Karen Rose Smith - Seja Minha Esposa

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Seja Minha Esposa (Be my bride?)

Karen Rose Smith

Sabrina n° 1217

Ele era um homem para não se esquecer... Sua paixão de adolescente, o moreno musculoso de olhos azuis Cody Granger, estava de volta, fazendo Lauren MacMillan sentir-se novamente com dezesseis anos. A virgem desajeitada ainda se entusiasmava pelo astro do time de futebol dos tempos da escola que lhe despertara um amor que nunca mais viveria. Mas desta vez Cody, agora um médico ocupado e pai viúvo que buscava desesperadamente uma mãe paro sua filhinha adorável, pediu-o em casamento! Lauren aguardara uma eternidade por esse momento... por aquele homem. Mas não podia aceitar seu pedido. Afinal o desejava mais que tudo, e queria ter Cody por inteiro: na sua vida e na sua cama!

Digitalização e revisão: Nelma


Querida Leitora, Quem, não teve um amor na adolescência? Quem não achou que este amor seria o único e o mais perfeito? Pois é, a nossa heroína teve este amor mas por força do destino eles se afastaram... No entanto, o mesmo destino que os distanciou, os aproximou novamente. E quando algo tem que acontecer, quando duas pessoas têm de ficar juntas, não há como evitar ou fugir! Lembre-se: ninguém manipula o destino! Fernanda Cardoso Editora

Copyright © 2001 by Karen Rose Smith Originalmente publicado em 2001 pela Harlequin Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra Esta edição é publicada através de contrato com a Harlequin Mills & Boon Ltd. Esta edição é publicada por acordo com a Harlequin Mills & Boon Ltd. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência. Título original: Be my bríde? Tradução: leda Moriya Editora e Publisher: Janice Florido Editora: Fernanda Cardoso Editoras de Arte: Ana Suely Dobón, Mônica Maldonado Paginação: Dany Editora Ltda. EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Rua Paes Leme, 524 - 10° andar CEP: 05424-010 - São Paulo – Brasil Copyright para a língua portuguesa: 2002 EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Impressão e acabamento: DONNELLEY COCHRANE GRÁFICA E EDITORA BRASIL LTDA. DIVISÃO CÍRCULO - Fone (55 11) 4191-4633


CAPÍTULO I Ao soar da campainha, Lauren MacMillan sentiu coração disparar e olhou para as duas garotinhas de quatro anos que brincavam com sua sobrinha, Lindsey. Mas foi sobre a outra menina, sentada à sua frente, servindo chá na boca do ursinho de pelúcia, que deteve o olhar. Sara era filha de Cody Granger. Cody Granger. Uma lembrança, um arrependimento, uma humilhação que Lauren jamais esquecera. A campainha soou novamente. Sara anunciou, alegre: — É papai! Ele pode tomar chá também. A última coisa que Lauren queria era convidar Cody Granger para um chá! Sara tinha cabelos pretos cacheados e lindos olhos azuis, idênticos aos do pai. Lauren conseguira evitá-lo desde que ele voltara para Birch Creek, Colorado, havia poucos meses. Agora, sem alternativa, foi ao vestíbulo e abriu a porta. O vento frio de fevereiro entrou primeiro, trazendo flocos de neve, e ela fitou os olhos azuis que ainda a deixavam sem fôlego. O Dr. Cody Granger deixou de sorrir ao vê-la. — Lauren. Faz muito tempo. Ela sentiu a boca seca e admirou os cabelos pretos dele, os ombros largos sob o casaco pesado, o rosto bonito com maxilar quadrado. Então, lembrou a si mesma de que não estava mais na escola. — Sim, faz muito tempo. Mas, por favor, entre. — Comedida, era como se vê-lo novamente não causasse alteração em sua pulsação nem trouxesse lembranças amargas. — Sara e Lindsey estão brincando na sala de televisão. Eu substituí Kim esta tarde. Ela não está se sentindo bem. Ao fechar a porta, Lauren captou um aroma tentador de colônia pós-barba. Em vez de ir direto para a saleta, Cody voltou-se e a fitou demoradamente, enervando-a. — Sara e Lindsey estão brincando de visita, servindo chá de mentirinha — comentou Lauren, constrangida, desviando o rosto. Cody encaminhou-se à saleta. — Qual é o problema com Kim? — indagou, preocupado. — Está com enjôo e tontura. Eu a deixei lá em cima, com soda e biscoitos de água e sal. A pequena Sara parou de brincar ao vê-los. — Oi, papai! Estamos tomando chá. Quer um pouco? Cody agachou-se ao lado da filha e abraçou-a. — Acho que não. Divertiu-se hoje? A menina assentiu e contou o que tinham feito. — Lauren brincou também. Fizemos desenhos e, quando Matt foi tirar a soneca, brincamos de país dos doces. Cody riu.


— Você andou ocupada mesmo. A ruivinha Lindsey ergueu a cabeça. — Mamãe está doente. — Lauren me contou. — Cody endireitou-se. — Posso examiná-la, já que estou aqui. Minha maleta está no carro. Sem aguardar resposta à sugestão, tomou o rumo da porta para pegar seus instrumentos. — Cody, espere. Talvez Kim não queira que a veja... Ele deu meia-volta e ergueu o sobrolho. — Por que não? Se não for nada sério, poderei receitar algo só para aliviar os sintomas. Cody tinha razão e Lauren não sabia por que se opunha. Provavelmente, por não querer a ajuda dele, ou ficar em débito com ele, ou tê-lo por perto mais do que o necessário. Mas tinha de pensar na cunhada. Enrubesceu quando Cody deu uma boa olhada em sua figura, de suéter rosa e calça jeans. Prendia os cabelos castanho-claros num rabo-de-cavalo por praticidade. Ao chamado de Kim, abandonara as tarefas no centro de jardinagem de seus pais e fora correndo. Estava mais magra do que quando conhecera Cody, no ensino médio. — Acho que seria mesmo bom examiná-la — rendeu-se, finalmente. — Vou avisá-la de que você vai subir. Lauren continuou sentindo o escrutínio dele ao subir a escada, tímida como aos dezesseis anos. Ainda guardava dor no coração, embora negasse a mágoa, desde que soubera da volta de Cody Granger a Birch Creek. Por que não superava aquela paixão adolescente? Por que não se esquecia daquele primeiro sonho desfeito? Porque o modo como Cody destruíra seu sonho a afetara mais do que queria admitir. Orgulhosa, terminou de subir a escada de costas retas e queixo erguido. Em poucos minutos, Cody Granger estaria fora de sua vida novamente e tudo voltaria ao normal. Quinze minutos depois, Cody guardava o estetoscópio na maleta de couro preta. Lauren permaneceu no quarto enquanto ele examinava Kim, porém retirou-se ao saber, aliviada, que o diagnóstico era de uma simples gripe. Intrigado com a reticência de Lauren, Cody finalizou o atendimento à paciente tirando uma cartela de comprimidos da maleta. — Tome um a cada quatro horas, para baixar a febre — recomendou. Após fechar maleta, deu uma boa olhada na moça recostada nos travesseiros. No rosto pálido, as sardas destacavam-se mais do que o normal. Os cabelos ruivos sobre a fronha branca eram como uma mancha colorida. — Vai melhorar em poucos dias — consolou, apiedado. — Eu quero me sentir melhor agora... Cody sorriu e meneou a cabeça. De volta a Birch Creek, ao constatar que precisava de uma babá para tomar conta da filha enquanto trabalhava, Eli Hastings, seu mentor de longa data e agora sócio na Clínica de Medicina Familiar,


sugerira Kim porque ela morava na mesma rua, Kim costumava cuidar da neta dele sempre que a filha precisava sair. Muito diligente, Kim devia ter mais ou menos a idade de Cody, trinta e um anos, e vendia energia. Estava triste por ter de ficar na cama, quando preferia estar se movimentando. — Pense nos próximos dias como um descanso forçado — sugeriu Cody. Ela sorriu desanimada. — Quando descanso, gosto de estar com Rob, de preferência esquiando. — Tomou um gole de soda, recostou-se nos travesseiros e o encarou perspicaz. — O que há com você e Lauren? — Não entendi. — Pela atitude amigável de Kim ao se conhecerem, Cody presumira que ela não soubesse nada do que houvera entre ele e Lauren, embora o marido, Rob, provavelmente estivesse a par. — Lauren anda calada — comentou Kim. — Geralmente, é... amistosa. Mas quase sentia o gelo no ar enquanto ela permaneceu aqui. — Cursamos o ensino médio juntos — revelou Cody, no tom mais descontraído possível, e se preparou para ir embora. — É mesmo? Durante anos, ele lamentara o que acontecera com Lauren. — Se quer detalhes, deve perguntar a ela. Ainda sente tontura? — Não, desde que não mexa a cabeça. E não estou tonta demais para perceber que você mudou de assunto. — Preciso ir embora e você, descansar. É o melhor que pode fazer agora. Kim suspirou. — Sim, doutor. Ah, não precisa se preocupar em arranjar outra babá para amanhã. Lauren disse que vai cuidar das crianças. Talvez Lauren cuidasse das outras crianças, mas Cody não tinha certeza se ela ficaria com Sara. Voltou-se da porta. — Falarei com ela agora. Cuide-se, e telefone se a febre aumentar. Kim assentiu e franziu o cenho, como se o movimento a deixasse tonta novamente. No corredor, Cody ouviu as risadas de Lindsey e Sara. Desceu a escada e percebeu que as vozes vinham do fundo da casa. Deixou a maleta no vestíbulo, junto do casaco, e foi à cozinha. Sentadas num tapete. Sara e Lindsey brincavam com blocos. Diante do balcão, com Matt, de dois anos e meio no colo, Lauren tentava picar folhas de alface. — É difícil fazer alguma coisa assim. — Mais do que tudo, Cody queria recomeçar bem com Lauren, deixar o passado para trás. Ela ajeitou melhor a criança no colo, reparando que Cody usava camisa branca com gravata. — Às vezes, Matt fica mal-humorado quando acorda. Ele só quer que eu o segure. Mas Rob vai chegar logo e quero estar com o jantar adiantado. Matt estendeu os bracinhos para ele. Sorrindo, Cody tomou o menino nos braços.


— Ei, amigão. O que foi? Tirou a soneca? Matt assentiu, pousou a cabeça no ombro de Cody e começou a chupar o polegar. — Ele não costuma ir com qualquer pessoa, assim — comentou Lauren, surpresa. — Matt e eu somos velhos camaradas. Às vezes, ele se sente minoria. Se eu chego antes de Rob, é como se houvesse um equilíbrio. Após um breve silêncio, Lauren pigarreou. — Entendo. Ele devia ter escolhido melhor as palavras. A tensão entre ambos cresceu, até que Cody desviou o olhar. Lauren se tornara uma mulher bonita, diferente da adolescente ligeiramente obesa que se preocupava mais com os estudos do que com a última moda em Paris. Não era o tipo de garota que se destacava, como Gretchen DeWitt, mas tinha um sorriso maravilhoso, lindos olhos castanhos e cabelos castanho-claros que brilhavam como ouro sob o sol. Empolgado com Gretchen naquela época, não olhava muito para as outras garotas. Até que terminou o namoro com Gretchen e concedeu uma entrevista a Lauren, então preparando um artigo para o jornal da escola. Convidou-a para o baile de formatura. Lauren desviou o olhar e ocupou-se com os ingredientes da salada no balcão. — Vou tomar conta de Matt e Lindsey aqui, amanhã. Se quiser deixar Sara, como normalmente faz, tudo bem. Cody aproximou-se por trás, desejando ver seu rosto novamente. — Tem certeza? — Claro — confirmou ela. Ele a tocou no cotovelo. — Lauren... Ela o encarou. Cody estava ciente demais da pele macia, mas, acima de tudo, do olhar rancoroso quando ela se desvencilhou e recuou dois passos. — Eu realmente tenho de preparar o jantar, Cody. — Com isso, foi à mesa e recolheu alguns papéis. — Estes são os desenhos que Sara quer levar. Lauren entregou os trabalhos e retomou Matt, aninhando-o junto ao peito. Se ela não queria conversar, paciência. Com pouco tempo livre, ele tinha uma pilha de revistas médicas para ler depois de colocar a filha na cama. — Costumo passar para deixar Sara por volta das sete e meia. — Está ótimo. — Ainda de olhar baixo, ela acariciava os cabelos de Matt. Cody sabia que não devia se irritar com a atitude de Lauren. Nunca discutiram o que acontecera entre os dois naquela tarde, poucos dias antes do baile. Depois do episódio, nunca mais se falaram e, pela atitude dela, não voltariam a conversar, tampouco. Aprendera com a vida que, se não fosse adiante, acabaria engolido. Eli Hastings lhe dera condições para seguir em frente e sabia que não devia olhar para trás. Era impossível consertar o passado. Superara o abandono do pai e seu próprio passado desfavorável. Agora, tinha uma filha para


criar e uma profissão à qual se dedicar. Se Lauren MacMillan não queria sua amizade, podia conviver com o fato. Cody foi ao canto da cozinha e estendeu a mão à filha. Sara levantou-se e pousou os dedos nos do pai, sorrindo. A filha era sua vida, não precisava de mais ninguém. — Obrigada por examinar Kim — agradeceu Lauren, educada. — De nada. Até amanhã. A conversa cessou novamente enquanto Cody recolhia seus pertences no vestíbulo. Despediram-se. A caminho de casa, Cody ainda tentava tirar Lauren dos pensamentos. Não conseguia. Mas jurou a si mesmo que conseguiria. Após o jantar com Rob e as crianças, Lauren certificou-se de que o irmão tinha tudo sob controle e que a cunhada descansava confortável antes de retornar ao seu apartamento, no outro lado da cidade. No momento, aprimorava um projeto de jardinagem para uma empresa de Denver que incorporava um novo complexo de escritórios comerciais. Se conseguisse aquele contrato, outros se seguiriam, o que não só impulsionaria sua carreira como paisagista, como daria prestígio ao centro de jardinagem de seus pais. Entretanto, enquanto folheava os catálogos que espalhara sobre a mesa da cozinha, não deixava de pensar em Cody Granger. Após se formar em medicina, ele fizera residência em Colorado Springs e começara a clinicar lá. Kim lhe contara que a esposa de Cody, Gretchen, falecera havia dois anos. Desconhecia os detalhes e convenceu-se de que não estava interessada. Entretanto, não deixava de sentir compaixão por Sara, que cresceria sem mãe. Não conseguia imaginar a vida sem sua mãe por perto. O pai e Rob sempre foram protetores e Verna MacMillan lhe dera apoio incondicional a vida toda. Criança tímida, Lauren nunca chamara muita atenção. O que a agradava. Na adolescência, porém, ao ganhar peso, não muito, mas o bastante para fazê-la sentir-se diferente, percebera que os meninos gostavam de garotas sexy e esbeltas. A mãe proibira qualquer dieta, insistindo em que se alimentasse bem, pois acabaria alcançando um ponto de equilíbrio. Só descobriu o que era o tal ponto de equilíbrio ao entrar na universidade, quando os quilos extras desapareceram e descobriu um corte de cabelo que combinava com suas feições, bem como que adorava a carreira escolhida. Apegada à família, nada a fazia mais feliz do que trabalhar com os pais e o irmão no centro de jardinagem todos os dias, mas precisava de uma vida própria, separada da deles. Portanto, a prioridade era firmar-se na carreira, o que asseguraria sua independência. Retomou o exame dos catálogos com vontade, em busca de inspiração para um projeto único para os pátios do novo complexo comercial. Sobressaltou-se quando o telefone tocou e imaginou se Kim piorara.


Atendeu. — Lauren, é Cody. Estou telefonando porque fui chamado através do pager. Geralmente, Kim fica com Sara quando preciso sair. Procurei uma outra moça, que chamo ás vezes, mas ela não está em casa. Seria possível que viesse à minha casa? Sara já está pronta para dormir. Se for impossível, eu posso levá-la à sua casa. Mas não sei até que horas ficarei fora. Lauren convenceu-se de que podia recusar. Convenceu-se de que o problema de Cody Granger não era seu. Entretanto, ao pensar na pequena Sara, soube que não podia se recusar. — Estarei aí em dez minutos. — Estou muito agradecido, Lauren. Eu a recompensarei, claro... — Nem pense nisso. Vou levar meu trabalho. Posso fazer meus esboços tranqüilamente enquanto tomo conta de Sara. — Obrigado, Lauren. Ela não queria gratidão. Na verdade, não sabia o que queria dele. Na rua com leve camada de neve, Lauren estacionou diante da casa de Cody e lembrou-se mais uma vez de que se dava ao transtorno apenas pela criança. A caminho da porta, tentou se acalmar e segurou a pasta com mais força. Passara várias vezes diante da casa de Cody, mas nunca entrara. Tentava não imaginar que tipo de homem o zagueiro do time de futebol americano juvenil de Birch Creek se tornara. Tratava-se de um sobrado bonito, com varanda na frente e garagem para dois automóveis, uma parte em tijolos aparentes e outra com acabamento pré-fabricado bege. Sorriu ao ver um trenó de adulto junto a outro idêntico, mas menor. Pelo comportamento de Sara e pelos comentários de Kim, Cody era um bom pai... um pai carinhoso. Ele abriu a porta e permaneceu sério enquanto a conduzia para dentro. Lauren tomou o cuidado de não se aproximar demais. O traje casual, suéter e calça jeans, enfatizava os músculos sólidos, diferentes da época em que se desenvolviam, na juventude. Mas Cody sempre exsudara virilidade. Guardando distância da presença máscula, Lauren despiu a parca azul e foi ao encontro de Sara, que folheava um livro infantil no sofá. — Oi, querida. Seu pai contou que vou colocar você na cama e ficar com você até ele voltar? A menina lhe passou o volume. — Lê para mim? Cody aproximou-se da filha e abraçou-a. — Só uma história e, então, cama. Já passou da sua hora de dormir. Até amanhã, querida. — Boa noite, papai. Cody sorriu para Lauren. — Ela está acostumada. Às vezes, acho que ela fica contente quando outra pessoa a coloca na cama. Lauren percebeu a preocupação por trás do comentário divertido. Era difícil


ser pai viúvo. — Vamos ler a história e então eu a coloco na cama — assegurou. Ele retirou um cartão do bolso e entregou-lhe. — Preciso ir. Este é o número do meu pager. Se precisar, ligue. Lauren assentiu. Fitaram-se por vários segundos, durante os quais o tempo pareceu parar. Então, Cody pegou a jaqueta de couro preto pendurada na cadeira e foi para a porta. Despediu-se com um aceno. Lauren guardou o cartão no bolso, sentou-se no sofá e sorriu para Sara. A menina interpretou como convite e se aproximou, aninhando-se. Lauren abriu o livro, abraçou a criança e sentiu uma dor no coração. Queria ser mãe. Nunca se dera conta disso, até então. Estava sempre em contato com os sobrinhos adorados, mas maternidade sempre lhe parecera algo distante. Agora, entretanto, junto de Sara, sentindo o corpinho quente aninhado junto ao seu, a maternidade se tornava mais do que um sonho. Tomava-se uma necessidade. Ao final da história, Sara pediu um copo de leite. Lauren sabia que a menina protelava a hora de dormir, mas foi à cozinha. A casa de Cody era confortável, mas apresentava decoração incompleta. A sala de jantar contava com móveis de carvalho brilhantes, complementados por cortinas em cores suaves. Quatro cadeiras de carvalho cercavam uma mesa retangular. Contra a parede, apenas uma arca vazia. No jardim de inverno além da sala de jantar, algumas cadeiras de jardim e mais nada. Enquanto Lauren despejava leite num copo. Sara subiu num banquinho na cozinha e ficou tagarelando. Finalmente, chegou a hora de dormir e a menina não fez manha. Lauren reparou que no quarto dela faltavam móveis, também. Havia uma cama infantil com cabeceira de carvalho, um baú e uma pequena cômoda. As paredes eram brancas e não havia cortina na janela, apenas uma persiana. Um cobertor rosa completava a roupa de cama branca. Imaginou o que podia acrescentar para dar mais vida ao ambiente, torná-lo o refugio de uma garotinha. Notou um porta-retrato na cômoda. Aos vinte e poucos anos, Gretchen estava ainda mais bonita do que na adolescência. Os cabelos loiros e os olhos azuis destacavam-se, como sempre. A namorada de Cody. Lauren, idiota, acreditara poder competir com a líder da torcida da escola, cuja beleza suplantava a de todas as outras garotas. Teria Cody se interessado por alguma outra mulher após a morte da esposa? Com certeza, um homem como ele não ficaria sozinho na cama por muito tempo. Espontaneamente, Lauren lembrou-se dos beijos. Naquela única noite, quando os beijos viraram carinho... Sara subiu na cama e indagou: — Pode deixar a luz do corredor acesa? Papai desliga quando chegar... Provavelmente, era um sinal entre eles. Se ela acordasse no meio da noite e a luz estivesse apagada, saberia que o pai retornara.


— Claro, eu deixo acesa. E estarei lá na sala. Vou deixar a porta aberta e, se precisar de algo, chame, está bem? — Puxou a coberta até o queixo da criança. A menina suspirou, satisfeita. — Pode me dar um beijo de boa-noite. Papai sempre me dá. Lauren sorriu, inclinou-se e deu um beijo na testinha. Na sala do térreo, abriu a pasta e tirou um bloco de desenho e alguns catálogos. Se mergulhasse no trabalho, as horas passariam rápido e se esqueceria de que estava na casa de Cody Granger. Passava da meia-noite quando ouviu o carro de Cody entrando na garagem. Pouco depois, ele abria a porta que dava na cozinha. Instalada no sofá com o bloco no colo, tratou de endireitar as pernas ao ouvi-lo se aproximar. Lauren reteve o fôlego ao vê-lo. Sem a jaqueta, que ele devia ter deixado na cozinha, Cody nunca lhe parecera tão viril... alto, forte, musculoso. Ele se sentou a seu lado no sofá, e ela sentiu voltar com força total a atração de antigamente. — Como foi? — indagou ele. Parecia cansado e Lauren concluiu que o dia dele fora mais cansativo do que o dela. — Bem, Sara está dormindo. Já fui vê-la duas vezes. E você? — Era um dos meus pacientes idosos, com problema de coração. Ele foi hospitalizado duas vezes nos últimos três meses e está com fluido nos pulmões novamente. Drenamos, mas... — Cody entristeceu-se. — É só questão de tempo agora. Eram evidentes a preocupação e o afeto de Cody por seus pacientes. — Como consegue lidar com isso? Ele a fitou, e Lauren soube que ele entendera do que ela falava. — Há dias bons e dias ruins. Na maior parte das vezes, consigo ajudar meus pacientes, ou ao menos deixá-los mais confortáveis. Mas, quando me sinto abater... pego a motocicleta e espaireço. — Motocicleta? Ele sorriu, maroto. — É. Comprei uma motocicleta no ano passado e foi o melhor investimento que já fiz. Eu a utilizo para pequenos trajetos na cidade e em trilhas junto ao riacho. De vez em quando, pego a estrada. Já andou de motocicleta? Cody sempre tivera um lado rebelde, selvagem. Na entrevista para o jornal da escola, anos antes, ele confessara já ter passado algumas vezes pela delegacia. Revelara também que, não fosse Eli Hastings, não teria entrado no time de futebol americano, nem melhorado as notas e se candidatado a bolsas em universidades. Na época, falava-se do pai de Cody, mas ela estava tão apaixonada por ele que não se importara. — Nunca pensei em andar de moto. Surgiu um brilho de espanto nos olhos azuis. — Pelo que vejo, classifica a atividade na categoria dos saltos ornamentais e equilibrismo. Mas eu acho que andar de moto é mais seguro do que essas opções. Lauren enrubesceu. Como anos antes, ao sentir-se inexperiente e desajeitada


junto dele. — Acho que depende do ponto de vista. Entreolharam-se e Lauren sentiu vontade de se achegar. Cody devia ter percebido, pois reduziu a distância entre ambos. — Podemos passear um dia... se quiser. — Seu tom grave como que reverberou nela. Andar de motocicleta com Cody, com os braços em torno de sua cintura... Talvez um deles tivesse se movimentado, ou ambos. O fato era que o espaço entre eles desapareceu. Ela ergueu o rosto. Ele inclinou a cabeça. Cody pensara em Lauren a noite inteira. Era tão doce, ainda com um ar de inocência. Com quantos homens já saíra? Quantos homens beijara? Com quantos homens namorara no carro, depois de lhe contar que era o primeiro rapaz a tocar nela? Desejou-a naquele instante, mas controlou-se. Estava mais velho e experiente, sabia que Lauren era do tipo que se guardava para o homem certo. Naquela noite distante, perturbado por ter rompido com Gretchen, provavelmente tomara a atitude mais nobre de sua vida ao não se aproveitar de Lauren. E agora? A última coisa que queria era um relacionamento. O casamento fora uma decepção. Acima de tudo, aprendera que amar causava sofrimento e frustração. Não queria mais saber de amor... exceto por sua filhinha. Endireitando-se, Cody controlou a adrenalina que lhe invadia as veias. — Tem certeza de que não posso recompensar você pelo trabalho esta noite? Por um segundo, uma emoção intensa surgiu no olhar de Lauren, logo substituída pela reserva fria. — Colocar Sara na cama foi uma alegria. Não preciso de recompensa. Ela reuniu os catálogos e guardou-os na pasta. Pegou ainda o bloco de desenho e a caneta. — Vou acompanhá-la até o carro — ofereceu-se Cody, inquieto com o desejo, que não sentia desde que enviuvara. — Não é necessário. — Lauren apressou-se até a porta. — Até manhã. Pela porta, Cody observou-a chegar à calçada e ao carro. Não devia sequer ter pensado em beijá-la. Onde estava com a cabeça? Lauren colocou o veículo em movimento e as luzes das lanternas diminuíram conforme se afastou. Fechou a porta e a trancou. Não importava o que sentira, não se repetiria. Sabia que não devia desafiar o destino uma segunda vez.


CAPÍTULO II No dia seguinte, quando Cody deixou Sara na casa de Kim pela manhã, Lauren foi friamente educada. Ele se convenceu de que era melhor assim, embora não deixasse de se encantar com os cabelos cacheados dela adornando o rosto, com o jeito sensual de seu suéter lilás moldando-se aos seios. À tarde, quando ele passou para pegar a filha, trocaram apenas algumas palavras. Às oito horas da noite, porém, Lauren telefonou para ele. — Algum problema? — Cody temia que ela houvesse desistido de ser babá, ou de tomar conta da filha dele. — Kim está melhor — adiantou ela. — Mas Lindsey não está se sentindo bem. Kim acha melhor que você não traga Sara amanhã. Tem alguém que possa cuidar dela? Cody identificou o tom esperançoso na voz dela. Infelizmente, ficaria decepcionada. — Não tenho. Não com tão pouca antecedência. Posso ver uma diária numa creche, mas tenho de chegar ao hospital cedo amanhã. Um dos meus pacientes está com cirurgia marcada. Houve uma longa pausa. — Kim sugeriu que eu tomasse conta de Sara na sua casa. Cody percebeu a incerteza de Lauren e não esperava que ela lhe fizesse favores. Talvez conseguisse uma enfermeira de folga... — Eu já a atrapalhei bastante — reconheceu ele. Lauren tinha a própria carreira, a própria vida. — Estou pensando em Sara, Cody. Detesto vê-la numa situação difícil, quando isso não é necessário. Se quiser que eu tome conta dela, estou disponível. Cody lembrou-se da felicidade da filha com os cuidados de Lauren e entendia o quanto aquilo era importante. — Tem certeza? — Sim, tenho certeza — afirmou Lauren, suave. — Darei alguns telefonemas amanhã. Obviamente, preciso encontrar alguém para substituir Kim. Pode estar aqui às sete e meia? — Estarei aí. Boa noite. — Boa noite. — Cody pensou em outras boas-noites, no beijo singelo que dera em Lauren no primeiro encontro, nos beijos mais ardentes que se seguiram, no segundo e terceiro encontros. Quando Lauren desligou, percebeu que ansiava pelo dia seguinte. Sara ficou entusiasmada pela manhã quando soube que Lauren viria. Cody chegou à cozinha quando Lauren preparava ovos mexidos para a criança e desejou ficar e tomar café da manhã com elas ao sentir o aroma saboroso. Geralmente, oferecia cereais à filha. Sabia que contavam demais com comida pronta, principalmente pizza. Assim, iam sobrevivendo.


Naquela tarde. Sara correu para os braços do pai ao vê-lo chegar do trabalho. — Lauren pode jantar conosco? Por favor? Ele ergueu a sacola que trazia. — Comprei comida chinesa. Sempre dá para mais uma ou duas pessoas. — Ao ver a expressão incerta de Lauren, deixou em aberto. — A menos que prefira ir para casa. Mas a filha obviamente nem considerava a possibilidade de a nova babá e amiga voltar para casa e tomou a mão de Lauren. — Fique para o jantar. Por favor. Papai traz uns pauzinhos engraçados para comermos o macarrão. Cody aguardou a resposta de Lauren. — Nós dois gostaríamos que ficasse — reforçou. Lauren fitou a criança. — Se eu ficar, você me mostra como usar os pauzinhos de madeira? Sara assentiu vigorosamente. — Eu não sei bem, mas papai sabe. Ele vai lhe mostrar. Vamos. — Agarrou a mão de Lauren e a puxou para cozinha. Sara contou ao pai o que fizera durante o dia, enquanto ele pegava pratos no armário. Cody sentou-se ao lado de Lauren à mesa de carvalho circular da cozinha, e seus joelhos se roçaram. Lauren afastou-se e Cody lamentou que reagisse assim. Abriam as embalagens de frango agridoce e frango xadrez. — Conversou com Kim hoje? — indagou ele. Usando o garfo, Lauren despejou o frango xadrez numa travessa, para que todos pudessem se servir. — Ela está muito melhor, mas Lindsey, não. — Dei uns telefonemas à tarde — comentou Cody. — Mas não tive muita sorte. A creche está lotada até contratarem mais monitoras. Uma babá que uma paciente me indicou mora fora da cidade. Há mais uma possibilidade, mas gostaria de entrevistar a moça antes de deixá-la com Sara. — Depois do casamento com Gretchen, Cody percebeu que nem todas as mulheres nasciam com instinto maternal, mas via que Lauren gostava mesmo de Sara. — Sei que tem trabalho a fazer, mas posso recompensá-la bem, se ficar por esta semana. Não quero deixar Sara com alguém em quem não confie totalmente. Lauren ia servir o arroz em outra travessa, mas deteve-se e o encarou. — Por que confia em mim? Era uma pergunta complicada e simples ao mesmo tempo. — Kim confia os filhos a você. É uma recomendação e tanto. E eu a observei com Sara. Ela é o melhor termômetro. Antes que Lauren respondesse, o telefone tocou. Cody afastou a cadeira e foi ao balcão pegar o telefone sem fio. — Granger — anunciou-se, vendo a filha pegar os pauzinhos de madeira e ensinar Lauren a usá-los. — Cody, é Dolores — manifestou-se uma voz feminina. — Tem alguns


minutos? Cody olhou para a filha. Dolores DeWitt, mãe de Gretchen, não aprovava a mudança deles para Birch Creek. Ela queria que permanecessem em Colorado Springs, de modo a conviver mais com a neta. Mas ele tinha seus motivos para querer se afastar da influência de Dolores. Não queria que Sara crescesse mimada e egoísta, como finalmente descobrira ser Gretchen. — Estamos jantando — informou, pouco amistoso. — Então, não vou prender você. Quero que traga Sara para me visitar. Deixe que ela fique comigo, talvez por uma semana. Cody olhou para a filha e Lauren que riam tentando pegar os alimentos com os pauzinhos. Arrepiava-se com a idéia de deixar Sara com a avó por tanto tempo. — Não é uma boa época, Dolores. — Com as suas longas horas de trabalho, imaginei que ficaria feliz em transferir a responsabilidade por Sara por algum tempo. Cody irritou-se com o tom da sogra. Não apreciava o rumo da conversa, sentia que logo teriam problemas. — Justamente por causa das minhas longas horas de trabalho, não quero que Sara se afaste de mim por uma semana — explicou, calmamente. — Quero passar o máximo de tempo possível com minha filha. Mas, vamos fazer assim: vou ver minha agenda e iremos aí lhe fazer uma visita assim que der. — E isso significa... — Significa que combinarei com Eli o esquema para os próximos fins de semana. Depois, eu lhe dou retorno. — Se tivesse se unido a uma equipe médica de prestígio daqui... — Mas não me uni, Dolores, e estou feliz aqui. E Sara também. — Já morei em Birch Creek, Cody. Sei como é isso aí. Colorado Springs tem muito mais a oferecer. Não entendo por que se mudou. Cody respirou fundo. — Minhas raízes estão aqui. — Raízes? Durante boa parte da sua vida, tentou fugir das suas raízes, segundo Gretchen. Você construiu uma vida aqui. Você e Gretchen integravam a comunidade de Colorado Springs. Devia ver a nova ala do hospital, está quase pronta. Toda vez que passo em frente, penso na grande contribuição de Gretchen ao levantar fundos para a construção... O trabalho solidário de Gretchen tornara-se um ponto de atrito entre eles, após o nascimento de Sara. Mas Dolores parecia não recordar o fato. Assim como não aceitava vários outros simplesmente porque não queria. Para manter a paz, Cody contemporizou: — Verei a ala quando estiver pronta. Nós a visitaremos em breve, Dolores. — Mas não disse quando — reclamou ela. — Não posso dizer enquanto não conversar com Eli. Pode vir nos visitar, se quiser, sabe disso. — Sim, mas... mesmo após tantos anos, não quero deparar com David ou seus amigos.


Dolores se divorciara de David DeWitt e mudara-se com a filha para Colorado Springs após a formatura de Gretchen no ensino médio. Era pouco provável que topasse com o ex-marido, que era consultor financeiro, se voltasse à cidade apenas para ver a neta, mas sempre dava aquela desculpa para não pôr os pés em Birch Creek. — Como quiser, Dolores. Mas entenda que talvez eu só possa viajar daqui a algum tempo, principalmente num fim de semana. — Está bem — conformou-se a sogra. — Verifique a sua agenda. Combine com o seu parceiro. Então, conversaremos seriamente sobre meu direito de passar mais tempo com Sara. Eu sou a avó, afinal. Uma avó que queria tudo a seu modo... a exemplo de Gretchen. — Telefono em alguns dias — assegurou ele. Após uma despedida tensa, a sogra desligou. Cody voltou à mesa e serviu-se de arroz e pegou uma porção de frango agridoce. Pressentia que Dolores armava alguma jogada. — Era a mãe de Gretchen? — indagou Lauren. — Era. — Sabendo que Lauren ouvira a conversa, ele acrescentou: — Ela fez de tudo para que eu não me mudasse de novo para cá. — Mas você se mudou. Cody roçou o braço no de Lauren ao estender-se para pegar os pauzinhos de madeira, mas não se esquivou. Lauren também não. — Quero criar Sara numa cidade pequena. — Mas sua sogra os quer mais perto. Ele meneou a cabeça. — Não é só isso. Sinto que ela acha que pode criar Sara melhor do que eu. E quando Dolores quer algo, vai atrás. — Quer dizer... pedir a guarda? — Lauren parecia chocada. Cody se preocupava com aquilo havia semanas. Nem por isso romperia com Dolores, pois testemunhar um conflito dessa envergadura em família não seria bom para sua filha. — Espero estar enganado. Cody não queria discutir o assunto diante da criança e mudou de assunto. — Ensinou a Lauren como usar os pauzinhos? — Tentei. Já acabei. Posso ir ver desenho? Cody olhou as horas no relógio e assentiu. — Chamarei quando der a hora. Sorrindo, a menina pulou da cadeira e correu para a sala. — Você limita o tempo dela diante da televisão? — perguntou Lauren. Havia curiosidade nos olhos castanhos e Cody sentiu-se mais atraído do que nunca. — Prefiro que ela monte quebra-cabeças comigo, ou que brinque com as bonecas. Quando está mais quente, saímos depois do jantar. Entreolhando-se, partilharam um momento de ternura mútua. — Você é um bom pai, Cody.


Ele sentiu orgulho, como não experimentava havia tempos. Vindo de Lauren, o reconhecimento lhe significava muito. — Às vezes, não tenho certeza se estou sendo um bom pai. Lauren aproximou o rosto, os cabelos reluzentes sob a luz matinal. — Criar Sara sozinho deve ser difícil. Naquele momento, Cody não pensava em como era ser pai. O perfume floral de Lauren, os belos olhos castanhos, a pele rosada perfeita atiçavam seus instintos masculinos e o excitavam. Pousou os pauzinhos, pois perdera o apetite. Outro apetite mais primitivo se manifestava. Lauren arregalou os olhos castanhos ao perceber o que se passava entre eles. A vontade de beijá-la era tão forte que suplantava o bom senso de Cody, excitado só de olhar para ela. Era loucura. Nem pensara em levar uma mulher para cama fazia já algum tempo. Mas ali, naquele instante, queria Lauren. E queria que ela o desejasse também. A tensão aumentou, até que Cody enterrou a mão nos cabelos macios de Lauren e a aproximou mais... Lauren desvencilhou-se e recuou, zangada. Afastou a cadeira e levantou-se. — Não vai dar certo, Cody. Você tem de encontrar outra pessoa para tomar conta de Sara. Ele sabia que deviam ter esclarecido a relação havia muito tempo. Levantou-se também. — Isto não tem nada a ver com Sara. — Não, acho que não. Tem a ver com minha ótima memória. Além da irritação, Cody identificou outro sentimento e percebeu que era dor... Lauren ainda sofria, após tantos anos. Jamais pretendera magoá-la, jamais desejara que ela o visse com Gretchen... — Não posso fingir que somos amigos, Cody — desabafou Lauren, o rosto afogueado. — Não posso fingir que fomos amigos um dia. — Com isso, voltou-se e foi para a sala. Cody a seguiu. Lauren saiu da casa tão rápido que Sara, assistindo à televisão, nem notou. Cody pensou em interceptá-la, mas não podia reescrever o passado. Não havia como Lauren deixar de se sentir traída. E acreditara que os anos fariam diferença... que o tempo curava tudo. Entendia agora que o tempo não fizera diferença alguma. O melhor que podia fazer por Lauren era deixá-la em paz. — Papai, quanto tempo vou ficar aqui? Posso ver o que Nancy está fazendo? Pela décima vez, Cody desligou o gravador portátil. Não tivera escolha senão levar a filha ao consultório. Enquanto ele atualizava os dados nas fichas dos pacientes, Sara deveria estar montando um quebra-cabeça, quietinha num canto, mas era evidente que já se entediara com a atividade. A cada dois minutos, a criança fazia uma nova pergunta. — Nancy está ocupada agora, querida. Quer colorir em vez de montar o


quebra-cabeça? — Quero. Cody levara uma bolsa com brinquedos e outros itens de que a filha poderia precisar. Instalou-a com lápis de cera e um livro de colorir junto à janela. Voltou a atualizar as observações nas fichas dos pacientes. Mas não conseguia se concentrar na tarefa. Só pensava em Lauren. E na noite anterior. E em treze anos antes. Lembrou-se do dia em que rompera com Gretchen... Vamos para universidades diferentes, Cody. Sei que estamos namorando firme, mas vamos passar meses sem nos vermos e... eu quero sair com outros rapazes. As palavras tiveram o efeito de um murro. Namorando havia seis meses, Cody já sonhava com um futuro ao lado de Gretchen, embora ela pertencesse a uma família de posses, que não aprovava o relacionamento. Fora ela quem o abordara numa festa, parabenizando pelos gols marcados no jogo da consagração, e ele se deslumbrara com sua beleza radiante. Gretchen era tudo o que um rapaz de dezoito anos podia querer. Cody sempre desejara ter alguém para amar a vida toda. Gretchen parecia preencher o vazio em seu coração, marcado por um pai que vivia entrando e saindo da cadeia e uma mãe que trabalhava demais para sustentar a família. Carol Granger trabalhava seis dias por semana, estava sempre cansada e parecia nunca conseguir completar nada. Cody ajudava como podia, aceitando todos os empregos temporários que surgiam. Ao conhecer Gretchen, ela lhe parecera a resposta à solidão que sempre sentira. Mas, então, naquele dia de abril, ela informou que ele não bastava... ela queria abrir as asas. Ele devia ter percebido os sinais. Devia ter percebido que tinham objetivos distintos. Enquanto ele queria uma família, raízes e uma carreira respeitável, ela pensava em seguir com a vida descontraída à qual estava acostumada. Tentara se convencer de que fora bom romperem. Ele tinha anos de estudos pela frente, até se formar médico e se especializar. Mesmo racionalizando, ficara arrasado com a falta de fé de Gretchen neles como um casal. Devia ter previsto que ela agiria sempre pensando apenas em si mesma. No entanto, cego pela beleza e charme da namorada, não enxergara nada além, até depois do casamento. No mesmo dia do fim do namoro, Lauren lhe pediu aquela entrevista para o jornal da escola. Ele gostou de estar com a moça suave, gentil. O ego ferido e os sonhos desfeitos não pareciam tão devastadores com ela por perto. Por isso, convidou-a para o baile de formatura, dali a uma semana, Ainda se lembrava do brilho nos olhos dela, da expressão incrédula... como se não acreditasse que fora convidada. Passaram a sair juntos, e ele teve de controlar os hormônios juvenis, quando os beijos e carinhos se tornaram mais intensos. Mas então, dias depois... Era um dia ensolarado de maio. Cody conversava com amigos após a escola quando Gretchen aproximou-se e pediu para falarem em particular. À sombra de uma árvore nas proximidades, a ex-namorada o fitara com seus olhos azuis


brilhantes... — Cometi um erro, Cody. Não é verdade que quero sair com outros rapazes. Você é o único com quem vou querer me encontrar, mesmo enquanto estivermos estudando, cada um na sua universidade. — Com isso, abraçou-o, e eles se beijaram. Cody não perguntou por que ela mudara de idéia. Só sentiu que o destino abençoara seu mundo novamente. Rendendo-se ao desejo que podia satisfazer com Gretchen, beijaram-se com toda a paixão adolescente de seus corações. Foi o amigo Barry Sentz quem o chamou, arrancando-o ao torpor de felicidade. — Alguém está olhando, Cody. Olhou por sobre o ombro de Gretchen e viu Lauren com um grupo de amigas, pálida, estarrecida, trêmula. Ela saiu correndo em seguida, e ele quis alcançá-la. Mas Gretchen o segurou pelo braço. — Vamos nos encontrar hoje à noite? — Eu telefono — prometeu ele, e foi atrás de Lauren. Finalmente, alcançou-a. — Precisamos conversar! Ela se desvencilhou, furiosa. — Não temos nada a conversar! Lauren teria fugido novamente, mas Cody a segurou. Ela endireitou os ombros e ergueu o queixo, embora as lágrimas brotassem nos olhos. — É evidente que prefere ir ao baile com Gretchen. Não precisa honrar o convite que me fez. — Convidei você para o baile e é com você que vou. Lauren meneou a cabeça e abraçou os livros. — Não precisa cumprir a obrigação, Cody. Volte para Gretchen e divirta-se no baile. — Em vez de tentar contorná-lo, ela se voltou e atravessou a rua, fugindo dele e do constrangimento que lhe impunha. Cody sempre lamentaria aquele dia. Esperou por Lauren junto ao armário na escola, mas ela não apareceu. Ligou para a casa dela, mas ela não atendeu. Conformado com a triste separação, passou a vê-la só de passagem daí em diante. Ela o evitava, o que não era difícil, já que os alunos do último e do primeiro ano não se misturavam. Duas semanas depois do baile, ele e Gretchen se formaram, foram cada um para uma universidade, continuaram namorando e se casaram no primeiro ano de residência médica dele. Se tivesse percebido que Gretchen queria ser esposa de médico, mais do que ser esposa dele... Se tivesse percebido como ela se sentia em relação a ter filhos. Mas o distanciamento antes do casamento o fez alimentar ilusões quanto ao verdadeiro caráter da namorada. Toda a beleza e charme perderam o efeito quando ela revelou a verdadeira face, ao atingir seu objetivo de vida. Sara o arrancou dos devaneios. — Posso ir ver Nancy agora? — Pinte mais um desenho, e então veremos o que ela está fazendo.


— Mais um? — Mais um. Enquanto a filha cumpria a tarefa, Cody pegou o telefone, sabendo que levara tempo demais para falar com Lauren. Procurou o número do Centro de Jardinagem MacMillan e teclou rapidamente. — MacMillan — atendeu uma voz feminina suave, que ele logo reconheceu. — Lauren, é Cody. Houve silêncio. — Desculpe-me — adiantou-se ele. Seguiu-se outra pausa. — Por quê? — questionou Lauren, por fim. Cody imaginou que ela pensava no beijo que quase partilharam. — Por magoá-la na época da escola. Por não insistir em levá-la ao baile. Por nunca termos conversado para acertar esse assunto, até hoje. Houve outra longa pausa. — Não há nada a acertar, Cody — declarou Lauren. — Eu nunca quis magoar nem fazer pouco de você. Sara levantou-se e correu até o pai. — Acabei, papai! Vamos ver Nancy agora? — Colocou a figura da bola vermelha e azul, colorida às pressas, debaixo de seu nariz. Cody envolveu a filha com o braço. — Você está em casa? — indagou Lauren. — Não, na clínica. A menina agitava a figura diante dele. — Não está bom, papai? Ele cobriu o telefone. — Está muito bom, querida. Agora, dê-me apenas alguns minutos. — Sara está na clínica com você? — indagou Lauren, surpresa. — Está. — Mas Cody não queria que ela pensasse que telefonara por causa disso. À mesa de trabalho no centro de jardinagem, Lauren debatia-se consigo mesma. Na noite anterior, Kim lhe telefonara para saber como estava e, sentindo sua perturbação, comentara: — Perguntei a Rob qual era a sua história com Cody e ele disse que eu devia lhe perguntar. O que aconteceu entre vocês dois? Lauren sabia que a cunhada pretendia só ajudar e contou uma versão resumida da história. — É o tipo de coisa que uma garota nunca esquece — concordou Kim. Agora, Lauren se emocionava com o pedido de desculpa de Cody, sentindo que era sincero. Imaginava o quanto era difícil para ele se abrir. Era hora de esquecer o que acontecera havia tanto tempo. Imaginava também a dificuldade com que Cody trabalhava, com a filha no consultório. — Tem consultas marcadas à tarde?


— Meu primeiro paciente chega em dez minutos. Lauren hesitou, mas só um instante. — Quer que eu passe aí e pegue Sara? Eu ia mesmo sair para comprar sanduíches. Teria de trazê-la para o centro de jardinagem, pois Rob foi a Denver e meus pais estão cuidando de um carregamento que chegou hoje, mas posso brincar com ela, ensinar os nomes das flores enquanto estivermos aqui. — Não telefonei por isso, Lauren — assegurou Cody. — Eu sei. — Lauren sentia na voz dele a hesitação, a determinação em não se aproveitar dela. — Acha que vai conseguir trabalhar com Sara do lado, fazendo milhares de perguntas... Ele gemeu. — Não precisa continuar descrevendo. — Papai, estou com sede — informou a menina, puxando-lhe a manga. — Posso tomar um refrigerante? — Não, tem suco de laranja na geladeira. Assim que eu acabar o telefonema, iremos lá. — Após mais algum vacilo, Cody indagou: — Tem certeza de que não será um transtorno? Na verdade, Lauren estava ansiosa para cuidar de Sara. — Claro que não. Daqui a pouco eu passo aí. Cody despediu-se. Lauren desligou e sorriu. Não devia estar tão ansiosa para rever Cody e passar a tarde com a filha dele. O pedido de desculpa dele não devia significar tanto. Mas significava. Pela primeira vez na vida, punha de lado as incertezas e deixava-se levar pela corrente. Quem sabia onde isso a levaria? Dez minutos depois, Lauren estava na recepção da clínica de Cody e Eli. Já conhecia a recepcionista Nancy porque a família toda se consultava com Eli Hastings havia anos. Dois pacientes aguardavam na sala de espera. — Cody pediu que vá para os fundos — avisou Nancy. — Ele está lá com Sara. Lauren abriu a porta que levava aos consultórios e seguiu pelo corredor até a copa. — Lauren! — gritou a menina, ao vê-la. — Oi, Sara. Quer ir ao centro de jardinagem comigo? Sara olhou para o pai. — Posso? Cody acariciou os cabelos da filha. — Claro que pode. Acho que vai se divertir mais lá. — Posso levar meu livro de colorir e canetas? Cody assentiu e Sara foi correndo ao consultório recolher seus pertences. Sozinha com Cody, Lauren sentiu-se constrangida após a conversa que tiveram. Ele se aproximou. — Acho que devia ter pedido desculpas pessoalmente, em vez de telefonar. — Imagine — murmurou ela. — Espero que sejamos amigos — declarou Cody, sério. — Sara gosta muito de você. Embora Kim goste dela, acho que ter a atenção total de uma mulher de


vez em quando fará bem à minha garotinha. Ele dava a entender que desejava aquela amizade pelo bem da filha. Por que não? Ela gostava da menina. Mas ali, diante de Cody, inebriada com o aroma de sua loção pós-barba e louca para lhe afastar a mecha de cabelos pretos da testa, percebeu que cuidar da filha dele seria complicado. — E não me esqueci do passeio de motocicleta — completou ele, referindo-se à conversa que tinham tido tantos anos antes. — Ainda está disposta? O vento nos cabelos, os braços ao redor de Cody... seria uma aventura e tanto! — Estou — decidiu-se Lauren. Ela nunca se arriscava. Toda a vida, fora ponderada em vez de impulsiva. Talvez estivesse na hora de soltar os cabelos, simbolicamente, agitar um pouco aquela vidinha sempre serena. Cody tinha os olhos azuis muito brilhantes ao estender a mão para lhe acariciar o rosto. — Você é uma mulher muito especial, Lauren MacMillan. Antes que ele a tocasse. Sara voltou com o livro e as canetas. — Estou pronta! — proclamou, pulando de excitação e energia. Cody baixou a mão e Lauren desviou o olhar. Por enquanto, ela se concentraria em Sara. Talvez depois... Talvez depois reconsiderasse os riscos de ser amiga do herói do time de futebol americano da escola que um dia lhe roubara o coração.


CAPÍTULO III Na sexta-feira à noite, em vez de voltar direto ao seu apartamento, Lauren voltou ao centro de jardinagem. Durante o dia, tomara conta de Sara na casa de Cody, porque Matt pegara gripe também. Cody insistiu em levá-la para jantar, em agradecimento, com Sara junto, claro, uma vez que ela não aceitava pagamento por servir de babá. O jantar foi agradável e também perturbador, nos momentos em que se fitavam ou quando inadvertidamente suas mãos se tocavam. Conseguiam conversar mais ou menos descontraídos, mas a vibração entre eles só fazia aumentar. Cody revelou sua idéia de construir um laguinho no quintal para a filha e acabou encomendando um projeto a Lauren. Por isso, ela voltava ao escritório. Queria pegar os catálogos e trabalhar no projeto em casa. Ao estacionar o carro, surpreendeu-se ao ver a caminhonete do irmão. Encontrou Rob à mesa dele, com o microcomputador ligado. — Pensei que já estivesse em casa. Como está Matt? — Melhor. Papai queria estes recibos no sistema e não tive tempo antes. Estamos na correria do Dia dos Namorados. O que faz aqui? O Dia dos Namorados seria no domingo e os clientes fariam fila no sábado para comprar vasinhos com corações e cupidos. Dia dos Namorados. Data importante para os negócios no inverno. De repente, Lauren desejou que fosse muito mais. Desejou viver o romance associado à data. — Só vim pegar alguns catálogos — explicou, junto às estantes. — Soube que você tomou conta de Sara novamente hoje, na casa de Granger. Havia um tom de preocupação na voz do irmão. Ele sempre fora protetor, e Lauren entendia que sempre seria assim. — Tomei. Depois, Cody me convidou para jantar com ele e Sara, para retribuir. — E isso foi tudo? — indagou Rob. — Tudo — assegurou Lauren. Rob recostou-se na cadeira e passou a mão nos cabelos castanhos. — Parece que você gostaria que tivesse sido mais. O irmão sempre a enxergara muito a fundo. — Talvez. Ele franziu o cenho. — Granger já a magoou antes. — Quando éramos adolescentes. — Talvez ele fosse jovem demais para perceber o que fez a você. — A culpa foi só minha. Sabia que ele estava fora do meu alcance. E sabia o que ele sentia por Gretchen. O irmão afastou a cadeira. — Até poucos dias atrás, você não parecia querer nada com o homem. — Ele pediu desculpas pelo que aconteceu na escola.


— Tardiamente, eu diria. — Rob... — Ouça, mana, não vou lhe dizer como viver a sua vida. Mas tenha em mente que a esposa dele morreu há apenas dois anos. — Tempo suficiente. — Cuidado, Lauren. Sei que gostou dele no passado, mas ele a machucou. — Eu era jovem. — Exatamente. Era a primeira vez que se apaixonava por alguém. E não se permitiu sentir algo tão intenso desde então, não é? Lauren saíra com alguns rapazes. Até namorara firme um arquiteto, Craig Davis, por alguns meses. Mas a verdade era... que nunca mais se apaixonara por ninguém. Por causa do acontecido com Cody? Não tinha certeza. — Não se preocupe comigo, Rob. Agora já sou adulta. — Ponto final — murmurou o irmão, concentrando-se na tela do microcomputador. O sol desapareceu atrás das árvores enquanto Lauren olhava pela janela de seu apartamento, no domingo. A neve derretera. Trabalhara no centro de jardinagem o dia todo para atender aos clientes retardatários, aflitos para comprar uma lembrança do Dia dos Namorados. Agora, podendo relaxar, sentia-se mais inquieta do que cansada. Trabalhava no projeto de paisagismo do centro comercial quando a campainha soou. Foi atender distraída, ainda pensando no trabalho. Para seu espanto, era Cody, com um leve sorriso nos lábios, de calça jeans e jaqueta de couro. Mais uma vez, fascinou-se ante os ombros largos e os cabelos pretos revoltos. Ele se manifestou antes que ela encontrasse a voz. — Que tal o passeio de motocicleta agora? Lauren imaginara que ele esquecera o assunto. — Agora? — A idéia a deixava ansiosa e temerosa ao mesmo tempo. — A noite está ótima para isso. — Os olhos azuis dele brilhavam, e Lauren percebeu que era um desafio. — Onde está Sara? — Com uma vizinha adolescente. Ela fica de babá quando Kim está ocupada à noite. De repente, Lauren percebeu que estava sendo rude. — Quer entrar? — Quer sair? — rebateu ele, sorrindo maroto. Lauren não podia ser covarde. Por algum motivo, pareceu-lhe necessário mostrar a Cody que era capaz de viver aventuras, também. — Está bem. Só vou pegar a chave. Precisarei de mais alguma coisa? Ele a fitou da cabeça aos pés, avaliando as mechas de cabelo, o suéter vermelho, a calça jeans, os tênis. Cada segundo do escrutínio aumentou a sensação estranha que ela sentira durante toda a semana. — Um agasalho — sugeriu ele.


Lauren duvidava de que, abraçada às costas de Cody, fosse sentir algo além de calor. Como não podia lhe dizer aquilo, pegou a parca no armário e juntou-se a ele no corredor, trancando a porta. Junto ao meio-fio, Lauren observou o veículo de duas rodas como se fosse de outro planeta. Cody riu. — Prometo que será divertido, Lauren. Confie em mim. Ela o encarou e as palavras ganharam uma conotação além do que ele pretendera. De certa forma, ele traíra sua confiança, muitos anos antes, e ela nunca mais confiara em um homem desde então. Nunca mais confiara em ninguém. Independência e auto-suficiência eram suas grandes defesas contra a vulnerabilidade. — Devo usar o capacete — observou ela, ignorando o pedido dele de confiança. — Isso mesmo. — Ele pegou um dos capacetes azuis que pendiam do guidão, ajeitou-o em sua cabeça e afivelou a tira sob o queixo. Ao roçar dos dedos dele em seu rosto, Lauren prendeu a respiração. A pele dele era quente, um pouco áspera e muito sensual. — Está bom assim? — indagou ele, baixando as mãos. — Está ótimo — afirmou Lauren, disfarçando. — Então, prepare-se para ver Birch Creek da garupa de uma moto. — Cody se instalou na motocicleta e esperou Lauren se acomodar. Lauren lançou a perna sobre a moto e não sabia o que era mais perturbador, se a motocicleta possante os as costas amplas de Cody a seu dispor. — Quando eu der a partida, coloque seus braços ao redor da minha cintura e segure-se. Se quiser parar por algum motivo, dê um tapa no meu ombro, entendeu? — Entendi. Cody ligou o motor e partiram. A princípio em pânico, Lauren imaginou o que dera nela para aceitar o desafio. Mas então outras sensações surgiram. Os braços ao redor de Cody, o movimento que mais parecia um vôo. Então, o vento envolveu-a e a paisagem passando rápido parecia diferente e especial. Tinha o coração na garganta, mas percebeu que se sentia livre percorrendo Birch Creek de motocicleta com Cody. Era uma liberdade resultante de estar em comunhão com os elementos, algo que nunca experimentara antes. As ruas pavimentadas permitiam um passeio suave enquanto Lauren se inebriava com a excitação e a velocidade. Então, Cody desacelerou e pegou uma estrada secundária que os levou aos campos e bosques com pinheiros altos e neve por toda parte. De repente, uma casa surgiu e ele entrou numa vaga de estacionamento antes de frear. Cody apoiou um pé no chão para equilibrar a motocicleta e Lauren desceu. Ele desligou o motor, baixou o suporte da moto e tirou o capacete. — Pensei em lhe dar um tempo para recuperar o fôlego antes de voltarmos. Que tal? Ela tirou o capacete também.


— Foi maravilhoso! — Não ouvi gritos e você não bateu no meu ombro, assim achei que estava gostando — comentou ele, sorrindo. O vento soprou entre as árvores e milhões de estrelas brilhavam no céu escuro. — Nunca senti nada assim. Não sei se foi a velocidade ou o vento, mas foi tão bom! — Eu sei. Sempre que ando de moto, limpo os pensamentos e consigo lidar melhor com os problemas depois. Fora isso, gosto de andar "sem destino". Estavam numa vaga de estacionamento com piso de cascalho, ao lado de uma casa de pedra antiga. Havia outros carros no local e ela viu a placa na porta. "A Lanterna — Bar e Restaurante". — Já ouvi falar deste lugar — comentou ela. — Um casal de Denver comprou a propriedade e reformou-a no último verão. — Pensei que gostaria de se aquecer. Eles fazem um ótimo café expresso e chocolate quente. Há saletas com lareiras e livros, onde se pode conversar. — Parece ótimo. Mas a minha roupa... — É informal. — Ele pendurou os capacetes no guidão e seguiram para a entrada. O interior do estabelecimento era acolhedor e convidativo. Uma anfitriã com saia longa de veludo preto e blusa branca de babados desejou-lhes um feliz Dia dos Namorados. — Tem uma mesa para dois? — indagou Cody. — Lamento, senhor. Estamos lotados. Mas podemos servir o que quiserem nas saletas... sanduíches, bebidas. — Chocolate quente está ótimo para mim — decidiu Lauren. — Dois chocolates quentes na saleta, então — pediu Cody. A anfitriã conduziu-os por um pequeno corredor até uma saleta decorada com papel de parede de aspecto antigo, estampado com rosas grandes. A lareira estava acesa e um aparador exibia uma coleção de garrafas antigas em cores e formatos diferentes. Um arranjo em forma de coração pendia na parede. Havia duas namoradeiras de veludo verde e cadeiras confortáveis junto ás mesinhas com tampo de mármore abastecidas de livros com capas de couro. — É encantador! — Achei que gostaria. Lauren fitou os olhos azuis e sentiu um arrepio de expectativa. Era Dia dos Namorados e ela estava ali, com Cody. Ele parecia contente em sua companhia, Lauren abriu o zíper da parca e ele a ajudou a despir a peça, roçando a mão em seu braço. Ela se voltou e viu nos olhos dele a mesma cautela que sentia. Cody a convidara para o passeio naquela noite apenas como agradecimento? Ou queria mais? Cody pendurou os casacos num mancebo de madeira antigo e se sentaram na namoradeira diante da lareira. — Há três saletas como esta — comentou ele. — Assim, nunca fica muito


cheio, mesmo quando clientes esperam uma mesa no salão. Quando o tempo está bom, dá para passear nos jardins lá fora. O fogo crepitava na lareira, as chamas laranja e douradas afastavam o frio, criando uma atmosfera de intimidade. Mas, sentada tão perto de Cody, Lauren não precisava do fogo para sentir-se aquecida. Uma garçonete trouxe uma bandeja com uma travessa de biscoitos e duas canecas de chocolate quente com creme batido. — Feliz Dia dos Namorados! — desejou ao servi-los. — Obrigado. — Obrigada. Entreolharam-se e sorriram. Quando a garçonete se foi, Cody observou Lauren por um instante e então levantou-se. — Não se mexa. Volto já. Enquanto Cody estava fora, Lauren aproveitou para estudar melhor o ambiente. Um cupido dourado ornava uma mesinha junto à janela e um arranjo de coraçõezinhos vermelhos decorava a cortina. O Dia dos Namorados nunca lhe significara muito. Costumava enviar uma mensagem para os pais e outra para Kim e Rob, apenas para que soubessem o quanto os amava. Mas o dia não tinha significado romântico para ela. Até então. Cody voltou com uma rosa vermelha de cabo longo. Sentou-se novamente ao lado dela na namoradeira e entregou-lhe a flor. — Para você. — Oh, Cody... É linda! — Lauren encostou o rosto nas pétalas. O perfume era maravilhoso. Rosa era sua flor favorita. De repente, quis saber mais sobre o homem que Cody se tornara. — O que mais você faz para se divertir... além de andar de moto? — A maior parte do tempo livre passo com Sara. Também jogo xadrez com Eli. E você? — Passo muito tempo com Rob, Kim, Lindsey e Matt. No verão, acampamos juntos. E tenho amigas. Uma delas, Eve Colebum, teve bebê em janeiro. Adoro ficar com a filhinha dela. Mas, além disso... trabalho ou pego um bom livro para ler. Roçou a rosa no rosto. Era tão macia. Quando ergueu o olhar, percebeu que Cody a observava atentamente. E nos olhos azuis... Seria desejo? — Acho melhor tomarmos o chocolate antes que o creme derreta — convidou ele. Pegaram as canecas. Lauren tomou um gole e o creme ficou no lábio superior. Ela devolveu a caneca à bandeja, mas foi Cody que estendeu a mão e limpou seu lábio com o polegar. Ele lambeu o creme de leite batido no dedo, num gesto incrivelmente sensual, e Lauren se arrepiou toda. Como seria beijar Cody novamente, ser abraçada, descobrir se ele se sentia atraído por ela, como sempre se sentira por ele? Fitaram o fogo enquanto sorviam o chocolate, cientes do silêncio, da rosa


no colo dela, do arranjo em forma de coração sobre a lareira. Devolveram a caneca à bandeja ao mesmo tempo, e Lauren voltou-se para Cody. — Obrigada pelo passeio esta noite. Por me trazer aqui. — Ergueu a rosa. — E por isto. Os olhos dele ficaram ainda mais azuis. — Não é preciso agradecer — murmurou ele, fitando-a com uma intensidade que... que a atraía. Cody enterrou a mão nos cabelos dela e inclinou o rosto. Quando seus lábios se colaram, Lauren experimentou a mesma sensação de velocidade e vento. Velhas lembranças provocaram novas sensações enquanto ele aprofundava o beijo. Não havia nada no universo como o beijo de Cody. Ele a provocava com a língua, e ela o enlaçou pelo pescoço, apertando os seios contra o tórax amplo. O corpo musculoso junto ao seu era tão erótico quanto a fusão das bocas. Cody acariciava-lhe as costas, enquanto ela se agarrava a sua nuca. Os cabelos dele eram grossos e macios. Lauren sorveu o cheiro másculo, perdida no momento e no prazer. Ele gemeu, e ela entendeu que estava excitado. Cody interrompeu o beijo abruptamente e afastou-se, tão ofegante quanto ela. — Cody? — indagou ela, sem saber se imaginara o desejo ou se realmente estivera presente. — É melhor acabarmos o chocolate e voltarmos — decidiu ele, sério. Lauren entendia a necessidade dele de voltar para casa, para a filha, mas mesmo assim desejou saber o que mais o perturbava. O beijo significara algo? Ele fingiria que nada acontecera? Estaria pensando em Gretchen e na paixão que haviam partilhado? Ela servia apenas para aplacar a solidão, como na outra vez? Mas Lauren não manifestou a inquietação. Não se humilharia novamente, e não suportaria se ele dissesse que aquele beijo não significara nada. Erguendo o queixo, concordou: — Sim, vamos voltar. Minutos depois, deixavam a saleta sem haverem tocado nos biscoitos, presos de um constrangimento que não existia antes. Lauren não lamentava o beijo, porém não nutriria sonhos no que se referia a Cody Granger. Ele a ajudou a vestir a parca e Lauren o fitou por sobre o ombro. A ternura na expressão dele desaparecera. Os olhos azuis não denunciavam nada do que pensava ou sentia. Ao fechar o zíper da veste pesada, entendeu que a volta não seria tão agradável. Lauren sabia que entregar seu coração a Cody Granger novamente seria mais perigoso do que andar de motocicleta a cento e cinqüenta quilômetros por hora sem freios. Dias depois, Lauren estacionou diante da casa de Cody e se deteve algum tempo atrás do volante. Tentara esquecer o beijo, sem sucesso. Ele a acompanhara até a porta de seu apartamento, no domingo, porém não o convidara a entrar. Após


a despedida, ela ainda levou bastante tempo para se livrar dos efeitos da proximidade dele, da sensação dos lábios sobre os seus. E agora... Precisavam conversar. O pretexto de deixar os esboços do laguinho e do jardim para ele ver lhe parecera bom, mas agora não tinha mais certeza. Saltou do furgão, foi à porta e tocou a campainha. Sara correu para junto da porta de tela. — Papai está no telefone! Lauren decidia se entrava ou não quando Cody, de terno e gravata, percorreu o vestíbulo e destrancou a porta. — Eu devia ter telefonado — desculpou-se ela. — Mas passei só para deixar os esboços do projeto do laguinho. Ele passou a mão nos cabelos. — Claro, o laguinho... — Está ocupado? — Estava procurando uma babá. Kim foi ao cabeleireiro e Debbie foi a um show com o namorado. Preciso sair em cinco minutos, tenho uma reunião em Denver, com representantes de seguradoras de saúde. — A reunião é importante? — Eli acha que sim. Ele tinha um compromisso hoje e me pediu para substituí-lo. Sara puxou a mão do pai. — Lauren pode ficar, não pode! Eu gosto mais dela. Debbie só fica assistindo à televisão. Cody agachou-se. — Eu não vou à reunião. Lauren precisa trabalhar. Ela queria conversar com Cody, mas sabia que não era hora para assuntos pessoais. Se ficasse com Sara, poderiam conversar quando ele voltasse. — Na verdade, não tenho nada urgente. Posso ficar, sem problemas. Cody se levantou e recusou. — Não quero abusar. — Eu já disse antes, cuidar de Sara não é sacrifício para mim. Cody olhou as horas no relógio e concordou. — Está bem. Mas, quando eu chegar em casa, vamos ter uma conversa séria sobre remuneração. O seu tempo também é precioso. De fato, o tempo de Lauren era precioso, mas ela não queria que Cody a remunerasse, porque gostava de ficar com ele e a filha... talvez até demais. Eram quase duas da madrugada quando Cody estacionou na garagem. Ele não esperava chegar em casa tão tarde. Voltava da reunião em Denver quando recebera um chamado. Dois pacientes seus estavam na emergência, um com dor no abdome e outro com dor no peito. Telefonara para Lauren e ela se prontificara a tomar conta de Sara até ele chegar, nem que tivesse que dormir no sofá. E ele chegava àquela hora. A dor no abdome era apendicite e a dor no peito,


um ataque cardíaco brando. As emergências o ocuparam por horas. No trajeto para casa, lembrou-se do passeio de motocicleta com Lauren, dos braços dela ao seu redor, do beijo que praticamente o nocauteara. Ficara tão perturbado que precisara de tempo para analisar, varando noites maldormidas... com muita insatisfação sexual. Era frustrante aquele desejo que sentia por Lauren, que o atormentara na última semana. Saltou da caminhonete e entrou pela cozinha. A luz sobre a pia estava acesa, mas não ouvia a televisão ligada. Ao chegar à sala, estacou. Lauren dormia no sofá, os cabelos espalhados sobre uma almofada grande. Parecia confortável. Chamou-a gentilmente, mas ela não despertou. Se a acordasse naquele instante, perturbaria seu sono profundo. Cody decidiu deixá-la dormindo no sofá e voltou para a cozinha. Escreveu um bilhete informando que estava em casa e deixou-o na mesinha da sala, para Lauren ver se acordasse antes do amanhecer. Tudo arranjado... porém, não conseguia se afastar. Não conseguia deixar de olhar para o rosto de Lauren, o nariz levemente arrebitado, o queixo delicado, a curva das maçãs do rosto. E a boca. Lembrou-se de como ela respondera passional e docemente... Pegou uma manta da cadeira de balanço, cobriu-a e sentiu vontade de beijá-la... de fazer muito mais. Mas era tarde, estava cansado e não pretendia satisfazer a própria luxúria à custa de Lauren. Após observá-la por um bom tempo, apagou o abajur e subiu a escada. Se acalentara a esperança de dormir logo, fora puro engano. Rolou na cama até o alvorecer, entre cobertores embolados, ciente demais da presença de Lauren naquela casa. Adormeceu quase na hora de acordar. Despertou ao soar da campainha. Verificou as horas. Sete e meia da manhã. Esquecera-se de programar o despertador. Quem podia ser o visitante, tão cedo? Vestindo só short, desceu e apressou-se à porta. — Céus! Você nem está vestido ainda! — exclamou Dolores DeWitt. — Fui dormir tarde. — O que a sogra fazia àquela hora da manhã em sua casa? — O que houve? Ela empurrou a porta e entrou. — Vim visitar minha neta, já que você não parece disposto a levá-la para nos ver. Cody conversara com Eli e descobrira que poderia ir a Colorado Springs no final de semana, mas não tivera tempo de avisar Dolores. A sogra estava elegante, como sempre. Com quase sessenta anos, usava os cabelos platinados em corte curto e ora trajava casaco de lã azul-claro com calça combinando, conjunto de grife, claro. A herança do pai e o acordo de divórcio generoso sustentavam seus gostos caros. Mas a visita surpresa não era comum e ele imaginou o que a sogra tramava. — Veio assim tão cedo porque queria ficar com Sara?


— Na verdade, quero levá-la numa pequena excursão. Há um teatro infantil em... — Dolores emudeceu ao ver Lauren levantando-se do sofá, sonolenta, descabelada e... deliciosa. — Quem é ela? — guinchou a sogra. — E o que ela faz na sua casa a esta hora da manhã? Cody irritou-se. — Não é da sua conta, Dolores. — É totalmente da minha conta. O bem-estar da minha neta é da minha conta. Você fica o dia inteiro longe dela, não lhe dá as vantagens que ela poderia ter, confinando-a naquele quartinho horrível. — Dolores gesticulou abarcando o andar térreo. — Nem tem louça nos armários, céus. Sara precisa de alguém que possa lhe dar tudo o que ela merece, bem como atenção em tempo integral. Ando pensando em pedir a guarda e, neste momento, acho que tenho mais motivos para tanto. Sua vida de solteirão não comporta uma criança. Cody raramente experimentava o medo. Não havia lugar para esse sentimento nas decisões que tomava em relação aos pacientes ou na própria vida. Mas de repente sentia-se apreensivo. Dolores tinha dinheiro, muito dinheiro. Tentaria obter a guarda de Sara, para se vingar. Cody sabia que era um bom pai, mas também sabia que não podia suprir a ausência da mãe na existência de Sara. De fato, ele trabalhava o dia inteiro e deixava a filha meio abandonada. A sogra tinha argumentos para requerer a guarda da criança. Mas Cody não podia permitir que Dolores lhe tomasse a filha. Tentaria acalmá-la por ora, mas consultaria um advogado para se precaver contra qualquer tentativa de lhe tomarem a filha. Cody olhou para Lauren, que penteava os cabelos com os dedos, e informou. — Lauren não é qualquer mulher. Ela é minha noiva.


CAPÍTULO IV — Sua noiva?! — exclamou Dolores. — Desde quando? Cody sabia que não tinha o direito de esperar que Lauren acobertasse a farsa, mas rezou para que ela o fizesse, pela filha dele. — A cunhada de Lauren toma conta de Sara desde que voltei a Birch Creek. E Lauren e eu fomos à escola juntos. Quando nos encontramos na casa de Kim, renovamos nossa amizade e descobrimos que havia muito mais. Ele encarou Lauren. Era tudo verdade, incluindo a redescoberta da química entre ambos. Carrancuda, a sogra olhava de um para a outra. — E quando é o casamento? Antes que Cody respondesse, Lauren aproximou-se. Cabia a ela continuar a farsa ou desmascará-lo. Achegou-se a ele, os cotovelos se roçando, como casais comprometidos costumavam fazer. — Não marcamos data ainda, Sra. DeWitt. — Lauren estendeu a mão. — Lauren MacMillan. Em vez de cumprimentá-la, Dolores agitou o dedo para o genro. — Se acha que vai apagar a lembrança de Gretchen da memória de Sara, está enganado. E se acha que pode me manter afastada de minha neta, está enganado também. Pretendo discutir essa situação com meu advogado e tomar uma atitude. — Não há necessidade de envolver advogados. Todos queremos o que é melhor para Sara. — Cody sabia que manter a calma era a melhor forma de lidar com Dolores. Mas difícil. — Eu quero o que é melhor para Sara. Você não sabe o que é melhor para ela. — A mulher se voltou para a porta ainda aberta. — Tenho direitos, Cody, e não vou permitir que me mantenha afastada da vida de minha neta. Entrarei em contato. — Com isso, saiu. Cody observou a sogra manobrar o carro e tomar a rua, Cody passou a mão nos cabelos e olhou para Lauren. — Eu nunca devia tê-la colocado nessa situação, mas precisava deter Dolores. Ela vai entrar com uma ação pedindo a guarda de Sara. Lauren assentiu. — Por isso dei apoio. Mas o que vai fazer quando ela descobrir que não estamos noivos? — Não sei. Mas pelo menos isso vai me dar algum tempo. Vou conversar com Barry Sentz e me aconselhar sobre o que fazer legalmente. — Cody renovara a amizade do tempo de escola logo ao chegar a Birch Creek. Jogavam basquete juntos sempre que podiam, mas as profissões os mantinham bastante ocupados. Lauren ainda estava muito próxima de Cody, com os cabelos desgrenhados e preocupação nos olhos castanhos. — Qualquer um vê que Sara é sua.


Cody pensou na filha, dormindo no andar de cima, e meneou a cabeça. — Não é mais tão simples. Às vezes, quem tem mais dinheiro ou influência acaba ganhando essas ações. Eu empenharia tudo o que possuo para lutar por Sara, mas não sei se seria o bastante. Dolores pode dar total atenção a Sara e eu, não. — Você dá atenção total quando está com ela. — Ah, mas esse é o problema. Eu trabalho e Dolores, não. Lauren tocou levemente no braço dele. — Vai ficar tudo bem, Cody. Eu sei que vai. Deveria ser um contato físico reconfortante, mas serviu para despertar os sentimentos que pairavam entre os dois. — Não queria arrastá-la para isso. Vou conversar com Barry para resolver a questão de vez. Obrigado mais uma vez por ter me dado apoio. — Eu fiz por Sara — declarou Lauren, suave. Entreolharam-se por um segundo. Então, Lauren afastou-se. — É melhor eu ir. Preciso passar no meu apartamento e tomar um banho antes de voltar para o centro de jardinagem. Vestiu a parca e pegou sua bolsa e pasta na mesinha. — Conte-me depois o que Barry Sentz disse. — Contarei. Cody despediu-se de Lauren, observou-a indo para o carro e pensou novamente na ameaça da sogra. Faria qualquer coisa para manter a guarda da filha. Qualquer coisa. Durante o dia, Lauren pensou no que acontecera na casa de Cody e só ouvia o eco da voz dele informando à sogra de que estava noivo. Fora quase como espiar um sonho pela fresta da cortina. Sabia que, se avançasse mais, o sonho desapareceria. Cody tentava apenas proteger a filha. Tinha de entender isso. No período da tarde, olhou para o relógio constantemente, imaginando se Cody já conversara com Barry Sentz. Ao lembrar-se de Barry, Lauren recordou o dia em que flagrara Cody beijando Gretchen. Barry fora uma das testemunhas e aquele que avisara Cody que a nova namorada presenciava o beijo. Não vira mais Barry depois do episódio, pois cada qual tinha seu círculo de amigos. Por que não conseguia esquecer o que acontecera havia tantos anos? Porque você amava Cody Granger e ele não a amava. Lauren se repreendeu por pensar daquela forma. Não fora apaixonada por Cody. Não o amara. Nem sabia o que era o amor. Talvez ainda não soubesse. O ar-condicionado ligou automaticamente para aquecer o escritório, enquanto ela trabalhava em mais um projeto de paisagismo. Alguém bateu na porta. — Entre. Imaginava que fosse Rob, ou o pai, ou a mãe, por isso sentiu o coração disparar ao ver Cody. Ele usava terno escuro e gravata cinza, mas o colarinho da camisa estava aberto. — Fui conversar com Barry — anunciou ele, sem rodeios.


— O que ele disse? Cody ocupou uma cadeira ao lado da mesa de trabalho. Mesmo sentado, era alto e forte e o escritório pareceu encolher. — Ele disse que os avós andam ganhando a guarda dos netos e que, neste caso, ser médico pode me desfavorecer, por causa das horas excessivas de trabalho e dos chamados inesperados. É um jogo de dados, dependendo do juiz. Ele disse também que uma ação pedindo a guarda em si, mesmo que eu vença, pode causar uma revolução na minha vida e na de Sara. — Oh, Cody. — Lauren compadeceu-se. Sabia o quanto ele amava a filha. — O que você vai fazer? Ele a fitou com expressão impassível. — De acordo com Barry, o melhor que tenho a fazer é me casar e criar um lar estável, para que Dolores não tenha motivo para entrar com a ação. Dei uma volta antes de vir para cá, pensando no assunto. Barry tem razão. — Após uma pausa, concluiu: — Farei qualquer coisa para manter Sara comigo. Lauren sentiu o coração disparar com a intensidade do olhar dele e o significado da decisão. — Vai se casar? — Depende. Eu só me casaria com uma mulher que fosse boa para Sara... E só posso pensar numa pessoa que preenche esse requisito. — Ele fez pausa. — Você. Quer se casar comigo, Lauren? Foi como se milhares de idéias afluíssem ao cérebro de Lauren de uma vez. Sempre sonhara ser pedida em casamento, se um dia lhe acontecesse, cercada de música, flores e amor, já que acontecia só uma vez na vida. A seguir, rememorou seu convívio com a pequena Sara na semana anterior: lera histórias, brincara com ela, colocara-a para dormir. Finalmente, lembrou-se de como era beijar Cody, de sua inexperiência com homens, das intimidades em uma cama conjugal. Lauren enrubesceu. — Não pode estar falando a sério! Cody não se abalou. — Nunca falei tão a sério. Posso proporcionar um bom lar para nós, Lauren. Prometo fidelidade, lealdade e comprometimento. Mas e o amor? Lauren tinha sentimentos por Cody, mas estavam misturados... o passado e o presente. E que tipo de sentimentos ele tinha por ela? Poderiam transformar a amizade em algo mais? — Casamento não pode ser a sua única opção. — É a minha única opção, se quiser manter Sara comigo e prevenir o trauma de uma disputa pela guarda dela. — Cody estendeu o braço sobre a mesa e lhe tomou a mão. — Sei que podemos fazer dar certo. Mais segura com o toque da mão, Lauren teve a impressão de que a proposta não era assim tão absurda, afinal. — E se apenas fingíssemos estar comprometidos? — sugeriu, relutante. — Dolores é inteligente e não podemos fingir para sempre. Vou ver se consigo me entender com ela, mas, se achar que ela ainda assim vai procurar um


advogado e levar a questão aos tribunais, terei de tomar uma providência. Amo Sara mais do que tudo na vida e não vou permitir que a tirem de mim. Como Gretchen lhe fora tirada? Cody já perdera a esposa e Lauren entendia que ele não suportaria perder a filha. Mas casamento? Um casamento de conveniência? Ele soltou sua mão e se levantou. — Pense nisso, Lauren. Pense bastante. Entrarei em contato. Antes que ela dissesse algo, ele se foi. Devia considerar a proposta incomum? Já estava considerando. No dia seguinte, Lauren tomava o café da manhã quando o telefone tocou. Com a caneca de café na mão, atendeu. — Lauren, é Cody. Ela não dormira muito a noite, pensando na proposta de casamento, em Sara... — Eu ainda não me decidi — avisou, a voz branda. — Dolores me telefonou. Cody controlava a voz, mas era patente a tensão. — O que ela queria? — Se você é realmente minha noiva, ela quer conhecê-la melhor e sugeriu que fôssemos jantar no domingo. — É um teste, não é? — indagou Lauren. — Sim. — O que você respondeu? — Eu disse que falaria com você. Pode ir? — Se formos... se fingirmos que estamos noivos... acha que fará diferença? — Acho que, se ela vir que somos um casal e que planejamos uma vida juntos, pode recuar. Pelo menos, terei chance de conversar com ela, assegurar que a deixarei passar algum tempo com a neta. Assim, talvez ela esqueça essa história de ação na justiça. Enquanto isso, por que não passamos algum tempo juntos durante a semana? Na verdade, há um show de marionetes no shopping esta noite. Quer vir comigo e Sara? Resumidamente, ele sugeria que praticassem para o domingo. Aceitando ou não a proposta, Lauren podia ajudá-lo naquele momento... por Sara. — Parece divertido. Quer que eu vá até a sua casa? — Não, nós iremos pegá-la. Por volta das sete horas? — Está ótimo. Lauren desligou, já entusiasmada com a perspectiva de saírem os três juntos. A proposta de casamento de Cody Granger não lhe parecia tão artificial quanto na noite anterior. O domingo amanheceu ensolarado, apesar do ar frio de inverno. Durante a viagem de carro até Colorado Springs, Lauren sentiu muita tensão. Nem ela nem Cody mencionaram a proposta de casamento na noite em que foram ver o show de


marionetes, elegendo Sara o centro das atenções. A menina assistiu ao espetáculo com muita alegria, e Lauren se emocionou ao recordar que Cody talvez a perdesse. No dia seguinte, jantaram os três juntos na casa de pai e filha. Sara implorou para que Lauren a colocasse na cama. Incapaz de resistir, Lauren concordou e leu uma história para a menina. Cody ficou observando todo o tempo, pensativo. Não haviam mais se beijado, desde o Dia dos Namorados, e o fato deixava o clima entre ambos mais carregado. Lauren não deixava de imaginar como seria ser esposa de Cody, partilhar a cama com ele. Com seu olhar intenso, Cody parecia pensar no mesmo. Embora Cody estivesse de plantão com pager na noite anterior, haviam levado Sara à matinê do cinema, para assistir a um filme infantil. Era óbvio, que se se casassem, a criança seria o motivo. Cody entrou com o automóvel num condomínio fechado e Lauren avaliou as casas. Algumas eram enormes, outras nem tanto, mas todas tinham um ar elegante e Lauren percebeu que se tratava de uma área residencial de alto padrão. A casa de Dolores DeWitt era ampla, com fachada de tijolos aparentes, e a garagem ligava-se à entrada num arranjo arquitetônico fluido. Cody ocupou uma das vagas e desligou o motor. — Temos de ser convincentes. Lauren assentiu, sabendo que o futuro de Sara dependia disso. Dolores abriu a porta com uma expressão séria, até ver a neta. Agachou-se e informou à menina: — Acho que você cresceu uns dois dedos. — Logo vou ficar tão grande quanto papai — prometeu a menina, orgulhosa. Dolores endireitou-se e tomou a mão da neta. — O jantar está quase pronto. Vamos para a sala, tenho um presente para você... — Dolores, já disse que não é uma boa idéia presentear sua neta toda vez que a vê — reclamou Cody. — É só um presentinho — minimizou a sogra, agora avaliando Lauren da cabeça aos pés. Reparou no casaco cor de mel e na saia longa de lã verde. — Vamos. A cozinheira preparou uns canapés. Enquanto percorriam o vestíbulo de piso cerâmico, Cody pousou o braço nos ombros de Lauren. Ela se enrijeceu, mas recordou que tinham de fingir, passar por casal apaixonado e comprometido. Sentiu o calor e a força do corpo de Cody, seus quadris se roçando enquanto caminhavam. Teve de admirá-lo no suéter azul-marinho listrado e calça jeans, lindo e perturbador, como sempre. Na sala de estar de Dolores, predominavam tons de rosa-malva, e sentaram-se no sofá, tão juntinhos que Lauren imaginou se Cody podia ouvir seus batimentos cardíacos. Enquanto Sara abria o presente, Dolores ergueu o bule de café de prata na bandeja sobre a mesinha de aço cromado e vidro, para servi-los. Ofereceu cogumelos recheados e miniquiches. — Sirvam-se.


Lauren não podia saborear nada, não com a mão de Cody em seu joelho. — Qual você quer? — indagou ele. — Hum... Nada por enquanto, obrigada. Sara acabou de desembrulhar a caixa, furou o plástico protetor e abraçou a boneca. Correu para mostrar o brinquedo. — Vejam o que eu ganhei! — Aperte a barriguinha, ela fala — avisou a avó. Sara experimentou apertar a boneca e riu ao ouvi-la "falar". Fascinada, levou a boneca para um canto da sala e sentou-se no chão para brincar. — Como se diz, Sara? — indagou Cody. — Obrigada, vovó! — De nada, querida. — Vendo a neta distraída com a boneca, Dolores concentrou-se em Lauren. — Então... conte-me sobre você. O que a mantém ocupada em Birch Creek? — Sou paisagista. Trabalho no centro de jardinagem de meus pais. — Não é conveniente? Já tinha um emprego esperando para quando terminasse a escola e não teve de sair do zero. Era um insulto velado, que Cody não permitiria. — O centro de jardinagem dos MacMillan é um negócio familiar, Dolores. O irmão de Lauren também trabalha lá. Os MacMillan são muito unidos. Algo raro hoje em dia. — Talvez. — Dolores removeu um fiapo imaginário da calça enquanto se recompunha. — Há quanto tempo você e Cody estão saindo? Lauren não costumava mentir assim, contou a verdade, com cuidado. — Não começamos a sair oficialmente. Tomei conta de Sara quando minha cunhada ficou doente e a relação partiu daí. A governanta de Dolores veio á sala para anunciar que o jantar estava servido. Lauren agradeceu a interrupção da inquisição, mas não estava preparada para a atitude de Cody. Ele tomou sua mão, levantou-se e esperou que ela se levantasse também. Estamos encenando para Dolores DeWitt, lembrou-se. Mesmo assim, o calor da mão dele a deixava arrepiada. Durante o jantar, Dolores descreveu a Cody a nova ala que seria acrescida ao hospital em Colorado Springs. — Será o melhor pronto-socorro da região, com tecnologia de ponta. Gretchen realizou um trabalho fantástico, levantando fundos para a obra. Dolores voltou-se para Lauren e explicou: — Gretchen e Cody eram um casal perfeito. Minha filha trabalhava lado a lado com Cody, para melhorar a qualidade da assistência médica nesta comunidade. Todos a amavam e ela podia convencer qualquer um a apoiar suas causas. Não é verdade, Cody? Houve uma pausa. — Sim, sem dúvida. — Esta comunidade respeitava minha filha e tudo o que ela fez para seu bem.


Lauren não sabia o que dizer. Aparentemente, Gretchen não era apenas bonita e charmosa, mas participante na comunidade também. Dolores quase a tornava uma santa. Com as velhas inseguranças voltando à tona, imaginou se podia competir com alguém assim. Após o jantar, Dolores foi à cozinha falar com a governanta, levando a neta. Cody conduziu Lauren a uma saleta com lareira, com janela ampla que dava no pátio. Aproximaram-se do vidro e apreciaram o jardim. — Como está indo? — indagou ele, preocupado. Ela o encarou. — Bem. Ouviram um ruído no corredor que levava à saleta. Cody inclinou-se para Lauren e sussurrou: — Acho que estamos sendo observados. É melhor tomarmos uma providência. Antes que ela perguntasse qual, ele a abraçou e beijou. Lauren disse a si mesma que não se tratava de um beijo de verdade, mas de mentirinha, e bem teatral, porque alguém os observava. Apesar disso, ficou sem fôlego ao sentir a firmeza dos lábios e, a seguir, a invasão da língua. Quando se afastou, Cody estava tão ofegante quanto ela. Mas os olhos azuis não revelavam nenhuma emoção ao sussurrar: — Isso deve bastar. Lauren percebeu que a farsa era muito mais perigosa para ela do que para Cody. Afastou-se. — Vou ver se Sara está bem. Não era uma boa desculpa, mas a única em que pôde pensar. Evitando o olhar de Cody, foi para a cozinha. Dolores percebeu o rosto enrubescido quando ela entrou. — Não me disse há quanto tempo você e Cody estão saindo. Que mulher irritante! — Faz pouco tempo, mas às vezes parece que estamos saindo desde sempre. Talvez por termos nos conhecido na escola. Dolores olhou para a mão direita de Lauren. — Dizem que estão noivos, mas não estou vendo nenhum anel. Lauren ergueu o queixo. — Cody e eu temos agendas apertadas. Ainda não tivemos tempo de escolher um. —A explicação tinha lógica, até para ela mesma, mas não queria ser alvo de Dolores por mais tempo. — Viu Sara? Não quero que ela faça bagunça. — Está na sala brincando com a boneca. É uma vergonha Cody não comprar mais brinquedos para ela. — As crianças não precisam de muitos brinquedos para ser felizes, Sra. DeWitt. Cody dá atenção e amor a Sara, é o que importa. Dolores ficou boquiaberta, como se não esperasse uma resposta tão honesta, e Lauren aproveitou para escapulir de suas garras. Não encontrou a criança na sala e chamou-a.


— Estou aqui! — veio a voz infantil, do corredor. Procurando, Lauren encontrou uma biblioteca elegante, com móveis de mogno e estantes cheias de livros. Sara divertia-se girando numa poltrona de escritório. — Eu gosto desta cadeira! — exclamou a menina, esbaforida. — Parece um carrossel. Lauren riu. — Acho que sim. Mas não devia estar aqui. — A boneca nova jazia na mesa, sobre uma pilha de papéis. Quando Lauren pegou o brinquedo, algumas folhas caíram no chão. Sara aproximou-se e pegou a boneca. — Vou contar a papai que dei uma volta na cadeira! — Saiu correndo da biblioteca com sua energia costumeira. Lauren agachou-se para recolher os papéis caídos. Ao bater as folhas de pé sobre o tampo da escrivaninha para endireitá-las, não pôde evitar ler o texto e viu que se tratava de uma carta do advogado de Dolores. Não devia ler, sabia, mas seu olhar já corria sobre as palavras. Uma frase a paralisou de raiva. Se entrar com a ação pedindo a guarda, cuidarei para que o juiz Porter pegue o caso, já que são amigos. Ele nos dará a vantagem de que precisamos. Vantagem? Conhecer o juiz não era vantagem, mas falta de ética. Era a isso que Cody se referira ao comentar sobre a influência de Dolores? A sogra dele conhecia mais de um juiz? O fato influiria na decisão do magistrado? Não admirava Cody temer que a disputa fosse parar nos tribunais. Não admirava ele estar tão certo de que precisava tomar uma providência antes que Dolores entrasse com uma ação judicial. Tomou o corredor. Ao chegar à sala, já tomara a decisão de se casar com Cody, para garantir que ele mantivesse a guarda da filha. A criança brincava com cubos coloridos na mesinha da sala. Lauren aproximou-se de Cody, preparada para enfrentar Dolores. Após alguns minutos de conversa geral, Dolores endireitou-se na poltrona e disparou: — Hora de tratarmos do assunto principal. Cody, falei com meu advogado. Ele procurou se controlar. — E? — Se vocês dois vão mesmo se casar, não entrarei com ação pela guarda de Sara. Meu advogado disse que seria muito difícil vencer. Por outro lado, se isto for alguma encenação, terei motivos suficientes para ir ao tribunal. Assim, preciso de uma informação importante... Quando é o casamento?


CAPÍTULO V A hora da verdade chegara. Cody pedira Lauren em casamento para garantir a guarda da filha, mas não a forçaria a fazer nada contra a vontade. Como sair daquela enrascada... — Vamos marcar a data do casamento esta noite — respondeu Lauren. Estupefato, Cody a fitou. Estava blefando... ou falando a sério? — É um assunto particular — considerou, embaraçado. — Será informada da data assim que decidirmos. — Assim espero. — O tom de Dolores traía as palavras. — Pretende se casar ao ar livre novamente? Cody nunca achara a sogra ferina, mas a pergunta era inadequada. Seu casamento com Gretchen ocorrera ao ar livre, no pátio de um hotel. Dolores tentava irritá-lo ao relembrar o evento, mas ele não lhe daria essa satisfação. Preocupava-se demais com Lauren e seus sentimentos. — Lauren e eu veremos o que é melhor para nós. Dolores mudou a expressão de impertinente para triste. Cody estava para se casar novamente, seguir com a vida, mas ela permaneceria com o passado e a dor. Além dos problemas com seu próprio casamento, terminado em divórcio, a morte da única filha deixara um enorme vazio em sua vida. Compadecido, ele consolou a sogra: — Sei que tem sido difícil para você, Dolores. Ela se surpreendeu com a solidariedade e pareceu se entristecer ainda mais. — Mais do que imagina. Eu esperava que você e Gretchen tivessem um casamento feliz e duradouro. Ele e Gretchen não tinham sido felizes juntos, apesar dos esforços de Cody. Ela jamais entendera a necessidade dele de mais intimidade, seu desejo de ter mais filhos. Ela parecia arrependida até mesmo de ter dado Sara à luz, sentindo-se tolhida, limitada. Sempre que ele chegava em casa e descobria que Gretchen deixara a filha com Dolores ou com uma babá... A menina largou o brinquedo e correu para junto de Lauren e Cody. Em vez de sentar-se junto ao pai, apoiou a cabeça no joelho de Lauren. — Cansada, baixinha? — indagou ela, afagando-lhe os cabelos. Emocionado com a cena. Cody soube que Lauren seria uma mãe maravilhosa para sua filha, se concordasse em se unir a ele, se estivesse falando a sério sobre marcar uma data para o casamento. — Vamos indo — decidiu, rouco. — Sara provavelmente vai dormir na viagem de volta. Dolores levantou-se. — Foi um prazer conhecê-la, Lauren. Se se casar com Cody, tenho certeza de que nos veremos mais vezes. — Ao genro, pediu: — Por favor, avise-me assim que marcarem a data. — Avisarei. — Cody tinha a sensação de que a sogra procuraria novamente o advogado, para planejar a próxima manobra, caso o casamento não ocorresse


logo. Quinze minutos depois. Sara dormia no banco de trás do automóvel, abraçada à boneca nova, no trajeto de volta a Birch Creek. Olhando-a pelo espelho retrovisor, Cody enterneceu-se novamente, recordando o momento em que a pequena se achegara a Lauren e se deixara acariciar por ela. Agora, Lauren permanecia calada ao seu lado. — Ainda pode voltar atrás — declarou, apreensivo. — Gostaria de retirar a proposta? Ele refletiu mais um pouco, para determinar se aquela seria uma boa decisão. — Não. Mas sei o que é o casamento, Lauren. É um passo sério. Quero que tenha certeza do passo que vai dar. Houve um breve silêncio. — Decidi aceitar depois que vi uma coisa no escritório de Dolores. — O quê? — Uma carta do advogado dela. Não estava xeretando, mas derrubei alguns papéis e, quando os recolhi, acabei lendo. — Lauren contou o assunto da carta. Cody praguejou. — Eu sabia que Dolores tinha influência! Era o que me preocupava desde o começo. — Se nos casarmos, não terá mais de se preocupar com isso. Ele a fitou. — Tem certeza de que é o que quer? Lauren respondeu com outra pergunta: — Acha que um casamento entre nós pode dar certo? Durante toda a tarde, Cody quis abraçar e beijar Lauren novamente. Durante toda a tarde, pensou em fazer amor com ela. Contente por não estarem na estrada principal ainda, estacionou no acostamento, desprendeu o cinto de segurança de ambos, e a segurou pelos ombros. Ao fitar os convidativos lábios cor de cereja, sentiu desejo e a paixão. Sem hesitar mais, colou os lábios nos dela, pronto para provocar, seduzir, explorar. Primeiro, concentrou-se num canto da boca doce e, então, no outro, até que ela gemesse febril e entreabrisse os lábios. Ele introduziu a língua e provocou. Ardente, ela o agarrou pela nuca e se entregou ao beijo. Ciente de onde estavam, e de Sara dormindo no banco de trás, Cody interrompeu o beijo. — Há fogo entre nós, Lauren. Sim, acho que um casamento pode dar certo. Temos um objetivo em comum, boa reputação na comunidade e uma filha para amar. Quer ser minha esposa? Lauren tinha os olhos embaçados de paixão, mas ainda havia incerteza em sua voz. — Sim, quero. Cody experimentou uma sensação de vida, de alegria, mas tentou se convencer de que era apenas alívio. — Acho que devíamos nos casar o mais rápido possível. Podemos ir a um


juiz de paz. — Está bem — concordou Lauren. Contente por terem combinado tudo, exceto a data, Cody recolocou o cinto de segurança e Lauren fez o mesmo. Ele deu partida no motor e retornou a via. Durante o restante do trajeto, Lauren pensou em como seria se casar diante de um juiz de paz, Quando menina, sonhara em se casar numa igreja, com damas de honra, vestida como uma princesa. Mas era adulta agora e precisava encarar a realidade. Não devia nutrir ilusões românticas em relação a um casamento de conveniência, mas tinha esperanças. Seus sentimentos por Cody pareciam crescer a cada dia, e tinha esperança de que ele acalentasse uma emoção especial, também. Já sabia, pela devoção dele à filha, que Cody era o tipo de homem que cumpria as promessas, entendia seu valor. Não tinha dúvida de que ele faria tudo para o casamento dar certo. E ela também se esforçaria. Não podia competir com a lembrança de Gretchen em estilo, presença ou beleza, mas levaria calor humano à casa de Cody, tornando-a um lar verdadeiro para pai e filha. Entretida imaginando como seria sua vida com Cody, nem percebeu que haviam chegado. — Sara ainda está dormindo — constatou ele. — Vamos ver se consigo levá-la para dentro sem acordá-la. A menina continuou dormindo nos braços do pai, através da garagem e da cozinha, até chegarem ao quarto. Lauren aguardou na sala. Minutos depois, Cody se instalava ao lado dela no sofá. — Quando mencionei o juiz de paz, só estava pensando na conveniência. Mas é seu casamento também, Lauren. Quer uma cerimônia civil apenas? Atenta à relação entre seus pais e ao convívio entre Rob e Kim, Lauren sabia que o elemento mais importante num casamento era a honestidade. Portanto, começaria com o pé direito. — Entenderei se você não quiser uma cerimônia elaborada, mas eu preferia me casar na igreja. Sei que meus pais fariam gosto, também. — Na igreja — repetiu Cody, fitando-a cauteloso. — Não sei se vamos conseguir horário com tão pouca antecedência, mas podemos tentar. — Posso falar com o pastor — prontificou-se Lauren. — Talvez ele consiga nos encaixar num horário à tarde. E vamos fazer uma lista de convidados pequena... somente os parentes e amigos mais chegados. — Sou sócio do Clube Briarwood, que tem salões para recepções. — Ouvi falar que o Briarwood é lindo. — O clube tinha campo de golfe e salões de ginástica. Lauren sabia que muitos profissionais liberais de Birch Creek eram sócios. — Tem certeza de que é isso o que quer também? — Não se importe comigo, Lauren. Detalhes de cerimonial são mais importantes para as mulheres do que para os homens. Lauren sentiu que Cody queria encerrar logo o assunto. Aquilo era jeito de começarem a vida de casados? Por outro lado, o motivo para se casarem também era diferente do da maioria dos outros casais. — Quando Sara acordar, vamos contar a seus pais, e a Rob e Kim. Então,


vamos ver se a igreja tem horário. Aposto que, se nos empenharmos, conseguiremos providenciar tudo até o fim da semana. Cody era tão prático, tão... frio e distante. Talvez, quando começassem a planejar tudo de verdade, ele mudasse de atitude. Talvez, quando se beijassem novamente... Se e quando se beijassem novamente. Lauren questionou se agia pensando em Sara ou seguindo o próprio coração. A família MacMillan recuperou-se rápido do choque ao saber do casamento de Lauren e Cody, e se ofereceu para ajudar nos preparativos. Menos o irmão, Rob. Cauteloso, questionou a decisão da irmã. Já a mãe perguntou, com tato, se o motivo da pressa era uma gravidez, aliviando-se ante a resposta negativa. O reverendo Corbett foi consultado e afirmou poder realizar a cerimônia dali a dez dias, às sete da noite. Lauren agora passava quase todo fim de tarde com Cody, tomando providências. E cada vez mais preocupada. O noivo mantinha-se pragmático ante a movimentação, mas não parecia entusiasmado, como se não se tratasse de seu casamento! Agia como se precisasse daquele meio para chegar ao fim: garantir a guarda de sua filha. À medida que se aproximava a grande data, ele parecia se distanciar, e Lauren imaginou se ele recordava seu casamento com Gretchen. Cody nunca falava da falecida esposa. Estaria pensando nos votos que faria? Nos votos que já fizera uma vez? Quanto a ela, nutria sentimentos cada vez mais fortes por ele. Desde o reencontro, seu amor só fazia crescer. Mais do que tudo, desejava uma união duradoura, eterna. Seria cedo demais para ele pensar nisso? Seria cedo demais para que esquecesse o casamento com Gretchen? Lauren tinha medo de perguntar. Não queria ouvir Cody confirmar que se casava apenas por causa de Sara. Quatro noites antes do casamento, foram escolher as alianças e voltaram para o apartamento de Lauren, para arrumarem parte da mudança de Lauren para a casa dele. Num intervalo para descanso, ela foi preparar chocolate quente na cozinha, perturbada com o fato de o noivo não a ter beijado, nem tocado, durante toda a semana. Talvez devesse indagar. Talvez devesse perguntar por que ele se mantinha tão distante. Antes que ela planejasse a abordagem, Cody chegou, pegou uma das canecas e sentou-se à mesa. — Podemos colocar os móveis da sua sala no porão, montar um ambiente para Sara brincar. — Boa idéia — concordou Lauren, ainda preocupada com os outros assuntos. — Não precisamos de outro conjunto de quarto — ponderava Cody. — Mas podemos guardar o seu, se quiser. — Kim disse que gostaria de ficar com ele, para quando Matt ficar mais velho. Eles têm espaço para guardar. E a minha prancheta de desenho e mesa de


trabalho? Pensei em colocar no quarto de hóspedes, transformá-lo em escritório. Eu sempre levo trabalho para fazer em casa... — Pode ser. Se parar de trabalhar, não vai passar muito tempo... Parar de trabalhar? De onde ele tirara a idéia? — Não vou parar de trabalhar — declarou, enfática. Ele a encarou. — Não pode cuidar de Sara e trabalhar ao mesmo tempo. — Por que não? Muitas mulheres fazem isso. Minha família conta comigo, Cody. Meus projetos são o diferencial do Centro de Jardinagem MacMillan. — E o que pretende fazer? Levar Sara com você? — Pensei que manteríamos o esquema com Kim. — Não! Se vai se casar comigo, assuma o papel de mãe. — Não tenho de estar com Sara vinte e quatro horas por dia para ser mãe dela, Cody — argumentou Lauren. — Quando ela for para o jardim-de-infância, no ano que vem, passará pouco tempo em casa... Ele remexeu o maxilar, tenso. — Essa é a questão, Lauren. Ela precisa se ligar a você e passar tempo com você agora. Nunca pensei que teria de convencê-la a se dedicar à família. — Está me pedindo para abandonar a carreira para a qual estudei. Nunca disse que esperava que eu deixasse de trabalhar! — E você nunca disse que não cogitava a idéia. Seguiu-se um silêncio tenso. Lauren percebia que Cody não estava disposto a ceder. E se divergissem em outros assuntos também? Ela teria de fazer a vontade dele sempre? Cody não percebia o quanto seu trabalho era importante? Lauren externou suas ansiedades: — Minha carreira é muito importante para mim, Cody. Não vou ao Centro de Jardinagem MacMillan todos os dias só para passar o tempo. Adoro o que faço. Cody mantinha o olhar severo, como ela nunca vira antes. — Se não está disposta a se dedicar ao papel de mãe, eu não devia ter pedido você em casamento. Sara é o motivo para nos casarmos. Lauren já sabia o motivo principal de se unirem, mas Cody finalmente usara todas as letras. Sentiu uma dor aguda no coração. — Ainda é possível cancelarmos tudo. Cody a avaliou atentamente e assentiu. — Sim, é. Levantou-se e foi para a porta. — Telefone quando decidir o que é mais importante para você, se Sara ou seu trabalho. A discussão se encerrara tão rapidamente, com lados tão definidos, que Lauren não sabia o que pensar. De qualquer forma, não correria atrás de Cody como uma adolescente apaixonada. Não agiria como uma mulher desesperada, disposta a desistir de tudo para se casar. Não podia fazer isso, porque, se desposasse Cody Granger, estaria lhe entregando seu coração. Céus, amava-o. No entanto, se ele não sentia o mesmo por ela, se não


entendia o que era importante para ela, não poderiam se unir. À noite, insone, Cody ficou andando de um lado a outro no quarto. Sua vontade era pegar a motocicleta e sair, mas não podia deixar a filha dormindo sozinha em casa. Jamais colocaria suas necessidades acima das da filha. Ao contrário da finada esposa. Gretchen distanciara-se da filha após o nascimento, talvez devido ao longo trabalho de parto. Ele até pedira licença no hospital, para ajudar a esposa com o bebê, e Dolores ajudara nas primeiras semanas, indo à casa deles todos os dias. Mas a sogra fizera mais do que ajudar. Gretchen passou a sair muito com as amigas, para almoços demorados. Em busca de uma explicação para aquele afastamento, ele diagnosticara depressão pós-parto. Só que Gretchen demorava a se recuperar. Quando a filha completou três meses, ele a encostou na parede, insistindo para que procurasse ajuda psicológica, se não conseguia assumir o papel de mãe. Em uma discussão terrível, Gretchen declarou que nunca desejara filhos, que a gravidez arruinara seu corpo e que não se anularia em favor da criança que dera à luz. Não queria viver em função da filha, não ficaria em casa o dia todo tomando conta dela. Cody refletiu sobre o que era melhor para Sara. Concluiu que a filha precisava do pai e da mãe e se propôs fazer tudo para salvar o casamento. Tinha esperança de que Gretchen, feliz, desse mais atenção a Sara. Deixou de reclamar quando ela deixava a criança com a mãe e saía para seus almoços com amigas e reuniões na associação de caridade, já em campanha para levantar fundos para a construção da nova ala do hospital. Para compensar a ausência da mãe, Cody dava toda a atenção e carinho à filha quando estava em casa, assegurando que ela se sentisse amada e não se magoasse com o descaso de Gretchen. Não obstante, preocupava-se. Felizmente, Sara estava bem. Era uma menina esperta, inteligente e curiosa, e se afeiçoara tão rapidamente a Lauren... Lauren. Ela queria mesmo ser mãe? Era carinhosa, amorosa com Sara. Mas... Havia a profissão dela. Lauren não queria ser só dona de casa. Colocava suas necessidades antes das de Sara. Outra Gretchen? Não. A decisão de se casar com ele mostrava que não. E, se não se casassem... Havia a ameaça de Dolores a considerar. O mais irônico era que desejava se unir a Lauren. Estaria unindo o útil ao agradável, arranjando uma mãe para Sara e satisfazendo seus desejos também. Os dois tinham um tipo de amizade que ele nunca vivera com Gretchen, e gostava da idéia de voltar para casa todos os dias e ter Lauren na cama à noite. Mas, se não conseguissem entrar num acordo... Em seu apartamento, Lauren também quebrava a cabeça pensando. Evitara a


família o dia inteiro, para que não visse o quanto estava preocupada. Chorava de emoção sempre que pensava em Sara e Cody. Queria ser a mãe daquela garotinha. Queria ser esposa de Cody. Mas o orgulho a impediu de telefonar para ele e dizer que aceitava suas condições. Só se perguntava por quê. A resposta era clara. Não tinha certeza se Cody a queria realmente. Não tinha certeza se ele sentia algo por ela ou apenas a usava para deter a sogra quanto a uma ação judicial. Talvez ambos estivessem loucos por acreditar que um casamento assim fundamentado podia dar certo. Permaneceu sentada na sala em penumbra boa parte da noite, pensando no passado, no futuro e no que queria. Mas não encontrou respostas. Nenhuma solução fácil. Seu orgulho era um aspecto a considerar, devido ao que acontecera entre eles no passado. Pela manhã, preparou-se para atender a vários compromissos, o primeiro deles em Denver. Felizmente, ficaria longe do centro de jardinagem durante todo o dia. Se Cody não entrasse em contato até a manhã seguinte, um dia antes do casamento, consideraria o compromisso desfeito e começaria a cancelar tudo. De volta ao escritório, no fim da tarde, não encontrou nenhum recado. Não se demorou no centro de jardinagem, para não dar ao irmão chance de avaliá-la e perceber que havia algo errado. Levou trabalho para executar no apartamento. Lauren estava sentada à prancheta, fitando a escuridão pela janela, quando o telefone tocou. — Lauren, é Cody. Ela reteve o fôlego, apreensiva. — Esperava que entrasse em contato. — Sara está chorando. Ela quer que você a coloque na cama. Ontem, fez birra, mas consegui fazê-la dormir. Hoje parece impossível. Ela está nervosa e a verdade é que não sei o que fazer. Ela quer você. Lauren sentiu o coração disparar ao pensar na criança, imaginar as lágrimas rolando por seu rostinho. Mas Cody não parecia ansioso em vê-la. Estaria preso ao orgulho, também? Se ela fosse até lá acalmar Sara, talvez depois pudessem conversar. Precisavam mesmo decidir se haveria ou não casamento. — Estou indo. Diga a ela que estou a caminho. — Obrigado, Lauren. Cody estava agradecido pela filha, mas o que sentia pela mulher com quem ia se casar? Quinze minutos depois, Lauren tocou a campainha da casa de Cody e aguardou. Ele abriu a porta imediatamente, de calça jeans e suéter azul, muito sexy e casual. Tinha uma mecha de cabelos pretos caída sobre a testa e Lauren desejou afastá-la. Assaltada pelo amor que sentia por ele, entendeu exatamente por que queria se casar com Cody. Não podia mais negar aquele amor. Cody deu passagem e ela entrou. A tensão entre eles era quase palpável.


— Sara está lá em cima? — Sim. Escolheu três livrinhos. Acho que vai demorar para fazê-la dormir. Já avisei que seria só uma história, mas ela vai insistir para que leia duas. É bom se preparar. — Entendido. Lauren subiu a escada seguida por Cody e sentiu que ele também ansiava por conversar, mas teriam que esperar. Sara vinha em primeiro lugar. Quando viu Lauren, a menina pulou da cama e foi abraçá-la. — Senti saudade... Lauren tinha um nó na garganta. Também sentira saudade de Sara, mais do que imaginava ser possível. Adorava aquela garotinha. Cody permaneceu quieto no quarto enquanto Lauren lia para Sara uma fábula de coelhinhos. Entretida, Lauren esqueceu por algum tempo a presença dele e se descontraiu. A menina fez algumas perguntas, adicionou detalhes à história, sorriu e abraçou Lauren, pronta para dormir. Lauren beijou Sara na testa e saiu ao corredor. Cody juntou-se a ela em seguida e desceram juntos ao térreo. Na sala, encararam-se constrangidos. — Precisamos conversar — declarou ele. — Eu sei. — Entende o que quero para minha filha? Lauren o fitou detidamente e viu que a filha era tudo para ele. — Creio que sim. Quer que ela se sinta segura, onde quer que esteja, ciente de que tem mãe e pai que se importam com ela. Pensei muito a respeito. Cody não desviou o olhar. — E o que decidiu? — Não vou abrir mão do meu trabalho. Como eu disse, o Centro de Jardinagem MacMillan precisa de mim. Cody enrijeceu-se, e Lauren completou: — Mas posso trabalhar em casa, não posso? Ele franziu o cenho, preocupado. — Quer dizer, trabalhar aqui? — Para trabalhar, preciso dos meus catálogos, um telefone, uma prancheta e um computador. Se puder transformar o quarto de hóspedes em escritório... Ele relaxou um pouco a expressão e aproximou-se. — E Sara? — Posso trabalhar quando ela estiver dormindo ou brincando por perto. Felizmente, minha prancheta é portátil. Quando você chegar em casa, posso trabalhar uma hora ou duas, até ela ir para a cama. Sempre que for chamado à noite, estarei aqui. Cody refletiu por algum tempo. — Em vez do quarto de hóspedes, que tal se fizéssemos o escritório no jardim de inverno? Imagino que tenha que receber clientes, às vezes. Seria mais conveniente assim. Lauren sentiu o coração leve.


— Não se importa em abrir mão do jardim de inverno? Cody achegou-se, e Lauren ficou tão abalada que prendeu a respiração. — É só uma sala, Lauren. Há bastante espaço. Sara pode ter um cantinho para brincar lá também. No dia anterior, Lauren quase dissera adeus à idéia de casamento. Mas Cody era um bom homem, um homem que queria assumir um compromisso. — Acho que podemos fazer dar certo, Cody. Exceto... Eu preciso saber se quer este casamento tanto quanto precisa dele. Ele a fitou por algum tempo. Finalmente, estendeu a mão e acariciou seu rosto. — Eu quero este casamento, Lauren. — Por causa de Sara — completou ela, desejando que fosse mais que isso. Então, Cody esclareceu a questão de vez. — Não apenas por Sara. Por mim também. — Enterrou a mão em sua cabeleira macia. — Nos últimos dias, percebi o quanto gosto de sua companhia. A necessidade de me casar novamente me fez pensar em muitas coisas. — Ele a apertou contra si. — Ontem à noite, só pensava em beijar você outra vez... Cody inclinou o rosto. Não havia dúvida de que ia beijá-la, mas não por obrigação. Foi um beijo exigente e possessivo, tudo o que Lauren desejava. Transportada para um lugar em que os sonhos se tornavam realidade, acreditou que aquela união tinha chance de sucesso. Nos braços de Cody, sentia-se mulher, ansiosa para aprender tudo o que ele tinha a ensinar. Jogaram-se no sofá, o beijo os conduzindo a paragens desconhecidas. Lauren recostou-se numa almofada e Cody deitou-se sobre ela. — Eu a quero, Lauren. Ela não duvidava da sinceridade nem do brilho de desejo no olhar dele. Talvez tudo desse certo. Talvez, com o tempo, ele viesse a amá-la tanto quanto ela o amava. Cody beijou-a novamente e levou a mão ao seio. Lauren arqueou o corpo, lembrando-se da noite com ele no carro, havia muito tempo. Lembrou-se do toque. Cody introduziu a mão por baixo do suéter e iniciou as carícias. Sua pele ardeu quando ele passou o polegar sob o sutiã. Deliciou-se, entregue ao beijo. Adorava o toque de Cody, adorava senti-lo sobre seu corpo. Oh, adorava-o. Senti-lo excitado era maravilhoso. Apesar da inexperiência, movimentou-se para lhe dar mais prazer. Ao ouvir o gemido de desejo, sentiu-se excitada também. — Quero tirar sua roupa, Lauren. Ela queria eliminar as barreiras também. Queria se aproximar de Cody o mais possível, sem nada atrapalhando. Foi quando se deu conta de que... Interrompeu o beijo, recuperou o fôlego e avisou: — Cody, eu ainda sou virgem. Ele se paralisou, espantado. — Sério? Lauren confirmou. — Deve ser a última — murmurou Cody, malicioso. A provocação magoou.


— Não sei se sou a última. Só sei... — O quê? — Só sei que estava esperando. Pela hora certa, pelo lugar certo e pelo homem certo. Cody endireitou o corpo. — Acho melhor recuperarmos o fôlego. Ele não parecia zangado, mas Lauren se inquietou. Pousando os pés no chão, tentou controlar a pulsação e a respiração. — Se está esperando pela hora certa e pelo lugar certo, não tenho certeza se são estes. — Cody a fitou. — Não vou apressá-la em nada. Não agora. Nem depois de nos casarmos. Você precisa estar pronta. Aí, basta me avisar. Como Cody conseguia ligar e desligar o desejo com tanta facilidade? Como podia se deter, quando tudo o que ela queria era se entregar? O fato sugeria... Talvez ele não a desejasse tanto quanto ela o desejava. Talvez fosse melhor se esperassem até depois do casamento... quando fossem verdadeiramente marido e mulher. Então, ela poderia se declarar, dizer a ele que estava pronta. Na quarta-feira à noite, ela seria a Sra. Cody Granger e então teria o marido e a vida com que sempre sonhara.


CAPÍTULO VI Uma hora antes do casamento, Lauren se vestia na sala da casa do pastor. Sua amiga Eve Coleburn colocava um por um nas casas uma interminável fileira de botões às costas de seu vestido de noiva. Kim seria a dama de honra, mas só chegaria pouco antes da cerimônia. Ao chegar ao último botão, Eve comentou: — Adorei o vestido! — Ajeitou a cauda. — É tão elegante... Lauren alisou a saia reta de cetim e renda, desejando estar tão bonita quanto se sentia. Queria estar bonita para Cody. Queria que ele a olhasse e... E esquecesse Gretchen? Esquecesse que se casava com ela só para não perder a guarda da filha? Quando Eve pegou o véu sobre a cadeira, Lauren observou a amiga mais detidamente. Ela arrumara os cabelos pretos num coque elegante, optara por vestido de veludo verde-escuro e estava tão linda quanto uma noiva. Ninguém diria que dera à luz seis semanas antes, pois se mostrava tão esbelta quanto antes da gravidez. Eve levou a grinalda à cabeça de Lauren e estranhou sua expressão. — O que foi, Lauren? A amizade entre elas era recente, mas já se conheciam bem demais. — Só estou um pouco nervosa, acho. — Acho que é mais do que nervosismo. Quando foi lá em casa, há poucas semanas, você nem me disse que estava saindo com alguém. De repente, na semana passada, me convida para o seu casamento. O que está acontecendo? Lauren não contara a ninguém o real motivo de ela e Cody estarem contraindo matrimônio. Não queria que seus pais se preocupassem. Não queria que o irmão Rob a criticasse e não tinha certeza de como Kim reagiria à idéia de um casamento de conveniência. Contudo, ante o olhar compassivo da amiga, Lauren desabafou: — Cody e eu estamos nos casando por causa da filha dele, para que a sogra não entre com um processo para obter a guarda da criança. Eve não ficou chocada, como Lauren esperava. — A filha é o único motivo para se casarem? — Não. Nós nos conhecemos na escola e eu sempre... me senti atraída por Cody. Mais do que isso na verdade. Eu o amo. — Lauren fingiu arrumar a cauda para evitar o olhar da amiga. — Mas? — incentivou Eve, o sotaque sulista amenizando a especulação. Finalmente, Lauren externou seu maior temor. — Mas não tenho certeza se ele sente algo por mim. Acho que ele se sente atraído, mas não sei se vai além disso. — Encarou Eve. — Deve me achar maluca, não? — Não, não acho você maluca — assegurou a outra, gentil. — Eu amava Hunter quando me casei com ele, mas também não tinha certeza se ele me amava. — Sério? — Lauren não podia acreditar. Quem via Eve e Hunter tinha


vontade de tocar a aura de amor que os envolvia. — Sério. Nós nos casamos porque o testamento do meu pai estipulava que, se eu não me casasse em um ano, perderia a herança. — Mas eram estranhos? — Oh, não! Eu era apaixonada por Hunter havia cinco anos. Mas, por vários motivos, recusava a proposta de casamento dele. Levamos um bom tempo para nos reencontrarmos emocionalmente, e isso só aconteceu depois do casamento. Lauren lembrou-se da noite em que Eve, preocupada, abandonara o jantar para voltar para casa, para Hunter. — Mas é feliz agora? — Não poderia estar mais feliz. E, desde o nascimento de Carly Ann, sinto-me tão completa que é até difícil explicar. Sim, Eve estava radiante com a maternidade. — Só imagino como vou me sentir quando tiver um filho — comentou Lauren. — Mal posso esperar para ser mãe de Sara... mãe de verdade. Talvez Cody e eu tenhamos mais um filho. Não conversamos sobre isso. Eu só esperava... — O que você esperava? — Que Cody visse o dia de hoje como um começo maravilhoso, em vez de uma barganha que fizemos. Os olhos azuis de Eve brilharam. — Talvez ele veja dessa forma. Mas, se tem dúvida, Lauren, talvez não deva ir em frente. Como fizera nos últimos dez dias, Lauren reexaminou sua decisão. — Quando penso em me casar com Cody, sinto medo. Mas quando penso em não me casar com ele... Vale o risco, Eve. No fundo do coração, sei que vale. — Então, acabe de se aprontar para o noivo — sugeriu Eve, compreensiva. Em seguida, Kim chegou e os pais de Lauren, também. A mãe abraçou-a com lágrimas nos olhos, os cabelos grisalhos emoldurando o semblante doce. — Espero que você e Cody encontrem a felicidade que eu e seu pai sempre tivemos juntos. O pai, cujos cabelos castanhos rareavam no alto e cuja cintura alargara com os anos, sorriu para a filha e a abraçou também. — Posso levar você? Sentindo as lágrimas brotarem, Lauren enganchou o braço no do pai e caminhou a pequena distância que separava a casa do pastor da igreja. Enquanto a noiva e o pai se posicionavam no vestíbulo, Kim e Eve tomaram seus lugares. Rob levou a mãe ao altar e Lauren viu Dolores já sentada no banco, com a pequena Sara ao lado. Tudo aconteceu rápido. Lauren viu Cody e Eli Hastings tomarem seus lugares no altar, ao lado do pastor. Cody parecia muito alto de smoking. O traje elegante, o rosto bonito, a força e a confiança que sempre pareciam emanar dele tornavam-no um deus grego. Quando a noiva despontou à porta da nave, a música começou e todos na igreja voltaram-se para vê-la. Cody viu Lauren, e foi como se o mundo parasse. Nunca a vira tão linda, e


percebeu que a desejava como nunca desejara nenhuma mulher. Mesmo assim, teria de ir devagar. Ela era virgem. E aquele casamento não começava como os outros. Tratava-se de um acordo. De uma medida de segurança. Uma tentativa de construir algo mais do que uma amizade iniciada anos antes. Era inevitável lembrar-se de outro dia como aquele. Cody nutrira esperanças ao desposar Gretchen, tinha tanta certeza de que encontrara a felicidade. Infelizmente, o casamento não era garantia de felicidade. Ele esperara tudo de Gretchen. Compromisso. Apoio. Acima de tudo, uma intimidade que começava na cama e devia crescer no sentido de cuidarem da filha juntos. Mas o apoio de Gretchen à sua carreira fora por interesse próprio. Seu compromisso fora com o estilo de vida, não com o casamento. A intimidade transformara-se em obrigação, até que ele, por orgulho, negasse seus desejos. Para compensar, dedicara-se com paixão ao trabalho e em criar a filha, enquanto Gretchen tomava a si causas que poliam sua imagem na comunidade. Não, casamento não garantia felicidade, porém, unindo-se a Lauren, ao menos manteria Sara consigo. Era o que mais importava neste momento. Lauren passou o buquê a Kim, Cody tomou sua mão e se posicionaram diante do pastor. Atento ao sermão, Cody permitia que as palavras se infiltrassem em seus pensamentos, mas sem se emocionar. Se entrasse naquele casamento sem expectativas, não ficaria decepcionado. Se visse Lauren como colaboradora e amiga, poderiam construir uma boa vida. Não desejaria a lua. Ele e Lauren se concentrariam no bem-estar de Sara, e isso os satisfaria. Ao proclamar os votos, Cody repetiu as palavras mais com determinação do que com sentimento. Já Lauren hesitou na hora de dizer o "sim". Cody imaginou se ela estaria arrependida, ou preocupada com a noite de núpcias, se ela o perdoara por ele a ter magoado anos antes. Mas ela se controlou e completou os votos. Trocaram as alianças simples de ouro. Gretchen insistira numa aliança de diamantes. Como haviam esperado muito para se casar, ele lhe comprara uma, para fazê-la feliz, querendo lhe dar tudo. Mas não fora o bastante. Ele não fora suficiente para Gretchen. Moravam juntos, mas não partilhavam a vida, dormiam juntos, porém sem intimidade verdadeira. A bênção final tomou mais alguns instantes. Autorizado pelo pastor, Cody beijou Lauren, com um fervor que os deixou constrangidos. O pastor apresentou-os aos amigos e familiares como marido e mulher, e eles desceram os degraus do altar. Sara correu para o pai, que a pegou no colo. Lauren abraçou a criança, feliz por ser sua nova mãe. Os três percorreram o tapete vermelho até a saída. — Lauren virá para casa conosco agora, papai? — indagou Sara. Cody olhou para Lauren e novamente para a filha. Naquela manhã, explicara a Sara que os três formariam uma família e viveriam juntos. — Vamos para a festa e, depois, para casa... os três juntos. A pequena orquestra do Clube Briarwood tocou uma música romântica quando Lauren e Cody passarem sob o arco nupcial e adentraram o salão repleto de convidados. Todos aplaudiram e Lauren sabia que devia sorrir. O casamento


fora lindo, como sempre sonhara. Exceto que o noivo não estava apaixonado por ela. Cody via o casamento como uma necessidade, em vez da união espiritual de seus corações e suas vidas. Mesmo assim, naquele momento, diante dos familiares e amigos, ela concluiu que o amor podia fazer diferença. Se mostrasse a Cody que era digna de seu amor, talvez o sentimento florescesse. Talvez ele deixasse para trás sua vida com Gretchen. Cody levou a mão às costas de Lauren e conduziu-a à mesa principal, mas Sara os interceptou. — Está se divertindo com a vovó? — indagou Lauren, agachando-se para falar com a menina. — Vamos nos sentar à mesa reservada a adultos — explicou Cody à filha. A menina franziu o cenho e o lábio inferior tremeu. Lauren acariciou-lhe os cabelos. — Quer saber? Se ficar com a vovó agora, poderá vir e ficar conosco após cortarmos o bolo. Que tal? A criança pensou um pouco e assentiu. — Está bem. Vou contar a vovó. — Tem certeza de que não se importa? — indagou Cody a Lauren, quando a filha se afastou. — Claro que não. É um dia especial para ela também. — Você será uma ótima mãe — avaliou ele, seguro e confiante. — Espero que sim. O brilho no olhar de Cody envolveu-a como um manto de afirmação. Se Lauren fizesse tudo a seu alcance para mostrar a Cody que podia ser uma boa mãe, talvez ele relaxasse... e viesse a sentir por ela algo mais do que amizade. A recepção transcorreu sem incidentes. Cody e Lauren cortaram o bolo e como mandava a tradição, ele ofereceu um bocado à noiva. Lauren estremeceu de excitação ao se lembrar de que aquele era seu marido. Quando ela ofereceu um bocado a ele, ele lhe mordiscou os dedos, provocativo. Lauren viu desejo em seu olhar e imaginou se aquele já era o começo de algo mais. O coordenador da recepção providenciou uma cadeira ao lado de Cody, para Sara. A menina lambuzou-se com o creme de cobertura ao saborear sua fatia de bolo. Lauren reparou que Dolores DeWitt permanecia calada à mesa com os MacMillan. A ex-sogra de Cody nunca lhe parecera mais solitária. Lauren cochichou ao marido. — Dolores costuma sair? Com amigos, algo assim? Cody meneou a cabeça. — Não que eu saiba. Ela comenta bastante sobre almoços com as amigas do clube de carteado, mas nunca falou de nenhum homem. — Sabe, acho que ela não o considera inadequado como pai, ou que trabalhe demais. Apenas é solitária, e a neta dá sentido a sua vida. — Talvez esse seja o motivo de ela querer passar mais tempo com Sara, mas não permitirei que a acostume mal, que a transforme numa princesinha.


— Mas todos os avós mimam os netos — observou Lauren. — É função deles. — Acha que devo deixar que Dolores compre tudo o que Sara quiser? — Claro que não. Mas, se lhe der um pouco de liberdade e um pouco mais de tempo com Sara, talvez ela desista de ser tão severa. Cody meneou a cabeça. — Não subestime Dolores. É o tipo de mulher que, quando ganha o dedo, puxa a mão. Obviamente, Cody conhecia a sogra melhor do que ela. Mas Lauren ainda acreditava que a mulher era solitária e que isso representava boa parte do problema. Acabavam de saborear o bolo quando o coordenador aproximou-se. — Está na hora da primeira dança. Estão prontos? Cody ergueu o sobrolho, interrogativo, e Lauren assentiu. Sara voltou para junto da avó, e Cody conduziu Lauren até a pista de dança. O pianista iniciou uma balada romântica e Lauren fitou o marido. — Foi como você imaginou? — indagou ele. — Sim, nosso casamento está maravilhoso. Após um silêncio constrangedor, Cody sugeriu: — Talvez eu possa tirar alguns dias em abril, para nossa lua-de-mel. Eli e eu estamos pensando em colocar mais um médico na clínica. — Seria bom. Encabulados diante de todos os olhares, Lauren e Cody dançavam meio mecanicamente. Na música seguinte, os padrinhos e familiares foram convidados a ocupar a pista de dança, e Eli fez par com Dolores. No meio da evolução, o casal mais velho emparelhou com os recém-casados. — Posso roubar a noiva? — indagou Eli a Cody. Eli Hastings tinha olhos verdes brilhantes, cabelos grisalhos penteados para trás e um sorriso reconfortante. Todo feliz, saiu rodopiando com Lauren. — Estava na hora de conversarmos um pouco. Quero que saiba o quanto estou contente em ver você e Cody juntos. Aquele rapaz precisa de uma boa mulher em sua vida. — Está falando isso por causa de Sara? — Não, não. Talvez ele precise de uma mãe para Sara, mas precisa também de alguém com quem partilhar a vida. Lauren desconfiava de que Eli conhecia Cody melhor do que ninguém. — Por que acha isso? — Cody teve uma infância e adolescência difíceis. Não havia muito afeto, o que trouxe conseqüências. Ele acha que pode agarrar o mundo sozinho. Desde que voltou para cá, notei os resultados disso. Ele trabalha muito e ainda cuida de Sara. Cody precisa de algo mais do que responsabilidade na vida, e suponho que tenha escolhido você porque lhe mostrou isso. Lauren desejou que Eli estivesse certo. Conhecia o médico havia anos e


confiava nele, — Cody fala da primeira esposa? Eli expressou preocupação. — Não, nunca. Pensei que ele tivesse desabafado com você. — Ainda não. — Dê-lhe tempo, Lauren. Ela podia fazer isso. Tinham a vida inteira pela frente. Só não devia pressionar demais seu marido logo de início. Na suíte principal da casa dos Granger, Lauren esperava Cody voltar do quarto da filha, que dormira no trajeto vindo do clube. Eram quase onze e meia da noite. Devido às centenas de botões às costas, ela não conseguiria despir o vestido de noiva sem ajuda. Enquanto ele não chegava, removeu a cauda e o véu, os quais deixou sobre a cômoda. Foi ao closet e estranhou ver suas roupas num lugar diferente. Haviam feito sua mudança no dia anterior. Pegou o conjunto de camisola e penhoar que comprara especialmente para a noite de núpcias. As peças eram de cetim rosa. Nunca comprara nada tão feminino. A porta da suíte se abriu e Lauren voltou-se. Cody ficou surpreso ao vê-la ainda com o vestido de noiva. — Não consigo desabotoar atrás — explicou Lauren, a voz trêmula. Qual seria a expectativa dele para aquela noite? Conseguiria satisfazê-lo? Cody despiu o paletó do smoking e o pendurou numa cadeira. — Volte-se, vou ver o que posso fazer. Ela lhe deu as costas e prendeu a respiração. Cody desabotoou o primeiro botão, os dedos roçando-lhe a pele, provocando arrepios. Os botões eram pequenos e a atividade pareceu levar uma eternidade. Por fim, as mangas caíram dos ombros e ela segurou o corpete até que ele completasse a tarefa. A suíte era puro silêncio. — Pronto — avisou ele. — Se quiser usar o banheiro primeiro, fique à vontade. Lauren olhou por sobre o ombro e sorriu. — Não vou demorar. — Pegou a camisola e o penhoar e foi ao banheiro, sentindo o coração disparar de ansiedade quanto à primeira noite na cama com o marido. Quinze minutos depois, voltava ao quarto de camisola e robe. Ao ver Cody, congelou. Ele já estava sem camisa, e ela não conseguia desviar o olhar de seu tórax. Pêlos escuros e crespos formavam uma flecha que apontava para o cós da calça do smoking. Engolindo em seco, pegou um cabide e concentrou-se em arrumar o vestido de noiva. Cody entrou no banheiro e, segundos depois, Lauren ouviu a água correr do chuveiro. Só o abajur do lado de Cody na cama estava aceso. Após pendurar o vestido de noiva no closet, Lauren despiu o penhoar, entrou debaixo da coberta e aguardou o marido, imaginando se ele vestia algo para dormir.


Pareceu uma eternidade até ele sair do banheiro. A cama enorme não apresentou o menor abalo quando ele se sentou na beirada. Quando ele apagou o abajur, Lauren teve vontade de tocar nele, mas não teve coragem. — Acho que Sara voltou a dormir sem problemas — comentou, fazendo hora. — Ela mal conseguia abrir os olhos. Sara não está acostumada a ficar acordada até tão tarde. Houve silêncio. — Lauren, como eu lhe disse, não vou pressioná-la a nada. Sei que tudo aconteceu muito rápido e que ambos precisamos de tempo para absorver o impacto. Lauren não sabia se ele estava sendo cuidadoso ou se a noite de núpcias o lembrava demais da primeira experiência. Francamente, Lauren não se sentia confiante o bastante para dar o primeiro passo. — Obrigada, Cody. — Eli vai ficar de plantão amanhã cedo. Pensei em tomarmos o café fora, os três juntos, para Sara se acostumar com a nova família. — Acho uma ótima idéia. O silêncio pairou novamente, até Cody declarar: — Durma bem, Lauren. — Boa noite, Cody. — Ela sabia que dormiria bem e teria sonhos maravilhosos... com ele. Cody deliciou-se com o ar frio ao chegar em casa com Barry Sentz no sábado à tarde. Costumavam jogar basquete para aliviar as tensões da semana de trabalho. Cody empenhara-se no jogo como nunca. Nas duas noites anteriores, permanecera ao lado de Lauren na cama, desejando-a, esperando algum sinal dela... algum sinal de que estava pronta. Mas ela não se manifestara. Não queria pressioná-la, mas, sempre que estava perto dela, sentia-se perturbado e não saberia dizer por quê. Talvez temesse repetir os erros anteriores. Sequer sabia ao certo o que causara o afastamento entre ele e Gretchen... o que causara o fracasso do casamento. A atitude de Gretchen em relação à maternidade e a preocupação dele com Sara haviam provocado a mágoa que só fizera aumentar entre os dois? Ou sempre faltara algo? Talvez jamais tivesse a resposta. Barry tirou uma caixa do carro. Não pudera comparecer ao casamento, pois estava fora da cidade na data, mas fazia questão de presentear Lauren. Entraram pela cozinha e encontraram a dona da casa fatiando maçãs na pia. De jardineira jeans e blusa xadrez vermelho e branco, ela amarrara os cabelos num rabo-de-cavalo e estava mais linda do que nunca. Cody sentiu o calor do desejo tomar conta de seu corpo, apavorado com a idéia de passar mais uma noite de tortura ao lado dela na cama, sem tocá-la, sem beijá-la... sem amá-la. Lauren olhou por sobre o ombro e lavou e enxugou as mãos. — Oi! — saudou, simpática.


Barry deixou o pacote sobre a mesa e estendeu a mão. — Barry Sentz. Não sei se se lembra de mim. — Claro que me lembro. Você estava na classe de Cody. — Lamento não ter podido comparecer ao casamento, mas trouxe um presente. Espero que não seja repetido. — Vamos ver já! — exclamou Lauren, curiosa. Desfez o laço e retirou o papel de presente com cuidado. Era uma cafeteira de fazer cappuccino. Mostrou-se encantada. — Oh, obrigada, Barry! Não, não ganhamos nenhuma. O advogado fitou o novo casal. — Sabe, nunca pensei que acabariam juntos quando aconselhei Cody a encontrar uma esposa. Não depois do mal-entendido faltando dias para o baile de formatura. Mas acho que você é do tipo que perdoa e esquece... Lauren embaraçou-se. Era evidente que Barry se lembrava exatamente do que acontecera entre ela e Cody na adolescência. — Prender-se ao passado não faz bem a ninguém — replicou. Cody sabia o que Lauren queria dizer, mas captou algo mais no tom, algo que informava que a mágoa não havia sido de todo superada. Talvez fosse hora de conversarem sobre o assunto. — Obrigado pelo presente, Barry. Surgiu uma tensão entre eles e o amigo pareceu perceber. — Bem, já vou indo. Tenho de tomar banho e ir ao escritório, trabalhar mais um pouco. Foi bom revê-la, Lauren. — Foi bom ver você também — retribuiu ela, mas o sorriso saiu mais fraco. — Eu encontro a saída, já vim aqui várias vezes. Telefono depois, Cody, para combinarmos o próximo jogo. De repente, Cody e Lauren ficaram sozinhos na cozinha, mergulhados nas lembranças do passado que Barry ressuscitara. — Sara está dormindo? — indagou ele, ao despir a jaqueta e pendurá-la numa cadeira. Lauren apenas assentiu e retomou seus afazeres, mas Cody não deixaria o assunto morrer desta vez. — Você se desprendeu mesmo do passado? Ela o encarou, transtornada. — Tentei. Éramos jovens e eu tinha muitas ilusões. Sei que você não teria saído comigo se não tivesse rompido com Gretchen. Infelizmente, Cody não pôde refutar a afirmação. De fato, o interesse dela naquele momento fora mais que um bálsamo para seu ego ferido. Entretanto, gostara dela e percebera algo mais. — Se Gretchen e eu não tivéssemos voltado, podíamos ter uma chance. — Mas você voltou com Gretchen. Percebe que é a primeira vez que menciona o nome dela comigo? Eu nem sei como ela morreu. Pode desabafar, se quiser. Estou preparada. O casamento com Gretchen fora solitário e doloroso e, por ocasião da morte dela, Cody tinha muito a lamentar.


— Ela morreu num acidente de carro, quando voltava para casa após uma reunião que se estendera até tarde. As estradas estavam escorregadias e ela derrapou... — Ele fez pausa. — Nunca falo sobre isso porque não vejo necessidade. Lauren avaliou-o intensamente. — Fala com Sara sobre Gretchen? — Sim, quando ela pergunta... ou quando vemos o álbum de fotografia juntos. Mas ela não pergunta muito. Eu me concentro em Sara porque ela é a minha vida agora. — Eu sei. — Lauren se afastou. — Vou subir e ver se ela acordou. Talvez queira me ver preparando a torta de maçã. Cody desejava abraçar Lauren, esquecer seu triste casamento com Gretchen, agir como um noivo de primeira viagem. Mas estava suado do jogo e não sabia o que Lauren queria. Tampouco sabia se ela o perdoara de verdade pelo que acontecera treze anos antes. Por precaução, daria mais tempo à nova esposa. Por sorte, era um homem paciente.


CAPÍTULO VII No domingo à tarde, Cody foi ajudar a família MacMillan no centro de jardinagem, mais movimentado com a chegada da primavera e a proximidade da Páscoa. Ao carregar mais um pinheiro prateado na carroceria da caminhonete, parecia feliz com a oportunidade de conhecer melhor a família da esposa. Kim estava no salão com Lindsey, Sara e Matt, ajudando as crianças a montar quebra-cabeças. Com a mãe de Lauren junto à caixa registradora, Rob e o pai de Lauren podiam trabalhar na área externa. Todos receberam Sara como se ela sempre tivesse sido parte da família. Era admirável o entrosamento daquela família. Trabalhavam juntos, em paz, e não pensavam duas vezes na hora de ajudar uns aos outros. Nos últimos vinte minutos, enquanto carregava árvores pequenas na caminhonete, Cody reparou em Lauren conversando com um senhor de meia-idade de boa aparência na entrada da firma. Rob aproximou-se da caminhonete com uma prancheta na mão. — Obrigado por ajudar hoje, Cody. E eu achava que médicos nunca pegavam no pesado. Pouco amigável com Cody ao vê-lo de volta a Birch Creek, mesmo no casamento da irmã guardara distância. — Pois saiba que peguei serviços temporários até na construção civil durante o verão, quando estava na faculdade — revelou Cody. — Sei o que é trabalho braçal. Rob recostou-se na caminhonete. — Está de plantão hoje? — Sim, dando cobertura a Eli. Mas, até agora, nenhuma emergência. — Seu trabalho é o motivo de você e Lauren não terem viajado em lua-de-mel, certo? — Um dos motivos — corrigiu Cody, relevando a bisbilhotice. — Há Sara também. Ela e Lauren estão se conhecendo e achamos melhor esperar um pouco antes de viajar. — Tudo parecia tão racional. Se tivessem viajado em lua-de-mel, talvez já tivessem consumado o casamento, àquela altura. Cody olhou para Lauren novamente e percebeu que o senhor com quem ela conversava tocava-a no cotovelo, num gesto familiar. — Quem é aquele? — indagou ao cunhado. Rob olhou para a entrada da firma. — Craig Davis, arquiteto da Davis, Willis e Green. Lauren trabalhou com ele em alguns projetos. Ela acaba de apresentar proposta para o projeto de paisagismo de um edifício comercial que ele projetou. Se Lauren conseguir esse contrato, outras oportunidades virão. Cody não pensava no trabalho de Lauren. — Ele é casado? — Divorciado. Por quê? — Porque ele olha para Lauren como se... — Cody deteve-se.


Rob ergueu o sobrolho. — Como se? — Como se tivesse mais na cabeça do que apenas trabalho — resmungou Cody. — Você pode ir lá e interromper — sugeriu Rob, intrigante. — Pois é o que vou fazer. — Cody pulou da carroceria. — Tudo o que você pediu já está na caminhonete. — Obrigado. Eu continuo daqui. É... Cody, talvez deva saber que Lauren saiu com Craig várias vezes. Antes de você voltar a Birch Creek, ela chegou a pensar em ter um relacionamento mais sério com ele. Cody tivera a impressão de que Lauren não saía muito. Mas o fato de ser virgem não significava que não namorava. Não gostava de pensar nela saindo com outro homem. E não gostava da idéia de ela se mostrar tão amigável com um ex-namorado, tampouco. A passos largos, venceu a distância que o separava dos dois. Lauren sorriu ao vê-lo. Aquele sorriso valia um milhão de dólares, mas ela nem desconfiava disso. — Sara ainda está brincando — adiantou, imaginando que ele estivesse preocupado com a filha. Ao chegarem, Lauren levara Sara à estufa e a deixara ajudar a regar as plantas e arrumar os vasos nas caixas. — Sara gosta de brincar com Lindsey e Matt. — Cody estava muito mais preocupado com o relacionamento de Lauren com Craig Davis. Voltou-se para o homem. — Acho que não nos conhecemos. Lauren enrubesceu levemente. — Craig, este é meu marido, Cody Granger. Cody, Craig Davis. Craig é arquiteto. Cody assentiu e Craig fez o mesmo. Nenhum deles estendeu a mão. — Parabéns pelo casamento — declarou Craig, educado. — É um homem de sorte. Lauren é muito talentosa. — Sim, ela é. — Cody teve vontade de arrebatar Lauren e levá-la dali. Mas, em vez disso, pousou a mão em seu ombro delicado. — Eu preciso conversar com ela um pouco. Importa-se? Craig pareceu confuso, mas meneou a cabeça. — Não, claro que não. Eu já estava de saída. Lauren, até mês que vem, se não antes. — Certo — respondeu ela. Assim que Craig Davis se afastou, Cody olhou-a carrancudo. — Estão trabalhando em algum projeto juntos? — Ele está trabalhando num projeto de uma casa e pediu minha opinião sobre o paisagismo. — Entendo. Vão se encontrar no escritório dele? — Talvez. Ou em casa. A menos que prefira que eu o receba aqui no centro. — Não, claro que não. Foi para isso que lhe dei o jardim de inverno. Eu


sabia que receberia clientes. Lauren avaliou o semblante do marido. — Mas... Lauren era perspicaz. Ele não faria segredo do que o atormentava. — Rob disse que você já saiu com Craig Davis. Ela confirmou. — Fomos jantar algumas vezes. — Só isso? Só jantaram? Ela enrubesceu. — Só. — Rob também disse que você pensava em tornar o relacionamento sério. Lauren enfiou uma mão no bolso da jaqueta. — Pensei nisso. Mas ele estava sempre viajando a negócios e eu, ocupada aqui. Nunca ficou mais sério. Ela inclinou a cabeça e o sol incidiu em seus cabelos, deixando-os dourados. Lauren era tão linda. Cody prendeu a respiração ao sentir um arroubo de desejo. — Acho que ele quer mais do que um relacionamento profissional com você. — A voz grave e rouca denunciava o quanto o atormentava a idéia de um outro homem desejando sua esposa. — Ele sabe que só podemos ter um relacionamento profissional, Estou casada com você agora. — Alguns homens não vacilam diante de uma aliança. — Nem algumas mulheres? — Lauren o fitou séria. — Não confia em mim, Cody? Confiar. Fácil falar... — Não tivemos muito tempo para criar confiança. Você confia em mim? Ela quase lia os pensamentos dele. Cody a convidara para o baile de formatura e, logo depois, beijara Gretchen. Eram tão jovens na época, mas agora eram adultos, e seu marido se preocupava com a possibilidade de a confiança de Lauren nele estar abalada. A resposta dela confirmou seu temor. — Como disse, Cody, confiança leva tempo. Após um silêncio constrangedor, Lauren afastou-se um pouco. — Acho que vou levar Sara e Lindsey para ver os lírios. Preciso inventariá-los. Cody quis detê-la, mas não tinha nenhum motivo para fazê-lo. De repente, ficou ansioso para provar à esposa que ela podia confiar nele. Mas não sabia como. Assim como não tinha certeza se um dia viria a confiar ou depender de alguém além de si mesmo. Gretchen conseguira comprometer sua capacidade nessa área. Era mais seguro ser auto-suficiente... era mais seguro não confiar... mais seguro não nutrir sentimentos. Eram quase quatro horas quando Cody viu a ex-sogra entrar com o carro no estacionamento do centro de jardinagem. Ela o viu ajudando Rob carregar uma caixa de amores-perfeitos no furgão de uma cliente e ficou boquiaberta.


— O que está fazendo? — Ajudando — respondeu ele, descontraído. — Como descobriu que eu estava aqui? — Não descobri. Você nunca me diz onde vai estar. Mas imaginei que Lauren estivesse aqui e pudéssemos conversar. — Sobre? — Conversa de mulher. Sara está aqui também? — Ela está com Lauren... na estufa. — Bem, espero que não esteja correndo por aí. Ela pode se machucar num lugar destes... — Lauren toma muito cuidado com Sara, Dolores. Não permitiria que a criança se machucasse. — De repente, Cody sentiu raiva ao pensar em todas as vezes que Gretchen deixara Sara com Dolores. Sem poder se deter, disparou: — Ao contrário da sua filha, Lauren gosta de cuidar de Sara. Gosta de brincar com a menina e vai ser uma ótima mãe para ela. A ex-sogra empalideceu e Cody se arrependeu do desabafo. Ele e Dolores nunca conversaram sobre os defeitos de Gretchen, porque ela não admitia que a filha tivesse tido algum. Mas ambos sabiam. Cody só não percebera que a mágoa ainda existia dentro dele. Mas estava lá e, de algum modo, precisava se livrar do sentimento. Pousou a mão no braço da ex-sogra. — Eu não quis dizer aquilo... Ela se desvencilhou. — Sim, você quis. Imagino que não tenha dito muitas coisas, mas essa conversa terá de esperar. Quero passar algum tempo com minha neta. — Encerrou a conversa e foi para a estufa. Quinze minutos depois, Cody viu Dolores com Kim junto à porta da firma e decidiu fazer as pazes com a ex-sogra. Só havia um modo de Sara ser feliz. Ao se aproximar das mulheres, ouviu o comentário de Kim: — Acho que são muito felizes. Lauren comentou algo sobre uma lua-de-mel em abril. Dolores sequer piscou ao ver o ex-genro do lado. Ele devia estar pensando que ela extraía informações de Kim por ainda não acreditar que o casamento fosse verdadeiro. — Se quer saber algo sobre meu casamento, Dolores, pergunte a mim — declarou, gélido. Mas a ex-sogra não teve chance de perguntar nada, pois Sara chegou correndo com um vaso de lírios, que entregou à avó. — Para você. Lauren disse que pode ficar com este. Dolores pegou o vaso e abraçou a neta. — Obrigada, querida — murmurou, emocionada. Enquanto avó e neta se abraçavam, Lauren chegou e chamou Cody de lado. — Por que não convidamos Dolores para jantar conosco? Posso preparar hambúrguer de churrasco ou algo fácil assim.


— Eu a peguei extraindo informações de Kim. Tem certeza de que quer convidá-la? Lauren falava baixinho: — Acho que ela se sente só. Dolores quer fazer parte de uma família, mas não tem nenhuma a que se agregar. Talvez possamos incluí-la na nossa. Ela perceberá que não vamos mantê-la separada de Sara. — Não quero que Sara adote os valores dela. — Cody, Sara vai crescer sob a nossa influência. As atividades diárias é que importam. Se Dolores lhe apontar uma direção com a qual não concordamos, tomaremos providências. Mas não acho que precisamos nos preocupar com isso, por ora. Lauren era cândida por dentro e por fora. — Você provavelmente é a mulher mais gentil que conheço — elogiou Cody, sincero. Como sempre, Lauren enrubesceu com o elogio. — Obrigada. Mas só quero o melhor para Sara e para nós também. Temos de transformar Dolores de inimiga em amiga. Vou dizer que não faremos nada elaborado, mas que ela é bem-vinda para se juntar a nós. Lauren convidou Dolores para o jantar e Cody se orgulhou de ter uma esposa tão extraordinária. Não podia ter feito escolha melhor ao se casar novamente. Talvez naquela noite... Talvez, naquela noite, eles se tornassem marido e mulher de fato. Lauren deixou o penhoar pendurado no banheiro e voltou ao quarto vestindo a camisola que comprara para a noite de núpcias. Quando conversava com Craig naquela tarde, vira algo diferente nos olhos do marido ao abordá-los. Não tinha certeza do que era, mas ficara excitada e esperançosa de que ele a desejasse como um homem desejava uma mulher. Estacou ao vê-lo na cadeira, de short, com os pés apoiados na cama, imerso numa publicação de medicina. Era todo músculos, força, virilidade. Sentia um frio no estômago só de olhar para ele. Cody ergueu o rosto ao se sentir observado. Apreciou-a na camisola de alças finas, o tecido brilhante colado aos seios, caindo sobre a curva dos quadris até os tornozelos. Ele tirou os pés da cama e Lauren ficou apreensiva. — O churrasco foi bom, não foi? — comentou, sem graça. Cody demorou um segundo para responder. — Foi. Só não sei se Dolores aprecia de fato iscas de carne. Lauren riu. — Nunca vi ninguém levar tanto tempo para acabar um sanduíche. Ela limpava os dedos a cada bocado. — Trata-se de uma mulher fina — observou ele, com uma pitada de ironia. Entreolharam-se e riram. — Ainda vamos conseguir que ela ande de cabelos soltos! — apostou


Lauren. — Acho que vou convidá-la para jantar com meus pais, e chamar Eli também, O que você acha? Cody reagiu estupefato. — Eli e Dolores? — Eles formam um casal muito bonitinho... Cody meneou a cabeça. — Os MacMillan são uma família e tanto, hein? Lauren franziu o cenho. — Não entendi. Ele se levantou, deixou a revista na cama e aproximou-se. — Nunca vi uma família trabalhar assim unida, como vocês fazem. Lauren engoliu em seco ao ver o tórax desnudo ao alcance de sua mão. — Nós nos amamos, Cody, e ajudamos uns aos outros quando precisamos. — Tem sorte de ter sido criada assim, respeitando seus pais, o estilo de vida deles. — Você não respeitava os seus pais? — Ela ouvira comentários sobre o pai de Cody, no passado, mas queria saber a verdade através dele. — Meu pai não me mostrou nada que eu pudesse respeitar. Entrava e saía da cadeia, sempre atrás de bebida e da mesa de jogo. Lembro-me da polícia chegando no meio da noite para prendê-lo por receptar mercadoria roubada. Ele estava na condicional quando morreu de cirrose. Lauren compadeceu-se ante a tristeza no olhar de Cody e imaginou as dificuldades que ele enfrentara. — Deve ter sido horrível. — Vi minha mãe trabalhar por salário mínimo para pagar o aluguel. Quando perguntei por que ela não se separava de meu pai, ela disse que o amava. Mas ele não a amava, agindo como agia. Cody tinha a expressão sombria. — Ela morreu de pneumonia quando eu estava na faculdade, porque não pôde pagar uma consulta médica. Eli teria cuidado dela sem remuneração, mas minha mãe era muito orgulhosa. — Lamento, Cody. Lamento que não tenha tido pais como os meus, ou irmãos com quem partilhar a dor. — Não costumo recordar essa época — afirmou ele, parecendo surpreso por estarem falando desse assunto. — Fico contente por ter me contado, por ter confiado em mim. — Lauren sabia que fora um passo importante para ele e, provavelmente, para ela também. Pareciam mais próximos agora. Como se lesse seus pensamentos, Cody avançou e enterrou a mãos em seus cabelos sedosos. Fitou-a carinhoso por algum tempo, e Lauren, ao vê-lo inclinar o rosto sobre o seu, soube que esperara por aquele momento a vida toda... por aquele homem. Ele pousou os lábios entreabertos sobre os dela e aguardou que lhe desse passagem.


Lauren não sabia como dar o que ele queria. Conseguiria satisfazê-lo? Poderia despertar nele o desejo, inicialmente? O amor viria em seguida? Só tinha a esperança. E agarrou-se a ela, ao mesmo tempo que abraçava o marido. Lauren entreabriu os lábios e ele assumiu o comando, seduzindo-a com seu cheiro, seu gosto e textura. Contra a pele firme e quente do corpo másculo, ela se agarrou aos ombros dele e explorou os músculos. Cody espalmou as mãos em suas costas, acariciando-a e colando seus corpos. Lauren não entendia o desejo que surgia dentro dela. Sabia que a causa era o contato íntimo, a ereção dele junto a suas coxas incitando a uma dança primitiva. Desejou livrar-se da camisola. Não imaginava como seria juntar-se a Cody, mas a excitação prenunciava algo maravilhoso, prazeroso e arrebatador. Cody a ergueu nos braços e carregou para a cama, sem interromper o beijo. Então, deitou-se ao lado dela. — Tire a camisola — pediu ele, a voz grave. — Mas as luzes... — Quero ver você. Não havia dúvida quanto ao desejo nos olhos cinza-azulados. Lauren nunca se despira diante de um homem. Mesmo assim, aquele era seu marido, e ele obviamente a desejava. O que havia a temer? A resposta era óbvia. Ela temia que ele visse seus defeitos. Temia não ser perfeita o bastante, mas não permitiria que a timidez ou a falta de experiência arruinassem aquele momento. Trêmula, ergueu a barra da camisola e a retirou por sobre a cabeça. A peça flutuou até o chão enquanto Cody retomava os beijos. Mal seus lábios se uniram, o pager começou a tocar. Cody praguejou baixinho. — Tenho de atender. — Eu sei — murmurou Lauren, frustrada, mas tendo em mente que a vida de Cody era a dela também. Ele tinha responsabilidades e ambos deviam fazer concessões. Cody verificou o aparelho, pegou o telefone e teclou um número. Ouviu o relato e instruiu: — Chame o Dr. Singer. Precisarei da opinião dele neste caso. Estarei aí em dez minutos. Ele desligou e explicou: — Vou sair. Gostaria de não ter de ir, mas... — Você é médico, Cody. Os pacientes vêm em primeiro lugar. Ele pareceu querer dizer algo, mas deteve-se. Tirou uma calça jeans e uma camisa do closet. — Não sei a que horas voltarei. Lauren vestiu a camisola e sentou-se na beirada da cama. Cody calçou os sapatos, levantou-se e tocou no queixo da esposa. — A gente se vê de manhã. Com isso, retirou-se.


Lauren se viu sozinha e a saudade tomou conta de seu corpo. O que aconteceria quando Cody chegasse em casa? Dera a entender que esperava encontrá-la dormindo. Sabia que ele tinha consultas marcadas para o período matutino. Talvez a emergência não o retivesse por muito tempo e pudessem retomar de onde haviam parado... Talvez se tornasse mulher dele fato ainda naquela noite... Para se ocupar e controlar a ansiedade, Lauren pegou um livro para ler. Incapaz de se concentrar, foi verificar Sara. A menina de quatro anos dormia abraçada ao ursinho de pelúcia. Lauren voltou à suíte principal, apagou a luz e ficou ouvindo o tique-taque monótono do relógio. Sentia-se sonolenta, mas o sono não vinha. Eram duas horas da madrugada quando Cody voltou. Ele entrou no quarto sem acender a luz e despiu-se no escuro. Lauren pensou em lhe dizer que estava acordada, mas era tarde e ele devia estar cansado. Não queria que o marido fizesse amor com ela por obrigação. Não queria que a primeira vez deles fosse apressada, menos envolvente do que poderia ser. Por isso, fingiu estar dormindo. Cody deitou-se na cama e ela sentiu o olhar dele em suas costas. Então, ele puxou a coberta e se virou para o outro lado. Haviam se conectado antes. Lauren sentira algo vindo dele, algo que nunca experimentara antes, e desejou reviver a sensação. Estava para nascer outro dia, talvez aquele que marcaria o início de seu casamento. Lauren esboçava idéias numa prancheta, na tarde de segunda-feira, olhando de vez em quando para Sara no balanço. O dia estava ensolarado e a temperatura, em torno dos dez graus centígrados. Aproveitando uma pausa no frio do inverno, levara Sara ao parque no sábado à tarde, para respirar ar puro, enquanto Cody trabalhava no hospital. A menina gostara tanto do passeio que, naquele dia, Lauren decidiu que passariam mais tempo ao ar livre, o que faria bem às duas. Agora, porém, sentia dificuldade em se concentrar no projeto que pretendia apresentar a Craig Davis. Nunca tivera problema em se concentrar no trabalho antes. Mas também nunca se casara antes, nunca ansiara pelo vínculo carnal com o marido, que uniria seus corações e almas, além de seus corpos. Acordara às cinco e meia da manhã, quando Cody se levantara. — Você não dormiu muito — comentou ela. — Preciso ver como está o paciente que atendi ontem a noite. Foi um ataque de asma sério e quero saber se atingiu a estabilidade. Volte a dormir. Sara não vai acordar senão daqui a duas horas. Lauren ofereceu-se para preparar o café, mas Cody recusou, dizendo que tomaria algo no hospital. Sem beijá-la, saiu desejando-lhe um bom dia. Talvez, à noite, tivessem algum tempo sozinhos. Talvez naquela noite... Lauren concentrou-se no esboço e assustou-se ao ouvir um grito, seguido do choro de Sara. A criança estava caída diante do balanço. Correu a acudi-la. — O que foi, querida? Você está bem?


Em meio às lágrimas, a menina conseguiu indicar onde doía. — Minhas mãos... E o meu queixo... Lauren pegou a menina no colo e consolou-a. — Por que caiu do balanço? — Fiquei de pé... como Jimmy, no parque. Mas caí... Lauren sabia que devia repreender Sara, mas não teve coragem. Abraçou a criança e massageou-lhe as costas, confortando, acalmando. Finalmente, a menina controlou o choro. — Vamos colocar gelo no seu queixo. Vai se sentir melhor assim. Agora, deixe-me ver as suas mãos. — Lauren viu que estavam esfoladas. — Vamos ao banheiro lavar bem, para que não infeccione. — Vai doer? Lauren sabia que a honestidade era a melhor política, principalmente com crianças. — Pode doer um pouco, quando lavarmos. Mas aposto que seu pai tem algo na caixa de remédios que vai aliviar a dor. Quinze minutos depois, Sara sorria novamente, sentada no colo de Lauren. Com as mãozinhas em curativos, ouvia uma história antes de tirar a soneca. Lauren beijou a criança na testa e recebeu um abraço. — Eu gosto de você aqui... Lauren sentiu as lágrimas brotarem ao perceber o quanto gostava de estar naquela casa e de ser a mãe de Sara. Cody chegou em casa cansado, às seis horas da tarde. O paciente que atendera na noite anterior estava melhor, e Eli ficaria de plantão desta vez. Talvez ele e Lauren pudessem finalmente acabar o que haviam começado. Encontrou a esposa na cozinha, linda num suéter azul-turquesa e rosa e calça jeans. Convenceu-se de que a paciência era uma virtude e de que valia a pena esperar. Ela sorriu. — Oi. O jantar está quase pronto. Vamos ter espaguete. Sara disse que é um de seus pratos favoritos. A menina estava à mesa, colorindo uma revista, mas já saltava da cadeira. — Papai, papai, veja só! — Ergueu as duas mãos. A filha obviamente se machucara de alguma forma. Cody tentou manter a preocupação e a irritação sob controle. Mas, ao ver o hematoma no queixinho, não se conteve. — O que aconteceu? Sara contou que tentara imitar Jimmy, que ficara de pé no balanço do parque, mas caíra do balanço de casa. Cody lembrou-se da atitude de Gretchen, de sempre jogar a responsabilidade por Sara em outra pessoa, na atenção que ela dedicava às causas comunitárias em detrimento da própria filha. — Onde estava Lauren? — questionou, tentando manter-se calmo enquanto


ouvia a explicação da falha. — No pátio, desenhando. Em outras palavras, ela estava trabalhando. Cody olhou para Lauren, enrubescida e com expressão culpada. — Eu estava fazendo um esboço. — Entendo. — Cody não queria discutir diante da filha, mas teriam de conversar sobre o assunto depois. O trabalho era mais importante para Lauren do que Sara? Mesmo com toda a inquietação, ao olhar para Lauren, desejou-a. A necessidade física o atormentara o dia inteiro. Cody fez um exame minucioso na filha, brincando de iluminar seus olhos com a lanterna em forma de caneta. Ela parecia bem. Mas o jantar foi tenso. Enquanto Lauren lavava a louça, Cody brincou de esconde-esconde com a filha, sem deixar de imaginar se o casamento fora um erro. Colocaram a menina na cama juntos, e então ele pediu: — Vamos descer e conversar. Assim que chegaram à sala, ele não hesitou: — Por que não estava tomando conta de Sara? — Eu estava. Mas fiquei num esboço. Eu me concentrei por alguns minutos e... — Em outras palavras, a sua atenção estava dividida. E, por isso, minha filha se machucou. Lauren, eu me casei com você para dar atenção total a minha filha. Trabalhar no jardim de inverno com ela por perto é uma cosia. Mas fora, onde ela precisa de mais atenção... Sara nunca se machucou sob os cuidados de Kim. Lauren não esperava aquela reação. E se algo mais grave tivesse acontecido? — Confiei em você para manter Sara a salvo — resumiu Cody, dando-se conta de que confiava em Lauren como nunca confiara em Gretchen. Lauren parecia desolada. — Desculpe-me, Cody. Eu me dividi, sim, mas estava tomando conta dela. — Aparentemente, não bem o bastante. — O tom dele era rude, zangado. Lauren parecia magoada e Cody desejou abraçá-la. — O que está feito, está feito — finalizou, conformado. — Mas preciso da sua garantia de que seu trabalho não virá antes de Sara. — Meu trabalho não vem antes de Sara — afirmou Lauren. — Hoje foi exceção? Entreolharam-se cientes da diferença que se impunha. Lauren permaneceu em silêncio e Cody entendeu que haviam chegado a um impasse. — Tenho trabalho a fazer no escritório — informou ela. — Estarei lá, se precisar de mim. Pode tomar conta de Sara? — Vou ligar a babá eletrônica. — Não vou demorar. — Tensa, Lauren tomou o corredor rumo a cozinha, onde deixara a bolsa. — Vou sair pelos fundos — acrescentou, enquanto vestia a


jaqueta. Cody ouviu o carro deixando a garagem e experimentou um vazio que nunca sentira antes. A dist芒ncia entre ele e a esposa s贸 fazia aumentar.


CAPÍTULO VIII Lauren chorava ao entrar com o carro no estacionamento do centro de jardinagem. Precisara sair de casa para ganhar perspectiva. Perto de Cody, sentia-se uma adolescente novamente, ansiosa para agradá-la, fazendo de tudo para ele gostar dela. Que tolice. Estava casada com o homem. Mas as barreiras perduravam. Cody mantinha um muro ao redor de si, e ela imaginava se o amor dele por Gretchen fora tão profundo, a ponto de impedi-lo de amar outra mulher. Saltou do furgão, destrancou o portão e entrou na estufa. Examinou as fileiras de vasinhos, prestando atenção nas folhas, na umidade, na cor das pétalas. Enquanto absorvia a essência das flores, foi recuperando o equilíbrio, ligando-se à natureza e à terra. Negligenciara os cuidados com Sara naquela tarde? Devia ter ficado de olho na menina o tempo todo? Ao pensar na própria infância e na de Rob, percebeu que seus pais permitiram que se machucassem um pouco, enquanto exploravam o mundo. Crianças precisavam de supervisão, mas também de espaço e liberdade para aprender a se movimentarem, até a independência total. Percorreu os corredores apreciando as flores, pensando em Sara e Cody, até as lágrimas cederem e se sentir mais calma. — O que faz aqui a esta hora? O irmão Rob fazia sua ronda noturna, para se certificar de que estava tudo em ordem. Lauren não podia enganá-lo, ele a conhecia bem demais. — Precisava pensar. Ele avançou em meio aos estrados com vasos de flores. — Sobre o casamento? — Sei que não aprovou. — Não é questão de aprovar ou não. Mas tudo aconteceu bem rápido e fico imaginando por quê. — É complicado, Rob... — O casamento já é difícil quando ocorre pelos motivos normais... como estar apaixonado. — Eu amo Cody — afirmou ela, sincera. O irmão a fitou atento. — Acho que sempre amou Cody Granger. Ele não sabe o quanto tem sorte. Ela sorriu ante a tentativa do irmão em fazê-la sentir-se melhor. — É suspeito para falar. — Talvez. Mas estou certo, não estou? Como confessar ao irmão que o que a afligia era o fato de desconhecer os sentimentos do marido por ela? — Fiz uma bobagem hoje, Rob. Estava tomando conta de Sara, mas não atenta o bastante. Ela se machucou. Não muito... mas não devia ter acontecido. Ele se recostou numa mesa e cruzou os braços. — Cody a culpou?


As lágrimas brotaram novamente e ela assentiu. — Não vai resolver nada ficando aqui, sabe — opinou Rob. — Quando um casal briga, é melhor resolver logo. Rob e Kim estavam casados havia seis anos e tinham um relacionamento sólido e amoroso. O irmão aconselhava com conhecimento de causa. — Você e Kim brigam? — Claro que sim. Mas fizemos um pacto antes do casamento. Prometemos nunca ir para a cama sem definir a situação da briga. Podemos não resolver a questão de imediato, mas conversamos e ouvimos um ao outro. Às vezes, a solução aparece. Mas eles tinham um casamento normal. Iam dormir juntos todas as noites e... — Não seja tão severa consigo mesma, mana — continuou Rob. — Posso tomar conta de Matthew vinte e quatro horas por dia sem piscar e ainda assim ele vai se machucar um pouco. As crianças são levadas. Lauren tinha de assumir sua parcela de responsabilidade no incidente. Mas, naquele momento, apenas abraçou o irmão. — Obrigada. — Não me agradeça ainda. Espere até receber a conta. Ela sorriu e afastou-se. — Quer que eu o ajude a trancar tudo? Ele recusou. — Não precisa. Sou o melhor vigia da praça. No trajeto para casa, Lauren percebeu que não se aproximaria de Cody fugindo dele. Precisavam conversar, e ela revelaria o que descobrira ao buscar as respostas em seu coração. Em casa, foi direto ao escritório. Encontrou a porta fechada e bateu de leve. — Posso entrar? Cody abriu e lhe deu passagem. Lauren queria que ele se sentasse, mas, como ele não fez, permaneceu de pé também. — Lamento não ter acompanhado Sara com mais atenção. Procurarei ter mais cuidado no futuro. — Sara significa tudo para mim, Lauren. Tenho de saber se posso confiar em você no que se refere a ela. — Eu sei. Mas, às vezes, crianças fazem coisas inesperadas e aí toda a atenção do mundo não basta. Não estou tentando arranjar desculpas, mas só posso tentar fazer o melhor. Assim como você. O silêncio pairou no escritório. Cody aproximou-se e ela não se moveu. — Acha que um dia amará Sara como se fosse sua filha? Lauren sentiu um nó na garganta, mas conseguiu declarar: — Eu já amo Sara, Cody. Esta tarde, antes da soneca, ela me abraçou e disse que estava contente por eu estar aqui. Eu... — A emoção tomou conta e Lauren baixou a cabeça. Cody ergueu seu queixo e viu as lágrimas nos olhos. Abraçaram-se e


sentiram o coração um do outro batendo forte. — Preciso de você, Lauren... Com isso, beijou-a, e Lauren enroscou-se em seu pescoço. Nada no mundo importava, exceto os dois, bem juntinhos. Cody a beijava exigente, como nunca beijara antes. Provocava com a língua... explorava... acariciava. Lauren nunca experimentara uma onda tão intensa de sensações. Aflita de desejo, contorcia-se junto dele. Com um gemido, ele a conduziu ao sofá. Antes que ela recuperasse o fôlego, já lhe tirava o suéter e abria o zíper da calça. Ser despida por ele era excitante... sensual. Ela o desejava como uma mulher apaixonada desejava o marido, e queria conhecê-lo em sua plenitude. Queria conhecê-lo da forma íntima que o casamento permitia. Cody prendeu a respiração, sabendo que seu controle estava no limite. Conter-se durante todos aqueles dias pesavam naquele instante. Sentia-se consumir pelo fogo da paixão quando acabou de despi-la. Livrou-se rapidamente das roupas e deitou-se sobre ela no sofá. Beijou-a novamente, de forma sensual, e passou a provocar os seios com a língua. Lauren afastou as pernas para alojá-lo. Cody provocou o mamilo e Lauren arqueou o corpo. Ele continuou sugando e lambendo, até ela gemer. Ao introduzir o dedo na feminilidade, Cody constatou que ela estava úmida e pronta. Não podia esperar mais para torná-la sua mulher. Viu-se dominado pelas chamas da paixão enquanto a acariciava. Lauren se contorcia de desejo e murmurava seu nome. — Está pronta, Lauren? Você me quer? — Sim, Cody... Sim! Era o consentimento de que ele precisava. Cody apoiou-se nos cotovelos, posicionou-se e a penetrou. Lauren gritou. Mas, quando ele começou a se movimentar, acompanhou-o. Cody se introduziu mais e ela se conformou ao órgão, encontrando prazer, sentindo que ele também se satisfazia. Segundos depois, Cody chegou ao êxtase e estremeceu várias vezes. Seus corpos se cobriram de suor enquanto recuperavam o fôlego. Cody não pretendera que a primeira vez ocorresse assim, de maneira afoita. Planejara fazer amor devagar, certificar-se de que Lauren sentisse prazer em cada etapa. Mas permitira que o desejo conduzisse suas ações e... Estava abalado. Nunca se perdera daquela forma com uma mulher, nunca perdera o controle. O fato era que não queria se separar dela. Queria permanecer unido a ela, repetir o ato. Queria repetir o ato inúmeras vezes, até sentir desaparecer a solidão que sempre sentira. Nunca esperara encontrar tal alívio com Gretchen. Sempre se sentira distante dela. Mas, com Lauren, durante aqueles poucos segundos, foi como se tivessem se transformado num único ser. Cody a fitou e viu que ela mantinha os olhos fechados. — Lauren? Ela voltou o rosto para ele, os olhos castanhos cintilantes. Cody não sabia o que aquele fulgor significava.


— Eu a machuquei? — Não... eu... foi uma surpresa. Tão repentino. Tão rápido. Ela estava quase chorando e Cody não sabia o que fazer. Raios. Podia não tê-la machucado, mas provavelmente a assustara. Comportara-se como um homem das cavernas, e a esposa nunca o perdoaria. Afastando-se, Cody sentou-se na beirada do sofá. Lauren vestiu-se rapidamente, constrangida, ansiosa para sair do escritório. — Vou me recolher — avisou. Enquanto Cody vestia a calça, ela alcançou a porta. — Vou ver Sara antes de me deitar. Boa noite, Cody. Cody passou a mão nos cabelos e afundou na cadeira à mesa de trabalho. Como consertaria aquilo? No sábado à tarde, Lauren já tentara deixar o centro de jardinagem por duas vezes, mas Rob sempre pedia sua ajuda... primeiro com as vitrines ao redor da caixa registradora, depois no atendimento aos pedidos especiais encomendados por clientes na semana anterior. Geralmente, ele cuidava de tudo sozinho e ela não entendia por que precisava de colaboração agora. Na noite anterior, Cody manifestara o desejo de passar algum tempo sozinho com a filha, perguntando se ela se importaria se fossem só os dois ao cinema e depois a uma sorveteria. A relação entre eles se tornara tensa depois da noite em que fizeram amor pela primeira vez. Ou melhor, depois que ela fizera amor. Lauren tinha a impressão de que apenas servira como escape conveniente à prolongada abstinência sexual do marido. Tudo naquela noite acontecera tão rápido. O calor, a paixão, a conclusão. Desde então, Cody mantivera distância e não a tocara mais. Ela não sabia o que fazer. Como uma mulher descobria se era realmente importante para um homem? Como uma esposa dizia ao marido que queria ser tocada, beijada e abraçada? Apenas dizendo? Lauren suspirou enquanto separava a última encomenda. Não diria nada, pois temia ter decepcionado Cody. Acima de tudo, temia ser comparada com Gretchen. A primeira esposa era um fantasma entre eles e Lauren não sabia o que fazer a respeito. Eram cinco horas quando Lauren finalmente deixou o centro. Em casa, entrou na garagem, viu o carro de Cody e imaginou o que prepararia para o jantar. Ao entrar na cozinha, encontrou-o junto ao balcão, aguardando-a. — Tenho algo para você — declarou ele, sem preâmbulo. De camisa esporte vermelha e calça azul-marinho, Cody estava tão sexy e viril que Lauren sentiu uma onda de calor pelo corpo. — Sara está dormindo? — Não. Vai ficar esta noite com Kim. — Ele lhe estendeu um envelope branco. — Abra.


Lauren tirou o cartão, em cuja capa lia-se: "Para Lauren". Ela abriu e leu a mensagem: "Este é um convite para que compareça a um baile comigo. Se aceitar, teremos a melhor noite de nossas vidas. Cody" Lauren ergueu o olhar. — Não entendi. Ele pegou a mão dela. — Venha comigo e entenderá. Quando ela entrou no que costumava ser a sala, viu-se noutro mundo. Havia uma faixa pendurada na parede com os dizeres: "Baile de Lauren e Cody". O ar se impregnava de perfume floral, exalado por quatro grandes buquês de rosas e cravos. Os móveis tinham sido encostados nas paredes e a mesa num canto recebera uma tolha branca. Bandeirinhas e balões coloridos completavam o clima de festa. — Oh, Cody... — As lágrimas brotaram e ela o fitou. — Por que tudo isto? Ele a puxou para junto de si. — Quero que esta noite seja especial, Lauren. Quero começar tudo de novo com você. Quero me redimir de qualquer mágoa que lhe causei. Quero me desculpar pela outra noite... quero dizer, por ter perdido o controle da situação. Você merecia muito mais. Merecia gentileza e não um homem das cavernas como o que eu me mostrei. Lauren ponderou. — Mas não achei rude. Pensei que tinha decepcionado você. Receava ter feito algo errado. Você se fechou... — Eu me senti culpado por ter tratado você daquela forma. Apressei as coisas... quando você não estava pronta. — Não sei se estava pronta, mas quis, também. Foi maravilhoso, Cody. Até você se retrair... Ele praguejou baixinho e meneou a cabeça. — Bem, esta noite, não vou me retrair. Esta noite, faremos direito. Tenho mais uma surpresa para você. Ele foi ao sofá, pegou uma grande caixa branca e entregou-lhe. Lauren pousou o volume até a mesa e abriu o embrulho. — Oh, Cody... Era um vestido longo, azul-turquesa, a saia esvoaçante partindo do corpete de brocado. — Kim o escolheu. Assegurou que você ia adorar. — É lindo — murmurou Lauren. — Nem sei o que dizer. — Diga que vai usá-lo... diga que vai dançar comigo esta noite e que vai permitir que eu lhe mostre como um noivo deve agir com sua noiva. Lauren não controlava as lágrimas. — Sim, vou passar a noite com você. Cody a abraçou e ficaram assim por algum tempo. Então, ele se afastou e a beijou na testa.


— Tenho de tomar mais algumas providências aqui antes de me vestir. Meu smoking está no escritório. Por que não vai lá em cima, toma um longo banho, e eu irei buscá-la por volta das seis e meia? — Seis e meia — confirmou ela, desejando que Cody a beijasse. Ele passou o polegar por seu lábio inferior de maneira erótica. — Combinado. — O gesto era um lembrete sensual do que a noite prometia. Lauren demorou-se na banheira, sentindo a excitação crescer ao imaginar o que a noite lhe reservava. Escovou os cabelos até ficarem brilhantes e vestiu o belo modelo que acabara de ganhar. Completou o visual com um colar de pérolas, presente dos pais por ocasião de sua formatura da faculdade. Estava pronta quando Cody bateu na porta. Lauren atendeu e sentiu-se bonita, feminina e confiante ao ver o brilho de admiração nos olhos do marido. Cody estava lindo de smoking. Enganchou o braço no dele e permitiu que ele a escoltasse escada abaixo. Uma música suave vinha do aparelho de som, e a mesa estava posta para dois, iluminada por velas. — Espero que goste de lagosta — comentou Cody. — Adoro lagosta. Cody puxou a cadeira para ela se sentar e sussurrou junto a seu ouvido: — Você está linda. Lauren mal acreditava que Cody tivera tanto trabalho. Não acreditava que aquilo tudo era real. Parecia mais um sonho romântico, porém acontecia de verdade. Quando Cody se sentou a sua frente, sentiu o amor por ele ainda mais forte, profundo e verdadeiro... do jeito que o amor devia ser. Ele se sentia da mesma forma? Lauren não sabia, mas a noite lhe dava esperança... mais esperança do que jamais tivera. Cody foi à cozinha e voltou com dois pratos de lagosta, batatas gratinadas e broto de feijão. — Como fez isso? — indagou ela. — Kim me indicou um restaurante que faz entregas. — Ele deu um sorriso quase travesso, convencido e, ao mesmo tempo, cativante. Não conversaram muito durante a refeição, apenas flertaram. No meio do jantar, Cody buscou sua mão e acariciou-a com o polegar de forma sensual, que a deixou lânguida. Quando acabaram o prato principal, ele sorriu. — Há torta de queijo e café de sobremesa. Mas podíamos dançar primeiro... Lauren já se embalava ao ritmo da melodia lenta e romântica. — Sim, vamos dançar. Cody a conduziu ao meio da sala, e foi diferente de quando dançaram no casamento. Ele a manteve junto ao corpo e tudo era um prelúdio das intimidades que partilhariam depois. — Gosto de tê-la em meus braços — murmurou ele, o hálito quente em seu rosto. Lauren sentia o coração disparado. — Gosto de ficar assim com você.


Ele a enlaçou pela cintura e ela enroscou os braços no pescoço dele. Cada movimento era erótico. Ambos se deliciavam com o contato entre seios e tórax, com seus quadris se roçando. As coxas de Cody emanavam potência enquanto deslizavam ao ritmo suave, e Lauren mal esperava para se perder nele... se derreter nele... se unir a ele. Cody inclinou a cabeça para um beijo, sempre bailando com a música. Uma nuvem pareceu envolvê-los enquanto ela se entregava ao beijo como, num sonho romântico. Lauren só pensava em fazer amor com o marido novamente, sentir-se livre para tocá-lo e saber que ele queria tocá-la também. De repente, o pager de Cody começou a tocar. Com um grunhido desgostoso, ele se desvencilhou. — Não estou de plantão hoje, mas tenho de responder. Só vai levar um minuto. — Ele a beijou novamente de leve, como uma promessa do que viria. Ela voltou à mesa e Cody foi ao telefone. Ele a fitava enquanto teclava os números quase que automaticamente. Atenderam e ele ouviu. — Está bem — respondeu Cody. — Estarei aí em dez minutos. Lauren sentiu dor no coração ao ouvir as palavras. Cody desligou, parecendo tão desapontado quanto ela. — Houve um acidente grave envolvendo três carros e precisam de ajuda no hospital. Lauren, desculpe-me. Tentei garantir que tudo fosse perfeito... — Foi perfeito, Cody. Mas entendo que tenha de ir. Está tudo bem. — Ele era médico acima de tudo e ela entendia sua responsabilidade. Ele a abraçou. — Talvez não demore muito e possamos saborear a sobremesa quando eu voltar. Ela o acariciou no maxilar. — Estarei esperando. Cody rememorava as palavras da esposa ao chegar ao pronto-socorro, junto com a primeira ambulância. Continuou recordando-as enquanto discutia os procedimentos com Eli e ao atender a primeira vítima. Quase perdeu a moça que dirigia o carro esportivo causador do acidente, mas ordenou uma carga e o coração dela voltou a bater. Depois de estabilizar a jovem, levaram-na para o centro cirúrgico. Não houve mortes, mas três feridos apresentavam estado grave. Era quase meia-noite quando Cody tomou o caminho de casa. O que Lauren pensaria? Que ele a desertara? Que ele não lhe dava importância? Que ela nunca vinha em primeiro lugar? Aquela fora uma das maiores reclamações de Gretchen. Lauren reagiria da mesma forma? Cody chegou em casa à meia-noite e meia, com o paletó do smoking e a camisa no braço. Trocara de roupa no hospital na primeira oportunidade. A luz sobre a pia da cozinha estava acesa. Apagou-a, tomou o corredor e subiu a escada. Esperava encontrar Lauren adormecida, mas ela estava recostada na cabeceira da cama, com dois pratos de torta de queijo no criado-mudo.


Ela o aguardava. E não parecia decepcionada, mas muito feliz em vê-lo. — Não pensei que fosse esperar. — Telefonei para o hospital por volta das onze e meia e me disseram que você logo poderia sair. Está cansado demais para a sobremesa? — Não. Só vou tomar um banho rápido. E ele foi realmente rápido, reapresentando-se com os cabelos úmidos. Lauren enrubesceu ao vê-lo nu. Ante a reação, Cody ficou mais excitado. Achegou-se a cama. — Acho que torta de queijo fica mais gostosa quando se está sem roupa. — Cody... Ele sentou-se junto dela. — O que posso fazer para que não se sinta tão envergonhada? Para que não fique tão tímida comigo? Indignada, ela endireitou o corpo. — Eu não sou tímida. Ele ergueu o sobrolho, e Lauren começou a explicar: — Não quando sei... — Quando sabe o quê? — incentivou o marido. — Não quando sei que você me quer tanto quanto eu o quero. A declaração abrupta o satisfez demais. — Eu a quero, Lauren. Nunca duvide disso. E, desta vez, faremos direito... devagar e com ternura, até ambos implorarmos pela liberação. Cody afastou a coberta e livrou a esposa da camisola. Enterrando as mãos na cabeleira sedosa, iniciou um beijo demorado e profundo. A seguir, devagar, correu os lábios pelo pescoço esguio, sobre os seios. Concentrou-se nos mamilos. Lauren o agarrou pela nuca, desesperada. Ele lhe segurou as mãos e beijou na palma. — Toque-me onde quiser. Beije-me onde quiser. Explore meu corpo, assim como eu quero explorá-la, Lauren. Casamento é isso. Embora Lauren fosse tímida, Cody sentia uma liberdade diferente com ela. Algo que nunca experimentara antes na vida. Estavam dando e recebendo ao mesmo tempo. Cody transpirava por ter de se conter, mas estava determinado a tornar aquela noite inesquecível para Lauren. Ele a beijava no umbigo quando ela o segurou pelos ombros. — Quero você dentro de mim, Cody. Por favor. Agora. Cody a atendeu sem pressa. Quando ia se retirar, Lauren arqueou o corpo, como se não suportasse a separação. Ele retomou a ação. — Não me provoque — implorou ela. — Não estou provocando. Só quero que dure mais para nós dois. — Eu o quero agora, Cody. Sempre poderemos fazer de novo. Ele riu e atendeu, estabelecendo um ritmo erótico. — Cody, nunca imaginei que seria tão... tão...


Lauren se deteve, febril e ardente de prazer. No clímax, gritou o nome do amado. Atingindo o êxtase juntos, Cody estremeceu... nunca experimentara nada tão arrebatador. Ou tão maravilhoso.


CAPÍTULO IX Numa quarta-feira à tarde, Lauren preparava o jantar pensando nas seis semanas desde o baile que Cody preparara. Estava com a menstruação atrasada. Na manhã seguinte, quando ela e Sara fossem fazer compras, compraria um teste de gravidez. Tudo corria tão bem. Lauren divertira-se transformando a casa num lar de verdade. Redecorara os ambientes, escolhera cortinas e uma colcha para o quarto de Sara, acrescentara cor ao térreo. Na semana anterior, terminaram de instalar o laguinho no quintal. Sua vida parecia completa, principalmente depois que conseguira o contrato de paisagismo para o novo complexo comercial em Denver. Para comemorar aquela vitória profissional, Cody levou champanhe para casa e, depois, fizeram amor a noite inteira. Tudo parecia tão perfeito... tornavam-se cada vez mais íntimos. Na cama, pelo menos, Cody parecia ter eliminado as barreiras. Mas Lauren sabia que ele ainda tinha reservas. Se estivesse grávida... De repente, sentiu dois braços fortes envolvendo-a. Ao sorver o perfume da colônia pós-barba, reconheceu o marido e relaxou. — Não ouvi a porta da garagem. Ele afastou seus cabelos com o queixo e beijou-a no pescoço. — Você estava concentrada. Imaginando jardins? Lauren abandonou a salada e se voltou para ele. — Não. Estava pensando em nós. — Eu também. Encerrei o expediente mais cedo e não tenho de estar no hospital senão daqui a uma hora. — Os olhos azuis dele brilhavam de desejo. — Sara está dormindo? — Está. Até pensei em adiantar o jantar. Quer ajudar? — provocou ela, sabendo por que o marido voltara correndo para casa. Cody começou a desabotoar sua blusa. — Pensava em algo mais excitante. — Beijou-a no pescoço novamente e então abriu uma trilha até chegar aos seios. O prazer que ela sentia era sempre uma surpresa e um presente. Ao desabotoar a blusa e tirá-la de dentro da calça jeans, Cody provocou a curva dos seios, arrancando um gemido. — Cody, devíamos subir... Ele abriu o sutiã e meneou a cabeça. — O chão da cozinha me parece ótimo agora. Podíamos tentar chegar ao escritório... O telefone tocou. No segundo toque, Cody ergueu a cabeça e foi atender, sorrindo malicioso. Tinham sido interrompidos várias vezes naquelas semanas e estavam se acostumando. Na verdade, encontravam mais excitação e prazer quando finalmente conseguiam terminar o que começavam. Cody ouviu o interlocutor, ficou sério e então... — Sim, estaremos lá, Frank. A que horas?


Após mais algumas declarações polidas, Cody desligou. Lauren prendeu o sutiã, sentindo a perturbação do marido. — O que foi? — Era o presidente do conselho do hospital em Colorado Springs. Ele quer que eu compareça lá no domingo à tarde para receber uma homenagem por Gretchen... pela contribuição no levantamento de fundos para a nova ala do hospital. — Você vai estar de plantão no fim de semana? — Eli e eu podemos dar um jeito. Lauren sentia que pisava em território hostil. — Quer que eu vá junto? Ele hesitou só um instante. — Sim, quero. Lauren quis perguntar o motivo, saber como ele se sentia em relação à falecida, mas teve medo da resposta... medo de arruinar a felicidade das últimas semanas. Cody olhou as horas no relógio. — Preciso voltar ao hospital. O clima definitivamente mudara e, embora tivessem tempo para uma rápida sessão de amor, Lauren concluiu que não era mais uma boa idéia. Cody reerguera a barreira entre ambos. O que seria necessário para derrubá-la de vez? Lauren despejava refresco num copo para a enteada, atenta à movimentação em torno no salão de eventos do hospital em Colorado Springs. Junto da avó, Sara mastigava um biscoito e balançava as pernas, falando sem parar. Dolores a olhava com carinho e Lauren sabia, não importando o que Cody achava da ex-sogra, que ela se preocupava de verdade com a neta. Avistou Cody num canto, conversando com um senhor barbado de terno escuro. Cody retraíra-se novamente desde o convite para receber a homenagem por Gretchen. Tornara-se mais calado, mais distraído, como se ainda lamentasse a morte da esposa. Lauren se preocupava com aquele novo afastamento do marido. Como o teste de gravidez dera negativo, nem chegara a: comentar com ele a expectativa que vivera. No entanto, a menstruação continuava atrasada e marcou consulta com Eli. Se estivesse grávida, não sabia como Cody reagiria à novidade. Ela ficaria muito feliz, porque um bebê representaria uma ligação definitiva entre os dois. Lauren entregou o refresco a Sara e sentou-se. Cody se achegou e lhe entregou um panfleto com a programação de eventos. — Espero que não seja cansativo demais para Sara. Lauren olhou para a enteada. — Ela ficará bem. Se ficar inquieta, eu a levarei para dar uma volta. — Ela está se apegando a você — comentou Cody, expressando dor no olhar.


Estaria pensando em tudo o que Gretchen não compartilharia com a filha? Doía-lhe o fato de Sara estar criando afeto pela madrasta? Lauren desejou que ele desabafasse o que tanto o perturbava. O presidente do conselho do hospital, Sr. Hollis, foi ao microfone e fez um discurso rápido. Explicou a utilidade da nova ala e resumiu as vantagens tecnológicas dos equipamentos instalados. Ao final, chamou os homenageados. — Tenho uma placa especial para a família de alguém que não está mais entre nós. Gretchen Granger empregou seu tempo e energia a muitas causas desta comunidade. A nova ala que abriga hoje o pronto-socorro foi uma prioridade para ela. Devido a seu esforço, conseguimos angariar os recursos necessários para iniciar as obras em tempo recorde. Hoje, a ala está pronta e equipada, mas, infelizmente, Gretchen não está conosco para vê-la. Sentimos muito a sua falta e com certeza não a esqueceremos. Para receber a homenagem, pedimos que seu marido, o Dr. Cody Granger, suba ao palco, por favor. Cody levantou-se e subiu os degraus da plataforma. O Sr. Hollis entregou-lhe uma placa. — Esta placa é o reconhecimento ao trabalho de Gretchen a este hospital e a esta comunidade. Além disso, haverá outra placa no saguão da nova ala, lembrando-a para sempre. Cody agradeceu rapidamente e voltou a seu lugar na platéia. Lauren sentiu a distância aumentar entre eles. Após outras homenagens e explicações, o Sr. Hollis convidou a todos para uma visita à nova ala. Conhecidos e amigos conversaram com Dolores e Cody, expressando seu pesar. Quando todos finalmente se dispersaram, a ex-sogra pediu: — Posso ver a placa? Verteu lágrimas ao ler as palavras. — Vai pendurar no quarto de Sara? — indagou Dolores. — Ou deixar numa gaveta, onde estão outros pertences de Gretchen. — O tom de Cody era indiferente, mas seu olhar traía as emoções. — Devia ficar num lugar onde Sara pudesse ver sempre, lembrar-se do bom trabalho que sua mãe realizou — forçou Dolores. — Não devia ficar numa gaveta... esquecida. — Sara pode ir ao quarto de hóspedes e ver tudo na gaveta sempre que quiser. A menina pulou da cadeira, indócil. — Vamos para casa? Cody agachou-se e pegou a filha no colo, como se fosse a criança mais preciosa da terra. — Sim, vamos. — Não vai visitar a ala nova, como todo mundo? — questionou a ex-sogra. — Já a visitamos quando chegamos. Sara precisa dormir e acho melhor irmos embora. Dolores franziu o cenho, contrariada. — Sempre apressados. Vocês podiam ir até em casa...


— Outro dia — decretou Cody. Dolores resignou-se. — Está bem. Cody não falou nada durante a viagem de volta a Birch Creek. Lauren respeitou o momento, mas, após algum tempo, decidiu levantar a questão. — Imagino que receber a homenagem por Gretchen tenha sido difícil para você. Ele se concentrava na estrada. — Estou orgulhoso do trabalho que ela realizou na comunidade. — Em que mais ela se envolveu? — indagou Lauren, gentil. Cody olhou-a rapidamente. — Cite uma instituição e Gretchen levantou fundos para ajudar... câncer, diabete, distrofia muscular. — Vocês dois formavam um belo time. Cody não respondeu e Lauren deixou o assunto morrer. Chegaram em casa ao anoitecer. Lauren preparou um jantar leve e colocou Sara na cama. — Vou trabalhar no escritório — avisou Cody. Lauren devia aceitar aquele distanciamento? Devia conceder ao marido o espaço de que ele parecia precisar? Ela não tinha escolha. Se indagasse, ele poderia se afastar ainda mais. E se estivesse grávida? Lauren estava apreensiva com a idéia, mas também tinha esperança. Cody ligou o computador no escritório, mas contemplou a noite pela janela. Receber a homenagem por Gretchen fora mais do que difícil. Sentira-se um hipócrita. Quantas vezes não brigaram por conta da dedicação dela às causas comunitárias? Quantas vezes ele não lhe pedira para ficar mais em casa, tomando conta da filha, em vez de ir a reuniões e organizar leilões? Por ocasião do acidente fatal com Gretchen, o casamento ia tão mal que ele já não sabia o que fazer. O amor que um dia sentira por ela dissipara-se em preocupação pela filha e frustração por não conseguir acertar as coisas. Mas estava casado com Lauren agora. E, nas últimas seis semanas, Cody nunca se sentira tão completo. Mais que esposa, Lauren era uma amiga. E quando faziam sexo... Cody sentia-se perturbado com a vulnerabilidade. Lutara contra aquela fraqueza durante toda a vida. Finalmente, conectou-se à internet e acessou uma biblioteca médica on-line que consultava com freqüência. Mas não conseguia esquecer a expressão de Lauren ao ler uma história para Sara na hora de dormir. Excitava-se sempre que ela lhe sorria ou o tocava inadvertidamente. Ao final de cada turno de trabalho, mal esperava para chegar em casa. Determinado, concentrou-se nos estudos. Aquele casamento seria diferente do primeiro... pois estabeleceria os limites com firmeza. Na terça-feira à tarde, o telefone tocou e Lauren atendeu. Era Eli.


— Lauren, lamento. Você não está grávida. Ela não disfarçou a decepção. — Mas as regras continuam atrasadas... — Por isso, pedi o exame de sangue, queria ter certeza absoluta. Você sofreu tantas mudanças em sua vida recentemente. O casamento. Assumir o papel de mãe de Sara. Não é incomum o estresse afetar o ciclo menstrual. As lágrimas brotaram. — Mas eu tinha tanta esperança... — Eu sei. Mas você e Cody estão casados há menos de dois meses. Dê mais algum tempo. Desde o domingo, Cody parecia distante. Lauren esperava que, caso estivesse grávida, a notícia os reaproximasse. Agora, não sabia o que fazer. Lauren despediu-se de Eli e sentiu vontade de chorar. Mas chorar não adiantaria nada. Em vez disso, preparou um jantar especial e o bolo de chocolate de que Cody gostava tanto. Então, após colocarem Sara para dormir, talvez pudessem se sentar e conversar... Mas, às cinco horas, enquanto ela preparava a cobertura do bolo sob a supervisão da enteada, Cody telefonou para avisar que chegaria tarde, pois se atrasara e tinha muitos pacientes para atender ainda. Desapontada, mas não desanimada, Lauren prometeu deixar um prato para ele no forno e completou: — Estarei aqui esperando por você. Lauren levou a enteada ao parque após o jantar, onde ficaram quase até o anoitecer. Então, voltaram para casa de mãos dadas. Lauren adorava sentir a mãozinha de Sara. Adorava ser mãe. Talvez engravidasse logo. Naquela noite, Lauren perguntaria a Cody se queria outro filho tanto quanto ela. Enquanto a menina escovava os dentes, Lauren desceu para retirar a roupa que deixara na secadora. Ao voltar ao banheiro, não viu Sara e entrou em pânico. — Estou aqui! — avisou a criança. Lauren seguiu a voz abafada e encontrou-a no quarto de hóspedes. Sara estava sentada no chão, diante de uma cômoda com a última gaveta aberta. — Papai guardou as coisas de mamãe aqui — explicou ela, e olhou para a gaveta, como se ali houvesse um tesouro. Lauren entrou no quarto imaginando o que Cody guardara ali. Sara espalhara vários objetos pelo chão. Havia fotografias, um porta-jóias e bugigangas. Sem saber como lidar com a situação, Lauren sentou-se ao lado da enteada. — O que está fazendo? — Olhando. Papai me deixa ver sempre que tenho vontade. Lauren pegou uma fotografia de Gretchen com o uniforme de líder de torcida e os pompons de agitar nas mãos. — Eu conhecia sua mãe — revelou Lauren. — Verdade? — Sara arregalou os olhos, semelhantes aos do pai, curiosa. — Verdade. Fomos à mesma escola, e seu pai também. Sua mãe era a líder


da torcida. — Lauren viu os pompons na gaveta e retirou-os. — Veja, ela usava isto no campo, para animar o pessoal nas arquibancadas. À medida que retiravam mais objetos da gaveta, Lauren se convenceu de que a finada esposa de Cody realmente realizara muito. Como era bonita. Como era perfeita. Cody ainda pensava nela com freqüência? Quando ia dormir? Quando abraçava a nova esposa? Podia deixar de compará-las? Lauren se sentiria como uma substituta pelo resto da vida? Convenceu-se de que não podia sucumbir ao ciúme e continuou vendo os objetos com Sara, desejando que a enteada um dia a visse como mãe. Lauren verificou o relógio e percebeu que passava muito da hora de a criança dormir. — Vamos querida. Hora de nanar. Eu guardo isso tudo depois. Na cama, Lauren leu uma história para Sara e deu-lhe boa-noite. Então, voltou ao quarto de hóspedes e continuou vendo os objetos. Já guardava tudo na gaveta quando ouviu sons no vestíbulo. Cody passou pela porta do quarto, viu-a e estacou. — O que está fazendo? — Sara quis ver o conteúdo da gaveta. Estou guardando tudo, mas conversamos sobre alguns itens, como os pompons... — E o que disse a ela? — Bem, disse que Gretchen foi líder da torcida e que era muito bonita. Você não conversa muito com ela sobre a mãe, assim, pensei... — Respondo quando ela me pergunta, Lauren não deixaria o assunto morrer. Tinham de conversar sobre Gretchen. — Você guardou outras coisas... além das que estão na gaveta? — Guardei as jóias de Gretchen no banco. — A aliança de casamento também? Fez-se silêncio e Cody a fitou intensamente. — O que quer saber Lauren? O casamento não poderia dar certo sem total honestidade, sem esperança de que ele a amasse. — Preciso saber se você ainda ama Gretchen. — Amar? Não tenho certeza se sei o que é isso. Lauren surpreendeu-se com a resposta. — O luto que guarda por Gretchen... você deve sentir muito a falta dela... — Amei Gretchen, sim. Amei a ponto de não enxergar direito. A ponto de não enxergar mais nada. Ela foi o motivo de meu sucesso. Ela foi o motivo do meu empenho na faculdade. Eu vivia para as visitas mensais que tínhamos e achava que ela vivia para isso também. Agora, não sei mais. — Não entendo. — Lauren se compadeceu da amargura do marido. — Gretchen queria o prestígio de ser esposa de médico, e o faturamento que o acompanhava — esclareceu Cody. — Mas ela detestava os horários de plantão e os chamados de emergência. Queria ser esposa, mas não queria ser mãe. Lauren teve dificuldade em absorver a revelação. — Gretchen não queria filhos?


Cody nem piscou. — Detestava a idéia de ficar grávida, porque isso arruinaria seu corpo. E deixava Sara com Dolores ou com babás. Ele não disfarçou a dor ao fitá-la. — Empenhei meu coração e minha alma naquele casamento, mas nem assim consegui salvá-lo. Não consegui convencê-la a passar mais tempo com a filha. Não consegui provar que o meu amor era melhor e mais importante do que o estilo de vida que ela valorizava. Chocada com as palavras, Lauren levantou-se. — Não era feliz com Gretchen? — Feliz? Num casamento que se desintegrava a cada dia? Sabendo que nada do que eu fazia era suficiente? Não, não podia ser feliz. E, quando Gretchen morreu, jurei que nunca mais me entregaria a ninguém, exceto a Sara. Nunca mais se entregaria a ninguém, exceto a Sara. A declaração veemente abalou Lauren. De tão magoada, era difícil respirar. Nutrira a esperança de que um dia Cody viesse a amá-la. Mas, se ele não se permitia amar... — Disse que os votos de casamento significavam algo para você. — Significam. Por isso, não me divorciei de Gretchen. Achei que poderíamos resolver o problema. Achei que com o tempo, com aconselhamento, ela aprenderia a ser mãe de Sara. Era óbvio que Cody ainda vivia o primeiro casamento, a dor... a decepção. — E quanto aos votos do nosso casamento? — questionou Lauren, desesperada. Ele passou a mão nos cabelos. — Fui sincero, Lauren. Prometi ser fiel e serei. Prometi cuidar de você e cuidarei. Lauren não queria que ele cuidasse dela. Queria ser amada. — Sei que nos casamos por causa de Sara, mas trata-se de empenhar o coração e a alma. Quando fiz os votos, fiz com fé e esperança. Sem limites. Cody, um casamento de verdade não pode ter limites! Se ambos não entregarem tudo o que têm, tudo o que são... Ele a interrompeu, meneando a cabeça. — Isso é ilusão, Lauren. "Felizes para sempre" é algo que se lê nos livros. — Não é verdade! Meus pais têm um casamento feliz, e Rob e Kim também. Só porque você nunca experimentou algo assim não significa que não exista. O silêncio pairou entre eles. — Você quer desistir? — indagou ele, sombrio. Não, ela não queria desistir. Amava-o. Mas, se ele não podia amá-la... — Acho que você não pode me dar o que eu quero. Lauren desejou que Cody dissesse que ela estava enganada, rezou para que ele afirmar que precisava dela... que com o tempo o sentimento floresceria... que talvez o casamento voltasse a ser algo especial para ele. Mas Cody não se manifestou.


— Erramos ao nos casar por causa de Sara. Uma criança não pode ser a base de um casamento... pelo menos não o tipo de casamento que eu quero — concluiu Lauren. — Então, você quer desistir? — Quero a devoção que vejo nos olhos de meus pais um para o outro. Quero uma ligação que nada pode destruir. — Você quer o impossível. — Se acha isso impossível, então é melhor que eu vá embora antes que Sara se apegue mais a mim. Lauren fora enfática, mas tinha esperança de que Cody a detivesse... que ele percebesse que, se ambos acreditassem, poderiam viver felizes para sempre. — Tem razão. Seria melhor para Sara se você fosse embora agora. Cody deixara claro que não acreditava no amor... que o casamento deles nunca fora real... que as últimas semanas não significaram nada. Lauren foi para a porta como um autômato, entorpecida a ponto de não sentir nada. — Vou pegar umas roupas e sair hoje mesmo. Deixe o resto de minha mudança na casa de meus pais. Ficarão lá até eu alugar outro apartamento. Só vou me despedir de Sara. Cody não reagiu. Não a deteve. Permitiu que ela tomasse o corredor. Lauren levou a bolsa com roupas para o carro, os olhos marejados. Ao manobrar para fora da garagem, desatou a chorar. Sentia o coração despedaçado e sabia que não conseguiria se recuperar jamais. Meia hora após a partida de Lauren, Cody permanecia completamente anestesiado. Foi ao quarto da filha e velou seu sono por um longo tempo. Então, olhou ao redor. Havia cortinas nas janelas agora. Lauren mandara emoldurar alguns desenhos de Sara e os pendurara na parede. Um móbile de anjinhos pendia num canto e a colcha da cama de Sara tinha aplicações de gatinhos e cachorrinhos. Tudo trabalho de Lauren. Cody desceu e viu mais evidências da presença dela. O arranjo de flores na mesa, uma tapeçaria na sala, almofadas. Lauren acrescentava calor em tudo o que tocava. Mas acabara de partir. Tal qual sonâmbulo, Cody foi à cozinha e viu o bolo de chocolate no balcão. Saiu ao quintal e viu o laguinho que Lauren projetara. Sentado numa cadeira de jardim, permaneceu ali por um bom tempo, pensando na vida. A reflexão estendeu-se pela madrugada, sozinho na cama enorme. O dia amanheceu e Sara o crivou de perguntas. Onde estava Lauren? Quando ela voltaria? Cody temia responder à filha, pois, dessa forma, a situação se tornaria real. Inventou que a madrasta tivera de se afastar por algum tempo. Felizmente, não tinha consultas marcadas para aquela manhã. Telefonou para o consultório e pediu para a recepcionista remarcar os compromissos do período vespertino. Então, ligou para Dolores. — Eu lhe devo desculpas — declarou, de chofre.


Como o silêncio dominava na outra ponta da linha, ele continuou: — Eu estava zangado com Gretchen. Ainda estou, acho. Por ela não ser o tipo de mãe que eu queria para Sara. Desde que ela morreu, tenho extravasado a raiva em você. Após uma pausa, a ex-sogra reconheceu: — Sei que Gretchen não agia direito com Sara. Tentei conversar com ela várias vezes, mas ela não me ouvia. Gretchen só dizia que não queria ficar trancada em casa o tempo todo. Mas era algo mais profundo, e acho que eu me culpava. Por isso, tentei ajudá-lo tanto com Sara... mas você não queria a minha ajuda. Você não queria minha neta perto de mim. — Eu estava errado. Você ama Sara e ela precisa da avó. — Vai permitir que ela venha passar algum tempo comigo? — Na verdade, tenho muito em que pensar e seria melhor se Sara ficasse com você por alguns dias. Mas entendo que possa ter planos... — Bobagem. O que mais tenho a fazer? Jogar tênis? Almoçar com minhas parceiras de carteado? Minha neta é muito mais importante, Cody. — Eu sei. — No fundo, ele sempre soube disso. Cody percebeu que sua raiva fora uma barreira entre ele e a ex-sogra. Agora, a barreira fora derrubada. Talvez pudessem ser amigos dali para a frente. A caminho de Colorado Springs, Cody entoou canções com Sara para descontraí-la, mas só pensava em Lauren e no casamento abalado. De volta a Birch Creek, optou por um passeio de motocicleta, para arejar. Trocou de roupa, montou na máquina e seguiu sem rumo. Lembrou-se do primeiro passeio de motocicleta de Lauren, com os braços apertados em torno de sua cintura. Ainda podia sentir o perfume dela, ouvir a voz suave... De repente, algo surgiu na estrada. Um esquilo... um cachorro... uma raposa? Impossível saber, mas não queria atingi-lo. A motocicleta derrapou e caiu sobre sua perna. Por alguns segundos, Cody não se mexeu. Então, devagar, afastou a moto, tirou o capacete e viu os ferimentos no braço e cotovelos. A calça jeans se rasgara e era doloroso respirar. Devia ter quebrado costelas. Com dificuldade, ergueu a motocicleta e tentou dar a partida. Não funcionou. Por que não pegara o telefone celular? Andava perturbado demais com a partida de Lauren. Largou a motocicleta e o capacete na estrada e começou a caminhar, tentando ignorar a dor nos ferimentos.


CAPÍTULOX Tendo já examinado a perna e o braço de Cody, Eli agora lhe apalpava as costelas. Cody reteve o fôlego ao sentir uma dor forte. — Vamos enfaixar, mas ainda vai doer por algum tempo — concluiu o velho mentor. — E não faça peso nessa perna. Acho que tenho uma muleta na sala de suprimentos... Por que não parou no primeiro telefone, em vez de vir andando até aqui? — Eu sabia que você tinha pacientes. — Podia ter ligado para Lauren. Cody sentiu outra pontada de dor, mas essa não tinha nada a ver com os ferimentos decorrentes do acidente com a moto. — Ela... está trabalhando hoje — desconversou. Eli terminou o exame e umedeceu um curativo com anti-séptico para limpar o rosto esfolado de Cody. Para distraí-lo, continuou conversando. — Está desapontado por ela não estar grávida? Grávida? — Eu nem sabia que ela poderia estar — replicou Cody, sem pensar. — Xiiii, falei demais? Acho melhor você conversar com ela sobre isso. A moça parece acreditar que o sol se ergue e se põe em você. Deu a impressão de que ter um filho seu seria a coisa mais maravilhosa que poderia lhe acontecer. Cody encarou o velho amigo. — Acho que ela não pensa mais assim. Houve uma longa pausa. — Quer me contar o que aconteceu? Cody ainda tentava avaliar tudo. — Pensei que o casamento seria racional... prático. Lauren e eu vemos o mundo da mesma forma. Ela é tão diferente de Gretchen... tão carinhosa e doadora. Se Eli se surpreendeu, não o demonstrou. — Então, qual é o problema? Cody sentia-se tonto com a enxurrada de pensamentos. Revia seu casamento com Gretchen, a frustração por não saber o que estava errado, a raiva por Dolores. Mas o que o preocupava agora era sua atitude em relação ao casamento, que o mantinha atrelado ao passado, em vez de viver o presente com Lauren. — Eu só queria me proteger. Não queria sentir. Não queria fracassar novamente. Mas Lauren foi embora ontem à noite, e eu sinto como se tivesse chegado ao fundo do poço. — Hum... — Eli refletia. — Aparentemente, você está sentindo algo. Está sentindo tanto que não sabe como agir, não sabe o que fazer. A confusão que Cody sentia chegava a causar dor. — Algo assim. Não sei, Eli. Dei a Gretchen tudo o que podia, e ela menosprezou. Lauren me deu tanto... — E você menosprezou o que ela lhe ofereceu?


Cody sentiu o peso da atitude. — Sim, menosprezei. O silêncio na sala enfatizou o reconhecimento do erro. — Vou pegar a muleta — avisou Eli. — Eu o levo para casa. Precisa erguer essa perna e descansar. Posso ficar de plantão no seu lugar hoje. Enquanto aguardava, Cody percebeu a profundidade dos sentimentos que tinha por Lauren. Negara a existência deles por semanas, mas isso não significava que não estivessem lá. Além disso, ele tinha de ser honesto consigo mesmo e dar nome aos bois. Não tinha só sentimentos por Lauren... amava-a. Cody não sabia quando ou como acontecera. Seria possível que aquele sentimento puro e verdadeiro tivesse começado anos antes, quando apreciara estar na companhia dela? Ou começara ao se reencontrarem, quando ele retornou a Birch Creek? Com certeza, o sentimento se aprofundou quando ela mostrou carinho por sua filha. Negara tantas coisas... a raiva de Gretchen, a raiva de si mesmo por fracassar e não poder salvar seu casamento. Entendia que se sentira atraído por Lauren por causa de sua ternura, sua solidariedade, seu coração compassivo. De algum modo, após todos aqueles anos, ela o perdoara por tê-la magoado e ele ainda conseguira magoá-la novamente! Ele a magoara já ao negar emoção ao repetir as palavras do pastor na cerimônia de matrimônio. Ele a magoara quando não confiara no amor dela por Sara. Ele a magoara por não ser capaz de admitir o que sentia por ela. Lauren merecia um marido capaz de abrir completamente o coração para ela. Pois ele abriria. Mas seria tarde demais? Amava Lauren como nunca amara ninguém antes. Era um sentimento tão profundo e arrebatador que não podia imaginar sua vida ou a de Sara sem ela. Mas Lauren o perdoaria uma segunda vez? Permitiria que ele provasse seu amor? Quando Eli voltou, Cody já decidira o que fazer. — Preciso de um favor. — Diga — incentivou o amigo. — Quero que me leve ao Centro de Jardinagem MacMillan. — Cody, você precisa ir para casa descansar... — Não posso descansar. Não até ver Lauren. Preciso corrigir um erro. Eli avaliou-o cauteloso e acabou cedendo. — Está bem, eu o levarei lá. Porque sei que, se não o fizer, você vai acabar chegando lá com o próprio vapor, apesar do custo. Lauren permanecia à prancheta de desenho no escritório do centro de jardinagem, mas não conseguia se concentrar em nada. Quando a porta se abriu e Rob entrou, encolheu-se. Ele a deixara sozinha o dia todo, mas agora, pela expressão no rosto dele, sabia que ia questioná-la. Mesmo assim, tentou ignorá-lo, pegou um lápis e fez hachuras no esboço


que preparava. — Já está pronta para conversar? — indagou ele, implacável. — Sobre o quê? — Chegou na casa de papai e mamãe com uma bolsa de roupas, disse a eles que ficaria até encontrar um apartamento e mais nada. Mal conversou comigo durante todo o dia. E ainda pergunta sobre o quê? Lauren encarou o irmão. — Talvez não seja da sua conta. Inabalável, Rob se sentou na ponta da mesa. — Talvez não. Mas vou me intrometer, porque é óbvio que está se sentindo miserável. Lauren não podia negar, e sabia que Rob não desistiria. Desabafou: — Cody não me ama. Disse que nunca vai se permitir me amar. Rob digeriu o comunicado. — Tem a ver com o primeiro casamento? Lauren assentiu. — Não preciso de detalhes, mana. Mas quero que saiba que vejo um padrão aqui. Você fica fugindo de Cody Granger. — Eu não... — Você fugiu dele no dia em que o flagrou beijando Gretchen na escola. Depois, ele quis levá-la ao baile, mas você recusou. Já imaginou que podiam ter se entendido, se tivesse ido com ele? — Ele amava Gretchen! — Amava? Talvez pensasse amar, sem nada para comparar com o relacionamento que tinha com ela. Podia ter acontecido algo entre vocês dois, mas você não deu chance. Lauren não precisava que Rob a fizesse se sentir pior. — Eu não tinha chance alguma — rebateu. — É o que você diz. — Após longa pausa, o irmão a desafiou. — Agora, fugiu de Cody outra vez, após a discussão sobre Sara. Aquela noite ficaria gravada para sempre em sua lembrança. — Eu precisava pensar. — Você fugiu. Que tipo de mensagem acha que envia a um homem? — De que lado você está? — protestou Lauren, magoada com a crítica. — Do seu. Ao pensar em tudo o que o irmão dissera, Lauren percebeu como sempre se sentira insegura em relação a Cody. Por isso vivia fugindo? Não se achava boa o bastante para ele? Ou estava simplesmente assustada com a imensidão do que sentia por ele? Amava-o tanto. Não demonstrara esse sentimento todos os dias após o casamento? Não provara seu amor? Cody não via que ela o amava, não sentia isso? Mas você nunca lhe disse que o amava, acusou uma voz interior. E você fugiu, continuou a voz, mais gritante.


Lauren lembrou-se do baile só para dois que ele improvisara na sala de casa. E se Cody realmente sentisse algo por ela? E se a dor do passado e o orgulho estivessem apenas mascarando o sentimento? A porta abriu-se novamente. Lauren esperava ver a mãe ou o pai e se espantou ao ver Eli com Cody... e levou um choque ao ver o amado com curativos no queixo, braços e perna, com a calça jeans rasgada, apoiado numa muleta! — Mas o que aconteceu? — exclamou, aflita. Cody deu de ombros. — Nada de mais... Eli não pensava assim. — Cody caiu da motocicleta e devia estar deitado na cama, mas insistiu em vir para cá. — Voltou-se para a porta e acrescentou por sobre o ombro: — Se precisarem de mim, estou vendo as begônias. Rob olhou para Cody e para Lauren e foi saindo também. — Vou mostrar algo mais interessante do que begônias a Eli. Gritem se precisarem de um árbitro. Lauren mal os ouvira, aflita demais por ver seu marido todo machucado. E ele estava machucado mesmo. Isso era óbvio. Desejou poder remover a expressão de sofrimento no rosto dele, porém permaneceu imóvel. — Como aconteceu? Cody a fitou e teve certeza de que ela ainda se importava. Afinal, não conseguira destruir tudo o que ela sentia por ele. Sabia que não merecia uma segunda chance. Não merecia aquela mulher que se casara com ele para garantir a guarda de sua filha. Uma mulher que tinha outras motivações também. — Eu estava para os lados do riacho quando derrapei. Mas não foi nada grave. Mancou até o fundo do escritório e se recostou na mesa de Rob, desejando abraçar a esposa. Mas ainda não podia fazer isso, e rezou para encontrar as palavras certas, para corrigir todos os equívocos. — Fui um idiota, Lauren. Queria fazer tudo certo, mas acabei fazendo tudo errado. Lauren o avaliou por um segundo. — Eu... não devia ter fugido de você ontem a noite. Não foi a melhor maneira de lhe mostrar... o quanto você significa para mim. Não foi a melhor maneira de ensinar você a acreditar no amor novamente. Cody sentiu o coração disparar e tomou nas mãos o rosto amado, desejando estar interpretando direito, desejando que ela acreditasse no que ele tinha a dizer. — Eu realmente acredito no amor. Acredito no seu amor. Você o demonstrou para mim de tantas formas. Eu estava cego em não ver antes. Fui idiota em não perceber o quanto a amava... o quanto a amo. Lauren arregalou os olhos, surpresa, e as lágrimas brotaram. — Oh, Cody. Está falando a sério? Não está apenas... — Dizendo isso para continuarmos casados? Para garantir a guarda de Sara? Lauren tentou se voltar, mas ele a impediu.


— Errei tanto com você... — Tinha de lidar com muitas coisas — justificou Lauren, ainda incrédula. — Nós nos casamos achando que seria conveniente, desejando que desse certo... Ele lhe acariciou o rosto e meneou a cabeça. — Você veio a mim com tanta generosidade de espírito... eu devia estar de joelhos, agradecendo. Em vez disso, mantive um cadeado no meu coração, com medo de que você o invadisse. Ele passou a mãos nos cabelos sedosos, determinado a convencê-la de que seu amor era verdadeiro e duraria. — Mas conseguiu se infiltrar mesmo assim, Lauren. Eu a amo por tantas razões que nem posso enumerá-las. Amo o jeito como me faz rir, amo seus olhos castanhos, amo seu sorriso doce. Você é tudo o que eu sempre quis e, se me der outra chance, provarei o meu amor todos os dias e de todas as formas que puder. Quer ser minha mulher? Permite que eu a ame pelo resto da vida? Lauren deixou as lágrimas rolarem, a certeza do amor de Cody brilhando em seus olhos. — Sim, serei sua mulher! — Esmagada pelo abraço forte do marido, acrescentou: — E prometo nunca mais fugir de você. Beijaram-se, e o mundo se tornou mais brilhante, mais leve, mais cheio de alegria e esperança. Um mundo maravilhoso que Cody nunca pensara conhecer. A resposta de Lauren era a promessa de que teriam o resto de suas vidas para provar o amor um pelo outro. Quando finalmente se afastaram para tomar fôlego, Cody enxugou as lágrimas no rosto dela com todo o carinho. — Sara vai ficar com Dolores esta noite... talvez por alguns dias. Eu finalmente percebi que estava punindo minha ex-sogra pela decepção do casamento com Gretchen. — É preciso coragem para admitir isso — aprovou Lauren. — É preciso coragem para amar um homem que admita isso. Ela negou. — Não preciso de coragem para amar você, Cody. É tão natural quanto respirar. As palavras preencheram todo o vazio que Cody sentia. Ele nunca fizera nada na vida para merecer uma mulher assim, mas, se a conquistara, faria tudo a seu alcance para garantir sua felicidade. Abraçou-a de novo. — Vamos para casa. Quero fazer amor com você. Ela tocou gentilmente o curativo em seu queixo. — Eli prescreveu repouso. Cody lhe tomou a mão e sorriu. — Mas vamos ficar na cama... Ele não precisa saber que não estou descansando. — Nada o impediria de fazer amor com a esposa naquela noite. Lauren sorriu cúmplice. — Como você é o médico, pode se responsabilizar pelas conseqüências. Ele ficou sério.


— Preciso de você. Abraçados, seus corações batiam como um. Cody beijou Lauren e entendeu que não apenas a amava, como a trataria com carinho infinito... até o fim dos tempos.


epílogo Estavam no final de junho e Lauren e Cody caminhavam de mãos dadas pelos jardins que ela projetara para o complexo comercial em Denver. Ele a encorajara durante todo o processo e reservara o dia na agenda para comparecer à inauguração. Os pais, Kim, Rob, Lindsey e Matthew, bem como Dolores e Sara, haviam acabado de se retirar, após prestigiar o evento e Lauren. A ex-sogra se oferecera para ficar com Sara naquela noite, para que o casal usufruísse algum tempo a sós. Lauren viu Craig Davis se aproximar da fonte circundada por bancos de madeira. — Deve estar muito orgulhosa — comentou o arquiteto. — Estou ouvindo um elogio atrás do outro. O jardim de esculturas no pátio é um sucesso. — Obrigada, Craig. Cody pousou o braço em seus ombros e pressionou de leve, encorajador. — Eu lhe disse que as críticas seriam favoráveis. — Já não tinha mais ciúme de Craig. Ambos estavam seguros do amor recíproco e sentiam que podiam mover montanhas juntos. E não apenas mover montanhas, mas... Assim que iniciassem o jantar íntimo naquela noite, Lauren contaria a grande surpresa ao marido. Sorriu, externando todo o amor que sentia por ele. Craig pigarreou. — Bem, vou circular um pouco. Lauren, ligue para mim quando já tiver algum esboço para o novo centro cultural. O arquiteto se afastou. — Parece que você se estabeleceu de vez — elogiou Cody, adulador. A carreira era importante para Lauren, mas, de repente, ela não pôde esperar mais para dar a grande notícia. Não precisava de um restaurante tranqüilo, uma mesa para dois e luz de velas. Puxando o marido pela mão, foi a uma parte do jardim que formava um ambiente mais íntimo, com um banco de madeira. — Para que tanta pressa? — questionou Cody, risonho. — Preciso contar uma coisa. — Vou precisar me sentar para ouvir? — Talvez... Cody ficou preocupado. — O que é? Alcançaram o banco e sentaram-se. — Eu me consultei com Eli novamente. Desta vez, queria ter certeza... — Certeza do quê? — Havia esperança nos olhos dele. Lauren manteve o suspense só por um instante. — Sara vai ganhar um irmãozinho ou irmãzinha. Exultante, Cody a abraçou com força. — Tem certeza? — Absoluta. É oficial. Está contente? — Você tem dúvida?


Havia tanto amor na voz dele, tanto amor no olhar, que Lauren não podia duvidar de nada. Sua vida com Cody era um sonho tomando-se realidade. Sempre que ele a beijava, a paixão e a excitação pareciam se renovar. E, quando faziam amor, voltava a ser uma noiva, tratada com carinho, sabia que seria assim pelo resto da vida. — Vamos para casa? — sugeriu, dengosa. Ele se levantou, levando-a junto, mas continuou abraçado a ela. — Nem todos já a parabenizaram pelo belo trabalho. — Não preciso dos cumprimentos. Só preciso de você... Ele a estreitou, terno. — Vamos ficar assim juntos a noite inteira. Erguendo o queixo, ela indagou: — Vamos telefonar para Sara e contar sobre o bebê? — Claro. Ou podemos esperar até Dolores a trazer de volta, amanhã à noite. — Não, eu gostaria de contar a ela hoje. Cody acariciou o rosto da esposa. — Ela vai adorar saber que vai ter um irmãozinho ou irmãzinha... — Podemos convidar Eli e Dolores para padrinhos? — Tem certeza de que a sua família não vai se importar? — Meus pais e meu irmão já vão agir como padrinhos, independentemente da oficialização. Cody sorriu. — Então, é uma idéia maravilhosa. Quero que Dolores perceba que sempre será parte da nossa família. E, com Eli levando-a a concertos e ao teatro, quem sabe o que pode acontecer se lhes dermos mais tempo... Eli e Dolores estavam saindo juntos havia um mês. O médico também viria para jantar no dia seguinte, bem como os pais de Lauren, Kim e Rob. — A casa vai ficar cheia amanhã, com todos presentes. — Eu não sabia o que era uma casa cheia, até me casar com você. — Cody falava terno e carinhoso, e Lauren sabia o que ele queria dizer. — Quantos filhos você quer? — indagou, suave. — Acho melhor não planejarmos muito. — De mãos dadas, Cody a puxou para si e beijou na testa. — Tem certeza de que quer ir embora. — Absoluta. — Confiante no amor que partilhavam, Lauren se pôs na ponta dos pés e o beijou sonoramente. Também apertou o abraço, sem se importar com quem pudesse estar olhando. O amor de Cody a deixava confiante, segura e completa. Lauren pertencia a Cody, e Cody pertencia a Lauren. Para sempre.

KAREN ROSE SMITH mora na Pensilvânia com o marido, com quem é casada há vinte e nove anos. Ela acredita em finais felizes e adora escrever sobre o tema. Foi professora e agora escreve romances em tempo integral. Adora se


corresponder com suas leitoras, que podem lhe escrever atravÊs do endereço: P.O. Box 1545, Hanover, PA 17331.


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