Agenda 2019 - Assistentes Sociais no Combate ao Racismo

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Racismo

e exercício profissional de

assistentes sociais

“O que nós, assistentes sociais, temos a ver com o combate ao racismo?” Imaginamos que várias/os de nós possam estar respondendo a esse questionamento a partir da negação de sua pertinência: “no Brasil vivemos uma ‘democracia racial’. Somos ‘mestiços’ e nossa cultura é uma prova de que superamos o racismo”. Ou ainda: “Racismo é coisa do passado. Hoje temos uma série de políticas de reparação e até cotas raciais nas universidades públicas!”. Sem dúvida, o combate ao preconceito racial vem de longa data no Brasil e devemos reconhecer as vitórias obtidas nesse percurso como frutos de inúmeras lutas protagonizadas por entidades e organizações do movimento negro. Nesse campo, como em outros, a história nos ensina que não existem concessões. Existem conquistas. Mas isso não significa que já possamos abandonar as “fileiras” do combate. O racismo no Brasil é secular e se reproduz desde o período escravocrata, perpetuandose nas precárias condições de contratação e trabalho observadas ainda nos dias atuais. Para fazer esse combate, é preciso começar enxergando as manifestações do preconceito racial entre nós e nos nossos locais de trabalho. Esse é um

reconhecimento difícil, porque os/as usuários/as das instituições e serviços sociais com os quais trabalhamos nos chegam, em sua maioria, “classificados” a partir de suas demandas de classe, pois as políticas sociais existentes no Brasil, em seu modelo de proteção social restrito e seletivo, são pensadas para atender à classe trabalhadora que, na sua maioria, é negra e requer esses serviços em face de sua absoluta e degradante condição de expropriação. O racismo institucional que precisamos reconhecer se expressa, portanto, no fato de ser essa parcela da população que está submetida aos piores salários, a todo tipo de violência, moradias precárias, transporte público sem qualidade e falta de acesso ao conjunto de outros direitos sociais e humanos. Nesse sentido, cabe uma provocação: será que estamos imunes ao racismo? Será que assistentes sociais nunca reproduzem o preconceito racial no seu trabalho? Essas atitudes podem ser bem sutis e, por vezes, naturalizadas como parte de uma cultura institucional de “destrato” com as demandas da população usuária. Não é incomum que se parta do suposto de que usuários/ as das políticas públicas são “naturalmente” “desinformados/ as” e/ou “perigosos/as”. Por essa razão, qualquer atendimento, ainda que careça de qualidade, é um “favor”. Também não é incomum que se reproduzam análises


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