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Ano XXII - n° 38 - Junho 2008 Diretor: Irmão AMEstaún Comissão de Publicações: Irmãos Emili Turú, AMEstaún, Onorino Rota, e Luiz Da Rosa.

índice Um longo caminho até o encontro Ir. AMEstaún

Coordenação dos tradutores: Irmão Carlos Martín Hinojar Tradutores: Espanhol: Irmão Carlos Martín Hinojar Francês: Irmão Josep Roura Bahí Irmão Jean Rousson Irmão Louis Richard Inglês: Irmão Douglas Welsh Irmão George Fontana Irmão Des Crowe Irmão Don Neary Matteo Bruni Português: Irmão Aloisio Kuhn Pe. Eduardo Campagnani Fotografia: AMEstaún, Arquivos da Casa geral

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Um novo passo na vida do Instituto Ir. Emili Turú

O caminho percorrido em Mendes Chema Pérez Soba

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O MUNDO MARISTA CONVERGE PARA MENDES – Recepção no aeroporto – Recepção em Mendes

Diagrama e fotolitos: TIPOCROM, s.r.l. Via A. Meucci 28, 00012 Guidonia, Roma (Italia) Redação e Administração: Piazzale Marcellino Champagnat, 2 C.P. 10250 - 00144 ROMA Tel. (39) 06 54 51 71 Fax (39) 06 54 517 217 E-mail: publica@fms.it Web: www.champagnat.org Edita: Instituto dos Irmãos Maristas Casa geral - Roma Imprime: C.S.C. GRAFICA, s.r.l. Via A. Meucci 28, 00012 Guidonia Roma (Italia)

– Una velha fazenda

ASSEMBLÉIA INTERNACIONAL 1.INAUGURAÇÃO – Inauguração – Saudação e boa-vindas Ir. Claudino Falchetto, Provincial do Brasil Centro-Norte – Introdução à Assembléia Internacional da Missão Marista Érica Pegorer – Discurso de abertura da Assembléia Ir. Seán Sammon, Superior geral – Entrada do logotipo


2. O DOM DOS JOVENS E DA VOCAÇÃO MARISTA – Escutando os jovens Cláudia Lanieth Faquinote

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– Aprendendo com respostas maristas Ir. Juan Miguel Anaya – Compartilhando nossa vocação Ir. Pau Fornells

3. SONHANDO O FUTURO QUE DEUS QUER – Os círculos sagrados e os sonhos de Deus para o Instituto Marista Mercia Procopio

4. O SONHO DE IRMÃOS, LEIGOS E LEIGAS – Um coração uma missão

5. COMPROMETIDOS COM A MISSÃO MARISTA – Mendes: O começo de uma travessia! Dilma Alves – Discurso de encerramento da Assembléia Ir. Seán Sammon – Uma assembléia profética Ir. Pau Fornells

ÁLBUM DE LEMBRANÇA


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Ir. AMEstaún

Um longo caminho até o encontro Um fruto maduro do Vaticano II

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Assembléia internacional da missão marista, realizada em Mendes, foi o nascimento de uma realidade que passou por uma gestação lenta, que durou muito tempo. Os frutos do concílio Vaticano II, nascidos e amadurecidos nas terras fecundas da Igreja, cultivadas naquela parcela marista, regadas abundantemente pelas águas do Espírito Santo,

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começam a aparecer diante dos olhos da história. Um desses frutos foi a Assembléia internacional da missão marista. Analisando as estatísticas globais do Instituto, pode-se comprovar que o número de casas e de alunos maristas esteve sempre em aumento ao longo da história, com exceção dos períodos que correspondem às duas guerras mundiais. O índice mais alto

referente ao número de irmãos do Instituto, de acordo com as estatísticas oficiais, corresponde ao ano de 1965, quando contava com 9.752 professos. A partir desta data, até os nossos dias, começou a diminuir o número de irmãos e, paradoxalmente, existe um aumento do número de casas e de alunos. Este fenômeno complexo se explica necessariamente pela presença dos leigos nas obras maristas. A sintonia dos irmãos com o laicato, a aceitação do fato que o trabalho pode ser realizado em conjunto e a satisfação explícita manifestada da parte do Instituto, foram abrindo caminho muito mais por causa dos acontecimentos e da realidade da vida do que através de decretos ou leis. O 20° Capítulo geral, ao considerar a realidade do Instituto em todo o mundo, reconheceu que, embora os irmãos fossem em menor número, o Instituto nunca tinha tido uma difusão tão grande como aquela do final do século 20. A presença em todo o mundo do carisma e da pedagogia marista tornouse possível graças aos milhares de leigos que trabalham de maneira integrada na obras maris-


tas. Pela primeira vez na história, o Capítulo geral recomenda ao Conselho geral de estabelecer processos e estruturas necessárias para colocar em comum as vozes dos irmãos e dos leigos.

Uma história que vem de longe A verdadeira e fundamental história da presença e da colaboração dos leigos nas obras maristas vem de muito longe na instituição. Esta presença tornouse significativa para o Instituto quando, depois da expulsão dos irmãos da França, em 1903, não se podia mais manter a mesma unidade pedagógica, até então obtida com a adoção do “Guide des Écoles”, seguido durante décadas. Os irmãos, espalhados por todo o mundo, tinham que adaptar a pedagogia marista às realidades e às culturas de países muito diversos. O Instituto assume um novo paradigma pedagógico. O Ir. André Lanfrey,

em uma de suas obras, aventura a hipótese de que com o fim do “Guide des Écoles”, cuja revisão foi decidida pelo 11° Capítulo geral (1907), como obra de referência obrigatória para a pedagogia marista, iniciou-se o período das “pedagogias maristas”. Com esta mudança de paradigma teve início uma evolução interminável da estrutura pedagógica da escola marista, que durou por décadas. O desenvolvimento social, o contínuo aumento de solicitações para ingressar nas salas de aula maristas e a complexidade das exigências científicas, técnicas, pedagógicas e educativas, tudo isso não podia mais ser atendido apenas por uma comunidade de irmãos e assim começam a ser introduzidos em suas estruturas habituais aqueles que, naquela época, eram chamados de “empregados”, “colaboradores civis” ou ainda “professores auxiliares”. Este é o momento histórico da pedagogia marista, quando passa da “escola dos ir-

mãos”, dirigida por uma comunidade de irmãos, à “escola marista”, coordenada por uma “comunidade educativa” integrada por irmãos e leigos.

Nova mudança de paradigma A “escola marista” não nasceu da noite para o dia, mas viveu um processo evolutivo, no qual os “professores civis”, ou “auxiliares”, começaram a se sentir valorizados como “leigos”, como membros de uma comunidade de fé, na qual sem os leigos não haveria Igreja. Quando o leigo se cala, todos sofrem as conseqüências. Se ele permanece passivo, todos ficam debilitados. Se ele se afasta, todos ficam diminuídos. Plenamente membro da Igreja, o leigo participa de sua missão total. Com este passo histórico, no qual a Igreja descobre a importância do laicato, na escola, no colégio ou na universidade marista se adota um novo paradigma, Junho 2008

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apresentação Ir. AMEstaún

Minha avaliação é muito positiva. Além de ter sido uma experiência de aprendizagem intercultural, suscitou o começo de um novo caminhar. Fomos testemunhas de um novo sopro do Espírito que permite e concede a oportunidade de tomarmos consciência do convite a avançar com mais claridade e organização, confiando em nosso potencial de instituição internacional. Este encontro chegará a fronteiras inimagináveis. Agradeço ao Conselho geral por estar na totalidade, aqui conosco, compreendendo a importância de escutar as necessidades de quantos trabalham na obra, para conseguirmos mais do que uma missão partilhada, uma missão assumida por todos os que fazem parte da família marista. Ana Villazón Laso, México Central

nascido dos fundamentos teológicos do concílio Vaticano II. De uma escola dos irmãos, na qual o leigo era considerado como “civil”, como “auxiliar”, como “companheiro de trabalho”, compartilhando com os irmãos, no melhor dos casos, seu “ideal”, seu “espírito”, seu “trabalho”, etc., como expressões do bom entendimento, passa-se, depois de um longo período de gestação, a compartilhar um “processo educativo” e a “herança” comum de um “carisma” e de uma “missão”. Este modo de pensar introduziu um novo paradigma educativo na concepção da pedagogia marista. Do paradigma “pedagógico” passou-se ao paradigma “teológico”. O “professor civil”, ou “auxiliar, começa a ser visto na instituição não apenas como um trabalhador assalariado, não apenas como um suplente ou complemento, mas como um herdeiro e partícipe de um carisma. Esta mudança de mentalidade progrediu em paralelo com os acontecimentos determinantes da história marista. Um caminho paralelo às exigências do paradigma pedagógico marista e do seu paradigma teológico.

Convidados e observadores Analisando as circulares dos superiores a partir do final da 2ª. Guerra Mundial, observa-se que durante os generalatos dos irmãos Leónidas e Charles Raphäel, anteriores à realização do concílio Vaticano II, “as estatísticas de vários anos assinalam em determinados setores do Instituto uma desproporção notável entre o número de alunos e o do pessoal docente” (Leónidas, 1947). O Ir. Charles Raphäel, por seu lado, alguns anos depois, comprova que “na maioria de nossas províncias, o número dos professores civis aumenta rapidamente em nossas escolas. A presença deles é muitas vezes necessária, se quisermos prosseguir o ritmo de crescimento da população escolar”. Mas, por outro lado, vêse como inconveniente o “vínculo com um grande número de professores civis”. “Em geral estamos contentes de poder contar com sua ajuda. Sem eles, muitas de nossas escolas teriam desaparecido há muito

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tempo. Cada vez mais torna-se freqüente chamá-los para que colaborem, mas deve-se conservar um justo equilíbrio, uma medida que varia segundo as condições em que funcionam as diversas escolas” (Charles Raphäel, 1963). O Ir. Basilio, que dedicou mais de duas mil páginas para escrever suas circulares, dedica apenas algumas poucas delas para valorizar e promover o laicato. Sua grande preocupação foi prioritariamente os irmãos. “Procuraremos nos limitar a indicar alguns pontos sobre o tema (dos leigos) – escreve –, para um maior esclarecimento e, principalmente, para poder orientar o entusiasmo dos irmãos em suscitar e formar estes prezados e, hoje mais do que nunca, importantíssimos membros do Corpo Místico do Cristo” (Basilio, 1968). A partir do concílio Vaticano II, os leigos passam a ser considerados nos documentos de animação do Instituto, segundo as orientações do novo paradigma teológico. “O que fica muito claro é que a teologia da Igreja, elaborada no Concílio, no sínodo sobre os leigos (1987), e presente na exortação apostólica Christifideles laici, do Papa em 1988, reconhece a identidade do laicato, sua dignidade e santidade, responsabilidade e missão”, escreve o Ir. Charles Howard. E de suas mãos sai também a circular “Semeadores de esperança” (1990), em que recorre à “Carta dos animadores maristas aos Irmãozinhos de Maria”, intitulada “Marcelino vi-

ve hoje”, elaborada em Burgos, pelos coordenadores das províncias da Espanha. Nela, os leigos afirmam: “Sentimos vivamente o carisma de Marcelino e ficamos cativados pela sua espiritualidade, esta forma peculiar a distinta de presença criativa que cresce na Igreja e a enriquece”. Ao incluir esta carta na circular do Instituto, o irmão Superior geral faz um reconhecimento explícito dos méritos próprios dos leigos, para que se sintam com o direito de se vincular ao Instituto, não através de uma declaração de princípios, mas com a própria vida que o Espírito suscitou neles.

Atraídos pela espiritualidade Na circular intitulada “Movimento Champagnat da Família Marista” (1991), o Ir. Charles Howard se dirige “a todos os irmãos”, “como em todas as circulares”, mas também aos “amigos”, porque “a presente também contém interesse para alguns leigos”. Na citada circular, faz-se uma ampla referência às “relações com o laicato”, conservando muito claro que a realidade do laicato no Instituto vai mais além da pertença a este movimento. “Ao falar deste movimento, salienta-se que não representa nenhuma manobra organizativa para equilibrar o decrescente número de irmãos, mas porque é a resposta a um apelo” daqueles que “nos dizem que se sentem atraídos

por aquilo que aprenderam de nossa espiritualidade” (Charles Howard, 1991). Do 19° Capítulo geral (1993) participam 14 leigos como “convidados especiais”, representando situações muito diferentes de colaboração com os irmãos: direção de colégios, de associações de pais, de retiros, de movimentos de juventude, do Movimento Champagnat da Família Marista, etc. Durante o capítulo, tiveram várias sessões de trabalho em conjunto, assistidos por alguns irmãos, e prepararam uma mensagem dirigida à assembléia capitular. Em três ocasiões tiveram a oportunidade de dirigir a palavra a todos os capitulares.

Fruto da fecundidade de um carisma O Ir. Benito Arbués, alguns anos mais tarde, em sua circular “Caminhar com paz, mas depressa” (1997), escreve: “Pessoalmente percebo que não é mais opcional a nossa abertura aos leigos e o reconhecimento de seus dons e riquezas”. Em uma “Igreja de comunhão”, “um dos

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aspectos importantes da comunhão é o reconhecimento da vocação que Deus nos faz, a cada um, aceitando a mútua interação e o intercâmbio de dons, até a complementaridade das vocações”. E conclui: Isolarmonos dos leigos, não compartilhar com eles a nossa missão e a nossa espiritualidade, equivale a nos privarmos dos dons que o Espírito Parto com uma consciência Santo deu a eles. Os leigos e leigas podem ser renovada de que Deus nos uma força importante na nova fundação do chama a constituir nosso Instituto”. Com a canonização de Champagnat (1999), o carisma marista tornacomunidades maristas de vida, de Irmãos e se um patrimônio de toda a Igreja. Pouco a Leigos, que se assumam como a alma pouco vão se delineando as linhas vitais do novo paradigma teológico marista. da missão. Fundamento esta esperança na

acção do Espírito Santo que senti presente na alegria, sintonia com o carisma de Marcelino, generosidade no compromisso e comunhão profunda que aqui experimentámos.

O Capítulo geral acolhe o laicato marista

Pela primeira vez na história do Instituto, os 18 leigos convidados como observadores no Ir. Antonio Leal, Compostela 20° Capítulo geral (2001) participam com direito a voz em todas as atividades capitulares realizadas durante a etapa “ver-julgar” do discernimento. Eles foram os principais oradores no fórum aberto sobre o “laicato marista”, e sua influência se fez notar na “Carta a toda a Família Marista”, que o Capítulo elaborou e aprovou. Assim mesmo, o Capítulo geral concretizou a sua reflexão em cinco apelos. O terceiro deles é o apelo capitular a “aprofundar na identidade específica de irmãos e leigos” É um apelo a “alargar o espaço da tenda”, para acolher uma nova realidade: “o laicato marista”. Para isto, se comprometem a “promover experiências e processos de reflexão conjuntos, que levem a aprofundar a identidade marista e a traçar o perfil das diferentes formas de pertença ao Instituto. Isto implica em processos de formação conjunta de irmãos e leigos”. Por isso, o 20°Capítulo geral pediu ao Conselho geral para que este “crie as estruturas que considere necessárias para assegurar no Instituto e em apoio à missão compartilhada entre irmãos e leigos, no serviço educativo e evangelizador junto às crianças mais pobres e excluídas, a realização de algum fórum internacional da missão marista” (“Escolhamos a vida”, 48.6). Esta solicitação se concretizou na assembléia realizada em Mendes. Este foi, em grandes traços, o caminho institucional que percorreram tanto irmãos como leigos para chegar à realização da Assembléia internacional. Este número de FMS Mensagem reúne em suas páginas os fatos mais significativos do programa vivido pelos participantes da assembléia, além das pautas de orientação, que coordenaram os passos deste histórico encontro de irmãos e leigos.

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Um novo passo na vida do Instituto A assembléia, do projeto à avaliação

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onsiderando que em outros artigos da revista falar-se-á tanto do processo da Assembléia quanto da celebração de sua fase final, em Mendes; neste, centrar- Em vista de “um fórum nos-emos nas origens da internacional idéia e na avaliação final. da missão marista”

Ir. Emili Turú, Conselheiro geral

A Comissão da Missão do Conselho geral começou a preparar seu Plano de ação, ao longo do ano de 2002, e para isso estudou detidamente as recomendações ou mandatos provenientes do XX Capítulo geral. Assim, estudamos o pedido dirigido pelo Capítulo ao Conselho geral (‘Escolhamos a vida, 48.6): “Criar estruturas que considerar necessárias para apoiar, em nível de Instituto, a missão partilhada entre Irmãos e Leigos e o serviço educativo e evangelizador, entre as crianças e os jovens mais pobres e excluídos: • • • • • •

ajuda às Unidades administrativas; coordenação das atividades comuns; promoção de atividades de formação; promoção dos objetivos e das atividades do Secretariado Internacional de Solidariedade, BIS; efetivação de fóruns internacionais da missão marista; representação junto aos organismos internacionais de educação e de solidariedade.

Pouco a pouco, tomou forma a idéia de uma Assembléia internacional, ao imaginarmos o que poderia ser esse “fórum internacional da missão marista”, sugerido pelo Capítulo. Por que uma Assembléia? Principalmente porque desejávamos pôr em evidência que se tratava de algo diferente de um Capítulo, tal como está definido, hoje, em Marzo Junho 2008 2008 • •

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um novo passo na vida do Instituto Ir. Emili Turú

COMISSÃO PREPARATÓRIA Ir. Alphonse Balombe (R. D. Congo); Sr. Chema Pérez Soba (Espanha); Sra. Dilma Alves Rodrigues (Brasil); Sra. Érica Pegorer (Austrália); Ir. John Y Tan (Filipinas). Administração geral: Ir. Juan Miguel Anaya, Ir. Michael Flanigan, Ir. Pedro Herreros, Ir. Emili Turú.

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nossa legislação, onde os leigos são convidados a participar por tempo limitado. Assembléia sublinha a idéia de participação total, de igual para igual, como queríamos que fosse. Em janeiro de 2003, contávamos já com um esquema de Plano de ação para a Comissão da Missão. Este foi enviado a pessoas representativas de todas as Unidades administrativas do Instituto, junto com um questionário para recolher opiniões. O mencionado questionário incluía duas perguntas sobre a possível celebração da Assembléia. As respostas recebidas foram preponderantemente favoráveis à celebração e ofereceram numerosas sugestões sobre metodologia, temática, participantes, etc. Com essas informações, em junho de 2004, o Conselho geral aprovou que essa Assembléia se realizaria, em setembro de 2007, e nomeou uma Comissão encarregada de prepará-la, composta por: Sra. Erica Pegorer (província de Melbourne); Sra. Dilma Alves Rodriguez (Brasil Centro-Norte); Sr. Chema Pérez Soba (Ibérica); Ir. Alphonse Balombe (África Centro-Leste); Ir. John Y Tan (Filipinas) e os Irmãos Pedro Herreros e Emili Turú, como responsáveis do Secretariado dos Leigos e da Comissão da Missão, respectivamente, assim como os Irmãos Michael Flanigan e Juan Miguel Anaya, secretários desses organismos. O Ir. Michael Flanigan seria, mais tarde, substituído pelo Ir. Pau Fornells.


MISSÃO MARISTA ASSEMBLÉIA INTERNACIONAL Esta Comissão apresentou seu projeto de trabalho ao Conselho geral, que imediatamente o aceitou, detalhando as razões da realização dessa Assembléia: • A Assembléia Internacional constitui um novo passo na vida do Instituto Marista para oferecer aos Irmãos e aos Leigos a oportunidade de refletir juntos, em iguais condições, a respeito da missão do Instituto, no presente e para o futuro, assim como sobre sua própria identidade. • Apresenta-se como uma ocasião para fortalecer os processos de reestruturação e de internacionalização que as Províncias vivem, no início do século XXI, dialogando, entre Irmãos e Leigos, sobre o que os move e preocupa em seu serviço à infância e à juventude. • O processo previsto para prepará-la e realizála será ocasião de questionar-se sobre a própria vivência do serviço à missão marista, as convicções que a nutrem e as vocações que a ela se consagram, motivando uma nova leitura do texto “Missão Educativa Marista” e aprofundando a compreensão do XX Capítulo geral. • Finalmente, as sugestões e recomendações que nascerem da Assembléia Internacional poderão ser estudadas pelos participantes do XXI Capítulo geral (2009), se assim decidirem, e contribuir na composição de suas orientações para o mundo marista. O objetivo fixado pelo Conselho geral para a Assembléia influiu no planejamento e no desenvolvimento de todo o processo, em suas várias etapas: Favorecer, em todo o Instituto, processos de diálogo e de compromisso entre os protagonistas da Missão marista, de maneira a contribuir para: • Uma releitura da Missão marista, à luz da vida de Champagnat: – sua paixão por anunciar a Boa-nova; – seu desejo de enviar-nos aos jovens, particularmente aos mais necessitados; – sua atitude de discernimento constante, que faz com que se adapte às necessidades mutáveis do contexto.

2002 Dezembro: questionário para as Unidades Administrativas (respostas favoráveis à celebração da Assembléia) 2003 Junho: Primeira aprovação pelo Conselho gerall 2004 Agosto: Nomeação da Comissão preparatória Dezembro: Primeira reunião da Comissão preparatória 2005 Janeiro: Projeto inicial da Assembléia Junho-Julho: Projeto definitivo (2ª reunião da Comissão Preparatória) Setembro: Conferência geral

• Clarificar e aprofundar o que entendemos por “vocação marista”: o que é próprio e o que é comum aos irmãos e leigos(as); • Promover maior corresponsabilidade entre aqueles que compartilham a Missão marista, especialmente oferecendo estruturas, modelos, etc. que a favoreçam; • Maior conhecimento e apreço pela diversidade de expressões com que se encarna a Missão marista, no mundo de hoje, bem como de sua internacionalidade, como uma força a ser aproveitada.

Recolhendo os frutos da Assembléia Nos dias 12 a 14 de Janeiro de 2008, a Comissão preparatória da Assembléia reuniu-se em Roma, para avaliar, juntamente com o Conselho geral, o caminho que conduziu à Assembléia de Mendes, em setembro de 2007. Tomamos, como ponto de partida de nosso trabalho, a avaliação que cada participante, em Mendes, entregou no encerramento da Assembléia. Constatamos, em primeiro lugar, os frutos que a Assembléia havia produzido em nós mesmos, membros da Comissão preparatória. Desde a primeira reunião, em dezembro de 2004, foram três anos a pensar e trabalhar juntos, ombro a ombro, cada qual tratando de oferecer o melhor de si mesmo. Reconhecemos que a experiência como

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um novo passo na vida do Instituto Ir. Emili Turú

grupo de trabalho foi muito positiva, mas salientamos o extraordinário enriquecimento que o caminho percorrido trouxe para cada um: experiência de fé, de fraternidade e de amizade. Foi um privilégio não só poder participar da gênese do projeto mas também acompanhar o processo em suas distintas fases: local, provincial, regional e final, em Mendes. Não seria a nossa experiência um pequeno reflexo do que aconteceu no Instituto, em variados níveis? Por outra, colocando-nos à escuta dos demais participantes da Assembléia de Mendes, temos a impressão de que foi para todos uma profunda experiência. Muitas pessoas sublinharam que sentiram a presença do Espírito, que atuava com força; que experimentaram um crescente sentido de união mútua e com todo o mundo marista. Outros salientaram a redescoberta da paixão pela missão marista e como essa vivência questionou sua maneira própria de ver as coisas. Algumas pessoas sentiram um chamado à conversão pessoal. Mas, experimentou-se, sobretudo, um profundo PROCESSO apelo ao compromisso e à ação, especialmente 2006 Janeiro em resposta às cinco grandes chamadas, regis– Início das fases local e provincial tradas no documento final . Dezembro Sentimos que a corresponsabilidade foi muito – fim da fase provincial real, não apenas durante a Assembléia de – Envio a Roma de uma sintese Mendes, mas também durante todo o processo – Escolha de representantes em suas distintas fases. Foram evidenciadas de cada Província com clareza, as maravilhas que podem ocor2007 Janeiro - Agosto rer, quando leigos e irmãos nos colocamos a – Possível atividades regional trabalhar juntos, com nossa diversidade de – Preparação para os participantes dons, vocações e experiências. Mais de 1.000 Setembro grupos surgidos na fase local e mais de – ASSEMBLÉIA INTERNACIONAL 20.000 pessoas envolvidas no processo são testemunhas disso. A vivência desse processo de corresponsabilidade, por outra parte, suscitou importantes interrrogantes sobre a necessidade de desenvolver uma nova compreensão da vocação marista. É certo que uma nova maneira de pensar faz caminho entre nós, embora seja preciso aprofundar o tema. Finalmente, tivemos a impressão de que a internacionalidade foi uma das vivências mais destacadas pelos participantes. A diversidade cultural e as diferentes formas de se expressar a missão marista tiveram um notável impacto entre nós. Trata-se de uma experiência de grande intercomunhão, que fez crescer nossa unidade e nosso sentido de pertença. Isso foi especialmente importante no

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FASE LOCAL

FASE PROVINCIAL

Temas Uma missão única e plural 1. Vivida em um determinado lugar 2. Entre os jovens, especialmente os mais abandonados 3. Na escola e em outros campos educativos

• É a própria Província que decide como realizar a fase provincial. • Ao final da fase provincial, deve ser enviada uma síntese onde conste: a. o espírito com que foi vivenciado o processo na Província b. o que a Província deseja transmitir à Assembléia • Cada Província elege, para participar da Assembléia Internacional, o número de irmãos e leigos que lhe corresponde.

A que somos chamados juntos 4. Vocação marista do Irmão e do Leigo 5. Semeadores da Boa Nova 6. Em corresponsabilidade Em atitude de constante renovação 7. Champagnat atento aos sinais dos tempos 8. Olhamos juntos para o futuro

Tu, como membro da Missão marista, estás convidado a participar, neste singular acontecimento, junto com milhares de MARISTAS dos cinco Continentes.

Construindo UM CORAÇÃO, UMA MISSÃO caso dos leigos e das leigas participantes, dado que, não estando organizados em nível internacional, dificilmente podem ter experiências desse tipo. O desafio que temos é como manter e fazer crescer, no futuro, essa riqueza trazida pela internacionalidade. Em nossa avaliação analisamos com cuidado os materiais preparados para a fase local, assim como a vivência em cada uma das demais fases, especialmente a final. Anotamos o que consideramos como principais acertos, bem como alguns aspectos que, hoje, organizaríamos e colocaríamos de outro modo. Tudo isso ficou em Roma, â disposição de futuras comissões internacionais...

Gerando “o novo” Pessoalmente, estou convicto de que a Assembléia foi e está sendo não apenas um acontecimento histórico na vida do Instituto marista, mas também um momento de graça dado a todos nós, como privilégio e possibilidade de ser vivido, como protagonistas em primeira pessoa. Por isso dou graças a Deus.

Simultaneamente, percebo que temos uma responsabilidade frente a esse dom do Senhor, particularmente no compromisso com a missão marista, que sinto mais atual do que nunca. Durante a celebração da Assembléia, em Mendes, construímos um grande mandala, no qual incorporamos uma mulher grávida, como sinal eloqüente do novo que está sendo gestado. Incluímos também, de modos diferentes, um desenho que provinha dos mandalas elaborados nos pequenos grupos: duas faixas que se cruzavam e se tornavam inseparáveis, embora não se confundissem. A Assembléia em si, pelo simples fato de ser realizada e pelo processo desenvolvido, constitui um gesto profético para todo o mundo marista. Continuaremos a necessitar, no entanto, agora e no futuro, da força e da energia do profetismo, dom do Espírito: não é entusiasmante poder acompanhar o nascimento do “novo”, no Instituto marista, leigos e irmãos, juntos?

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ma das tarefas mais delicadas e, ao mesmo tempo mais importantes, da Comissão preparatória da Assembléia da Missão, foi desenhar o desenrolar da própria Assembléia. Tínhamos iniciado bem o processo de preparação local e regional e devíamos encontrar um método que ajudasse a atender as expectativas que a Assembléia despertara em todo o Instituto.

O objetivo a alcançar parecia-nos claro: segundo o plano de Deus, sonhar o futuro da Missão marista e intuir os caminhos por onde andar para realizar esse sonho. Não pensávamos numa Assembléia de gente notória e erudita, centrada em discussões intelectuais, mas num encontro fraternal de maristas apaixonados por transmitir a vida e as esperanças de muita gente e dispostos a escutar, a partir daí, o que Deus pede a todos nós, para o bem dos jovens e das crianças com quem trabalhamos. Portanto, precisávamos gerar um clima de autêntica comunicação, de autêntica comunidade, aceitando-nos uns aos outros, com nossa diversidade língüística, com diferentes costumes e evidências (menos evidentes para alguns). Precisávamos ajudar a gerar uma comunidade marista imagem dos maristas de todo mundo - que escutasse a Deus, sonhasse o que Ele quer para nós e que assinalasse os caminhos aptos para realizar esse sonho. Nada mais, nada menos. Por isso, o fio condutor, pelo qual optamos, foi o seguinte:

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a. Num primeiro momento, precisávamos escutar. Escutar Deus nas necessidades dos jovens e em algumas realidades significativas do mundo marista. Para isso, escolhemos três momentos: • O primeiro passo deveria ser impactante, tocar o coração, comover e situar-nos no centro de nossos cuidados: as crianças e os jovens. Por isso, o conjunto “Lata Viva” do Brasil convidou-nos a viver uma cerimônia em que, fazendo-se eco das vozes reais de muitas crianças e e de muitos jovens do mundo inteiro, fizeram-nos sentir, vibrar e recordar o rosto e as vidas dos meninos e meninas com que trabalhamos e pelos quais queremos dar a vida. • Daí, a partir de um coração comovido e desejoso de responder, procuramos escutar a voz de Deus, numa grande variedade de experiências maristas de todo o mundo. Deus nos dizia alguma coisa, na Espanha, Austrália, Filipinas, China, Gana, Brasil..., tornando-nos criativos, capazes de admirar o diferente, sentir que podemos criar novidade, a partir de nossa fidelidade atual. • Como terceiro passo, restava-nos escutar como e quem estava sendo chamado por Deus a essa missão renovada: juntos, irmãos e leigos, encontramos nossas identidades comuns e nossas identidades distintas, complementares, dialogando uns com os outros, sentindo-nos enriquecidos uns com a contribuição dos outros... Dedicamos uma terceira parte da Assembléia a escutar. Talvez não fosse tão eficaz quanto quisera nossa impaciência, mas parecia-nos o ritmo próprio de pessoas religiosas que amam a Deus e estão acostumadas a seus caminhos. b. O passo seguinte era o do sonhar. Antes de decidir, sonhar. Qual era o horizonte que percebíamos a partir de nosso coração comovido e como criar a partir do que estava nascendo.

Por isso, para que as idéias se alimentassem da força do sentimento nascido da escuta de Deus, optamos por usar, neste passo, uma metodologia que para muitos era nova: o mandala. Os mandalas são desenhos geométricos que, em algumas tradições religiosas, servem para a meditação. Construindo mandalas queríamos que os diversos grupos não se perdessem em debates, mas trabalhassem unidos, além de suas origens diversas, em torno de uma obra comum... e uma obra comum com força expressiva, simbólica, forte, poderosa. Queríamos todos dizer o que sentíamos como sonho de Deus para a Missão marista; dizê-lo juntos, com a força do símbolo, com o poder do mandala. Dizê-lo bem. A pesar das dificuldades iniciais, esse momento da Assembléia, delicado, gerou um sentimento de comunhão muito profundo. Dos pequenos mandalas de cada grupo, construímos o grande mandala do Instituto, o símbolo de nosso futuro, impulsionado por Deus. Éramos uma comunidade, irmãos e leigos, com um mesmo sentir, em manhã fecunda.

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o caminho percorrido em Mendes Chema Pérez Soba

c. Restava o terceiro momento, também complexo. Para chegar a esse sonho, para que a mãe desse à luz, era necessário nós mesmos estarmos conscientes, e conscientizar os demais, sobre os desafios que deveríamos enfrentar. Precisávamos sinalizar, apontar os caminhos mediante os quais se pode realizar esse sonho. Precisávamos oferecer uma mensagem em palavras, poucas e certeiras, audazes e significativas, que pudesse servir de espelho no qual todos pudessem se olhar, a partir da particularidade de cada província, para situar-nos e encher-nos de entusiasmo pela Missão renovada que nos espera. Era um desafio difícil, a ser afrontado conjuntamente, formando uma autêntica comunidade. Os dias anteriores nos haviam unido na fonte comum de nossa missão e permitiam-nos de viver as tensões do momento com flexibilidade, compreensão e criatividade. Grupos de culturas e línguas distintas, trabalhamos juntos para redigir a mensagem final que - com o coração colocado em Deus, na Boa Mãe, crianças e jovens - nos indicava as cinco grandes pistas que devemos percorrer para atingir o sonho de Deus para nossa Missão. Assim, depois de termos escutado, sonhado e discernido os caminhos para multiplicar a Missão marista, pudemos celebrar o dom da experiência vivida e oferecer à Boa Mãe, através do Superior geral, dois autênticos presentes: a mensagem que oferecíamos ao mundo e o acontecimento que tínhamos vivido - autêntico símbolo de um Instituto marista vivo, criativo e apaixonadamente lançado para o futuro sonhado por Deus para a Missão de São Marcelino.

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UN VERDADERO ORGULHOSO DEPRIVILEGIO TER PARTICIPADO Constitui grande satisfação para mim poder relatar o que a Assembléia Internacional da Missão Marista deixou em mim; sinto-me orgulhoso de ter participado e feliz por ter partilhado, com minha Província, o trabalho que, diariamente, estava sendo realizado. Passaram quase dois meses, desde o dia em que o Ir. Seán nos enviava a tornar vida e partilhar o resultado desse encontro histórico, do qual, talvez, ainda não vemos os frutos, mas, ao transmiti-lo de modo familiar, certamente vai transformar vidas e conseguiremos olhar mais e melhor na mesma direção. A Assembléia foi um espaço de reflexão, discussão e diálogo e, os que dela participaram tinham claro que a proposta primordial era a de aprofundar a compreensão da Missão marista, em benefício, não somente dos jovens e crianças, mas de todos quantos partilhamos a vocação a serviço deles. Foram dias intensivos e, lógico, cheios de aprendizagem, permitindo-nos ter um panorama geral do Instituto e de seus desafios. Se não os equacionarmos, com prudência e corresponsabilidade, o futuro será difícil. A Missão deve ser uma forma de evangelizar e é preciso sonhar como ousou Marcelino; precisamos, cada dia mais, neste mundo, sentir-nos identificados com ele, Marcelino. Achegados ao coração bondoso de Maria, assumimos o nome de “marista” e vemo-lo como um estilo de vida e uma forma de renovar o sentido de nossa ação nas escolas. Esses dias, em que o coração marista esteve reunido em Mendes, Brasil, permitiram-me descobrir coisas novas e apaixonar-me ainda mais pelo espírito de Champagnat. Sinto-me convicto e comprometido, ao partilhar com todos, as vivências e as riquezas desse encontro; é preciso ajudar a entender os chamados e, sobretudo, é necessário articular-nos para enriquecer-nos mais e tornar a vocação marista, como vida religiosa ou laical, um caminho de comunhão, promovendo a vida. Ulises Centero, México Central

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O MUNDO CONVERGE

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MARISTA PARA MENDES

MENDES, 3-12 septiembre 2007

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Recepção

... para Mendes

...no aeroporto


3 setembro 2007

...para Mendes

CRÔNICA Todos os caminhos da Congregação conduzem a Mendes Este acontecimento é uma novidade na história da Congregação. Pela primeira vez se reúnem irmãos e leigos, em nível de igualdade, para partilhar juntos as experiências que vivem na realização de sua missão como irmãos ou como leigos maristas.

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Uma velha fazenda a serviço da formação marista Ir. Adorátor “Vinte anos de Brasil”, p. 206-207

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esde 1903 a casa marista de Mendes, cravada no meio de uma extensa propriedade, serviu como local da formação marista. Ela acolheu juvenistas, postulantes, noviços e escolásticos durante décadas.

Foi também, durante alguns poucos anos, a casa que acolhia os irmãos idosos. Nas últimas décadas ela foi preparada para a realização de retiros, reuniões e encontros. Este lugar tem algo que desde o primeiro instante cativou o Ir. Adorátor, como ele conta em seu livro ‘Vinte anos de Brasil’, reunindo as memórias dos primeiros 20 anos da fundação marista, no país. A obra está recheada de anedotas em um estilo elegante e atraente. Hoje, que esta casa acolhe um acontecimento de grande importância para o futuro marista no mundo, pode ser interessante e estimulante recordar como foram os primeiros anos em Mendes, tentando reproduzir o espírito de La Valla e de L’Hermitage. «Todos os irmãos que viveram o primeiro ano em Mendes não o esquecerão nunca. Esse ano primordial deixou-nos muitas recordações e gostamos de reproduzi-las. Faltavam-nos não poucas coisas que, nas condições ordinárias da vida, parecem indispensáveis. Não sofríamos com a sua falta, ou muito pouco. Em Mendes, os meses de junho, julho e agosto têm dias frios e as noites são mais do que frias. O termômetro chega a alguns graus abaixo de zero. Para os brasileiros é frio intenso. Na cidade do Rio, o mínimo é de 14 graus. Para suportar essa tempera-

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tura, as senhoras se vestem de pele e os homens, de capotes. Essas explicações ajudam a compreender a necessidade que tínhamos de cobertores. Recordamos

que os Irmãos tinham apenas uma toalha dobrada para se preservarem do frio e um mau colchão de capim seco, repousando sobre travessas de ferro. Os novatos consideravam isso muita dureza. Foi necessário passar assim quase um mês. Foi em 10 de julho que pude distribuir aos Irmãos trinta cobertores. Para todos foi grande alegria: é o motivo por que recordo essa data. Para a alimentação, estávamos reduzidos ao estrito necessário: arroz, feijão, um pouco de carne e uma laranja. O pão era muito caro: um franco por quilo. Economizávamos o mais possível. Não posso dizer que, como bebida, apenas bebêssemos água clara; muitas vezes vinha turvada, seja pelos animais, seja pelas chuvas. Na pobreza do nosso regime não perdíamos o bom-humor. Quando líamos, na vida de alguns santos, que eles não bebiam vinho e apenas água fresca, não podíamos deixar de rir. Achávamos que isso não era grande exemplo de mortificação. No recreio seguinte, não faltavam reflexões sobre o nosso pro-

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uma velha fazenda a serviço da formação marista

gresso em santidade. Quantas risadas não repetiram os ecos da Fazenda! O café era o nosso luxo. Estávamos bem providos dele. O administrador tinha colhido milho, arroz, café. Tinha bela porcada, ovelhas e galinhas. Ao comprar a fazenda por quarenta contos, acrescentamos mais quatro contos para adquirirmos também tudo o que ela continha, incluindo os legumes da horta. Bem ou mal instalados, metemo-nos a trabalhar. Trabalho manual, trabalho intelectual, tudo era levado em frente. Tratava-se de atacar o por-

COMPLEXIDADE E RIQUEZA DESTA ASSEMBLÉIA

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Representantes por línguas oficiais: espanhol 37, inglês 33, português 14 e francês 11.

Há, além disso, 18 pessoas brasileiras de apoio, 7 irmãos tradutores, 2 brasileiros contratados como tradutores, um capelão (padre marista) e o diretor de comunicações do Instituto.

Por Unidades administrativas, os participantes estão distribuídos assim:

O Irmão Superior geral, seu Conselho e a Comissão preparatória (17 pessoas);

2 representantes de cada uma das Províncias: África Austral, África Centro-Leste, Canadá, China, Estados Unidos, Europa Centro-Oeste, Madagascar, Nova Zelândia, Nigéria, Sri-Lanka e Paquistão (20 pessoas),

3 representantes das demais 16 Províncias: América Central, Brasil Centro-Norte, Brasil Centro-Sul, Compostela, Cruz do Sul, Ibérica, Filipinas, L’Hermitage, Mediterrânea, Melbourne, México Central, México Ocidental, Norandina, Rio Grande do Sul, Santa Maria dos Andes, Sydney. (48 pessoas).

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2 representantes de cada um dos Distritos: Paraguai, África do Oeste, Coréia, Amazônia e Melanésia (10 pessoas).

Por Continentes , o número de representantes é o seguinte: África 13 América 40 Ásia 10 Europa 20 Oceania 12


tuguês e a vegetação gigantesca que tinha invadido a fazenda. Não havia nem pomar, nem terra cultivada, nem pradarias. Parte da casa foi transformada em celeiro, estábulo e depósito de toda a natureza; era necessário colocar tudo em bom estado. Divididos em equipes, foi possível executar toda a espécie de trabalho.»

Participar da Assembléia significou para mim experimentar intensamente a universalidade do Instituto Marista e a diversidade de expressões do carisma. Convivendo com meus irmãos e irmãs de missão, pude renovar e ratificar o desejo de viver o meu batismo de acordo com o carisma marista. Agradeço a oportunidade que me foi dada de estar aqui, ajudando a discernir caminhos para construirmos um coração, uma missão. Adalgisa de Oliveira Gonçales, Brasil Centro-Sul

Esta Assembléia constituiu um belo período de cordialidade e de cooperação, na vida dos participantes. Foi supreendente comprovar o alto nível de concordância alcançado, em torno dos principais temas, considerando que éramos mais de 120 pessoas, procedentes de 50 países diferentes, valendo-se das 4 línguas oficiais do Instituto. Estava claro que partilhávamos os mesmos valores. Estou convicta de que todos voltaremos a nossas casas com a decisão de estreitar os vínculos entre Irmãos e Leigos, colocando Jesus no centro e seguindo os passos de Champagnat. Expresso minha mais profunda gratidão a todos os meus companheiros por esta inesquecível experiência. Adrienne Egbers, Africa do Sul

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ASSEMBLÉIA INTERNACIONAL 1. Inauguração

2.O dom dos jovens e da vocação marista

3.Sonhando o futuro que Deus quer

4.O sonho de irmãos, leigos e leigas

5.Comprometidos na missão marista

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MENDES, 3-12 setembro 2007

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Assembléia Internacional Inauguração


Saudação e boas-vindas Ir. Claudino Falchetto Provincial do Brasil Centro-Norte

Mendes, 3 de setembro de 2007 Querido Irmão Sean Sammon, MD Superior geral, Caro Irmão Luis Sobrado, Vigário Geral, Prezados Irmãos do Conselho Geral, Estimados Irmãos e Leigos maristas. Este que estamos pisando é solo sagrado; é berço marista, onde se inculturaram os primeiros Irmãos vindos da França no início do século XX. Por aqui passaram todos os Irmãos da antiga Província do Brasil Central. Aqui se abeberaram do carisma e da espiritualidade marista os Irmãos das Províncias de São Paulo e do Rio de Janeiro. Nesta terra bendita passaram centenas de formandos e de candidatos à vida marista, que aos poucos disseminaram a missão marista por todo o território provincial. Tudo o que o homem construiu ou transformou neste solo foi obra dos Irmãos e, sobretudo do gênio empreendedor dos inúmeros missionários franceses, italianos, espanhóis, portugueses e alemães que aqui se congregavam para aprender a língua portuguesa e para se formarem nas ciências, nas artes e na santidade. O Irmão Adorátor, o primeiro Provincial, anotou com profunda sensibilidade e acurado realismo os primórdios da missão marista no Brasil consignando tudo nas anotações que intitulou “Vingt Ans de Brésil”, Vinte anos de Brasil. A propriedade de Mendes foi adquirida no início

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saudação e bem-vindo Ir. Claudino Falchetto

de 1903. Eis alguns parágrafos do relato do Irmão Adorátor a respeito dos acontecimentos daquele ano de fundação: “Todos os Irmãos que viveram o primeiro ano em Mendes não o esquecerão nunca. Esse ano primordial deixou-nos muitas recordações e gostamos de reproduzi-las. Faltavam-nos não poucas coisas que, nas condições ordinárias da vida, parecem indispensáveis. Não sofríamos com a sua falta ou muito pouco... Recordamos que os Irmãos tinham apenas uma toalha dobrada para preservá-los do frio e um mau colchão de capim seco, repousando sobre travessas de ferro. Os novatos achavam nisso não pouca dureza. Foi necessário passar assim um mês. Foi em 10 de julho que pude distribuir aos Irmãos trinta cobertores. Para todos foi grande alegria: é motivo por que recordo essa data. Para a alimentação estávamos reduzidos ao estrito necessário: arroz, feijão, um pouco de carne e uma laranja. O pão era muito caro: um franco por quilo. Economizávamos o mais possível. Como bebida apenas água. Na pobreza do nosso regime não perdíamos o bom humor. Quando líamos na vida dos santos que eles não bebiam vinho e apenas água fresca, não podíamos deixar de rir. Achávamos que isso não era grande exemplo de mortificação. No recreio seguinte, não faltavam as reflexões sobre nosso progresso em santidade. Quantos risos não repetiram os ecos da fazenda... Bem ou mal instalados, metemo-nos a trabalhar. Trabalho manual, trabalho intelectual, tudo era levado em frente. Tratava-se de atacar o português e a vegetação que tinha invadido a fazenda. Não havia nem pomar, nem terra cultivada, nem pradarias. Divididos em equipes, foi possível executar toda espécie de trabalho. No decorrer de 1903, chegaram muitos Irmãos em oito grupos e nas seguintes datas: 17 de março, 4 Irmãos; 18 de maio, 7 Irmãos; 9 de junho, 6 Irmãos; 15 de junho, 19 Irmãos; 9 de julho, 8 Irmãos; 14 de julho, 6 Irmãos; 16 de setembro, 6 Irmãos; 17 de dezembro, 4 Irmãos; 60 Irmãos ao todo. Na época as receitas eram mínimas; as necessidades, grandes; era necessário viver; éramos numerosos. O nosso primeiro trabalho foi organizar hortas”. Hoje, decorridos mais de cem anos, as necessidades básicas foram supridas e temos, não raras vezes, até o supérfluo. A missão leva sempre em consideração a realidade e suponho que os Irmãos que neste momento estão lançados na missão ad gentes, na Ásia, vivam situa-

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ções um tanto semelhantes às dos primeiros missionários de todas as nossas Províncias. Esta casa que acolheu tantos Irmãos missionários e tantas vocações brasileiras, hoje abriga representantes de todo o mundo marista. Tenho a alegria de, em nome dos Irmãos Tercílio Sevegnani, Provincial da Província Brasil Centro-Sul, do Irmão Lauro Hochscheidt, Provincial da Província do Rio Grande do Sul, e do Irmão João Gutemberg, Superior do Distrito da Amazônia, acolher a cada um dos presentes, Irmão, Leigo ou Leiga. Sintam-se em casa, sintam-se à vontade para usufruir da riqueza marista desta casa que, se não lhes puder oferecer todo o conforto desejado, os recebe de braços abertos e deseja que os dias aqui passados sejam de crescimento fraterno e espiritual.

Tenham certeza de que nossas comunidades do Brasil e de todo o mundo marista têm o olhar voltado para Mendes e oram a Maria e a São Marcelino para que daqui nasçam nova vida e renovado ardor missionário. Quando o povo hebreu se encontrou prensado entre o exército egípcio e o Mar Vermelho, o Senhor dirigiu-se a Moisés e encorajou: “Diga a esta geração: avance” (Ex 14,15). Talvez seja esta a ordem do Senhor para nós hoje: avancem! Sejam todos bem-vindos e bem-vindas! E que Maria, nossa Boa Mãe abençoe nossa Assembléia Internacional de Missão Marista. Ir. Claudino Falchetto, fms Provincial anfitrião

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3 de setembro de 2007 CRÔNICA Organização prática da Assembléia A primeira reunião do dia 3 de setembro começou com a simpática saudação de um grupo de palhaços, valendo-se das quatro línguas oficiais do Instituto, para dirigirse a todos os participantes e expressar-lhes as boas-vindas. Apresentaram também os tradutores e estes, por sua vez, deram orientações oportunas, a todos os presentes, para utilizar corretamente os equipamentos de tradução. Apresentaram ainda os membros da equipe técnica que estará à disposição da assembléia, durante os trabalhos

Acolhida do Irmão provincial anfitrião O grupo simpático de palhaços, integrado por irmãos e alunos maristas, conduziu o Irmão Claudino Falquetto, Provincial da Província do Brasil Centro-Norte, até a mesa de presidência. O Ir. Falquetto, em sua saudação de boas-vindas a todos os irmãos e leigos do encontro, recordou as origens difíceis da obra marista, no Brasil, quando o Irmão Adorátor comprou a fazenda de Mendes, onde agora é celebrada a Assembléia da missão marista. Deu também as boas-vindas a todos, em nome de sua Província e dos outros Provinciais do Brasil.

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Inauguração da Assembléia Internacional da Missão Marista


Introdução à Assembléia Internacional da Missão Marista

Mendes, 3 de setembro de 2007

Érica Pegorer

É

um grande privilégio estar aqui hoje representando a comissão preparatória, seguindo os passos do Ir. Emili e daqueles que vieram antes dele esta manhã. Eu também dirijo a vocês uma calorosa acolhida a esta realmente primeira Assembléia internacional da missão.

Ao final do nosso primeiríssimo encontro, em dezembro de 2004, eu iniciei minha longa viagem de avião de Roma à Austrália despertando bem cedo com o pensamento de que esta assembléia precisava ser um momento decisivo na história de nosso Instituto. Estava nervosa, agitada e amedrontada com o que isto poderia significar. Como integrante da comissão preparatória, tinha aceitado o convite do Superior geral, Ir. Seán Sammon, e seu Conselho geral, para planificar, implementar e tornar realidade o apelo do 20º Capítulo geral. Todos nós aqui hoje somos testemunhas de que devemos responder a este apelo e não apenas para nos acolhermos, embora eu agradeça a vocês por terem vindo. Vocês colocaram a serviço suas próprias vidas, suas famílias e trabalhos, e nós fomos escolhidos para estarmos aqui para o bem do futuro de nosso Instituto. Para a comissão preparatória, e talvez para vocês também, a viagem foi ao mesmo tempo revigorante e desafiadora. Depois deste primeiro encontro, a única coisa que me pareceu uma certeza era de que estávamos diante de um projeto realmente ambicioso, com muitos obstáculos a serem superados. Em um primeiro relance, estávamos apenas atentos às dificuldades relacionadas com a distância, com as línguas, as expressões culturais, o tempo e os custos, porque estávamos sendo chamados a encontrar maneiras criativas para animar milhares de pessoas em seus âmbitos locais, ou ainda

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introdução à assembléia da missão Erica Pegorer

a discutirmos assuntos relacionados com a nossa missão atual, ou a nossa co-responsabilidade nesta missão e na sua renovação. Nestas fases iniciais, o desafio se apresentou em como assegurar aos muitos maristas a possibilidade de terem uma voz neste tipo de discernimento. Acima de tudo, precisamos e recebemos graciosamente a cooperação dos provinciais, das províncias e dos distritos. Em segundo lugar, havia a questão de reunir os cinco continentes para trabalharmos juntos em apenas quatro dentre as inúmeras línguas e diversas culturas. Em terceiro lugar, depois que já tínhamos uma idéia da potencialidade do material que foi surgindo das diversas partes do mundo, começamos a pensar sobre a forma que deveria ter a assembléia propriamente dita e como poderíamos desenvolver o programa durante os 10 dias. Como queríamos partilhar nossas histórias locais, a comissão começou a observar através do mundo as tendências que apresentavam a nossa juventude atual. Ao mesmo tempo em que os contextos são totalmente variados e com uma resposta única, era óbvio para a comissão preparatória que partilhávamos as mesmas preocupações e o mesmo forte amor por nossas crianças. Durante as fases finais da agenda da comissão, revisamos os nossos objetivos iniciais para nos assegurarmos que o programa da assembléia estava sobre os caminhos traçados em nosso encontro de exórdio. Eu gostaria agora de utilizar alguns momentos para que todos nós nos centralizássemos nestes objetivos iniciais, antes de procedermos com a assembléia propriamente dita. Bendito seja Deus! Este No ano de 2004, quando fazíamos os primeiencontro internacional foi ros preparativos para esta assembléia, não verdadeiramente intenso e nos passou despercebida a responsabilidade deste projeto ambicioso, mas estávamos unidesafiador. Sinto-me privilegiado por ter dos em nossas convicções de que as conversaparticipado do mesmo. Peço a Deus para ções que teríamos em seguida tinham que ser que ele me dê forças para poder transmitir feitas com audácia e com esperança em nosso futuro. aos demais, os frutos colhidos neste Mais adiante, durante aqueles momentos de encontro. Sobretudo para aqueles os quais tensão e de impaciência, que sempre acontecem quando se organiza um evento tão granrepresentei nesta assembléia. Que o Senhor de, a excelente liderança do Ir. Emili nos encome mostre o caminho. rajou a permanecermos calmos em meio à agitação, a sermos pacientes na busca das soluJulius Atete Waritu, África Centro-Leste ções e, antes de tudo, a termos confiança no trabalho do Espírito Santo, que nos conduziria

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através do caminho. Em nome da comissão preparatória eu gostaria de publicamente reconhecer o dom da liderança do Ir. Emili para esta assembléia. Naturalmente, um evento como este tinha uma legião de trabalhadores de bastidores, que serão reconhecidos no momento devido em nome de todos nós, mas ao mesmo tempo eu gostaria também de expressar nossos agradecimentos e reconhecimentos ao Ir. Juan Miguel Anaya e ao Ir. Wagner Cruz, pela brilhante administração e organização, e a todos aqueles que trabalharam para que chegássemos a este ponto. Sem dúvidas, vocês já tinham obser-

vado a grande atenção demonstrada para nos assegurar nos mínimos detalhes que éramos bem acolhidos e nos sentíssemos em casa desde o primeiro instante de nossa chegada. Desde o início, temos o prazer de reconhecer o grande espírito de hospitalidade que recebemos aqui em Mendes. Estou certa de que todos nós sentimos o Espírito trabalhando em nosso meio, assegurando-nos que nossos corações abertos e compassivos e a força da nossa mente conduzirão e caracterizarão nossos trabalhos ao longo dos próximos 10 dias. Falo em nome da comissão preparatória quando digo que consideramos um privilégio e uma bênção estamos empenhados neste trabalho atual, para termos uma melhor compreensão das bênçãos oferecidas ao nosso mundo marista e, na continuidade, para que nos tornemos bons amigos e apreciemos o papel que temos em diversas partes do mundo. Desejamos o mesmo e ainda mais para vocês, para que se engajem, contribuam e assumam este momento histórico e de definições em nossa história marista.

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CRÔNICA O Irmão Seán inaugura a Assembléia O Irmão Seán Sammon, Superior geral, inaugurou os trabalhos da Assembléia com uma oportuna reflexão. Champagnat, além de uma casa velha, dois candidatos e uma carteira vazia, tinha um sonho quando começou o Instituto. Ele cresceu até o dia de hoje. Os maristas estão em 76 países, com 4.100 Irmãos, mais de 40.000 leigos que atingem a vida de mais de 500.000 alunos, anualmente.

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Discurso de abertura da Assembléia Internacional da Missão Marista Mendes, 3 de setembro de 2007

Seán D. Sammon, FMS

O

corpo de Mary Irene Fitzgibbon estava sendo velado na cidade de Nova Iorque naquele início da manhã do dia 17 de agosto de 1896, uma segunda-feira. Uma multidão de aproximadamente vinte mil pessoas acompanhou depois o modesto carro funerário, fazendo com que o diário Herald, na edição do dia seguinte, classificasse o velório como sem precedentes.

Essa mulher de fé era de tal modo admirada que o New York Times resumiu tudo em uma simples manchete: “Irmã Mary Irene Fitzgibbon morreu”. E o mundo todo entendeu.1 Mary Irene Fitzgibbon foi a fundadora do Foundling Asylum, mais tarde conhecido como o New York Foundling Hospital. Essa instituição chegou a abrigar 600 mulheres e 1800 crianças, em média. Na época de seu falecimento, essa instituição era a única, na cidade de Nova Iorque, que garantia assistência a todas as crianças e mulheres que acorressem a ela, não importando religião, raça ou etnia, estado civil ou disponibilidade financeira. Por que contar a história de Mary Irene Fitzgibbon na abertura desta tão esperada Assembléia Internacional da Missão Marista? Seria em razão do corajoso e inequívoco desafio que Irmã Mary e suas companheiras de missão lançaram àqueles que puniam os pobres por sua condição de pobreza e as mulheres solteiras por suas alegadas transgressões sexuais? Ou, talvez, porque seus esforços nos fazem recordar que o apostolado genuíno da Igreja sempre foi de auto-transcendência e não de auto-realização? Ou, quem sabe, eu esteja contando essa história porque Mary Irene Fitzb-

1

Ver Maureen Fitzgerald. Habits of Compassion: Irish Catholic Nuns and the Origins of New York’s Welfare System, 1830-1920 (University of Illinois Press, 2006).

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discurso de abertura Ir. Seán Sammon

bon manifestou algum dom especial que costuma caracterizar líderes religiosos, não importando a época em que vivam? Não, não é nada disso. Conto a história dela por razões bem diferentes. Conto porque sua vida e sua morte são lições de missão e apostolado, em especial de missão e apostolado Maristas. Conto a história dessa Irmã de Caridade porque ela entendeu que carisma não tem nada a ver com acomodação, mas com missão. Conto porque ela respondeu aos sinais do seu tempo com ousadia, coragem e inteligência. Ela não se limitou a fazer certo as coisas, mas a fazer as coisas certas.

Foi para mim um privilégio participar da Assembléia internacional da missão marista. Foi um momento histórico para o Instituto marista, quando seus participantes, irmãos e leigos, vieram juntos a Mendes, para tomar parte deste encontro. Todos os serviços, assim como as apresentações, os debates, as refeições, a organização geral, as acomodações e a acolhida oferecida pelos anfitriões brasileiros durante a assembléia, transformaram nossa estada ali em algo especial, sob todos os aspectos. Nenhuma palavra descreveria a hospitalidade brasileira. Eu gostaria de fazer a minha avaliação da assembléia, salientando quatro aspectos: abertura de visão, engajamento, enriquecimento e esclarecimento. No que se refere à abertura de visão, eu tive a oportunidade de ver uma grande quantidade de nacionalidades, culturas e raças, que vieram juntas aprender e partilhar umas com as outras. Sobre o engajamento, vi como cada um dos participantes e grupos se comprometiam diariamente e com entusiasmo em seus debates. Como resultado eu me senti enriquecido com tantos elementos vindos das partilhas e das apresentações. Com esta riqueza espiritual eu fui esclarecido sobre a direção que tomavam os trabalhos da assembléia. Os seus temas eram alimento para as nossas reflexões, desenvolvendo-se em boa organização e se concluindo com grande satisfação, seja física como espiritual. Joseph Chua, China

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Palavras de boas-vindas e de agradecimento De início, uma palavra de acolhida e outra de agradecimento. Bem-vindos ao Brasil, à cidade de Mendes, à Assembléia Internacional da Missão, a essa comunidade de fé. Todos, certamente, tiveram de abrir mão de muitos compromissos para poder estar aqui, por isso ficamos muito contentes por escolherem passar estes dias conosco. A Comissão Organizadora me pediu para fazer algumas considerações sobre a Assembléia e sua finalidade. Essa reflexão não pretende se constituir na palavra definitiva sobre o assunto, mas apenas a expressão de alguém que partilhou muitas idéias durante meses com outros Maristas envolvidos na Missão da Igreja em todo o mundo. A preparação desta Assembléia exigiu muita dedicação, não apenas aqui no Brasil, mas em todo o Instituto. Alguns Irmãos, Leigas e Leigos Maristas integraram esforços em todas as regiões, países, províncias e distritos para garantir que esses dias não fossem apenas uma oportunidade para refletirmos com sinceridade sobre a situação da Missão Marista no mundo hoje, mas também para dedicarmos algum tempo para sonhar. Afinal, se Marcelino fez alguma coisa, foi sonhar, mas como um sonhador muito especial: aquele que também tem a coragem e o entusiasmo de dar vida a seus sonhos.


Nesta manhã, desejo dirigir-lhes algumas palavras sobre carisma e corresponsabilidade e, por fim, sobre o desafio que precisamos enfrentar por sermos líderes religiosos hoje.

Carisma A vida de Francisco de Assis, o grande santo do século XIII, ensina-nos algo a respeito do significado da palavra carisma, muitas vezes tão distorcido. Alguns a utilizam para descrever um tipo especial de personalidade ou movimento, enquanto outros insistem que ela se refere às obras que confirmam a visão original do fundador. Seu sentido, porém, é consideravelmente mais profundo. Embora tivesse a reputação de ser excelente pregador, Francisco nem sempre pronunciava seus sermões do púlpito de uma igreja, nem confiava apenas nas palavras para fazê-lo. De fato, ele pregava o Evangelho por seu testemunho de vida: em sua atenção pelos pobres de seu tempo, em seu deslumbramento pela criação de Deus e em seu delicado incômodo diante das pequenas falhas humanas. Em síntese, Francisco irradiava a Boa-Nova de Jesus Cristo. “Preguem o Evangelho sem cessar”, dizia, “mas usem palavras apenas quando necessário”. Podemos chamar isso de carisma franciscano ou de qualquer outra coisa. Fato é que Francisco estava impregnado do Espírito Santo. Carisma é simplesmente isso: nada mais nada menos do que a presença do Espírito Santo. Marcelino Champagnat compreendeu esse fato e permitiu que o Espírito Santo o arrebatasse. De que outro modo teria ele a coragem de empreender o projeto Marista? E, sendo honestos, sabemos que o Fundador tinha pouco mais do que uma casa velha e dois recrutas, além de nenhum dinheiro, quando começou. Mas tinha um sonho. E esse sonho hoje se traduz em nossa presença em 78 países, envolvendo 4100 Irmãos e mais de 40 mil Leigas e Leigos, e participando da vida de mais de 500 mil jovens por ano. Você e eu realmente acreditamos que o Espírito

de Deus, tão ativo em Marcelino Champagnat, anseia viver e respirar em nós hoje? Ao abraçarmos o carisma, permitimos que o Espírito Santo assuma a liderança, fazendo também com que tenhamos de assumir as conseqüências de nossa ação. Isso porque o Espírito Santo pode realizar muita coisa em curto período de tempo. O Vaticano II é um bom exemplo desse fato.

Laicato Marista e missão O Vaticano II foi um momento de definição para o laicato Católico Romano, bem como para a vida religiosa. Antes desse encontro histórico, a Igreja era algo como uma pirâmide. Nessa estrutura, o sacerdócio era considerado a vocação mais elevada. A vida religiosa ficava em um plano inferior, enquanto os Leigos e as Leigas, que constituíam a grande maioria dos membros da Igreja, eram colocados na base dessa pirâmide. Eram considerados quase que unanimemente apenas como ajudantes daqueles que eram os verdadeiros servidores da Igreja: bispos, sacerdotes e religiosos. Como os tempos mudaram! O apelo universal à santidade lançado pelo Concílio passou a ser dirigido a todos na Igreja. Houve, finalmente, uma declaração inequívoca de que todos os cristãos são batizados para a missão de proclamar o Rei-

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discurso de abertura Ir. Seán Sammon

A assembléia foi uma ocasião histórica para cada um de nós e para a inteira congregação. Ver chegando juntos os leigos e os irmãos, de diferentes caminhos de vida, foi um grande acontecimento. E isto só pode ser atribuído ao trabalho realizado pelo Espírito. Hoje, como nunca havia ocorrido antes, nós vivemos todos juntos em um mundo diferente, com novos desafios e, por essa razão, com nossos colaboradores leigos, devemos ter uma maneira nova de partilhar nossa visão, prestando assistência aos jovens de modo mais empenhado. Durante a assembléia surgiram várias e diferentes opiniões dentre os irmãos e leigos sobre como nos ocuparmos de alguns dos problemas que concernem os jovens. Esperamos que com tantas idéias apresentadas, possamos estar prontos para promover novas iniciativas, para atender nossos jovens. Os diferentes talentos e experiências apresentadas pelos leigos e irmãos são uma riqueza para a nossa congregação. As respostas maristas que chegaram de diversas partes do mundo demonstraram que estamos de olhos abertos e que este é o tempo certo para alargarmos a nossa tenda para os leigos, para que eles entrem e trabalhemos e colaboremos juntos para o Reino. O trabalho para o Reino de Deus não pode nunca ser um esforço individual, mas realmente uma obra de todos nós enquanto congregação, pois temos um mandato coletivo para tornarmos presente este Reino de Deus, aqui e agora. Estou confiante que esta colaboração se realizará de maneira simples, porque se trata de um apelo que nos chega da Igreja. Agora, mais do que nunca, estou cada vez mais convencido que os leigos também são inspirados e que receberam uma vocação para que juntos trabalhemos, ocupando-nos em conjunto das necessidades de nossos jovens em nossas respectivas regiões. Os leigos demonstraram estar inspirados durante a assembléia. Isto se mostrou evidente pelos profundos testemunhos de como eles têm vivido o carisma de Marcelino Champagnat em suas diferentes atividades. Desejo realmente que todos no Instituto possam estar abertos ao Espírito e que leigos e irmãos façam a experiência de um novo Pentecostes. Ir. Emmanuel Mwanalirenji, África Austral

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no de Deus e sua imanência. Nisso reside o coração e a origem da parceria Marista: no Sacramento do Batismo, em nada mais. Contudo, enquanto o papel, a identidade e a missão dos Leigos e Leigas católicos eram esclarecidos pelo Vaticano II, o mesmo não se podia dizer em relação aos membros dos institutos religiosos. De certa forma, emergimos de um Concílio em estado de confusão. Antes do Vaticano II, o Instituto Marista, assim como toda a vida religiosa, constituía uma sociedade fechada, com regras e normas claras. Sua identidade pré-conciliar era elitista, tendo o projeto de busca da perfeição como sua razão de ser. Na Igreja pós-conciliar, esse modo de vida não foi mais considerado como estado de perfeição, mas muito mais como um meio pelo qual os fiéis poderiam crescer em amor e santidade. Além disso, o seguimento de Cristo passou a ser proposto de modo mais explícito como norma última e regra suprema para todas as comunidades religiosas, em lugar da aderência a uma lista de regulamentações. Qual é, hoje, o projeto de vida religiosa em nossa Igreja? O que a torna diferente? Podemos começar respondendo que a vida religiosa nunca pretendeu ser uma força-tarefa eclesiástica, assim como as religiosas e os religiosos nunca foram destinados a ser absorvidos nas estruturas das dioceses e arquidioceses como acontece hoje em dia, assumindo trabalhos


que poderiam ser realizados por outras pessoas. O verdadeiro sentido da vida religiosa é constituir-se em memória viva da Igreja, lembrando-a do que ela deve e pode ser. Mas a vida religiosa só poderá desempenhar esse papel se tomar um pouco de distância da Igreja, postando-se em sua periferia e não no centro. A vida religiosa está decrescendo em muitas partes do mundo porque não consegue mais ser o que lhe foi pensado. Os religiosos e as religiosas professam publicamente viver radicalmente o Evangelho como razão e finalidade de sua vida. Isso significa uma vida fundamentada na oração e no espírito de fé, exigindo sacrifício e autonegação, uma vida em que Jesus claramente ocupa o centro e a paixão daqueles e daquelas que professaram vivê-la. O Papa João Paulo II demonstrou a convicção de que a Igreja seria finalmente reconhecida como a Igreja do laicato. Supondo que ele estivesse correto, precisamos então passar a nos questionar, como Irmãos, sobre a melhor maneira de podermos ajudar a realizar a missão de Leigos e Leigas em nossa Igreja e no mundo hoje. A parceria Marista responde a essa pergunta. Tendo sido mais plenamente reconhecida a partir do Vaticano II, encontra seu fundamento na missão comum e no chamado profético que todos partilhamos pelo sacramento do batismo. Ela adquire, contudo, um sentido bem mais profundo do que participar de um trabalho em equipe. Trata-se, em verdade, de compartilhar a fé e um conjunto de valores, de estar apaixonado por Jesus e de

viver a experiência coletiva de ter o coração e a imaginação cativados por Champagnat. Entre os muitos dons do Vaticano II, um certamente se destaca: o carisma do Fundador pertence à Igreja e não apenas a seus Irmãos. Portanto, muitos Leigos desafiam o entendimento de que esse carisma seria um tesouro exclusivo dos Irmãos. Esses nossos parceiros insistem em que também têm uma história de vida para contar, empreenderam sua própria jornada de fé e vivenciaram experiências muito pessoais do Fundador e de sua espiritualidade. Se prestarmos atenção nessas histórias e relatos de fé, apreciando com mais atenção as experiências de Marcelino e de sua espiritualidade entre nós, poderemos partilhar melhor o que temos em comum, respeitando as diferenças observadas entre a identidade de um Irmãozinho de Maria e aquela de um Leiga e de um Leigo Marista.

Co-responsabilidade Para desenvolver e encorajar a parceria do laicato, precisamos todos ser irmãs e irmãos em missão. Isso significa que devemos nos ouvir e aprender uns com os outros, partilhando nossa herança apostólica e espiritual e incentivando uma atitude de cooperação. Assim, quando fazemos uso do termo “nossos apóstolos”, estamos nos referindo à parceria entre os Irmãozinhos de Marcelino e o Laicato Marista. Chegou o tempo em que nós, Irmãos Maristas, devemos deixar de simplesmente convidar os Leigos e as Leigas a nos ajudar em nossas obras apostólicas para passar a reconhecê-los como corresponsáveis por elas. Durante os anos

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discurso de abertura Ir. Seán Sammon

mais recentes, em diversas Províncias, alguns Leigos e Leigas assumiram papéis de liderança nessas obras. Nós, Irmãos, fomos chamados a apoiá-los, propiciando-lhes a formação Marista, o testemunho de nossas vidas de religiosos e a promoção dos valores apostólicos Maristas. Ajudando os Leigos e as Leigas a viverem mais plenamente sua vocação, entenderemos melhor a graça de nossa própria vocação de Irmãos.

Liderança religiosa

2 Ver Howard Grey, SJ, “Contemporary Religious Leadership.” Review for Religious, Setembro/Outubro 1997, 56(5), pp. 454-467. 3

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Ibid.

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O jesuíta Howard Grey conta uma história do seu tempo de jovem sacerdote. Solicitado a dirigir o retiro de uma Irmã já bem avançada em idade e que enfrentava os últimos estágios de uma esclerose múltipla, foi advertido do que poderia encontrar. O que viu, porém, foi uma mulher ainda alerta, lúcida e sem nenhuma manifestação de autopiedade. O retiro transcorreu bem, mas a grande lição só aconteceu no último dia. Quando Grey foi se despedir da Irmã, ela lhe dirigiu as seguintes palavras: “Padre, você é jovem, e eu estou velha e perto de morrer, o que me coloca na posição ideal para lhe dar alguns conselhos”. “Quando eu era uma jovem freira, pensava que era importante oferecer a Deus a minha mente. Passei então a estudar muito, e assim consegui chegar à universidade e completar o doutorado. Considerei o meu desenvolvimento intelectual como um meio de me aproximar de Deus.” “Entretanto, depois de alguns anos, minha comunidade passou a ter outras necessidades. Fui então indicada para ocupar um cargo administrativo, e assim me tornei diretora de uma faculdade. Deduzi então que Deus queria minhas mãos, isto é, minha competência para realizar grandes coisas para a faculdade e fazer aquela instituição progredir.” “E aqui estou eu. Mal consigo me lembrar das coisas ou segurar um copo. Dei-me conta agora, como nunca antes, de que o que Deus realmente queria de mim o tempo todo era o meu coração. Ofereça a Ele sua mente e suas mãos, mas nunca esqueça de Lhe entregar também o seu coração.” 2 Por que razão dou destaque a essas idéias nesta parte? Simplesmente porque a nossa missão, a sua e a minha, é, antes e acima de tudo, uma missão do coração. O verdadeiro desafio hoje é que nos tornemos, a despeito de todo o risco e da falta de precisão que isso possa significar, mulheres e homens mais amorosos. Só conseguiremos atingir esse objetivo, porém, se nos conhecermos e nos respeitarmos a nós mesmos, com todos os nossos dons, limitações e pecados. Jesus foi capaz de tocar os corações dos desapontados discípulos na estrada para Emaús porque seu próprio coração também tinha sido exposto, sua fé testada, sua esperança desafiada e


seu amor desapontado. Jesus sabia muito bem que não haveria Emaús sem a cruz.3

Conclusão Daqui a cem anos alguém escreverá a história de nosso tempo. O que dirá de nós? Que, como Mary Irene Fitzbbon, soubemos responder aos sinais dos tempos com coragem, ousadia e inteligência? Que assumimos o risco de deixar o Espírito Santo agir em nós e por meio de nós e que por isso nos tornamos homens e mulheres mais amorosos, mensageiros da misericórdia e do amor de Deus? Que deixamos como legado à geração seguinte o sonho e a paixão de Marcelino Champagnat? Não consigo imaginar época mais propícia ou período mais rico para fazer parte deste movimento Marista. Afinal, se Marcelino recebeu a graça de dar vida a nosso Instituto, a nós foi reservada a responsabilidade de renová-lo. Todavia, só conseguiremos realizar isso se o Espírito Santo estiver vivo e ativo em cada um de nós. Se todos os anos que vivi na Missão Marista me ensinaram alguma coisa, foi reconhecer meus próprios limites como pessoa, minha própria condição de pecador e minha permanente neces-

sidade de me redimir. Foram lições difíceis, mas importantes, na medida em que me convenceram de que é tola a presunção de não permitir que Deus assuma a liderança. Nossa tarefa é discernir Sua divina vontade e seguir Suas indicações, não importando os contratempos dessa jornada e para onde nos conduzem. Por tudo isso, precisamos manter a esperança e ser mensageiros dessa virtude para as crianças e jovens pobres a quem somos chamados a servir. Foi com esse espírito que João Paulo II encerrou sua visita ao meu país. Falando às pessoas reunidas no estádio de beisebol de Baltimore, o Papa concluiu com as palavras do profeta Habacuque. Faço uso delas para encerrar esta reflexão: Porque há ainda uma visão para um termo fixado, ela se aproxima rapidamente de seu termo e não falhará. Mas, se tardar, espera-a, porque ela se realizará com toda a certeza e não falhará. Muito obrigado.

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3 de setembro de 2007 CRÔNICA Apresentação do Conselho geral O Irmão Emili Turú, Conselheiro geral e coordenador da Comissão preparatória da Assembléia, apresentou os membros do Conselho geral, presentes na Assembléia, e vários irmãos da Administração geral presentes: o Ir. Juan Miguel Anaya, secretário da Comissão preparatória e o Ir. Antônio Martínez Estaún, Diretor de comunicações, assim como os demais membros da Comissão preparatória.

Relatório da Comissão preparatória A senhora Érica Pegorer, em nome da Comissão preparatória, descreveu a trajetória feita pela Comissão, em torno dos preparativos, desde a constituição da equipe até o momento presente. Agradeceu a quantos colaboraram, nas diversas etapas, da preparação da Assembléia; recordou os objetivos deste encontro internacional de irmãos e leigos maDidascalia della efoto nifestou esperança face aos da inserire qui della lunghezza desafios históricos lançados di quattro o cinque righe, a esta grazie. Assembléia. Depois dessa Didascalia della foto intervenção, o Irmão Seán da inserire qui della lunghezza Sammon pronunciou discurso di quattro o cinqueo righe. de abertura.

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CRÔNICA O emblema e o hino da Assembléia Finalmente, foi introduzido o logotipo da Assembléia, levado por cinco pessoas, representando os cinco continentes, para ser colocado em lugar de destaque. Nas intervenções para explicar o significado do lema “Um coração, uma Missão”, foram usadas línguas próprias dos cinco Continentes: o “guarani”, pela América; O “cebuano”, pela Ásia; o “swahili”, pela África; o “grego”, pela Europa; e o “pidgi” de PapuaNova Guiné, pela Oceania. Em seguida, a Assembléia cantou seu Hino, composto para esta ocasião pelo grupo musical marista Kairoi. O Ir. Miquel Cubeles, com didática muito hábil, conseguiu, em poucos minutos, que todos aprendessem a música e a acompanhassem com a letra traduzida aos vários idiomas.

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Assembléia Internacional

2. O dom dos jovens e da vocação marista


Escutando os jovenes

“Vozes da esperança” um espetáculo na abertura da Assembléia da Missão marista

Cláudia Laureth Faquinote, analista social da Província marista Brasil Centro-Norte

Mendes, 3 de setembro de 2007

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istórias de crianças e jovens do mundo inteiro narradas por educandos e educandas de uma Unidade Social da Província Marista do Brasil Centro-Norte, que emprestaram suas vozes para que os participantes da AIMM se sentissem mais próximos dos “Montagnes” de nosso tempo. Esse foi foco central do espetáculo Vozes da Esperança, apresentado na abertura da Assembléia Internacional de Missão Marista, acontecida em Mendes. Como dar voz, alma, encantamento e emoção às histórias de vida dos “montagnes” de nosso tempo, que a seu modo queriam expressar para o Mundo Marista, leigas, Leigos e Irmãos seus clamores, respeitando e buscando entender a internacionalidade do Instituto? Essa era a pergunta que nos desafiava e nos orientava ao reunirmos os educandos e educandas da Unidade Social da Província Marista Brasil Centro-Norte, Colégio Marista São Vicente de Minas que emprestariam suas vozes para o espetáculo Vozes da Esperança. A preparação destes educandos/as, a gestação do

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voces de esperanza Cláudia Laureth Faquinote

espetáculo, foi pensada e concebida “a muitas mãos”, com o cuidado de um oleiro na lida com a cerâmica, envolvendo os educandos/as e educadores/as, como protagonistas, pois dar vida e voz às histórias de outras crianças e jovens, seus clamores, carecia de entender a dimensão de internacionalidade do Instituto e seu carisma fundacional. Foram inúmeras estratégias, como por exemplo, oficinas com os educandos, educandas e educadores, para falarmos da presença Marista no Mundo, o contexto da Assembléia Internacional de Missão Marista, sobretudo suas etapas e como todas e todos, em cada recôncavo deste mundo, onde o Marista está presente, foram convidados e convidadas a participarem da preparação da AIMM. Importa registrar ainda que, mesmo as histórias sendo de crianças e jovens de culturas e identidades tão distantes, se assemelhavam com as histórias e trajetórias de vida de muitos dos educandas e educandos que emprestariam suas vozes, atores e atrizes deste espetáculo. Assim sendo, conceber os educandos e educandas como protagonistas do espetáculo e da oportuni-


dade de serem porta-vozes dos clamores de Maristas do mundo inteiro e para Maristas do mundo inteiro, era um desafio para todos os envolvidos no roteiro de Vozes da Esperança. No entanto, um ponto não passava despercebido durante todo o percurso de preparação: a internacionalidade do Instituto e os lastros que a o mesmo possui... Oceania, África, América, Europa e Ásia. Muitas eram as perguntas e curiosidades dos educandos e educandas durante as oficinas e ensaios, mas ao chegarem em Mendes, um dia antes da apresentação oficial, e terem a oportunidade de conviverem com os/as participantes da AIMM, ajudou a ampliar suas percepções e transformarem o que antes era mostrado e falado em realidade. Realidade que se descortinou a partir dos sotaques, das diferentes etinias, rostos, expressões, línguas, gestos, demonstrando a diversidade do e no Ser Marista. Importa dizer que não é possível descrever, por mais que se tente o que foi vivenciado durante a preparação do espetáculo, mas sobretudo quando da presença dos educandos e educandas em Mendes e quando da apresentação de Vozes da Esperança: a emoção, o brilho no olhar, o encantamento, as alegrias e os medos, a empatia entre

todos os presentes, a variação da batida das latas, do ritmo que tocava o coração e inquietava a alma, do sentimento de pertença, do Ser Marista, o significado de uma lágrima, de falar devagar dos vários idiomas que durante a Assembléia demonstrava a presença Marista nos cinco continentes, tornado real o sonho de Champagnat, de estar em todas as Dioceses do Mundo e de tornar Jesus Cristo conhecido e amado por todas as crianças e jovens.

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3 setembro 2007 CRÔNICA “Lata Viva”, um grupo musical jovem Os alunos maristas protagonizaram a motivação forte deste dia. Na mente dos organizadores dessa Assembléia estava a idéia de que todas as crianças e jovens do mundo deveriam estar presentes, aqui, com os irmãos e leigos. São eles os destinatários da missão marista, no mundo. Por isso, o grupo musical “Lata Viva” trouxe à assembléia a voz das crianças do mundo. O nome do grupo nasceu dos instrumentos musicais que utilizam. Acompanham sua obra musical “Vozes da esperança”, preparado especialmente para a Assembléia, com latas de metal ou descartados recipientes de plástico. Ao ritmo de seus instrumentos, um grupo de danças executou uma coreografia na qual se inseriam várias histórias reais da vida das crianças, em contato com os maristas das várias partes do mundo. Várias canções romperam o ritmo narrativo e se alternaram com os enunciados dos direitos universais da criança. A narração das histórias de vida das crianças do mundo, através do rosto e da voz desses adolescentes, fez desfilar ante os olhos e trouxe ao coração dos participantes da Assembléia a dimensão viva da missão marista, no mundo.

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CRÔNICA Missa e “Creio” O dia foi concluído com a celebração da missa, animada com alguns cantos interpretados pelo grupo musical “Lata Viva”. Durante a celebração, foi proclamado o ‘Creio’, extraído do documento “Missão educativa marista”: Cremos na permanente atualidade do carisma de Marcelino Champagnat. Cremos em nossa parceria na missão de Educadores Maristas. Cremos em nossa vocação para o apostolado das crianças e jovens, com especial amor pelos pobres e excluídos. Cremos em nossa Missão de orientar as crianças e os jovens nos valores humanos, na construção de um mundo melhor, no conhecimento e no amor de Jesus Cristo. Cremos que, como Maria fez com Jesus, para educar as crianças e os jovens é preciso, antes de tudo, amá-los, e amá-los igualmente. Cremos no valor da educação integral, oferecida em nossas instituições escolares. Cremos no significado da nossa presença esperançosa e criativa, entre as crianças e os jovens, especialmente os mais abandonados, em todas as nossas ações apostólicas.

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4 de setembro de 2007 CRÔNICA Atentos à realidade das crianças e dos jovens no mundo de hoje A Assembléia internacional escuta crianças e jovens A oração da manhã foi um convite a abrir as portas do coração e a acolher as tristezas e alegrias da vida. Começou com uma canção acompanhada por uma singela coreografia que envolveu todos os participantes, enquanto repetiam: “Abro as portas do meu coração. Entrego, confio, aceito e agradeço”. Dilma Alves, membro da Comissão preparatória, relacionou a intervenção do grupo musical “Lata Viva”- que nos transmitira a dor que atinge as crianças e jovens de nosso mundo - com a realidade que viveu cada um dos participantes da Assembléia, enquanto educador ou educadora, em meio às crianças e jovens. Com os corações assim preparados, todos receberam o convite de observar os rostos de meninos e meninas do mundo Didascaliainteiro, della fotocom a ajuda de algumas fotografias da inserire qui della lunghezza lembrando os rostos di quattro o cinqueque righe,encontramos emDidascalia nossas obras educatigrazie. della foto vasda maristas. textos extraíinserire qui Com della lunghezza dos dodi documento “Missão quattro o cinque righe. educativa marista”, a Assembléia fez eco e meditou sobre o significado dessas fisionomias para cada um dos presentes.

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CRÔNICA Reflexão em grupos Reunidos por grupos, os assembleístas partilham os sentimentos que despertaram os jovens e as crianças do musical “Vozes da esperança” e as experiências que cada educador teve com os educandos de seu ambiente de trabalho. No coração dos participantes ficam gravados os gritos dos jovens bem como o clamor, os interrogantes e as interpelações das crianças e adolescentes do mundo marista: falta de oportunidades, imigração, drogas, abandono, carência de afeto e de acompanhamento, crise familiar, ausência de Deus... O que podemos fazer para curar o coração e recuperar a vida de tantos jovens e crianças? As respostas que os grupos trazem à Assembléia vêm expressas mediante grafites: “Preciso de ti”, “Quero uma oportunidade”, “Eh! professores, eu existo!” Vem comigo”, “Quero viver”, “Preciso de um exemplo”. A canção executada também confirmara esses sentimentos: “Não posso calar, não posso ficar indiferente, ante a dor de tanta gente. Perdõem-me os amigos; tenho um compromisso e preciso abrir o jogo”. Ou ainda este pensamento: “Vamos construir uma ponte entre nós para unir teu coração ao meu”. Permanece o convite para sair da própria casa, das estruturas costumeiras, para ir ao encontro dos jovens.

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4 de setembro 2007 CRÔNICA Uma reflexão que vem do coração De tarde, os participantes observaram os gráficos e símbolos apresentados pelos grupos, de manhã, confrontando-os com as mensagens do grupo “Lata Viva”. Um considerável espaço de tempo permitiu escutar o que Deus dizia a cada um, no silêncio do coração. A oração silenciosa centrou-se em três aspectos: Ação-de-graças pelas crianças, adolescentes e jovens com suas capacidades; o “sonho” de Deus com o

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CRÔNICA Espero que este espírito de unidade e de força que contemplamos entre os Maristas, irmãos e leigos, que participaram desta Assembléia, se traduza em ações em favor de nossos jovens, em todo o mundo. A Assembléia deu-nos uma grande oportunidade para redefinir e centrar nossa pertença e cooperação. Isso nos ajudará muito em nossos futuros compromissos. Tom Chin, China crescimento das crianças e jovens: e a tomada de consciência sobre as necessidades que não receberam nossa resposta marista. Quem pode responsabilizar-se pela dor profunda do coração paternal de Deus? Pelas crianças repelidas, vidas tão profundamente feridas? As luzes que apagamos, trouxeram trevas para nossa terra, nossa nação. Tem piedade, Senhor! (Gram. Kendrikc)

Uma celebração festiva A interiorização já visava preparar a celebração eucarística. Com cada frase, estribilho, desenho, fotografia, texto ou expressão corporal, trazidos pelos grupos, conformou-se uma linda oferenda, em torno ao altar, expressando a oferta da Assembléia.

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Aprendendo com respostas maristas Ir. Juan Miguel Anaya

Mendes, 5 de setembro de 2007

D Os objetivos que pretendíamos alcançar, nesse dia, eram:

epois de escutar a contribuição dos jovens e crianças, no dia anterior, dedicamos o dia 5 de setembro a conhecer algumas respostas que os maristas dão às necessidades desses jovens e crianças, em diversos lugares do mundo.

1. Estimular a imaginação dos participantes sobre a resposta que os maristas precisam dar às necessidades dos jovens e crianças, do mundo de hoje. 2. Dar aos participantes a oportunidade de articular e expressar o carisma marista. 3. Oferecer aos participantes a ocasião de escutar seis experiências em que se sublinha o “aspecto profético” do compromisso marista, vivido através do mundo. 4. Favorecer, entre os participantes, o diálogo que ajude a identificar o caráter distintivo e os valores dessas respostas maristas. 5. Oferecer espaços para a reflexão pessoal em torno da identificação do carisma marista. 6. Abrir as mentes e os corações dos participantes para a natureza internacional do Instituto. Para conseguir esses objetivos, duas sessões do dia 5 foram dedicadas ao estudo de algumas dessas “respostas maristas”, selecionadas de modo a representar todos os Continentes, bem como os diferentes tipos de

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missão ou de presença. Outro critério de seleção das respostas era o de que a pessoa que participasse da Assembléia fosse conhecedora e amante da experiência, de modo a não apresentar um relato frio de atividades, mas que transmitisse a paixão e o fogo que arde no coração de quantos estão comprometidos com a missão marista. No total, foram doze as experiências selecionadas. Foram apresentadas em dois blocos de 90 minutos: seis de maneira simultânea cada vez. Cada experiência dispôs de 30 minutos, de modo que cada participante da Assembléia pôde conhecer seis apresentações distintas.

• A grande maioria dos apresentadores valeu-se de ‘power-point’ para ilustrar a apresentação oral. • Com os materiais enviados, previamente, foi editado um folheto contendo a informação básica de cada um dos projetos a serem apresentados, de modo que as pessoas dispunham de elementos para escolherem os temas que mais interessavam e poderem, inclusive, receber material escrito, após a apresentação.

Todas as exposições seguiram a pauta seguinte: • Cada experiência foi preparada numa das línguas oficiais da Assembléia: espanhol, francês, inglês e português. Era apresentada três vezes seguidas, uma na língua de quem fazia a apresentação, e as outras duas vezes, com tradução simultânea. Não houve tradução do espanhol ao português, nem vice-versa. • Cada experiência dispôs de 30 minutos no total: 10 ou 15 minutos para apresentação, 10 minutos para diálogo e 5 minutos para o deslocamento a outro grupo.

Considerando que os representantes da Nigéria tiveram vários problemas com os vistos e não puderam chegar em tempo para apresentarem sua experiência, a província de Sydney aproveitou esse espaço de tempo para expor o que preparou para acolher os participantes da Jornada Mundial da Juventude (2008), e sua disposição de organizar um festival juvenil marista, nos dias precedentes. O dia terminou com uma reflexão pessoal e grupal sobre a temática vivida. Houve a oportunidade de partilhar em grupo reações e reflexões sobre o compromisso marista para com as necessidades dos jovens e crianças de nossos lugares de procedência e do mundo. A síntese dessa partilha foi levada à grande assembléia, mediante símbolos (palavras, imagens, cantos, representações teatrais...) que expressavam como o carisma marista se manifesta, na atualidade, com toda sua vitalidade.

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aprendendo com respostas maristas Ir. Juan Miguel Anaya

CONTINENTE

LOCALIZAÇÃO

NOME DA EXPERIÊNCIA

APRESENTADOR

ÁFRICA

Madagascar

Missão Champagnat com população nômade em Ihorombe

Thomas Radriananteniana

Nigéria

Sistema de escolas maristas

Johnson Onyereibe

Brasil

Renovação da Pastoral juvenil marista

João Carlos do Prado

México Ocidental

“Aprender sirvindo” - Programa da Universidade marista de Mérida

Héctor Dessavre

Ásia

Presença marista

Tom Chin

Filipinas

Programa de extensão comunitária da Universidade Marista de Notre-Dame of Dadiangas

Virginia Manalo

Comunidade marista de irmãos e leigos em Badajoz (Espanha)

José Antonio Rosa

L’Hermitage

Atenção a jovens em risco

Miquel Cubeles

Sydney

Programa de educação para indígenas: St. Joseph’s College

Ross Tarlinton

Projeto de educação profissional Mabiri: Bougainville (Papua-Nova Guiné)

Benedict Tooming

ONU - Genebra

Defesa dos direitos da criança

César Henríquez

Ásia

Missão ‘ad gentes’

Luis García Sobrado

AMÉRICA

ÁSIA

EUROPA

Mediterrânea

OCEANIA

Melanésia

ADMINISTRAÇÃO GERAL

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5 de setembro de 2007 CRÔNICA Construindo o sonho de Champagnat Aprendendo das respostas maristas A Assembléia refletiu sobre o desenvolvimento da vida marista, junto aos jovens, nas diversas partes do mundo e com expressões variadas. Entre outras, foram apresentadas doze experiências. Este mosaico de realidades maristas foi o tema motivador da atividade interior de todo este dia. A riqueza das exposições, sobretudo a dimensão de testemunho e de proposta, facilitou o intercâmbio de experiências pessoais e tocou fortemente o coração e a mente das pessoas.

Um fórum aberto para escutar o pulsar do coração da Assembléia O dia se concluiu com um fórum aberto, em que cada um pôde partilhar suas idéias e sentimentos. Na parede frontal da grande sala, um coração ocupa o centro de um mural. À medida que chegavam, os participantes foram fixando, sobre o coração, frases, símbolos, expressões e desenhos, sintetizando a reflexão pessoal e grupal. Os depoimentos serão levados ao altar como oferta.

Sintonia de Irmãos e Leigos sobre o carisma e a missão Alguns testemunhos: “Nosso carisma se concretiza no ser irmão ou irmã para os mais necessi-

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5 de setembro de 2007 CRÔNICA tados e se expressa na compaixão e na presença. É o que as crianças precisam e oferece muitas oportunidades para nossa vida”. “Concebo o carisma marista, hoje, como uma luz que mostra caminhos abertos, ponto de encontro de irmãos e leigos e, finalmente, como uma forma particular de vida.” “Esta Assembléia é uma fonte de água para o Instituto. Não podemos sair de Mendes do mesmo modo que entramos. A conversão dos irmãos e leigos ocorrerá quando nos aproximarmos dos jovens e das crianças. Isso supõe que sejamos discípulos de Marcelino; discípulos e discípulas, irmãos, leigos e leigas que abram o coração às crianças e aos jovens que muito esperam de nós. “Sinto o carisma marista como um chamado, a partir da realidade em que me desenvolvo e naquilo que realizo com as crianças pobres que vêm à minha escola, promovendo-as e convertendoas em filhos e filhas de Deus.” “Nas reflexões que fizemos, hoje, percebemos que a diversidade é uma grande riqueza.”

Foi uma graça ter participado dessa Assembléia. Destaco a grande fraternidade com que Irmãos e Leigos partilharam sonhos e realidades e a profunda unidade, na diversidade. A grande variedade de respostas às diferentes necessidades mostrou-nos a grande vitalidade da missão marista, no mundo, e motivou-nos a continuar em sua animação. Maite Ballaz César, Ibérica

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CRÔNICA “Para que alguém se sinta partícipe do carisma marista é preciso ser coerente com o Evangelho de Jesus. O carisma nos pede coragem, audácia e sobretudo amor, muito amor, àqueles que estão próximos de nós e esperam uma resposta.” “Champagnat era um bom sacerdote. Sem deixar de ser o que era, saiu pelas ruas de seu povoado, foi conhecendo a realidade de sua gente e por isso se deparou com Montagne. Arriscou-se, como sacerdote, de relativizar a gestão paroquial. Somos bons maristas. Mas, creio que, como Champagnat, precisamos sair de ‘nossas paróquias’ para estar nos pátios ou em outras realidades de nossos alunos ou daqueles que não são nossos alunos e alunas, hoje, a fim de escutar e dar as respostas que o coração de Marcelino deseja”. “Nesta Assembléia, sente-se muita necessidade de respostas para nossas províncias. Venho buscar respostas com todos. Mas, escuto muitas perguntas, nesta Assembléia. Nosso carisma é desafiado e resumiria o desafio em algumas palavras-chave: presença real, firme e intensa entre as crianças, os jovens e suas famílias; comunidade de irmãos e leigos, com uma experiência forte de espiritualidade, de fraternidade, com muita ternura e cuidado pelo outro.” “Champagnat não teve medo de confrontar-se com uma inspiração que vinha do Espírito e levou-o a realizar algo pelos demais. Nós, leigos e irmãos, chamados a continuar a missão de Champagnat, olharemos, a partir de seu coração, para os mais necessitados, para os pobres, para sermos fiéis a seu carisma”.

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UN UMVERDADERO VERDADEIROPRIVILEGIO PRIVILÉGIO Para mim foi um verdadeiro privilégio ter participado como membro da primeira assembléia da missão marista. Agora que o encontro se encerrou, reflito sobre as múltiplas facetas nas quais o Espírito se fez presente a todos nós aqui. O fato de atuar como coordenador de grupo foi ao mesmo tempo desafiador e gratificante, devendo trabalhar com pessoas provenientes de cinco continentes, e que se expressavam em quatro idiomas diferentes. Os trabalhos iniciais da assembléia foram uma preparação para o cenário da sua conclusão, que foi altamente valiosa. O fato de haver muitos participantes, que representavam contextos e procedências tão diversos e que conseguiam se comunicar uns com os outros com simplicidade, foi uma verdadeira homenagem ao nosso fundador e ao Instituto hoje. O caminho percorrido até a meta significava já o preâmbulo da nossa chegada. Irmãos e leigos partilhavam abertamente suas experiências como maristas. Ao mesmo tempo que o encontro prosseguia, ia crescendo entre nós um especial sentimento de unidade de pensamento e de coração. O mais delicado era o trabalho de coordenador de grupo, já que o tempo era realmente restrito e nos obrigava a resumir em rápidas conclusões o conteúdo de reflexões complexas. Esta pressão era notada também quando, durante os recessos, nós preparávamos as linhas de diálogo, antes de voltarmos às reuniões e às propostas de trabalho para os nossos grupos. A preparação final do documento do nosso grupo sobre o tema da “pertença marista” teve um impulso laborioso, já que se verificava um acentuado desacordo interno entre os membros de língua espanhola e portuguesa com os de língua inglesa. Mas, tudo se solucionou através de um importante trabalho de conscientização realizado por um grupo mais reduzido, que se encarregou de preparar um caminho comum. O fim justificava os meios. A experiência de compartilhar línguas e culturas pertencentes a contextos tão diversos foi um aspecto relevante da assembléia. No que se refere à organização, o lugar e as instalações eram excelentes. O trabalho detalhista do pessoal de apoio facilitou o bom funcionamento do encontro. Os anfitriões acolhiam com grande delicadeza os participantes. Eu retorno da assembléia pleno de agradecimentos, e animado para prosseguir oferecendo os meus esforços para o futuro do Instituto, com a certeza que aqui nós encontramos Um Coração, Uma Missão. Alan Parker, Nova Zelândia

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Compartilhando nossa vocação Mendes, 6 de setembro de 2007

Ir. Pau Fornells

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epois de deixar-nos “tocar” pelas necessidades e possibilidades das crianças e dos jovens, pela alegria de contemplar valiosas respostas maristas que são dadas por todo o mundo marista, começamos uma nova etapa da assembléia: a reflexão vital sobre nossa vocação marista.

Sentimo-nos interpelados pela Missão, mas devemos fundamentá-la adequadamente. Não existe missão coletiva sem que Alguém chame, convoque e envie. Precisamos voltar à “rocha” em que fomos talhados, donde emana a “água viva” que torna possível a missão marista: Deus em Jesus, Maria, Marcelino e tantos irmãos e leigos… É um dia para voltar à “fonte”, um dia para contemplar – extasiar-se – pela ação de Deus em cada um de nós: “sua” chamada, nossas dúvidas, respostas e erros, “seu” acompanhamento amoroso, nossa fidelidade apoiada em “sua” fidelidade e na de nossas testemunhas a caminho (“maravilhosos companheiros”). Trata-se de reler nossa vida, voltar ao primeiro amor, ao amor amadurecido pela crise e pelas consolações… partilhá-lo, discernir e acompanhá-lo. Reuniu-nos nossa “vocação marista comum”, termo até agora usado apenas pelos irmãos. Tínhamos falado em espiritualidade comum, de missão partilhada, inclusive de carisma compartilhado... Agora, atrevemo-nos a falar de “vocação marista comum” e de ‘vocações maristas específicas”.

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compartilhando nuestra vocación H. Pau Fornells

Um ‘power-point’ ajudou a situar-nos nessa novidade do Espírito que está nascendo no mundo marista e que se expressa em algumas convições:

Neste momento da história do Instituto, eu tive o privilégio de representar o distrito de Melanésia e a região da Oceania nesta Assembléia internacional da missão marista. Sinto-me desconcertado em pensar que muitos outros irmãos e leigos maristas, muito capacitados, poderiam ter estado aqui no meu lugar. Por esta razão agradeço ao Conselho do meu distrito por esta oportunidade. Aqui tivemos tempo e ocasião para escutarmos uns aos outros, contando-nos as experiências vividas na missão desenvolvida em cada um dos lugares do mundo marista. Foi um verdadeiro momento de graça para todos nós que estávamos reunidos em Mendes. Juntos, procuramos sonhar e articular a chamada de Deus ao Instituto. A tarefa não foi simples, já que nos expressávamos constantemente em quatro línguas diferentes e que a todo momento ficávamos na dependência da ajuda dos tradutores. Mas, tudo isso não atrapalhou em absoluto a boa marcha dos processos desenvolvidos na assembléia. Apesar das diferenças, que não se pode negar que existiram sempre entre irmãos e leigos, todos nós maristas trabalharemos juntos na missão, unindo nossas forças no nome de Jesus, para proclamar o Reino de Deus, sempre à maneira de Maria. Esta experiência me serviu, assim como a todos os demais participantes, para renovar o meu entusiasmo para auxiliar os jovens, principalmente os mais marginalizados de nosso tempo. Ir. John Tucana, Distrito da Melanésia

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• O carisma marista de Champagnat é concedido à Igreja; não é propriedade do Instituto dos Irmãos Maristas. Tampouco a missão marista é exclusiva do Instituto. • Deus, hoje, continua a convidar irmãos e leigos à vocação marista. • Compartilhamos uma vocação marista comum, vivida em diferentes vocações específicas. • A dignidade e a vocação à santidade são iguais para todos os projetos de vida: leigos solteiros e casados, irmãos, irmãs, sacerdotes… • Os irmãos necessitam dos leigos e estes, por sua vez, dos irmãos, para recriar hoje o carisma marista e poder descubrir nossa identidade comum e nossas identidades específicas e complementares. • “Estamos convencidos de que o Espírito nos conduz nesse caminho comum” (XX Capítulo geral, 29). Deixemo-nos conduzir pelo Espírito! Foi pedido a todos os participantes que, em ambiente de silêncio e de oração, dedicassem um tempo pessoal (hora e meia) para responder às seguintes perguntas: 1. Que elementos da vocação marista Deus nos convida - irmãos e leigos - a viver hoje em comum? 2. Que elementos consideras específicos, ou mais significativos, em tua vocação de leigo marista ou de irmão marista?


3. Quais são os elementos específicos, ou mais significativos, da vocação de irmão marista ou de leigo marista e que complementam a tua própria vocação? Em seguida, nos reunimos em 10 grupos, constituídos a partir da afinidade lingüística, para partilhar o trabalho ralizado pessoalmente. Cada grupo era convidado a encontrar um consenso sobre três elementos de nossa vocação marista comum e três elementos específicos da vocação do Irmão e do leigo, respectivamente.

para questionar-se, sobre o que foi afirmado nos grupos. Aqueles que encontravam dificuldade na compreensão do que estava escrito em língua diferente foram ajudados por outros participantes ou pelos tradutores. Posteriormente, todos os assembleístas se reuniram numa grande sala para um fórum aberto. Os

Estas conclusões dos grupos foram expostas em três cartolinas diferentes: vocação marista comum, vocação marista de Irmão e vocação marista de leigo. Durante 45 minutos, em silêncio e com música de fundo, os participantes caminharam pelos longos corredores da casa de Mendes, lendo e interiorizando as várias contribuições de cada grupo, anotando os elementos que se repetiam, os que mais faziam vibrar o coração, os que constituíam uma novidade… e dedicaram um tempo pessoal

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participantes puderam expressar suas impressões sobre o trabalho desenvolvido, pessoalmente ou em grupo, sobre as concordâncias, as tendências gerais que observaram, sobre o modo próprio de sentir o tema e outros. Por último, foram entregues a cada um nove corações do emblema da assembléia: 3 para a vocação comum, 3 para a vocação do leigo e 3 para a do Irmão. Cada pessoa foi convidada a colocar um coração junto à frase ou elemento vocacional que considerava mais importante, tanto na parte comum quanto nas específicas. Tudo transcorreu em ambiente de interioridade, calma, expectativa e acolhida interior. Em silêncio e carregando as cartolinas cobertas de corações vermelhos, expressão de nosso amor pela vocação, dirigimo-nos à capela para celebrar a Eucaristia: aliança definitiva do Amor de Deus que nos “consagra” a todos, irmãos e leigos.

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6 de setembro de 2007 CRÔNICA Quando o coração pergunta compartilhamos a vocação comum O Irmão Pau Fornells motivou o dia, recordando o caminho feito pela Assembléia, em Mendes, até o momento presente. Primeiramente, deixar-se tocar pelas necessidades e possibilidades das crianças e jovens e, segundo, contemplar as respostas maristas. Hoje, o terceiro passo será de refletir sobre a própria vocação de irmão e de leigo marista. O Ir. Pau sugere de reler a própria vida, voltar ao primeiro amor, partilhar o mais profundo da própria vocação, convidando ao silêncio para contemplar a ação de Deus, na vida de cada um. Depois de um momento de reflexão pessoal, em silêncio, partilha-se em grupos, para descobrir o característico da vocação dos irmãos, o que é próprio da vocação dos leigos e o que lhes é comum. Os resultados desta reflexão, que ocupou toda a tarde, foram expostos em vários painéis com os elementos próprios da vocação dos irmãos, os elementos próprios da vocação dos leigos e outro, com aqueles que são comuns a ambos.

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ELEMENTOS VOCACIONAIS COMUNS E ESPECÍFICOS RELACIONADOS PELOS 94 PARTICIPANTES (50 LEIGOS E 44 IRMÃOS): O QUE É COMUM NA VOCAÇÃO MARISTA: • Atenção preferencial pelas crianças e jovens mais pobres e necessitados .............................(60) • Irmãos e leigos: herdeiros e corresponsáveis pelo carisma e missão ....................................(41) • Marcelino como referência e inspiração ...........................................................................(27) • Fraternidade – Espírito de família (Maria) .......................................................................(25) • Testemunhas e apóstolos (do jeito de Maria): Tornar Jesus Cristo conhecido e amado .............(23) • Sentir-nos amados por Deus – Centrados em Jesus – Deixar que o Espírito nos conduza ..........(21) • Maria: espiritualidade – devoção ....................................................................................(15) • Homens e mulheres apaixonados ....................................................................................(14)

LEIGO MARISTA: • Testemunha marista na realidade do mundo .....................................................................(42) • A presença feminina traz uma sensibilidade nova ao carisma, um significado novo à nossa dimensão marial...................................................................(40) • O compromisso familiar e comunitário ............................................................................(30) • Um forte sentido de pertença e diversas formas de adesão .................................................(27) • Paixão pelo carisma .....................................................................................................(23) • Consciência de sermos chamados para ser cristãos enquanto maristas ..................................(21) • Entusiasmados pela missão ...........................................................................................(14)

IRMÃO MARISTA: • O compromisso dos votos ou conselhos evangélicos ..........................................................(87) • Ser “irmão” de todos, especialmente para as crianças e os jovens: presença, acolhida, escuta e simplicidade .......................................................................(57) • A vida em comunidade..................................................................................................(49) • Maior disponibilidade (dedicação total e exclusiva) à missão ..............................................(39) • Especial responsabilidade pelo carisma............................................................................(16)

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6 de setembro de 2007 CRÔNICA Um fórum aberto recolhe as contribuições do dia As contribuições dos participantes foram muito ricas, nascidas do coração. Transcrevemos algumas:

“Sentimo-nos chamados a aprofundar nossa identidade específica de irmãos e leigos, segundo o desejo do Capítulo geral.” “O dia foi cheio de emoção. Foi aberto um caminho sem retorno para irmãos e leigos. Como caminhar juntos? Em minha Província há um movimento leigo importante e apoiado por muitos irmãos; no entanto, há outros que não compartem esse caminho. Como proceder nessa situação, se o caminho dos leigos não tem retorno”? “Uma das idéias, que repetimos em nosso grupo, é a importância de ser profetas e de assumir nossa missão com coragem profética.”

“A missão compartilhada para nós, mulheres, é novidade, e para o Instituto um chamado a valorizar a presença feminina. Não apenas considerar-nos como mulheres, mas considerar que a presença feminina pode ser protagonista, pois temos muito a oferecer. Cremos que ainda precisamos avançar bastante.”

” “

“Já não se trata de alargar o espaço da tenda; o desafio, agora, é de construir uma nova casa juntos, irmãos e leigos”.

“Os gestos simbólicos são muito importantes. No Capítulo geral se

abriu a porta e entrou um grupo de leigos, enquanto os irmãos capitulares aplaudiam sua presença na reunião. No Instituto havia muitas portas fechadas, situações ou atitudes que, naquele contexto e cultura, parecia impossível abrir. Aos pouco, muitas portas foram abertas. Também hoje é muito importante o símbolo da porta e, aqui, abrimos uma porta simbólica muito potente. O simples fato de estarmos aqui traz conseqüências imprevisíveis para o Instituto. Hoje, pelo passo dado, é um dia de alegria para o Instituto ainda que as conseqüências sejam imprevisíveis.”

“Sentimos que os irmãos alargaram a tenda”.

“ “

“Deus faz novas todas as coisas. Renova nossas famílias. O espírito nos contagia. E, seguindo o exemplo de Maria, vamos dizer sim. A porta está aberta. A concretização depende de nós. A missão ad gentes, na Ásia, é nossa. Decidir servir os mais pobres também é responsabilida de nossa. Como Champagnat, entregar a vida pela evangelização, através da educação, também é decisão nossa. Apenas precisamos dizer sim, como Maria.”

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Do fórum aberto à Eucaristia O fórum aberto suscitou um ambiente celebrativo, marcado pelo canto do Magnificat e seguido pela Eucaristia em que um grupo de atores ajudou a relembrar o espírito da jornada, através de uma encenação. Um grupo de atores representou os leigos, de um lado. Outro grupo fez o papel de irmãos. Em determinado momento, descobriu-se que era melhor atuar unidos e formar um grupo único, lavando-nos os pés, uns aos outros.

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UN VERDADERO PRIVILEGIO UMA NOVA ÉPOCA Esta assembléia internacional foi o início de uma nova época na vida do Instituto. Eu gostaria que esta experiência pudesse nos ajudar a aprofundarmos e fortalecermos a nossa colaboração e a realizarmos importantes passos nesta direção. O caminho através do qual esta assembléia expressou esta colaboração foi particularmente encorajador para mim. Uma abertura consciente, com entusiasmo, realismo em relação ao momento presente e projetos para o futuro, a serem vividos com espírito de colaboração, para construirmos a nossa vocação comum. Em simplicidade, modéstia e humildade, continuamos seguindo os passos de Maria e de Marcelino Champagnat, para chegarmos juntos a Jesus. Os três passos para sonharmos com o futuro são: escutarmos os jovens, aprendermos com as propostas maristas e partilharmos a nossa vocação. Eles se constituem o bom método para realizarmos os nossos sonhos e para levarmos a nossa missão adiante. A apresentação dos meninos e meninas brasileiros nos ajudou a permanecermos na escuta dos jovens e de suas realidades. Na apresentação das respostas maristas, tive a oportunidade de ampliar os meus horizontes a respeito da presença dos irmãos em todo o mundo e suas dificuldades, mas também pela coragem que alguns irmãos demonstram em determinadas partes do mundo. A reflexão e a descoberta da vocação de irmãos e leigos nos ajudaram, fazendo-nos pensar a respeito da nossa própria vocação e do que existe de comum entre nós. As orações, as Eucaristias e o trabalho em grupos representaram uma ampla fonte de força para as nossas atividades durante estes dias. Esta foi uma maravilhosa e feliz experiência e uma boa oportunidade para reunir novamente velhos amigos. Eu me sinto honrado de ter sido escolhido como leigo marista para representar a nossa província em Mendes. Frank Aumeier, Europa Centro-Oeste

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AssemblĂŠia Internacional

3. Sonhando o futuro que Deus quer


Mandalas:

Os círculos sagrados e os sonhos de Deus para o Instituto Marista Mendes, 7 de setembro de 2007

Mércia Procópio, Brasil

interior do mandala há um « Noponto central, que repre-

senta a essência do mandala. Os outros elementos em geral parecem estar em ligação com esse elemento e de certa forma dependem dele, pois se desenvolvem a partir de sua existência. Esse ponto representa uma existência superior, a fonte de toda a criação, Deus. Celina Fioravanti

Passei alguns dias inquieta com o convite do Ir. Wagner e da Dilma, representando a Comissão Preparatória, para ajudar a pensar uma oficina utilizando mandalas para a Assembléia de Mendes. Afinal, tratava-se de um momento histórico do Instituto Marista: A Assembléia Internacional da Missão Marista. Um encontro inédito onde Irmãos, leigas e leigos dos cinco continentes, com sua rica e variada cultura e modos de viver o carisma, iriam se reunir para rezar, compartilhar vida, refletir e sonhar o futuro do Instituto. Era preciso que a oficina possibilitasse a todos e todas uma liberdade de partilha e uma escuta profunda do coração de cada homem e mulher ali reunidos e principalmente que estivessem abertos à voz do Espírito, para que fossem profetas de Deus para o Instituto, no atual contexto da humanidade. Tratava-se, portanto, de sonhar o sonho de Deus e não o sonho humano de cada um e de cada uma. O desafio posto então era primeiramente deixar-se tocar pelo Espírito de Deus e inspirar-se no sonho de Marcelino: tornar Jesus Cristo conhecido e amado palas crianças e pelos jovens, proporcionando um clima de represen-

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os círculos sagrados e os sonhos de deus Mércia Procópio

tação dessas novas utopias. Ou seja, a oficina deveria preservar integralmente o carisma de nosso fundador, possibilitar uma leitura do nosso mundo, marcado por profundas contradições, e proporcionar a abertura a novos sonhos e novas fronteiras de Missão. Assim, a experiência com a construção coletiva de mandalas (que em sânscrito quer dizer círculo sagrado) na Assembléia foi inspirada no trecho “e terão novas visões” do livro Água da Rocha. Pareceu-me que as expressões “sonhando o futuro que Deus quer para nós” (cunhada pelo organizadores da Assembléia), e “sonhamos novos sonhos” e “terão novas visões” (Água da Rocha) apontavam um caminho para a oficina de mandalas, que trabalha essencialmente com uma linguagem simbólica, isenta de um crivo racional, que aciona novas intuições e inspirações e possibilita novas formas de expressão. A oficina foi elaborada a partir de uma seqüência de vivências, que em primeiro lugar foi experimentada pelos facilitadores dos grupos, que contribuíram para o refinamento da proposta previamente desenvolvida e para a tranqüilidade dos mesmos na condução dos grupos.

A construção do pequenos mandalas No primeiro momento da oficina, os delegados e delegadas foram convidados a contemplar, em círculo, o ambiente, cuidadosamente preparado pela equipe de ambientação, em que a imagem de Champagnat repousava sobre um grande mandala de panos coloridos ladeado por dois mandalas brancas e na seqüência contemplarem a projeção de uma série de mandalas de flores, de modo a poderem abrir novos canais de percepção da realidade, auxiliando-os a uma escuta de seus corações, a partir de uma respiração lenta e profunda. Esse exercício foi seguido de uma segunda contemplação onde eram mescladas a apresentação de mandalas de flores com cenas de crianças jovens e adolescentes de variadas origens étnicas e culturais, nas mais diversas circunstâncias de vida: pobreza, abandono, prostituição infantil, guerras etc. Com estas imagens, a Assembléia foi interrogada sobre “qual é o chamado de Deus para nós?” e “onde estão os Montagnes de hoje?”e convidada a representar em pequenos mandalas a serem produzidos pelos grupos, quais seriam os sonhos de Deus para o futuro do Instituto. Importante destacar que para a construção dos mandalas o grupos deveriam refletir sobre o centro do mandala, ou seja sobre o elemento central da missão marista a ser representado no mandala do grupo, na me-

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dida em que o centro representa o elemento essencial a partir do qual todos os outros elementos são constituídos. Desse modo, era importante que cada grupo, primeiramente, construísse o centro do mandala representando o centro da Missão Marista, para depois revelar os sonhos a partir desse centro. Munidos de pinceis, papéis coloridos, tinta, lápis de cor, debruçados sobre papéis, numa fraterna alegria, Irmãos e leigos se debruçaram sobre a construção de mandalas representativos das inspirações de cada uma e de cada um a partir da escuta ao Espírito de Deus e dos desafios e apelos da Missão Marista. Estes sonhos e apelos representados foram compartilhados e reverencialmente ofertados na Celebração Eucarística ao anoitecer desse dia.

rações de Deus para o Instituto. Momento de uma escuta humilde e atenta ao coração de cada um e de cada uma, de escuta à voz do Espírito Santo, de diálogo aberto e sincero a partir dessas escutas e de opções que revelassem verdadeiramente o desejo de Deus para o nosso Instituto, a partir dos apelos, por vezes dramáticos, das crianças, adolescentes e jovens e das novas fronteira de Missão. Desafio também de reafirmar verdadeira e corajo-

A construção do grande mandala Dos pequenos mandalas do grupo, a Assembléia foi convidada a construir um grande mandala que sintetizasse o sonho coletivo. Para isso receberam, durante a construção do pequeno mandala, um elemento de um grande mandala de base cinco, propositadamente escolhida, para representar a presença marista nos cinco continentes. O momento era de discernimento sobre as inspi-

samente qual é o centro da Missão Marista, razão primeira e única de existir do Instituto e de descortinar o futuro para que “como Marcelino, atento aos pobres Montagnes de seu tempo, empenhamos nossos melhores esforços para nos tornarmos efetivos educadores Maristas da fé (...) partindo em busca de horizontes inexplorados.” (Água da Rocha 155) Nesse clima de exigente discernimento espiritual, o grande mandala, tendo Jesus Cristo ao centro, revela, em nós, a grande utopia divina. Carinhosamente, Ir. Guilherme, Eder, João Carlos, Mauri, Kênia e eu fomos apelidados pela Comissão Preparatória de “Mandala’s team”. Para nós fica a gratidão pela confiança depositada e a certeza de que, na nossa humanidade, termos sido apenas um instrumento Daquela que carinhosamente conduz o Instituto e cuida, com ternura maternal, de cada irmãzinho e cada irmãzinha de Champagnat.

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7 de setembro de 2007 CRÔNICA Um mandala para partilhar as implicações Implicações dos sonhos dos irmãos e leigos A oração da manhã de hoje, 7 de setembro, foi animada pelos irmãos e leigos da Austrália, inspirando-se nas tradições e na cosmovisão dos aborígines de seu país, que vivem em grande comunhão com a natureza. Começaram com um relato relacionado a Alice Sprint, um povoado australiano com escola marista. Transmite-se, aí, de geração em geração, uma explicação mitológica da origem do mundo, segundo os aborígines. Conta a mitologia que dois grandes insetos lepidópteros, mariposas, vindo por caminhos diferentes, se encontraram numa grande cova. Logo surgiu uma rivalidade; mas apareceu um cachorro enorme que fez de mediador. Começou o diálogo e, pouco a pouco, as mariposas se fizeram amigas e permaneceram juntas, dando origem às montanhas e vales da região. Desde então, os aborígines honram a mãe-terra com muito respeito. Em meio a uma paisagem incomparável da natureza que envolve a casa de Mendes, os participantes puderam colocar-se em sintonia com o Senhor, que fez o céu e a terra em que vivemos, nos movemos e existimos.

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CRÔNICA Trabalhando com o mandala A Assembléia analisou as implicações contidas nas aspirações que os irmãos e leigos compartilham. Mércia Procópio, que trabalha na UMBRASIL, recordou que mandala é um símbolo que significa ‘círculo sagrado’, e promoveu uma dinâmica relativa a esse símbolo com os participantes. Muitos povos utilizam o mandala para estabelecer uma relação intuitiva entre o homem e o universo. Na Assembléia, constituiu instrumento de reflexão para estabelecer uma relação entre o coração dos irmãos e leigos e o futuro do Instituto com sua missão. Os mandalas podem ser feites com variados materiais, dispostos em torno de um centro. Dentro do círculo pode-se pôr uma infinidade de elementos, mas a cor e a forma geométrica são fundamentais para confeccionar um mandala. Os participantes realizaram um primeiro exercício para conhecer a técnica desse instrumento de reflexão e poder aplicá-la no dia seguinte, na elaboração de um mandala que simbolizasse as implicações dos sonhos partilhados, nesses dias da Assembléia.

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As experiências realizadas, nos grupos, com esse primeiro exercício foram muito curiosas. Como toda técnica inovadora, o mandala foi recebido com curiosidade, em ambiente de alegria e jovialidade e com um pouco de desconfiança.

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CRÔNICA Munidos de pincéis, tesouras, adesivos, papel e outros, as pessoas sentaram-se no chão, como alunos, e começaram a desenhar, pintar, recortar e colar. A expressão gráfica foi o modo de transmitir aos demais as intuições do grupo. A técnica do mandala permitiu passar da discussão de conceitos à expressão de intuições.

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Asamblea Internacional

4. O sonho de irm達os, leigos e leigas


DOCUMENTO DA ASSEMBLÉIA

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No coração do nosso sonho marista Como representantes de todas as Províncias e Distritos do mundo marista, Irmãos, Leigos e Leigas reunimo-nos em Mendes, Brasil, para participar da primeira Assembléia Internacional da Missão Marista. Ouvimos a voz do Senhor, as vozes das crianças, dos adolescentes e jovens e uns aos outros. Partilhamos nosso desejo profundo de trabalhar juntos para concretizar nossos sonhos. No centro desses sonhos, Jesus se revela como o filho de Maria e como o Senhor Ressuscitado.

Escutamos o poder de sua voz, revelando-se como o coração de nossa missão: escutem seu coração; escutem a voz de Deus falando dentro dele. Aqui está o centro; aqui está Jesus. Jesus está no coração de cada pessoa que escuta o seu chamado e responde. Nós o encontramos em nosso meio e em nossas comunidades. Alimentados pelo seu amor, experimentamos o desejo ardente que nos une, na paixão de servir e proclamar o Reino de Deus. Todos nós somos chamados à santidade. Como São Marcelino, que respondeu, seguimos a Cristo a exemplo Maria. Encantamo-nos pela imagem de Maria trazendo Jesus à vida, chamando-nos também a dar à luz Jesus, com ternura maternal. Em cada um de nós estão os olhos e ouvidos, pés e mãos, o coração de Jesus. Nós o contemplamos nos olhos das crianças, adolescentes e jovens, no rosto daqueles a quem atendemos em nossas obras educativas e sociais; ouvimos sua voz, no apelo daqueles que ainda não encontramos (Mt 25,34-40). O Cristo Redentor, desde o Corcovado, com seus braços abertos, envia-nos a abraçar todas as crianças, adolescentes e jovens, de todas as dioceses do mundo, segundo o sonho de Marcelino. Com Jesus no centro do nosso sonho e com a imagem de Champagnat carregando João Batista Montagne, imaginamos um futuro que integre os cinco elementos seguintes:

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DOCUMENTO DA ASSEMBLÉIA

1. UMA

REVOLUÇÃO DO CORAÇÃO: ABERTURA AO SOPRO DO ESPÍRITO Como Maristas, somos chamados a centrar apaixonadamente nossas vidas em Jesus Cristo, desenvolvendo uma Espiritualidade de seguimento. Inspirados por Maria, fazemos da convivência com as crianças e os jovens um espaço privilegiado para nos encontrarmos com Deus. Apóstolos do século XXI, realizamos nossa Missão, em novos areópagos. Nossas obras educacionais, sociais e comunidades inseridas são espaços sagrados para a conversão. Junto das crianças e dos jovens, ouvimos as suas necessidades, atendendo ao apelo de Deus. Sentimo-nos interpelados a centrar nossa Espiritualidade numa ação evangelizadora, libertadora e profética, respeitando as diferentes culturas. Nossa missão, formada e informada por nosso rico legado espiritual, exigirá experiências transformadoras que desenvolvam nossas vocações diferentes e complementares. Isso implicará: 1. Formação específica e conjunta para Irmãos e Leigos, em nível provincial, regional e internacional. 2. Desenvolvimento de novos recursos e partilha daqueles já existentes para apoiar atividades e programas de formação, especialmente nas áreas mais necessitadas do nosso Instituto. 3. Estudo do patrimônio espiritual marista, através dos documentos do Instituto e da Igreja. 4. Promoção do diálogo ecumênico e inter-religioso. 5. Acompanhamento personalizado e discernimento vocacional para Irmãos e Leigos. 6. Criação de novos espaços de partilha, além dos existentes (como o Movimento Champagnat da Família Marista ou as Fraternidades Maristas), promotores do nosso modo de viver o Evangelho de Jesus, com sentido de pertença.

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2. MARISTAS

DE EM PARCERIA

CHAMPAGNAT

Como Maristas de Champagnat, acreditamos que Deus nos chama, homens e mulheres, a constituirmos parceria, a sermos corresponsáveis, com espírito de confiança, compreensão e respeito mútuo.

VOCAÇÃO 1. Cremos que Deus convoca os Irmãos e os Leigos, de modos diferentes, para seguir e partilhar o carisma de Marcelino, conforme suas vocações pessoais. 2. Sentimo-nos chamados a promover uma nova Pastoral Vocacional Marista partilhada e uma formação conjunta, para aprofundar nossa vocação comum e nossas vocações específicas. 3. Desejamos suscitar novas formas de associação e modos de pertença ao carisma marista, para que Irmãos e Leigos possam escutar o chamado para viver suas identidades. 4. Precisamos articular o futuro da vocação leiga marista e suas estruturas organizacionais.

MISSÃO 1. Somos chamados a trabalhar juntos para anunciar o Reino de Deus, de forma radical, a todas as crianças e jovens, em especial aos mais pobres, criando oportunidades para: ✔ a vida compartilhada; ✔ o desenvolvimento de novas formas de vida comunitária; ✔ o discernimento; ✔ a gestão; ✔ a tomada de decisão. 2. Precisamos criar estruturas e processos inéditos para fortalecer nossa corresponsabilidade, respeitando a diversidade, a tradição e os costumes das diversas culturas.

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DOCUMENTO DA ASSEMBLÉIA

3. Para partilhar a missão, importa que tomemos decisões conjuntas, criando novas instâncias de representação, em âmbito Provincial, Regional e de Administração geral. 4. Novos sistemas de comunicação internacional precisam ser estabelecidos, para promover comunhão e tomar conhecimento das diferentes experiências de missão compartilhada, de novos projetos e do trabalho em rede.

3. PRESENÇA

MARISTA NA EVANGELIZAÇÃO Como Irmãos, Leigas e Leigos Maristas, em parceria, declaramos que a evangelização constitui o centro e a prioridade de nossas ações apostólicas; como apóstolos anunciamos Jesus Cristo e sua mensagem. Por essa razão, sentimo-nos chamados por Deus para, audaciosamente: 1. Evangelizar, integrando fé e vida e promovendo o diálogo com as diferentes culturas e religiões. 2. Compreender e aprender das culturas juvenis e aplicar conteúdos e processos contemporâneos e, de modo especial, experiências de vida libertadoras e que dêem voz aos que não têm voz. 3. Comprometer-nos com nossa formação, em vista da educação transformadora dos jovens e das famílias, para que vivam e proclamem o Evangelho como agentes de mudança. 4. Promover os valores humanos e cristãos para a transformação social e a renovação de nossas obras, a fim de torná-las, evangelicamente, mais fecundas. 5. Assumir nossa inserção com os pobres e os excluídos, em todas as oportunidades. 6. Ser fermento e promover uma Igreja acolhedora, participativa, evangélica, profética e fraterna, dispostos a desenvolver e partilhar sua dimensão mariana. 7. Criar comunidades maristas de vida que, visível e significativamente, evangelizem por seu espírito de família e compromisso com a missão.

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4. EDUCAÇÃO MARISTA: NOVOS DESAFIOS Reconhecemos no documento Missão Educativa Marista um marco referencial necessário em nossa tarefa educativa. Agradecemos a dedicação de tantas pessoas, através da história marista, que nos inspira a responder às necessidades das crianças e jovens de hoje, em fidelidade criativa aos chamados de Deus.

Neste momento queremos enfatizar de maneira particular o direito à educação: uma educação evangelizadora, uma educação comprometida com a solidariedade e a transformação social, atenta às culturas e ao respeito do meio ambiente, uma educação sem discriminação, criadora de espaços para aqueles que dela carecem. Sentimo-nos chamados pelo Senhor a: 1. Completar o processo de avaliação de obras, em todo o Instituto, segundo os critérios da evangelização no centro educativo e do “Uso Evangélico de Bens”. 2. Transformar nossas obras educativas para que, Irmãos e Leigos, acompanhemos as nossas crianças e jovens, de maneira que cheguem a ser pessoas comprometidas na construção de uma sociedade mais justa e solidária. 3. Deslocar-nos, em número significativo, aos lugares onde vivem os excluídos, criando presenças educativas, onde não se respeita o direito à educação das crianças e jovens. 4. Promover o diálogo intercultural e inter-religioso, a partir do respeito, do crescimento mútuo e das relações de igualdade, entre as diferentes culturas e religiões. 5. Impulsionar um novo trabalho educativo que seja realizado em redes maristas, locais e internacionais, e com organizações governamentais, civis e eclesiais.

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DOCUMENTO DA ASSEMBLÉIA

5. DEFESA

E PROMOÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO JOVEM: DANDO VOZ AOS QUE NÃO TÊM VOZ Cremos que Deus nos chama a sermos voz forte, decidida e profética, na defesa e promoção dos direitos da criança e do jovem. Isso requer: 1. Garantir que os princípios da Doutrina Social da Igreja guiem nossas ações (estruturas, políticas e comportamentos). 2. Promover os Direitos Humanos, através de uma educação marista crítica, integral, solidária, inspirada no Evangelho, em todas as nossas obras e projetos. 3. Coragem para denunciar as estruturas sociais, econômicas, políticas, culturais e religiosas que oprimem as crianças e jovens. 4. Ser testemunhas pessoais, comunitárias e institucionais, na defesa dos seus direitos. 5. Abrir nossos corações aos clamores das crianças e jovens do nosso mundo e promover maior presença marista, nas regiões mais pobres, acompanhando os que estão marginalizados. 6. Favorecer nossos destinatários, crianças e jovens, com oportunidades para partilhar, participar nas decisões e exercer sua liderança. 7. Criar ou fortalecer as redes maristas de colaboração e de comunicação com a sociedade civil organizada, o poder legislativo, governos e instituições eclesiais, em nível local, nacional e internacional, respeitando a diversidade cultural. Mendes, 12/09/2007

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8 de setembro de 2007 CRÔNICA

A ASSEMBLÉIA COMEÇA A DELINEAR O FUTURO Caminhos NOVOS para irmãos e leigos Hoje, 8 de setembro, festa da Natividade de Maria, o dia começou com uma saudação muito especial a Maria. A festa do nascimento de Maria é, para muitos irmãos do Instituto, o aniversário de sua tomada de hábito, de sua primeira profissão ou de sua profissão perpétua. Vários irmãos lembraram o ramalhete de anos que o Senhor lhes concedeu de viver em sua casa. A oração da manhã foi feita em meio à natureza, como ontem, ao ritmo da música e todos de mãos dadas. Essa experiência foi repetida, em seguida, no início dos trabalhos da Assembléia. “Foi uma experiência que fez descobrir Deus e conhecer o próprio corpo; ensinou-me a vê-lo de modo muito positivo e a pedir ao Senhor para que saiba colocá-lo a serviço e a favor dos outros. As pessoas que estavam a meu lado seguraram minhas mãos eDidascalia assim tive dellaconsciência foto de da queinserire estava qui em dellacontato lunghezzacom os demais.diCaminhava de olhos quattro o cinque righe, fechados porque o apoio grazie. tinha Didascalia della dos foto outros, segurando-me Foi uma exda inserire quipela dellamão. lunghezza periência de louvor a di quattro o cinqueconstante righe. Deus. Senti-me muito bem”. Aprecio muito a música e a dança, de modo que fechei logo os olhos e comecei a dançar. Senti muita paz, muita alegria e gostei de embalar-me com a músi-

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CRÔNICA ca; diverti-me, senti-me feliz. Recapitulei toda a minha história, toda minha vida, meus sonhos, minha família e meus amigos. Em determinado momento, perdi a concentração e pisei no companheiro ao lado. Lembrei então os momentos de minha vida em que ofendi a outros ou lhes fiz mal. Isso não me desanimou; ao contrário, animei-me com os passos pra frente que a música pedia. Encheume de paz.”

A demorada tarefa do mandala O trabalho de construir o mandala foi a grande tarefa desta assembléia. O recurso metodológico conduziu os participantes, de síntese em síntese, para uma convergência do pensamento. Mas era necessário manifestar o que se sente e pensa, ante toda a assembléia, para dar a conhecer, para partilhar e entrar em comunhão com os outros. A Comissão preparatória encami nhou uma proposta de trabalho para descobrir a história que está por trás do mandala, construído em grupos, no dia de ontem. No final da elaboração do mandala, também fora pedido a cada grupo para que propusesse a idéia que poderia constituir o centro do mandala coletivo a ser construído, hoje. A partilha dessas idéias ocupou a primeira etapa desta manhã. Houve uma grande coincidência embora com acentos diversos: Falou-se de Jesus e de Montagne; não de um Jesus qualquer, mas de Jesus de NaJunho 2008

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8 de setembro de 2007 CRÔNICA zaré, o Jesus histórico e libertador, o Jesus das bem-aventuranças que envia seu Espírito e nos dá forças para a missão. Outros ainda destacaram que Jesus, no centro, é nossa paixão, paixão por Cristo e pela humanidade. Num segundo trabalho, bastante longo, os participantes tentaram complementar o centro do mandala, respondendo à pergunta: Para que nos chama o Senhor? Tratava-se de descobrir as grandes orientações para o futuro dos maristas, de escutar e verbalizar os chamados do Senhor, no presente e para o futuro. Todo o esforço coletivo convergiu para a celebração litúrgica da tarde, ecoando a riqueza que o Senhor manifesta na vida desta Assembléia.

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10 de setembro de 2007 CRÔNICA

A ASSEMBLÉIA CENTRADA EM CINCO LINHAS DE REFLEXÃO Primeira versão das conclusões da Assembléia A Comissão organizadora, em vista da visita ao Rio de Janeiro, propôs um ritmo de trabalho bem concreto. A elaboração do mandala fora útil para todos, ajudando os participantes a se entrosarem e conhecerem; estava prevista uma partilha sobre o que traziam de seus lugares de origem. Durante a reflexão que requereu a elaboração do mandala, pouco a pouco afloraram os temas de fundo e não foi possível que todos falassem sobre as próprias experiências. Foi dia de atividade intensa.

Cinco pilares fundamentais A Comissão preparatória não foi à excursão do Rio de Janeiro. Aproveitou o domingo para, reunida, programar os trabalhos da Assembléia. Alguns participantes notaram a ausência, durante esse dia de descanso. A Comissão pôs sobre a mesa cinco grandes temas que foram despontando em numerosas intervenções, nos últimos dias 1. Espiritualidade e conversão. 2. Novas relações entre irmãos e leigos. 3. Educação para todos. 4. Defesa dos direitos das crianças e jovens.

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10 de setembro de 2007 CRÔNICA

5. Evangelização das crianças e jovens. O método foi modificado. Hoje, cada um dos participantes pôde expressar, por escrito, suas idéias e sentimentos, sobre os cinco temas. Em cinco salas, as paredes foram cobertas com papel para que cada um pudesse escrever suas reações sobre os diversos temas, sendo anotadas, em seguida, por dois secretários. O trabalho seguinte foi realizado em grupos lingüísticos. Cada um dos temas propostos foi entregue a dois grupos lingüísticos distintos, para realizarem, independentemente, a síntese do recolhido nos murais e, depois, elaborarem, juntos, um texto comum. Tudo passou pelo filtro da assembléia. Assim aconteceu hoje com os dois primeiros temas estudados na assembléia geral: Educação para todos e direitos das

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CRÔNICA crianças. Cada participante recebeu um papel para indicar sua concordância ou discordância, frente às propostas apresentadas, e propor livremente algumas observações ao texto. Estas observações recolhidas foram entregues aos redatores finais do texto de cada um dos cinco temas estudados, hoje.

Indicadores do caminho No final do dia, dois temas foram submetidos ao filtro da assembléia geral. No dia seguinte serão estudados os outros três temas, além daquilo que a Assembléia considerou como “centro” e “coração” da missão marista. O dia 10 de setembro foi um dia extenuante. Depois da janta, ainda havia pequenos grupos reunidos, em redor de um coordenador, para concluir a tarefa do dia.

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11 de setembro de 2007 CRÔNICA

ALINHAM-SE AS CONTRIBUIÇÕES DA ASSEMBLÉIA AO INSTITUTO Reta final do trabalho de grupos Hoje, dia 11 de setembro, tivemos outro dia de trabalho intensivo, na Assembléia. Havia três temas pendentes do dia anterior. A metodologia será a mesma dos temas anteriores: exposição do grupo, esclarecimentos e observações por escrito. Os temas trabalhados no dia de ontem faziam referência à mudança de atitudes interiores e a nova relação entre irmãos e leigos. Por fim, são expostas na Assembléia as idéias elaboradas pelo grupo que redigiu as contribuições dos participantes da Assembléia, para determinar o centro do mandala. Este texto recebeu uma reação muito favorável na assembléia. Algumas observações escritas, feitas na apresentação, deverão ser consideradas. Didascalia della foto

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CRÔNICA

Estou impressionado com a generosidade e a humildade dos participantes desta Assembléia. Tenho grande esperança de que, apesar da imensa tarefa que temos diante de nós, irmãos e membros do laicato marista estreitaremos intensamente nossos vínculos, no chamado e na missão. Essa união fortalecerá nosso trabalho; e nosso trabalho conjunto fortalecerá nossa união. Vincent Andiorio, USA

Trabalho por regiões O restante do dia foi dedicado a analisar e a partilhar as implicações que traz, para cada região do Instituto, tudo o que foi refletido e vivido, durante a Assembléia. A distribuição, para o trabalho, foi assim: Ásia, África, Pacífico, Europa, Arco Norte, Cone Sul e Brasil.

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5. Comprometidos com a Miss達o Marista


Discurso de encerramento da Assembléia Internacional da Missão Marista Mendes, 12 de setembro de 2007

Ir. Seán D. Sammon

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o final de agosto de 1964, um pastor batista de 34 anos de idade, Martin Luther King Jr., subiu os degraus do Lincoln Memorial em Washington, DC e fez um pronunciamento que a partir desse dia ficaria famoso como o discurso “Eu tenho um sonho” (I have a dream). Em um país profundamente dividido por conflitos raciais e preconceitos, esse jovem afro-americano ousou vislumbrar um mundo de justiça e harmonia racial. Ele anunciou a todos que havia sonhado com a Terra Prometida: um futuro em que todas as crianças, negras, brancas ou mestiças, uniriam suas mãos como irmãs e todas então gritariam: “Livres afinal”.

Menos de quatro anos depois, Martin Luther King foi morto, vítima de uma bala assassina. Sonhar é uma coisa, mas realizar os sonhos é outra completamente diferente. Todo sonho cobra um preço para se tornar realidade. King pagou o seu com a própria vida. Mas ele não tinha escolha, porque sabia muito bem que um sonho não realizado é mera fantasia ou ilusão.

Marcelino também tinha um sonho: o de levar a Palavra de Deus às crianças do campo sem instrução. Elas eram pobres, analfabetas e viviam em meio ao período conturbado da revolução que incendiou a Europa na transição do século XVIII para o XIX. A vida de Marcelino parecia, de muitas maneiras, com a das crianças e jovens que ele se dispôs a servir. Nascido quando estourava a Revolução Francesa de 1789, o Fundador cresceu durante a época em que a educação primária se encontrava em ruínas. Quem escolhia ser professor geralmente o fazia por falta de alternativas. Muitos desses “mestres-escolas” eram violentos, bêbados ou levavam vidas escandalosas. Com sua fé em Deus e confian-

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discurso de encerramento Ir. Seán Sammon

ça em Maria, e valendo-se do que hoje denominamos ‘cristianismo prático’, o Fundador deu vida a seu sonho. Ele era ousado e tinha coragem para correr riscos. Em verdade, ele soube ler os sinais de seu tempo e, inspirado pela fé, sem hesitação ou demora, ofereceu uma resposta filipina como eu, casada inovadora e criativa.

Para uma e com cinco filhos, a oportunidade de participar da Assembléia e contribuir na configuração do futuro marista, foi um verdadeiro privilégio. Impressionou-me vivamente a apresentação das crianças que representavam as diversas partes do mundo, e entre elas estava René Anga, da etnia dos badjao (ciganos do mar) das Filipinas. Isso me confirmava que os maristas das Filipinas estão fazendo o que pedia São Marcelino Champagnat a seus irmãos, isto é, amar e educar as crianças, especialmente as pobres. Em meu íntimo sentia orgulho de fazer parte da família marista e de estar comprometida com o que o fundador sonhou para nós. Depois, quando me coube falar sobre os serviços de extensão comunitária, que realizamos na Universidade ‘Notre Dame of Dadiangas’, pude perceber no interessse dos participantes que nós, irmãos e leigos maristas das Filipinas, realmente damos uma resposta às necessidades do nosso tempo. Em toda ocasião percebia que o Senhor Jesus, a Mãe Maria e São Marcelino estavam presentes na Assembléia. Notava-o, quando via os participantes partilharem suas idéias com mútuo entendimento, apesar da diversidade de línguas. Constitui para mim uma verdadeira honra pertencer à família marista Champagnat.

Virginia C. Manalo, Província das Filipinas

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Ao longo destes dias de convivência, aprendemos algo sobre o nosso sonho coletivo e também sobre os nossos sonhos pessoais. Dois temas freqüentaram nossas discussões nos últimos dez dias. Um foi o da Missão Marista, o outro o da parceria Marista. Como tímidos adolescentes em seu primeiro baile, no começo os dois ficaram afastados um do outro. Logo, porém, começaram a se aproximar e a dançar juntos. Os passos iniciais foram graciosos, às vezes até refinados. Mas, em alguns momentos, desajeitadamente se esbarraram e chegaram a tropeçar. Isso nos serviu de alerta para as tarefas que teríamos pela frente. Realizamos um belíssimo trabalho ao logo desses dias. Partilhamos oração e fé, ouvimos a Palavra de Deus e as vozes das crianças e dos jovens, empenhamo-nos em traduzir em palavras nossos sonhos e esperanças e fomos sinceros acerca de nossos temores e preocupações. Um dos aspectos mais importantes desta Assembléia Internacional da Missão Marista, entretanto, foi a alegria do encontro e a oportunidade de nos conhecer. Nesse processo, descobrimos que temos muito mais convergências do que divergências. De fato, constituímos um grupo de pessoas seguindo a mesma direção, homens e mulheres que partilham um desejo vivo de dizer às crianças e aos jovens o quanto Jesus os ama. Esses dias também propiciaram a experiência da vida comunitária. O tempo foi pouco? Pode ser. Mas, foi um tempo, em âmbito internacional e transcultural, em


que pudemos — Irmãos, Leigas e Leigos — partilhar, elaborar sínteses, promover consenso e assumir em grupo as tarefas de organizar e operacionalizar a programação desses dias, isto é, fomos co-responsáveis. Poderíamos ter feito mais? Claro que sim. Poderíamos ter organizado esses dias de outra maneira? Sem dúvida. No entanto, nós fizemos desse jeito e estamos orgulhosos dos resultados que atingimos juntos. Devemos admitir, entretanto, que temos muito trabalho pela frente. Com efeito, esta Assembléia Internacional da Missão Marista representa apenas mais uma etapa, ainda que importante, do processo de renovação em que nos empenhamos há quatro décadas. Muitas reuniões pavimentaram o caminho até Mendes. Cada uma teve participação decisiva no processo. Contudo, as etapas que enfrentaremos depois de sair daqui serão igualmente importantes, talvez mais. Por que isso nos surpreenderia? Afinal, vivemos um dos três períodos de grande transformação na história da Igreja. O falecido jesuíta Karl Rahner nos recorda que a primeira grande transição na história da cristandade ocorreu quando o judaísmo se tornou cristianis-

mo judeu. Essa mudança aconteceu logo depois da morte de Cristo. Alimentos antes considerados proibidos para os judeus passaram a ser abençoados e declarados limpos, a circuncisão foi abandonada e os gentios sentiram-se bem acolhidos nas primeiras comunidades cristãs. A segunda grande mudança teve lugar quando o cristianismo judeu saiu de sua circunscrição local na Palestina e se espalhou por todo o mundo

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discurso de encerramento Ir. Seán Sammon

então conhecido. Roma, não Jerusalém, passou a ser o centro de referência, e o pensamento helênico foi adotado como a influência fundamental na formulação da doutrina. Rahner sugere que vivemos hoje a terceira grande transição do cristianismo, à medida que nos tornamos uma Igreja verdadeiramente universal. Nós mesmos constituímos uma geração em transição em meio a esse movimento. Somos responsáveis por tornar o futuro viável para a próxima geração, mais até do que para a nossa. A vida e a missão de Moisés servem de bom exemplo neste caso. Sabemos que esse grande líder libertou o povo judeu do Egito e o conduziu através do deserto rumo à Terra Prometida. O que esquecemos, contudo, é que ele não conseguiu chegar a Canaã. Morreu nas montanhas antes de atingi-la. Podia avistá-la, mas não pisou o seu chão. Somos os líderes da atual transição, e alguns de nós nunca colheremos plenamente os frutos do nosso trabalho. No entanto, precisamos fazê-lo para que um novo tempo possa renascer para nosso Instituto e nossa Igreja. Portanto, além de considerar o trabalho que resultará de cada uma das cinco declarações aqui emitidas, precisamos assumir outros compromissos. O primeiro é o da conversão pessoal. Como bem disseram Francisco e Luís André sábado passado: depois de tudo o que foi dito e feito, uma transformação profunda de coração passará a ser fundamental, tendo em vista a renovação da missão ou uma nova concepção de parceria. Conseguir isso, porém, será um desafio. Como o jovem rico do Evangelho, muitas vezes relutamos em deixar o que nos dá segurança, para permitir que o Senhor aja em nós e transforme nossas vidas. O segundo é o de continuarmos a trabalhar para definir com mais clareza o que de fato significa Identidade, sendo mais específicos a respeito das diferentes identidades que constituem a Missão e a Parceria Marista. Não há respostas fáceis nesse caso, pois nos refe-

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rimos precisamente aos elementos que dão sentido às nossas próprias vidas. O terceiro é o de sermos bastante explícitos a respeito do que se entende por Missão e de chegarmos a um consenso sobre a definição de Evangelização Marista. Não há senão uma missão: a missão da Igreja de anunciar o Reino de Deus e de sua imanência. O que isso significa, entretanto, especificamente em nosso contexto Marista? Como parte dessa reflexão, é igualmente importante esclarecer a quem Marcelino estava se referindo quando escreveu e falou sobre as crianças e os jovens pobres. Trazer à tona essa questão não significa criticar muitas das nossas obras atuais. Não obstante, o sentido da palavra pobre ganhou tamanha abrangência em nosso meio que se tornou irreconhecível.

apropriar delas em abundância quando partirmos, levando as notícias desta Assembléia para quem ficou à nossa espera e começar a pensar nos próximos passos de nossa peregrinação. Vamos rezar por nossa Igreja e nosso Instituto, pedindo a generosidade de Maria ao acolher a vontade de Deus e um coração generoso como o do Fundador. Somos os portadores de um legado sagrado: o de evangelizar os pobres e os jovens. No momento atual de nossa história, somos abençoados com a possibilidade de realizar essa missão como parceiros. Como Martin Luther King Jr., vislumbramos a Terra Prometida. Deixando de lado o que infelizmente possa ter nos separado no passado, e assumindo nossas próprias identidades, oremos para que possamos ser o que se espera de nós: o Povo de Deus, Irmãos, Leigos e Leigas comprometidos com o carisma de Marcelino Champagnat e mensageiros da Boa-Nova de Deus.

A realização dessas tarefas implica desenvolver um novo vocabulário e não hesitar em criar novas estruturas quando for o caso. Uma linguagem e um tipo de organização efetivos no passado podem, muito bem, ser ineficazes para a execução da tarefa que precisamos empreender daqui para frente. Exercitemos nossa imaginação e façamos uso dos meios necessários para realizar o nosso trabalho. Temos à disposição muitos recursos para nos ajudar nesse trabalho: a palavra de Deus e quase duzentos anos de experiência; o testemunho das vidas de tantas pessoas envolvidas nesse movimento – Irmãos, Leigas e Leigos; as nossas Constituições Maristas, publicações como a Missão Educativa Marista e Água da Rocha, circulares e outros documentos do Instituto, escritos ao longo de sua história; nossa fé e nosso amor por esse Carisma, oferecido à Igreja por aquele padre simples, coadjutor em La Valla; bem como a nossa vontade de transformar as vidas dos jovens. Portanto, mãos à obra. Saindo de Mendes, lembrem-se de que o Espírito Santo, tão vivo em Marcelino, seguirá conosco. E não se esqueçam de que as qualidades mais frequentemente associadas com o Espírito são o fogo e a paixão. Precisamos nos

Assim, assumindo nosso protagonismo, finalmente realizaremos a prometida libertação dos filhos de Deus, de mãos dadas com as crianças negras, brancas e mestiças mencionadas por Martin Luther King Jr., e exclamaremos em uníssono com elas: “Livres afinal, livres afinal. Agradecemos ao Deus Todo-poderoso, nós somos livres afinal”. Muito obrigado.

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Mendes:

O início de uma travessia! Mendes, 12 de setembro de 2007

Dilma Alves Rodrigues

O

escritor brasileiro, Guimarães Rosa, disse que “o real, não está na chegada nem na saída. Ele se apresenta para nós é no meio da travessia”. Mendes foi, em muitos aspectos, o início de uma grande travessia para o Instituto Marista. Uma travessia que nos convida a todos e todas, Irmãos, Leigas e Leigos, a um discernimento sobre os sonhos de Deus para nós, maristas no mundo inteiro.

Chegamos a Mendes, vindos de diferentes esquinas do mundo, terras distantes, culturas distintas, estilos de vida diversos, mas todos e todas movidos/as por um só coração, uma missão. Entretanto, não tínhamos clareza do quanto esse passo inicial da travessia seria um marco, um divisor de águas na vida dos seguidores e seguidoras de Champagnat. O primeiro passo da travessia nos colocou diante da realidade mais rica e mais complexa do nosso Instituto. Somos unos e diversos, faces distintas de uma mesma moeda. Essa é a nossa riqueza e a nossa fraqueza, em diversos momentos da nossa história. É o que nos faz avançar decididamente e, talvez, o que nos faz reduzir o ritmo da marcha em alguns contextos e tempos históricos. Iniciamos a Assembléia vivendo e convivendo com um grupo de crianças e adolescentes de S. Vicente de Minas, encarnando no nosso meio a vida e a voz das crianças e adolescentes que são os destinatários da nossa atenção, amor, cuidado e intervenção educativa nos cinco continentes, nos mais diversos contextos. Sabemos que a presença e atuação daquelas crianças e adolescentes nos questionaram de forma radical e a cada um/uma de nós esse questionamento trouxe inquietações e esperanças sobre o nosso futuro comum e diverso. As partilhas de experiências que vieram depois nos deram respostas de

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como aqui e ali, em diferentes regiões do mundo, estão sendo engendradas respostas concretas e criativas às questões que a realidade nos apresenta. É o real no meio da travessia. Mas o mosaico das experiências apresentadas nos revelava a fotografia de trajetórias distintas, definidas, alicerçadas em mundos diferenciados. Até então estávamos todos resguardados em nossas diferenças, no jeito de ser e de fazer. Parecia que estávamos dispostos a fazer a travessia cada um/uma a seu modo, tempo e convicções. O que nos moveria uns/umas em direção ao coração dos/das outros/outras? Algo deveria nos provocar no âmago das nossas diferenças e de nossas semelhanças. Algo que fosse estranho a muitas culturas e estilos de ser e de fazer, de pensar e de atuar. A esse ponto da travessia fomos introduzidos ao mundo das mandalas! As mandalas nos fascinaram, nos inquietaram, nos questionaram e, sobretudo, nos desinstalaram. De repente, as barreiras geográficas, culturais, de gênero e de geração, pareciam não existir. Éramos homens e mulheres, Irmãos, Leigas e Leigos, buscando as mesmas conecções numa simbologia que por mais estranha que fosse, nos remetia a uma construção de sentido para entender a nossa história, a relação com o sagrado, com as nossas raízes e tradições, com a nossa missão. A travessia agora era comunitária. A Assembléia estava instalada! O percurso proporcionado a partir da vivência com as mandalas definiu os novos rumos e ritmos para marcharmos em travessia. Demolimos algumas barreiras pessoais e construímos pontes para dialogarmos com as nossas mais profundas diferenças. Precisávamos ainda nos deter em aspectos fundantes da nossa identidade de Irmãos, Leigas e Leigos, refletir a nossa vocação comum e diferenciada, perscrutar o futuro! A essa altura fizemos uma parada para ver mais de perto o Rio de Janeiro. Fomos acolhidos pelo Cristo Redentor que de braços abertos nos interpelava, mais uma vez, a concretizar o sonho de Champagnat “em todas as dioceses do mundo”. A travessia a partir desse momento precisava ser cuidadosa o suficiente para recolher a riqueza de

significados revelada na vivência com os mandalas e, ao mesmo, tempo nos permitir dialogar com as nossas convicções pessoais e comunitárias. Precisávamos refletir mais profundamente a nossa identidade marista e conhecer os sonhos de Deus para o nosso futuro comum. Enquanto Comissão Preparatória pensamos longamente como ajustar a rota da travessia para não perder o foco e equilibrar os movimentos pessoais e comunitários. Foi um discernimento difícil que resultou em escolhas adequadas para se conquistar os resultados desejados. As opções metodológicas nos levaram a transitar entre percursos pessoais e diálogos comunitários de forma co-responsável. A travessia se deu em tempos, ritmos e compassos diferenciados tanto no nível pessoal como nos pequenos grupos. O diálogo nem sempre foi fácil, mas a postura paciente e amorosa de todos/as participantes e a disposição para viver a travessia de forma articulada e corajosa foi um belíssimo testemunho para as Províncias e Distritos no mundo inteiro. Uma inspiração a ser seguida! Os apelos do Espírito foram percebidos de forma intensa e significativa em diversos momentos. O documento final: Levando a Missão Adiante no Coração do Nosso Sonho Marista, revela o

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O início de uma travessia! Dilma Alves Rodrigues

pensamento de todos/as representantes sobre cinco elementos e temáticas que estão na centralidade da nossa missão. Os percursos metodológicos permitiram emergir o que trazíamos no coração a partir do que foi vivido nas fases preparatórias, em nossas Províncias e Distritos ao redor do mundo. Mas permitiram, sobretudo, um amadurecimento dessas temáticas no diálogo estabelecido nos pequenos grupos, convergindo para o sonho de Deus para nós! Fomos chamados a fazer uma revolução do coração nos abrindo cada vez mais ao Sopro do Espírito para explorar os vários significados das nossas vocações diferentes e complementares, Irmãos, Leigas e Leigos, Maristas de Champagnat, vivendo e atuando em parceria na articulação do futuro da nossa missão. Discernimos sobre a presença marista na evangelização. Como apóstolos de Jesus Cristo, somos interpelados a anunciá-lo de forma inequívoca e decidida. Isso requer uma mudança radical no nosso coração. Mais uma vez constatamos, com alegria e esperança, a nossa missão de educadores e educadoras. Deus nos pede audácia para enfrentar os novos desafios colocados nos terrenos da Educação. Nessa dimensão um longo caminho nos espera ao empreendermos a nossa travessia. Pela primeira vez enfrentamos com mais clareza o chamado para nos colocarmos enquanto Instituto Internacional de forma corajosa a articulada na defesa e promoção dos direitos das crianças, adolescentes e jovens. Eles precisam de oportunidades para fazer ecoar as suas vozes. Não podemos adiar esse apelo! De novo, a travessia em muitos e diferentes aspectos, apenas se inicia. Estamos a caminho!

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Uma assembléia profética para o século XXI Mendes, 12 de setembro de 2007

Ir. Pau Fornells

A

cabo de voltar a Roma, procedente de Mendes (Brasil), e sintome um privilegiado por ter podido viver este acontecimento do Espírito para o mundo marista.

Sinto que não posso calar toda essa avalancha de dons que me foi concedida. Assim, rapidamente, partilho tudo o que experimento em meu coração e encorajo os demais delegados e delegadas a fazerem o mesmo. Partilhemos, uns com os outros, o que o Espírito suscitou em nós. O que mais me entusiasmou? O que me dá esperanças diante do futuro? 1. A certeza da presença do Espírito Santo em todos: ele foi o verdadeiro protagonista da assembléia. 2. A excepcional qualidade dos delegados e delegadas, leigos e irmãos, presentes na assembléia: sua alegria e entusiasmo de ser maristas, sua abertura, sua busca de comunhão, espírito profético, etc. Também a esperança de que contagiarão deste espírito suas realidades locais e provinciais. 3. A alegria de poder comprovar pela experiência que o carisma marista continua muito vivo em todas as regiões e culturas onde estamos presentes. Em nenhum momento se viveu em uma perspectiva pessimista, mas, pelo contrário, pôde-se perceber claramente uma injeção de vitalidade «nova» em todo o Instituto. 4. Falou-se muito de «NOVIDADE»: vinho novo em odres novos, ajudar a fazer surgir a aurora, a imagem da mulher que vai dar à luz, as naturais dores do parto que devemos saber viver na esperança, etc. 5. Experimentamos um forte apelo de Jesus à conversão do coração, de maneira pessoal e institucional. Saímos de lá mudados, revita-

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Uma assembléia profética para o século XXI Ir. Pau Fornells

lizados. Esta é a esperança. Acreditamos que, como assembléia, fomos um sinal significativo do que está acontecendo no coração do mundo marista, tanto no que se refere àquilo que tivemos a oportunidade de viver como também pelo documento elaborado. 6. Comprovamos com imensa alegria que o caminho iniciado há anos, de vida e missão compartilhada entre irmãos e leigos, é hoje uma realidade muito mais madura em todo o Instituto, respeitando os diferentes ritmos e a diversidade cultural dos 76 países nos quais estamos presentes. Já não falamos tanto de irmãos e leigos, mas de «Maristas de Champagnat». A assembléia mostrou-se convencida «de que o Espírito nos empurra por este caminho comum» (Escolhamos a vida, 29). Foi assim que a vivemos, marcando claramente o caminho na direção do futuro, isto é, uma vocação comum vivida em projetos de vida diferentes e complementares, compartilhando a vida: missão, espiritualidade, formação, etc. (Escolhamos a vida, 26). 7. Outra linha muito bem delineada pela assembléia foi o deslocamento que devemos continuar fazendo em nossa missão comum: o Espírito nos empurra na direção das crianças e dos jovens, especialmente os mais necessitados materialmente, assim como a transformação social de todas as nossas obras educativas, baseadas na justiça, na solidariedade e na defesa dos direitos das crianças e dos jovens. O Ir. Seán nos salientou muito claramente isso e a assembléia se sentiu especialmente tocada por este apelo desde o seu primeiro dia, quando as crianças e jovens brasileiros presentes nos ajudaram a nos sentirmos interpelados pela realidade mundial da infância e da juventude abandonada. 8. Houve uma grande convergência ao coração de nosso sonho marista, que acreditamos ser também o de Deus, e aos cinco grandes apelos que nos faz para prosseguirmos construindo o futuro da missão marista: a conversão pessoal e institucional, a vida e a missão compartilhadas como Maristas de Champagnat, uma educação marista libertadora e dirigida especialmente aos que carecem dela, a evangelização como uma prioridade e a defesa e a promoção dos direitos das crianças e dos jovens. 9. As reflexões subseqüentes, que foram feitas de acordo com as regiões e sobre os cinco grandes apelos, foram muito positivas e na mesma linha da assembléia, um prelúdio daquilo que pode ser o futuro em cada um desses lugares. A contribuição da África, foi principalmente aquela que fez vibrar toda a assembléia. 10. A riqueza da internacionalidade do carisma era uma coisa já sa-

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bida, porém pudemos comprová-la mais uma vez. Houve um avanço na abertura às diferentes maneiras de viver a vida marista no mundo. A reestruturação está ajudando à concretização deste processo e esta assembléia internacional foi um grande arranque, principalmente para os leigos. Percebe-se que não se pode voltar atrás, não podemos permanecer fechados em nossas barreiras provinciais e nacionais. Todos nós temos que aprender com todos. O Espírito se manifesta mais claramente na comunhão internacional. 11. Ao mesmo tempo, aparece uma grande sensibilidade para que seja respeitada a diversidade, dos diferentes ritmos de determinadas regiões e países, das tradições e costumes de cada cultura, etc. 12. Foi muito salientada a importância de compartilhar a vida, das experiências formativas vividas em comunidade, de criar espaços que possibilitem o desenvolvimento de diversas formas de vida comunitária (MCHFM e outras) , da busca da unidade e da comunhão acima das diferentes sensibilidades e ideologias. Somente a partir das experiências de vida e de missão compartilhada se conseguirá uma verdadeira formação, um verdadeiro discernimento e a força para enfrentar a novidade que nos pede o Espírito. 13. Houve uma clara consciência da complementaridade e reciprocidade das identidades de irmãos e leigos dentro da uma vocação marista comum. Nós temos necessidade uns dos outros. Os irmãos necessitam aprender com os leigos e vice-versa. Daí a necessidade de uma pastoral vocacional e de uma formação conjuntas, sem que para isso se neguem os processos formativos específicos. Falou-se também da riqueza das comunidades mistas de irmãos e leigos (existem 27 comunidades mistas presentes em 15 unidades administrativas), como uma possibilidade a mais de vida marista. 14 As presenças do Superior geral e de seu Conselho deram muitas esperanças de que as linhas de ação assinaladas nesta assembléia continuarão a se fortalecer e que no

próximo Capítulo geral elas poderão ser retomadas para serem aprofundadas, tornando-as viáveis no Instituto e em cada unidade administrativa. 15. A assembléia contribuiu a uma maior unidade do mundo marista. O senso de pertencer a ele é muito forte. Foi expressa com grande ênfase a necessidade de estabelecer redes de comunicação, de reflexão e de cooperação, para nos ajudarmos a vivermos estes apelos do Espírito. As estruturas regionais podem ajudar a isso, mas também é necessário criar redes interculturais e interlingüísticas. Estas coisas foram manifestadas de maneira muito forte pelos delegados e delegadas da América e da Oceania. 16. O êxito desta assembléia abre à possibilidade de novos passos para que sejam assentadas estruturas parecidas no âmbito provincial, regional e internacional. Também pode ser um primeiro passo para a articulação de um laicato marista, como foi pedido no documento elaborado.

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MENDES, 3-12 SETEMBRO 2007


lembranรงa

de

รกlbum


A FESTA NACIONAL DO BRASIL

Celebra-se, hoje, a festa nacional do Brasil. A palavra ‘Brasil’ provém do nome de uma árvore originária destas terras. Os irmãos têm uma presença já centenária, neste país. As obras maristas florescem sob o manto protetor da Nossa Senhora Aparecida. Os participantes da Assembléia agradeceram ao Senhor e à Boa Mãe as bênçãos derramadas sobre os brasileiros e a obra marista. A bandeira foi homenageada e escutou-se o hino nacional, na conclusão de uma das sessões da manhã. Na festa, após a janta, foi servida gentilmente a típica “caipirinha”

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7 DE SETEMBRO DE 2007 A ASSEMBLÉIA INTERNACIONAL DA MISSÃO MARISTA MERECEU UM HINO, composto pelo grupo “Kairoi”. A letra é reveladora: “Está em tuas mãos melhorar o mundo”. “Dá vida à tua missão”. “Semeador da boa-nova e da libertação para os que vivem oprimidos”... “e haverá vida nova no pulsar do teu coração.” A composição musical carece de ar triunfal ou militar. Não foi composta para ser cantada como ornato ou para dar solenidade a acontecimentos, mas para ritmar com o pulsar do coração; para ser cantarolada ao ritmo das ações mais simples do dia, como ato de comunhão com tudo e com todos os que estão ao redor. A convicção que se torna canção não necessita de imponência, mas se traduz em gesto amável. É melodia que convida à repetição, como um mantra a contemplar um sentimento profundo e suave: “um coração, uma missão”. Uma vez e outra alude à missão sem “amarras e sem condição”, à “festa da fraternidade” porque “não há fronteiras para o amor” ou para “estar junto às crianças”. É um hino que, interpretado em grupo, encerra uma proposta para a alma coletiva e recria um ambiente de oração partilhada. “Somos muitos a querer trilhar o sonho de Champagnat” e enquanto os pés avançam pelo caminho, entoa-se o mesmo canto, o canto de todos. Afinal, esta é uma das finalidades dos hinos: fazer brotar uma alma comum, sintonizada no mesmo ideal.

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VISITA AO RIO DE JANEIRO

O domingo, 9 de setembro, os participantes se deslocaram, em ônibus, ao Rio de Janeiro, para visitar o monumento do Cristo Redentor, no Corcovado, as lindas praias dessa cidade e a catedral. Os Irmãos da comunidade, os presidentes da associação de pais e professores e dos antigos alunos do Colégio São José deram boas-vindas aos visitantes e ofereceram-lhes uma refeição fraterna, brindando-os, em seguida, com uma manifestação folclórica local que incluía a “capoeira”. O Irmão Seán Sammon, Superior Geral, agradeceu com oportunas palavras e pousou para uma fotografia com os professores e alunos presentes. Todos voltaram felizes a Mendes. O dia foi encerrado com a eucaristia dominical, na qual foi celebrada a dimensão martirial do Instituto. Evidentemente, tiveram espaço privilegiado, nesta celebração de fé, os 47 irmãos mártires da Espanha, com a beatificação marcada para o dia 28 de outubro, em Roma.

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9 DE SETEMBRO DE 2007

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MAIS DE CEM MISSIONÁRIOS...

O Irmão Seán encerra a Assembléia internacional Na oração da manhã, colocou-se aos pés da Boa Mãe o documento que recolhe o resultado do trabalho, desses dias. Desta maneira deseja-se colocar sob a proteção de Maria os caminhos futuros que a Assembléia deverá percorrer para concretizar o sonho aqui concebido.

Fim dos trabalhos O documento final reúne os sonhos da Assembléia para avançar, nos próximos anos. Nele, estão contidos os principais chamados de Deus, da humanidade e do Instituto, percebidos pela Assembléia, nestes dias.

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12 DE SETEMBRO DE 2007

Relatório da reflexão realizada, por regiões No final da manhã, foram apresentados os relatórios feitos por grupos regionais, manifestando a grande riqueza e a diversidade que existem em todo o mundo marista. A Assembléia foi uma oportunidade para estreitar laços e abrir novas perspectivas para o futuro.

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...SÃO ENVIADOS A TODOS OS CONTINENTES

A Assembléia interroga o Conselho geral Os participantes tiveram a oportunidade de formular uma série de perguntas aos membros do Conselho geral, durante a primeira sessão da tarde. Praticamente todos os membros do Conselho intervieram para responder perguntas da assembléia. O Irmão Maurice Berquet discorreu sobre o programa do ‘Uso evangélico dos bens’, um mandato recebido do Capítulo geral, ao apresentar uma síntese das atividades desenvolvidas no Instituto, sob a coordenação do Secretariado criado para este fim. O Irmão Luís García Sobrado fez um comentário sobre a reestruturação, observando que ainda é cedo para ver os resultados, mas que já temos indicadores interessantes. Por exemplo: a África marista, antes da reestruturação, era liderada por irmãos não-africanos; hoje, todos os Superiores maiores são africanos. Também é certo que, com a reestruturação, as distâncias aumentaram e multiplicou-se a internacionalidade do Instituto. Sobre a influência da Assembléia internacional, para o futuro, o Irmão Emili Turú disse que o Conselho Geral ainda não decidiu nada. O tema será tratado na sessão plenária do Conselho geral, em janeiro de 2008. Entrementes, serão fornecidos alguns recursos e haverá uma publicação especial da FMS Mensagem.

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12 DE SETEMBRO DE 2007

Na Assembléia foi abordado o tema da formação dos irmãos e leigos. Houve quem perguntasse sobre a formação inicial a ser dada aos jovens irmãos. O Irmão Antônio Ramalho apresentou alguns critérios seguidos na formação inicial, em todo o Instituto. Irmão Seán Sammon - referindo-se à incidência que a Assembléia poderá ter no plano da animação do Instituto – falou das estruturas de animação, em que intervém diretamente o Conselho geral, citando como exemplo a reunião do Conselho geral ampliado, previsto para breve, com as Províncias da Europa. Está em pauta a pastoral vocacional, e certamente será objeto de uma reflexão, na Assembléia. Alguém observou que temos excelentes documentos no Instituto, e por que não são colocados em prática? O Irmão Théoneste Kalisa considerou que, em torno de um documento, suscita-se muita vida e entusiasmo, seja em sua elaboração, seja em sua aplicação; assim ocorreu nesta Assembléia. Por isso, agora, será preciso fazer chegar o documento à escola, às diretorias colegiadas, às reuniões de pais, à pastoral juvenil e outras tantas instâncias, para que gere vida. A uma pergunta sobre as forças e as fraquezas dos leigos maristas, hoje, o Irmão Pedro Herreros considerou que não é fácil responder, porque a realidade mundial é muito diversificada. Talvez seja necessária mais uma assembléia internacional. E falando sobre a atitude do Conselho, frente à pertença dos leigos ao Instituto, comentou que já existem muitas formas de vinculação, como o Movimento Champagnat da Família Marista. Na sala havia 14 membros deste Movimento. Novas formas de pertença ao Instituto poderão surgir da resposta vocacional que os leigos derem, no futuro. É longo o caminho a percorrer.

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ESPAÇO DE AGRADECIMENTO

A cerimônia de conclusão deu espaço a uma grande manifestação de gratidão e de felicitações a todos quantos tornaram possível o evento e seu excelente desenrolar. O Irmão Emili Turú e a Comissão que organizou o encontro ressaltaram o papel relevante exercido por várias instituições maristas, no desenvolvimento desta Assembléia. Em primeiro lugar, a UMBRASIL, sob a coordenação do Irmão Wagner. Em segundo lugar, a Província marista do Brasil CentroNorte, com seu Provincial que colocou à disposição da Assembléia, a casa de Mendes e uma equipe de irmãos e leigos muito eficiente. O próprio Ir. Claudino Falchetto esteve presente todos os dias, participando dos trabalhos. Foram reconhecidos como muito agradáveis e apropriados o local e os espaços de Mendes. Quando se pensou num lugar para a Assembléia, descartou-se a hipótese de um hotel, mas “estivemos em casa como num hotel”, disse o Irmão Turú, expressando agradecimento.

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12 DE SETEMBRO DE 2007

Sucessivamente, externou-se gratidão pelo trabalho dos tradutores, secretários, pessoal de apoio, saúde, reprografia e serviços de cozinha, lavanderia, limpeza, recepção e outros, destacando que “o Brasil é o paraíso dos detalhes”. O Irmão Seán Sammon, agradeceu o trabalho da Comissão preparatória, entregando uma lembrança para cada um dos integrantes. Finalmente, o anfitrião, Ir. Claudino Falchetto, assinalou que “no início da obra marista, no Brasil, Mendes recebeu muitos missionários; hoje, Mendes envia missionários, por todo o mundo, para difundir a missão marista”.

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MISSA DE ENCERRAMENTO

A celebração da missa marcou a conclusão deste acontecimento institucional, a Assembléia Internacional da Missão, e foi feita uma oração de envio dos novos missionários. Mais de uma centena de irmãos, leigos e leigas receberam o encargo de difundir aos quatro ventos o que tinham vivido e partilhado neste encontro. Um padre Marista presidira a celebração de quanto o Senhor realizou, ao longo desses dias. Cada um recebeu um denário simbólico com a responsabilidade de fazê-lo frutificar. O abraço da paz foi também o abraço de despedida. À noite, começou o retorno dos participantes a seus destinos. Todos carregavam, em sua bagagem, lembranças e, sobre tudo, um coração repleto de boas recordações, de rostos de pessoas que partilham um coração e uma missão.

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PARTICIPANTES

CONSELHO GERAL Ir. Luis García Sobrado Vigário Geral

Ir. Seán Sammon Superior Geral

Ir. Pedro Herreros Conselheiro Geral Érica Pegorer Comissão

Ir. John Y Tan Comissão

Dilma Alves Rodrigues Comissão

Ir. Emili Turú Conselheiro Geral

Chema Pèrez Soba Comissão Ir. Alphonse Balombe Comissão

l Anaya Ir. Juan Migue o sã is m Co

Ir. Pau Fornells Secretário leigos

COMISSÃO 120

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Ir. Antonio Ramalho Conselheiro Geral

Ir. Peter Rodney Conselheiro Geral

Ir. Théoneste Kalisa Conselheiro Geral

Ir. Maurice Berquet Conselheiro Geral

ÁFRICA

Samuelson Randriamampionona Madagascar

Ir. Johnson Oyereibe Nigéria

Ir. Thomas Randriamampionona Madagascar

Ir. Valentin Djawu África Centro-Leste

Julius Waritu África Centro-L este

Ir. John Kusi -Mensah D. África do Oeste

Ir. Emmanuel Mwanalirenji África Austral Timothy Num-Darkwa D. África do Oeste

Adrienne Egbers África Austral

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PARTICIPANTES

BRASIL

Francisco Magalhães D. Amazônia Sernizia de Araújo Correia D. Amazônia

Mana Souza Motta Brasil Centro-Norte

Adalgisa de Oliveira Gonçalves Brasil Centro-Sul

Ricardo Tesc arolo Brasil Centro -Sul

Ir. Francisco Pe reira Brasil Centro-N orte

é Ir. Luis Andr ira re Pe a lv da Si -Norte Brasil Centro

Ir. João do Prado Brasil Centro-Sul

Dilce Terezinha Corrêa Gonçalves Rio Grande do Sul

Ir. Dionísio Rodr igues Rio Grande do Sul ulart Alexander Go Sul Rio Grande do

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Ir. Robert Thunus Europa Centro-Oeste Frank Aumeier Europa Centro-Oeste

Pérez Juan Carlos Compostela

Felicísimo Pérez Fernández Compostela

Ir. Antonio Leal Compostela

César Maite Ballaz Ibérica

Annie Girka L’Hermitage

Ir. Andon i Gonzáles Flores Ibérica

Antzela Sestrin i L’Hermitage

Severino García de Pablo Ibérica

beles Ir. Miquel Cu e ag it L’Herm

E U R O PA Fernando l Toro ín m Do guez de a ne râ er it Med

Ir. Mario Meuti Mediterrânea

Ir. José Antoni o Rosa Lemus Mediterrânea

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PARTICIPANTES

OCEANIA

Ir. Mark Paul Melbourne

Kate Fogerty Melbourne Brian Shumacher Melbourne

Ir. David Hall Sydney wich Ir. Douglas Da ia nd lâ Ze va No

Carmel Luck Sydney

Ross Tarlinton Sydney

Alan Parker Nova Zelândia

Jeffrey Jude guistão Sri Lanka- Pa

ÁSIA

Joseph Chua China

Virginia Manalo Filipinas

Ir. Joe Peiris Sri Lanka- Paguistão

Romana Ye cyec Filipinas

a Ir. Crispin Betit Filipinas

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Ir. Thomas Chin China


Benedict Tooming D. Melanésia

Ernesto Reyes Santa Maria dos Andes

Ricardo Miño Santa Maria dos Andes tenegro Ir. Óscar Mon s Andes do Santa Maria

Ir. Johm Tukan D. Melané a sia

idobro Ir. Carlos Hu Sul do ro ei uz Cr

Kim Jubong D. Coréia

Mónica Linares Cruzeiro do Sul

Cristina Yapu ra Cruzeiro do Su l

CONE SUL

tez Obdulia Bení D. Paraguai

Ir. Juan Castro D. Coréia

Ir. Rubén Velázquez D. Paraguai

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PARTICIPANTES

Ana Villazón México Central

stañeda Guillermo Ca ntral Ce a ic ér Am

Ana Saborío América Central

aIr. Jean Denis Canadá

Ofelia Osuna tal México Ociden

Luis Carlos Gutié rrez América Centra l

Michel Beulac Canadá

Ir. Héctor Dessavre Dávila México Ocidental

Alejandro Mayoral México Ocidental

o Ulises Centen ral México Cent

Ir. Jorge Carbajal México Central

Vincent Andiorio Estados Unidos

Ir. Henry Hammer Estados Unidos

ARCO NORTE

Jair Ordónez Norandina

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Nelis Teresa Cubillán Norandina

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Ir. Landelino Ortego Norandina


CONVIDADOS

Colin Quine Facilitador Ir. Claudino Falchetto Provincial Brasil Centro-Norte

Sylvestre Padre marista

Ir. César Henríquez BIS Ir. Antonio Martínez Estaún Comunicação

TRADUTORES

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Hino - Kairoi

UM CORAÇÃO UMA MISSÃO


Sinta o ritmo do coração Esta festa que traz fraternidade Outro mundo é possível já Somos muitos querendo caminar Sob o sonho de Champagnat Peregrinos com mente universal Sem fronteiras para o amor Melhorar o mundo está em tuas mãos, Em tuas mãos, em tuas mãos, em tuas mãos. UM CORAÇÃO... UMA MISSÃO SEM ATADURAS, SEM CONDIÇÃO UM CORAÇÃO… UMA MISSÃO JUNTO ÀS CRIANÇAS BUSCANDO UM MUNDO MELHOR BUSCANDO UM MUNDO MELHOR EM TUAS MÃOS ESTÁ, EM TUAS MÃOS ESTÁ

UM CORAÇÃO... UMA MISSÃO SEM ATADURAS, SEM CONDIÇÃO UM CORAÇÃO… UMA MISSÃO JUNTO ÀS CRIANÇAS BUSCANDO UM MUNDO MELHOR MARISTAS DE CORAÇÃO EM TUAS MÃOS ESTÁ, EM TUAS MÃOS Dá mais vida à tua missão Semeador do evangelho em teu coração Boa nova e libertação Para aqueles que vivem oprimidos Juntos vamos acompanhar Gente jovem com força em suas lidas Dá mais vida à tua missão Melhorar o mundo está em tuas mãos, Em tuas mãos, em tuas mãos, em tuas mãos. Em tuas mãos está, em tuas mãos

UM CORAÇÃO... UMA MISSÃO SEM ATADURAS, SEM CONDIÇÃO UM CORAÇÃO… UMA MISSÃO JUNTO ÀS CRIANÇAS BUSCANDO UM MUNDO MELHOR MARISTAS DE CORAÇÃO EM TUAS MÃOS ESTÁ, EM TUAS MÃOS Sem ataduras, sem condição Um coração descerá do céu E nova vida virá com suas batidas Em tuas mãos está, é tua missão E com Maria, com decisão Comprometidos com o futuro Onde as crianças possam ser felizes Em tuas mãos está, é tua missão



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