Quinta-feira, 14 de dezembro de 2017
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JU
Jornal de Uberaba
especial
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Pra quem pensa que focinho de porco é tomada, uma visão bem humorada do Cruxen mostra o Trio Elétrico dos porquinhos amestrados, com os diversos modelos adotados no Brasil.
Conte sua história
Cruxen, o galo e a colcha de retalhos Chico Marcos Dizem, e com certa razão, que os descendentes de Fernando Sabino, o lendário comerciante, trazem consigo algumas vertentes senão estranhas, pelo menos curiosas. Um certo Luiz Cláudio Sabino Cruxen, artista de obra publicada, de obras ocultas e até mesmo de obras sorrateiramente escondidas do respeitável público devido à falta de interesse pela fama, tem se revelado, vez por outra, num honorável jardineiro. Jardineiro, carpinteiro, contador de causos e, nas horas vagas, artista plástico com extensa obra de desenhos, de quadrinhos, charges e ilustrações que remetem a uma cabeça cheia de imagens criativas, convocando o incauto observador a reflexões. Somente depois de várias intimações e sob ameaças da “mão pesada de lei”, ele
decidiu abrir os portões da bela casa em que vive no Vila Olímpica, na companhia de três mulheres. Hanne Wehbe, a esposa; Gabriela, a consultora jurídica e Nininha, a guardiã da memória, portadora de uma lucidez admirável aos 95 anos de vida. Lá, a vida é tranquila, exceto na cabeça criativa de Cruxen, que não para de mastigar imagens, de imaginar formas, de criar frases, de inventar saídas estéticas para o instinto indomável do artista confinado na folha branca e no singelo lápis preto. Há quem diga que o lápis dele tem algo de Salvador Dali. Pois é... é dali mesmo, daquela prancheta, que nasceu o rei do terreiro, um galo maiúsculo, feito a partir da receita de um frango xadrez, misturado na panela em minuciosos quadrinhos que foram se multipli-
cando em formas até dar à luz a um garboso galináceo macho adulto, portador de crista imponente, de esporas belas e torturantes. Com o tempo o galo ganhou vida própria, ao ponto de acordá-los de madrugada com sua inconfundível onomatopeia cocorocó. Quem mais convive com as insalubridades do galo é o casal, eletrizado em delírio sob a colcha de retalhos que remete a campos cultivados, numa composição que denota felicidade, numa viagem supostamente erótica, sob as planícies suavizadas de um cobertor certamente mágico. Nos pés, bem no fim da tecitura complexa de retalhos bem costurados, um tratorzinho maroto lembra a todos que a labuta é irmã do prazer, e da necessidade de arar o campo para deleitar no sono.
Hanne e Cruxen, reencontro décadas depois do namoro na adolescência