SP INFORMAÇÃO SETEMBRO 2012

v. 9, n. 3, ano 2012 | Julho - Agosto - Setembro

V

enha participar da VIII Jornada Gaúcha de Psicologia Hospitalar, nos dias 19 e 20 de outubro, cujo tema central é Perspectivas e Desafios em Psicologia da Saúde e Hospitalar.

Este evento é uma promoção do Comitê

Núcleo de SãoLeopoldo

de Psicologia da Saúde e Hospitalar da SPRGS e acontecerá no Auditório da Câmara de Vereadores de Porto Alegre (Av. Loureiro da Silva, 255). Entre os convidados contamos com as psicólogas Elaine Zanolia Dias de Souza (Presidente

da atual gestão SBPH/MG), Maria Alice Lustosa (Santa Casa de Misericórdia/RJ) e Renata Brasil Araujo (Hospital Psiquiátrico São Pedro/RS).

3ª Edição do Encontro de Políticas Públicas Intervenções Psicossociais e Políticas Públicas: Uma Reflexão Necessária 24 de novembro de 2012

Informativo da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul | 1

Editorial

A

Psicologia completa 50 anos. É uma ciência que lida com arte, desafios, angústias e sentimentos. Na atualidade ainda buscamos compreender e refletir sobre esses temas em nossos estudos e aprimoramentos. Isto é, embasamento para termos a certeza ou diminuir a incerteza de como cuidar de outro ser humano, seja em atendimento individual ou em escolas, hospitais, empresas e outras diversas modalidades em que a Psicologia pode ser aplicada.

A SPRGS, há mais de cinquenta anos busca unir os seus iguais por um bem comum. Foi fundada em 1º de julho de 1959 com o objetivo de promover o desenvolvimento da Psicologia, bem como promover o intercâmbio entre seus sócios, instituições afins e comunidade em atividades de sua competência.

Essa consolidada instituição é formada por profissionais que buscam o contato entre colegas de áreas iguais e/ou distintas.

Cada um é capaz de viver e exercer suas atividades do seu jeito dentro do seu local de trabalho, mas o que nos une é a troca, o compartilhar as ideias e as emoções que nos movem.

O nosso dia-a-dia é cercado de compromissos, de encontros e desencontros. Cabe aqui uma reflexão: o tempo tem passado cada vez mais rápido ou estamos vivendo em um momento no qual percebemos que o desacelerar faz bem. Se nós, os psicólogos, estamos refletindo acerca desse fato, o que pensam as

pessoas sobre isso? Será que esse pode ser um movimento que nos leve a um novo caminho? Ou será o caminho para um sofrimento de não se conseguir desacelerar? Tais ques­ tionamentos nos levam a perceber que as pessoas apresentam vontade e desejo de se conhecerem mais, de buscarem aquilo que ainda lhes é desconhecido. Buscam aliviar suas angústias, tensões e ansiedades. Talvez, por esse motivo, muitas pessoas continuam a buscar no profissional da Psicologia não só um momento de desabafo, mas sim de uma construção pessoal, na arte do conhecimento, na poesia das palavras, na música da transformação.

Fica, portanto, nossa homenagem a todos aqueles que passaram pela SPRGS, principalmente, aos sócios fundadores e a todos os sócios que fazem da Sociedade de Psicologia uma entidade representativa e de união.

Parabéns aos Psicólogos pela bela profissão!

27 de agosto Dia do Psicólogo Gabriela Ribeiro Filipouski Luciana Menezes de Azevedo

Novos Sócios Adriane Spessatto Aline Vieira Lorencetti Bárbara Cristina Steffen Rech Carolina Ribeiro Seabra Cláudia Zagonel Bender Daniela Maltz Raskin

Gloria Maria Garcia Dócolas Iara Cristina Schmidt Kátia Mottin Tedeschi Leatrice Velho Falcão Leila Luizi Grübel

Liliane Blomker Lucas de Lemos Abreu Marcelle Durli Marcon Maria de Fátima Zanetti Maria Helena da Luz Gregory

Mirtha Laura M. Párraga Naira Maria Scavone Paula Rosana Vettorello Pedro de Azevedo Zicca Rafaela Petroli Frizzo

Diretora do Exercício Profissional: Viviane L. Pickering Diretora Suplente 1: Gabriela Ribeiro Filipouski Diretora Suplente 2: Luciana Menezes de Azevedo

SP Informação Comissão Editorial: Luciana Menezes de Azevedo Gabriela Ribeiro Filipouski Revisão: Christianne Lemke

Projeto Gráfico: Grau Soluções Gráficas www.grausolucoes.com.br

Conselho Consultivo Deliberativo Fiscal - Gestão 2011/2013 Magda Medianeira de Mello Ana Paula Terra Machado Cícero A. G. de Pinho Antunes Helena Centeno Hintz Myrna Giron Eluza Maria Nardino Enck Tatiana Blochtein Mary Georgina Boeira da Silva Mazlowa Heck

Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul

Expediente DIRETORIA Presidente: Leonardo Della Pasqua Vice-Presidente: Diego Villas-Bôas da Rocha Diretora Administrativa: Norma T. de Oliveira Beck Diretora Científica: Tânia Rudnicki Diretora Financeira: Marilda Peres Diretora Sociocultural: Sonia Martins Sebenelo Diretora do Interior: Maria Aparecida da S. Brígido

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Rua Felipe Néri, 414/2ºandar Porto Alegre/RS CEP 90440-150 Fone/Fax: (51) 3331-8586 E-mail: secretaria@sprgs.org.br Site: www.sprgs.org.br Twitter: @sprgs Tiragem: 1000 exemplares Gráfica Calábria - 3245-7222

Os artigos e opiniões são de inteira responsabilidade dos autores.

Palavra do Presidente

F

echamos o 1º semestre de 2012 com dois grandes acontecimentos: o lançamento da revista Diaphora, em sua versão digital, e a realização do seminário “Disfunções Sexuais: das dores do corpo às dores da alma”. Essas atividades tiveram um sucesso e uma repercussão acima do que imaginávamos. A revista foi apoiada e parabenizada por inúmeras autoridades do meio acadêmico, em âmbito nacional e internacional. O seminário sobre a sexualidade alcançou visibilidade e teve um retorno para a SPRGS que enche de orgulho a gestão. Foi um sucesso científico, de público e financeiro! As energias empregadas na realização de tal tarefa foram amplamente recompensadas. Parabéns aos comitês de Sexualidade e Psicoterapia de Casal e Família pelo esforço e competência na organização do seminário!

Nosso 2º semestre está repleto de desafios. Temos pela frente a VIII Jornada Gaúcha de Psicologia Hospitalar: perspectivas e desafios em saúde – que acontecerá nos dias 19 e 20 de outubro de 2012; os concursos para o Prêmio Estudante e Prêmio Recém-Formado; e a realização de uma Assembléia Geral Extraordinária, tendo como pauta a reforma estatutária de nossa entidade. Nossa proposta de reforma do estatuto tem como destaques: a criação de uma nova diretoria, denominada

“Diretoria de Comunicação”, e a inclusão do já consolidado PEC – Programa de Estudos Continuados, atualmente sob a coordenação do psicólogo Alexandre Baldasso Schossler.

A nova diretoria se encarregará de todo o setor de comunicação da SPRGS, incluindo a divulgação de nossos eventos – dentro e fora da instituição, a promoção do trabalho de nossos sócios e o contato com os meios de comunicação, que constantemente nos procuram para participação em diferentes programas da mídia, em nível regional e nacional.

O Programa de Estudos Continuados é um importante órgão proponente e regulador dos cursos realizados na Sociedade, subordinado à Diretoria Científica. Excelente espaço de criação científica, o PEC é também uma das principais fontes de renda da Sociedade de Psicologia. Em breve, terei a honra de informar aos sócios a data e a pauta da Assembleia Geral, com deta­ lhes. Estamos trabalhando arduamente para realizarmos uma reforma estatutária consistente, que abranja as necessidades reais de nossa instituição. Contamos com a sua participação.

Um abraço afetuoso!

Leonardo Della Pasqua

Notícias

Reflexões sobre psicologia escolar Refletir, pensar e formular perguntas é uma prática diária no trabalho do psicólogo. No entanto, realizá-la com diferentes segmentos da comunidade significa ampliar a intervenção e promover o compromisso com a saúde mental.

Durante a Semana do Bebê, realizada, em Canela, no mês de maio, inúmeros profissionais de diferentes áreas colaboraram com a comunidade por meio de palestras, oficinas e cursos. Esta rede teve como objetivo promover ações relacionadas com a temática da saúde e da educação para bebês e famílias. Dentro deste universo de assuntos, coube ao Comitê de Psicologia e Educação desenvolver trabalhos em diferentes Escolas Municipais de Educação Infantil sobre os limites na infância, o perfil da professora de berçário, bem como a violência e

o abuso na família. No Seminário Internacional, o Comitê esteve presente por intermédio de palestra sobre os efeitos do vazio no vínculo mãe-bebê. Para a psicologia escolar, nestes tempos tão rápidos, incertos e complexos, a oportunidade da reflexão torna-se uma intervenção imprescindível para promoção de saúde mental nas relações. E foi assim que durante os trabalhos desenvolvidos, diversos grupos de professores e pais trocaram ideias e formularam questões acerca de inquietações e dúvidas sobre o comportamento das crianças. O objetivo do trabalho do psicólogo, com esta proposição, foi de fomentar a reflexão na busca de um acompanhamento empático, o que, segundo Furtado, é a possibilidade de se colocar no lugar do outro sem perder nossos referenciais.

Sendo assim, a Psicologia ultrapassa cada vez mais os muros da escola, configurando uma relação social com a educação. É nesta perspectiva que o Comitê desenvolve suas atividades, sempre na busca de práticas cada vez mais efetivas para a educação e prevenção em saúde mental.

Maria Fernanda Hennemann Comitê de Psicologia e Educação

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Interiorizando

Atividades em alta nos Núcleos do interior

N

o interior do Estado, os psicólogos estão se organizando e se mobilizando com atividades que implicam afirmação de identidade de classe.

Reunir-se para projetar, discutir, organizar atividades não se trata de tarefas a mais. Essas formas de encontros refletem o dinamismo, a criação e a manutenção de espaços para pensar a Psicologia de forma ampla, trazendo amadurecimento e muito bons resultados. É possível que dificuldades e, até mesmo, frustrações possam ocorrer. Entretanto, somos os profissionais que deveriam sempre estar atentos para os momentos e movimentos de buscar soluções pelo diálogo e reflexões junto aos pares.

Dessa forma, o Núcleo de Uruguaiana reuniu-se para oferecer aos sócios e interessados um curso sobre Sonhos e Cinema à Luz da Psicanálise, com o psicólogo Leonardo Della Pasqua, abrindo espaço discussão com colegas da Psicologia e interessados no tema cinema e psicanálise. Dentre os participantes desse encontro tivemos a presença do Cônsul da Argentina.

Após, ainda no propósito de ouvir e trocar opiniões com os pares, os sócios

debateram sobre como ser psicólogo na região. Muitas são as frentes de trabalho como realidade ou oportunidades.

Entretanto, em função de ser uma região de fronteira – vizinha da Argentina – decorre, além da diversidade cultural, social, também a situação de dificuldades em relação à saúde, quando o tema são as drogas e as carências da população.

A cidade de Uruguaiana tem em torno de 50 psicólogos e uma população, em 2008, de 127.138 habitantes.

Considerando essa realidade, foi feito um levantamento de pontos fortes e pontos fracos no cenário interno do Núcleo, bem como as ações que podem ser desenvolvidas para neutralizar as limitações e desenvolver ainda mais suas fortalezas. A realidade do Núcleo de Uruguaiana é ter um grupo de sócios comprometidos, que goste de se encontrar; colegas com experiência profissional que são incentivadores dos encontros e união de psicólogos na cidade. Na avaliação ficou evidente que fazer atividades com a participação da comunidade científica e com profissionais de diferentes espaços de atuação abre possibilidades de encaminhamentos, de conhecimentos, ou seja, abriu-se

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um fluxo de movimentação de troca de informações e possibilidades de melhorias para pacientes do hospital da rede pública e privada. Nesse sentido, são grandes as oportunidades.

De acordo com o que se presenciou, pessoas fora da Psicologia participam e buscam as atividades propostas como jornada, cursos e palestras. As colegas do Núcleo referiram o gosto pelo estudo, a persistência e a força de vontade como característica do grupo. Como projetos e metas foram estabelecidos: fortalecimento da identidade do Núcleo; divulgação em rádio e jornal; identificação das coordenações para comitês e convites aos psicólogos visando ampliar o número de sócios. Dentre as dificuldades apontadas pelo grupo, destacou-se a distância em relação à capital e às cidades vizinhas, onerando financeiramente as atividades.

Maria Aparecida da Silveira Brígido Diretora do Interior

Espaço Científico

Psicologia e Assistência Social – um encontro cheio de possibilidades

“A

inserção do(a) psicólogo(a) na políticas públicas cresceu muito nos últimos dez anos.

Essa atuação foi acompanhada pela construção, na Psicologia, do compromisso social, com a participação de psicólogos e psicólogas de todo País” (Cartilha CFESS e CFP, 2007). Considerando a afirmação gostaríamos de contribuir com alguns elementos para suscitar a reflexão acerca da Política de Assistência Social e da atuação do psicólogo (a) na mesma. Podemos afirmar que esta política pública está em transformação e passa por um momento histórico, pois, após muitos anos de lutas, hoje vivemos a implantação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Esta implantação exige que, nós, psicólogos, busquemos compreender e contribuir para este processo que está em curso na sociedade brasileira. O lugar da qual estou falando é de uma psicóloga que iniciou sua trajetória como trabalhadora da Assistência Social em 2005, quando o SUAS ainda consistia em uma intenção do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e estava materializado apenas em normativas e publicações.

Ao ingressar na Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC), órgão gestor

desta Política em Porto Alegre, as questões sobre qual contribuição a psicologia poderia oferecer naquele contexto surgiram e se multiplicaram diante de mim. Passados mais de sete anos deste primeiro momento, tenho clareza de que aprendi muito e de que também contribuí muito dentro deste fazer, mas ainda sinto-me inquieta e desejosa de que os psicólogos (as) como classe profissional, possam avançar na construção de sua prática profissional dentro da Política de Assistência Social. Neste sentido, minha intenção com este texto é de trazer alguns elementos que possam aproximar mais colegas, estudantes e profissionais,

“O profissional que pretende atuar neste campo precisa ter clareza de que esta relação, Estado/sociedade, é permeada por tensões e disputas de interesses, assim como é carregada pela história que a constitui.”

desta realidade.

Em termos históricos a implantação do SUAS tem grande significado, pois a Assistência Social no Brasil até hoje é marcada por uma concepção conservadora, ou seja, é entendida como ajuda e não como garantia de direitos. “(...) no Brasil, o campo dos direitos percorreu uma trajetória muito peculiar. (...) os traços paternalistas, clientelistas e patrimonialistas têm sido marcas constantes dessa relação (Estado/Sociedade), (...) para o exercício dos direitos, sejam eles civis, políticos ou sociais” (COUTO, 2010, p.184). Neste sentido, é importante compreender que a política pública não se define simplesmente por ser vinculada ao Estado, mas sim que contém as seguintes características, de acordo com Pereira (2009): a) constitui um marco de orientação para a ação pública, sob a responsabilidade do Estado e sob o controle da sociedade; b) visa concretizar direitos sociais conquistados pela sociedade e incorporados nas leis através de programas, projetos e serviços sociais; c) princípio do interesse comum, ou público; d) deve visar à satisfação das necessidades sociais e não da rentabilidade econômica privada. O profissional que pretende atuar neste campo precisa

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Espaço Científico

ter clareza de que esta relação, Estado/ sociedade é permeada por tensões e disputas de interesses assim como é carregada pela história que a constitui, pois o cotidiano do trabalho é perpassado por esses aspectos o tempo todo. Muitas vezes, precisamos rever nossas próprias concepções em relação aos sujeitos em vulnerabilidade social para, efetivamente, compreendê-los como sujeitos de direitos e não como culpados por sua condição ou como simples vítimas incapazes de exercer sua cidadania. Para tanto, “Os processos devem ser compreendidos de forma articulada com os aspectos histórico-culturais da sociedade, produzindo-se a construção de novos significados ao lugar do sujeito-cidadão autônomo e que deve ter vez e voz no processo de tomada de decisão e de resolução das dificuldades e problemas vivenciados” (Cartilha CFESS e CFP, 2007). Aqui, por “problemas vivenciados” podemos entender sujeitos e comunidades em risco e vulnerabilidade social, o que significa reconhecer que nossa sociedade convive com a desigualdade desde sempre, mas que isto não justifica a naturalização da mesma. Nesse contexto, o psicólogo(a) precisa aprofundar sua compreensão sobre os fenômenos sociais e suas determinações e, principalmente, ampliar sua capacidade de intervenção através do reconhecimento das potencialidades e também das limitações que sua escuta representa no entendimento das situações que se apresentam neste cotidiano. Na prática, isto se traduz em não tratarmos as situações de vulnerabilidade apenas em sua dimensão individual, além de trabalharmos em rede e de forma interdisciplinar.

O trabalho que visa à garantia de direitos passa, necessariamente, pela articulação com outras políticas (saúde e educação, por exemplo), bem como pelo trabalho em equipe. De acordo com o SUAS, o funcionamento como um sistema se dá por meio da interlocução permanente entre os níveis de Proteção Social Básica e Especial de Média e Alta

“Para que o sistema funcione e atenda a seus objetivos e princípios, o trabalhador é “peça” fundamental; precisa ter consciência do seu lugar e da sua importância como parte de uma grande engrenagem que é a política social, sendo que esta é um instrumento de relação do Estado com a sociedade.”

Complexidade. Além dos níveis de proteção apontados pelo SUAS como forma de organização dos serviços ofertados, outros dois conceitos são basilares em sua concepção de proteção social: a territorialidade e a matricialidade sociofamiliar. Esses dois conceitos constituem a lógica do atendimento proposto, sendo que o primeiro aponta para a importância do território e da comunidade na execução da política, e o segundo para a centralidade da família como pano de fundo de toda a intervenção. Nesse sentido, precisamos ter claros os objetivos desta Política que busca a promoção e a autonomia dos sujeitos e de suas comunidades. É importante notar que a legislação e as normativas que estão postas servem como uma “bússola” para nortear nossas ações, entretanto, elas, por si só, não dão conta de efetivamente transformar a vida em sociedade. Para que o sistema funcione e atenda a seus objetivos e princípios, o trabalhador é “peça” fundamental, ou seja, o mesmo precisa ter consciência do seu lugar e da sua importância como parte de uma grande engrenagem que é a política social, sendo que esta é um instrumento de relação do Estado com a sociedade.

Consideramos que o desafio dos trabalhadores é extremamente complexo, pois

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esses devem “(...) conhecer o território, conhecer a realidade econômica e sociocultural das famílias, as características da rede, as características de organização e mobilização comunitária no território, promover a inclusão de pessoas com deficiência, a superação de demandas identitárias subalternizadas, especialmente as relacionadas ao ciclo de vida, a questões de gênero, étnico-raciais e de orientação sexual” (MENDES, et. al, 2009, p.17).

Acreditamos que diante do exposto é possível dimensionar relativamente a complexidade e a importância deste trabalho e perceber que o mesmo constitui um grande desafio para todos os envolvidos. Defendemos que a forma com que o trabalhador se apropria e exerce sua capacidade como sujeito coletivo e cidadão é diretamente proporcional a sua efetiva condição de contribuir para a promoção de sujeitos em direção à autonomia. Nós, psicólogos(as) podemos e devemos contribuir neste processo que, além de ampliar nosso campo de atuação, permite que nos coloquemos como autores de uma história em construção que vive um momento paradigmático.

Suzana Assis Brasil de Morais

Referências Bibliográficas: 1) COUTO, B. R. O Direito Social e a Assistência Social na Sociedade Brasileira: uma equação possível?. São Paulo: Cortez Editora, 4° Ed.,2010.

2) MENDES, J. M. R.; PRATES, J. C.; AGUINSKY, B. G. O Sistema Único de Assistência Social entre a fundamentação e o desafio da implantação. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2009.

3) Parâmetros para atuação de assistentes sociais e psicólogos na Política de Assistência Social – Cartilha dos Conselhos Federais de Serviço Social e Psicologia (CFESS e CFP). Brasília, 2007.

4) PEREIRA, P. A. P. Discussões conceituais sobre política social como política pública e direito de cidadania; São Paulo: Cortez, 2011.

Envie seu texto, utilizando no máximo 8250 caracteres com espaço, para o email da Secretaria aos cuidados da Comissão Editorial.

Núcleos

NESP - Núcleo de Estudantes Em uma das disciplinas deste semestre, tive a oportunidade de conhecer a Psicologia Positiva. Interessei-me imediatamente e fui à busca de um aprofundamento conceitual. Embora Seligman e Csikszentmihalyi sejam considerados iniciadores do movimento da Psicologia Positiva, encontrei conceituação mais clara (aparentemente voltada ao público leigo) no blog de Angelita Corrêa Scardua: “A Psicologia Positiva é, portanto, o estudo científico das potencialidades e das virtudes que habilitam os indivíduos,

os grupos e as sociedades a viverem de maneira saudável. Constitui-se como um ramo da ciência psicológica baseado na crença de que é possível identificar, compreender, desenvolver, promover e cultivar os mecanismos necessários para viver-se de maneira significativa e satisfatória.” Disponível em http://angelitascardua.wordpress. com/sobre-mim/psicologia-positiva/ Gratificante pensar na atuação do psicólogo de forma quase diametralmente oposta ao que até então me fora ensinado.

Lendo e refletindo sobre a Psicologia Posi-

tiva, constatei que a mesma vai além de uma nova e salutar visão do ser humano.

Valendo-se de métodos científicos rigorosos, propicia uma investigação empírica dos aspectos virtuosos do ser humano, abrindo novos e férteis campos de trabalho para a Psicologia e nos libertando das garras da patologia psiquiátrica e da ditadura do DSM. Diogo Felipe Kepler

NIC - Núcleo de Intercâmbio com a Comunidade O Núcleo do Intercâmbio com a Comunidade (NIC) dá continuidade a seus objetivos, agora com o acompanhamento de estagiários de Psicologia Comunitária na Vila Parque Santa Anita. A partir de agosto deste ano, a colega Norma Beck acompanha a prática curricular das acadêmicas Ana Luiza Barbachan e Manoela Izidoro, ambas da Faculdade de Psicologia da PUCRS. As estagiárias desenvolverão, ao longo de um ano, atividades com crianças, familiares

e educadoras da creche da Comunidade.

Esta iniciativa dá continuidade ao trabalho com estagiários, realizado pela colega Ivete Biondo, até então, supervisora de estagiários no Serviço de Atendimento Sócio Educativo - SASE da Vila. Entendemos a participação da SPRGS na formação de profissionais como uma importante função da categoria dos psicólogos, já que o conhecimento produzido na área acadêmica encontra seu sentido no benefício que

possa trazer à sociedade. Cumprimos, ao acompanhar a prática curricular de futuros psicólogos, nosso papel de parceiros da universidade na formação de profissionais comprometidos com a busca constante de melhores condições de saúde, no sentido mais amplo, para todos os indivíduos.

Heloisa Furtado Coordenadora do NIC

NRF - Núcleo de Recém-Formados O Núcleo de Recém-Formados (NRF) em breve estará de cara nova! Com o intuito de poder trocar experiências profissionais, pensar sobre as dúvidas que podem causar inseguranças, pertinentes ao início da vida profissional, ou aprofundar questões teóricas e técnicas sobre a Psicologia nos seus diversos cenários, que o Núcleo de Recém-Formados abre suas portas para sua contribuição.

Nossa profissão possui diversas formas de atuação. Nós, psicólogos, temos o privilégio de poder atuar nas mais diferentes áreas de trabalho: escolas, hospitais, empresas, CAPS, comunidades, clínica, entre outras; podendo fazer a diferença em todos essas áreas.

O Núcleo de Recém-Formados é uma oportunidade, na medida em que sua prática e seu trabalho poderão ser vistos

e admirados por colegas. O NRF é um ambiente para que nós, psicólogos, possamos pensar na nossa profissão, além das nossas atividades específicas. A Sociedade de Psicologia e o NRF esperam por você!

Fabiana Lorenzoni Castillo

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Interdisciplinar

Psicologia do convencimento

N

as variadas relações interdiscursivas da vida social, encontramo-nos em constantes situações de convencimento. Essas interações apresentam uma duplicidade de sentidos.

Almejamos convencer alguém de alguma coisa e/ou esse alguém intenciona nos convencer de suas razões. Esse estado de latência persuasiva nos acompanha desde as mais singelas relações do cotidiano até naquelas circunstâncias de maior complexidade. Temos a natural necessidade de influenciar o espírito alheio. Creio que seja uma forma de afirmarmos a nossa personalidade frente ao sujeito com quem dialogamos. É importante considerar que a atividade discursiva não é o único meio de conduzir o interlocutor a concordar com a proposição que lhe é apresentada. Há outros fatores que igualmente contribuem, às vezes com maior peso, para essa finalidade. A empatia, a competência da linguagem, os gestos, a postura, os inúmeros elementos que influenciam as impressões pessoais, dependendo da situação concreta, concorrem em todo o processo persuasivo. Até mesmo o silêncio pode exercer essa função. Dizem que quando Sócrates, no seu julgamento, exortou os presentes a testemunharem se de fato ele instigava os jovens a não acreditarem nos deuses reconhecidos pelo Estado, o silêncio que se seguiu na plateia evidenciou a certeza de sua inocência.

Penso que, ao aprofundarmos a análise do discurso jurídico, encontramos nele uma fascinante inter-relação com a psicologia.

A obtenção do convencimento é o mais caro dos objetivos dos operadores jurídicos. Toda a argumentação jurídica, seja ela teórica ou prática, está direcionada à persuasão do interlocutor.

No direito, talvez mais do que em qualquer outra área do conhecimento e da experiência humana, é fundamen-

tal a advogados, magistrados, defensores públicos e promotores de justiça ter domínio consolidado acerca de todo o processo do convencimento. A questão jurídica que move as pessoas a litigar na justiça terá maior probabilidade de ser solucionada a favor daquele que melhor apresentar habilidade e competência na construção de seu discurso argumentativo.

E isso não se restringe apenas ao conhecimento dos elementos concretos da linguagem discursiva e das técnicas retóricas que herdamos dos filósofos gregos. Há, ainda, outro relevante fator que interfere decisivamente nesse

“Penso que, ao aprofundarmos a análise do discurso jurídico, encontramos nele uma fascinante inter-relação com a psicologia.” processo. Ele situa-se no íntimo dos sujeitos que protagonizam a situação dialógica. E é aí que entram os aspectos psicológicos envolvidos no cenário argumentativo.

As escolhas dos argumentos e das técnicas discursivas devem ser direcionadas pelo contexto situacional e também pelos perfis comportamentais de todos os sujeitos envolvidos na interlocução.

Vamos a dois singelos exemplos que confirmam essa afirmação.

Se o réu que está sendo julgado pelo júri popular, pela prática de um crime contra a vida, tiver uma postura arrogante na sala onde se desenvolve a sessão de julgamento, terá maior dificuldade para obter uma eventual absolvição.

Nos Estados Unidos, para escolher as

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pessoas que integrarão o júri, os advogados entrevistam exaustivamente os candidatos, com a finalidade de traçar um perfil de suas personalidades. Fazendo a comparação dos traços personalísticos dos jurados com o tipo de crime do qual é acusado o cliente, os advogados conseguem avaliar as reais possibilidades de obter uma decisão favorável.

Robert Cialdini, psicólogo e professor da Universidade do Arizona, popularizou-se ao sustentar que há seis princípios que nos auxiliam a entender o processo de persuasão, todos identificados com base na psicologia das relações humanas.

São eles: Reciprocidade – as pessoas se sentem obrigadas a retribuir algo dado a elas; Consistência – as pessoas gostam de se mostrar coerentes em seus pensamentos, sentimentos e ações. Tomada uma decisão, elas se comprometem e permanecem inclinadas a mantê-la; Simpatia – tendemos a agradar e a concordar com uma pessoa com quem simpatizamos; Escassez – as oportunidades nos parecem mais valiosas quanto mais difícil nos resulta alcançá-las; Autoridade – inclinamo-nos a pensar que uma ideia de alguém que admiramos ou respeitamos também é boa para nós; Aprovação social – tendemos a seguir o comportamento das demais pessoas e a fazer o que é considerado socialmente adequado e correto.

Se o direito nos fornece as técnicas de persuasão, integradas por regras discursivas próprias da linguagem jurídica, por silogismos e por raciocínios específicos, a psicologia, por seu lado, auxilia-nos na compreensão dos estados e das disposições psíquicas e mentais dos sujeitos interlocutores.

Marcelo Garcia da Cunha Advogado

Opinião

cada é a tendência em requerer avaliações com instrumentos de pesquisa, como o ADOS e o ADI-R, antes do diagnóstico que é clínico. Intervenções precoces são retardadas, às vezes, por anos.

Dr. Carlos Gadia é Especialista em Epilepsia Infantil e Neurofisiologia Clínica, Boston Children’s Hospital e professor de neurologia da University of Miami Miller School of Medicine e do Herbert Wertheim College of Medicine, Florida. É também diretor do Dan Marino Center, Miami Children’s Hospital, referência em avaliação, tratamento de autismo e outras desordens e diretor da ONG Autismo & Realidade.

O médico brasileiro, radicado na Flórida, nos fala de sua experiência com crianças autistas.

O senhor esteve no Brasil em Abril deste ano, liderando o Dia Mundial do Autismo. Sendo a conscientização o foco deste movimento, como ela influi?

O autismo é um problema de saúde pública mundial. Organizações não-governamentais vêm sendo criadas em vários países. O problema afeta 1 em cada 100 crianças no mundo.É necessário Informar em vários níveis: pais e familiares, a buscar orientação na suspeita de atraso de desenvolvimento; profissionais da saúde, a identificar sinais de alerta e recomendar intervenções precoces; autistas e familiares,a buscar entendimento e redução do preconceito.

Identificar sintomas autísticos, não é difícil, afirmar se fecham um diagnóstico ou são aspectos de um padrão de desenvolvimento neurológico é o desafio?

O diagnóstico não é difícil para profissionais com experiência. No Brasil existe a tendência a esperar até “certa” idade para “fechar o diagnóstico” ou evitar dar um diagnóstico claro na primeira visita “para não assustar a família”. Igualmente equivo-

Estabelecer a diferença com a doença de Asperger requer conhecer pesquisas em neurociências ou os profissionais da área em geral são capacitados para o diagnóstico diferencial?

Os Transtornos do Espectro Autista são síndromes definidas clinicamente (déficits qualitativos em comunicação, interação social, comportamentos repetitivos e estereotipados), profissionais da saúde com devida experiência devem fazer o diagnóstico. A subdivisão na classificação do DSM-IV (Autismo;Transtornos: de Asperger; Desintegrativo da Infância; de Rett e Transtorno Global de Desenvolvimento), será corrigida no DSM-V para um diagnóstico único: Transtorno do Espectro Autista. É sempre melhor prescrever intervenção terapêutica, mesmo que haja dúvidas?

Identificar sinais de alerta (“red flags”) precocemente (antes dos 18 meses e até antes dos 12 meses), permite intervir com tratamentos específicos, mesmo sem o diagnóstico definido. Pesquisas para identificar genes de predisposição e estudos neurofisiológicos “eye-tracking,” estudos de interconetividade neuronal, EEG ou ressonância magnética funcional irão permitir intervenções precoces( antes de 1 ano de idade).

Diagnóstico e intervenção precoce alteram o quadro clínico, bem como singularidades da criança e da família?

Diagnóstico precoce e intervenções apropriadas (terapias comportamentais e fonoaudiológicas) alteram o prognóstico. Estudos de neuroimagem funcional demonstram diferentes níveis de ativação neuronal pré- e pós-intervenções, dependendo da qualidade e intensidade das intervenções e do nível cognitivo da criança. A família envolvida e capacitada enfrentará melhor os desafios. Como o diagnóstico afeta relações afetivas e sociais, a família deve receber suporte psicológico desde o início. É importante salientar que nunca é

tarde para começar.

Dentre os sintomas de autismo nada é mais avassalador para os pais do que as dificuldades com vínculo e apego, existe mais clareza quanto à etiologia desta desordem?

O espectro autista representa um grupo de desordens de alta hereditariedade. Para entender essa questão, pensa-se que certas anomalias genéticas irão determinar características autistas e outras serão responsáveis por maior predisposição, mas requerem outro fator associado para se manifestar ( insulto ao sistema nervoso central antes, durante ou após o nascimento ou um fator ambiental associado).

Crianças com este diagnóstico podem se tornar autônomas?

Crianças dentro do espectro, mas com “alto funcionamento”, podem tornar-se adultos funcionais e independentes. Uma porcentagem pequena, mas significativa, das crianças mais severamente afetadas também pode tornar-se adultos produtivos, desde que em ambiente favorável.

Existe simbolismo na mente do autista, a psicanálise tem uma contribuição a oferecer?

Em um espectro de déficits qualitativos, pensa-se em maior ou menor capacidade para inferir valor simbólico. Crianças, adolescentes e adultos no lado mais funcional do espectro autista podem se beneficiar da psicanálise. A questão é de prioridades de tratamento (terapias comportamentais, fonoaudiologia), principalmente para famílias de recursos limitados. A Psicologia como profissão tem um papel importante, tanto em relação à avaliação diagnóstica quanto ao tratamento psicológico com visão comportamental. Há no Brasil um enorme campo de atuação que está aberto e uma demanda reprimida muito grande de profissionais da Psicologia com essas características.

Entrevista realizada pela psic.

Sonia Sebenelo.

Envie seu texto, utilizando no máximo 4200 caracteres com espaço, para o email da Secretaria aos cuidados da Comissão Editorial.

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Cultura

C

omo marco dos 50 anos da morte de Marilyn Monroe, em abril deste ano, estreou, no Brasil, o filme “Sete dias com Marilyn”. A obra cinematográfica, baseada no livro escrito por Colin Clark, retrata uma semana romântica com Marylin, quando das gravações de “O Príncipe Encantado”, em 1957. Colin escreveu um diário das filmagens e dos momentos em que partilhou segredos e intimidade da atriz.

O filme, protagonizado por Eddie Redmayne, recria momentos intensos e emocionantes acerca da musa do cinema. Mostra uma mulher linda e cobiçada por muitos devido à sua imagem impactante. Todavia, a estrela queria ser valorizada, desejava genuinamente existir, não somente por sua beleza, mas também mostrar que era capaz de pertencer e protagonizar um filme que demandava exigência e entrega. Este

desejo fica evidente nas suas buscas de valorização como pessoa, não apenas como atriz, podendo ser entendido em função da história triste do início de sua vida. Marilyn teve uma mãe psicótica que a abandonou, passando, então, a viver em diferentes lares e instituições. Não conheceu e nem soube quem foi seu pai, o que leva à dedução de uma falta básica pela ausência de referenciais parentais bons e estáveis, além de uma possível fragilidade de ego, como bem aparece nas cenas.

O uso de álcool, de drogas e o envol­ vimento com homens importantes da época serviram para preencher este seu vazio existencial. Porém, a sua arte e a convivência com figuras como Paula Strasberg (sua professora de artes dramáticas) e o próprio Colin puderam

lhe proporcionar, como bem mostra o filme, a experiência de viver relações afetivas positivas, justo exatamente aquelas circunstâncias das quais sofreu privações em sua vida inicial e infância.

Não obstante, aparece sua dificuldade de entrar no set de filmagem e representar seu papel, tornar-se realmente a personagem. Precisava incorporar as dores e prazeres pertencentes à cena; dificuldade esta semelhante ao protagonizar sua própria vida.

Um ótimo filme para quem sente vontade de conhecer um pouco mais sobre Marilyn Monroe, morta aos 36 anos de idade, no auge de sua carreira.

depois de ter perdido sua noiva numa circunstância tão trágica quanto absurda.

A presença de Jum obriga Roberto a olhar para a própria vida, congelada no momento da morte de seu pai.

Segundo o filósofo francês George Bataille (1987), os homens começam a exteriorizar a sua existência em objetos para assegurar o próprio sentido de permanência. Nesse sentido, Roberto constrói uma “coleção de absurdos”, a fim de organizar o traumático que o invadiu. Porém, ao acolher Jun em sua casa, depara-se novamente com o incômodo do desamparo e da imprevisibilidade – o absurdo da vida. Sigmund Freud, no artigo “O Estranho” (1919), percorre a genealogia da palavra, demonstrando que em muitos idiomas os termos “estranho” e “familiar” se aproximam e se confundem (em alemão “unheimlich” – sendo “heimlich” doméstico, familiar).

A incômoda estranheza que o desamparo do “exótico” Jun causa em Roberto

transforma-se, ao longo do filme, numa tocante trajetória de reconciliação deste com sua própria memória e afetos.

O final surpreendente revela, por fim, a vida que pulsava absurda, mas cheia de possibilidades, por trás dos recortes de jornal colecionados por Roberto. Imperdível!

Natalie Faria Valenti Envie seu texto, utilizando no máximo 2000 caracteres com espaço, para o email da Secretaria aos cuidados da Comissão Editorial.

Leitura

“U

m Conto Chinês” (2011direção de Sebastián Boren­ sztein), expres­são ar­gentina para histórias improváveis e extraordinárias, narra as aventuras do personagem Roberto (Ricardo Darín), veterano da Guerra das Malvinas. Este personagem leva uma existência reclusa e monótona desde que, voltando da guerra, depara-se com a morte do pai, da qual até então não tinha notícia. Além disso, Roberto se vê diante de um recorte de jornal, noticiando a declaração de guerra contra a Inglaterra, surpreendentemente ilustrada com uma foto sua.

Desde então, além de administrar a ferragem herdada do pai e conferir, com todo o cuidado, a quantidade de pregos nos pacotes que seu fornecedor lhe envia, cultiva o passatempo de colecionar recortes de jornais contendo notícias de fatos absurdos.

Assim segue até se deparar com o chinês Jun, que imigra para a Argentina

10 | SP Informação

Luciana M. Lara Envie seu texto, utilizando no máximo 2000 caracteres com espaço, para o email da Secretaria aos cuidados da Comissão Editorial.