espalhada por aí Somente abstraída da fonte Das minhas confusões Pois eu não sou (do) mar Mas nele me reconheço Como um espelho

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NĂ“ Se eu apertar Um nĂł Na minha tristeza Pode ele lembrar-se Lembrar-me Da minha felicidade

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I O sabor A peixe, limão e sol A/Do céu azul, já lavado A roupa ao ar livre, cheia De sabores

O ar frito Do sol e dos cheiros Das coisas, perto Como as calças molhadas Em frente ao meu nariz Das coisas, longe Como a água vasta À direita do meu ombro Queimado do sol V À noite movo-me, o meu Ombro, este ao lado esquerdo Virado para a parede que sonha Que alguém lhe toca com as mãos Porque os toques Do sono são já frios Em branco, ao meu lado E só as sombras contêm

BA

III

II O olhar Da manhã, do rio e nós Que nos olhamos como Um homem e uma mulher Porque é isso que somos Quando acordamos De manhã

LA N Ç A

IV As sombras brincam Na casa, sobre o chão De madeira, as cores Zumbem, uma melodia De cor, natural, porque É isso que elas são Quando o sol as acorda De manhã VI O sabor, o cheiro, o olhar Do dia em que contou a roupa Sobre a corda, onde alguns Pensamentos estiveram A balançar o seu peso Na varanda estreita Da casa da saudade

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NA BOCA A eternidade Na boca Uma língua Cheia de palavras Cheia de silêncio Sem fim As palavras Na boca A eternidade Elas lapidam A obscuridade Dentro dos lábios Lapidam-na Clara como uma Pedra preciosa Transformam-na Numa ponta aguda Será a caneta que Eu vou usar para Escrever sobre estas, Aquelas coisas que Ainda não sei

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MOTIVO Estou um motivo Para uma câmera Dum homem Faço-o bem, o meu trabalho Estou sentada na Minha roupa vermelha Que é parecida com Os seios vermelhos Da árvore atrás das minhas Costas que têm seios No outro lado Do corpo

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A/ONDE Tenho um desejo É uma onda É uma boca que beija O molhe, uma mola Que escreve, que toca A área Principal Não a areia Tema central A área De descanso Na minha cabeça É uma praia De pedra, de Construção Preciosa Onde o meu desejo A onda Pode aproximar-se Revelar-se, dedicar-se O meu desejo A minha onda

Uma entrega Na água Azul-escuro Ainda lúcido Um sonho No qual eu nado Um som Que me leva Madeira no mar Feliz de ser Um desejo Lúcido, leve Um corpo Que não tem Peso nenhum Só pessoa Que sabe nadar Nas ondas Nas palavras Que são iguais Às vezes (A)um desejo

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CAMINHO Caminho Eu estou a caminhar Não caminho Nas ruas, nos campos Estou a caminhar num Mundo sem corpo Tudo é som, tudo é sonho Eu sou um corpo, tenho-o Tenho um que os meus Pensamentos podem usar Para caminhar e Por isso eu caminho Eu estou a caminhar Bastante Aqui, lá

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TRAÇO Em cima das tuas bochechas Em baixo dos teus olhos castanhos À esquerda, à direita A pele ondea-se, tímida Que rugas delicadinhas Como se se sentassem lá Borboletas, voadas, já

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DE MANHÃ Trazia os meus sapatos Para navegar, para os barcos Olhava a água Enquanto na minha boca Sentia moldar-se Uma canção nacarada Trazia os meus sapatos Para navegar, para os barcos Estava a pensar no teu cabelo Como eu gostava dele Nas manhãs Uma fonte, cinza Acima do teu rosto Uma onda, cinza Num oceano, preto Eu apanhei o meu barco E encontrei uma jóia Palidinha madrugada Na minha boca, encaixada Na espuma do oceano Nobre maresia

Talvez seja isso Com que tu sonhas As noites, a respiração Salgada do oceano Talvez isso seja A causa pela qual Gosto do teu cabelo de manhã

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SONHO Construo um ninho Pássaro branco Num ninho de mantas Brancas, com calor Do corpo branco Alguém traz folhas De som, para aumentar A minha construção Alguém traz sonhos É hora De partir, apalmar com carinho As páginas, estas, da noite É hora De usar o ninho como coroa Até eu vou voltar para o meu Lugar claro, quando a luz Desaparecerá e eu parecer-me-ei Com a espuma nascida das ondas Vou voltar para o ninho, pois como rainha Vou reconhecê-lo, o ninho, o seu som Os seus sonhos, os meus

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PASSAR (O TEMPO) Para aterrar Ele escreveu Eu precisaria De ver o destino Ainda mais claramente Apesar de tudo Ainda somos novos Eu respondi Os contornos EsclarecerĂŁo Quando os olhos Desvanecerem, perderem A linha

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PÓ-EMA Pó Não me lembrava Pó Um pouco De pensamento Pó sobre as memórias Pó de leite Deleite, haver um sabor De inocência, pó De inocência, poucas Línguas podem prová-lo Sem sabor, sem ele Todas as palavras São secas Tristes Como rostos brancos Cobertos de pó Sem gosto

POEMINHO Na casa dos animais, Onde um leão doente Sonha com pássaros Enquanto um ratinho Come o queijo do leão.

Nós fechamos a luz Fechamos o dia Porque temos uma casa Poética, onde não há medo Onde se pode sonhar Selvagemente

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Re: MAR >> >> >> >> >> >> >> >> >> >> >> >> >>

O amor, o mundo canta Alguém o encontrou Numa praia, nua, alguém Tinha-se unido às ondas Que cantavam sobre o vento e A lua e enquanto isso a pessoa Passou a ser um poema que agora Forma ondas novas sobre o papel – Esta outra praia que tinha sido nua Mas deixou de ser tão branca e Tornou-se uma paisagem de vida Para as palavras do amor O mar das palavras

>> Mais um mar do amor (para a Sophia de Mello Breyner Andresen)

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PONTO FINAL Falta mais um Falta quase sempre Mais um De algo Falta algo Quase sempre falta Algo mais Em tudo Nunca Mais ou menos Não falta nada De algo Ritmo Da vida Querido, querida Não deve Faltar A batida Vivemos para amar O que falta E o que cá está

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PONTO FRACO Talvez o cisne Saiba mais Sobre o amor Do que eu sei Porque ele Não pensa Sobre ele Como eu Não penso Quando estou Na água, estou Amor

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Eu tento colocar a minha orelha Para baixo, para as conchas Elas devem saber o que fazer, Tu escreves. Como eu gostaria que fossemos Pen pals, em tempos mais lentos Como eu gostaria que tivéssemos tempo Para ficar carinhosos, nos nosso manuscritos, ou Furiosos, ou tristes. As nossas emoções, não importa De que tipo, batem o mesmo teclado, plástico E não estão já habituadas a viajar Através de paisagens Através da água, elas são Vazias de aventuras, elas não Têm uma temperatura nem um cheiro Elas não levam a distância

ADDENDUM

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Entre duas almas, elas têm Peso nenhum, ou não o suficiente para As perguntas que tu fazes e para as Dúvidas que tu compartilhas, mas como Poderíamos pagar mesmo os selos De que nós precisaríamos num mundo Em que os pen pals são caramente Raros e Paypal, rápido e depressa Em todo o lugar, eu deveria descer Ao fundo da língua, à água, As conchas puderem contar Me o que fazer, o que escrever Num mundo onde ficamos Tão rápidos, tão distantes Apesar da afinidade Das nossas palavras

AGRADECIMENTOS

à Kheira Linder pela amizade grande, pelo nosso tempo maravilhoso e inspirador em Portugal e pela colaboração ~ kheiralinder.com a todos os meus amigos portugueses por tudo o que são e pelos seus corações grandes à Laura Correia Minervini por ser uma professora fixe e por me ensinar esta língua bonita e poética numa maneira muito divertida e quase como uma amiga não só professora ao Pedro Lucas pela leitura e por ter sido um colega de casa inspirador e muito fixe ao Dídio Pestana por dar um olho português aos textos também ao Carlos Teixeira pela leitura intensiva e por saber explicar-se como um verdadeiro professor, também pelo motivado entusiasmo à Mafalda Sofia Gomes e à Adelaide Ivánova pela motivação também e pela loucura poética ao Herberto Helder (R.I.P.) por criar poemas e textos que queria perceber na versão original que me inspiraram a aprender a língua à minha família pelo amor, pelo apoio e por me terem levado à Madeira em 1988 e muitas outras vezes – porque esta é uma das razões pelas quais o meu coração tem traços do mar e das ondas; e é também uma das razões pelas quais o português me parecia já familiar antes de entender o seu sentido. e obrigada à Lucy K Shaw pela leitura dos poemas ingleses

SAL ~ SOL ; SOLO

Entre lágrimas e fertilidade

Edição

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~ www.chrischa-oswald.com chrischa.oswald@gmail.com Uma colecção de poemas de Chrischa Oswald – inspirada em Portugal e na língua portuguesa Poemas escritos entre 2016 e 05/2017 Livro publicado em 2017 ; Chrischa Venus Oswald é uma artista e poeta e vive em Berlim e Lisboa.

DEBATE TER POEMAS, TER UMA MÃE, SER NASCIDO

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