Esse depoimento é orientado pela perspectiva de que Os homens fazem a sua história, seja lá como for que ela resulte, à medida que cada um persegue os seus próprios objetivos conscientemente intencionados, e os resultados dessas muitas vontades agindo em diferentes direções e os seus múltiplos efeitos no mundo exterior são, precisamente, a história. Trata-se, por conseguinte, também do que querem os muitos indivíduos. A vontade é determinada pela paixão ou pela reflexão. Mas as alavancas que, por sua vez, determinam imediatamente a paixão ou a reflexão, são de espécie muito diferentes [...]. Deve-se perguntar que forças motrizes estão, por sua vez, por trás dessas motivações, quais são as causas históricas que se transformam em tais motivações na cabeça dos que agem? (Engels, 1984: 476-477).
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de resistência e organização operária, na reafirmação pelo socialismo e a perspectiva da revolução, com mais vigor e adensamento na busca de um ponto de encontro entre compromissos de ordem política e compreensão teórica marxista. Assinalo que minha trajetória militante foi simultânea aos rumos profissionais e acadêmicos trilhados; práticas estas que se influenciaram mutuamente, todavia marcando contornos de diferenciação muito nítidos. Assumo a militância política a partir de 1969, período que se segue à decretação do Ato Institucional nº 5 – o AI-5 (de 13 de dezembro de 1968), momento em que a ditadura institucionaliza a repressão e violência policial-militar em todo seu alcance e poros do Estado, estendendo-se para a sociedade.
inha trajetória de militância política partidária situa-se nas tramas e implicações políticas e ideológicas que definiram a geração generosa dos anos 1960/1970, como expressa Gorender, particularizadas no contexto de constituição e crise da ditadura de 1964 e a posterior transição democrática. Uma inserção política que ultrapassava o combate à ditadura, inscrevendo-se em um projeto de revolução de caráter socialista. Entre o passado e o presente, ocorreram derrotas históricas que selaram e caíram com toda a sua força sobre aquela geração e as que se seguem. Para mim, resultou em prisão, tortura, condenação pelos tribunais militares, afastamento da família, deslocamento regional, quase um “exílio” na pátria. Mas, sobretudo, a inserção nas lutas
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maria rosângela Batistoni