Publicação do Centro Universitário FEI
Ano XI | Nº 34 | Mai/Ago 2019
ECOSSISTEMA DE INOVAÇÃO O PAPEL FUNDAMENTAL DA ACADEMIA NA GERAÇÃO DE CONHECIMENTO E TECNOLOGIA
NOVAS TECNOLOGIAS EM REFRIGERAÇÃO MATERIAIS ESTÃO MAIS LEVES E RESISTENTES SUSTENTABILIDADE EM COMBUSTÍVEIS NA AVIAÇÃO FOCO NAS PESQUISAS DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
EDITORIAL
SOMOS AUTORES DO NOSSO FUTURO
Q
uando se trata de discutir o futuro das tecnologias e o ecossistema de inovação em uma era de alta digitalização de processos e sistemas, o foco da discussão sempre será a capacidade de criar estruturas e estratégias para a solução de problemas complexos, ou seja, aqueles problemas mal definidos cuja solução não se obtém por meio de raciocínio e rotinas triviais e ordinárias. Desta argumentação, surge também o tema da Inteligência Artificial (IA) – já percebida em vários aspectos de nossa realidade – como a ciência capaz de criar boas soluções às dores e às demandas da sociedade daqui para frente. Nunca o tema foi tão abordado e debatido nos diferentes fóruns acadêmicos e científicos, bem como nos vários observatórios que estudam o futuro da humanidade. Antes de avançar nesta argumentação é oportuno destacar que o tema não é novo. O termo inteligência artificial surgiu na comunidade científica após a Segunda Guerra Mundial, principalmente por meio de trabalhos do matemático e cientista da computação britânico Alan Turing e, segundo a literatura, foi cunhado pela primeira vez por um grupo de pesquisadores norte-americanos reunidos em uma conferência do Dartmouth College, em Hanover (New Hampshire), no ano de 1956, coordenado pelo pesquisador John McCarthy. Nessa oportunidade, o grupo de trabalho propunha que ‘o estudo deveria prosseguir com base na conjectura de que todos os aspectos da aprendizagem ou qualquer outra característica da inteligência poderiam, em princípio, ser descritos tão precisamente que uma máquina poderia ser feita para simulá-la’. Particularmente, me atrai a definição da inteligência artificial como ‘a capacidade do sistema para interpretar corretamente dados externos, aprender a partir desses dados e utilizar essas aprendizagens para atingir objetivos e tarefas específicos através de adaptação flexível’ – como propõem Andreas Kaplan e Michael Haenlein no artigo ‘Siri, Siri in my Hand, who’s the Fairest in the Land? On the Interpretations, Illustrations and Implications of Artificial Intelligence’, publicado na revista Business Horizons (https://doi.org/10.1016/ j.bushor.2018.08.004). Parece-me claro que esse processo não será de responsabilidade exclusivamente de máquinas inteligentes – sistemas de adaptação flexível – mas dependerá, sobretudo, da complementaridade entre as inteligências humana e artificial. As novas soluções exigem conhecimento, imaginação e criatividade, competências que envolvem alta capacidade cognitiva, articuladas com aspectos emocionais e motivacionais. Gosto de afirmar que o sucesso na formação e na carreira profissional no futuro, além do conhecimento e da criatividade, virá acompanhado de boas doses de autonomia e da capacidade de assumir riscos diante dos problemas; de boas doses de visão e capacidade de antever o futuro; de inspiração; de sinergia entre equipes multidisciplinares e, principalmente, de constantes recombinações de ideias. As soluções são e serão cada vez mais imperfeitas se comparadas à complexidade dos cenários, e estarão baseadas em um processo empírico de contínuos erros e acertos, como fundamento da aprendizagem. Aposto em um futuro em que o ótimo será necessariamente resultado de uma sincronia inteligente entre os diferentes atores da sociedade – academia, empresas, governos e sociedade civil – e do equilíbrio na relação homem-máquina, no qual os sistemas de IA estejam centrados nos aspectos humanos e pautados em uma relação de ética e conformidade técnica e legal. O pior cenário é a negação das melhorias que as novas tecnologias, e particularmente a IA, têm possibilitado no propósito de antecipar nossos desejos e de solucionar problemas antes que apareçam. O desconhecimento leva ao recuo e à improdutividade. Queremos ser autores de nosso futuro e, por isso, estimulamos alunos e pesquisadores a criar iniciativas e projetos que tornem a FEI protagonista na formação de nova geração de pessoas e profissionais, bem como contribuam para a construção de bons referenciais para a inovação e para o desenvolvimento da inteligência artificial no País.
Professor doutor Fábio do Prado Reitor Centro Universitário FEI
Aposto em um futuro em que o ótimo será necessariamente resultado de uma sincronia inteligente entre os diferentes atores da sociedade...
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DOMÍNIO FEI
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CURIOSIDADES A FEI CONSTRUIU SUA HISTÓRIA COM INOVAÇÃO E ESPÍRITO COLABORATIVO ENTRE ALUNOS E DOCENTES. NESTE ESPAÇO, SÃO COMPARTILHADAS ALGUMAS CURIOSIDADES QUE MOSTRAM ESSAS CARACTERÍSTICAS.
Nº 34 | MAIO A AGOSTO 2019 | ANO XI Uma publicação do Centro Universitário FEI
PIONEIRISMO NA ENGENHARIA ELÉTRICA O Centro Universitário FEI foi um dos pioneiros, dentre as escolas particulares de Engenharia do Estado de São Paulo, a implantar, em 2005, um curso de pós-graduação stricto sensu oferecendo mestrado em Engenharia Elétrica nas áreas de concentração de Dispositivos Eletrônicos Integrados e Inteligência Artificial Aplicada à Automação. Desde então, com trabalho conjunto com a Ciência da Computação, a FEI tem obtido grande êxito, inclusive conquistando prêmios nos segmentos de Eletrônica e Robótica. Alguns exemplos são os robôs humanoides e robôs domésticos desenvolvidos com a mais alta tecnologia e inteligência artificial pelos alunos, bem como as pesquisas relacionadas à microeletrônica, reconhecidos mundialmente pela sua inovação em congressos e em publicações científicas.
EXPEDIENTE
Campus São Bernardo do Campo Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 3.972, Bairro Assunção – São Bernardo do Campo – SP CEP 09850-901 – Telefone: (11) 4353-2900 Campus São Paulo Rua Tamandaré, 688 – Liberdade – São Paulo. CEP 01525-000 Telefone: (11) 3274-5200 Presidente Pe. Theodoro Paulo Severino Peters, S.J. Reitor Prof. Dr. Fábio do Prado Vice-reitor de Ensino e Pesquisa Prof. Dr. Marcelo Pavanello Vice-reitora de Extensão e Atividades Comunitárias Profa. Dra. Rivana Basso Fabbri Marino
Conselho editorial desta edição Profa. Dra. Rivana Basso Fabbri Marino Prof. Dr. Vagner Bernal Barbeta Prof. Dr. Henrique Machado Barros Prof. Dr. Carlos Eduardo Thomaz Coordenação geral Thais Fukasawa Comunicação e Divulgação Supervisão geral Fabricio Bonfim Comunicação e Divulgação Produção editorial, diagramação e design Companhia de Imprensa – Divisão Publicações Edição e coordenação geral de redação Adenilde Bringel (MTB 16.649)
PRIMEIRA GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA QUÍMICA DO BRASIL Primeiro curso de Engenharia da FEI e também o primeiro de Engenharia Química a ser implantado no Brasil por uma instituição privada, a graduação surgiu para atender ao processo de industrialização do País, que se ressentia da falta de mão de obra qualificada. Desde a implantação do curso, o processo de aperfeiçoamento tem sido contínuo, com investimento em pesquisas e laboratórios, entre eles o Laboratório de Combustíveis e Lubrificantes, com equipamentos de última geração para análise de gasolina, álcool, diesel e biocombustíveis, avanços que credenciaram a FEI a iniciar em 2014 o curso de Mestrado em Engenharia Química.
Reportagem Adenilde Bringel, Bruna Gonçalves, Elessandra Asevedo e Fernanda Ortiz Fotos Arquivo FEI, Ilton Barbosa e acervo pessoal das fontes Design gráfico Silmara Falcão Tiragem 1,5 mil exemplares e versão on-line no endereço: fei.edu.br/revistas Impressão Edições Loyola
COM A REDAÇÃO A equipe da revista Domínio FEI quer saber a sua opinião sobre a publicação, assim como receber sugestões e comentários. Envie sua mensagem via e-mail para redacao@fei.edu.br. As matérias publicadas nesta edição poderão ser reproduzidas, total ou parcialmente, desde que citada a fonte. Solicitamos que as reproduções de matérias sejam comunicadas antecipadamente à redação pelo e-mail redacao@fei.edu.br
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Instituição associada à ABRUC www.fei.edu.br
ENTREVISTA
SUMÁRIO
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Crédito Capa: iStockphoto/ipopba
O engenheiro mecânico Luiz Fernando Pedrucci assumiu em 1º de novembro de 2018 a presidência da Renault para a América Latina e conta, em entrevista exclusiva, quais são os grandes desafios à frente da montadora e como estará o mercado de automóveis nos próximos anos
GESTÃO E INOVAÇÃO
PERSONA
10 Engenheiro desenvolveu novo modelo de e-bike e aposta no crescimento do setor
EM PAUTA
12 FEI é a primeira instituição de ensino no País Renault Divulgação
a instalar plataforma de IoT da Siemens
14 Novas metodologias de refrigeração
reduzem custos e impactos ambientais
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18 Engenharia de Materiais busca melhor
O ecossistema de inovação, formado por governos, instituições de ensino, organizações públicas e privadas, setores industrial e empresarial, órgãos reguladores e de fomento, empresas, startups e sociedade civil, vem ganhando força nos últimos 10 anos
desempenho e novas possibilidades
20 Seleto grupo de pesquisa desenvolve
biocombustíveis avançados para aviação
PESQUISA E TECNOLOGIA
34 Negócios e projetos na área de
inteligência artificial crescem no mundo
NOTÍCIAS
40 Feira de Empreendedorismo traz novidades em aplicativos 41 Portas Abertas apresenta tecnologias para estudantes 41 Egressos da ESAN se reúnem em evento no campus São Paulo
ARTIGO
42 Biocombustíveis: uma perspectiva renovável DOMÍNIO FEI 5
ENTREVISTA – LUIZ FERNANDO PEDRUCCI
UM PRESIDENTE MOVIDO A PAIXÃO
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engenheiro mecânico Luiz Fernando Pedrucci, de 46 anos, formado em Engenharia Mecânica Automobilística pelo Centro Universitário FEI, assumiu em 1º de novembro de 2018 a presidência da montadora Renault para a América Latina. Na empresa desde 1997, o executivo passou por diferentes funções na área comercial, foi diretor de Supply Chain da região Américas e, como presidente e diretor geral da Renault Colômbia, levou a subsidiária a recordes históricos de vendas e participação de mercado. Em julho de 2017 assumiu a presidência da Renault do Brasil e, juntamente com o time local, levou a marca a alcançar seu recorde de participação de mercado no País naquele ano e em 2018. O executivo afirma que, para trilhar essa trajetória de sucesso, a formação, as experiências e as pessoas que cruzaram o seu caminho foram fundamentais. O senhor foi o primeiro e é o único brasileiro a assumir a presidência de uma região pela Renault. Quais são seus principais desafios e como se preparou para enfrentá-los? Tenho orgulho de ser o primeiro presidente brasileiro da região latino-americana e de ter sido o primeiro presidente brasileiro da Renault do Brasil. Também tenho muito orgulho por ter sido preparado dentro da empresa, porque sou uma ‘criação’ da Renault. Vou completar 22 anos na companhia e tenho a Renault no DNA, e isso é motivo de duplo orgulho. A preparação é uma jornada muito longa, que ninguém faz sozinho. Minha jornada começou há muito tempo. Primeiro, tive muito apoio dos meus pais, que abriram mão da sua condição de lazer, muitas vezes, para eu estudar no Rio Branco, um colégio de
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ponta em São Paulo. Depois, me apoiaram durante o período em que eu estava na FEI. O curso de Engenharia, por excelência, prepara muito bem, mas o curso na FEI tem um diferencial, porque tem um nível acadêmico muito forte e isso vai nos moldando, capacitando. Não cheguei neste estágio da carreira do dia para a noite e sou muito feliz pela minha trajetória, preparada degrau por degrau, um passo depois do outro, cada dia trabalhando, estudando, aprendendo, aproveitando as oportunidades, conhecendo e desenvolvendo pessoas. Foi uma preparação muito bem feita ao longo de um bom tempo. Tenho de destacar também as pessoas que acreditaram e investiram em mim, as empresas por onde passei, as funções que tive oportunidade de exercer. E nunca podemos esquecer as pessoas que têm papel muito forte na trajetória de qualquer profissional, que são os chefes que buscam tirar o melhor de você, assim como os colegas e colaboradores. Uma trajetória não é construída sozinha; é resultado de muito trabalho, de muita dedicação, de muitas etapas e de muitas pessoas. Como foi sua trajetória profissional? Comecei a fazer estágio no fim do segundo semestre da FEI em uma metalúrgica pequena em Diadema, no ABC paulista, com um italiano chamado Lorys, que me deu a primeira oportunidade. Esse empresário falou que ia me contratar porque eu era um ‘livro em branco’. Ele foi a primeira pessoa que, do ponto de vista profissional, abriu uma porta para mim. Na época, quando falei para o meu pai que queria começar a ter uma experiência profissional, ele conseguiu um anuário das indústrias de São Bernardo e Diadema, pois não existia internet. Peguei o anuário, fiz meu cur-
rículo na máquina de escrever, peguei o telefone e passei três ou quatro dias ligando para as empresas para falar com a área de recursos humanos, fazendo um trabalho de telemarketing pessoal. Foi interessante, porque ouvi todo tipo de resposta. Fiz uns 10 ou 15 currículos, coloquei no correio e um dia recebi a ligação dessa metalúrgica de Diadema. O senhor Lorys gostou da minha atitude e disse que tinha uma oportunidade para um estagiário de Engenharia na área de vendas e para buscar clientes. Eu fazia compras, vendas, programação de produção, enfim, de tudo um pouco, o que possibilitou ter essa capacidade de transitar por várias áreas e aprender bastante. Na época, tinha de gerenciar a faculdade e o estágio ao mesmo tempo e, não suficiente, também fiz parte do Diretório Acadêmico da FEI e fui responsável por criar as linhas de transportes para os estudantes, porque muitos vinham do litoral. No fim do curso, também fui da comissão de formatura! Fiz esse estágio durante dois anos e surgiu outra oportunidade em uma empresa pequena de lubrificação em São Paulo, que também estava começando e pertencia a dois engenheiros oriundos da Shell. Tinha umas cinco pessoas nesta empresa, por isso, um dia eu visitava clientes como engenheiro de lubrificação, no outro ia como engenheiro de treinamento. Em cada lugar me apresentava de uma maneira diferente, porque tinha várias funções. Quando me formei, já tinha quatro anos de trabalho, o que foi muito rico e uma grande oportunidade de aprender. Depois de formado, consegui meu primeiro emprego na Demag, do Grupo Mannesmann. Como engenheiro de vendas, cuidava dos clientes mais importantes de reposição de peças e comecei a ter contato com as montadoras.
Esse conselho continua valendo para os jovens engenheiros? Nossos antepassados já tinham a ideia clara de que existe a época de plantar e a época de colher, mas, ao longo da história e do desenvolvimento da humanidade, acho que perdemos um pouco esse princípio tão fundamental. O conselho que dou para os mais jovens é de não esquecerem que o terreno tem de ser preparado, a semente tem de ser regada, e só depois é que vamos colher. Temos de ter cuidado com soluções rápidas, com atalhos, porque a vida tem um ciclo padrão a ser seguido. No meu caso, tive muita sorte e oportunidade de não trocar de empresa por 22 anos, mas a empresa sempre trocou aquilo que eu fazia. Foi um ciclo muito positivo desde que comecei como representante para cuidar da região que, na época, era a mais difícil do Brasil: Minas Gerais, Goiás, Tocantins e Distrito Federal. Fui enviado para desenvolver essa área porque a Renault queria abrir concessionárias. Em dois anos fiz o trabalho, aprendi, me desenvolvi e entreguei resultados, o que é fundamental! Foi assim que a empresa viu que eu estava preparado para outro desafio e passei para supervisor; depois de dois anos entreguei os resultados e virei gerente. Em 22 anos mudei de posição
Crédito Renault Divulgação
O senhor tinha um objetivo de carreira definido nesta época? Sempre quis trabalhar em uma montadora, desde o princípio. Comecei a pósgraduação na Fundação Getúlio Vargas e, um belo dia, vi no quadro de avisos que uma montadora estava chegando ao Brasil e procurava jovens engenheiros. Mandei meu currículo sem saber que era a Renault e, de forma muito rápida, fui chamado para fazer a entrevista. Na época, a Renault era pequena no Brasil e os processos de contratação eram muito rápidos. A empresa estava chegando com a intenção de construir uma fábrica no período de um ano e estavam precisando de profissionais para trabalhar na equipe de campo. Como meu sonho era trabalhar em uma montadora, aceitei! Em 1º de dezembro de 1997 comecei a trabalhar na Renault do Brasil. Quando saí da Mannesmann, o presidente me disse: “tenha sucesso, vá realizar seu sonho, mas não troque muito de empresa”.
“Considero importante gostar daquilo que se faz, aproveitar as oportunidades e entregar resultado...” e tive promoções praticamente a cada dois anos. Cada promoção foi um novo desafio que encarava como algo grande. Foi um ciclo muito bem construído. Considero importante gostar daquilo que se faz, aproveitar as oportunidades e entregar resultado, porque o resultado e o crescimento é que vão permitir dar o próximo passo e subir mais um degrau. Quais são seus desafios na América Latina, que vive um momento conturbado da economia em alguns países? Como latino-americanos, nascemos e fomos criados em um ambiente em que altos e baixos fazem parte da vida. E acho que esse é nosso grande diferencial e uma competência que temos enquanto povo. Meu grande desafio é tranquilizar as equipes, a companhia, a matriz, dizendo que estamos vivendo altos e baixos, mas não podemos perder o foco de onde queremos chegar. Temos um plano, uma estratégia estabelecida, objetivos muito claros. O Grupo Renault acredita na América Latina, acredita no Brasil, investe na América Latina e investe no Brasil. Investimos no passado e continuaremos investindo, porque temos o objetivo de crescer no médio e longo prazo. E queremos crescer até mais do que o mercado, como temos feito nos últimos anos. O desafio do dia a dia é pas-
sar pelas turbulências e tempestades sem perder a visão clara de onde queremos chegar. É conseguir adaptar a estratégia de curto prazo para a realidade de cada situação, de cada mercado, de cada economia, sem perder o foco no destino final. Uma coisa é certa: essa crise vai acabar, vamos viver um bom período e depois virá outra crise. A economia no mundo é cíclica, e o importante é nunca perder o foco do que queremos, de onde queremos chegar e, obviamente, ter uma grande capacidade de adaptação ao curto prazo. Acredito muito naquela máxima de que ‘não são os mais fortes que sobrevivem, mas os que têm a maior capacidade de adaptação’. Precisamos ser sempre capazes de nos adaptar ao cenário externo, como empresa e como equipe. Não podemos mudar o cenário externo, mas podemos mudar a forma de reagir a ele, e a forma como reagimos, como nos antecipamos, faz a diferença. Durante minha formação aprendi um conceito muito interessante, que fizemos dentro da Renault na época que eu era gerente e que vem de um estudo que a ONU (Organização das Nações Unidas) fez 50 ou 60 anos atrás. O trabalho procurou identificar qual era a principal característica dos empreendedores. E chegaram à conclusão de que não era a formação, cultura ou condição financei-
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ENTREVISTA – LUIZ FERNANDO PEDRUCCI ra que diferenciava essas pessoas com capacidade de empreender, mas um conceito que se chama ‘Lócus de controle interno’, que é a capacidade de isolar o que acontece do lado de fora e maximizar o resultado, apesar do cenário externo. É um conceito no qual acredito bastante: não adianta reclamar do que está acontecendo lá fora, porque não temos controle sobre isso. Precisamos é entender o que está acontecendo e, a partir desse cenário, saber o que pode ser feito dentro da nossa zona de controle. Portanto, meu grande desafio é conseguir manter as equipes focadas nas nossas fortalezas internas para, independentemente das tormentas, das turbulências e das tempestades, conseguirmos manter o nosso barco no caminho correto. E até onde a Renault pretende chegar na América Latina? Estamos há bastante tempo em países como Argentina, onde a Renault completou 60 anos; Colômbia e Chile, onde já completamos 50 anos; e acabamos de fazer 20 anos da fábrica no Brasil. Temos um histórico importante na região e todos os investimentos visam continuar crescendo mais rápido que o mercado. Conseguimos fazer isso nos últimos anos e temos um objetivo claro, definido pelo nosso plano plurianual, de chegar ao patamar de 600 mil carros vendidos na América Latina até 2022, de acordo com o crescimento de cada país, com uma gama de produtos e, obviamente, de forma rentável, sustentável e, sobretudo, com clientes satisfeitos. Pretendemos atingir essa meta por meio do fortalecimento da imagem da marca, da melhoria constante dos serviços que prestamos aos nossos clientes, com o melhor produto e o melhor serviço para que esse crescimento não seja pontual, mas um ponto de passagem sustentável. Como o Brasil se posiciona na América Latina em termos de mercado? Isso sempre tem algumas variações de acordo com o mercado que cresce mais ou menos, mas, via de regra, o Brasil representa 50% do mercado da América Latina e, em ordem de grandeza, um pouco mais se pegarmos só América do Sul, sem o México. Esses números variam de acordo com a dinâmica de
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cada um dos mercados e são resultados do plano do que fazer em cada um dos países da região. Cada presidente da Renault – Brasil, Argentina, Colômbia – tem um plano plurianual e cada país tem a sua perspectiva de crescimento. No Brasil, temos o objetivo muito claro de continuar crescendo e já estamos crescendo de forma contínua há mais de 10 anos, quando dobramos a participação de mercado e estamos batendo recordes em cima de recordes. Fechamos 2018 comemorando, pela primeira vez, a superação da barreira de 8% de mercado no Brasil e, neste ano, já estamos a 8,8%, o que é um crescimento contínuo. Segundo a Anfavea, o carro no México é 18% mais barato que no Brasil. Como administrar esse custo Brasil? O custo Brasil é um conceito bem amplo. O resultado do estudo mostra, efetivamente, que neste momento e nesta condição o México está mais competitivo. Historicamente, para ter sucesso no Brasil a montadora tinha de fabricar localmente, mas, nos últimos anos, temos visto uma série de acordos bilaterais ou multilaterais e isso começa a abrir o Brasil para outras pontes. Como responsável pela América Latina tenho de buscar a maximização do resultado; se hoje é mais barato produzir no México e não tem imposto de importação no Brasil, usaremos essa alavanca. O País tem de buscar o caminho da competitividade; existe a competitividade da porteira para dentro – e a Renault do Brasil, da porteira para dentro, é uma das mais competitivas do Grupo –, mas perdemos competitividade quando vamos da porteira para fora. Por isso, esperamos ansiosamente as políticas macroeconômicas para o avanço do País e o aumento da competitividade da economia como um todo. É disso que precisamos para sermos competitivos em um mercado cada vez mais globalizado. Todos os governos estão preocupados com a competitividade, e a velocidade que cada país vai avançar dependerá de quão eficiente for para destravar essa pauta. Os carros produzidos na América Latina são desenvolvidos no Centro de Engenharia e Design no Brasil? Vivemos uma economia global e não
existe uma regra única em termos de desenvolvimento de produtos. Temos projetos globais que são adaptados para o Brasil e temos projetos que são desenvolvidos no Brasil e que se tornam globais. Em Curitiba, são mais de 1.000 engenheiros trabalhando na Renault Tecnologia América para o desenvolvimento local, mas também desenvolvendo veículos e tecnologias que serão usadas na Rússia, na Índia, na França... Existe uma mescla e isso é muito interessante, porque os engenheiros têm a capacidade e a oportunidade de trabalhar em escala global. A empresa inaugurou a quarta unidade industrial em Curitiba, de injeção de alumínio. Esse complexo se insere no contexto global? A inauguração da Curitiba Injeção de Alumínio (CIA) foi a última etapa de um grande ciclo de investimentos de lançamento de produtos e modernização da fábrica de motores. São quatro unidades fabris instaladas em Curitiba: veículos de passeio, utilitários, motores e injeção de alumínio. Esse ciclo de investimento foi iniciado há alguns anos com o objetivo claro de produzir blocos e cabeçotes para serem utilizados nos veículos produzidos no Brasil e para produzir os motores que são utilizados pelas plantas de Brasil, Argentina e Colômbia. A implantação da CIA e a modernização da fábrica de motores estão dentro do contexto de produção da América Latina, porque tratamos como estratégia única. Além das quatro plantas no Brasil, temos uma na Argentina, uma na Colômbia e uma planta de caixas de câmbio no Chile, que alimenta todas as fábricas da região. O mercado de automóveis está se transformando com inúmeras novidades tecnológicas. Como o senhor vislumbra o carro no futuro? Do ponto de vista de quem faz Engenharia vivemos um momento riquíssimo, porque estamos em evolução, em completa transformação daquilo que é automóvel e daquilo que vai ser o automóvel. Vivemos um momento especial do ponto de vista de aprendizado, desenvolvimento e oportunidades, e podemos esperar que os automóveis se transformarão mais, nos próximos 10 anos, do que se transformaram nos últimos 50 anos.
E qual é o perfil do engenheiro que as montadoras precisam? Independentemente da parte técnica, a Engenharia dá uma base muito sólida para qualquer profissional, que é a capacidade de ter variáveis, de ter ferramentas para resolver problemas, de olhar um problema, dividir em partes e endereçar a resolução de cada parte para a solução global. Essa é uma competência importante para qualquer profissional e muito forte na Engenharia. As técnicas e as tecnologias variam de acordo com o tempo, mas a capacidade de pensar de forma lógica, racional e estruturada é a base que permanece. O que costumo sugerir para qualquer profissional é que desenvolva a capacidade de raciocínio lógico estruturado; a capacidade de análise e de síntese; a visão de onde quer ir e como será a construção desse caminho. E que tenha disciplina para executar esse plano de ação. Pode até não ser uma questão tão nobre, mas o que nos leva ao resultado como profissionais e pessoas é a disciplina para executar aquilo que foi planejado. Recomendo para os novos engenheiros ter capacidade de continuar aprendendo, de entregar performance, de fazer diagnóstico, sintetizar, ter visão, construir e executar o plano para entregar resultado. Isso para mim é o segredo, é o ponto fundamental e é o que sempre fiz. Por que o senhor escolheu a Engenharia Automobilística como carreira? O que me levou a fazer automobilística foi que, desde muito cedo, sempre
Renault Divulgação
Essa mudança é incontornável globalmente, com a chegada dos veículos autônomos, elétricos, conectados e até mesmo dos veículos compartilhados. Essa transformação traz grandes desafios para as indústrias e, por isso, estamos fazendo grandes investimentos. Este é um momento de tensão para a indústria automotiva, pois, ao mesmo tempo em que temos de obter sucesso no mercado atual, precisamos construir o que vai nos permitir ter sucesso no futuro. Precisamos ter uma equipe preparada para passar por esse momento histórico que dá muito prazer, pois não é sempre que temos uma janela de transformação para fazer parte.
“Do ponto de vista de quem faz Engenharia vivemos um momento riquíssimo, porque estamos em evolução...” fui apaixonado pela Fórmula 1. Quando o Nelson Piquet ganhou o primeiro ou segundo título, eu tinha sete ou oito anos de idade e saí comemorando na rua, jogando papel picado para cima. Ninguém sabia o que eu estava comemorando! Quando tinha grande prêmio nos fins de semana e meu pai recebia o jornal na segunda-feira, eu recortava as matérias e guardava em uma pasta. Meu sonho de criança era ser piloto de Fórmula 1, mas, infelizmente, não tive condições financeiras de seguir esse caminho. Então, o caminho para chegar na Fórmula 1 era ser engenheiro de uma equipe de Fórmula 1. Depois, passei a ter como foco trabalhar em uma montadora. O destino quis que eu viesse trabalhar na Renault que, além de montadora, foi 12 vezes campeã de Fórmula 1 com seu motor, o segundo mais campeão da história da competição. Assim, acabei em uma montadora que tem o automobilismo no sangue e realizei meu sonho de estar perto desse mundo.
E por que optou por estudar na FEI? Por causa da Engenharia Automobilística e porque a FEI sempre teve o nome muito forte e grande capacidade acadêmica. Fui aluno dos professores Ricardo Bock, Rui Blanco, do Garcia na parte de motores, do Papaleu na parte de materiais. O Ricardo Bock era responsável pela cadeira de Automobilística e tive muitas oportunidades de fazer projetos com ele. Fizemos um projeto de formatura que tinha uma turbina a gás que alimentava um motor elétrico – o Ecotec. Eu e meus colegas de equipe antecipando um pouco as tecnologias futuras. O que o inspira na carreira? Paixão! E paixão é algo que não dá para explicar. Meu pai era advogado, foi delegado de Polícia em São Bernardo do Campo, mas nunca me falou para cursar Direito, ao contrário, sempre me dizia para eu fazer aquilo que gostasse, aquilo que eu tivesse paixão. O sucesso é a consequência da paixão! O que me move é a paixão, desde o começo, essa paixão pelo automóvel, paixão por fazer e hoje, em particular, duas paixões me movem do ponto de vista profissional. A primeira é a paixão por criar, por fazer coisas que estarão aqui depois que eu não estiver mais, por deixar um legado; e a segunda é cuidar das pessoas. Ao longo da minha carreira tive pessoas absolutamente fundamentais para meu desenvolvimento, que acreditaram em mim. Hoje, uma das minhas paixões é olhar as pessoas que contratei como estagiárias e que hoje são gerentes ou diretores. Acho que temos uma missão. Encontramos na nossa vida pessoas que nos puxam para frente e a nossa obrigação é puxar as que vêm atrás. Quando penso em um grande líder ou uma pessoa marcante, vem à minha mente duas grandes características: aqueles que eram exigentes, que demandavam, ao mesmo tempo em que estavam ali para ajudar. E procuro desenvolver isso com minhas equipes. A pessoa que desenvolve não é aquela que fala que está tudo legal, mas a que diz que você pode mais, que quer mais de você, que diz ‘você pode fazer melhor’. Tive tantas oportunidades, tantas pessoas foram tão bonitas comigo, que é minha obrigação fazer o mesmo, e isso dá muito prazer.
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PERSONA
A HORA E A VEZ DAS BICICLETAS ELÉTRICAS ENGENHEIRO MECÂNICO FORMADO PELA FEI, VICTOR HUGO CRUZ DESENVOLVEU NOVO MODELO DE E-BIKE E VISUALIZA CRESCIMENTO DA EMPRESA E DO SETOR
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setor de bicicletas tem conquistado cada vez mais espaço no mercado, o que sinaliza um cenário futuro de mobilidade urbana pautado na integração entre todos os modais de transporte. Nessa busca por uma melhor qualidade de vida e cuidados com o meio ambiente, as bicicletas elétricas – também chamadas de e-bikes – têm atraído progressivamente a atenção dos consumidores, que buscam se locomover nas metrópoles de forma rápida, prática e eficiente. Forte candidata a liderar o segmento de bicicletas nos próximos anos, a e-bike ainda tem pouca adesão no Brasil – com participação de 0,35% das vendas totais, segundo dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) –, mas deve seguir a tendência de consolidação que ocorreu nos países desenvolvidos, principalmente os da Europa, como Holanda e Alemanha, onde as elétricas já respondem por 30% a 40% das vendas totais de bicicletas. A expectativa de crescimento do mercado brasileiro é compartilhada por diversos empresários, entre eles o engenheiro mecânico Victor Hugo Cruz, formado pelo Centro Universitário FEI em 2012 e fundador da Vela Bikes. Pioneira na fabricação de e-bikes personalizadas no Brasil, a empresa lançou seu primeiro protótipo no fim de 2014 e, em 2018, já faturou mais de R$ 5,3 milhões. “A startup surgiu de uma
AVANÇOS E DESAFIOS DO SEGMENTO As e-bikes alcançaram significativa evolução nos últimos anos e o desenvolvimento tecnológico proporcionou melhorias essenciais ao seu desempenho, tanto em termos de segurança quanto em usabilidade. Esse cenário promissor tem despertado o interesse de muitos investidores e de empresas brasileiras, que já começam a colocar seus planos de expansão em prática para atender à iminente demanda. Internacionalmente, a e-bike está no auge histórico de utilização, mas ainda não atingiu seu potencial máximo, principalmente quando considerada a participação no mercado total de bicicletas. Um dos maiores desafios para a expansão no Brasil é a carga tributária, que encarece o valor final do produto que, na Vela Bikes, varia entre R$ 4,8 mil a R$ 6,5 mil. Segundo o engenheiro Victor Hugo Cruz, empreender no Brasil é muito difícil, pela ausência de incentivo – uma vez que
demanda pessoal. No fim de 2012, eu tinha como objetivo me locomover com mais agilidade e segurança. Na época, só existiam bicicletas elétricas muito pesadas e com bateria de chumbo fabricadas no Brasil e, para importar modelos mais leves, tínhamos de pagar preços elevados. Foi então que decidi desenvolver um protótipo que atendesse às minhas necessidades”, relata. Além de participar de fóruns, pesquisar inovações e materiais, o engenheiro realizou testes em uma oficina adaptada dentro do próprio apartamento, buscou componentes diferenciados, desenvolveu a estrutura e, no fim de 2014, com quatro protótipos bem equipados, mais leves e funcionais, deu início às atividades da startup, viabilizada graças a um financiamento coletivo. O capital coletivo, aliado aos investidores-anjo, possibilitou o início das atividades e garantiu, principalmente, o aumento da capacidade produtiva. “Foi um sucesso e um grande desafio, pois, antes de entregar a primeira bicicleta, 80 unidades já estavam compradas ou reservadas”, informa o empresário. A primeira oficina ficava nos fundos de uma galeria no bairro de Pinheiros, em São Paulo, em um espaço de 30m². Atualmente, a fábrica opera com 60 colaboradores e ocupa um gal-
pão de 2 mil m² em Diadema, no ABC paulista, produzindo cerca de 100 unidades por mês, mas com capacidade para chegar a 1.000 unidades mensais. O engenheiro afirma que a produção está atrelada à demanda, que cresce conforme aumenta o interesse por essa nova opção de transporte. A Vela Bikes comercializa bicicletas elétricas e personalizadas pela internet e possui quatro lojas físicas localizadas em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Curitiba. O empresário tem planos de expansão para as cidades de Belo Horizonte e Porto Alegre, mas ainda sem previsão de prazo. “Nossas vendas são mais aquecidas via internet e no Estado de São Paulo, embora as lojas físicas nos aproximem mais dos clientes, que podem fazer test drive, entender o funcionamento das bicicletas e tirar dúvidas. Além disso, nos pontos físicos oferecemos manutenção e assistência técnica”, acentua. A empresa, que produz as bicicletas por encomenda, disponibiliza cinco geometrias de quadro – desenvolvidas pelo seu idealizador –, dois tamanhos de roda (aros 26 e 29), uma série de acessórios e uma paleta com 13 cores exclusivas. O maior gargalo da empresa é acabar com a fila de espera, reduzindo o tempo de fabricação que, atualmente, leva em torno de 60 dias.
as e-bikes ainda são vistas como bem de lazer e não como meio de transporte alternativo, limpo e eficiente –, pela falta de investimentos em infraestrutura e, principalmente, pelo alto valor do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que é de 35% para a bicicleta assistida/elétrica – o mesmo de uma moto – enquanto as bicicletas convencionais pagam 10%. “Soma-se, ainda, os custos com a tecnologia desenvolvida e a mão de obra, o que dificulta a popularização de um mercado que, no Brasil, é muito pulverizado, com cerca de 50 empresas com linhas de montagem, a maioria de pequeno porte”, acrescenta. Mesmo com as dificuldades, as projeções de crescimento em longo prazo são promissoras para todo o setor, uma vez que as e-bikes são uma importante solução para desafogar gargalos de mobilidade urbana, romper desafios de sustentabilidade e eli-
FORMAÇÃO FOI ESSENCIAL O engenheiro Victor Hugo Cruz relata que a preocupação com mobilidade urbana, sustentabilidade, inovação e empreendedorismo, tão difundida em sala de aula durante o curso de Engenharia Mecânica no Centro Universitário FEI, foi essencial para o desenvolvimento e o amadurecimento do seu projeto. “Apesar de a startup não ter sido o tema do meu trabalho de conclusão de curso, a ideia surgiu ainda na graduação. Não tem como desvincular o aprendizado do curso de Engenharia com o que venho construindo. O conteúdo de determinadas disciplinas, meu interesse em questionar e buscar apoio, a contribuição direta e, mesmo indireta, de alguns professores, foram essenciais para minha formação e para a concretização desse sonho”, assegura. Filho de um engenheiro civil, o brasiliense Victor Hugo Cruz veio para São Paulo há 12 anos com um único objetivo: cursar a graduação em Engenharia Mecânica na FEI devido ao conteúdo oferecido, ao reconhecimento do curso, à pesquisa, inovação e tecnologia e, principalmente, pelo fato de a Instituição ser uma vitrine de profissionais de excelência para um mercado extremamente competitivo, independentemente da área de atuação.
minar a emissão de poluentes, bem como melhorar a saúde e o bem-estar dos usuários. “Nosso próximo passo, provavelmente o mais audacioso, é levar nossa produção para a Zona Franca de Manaus, no Amazonas, no início de 2020. Isso diminuiria os custos de produção e tornaria o nosso produto mais competitivo, possibilitando a venda terceirizada, novas versões customizadas e modelos padrões de pronta-entrega, mas sem perder a variedade atual”, adianta o engenheiro. Paralelamente, a startup trabalha com o desenvolvimento de dois novos modelos, que devem ser disponibilizados ainda neste ano: uma bike cargueira/utilitária e uma versão mais compacta, que cabe dentro do porta-malas de um automóvel. Outra novidade são os pontos de recarga rápida que serão instalados, inicialmente, em 100 cafés na cidade de São Paulo, facilitando a vida dos usuários.
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INTERNET DAS COISAS CONECTA MÁQUINAS AO MUNDO DIGITAL FEI É A PRIMEIRA INSTITUIÇÃO DE ENSINO DO PAÍS A INSTALAR A PLATAFORMA DA SIEMENS POR MEIO DO PROJETO MINDSPHERE FOR ACADEMY
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Quarta Revolução Industrial tem diferentes vertentes e, do ponto de vista tecnológico, possui pilares como a robótica avançada, o big data e a Internet das Coisas (IoT) que permitem criar a fusão do mundo físico com o virtual e mudam os modelos de gestão das empresas. Com a MindSphere, a multinacional alemã Siemens fornece uma plataforma aberta e baseada em nuvem para dispositivos e sistemas IoT, que permite conectar máquinas e infraestruturas físicas ao mundo virtual, transformando dados em conhecimento e viabilizando novos modelos de negócios digitais. Bem conceituado no processo de inovação e digitalização, e com um avançado laboratório de Manufatura Digital, o Centro Universitário FEI, em parceria com a Siemens, se tornou a primeira instituição brasileira – e a segunda no mundo – a implantar a MindSphere. A plataforma será integrada ao laboratório de Manufatura Digital da Engenharia de Produção, localizado no campus São Bernardo do Campo, e a Siemens disponibilizou um importante treinamento on-line para conhecimento da MindSphere. “A FEI é a primeira instituição de ensino a receber a ferramenta no Brasil devido à estratégia de digitaliza-
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ção, que a torna referência em Indústria 4.0, bem como aos avançados laboratórios que já possuem soluções Siemens e foco em IoT, qualificando os alunos para essa crescente demanda no mercado”, afirma o professor doutor Alexandre Augusto Massote, do Departamento de Engenharia de Produção. A inserção de instituições de ensino pela Siemens faz parte do projeto MindSphere for Academy, que chegou ao Brasil em abril de 2018 e visa fazer com que os alunos tenham contato com a Indústria 4.0 durante a formação, para que estejam prontos para utilizar essa tecnologia e tenham know-how para o desenvolvimento de novas possibilidades para a plataforma. O engenheiro especialista em MindSphere responsável por todo o negócio no Brasil, Murilo dos Santos Morais, explica que, por ser aberta, a plataforma possibilita conectar qualquer tipo de equipamento, mesmo de outros fabricantes, assim como aplicativos de diferentes desenvolvedores e empresas. “Dentro da plataforma existe a MindSphere Store, com todos os aplicativos e usos. Tudo para acesso aos dados que colaboram com a operação do dia a dia e geram aumento de produtividade, diminuição de linha parada e de quebra de máquinas, por exemplo”, descreve. Como os dados estão na nuvem e são disponibilizados para todos que fazem parte do sistema, a plataforma permite que a FEI se conecte com empresas e outras instituições de ensino para compartilhar dados e fazer pesquisas em conjunto. “A MindSphere também vai ajudar os alunos, que poderão trabalhar com dados reais de empresas no
EM PAUTA meio de um questionário, que deve ser aprovado pela matriz, nos Estados Unidos. Instituições de ensino pagam apenas 5% do valor de mercado da plataforma MindSphere. DIFERENÇAS O engenheiro Murilo dos Santos Morais lembra que, assim como acontece com os celulares, existe um grande número de plataformas IoT, mas somente as que possuírem maior número possível de aplicativos vão perpetuar no mercado. “Hoje, são apenas dois sistemas operacionais que dominam os celulares e esses deram certo pela qualidade de aplicativos que contêm. Essa mesma visão se aplica à plataforma de IoT. Por isso, precisamos de profissionais prontos para desenvolverem mais e melhores aplicativos dentro da plataforma MindSphere. Esperamos que a FEI contribua com esse ecossistema”, acrescenta. O Centro Universitário tem acesso à plataforma como desenvolvedor, assim, possui
Divulgação
laboratório. Esse compartilhamento de dados e a colaboração são pilares da Indústria 4.0”, enfatiza o professor doutor Fábio Lima, do Departamento de Engenharia de Produção. A aquisição da MindSphere ocorreu via Departamento de Engenharia de Produção, mas a plataforma será usada por todos os Departamentos de Ensino da FEI, uma vez que a Indústria 4.0 envolve todos os segmentos, inclusive a área de Administração. “O mesmo ocorre fora do contexto de cursos da FEI. Por exemplo, a Medicina será muito beneficiada por essa plataforma, que permitirá ao profissional atuar a distância, levar diagnósticos e tratamentos para locais inacessíveis e até mesmo realizar cirurgias por meio do comando remoto de robôs”, destaca o professor Alexandre Augusto Massote. Além da FEI, a Universidade da Pensilvânia faz parte do MindSphere for Academy. Para integrar o projeto da Siemens, a instituição de ensino precisa ser avaliada por
O engenheiro especialista em MindSphere responsável por todo o negócio no Brasil, Murilo dos Santos Morais
todas as ferramentas e possibilidades para criar soluções acadêmicas para uso próprio e para ajudar empresas parceiras a enxergarem o valor da IoT e da Indústria 4.0 para o futuro de seus negócios.
BENEFÍCIOS APRESENTADOS NA EXPOMAFE A solução implantada no laboratório do Centro Universitário FEI foi apresentada na Feira Internacional de Máquinas-Ferramenta e Automação Industrial (Expomafe 2019), realizada pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) e pelo Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Máquinas e Equipamentos (IPDMAQ). O evento reuniu soluções tecnológicas que demonstram, na prática, as possibilidades para pequenas, médias e grandes empresas avançarem na Indústria 4.0, visando atingir principalmente os empresários que ainda não conhecem todos os benefícios que a implantação desta tecnologia pode oferecer em termos de qualidade dos processos e ganhos de produtividade. Para mostrar que a Indústria 4.0 está acessível a todos, a FEI aprimorou uma máquina de usinagem do tipo comando numérico computadorizado (CNC) didática e com mais de 20 anos de uso. O processo de modernização, chamado retrofit, adicionou ao equipamento modernos sensores de energia da Schneider Electric e um hardware de IoT da Siemens para capturar dados reais de energia da máquina e enviá-los para a nuvem. Com o uso de um aplicativo, o recebimento desses dados de energia ocorre em tempo real. “Por meio deste monitoramento, o gestor sabe o consumo do equipamento e como atuar para que utilize menos recursos,
gerando ganho financeiro e colaborando com a sustentabilidade”, explica o professor Fábio Lima. Durante os cinco dias de evento, que recebeu 55 mil pessoas, o cluster em que a FEI estava recebeu 5 mil visitas e gerou reações positivas. Segundo o docente do Departamento de Ciência da Computação, Rodrigo Filev Maia, o trabalho de retrofit apresentado pela FEI mostra que é possível integrar a empresa na manufatura avançada, por meio de IoT, sem um alto investimento e com a estrutura fabril que a empresa já possui. O professor Alexandre Augusto Massote acentua que, com a consolidação da Indústria 4.0, um número cada vez maior de instalações fabris e empresas conectadas geram um volume expressivo de dados, que precisam ser rapidamente coletados, analisados e usados para melhorar a disponibilidade e a performance de sistemas, bem como otimizar a operação e o uso de recursos e da infraestrutura, com impactos positivos para os negócios em relação à produção, aos fatores ambientais e ao próprio mercado. Por esse motivo é que aplicativos industriais e serviços digitais são tão importantes. “Já é possível fazer uma conexão entre máquinas que estão em locais distantes e formam uma cadeia de produto sem a intervenção humana. Acredito que, em 10 anos, haverá uma fábrica dentro da concepção autônoma e inteligente que fará todo o trabalho sozinha”, prevê.
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NOVAS TECNOLOGIAS PARA SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO CADEIA DE AR E CLIMATIZAÇÃO EXIGE INOVAÇÃO CONTÍNUA PARA MANTER A EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E REDUZIR OS IMPACTOS AO MEIO AMBIENTE
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iStockphoto/sturti
setor de ar condicionado ocupa lugar de destaque em quase todas as áreas, uma vez que a climatização para controle das condições ambientais e da qualidade do ar é importante em diferentes aplicações, tais como centros cirúrgicos, plantas de produção farmacêutica e de produtos alimentícios, e conforto em geral. Com as tecnologias atuais, principalmente no que se refere à automação e integração de todos os equipamentos e processos, há um ganho em conforto, qualidade do ar, diminuição da possibilidade de falhas, maior controle das operações – sejam comerciais ou industriais –, redução da perda de produtos e, acima de tudo, melhor eficiência energética e redução dos impactos ao meio ambiente. Atualmente, os equipamentos de ar condicionado já oferecem uma sensível evolução tecnológica do ponto de vista da eficiência energética o que, agregado a um moderno sis-
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tema de controle e automação, permite que os sistemas de climatização apresentem níveis de consumo de eletricidade significativamente menores com relação a sistemas produzidos, por exemplo, há três décadas. “Equipamentos e sistemas de climatização mais eficientes implicam em demanda e consumo elétricos menores, viabilizando suas aplicações com tarifas elétricas reduzidas”, afirma o professor Manoel Máximo Milaré, diretor da empresa Masterplan, membro do Departamento Nacional de Empresas Projetistas e Consultores (DNPC) da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (ABRAVA) e ex-aluno de Engenharia Mecânica com ênfase em Refrigeração e Ar Condicionado (RAC) da FEI. Estima-se que, em edifícios comerciais, o uso do ar condicionado represente de 30% a 40% do consumo total de energia. Por isso, a indústria tem trabalhado para fabricar equipamentos cada vez mais eficientes, pois os esforços tecnológicos de conservação de energia se justificam do ponto de vista econômico, social e ambiental. Assim como qualquer equipamento elétrico, os sistemas de climatização e refrigeração também necessitam de manutenção adequada para garantir que os resultados do processo sejam alcançados
Manoel Máximo Milaré afirma que sistemas mais eficientes implicam em menor demanda e consumo
com a máxima eficácia. Um sistema de ar condicionado bem projetado e instalado, com operação e manutenção realizadas periodicamente, significa consumo de energia adequado e um ambiente climatizado com controle de temperatura, umidade, filtragem, renovação e distribuição de ar, fatores que aumentam a produtividade, proporcionam conforto e melhores condições de trabalho, e garantem um ambiente sem ruídos externos. “O uso do ar condicionado está diretamente relacionado à qualidade de vida e ao bem-estar dos usuários, em instalações de conforto térmico como centros de compras, supermercados, indústrias, aeroportos, residências e veículos automotivos. Além disso, garante as condições ambientais necessárias ao controle de contaminação em laboratórios de biossegurança, nas indústrias alimentícias e farmacêuticas e em hospitais, entre outros ambientes”, enumera o professor Manoel Máximo Milaré. Para ter ideia do cenário brasileiro, atualmente a refrigeração comercial está distribuída em balcões, freezers e resfriadores de líquidos presentes em 90 mil supermercados, 52 mil padarias, 2,1 mil lojas de fast food, 5,8 mil lojas de conveniência, 180 mil hotéis e 500 mil indústrias. Além disso, está presen-
Eduardo Almeida: desenvolvimento da refrigeração está ligado às transformações no modo de vida
te em caminhões frigoríficos, ônibus, trens e metrôs, containers refrigerados, equipamentos para fábricas de sorvete, sistemas de impressão, siderurgia, entretenimento – como as pistas de patinação – e sistemas off shore. “Com amplo espaço para ser explorado, o desenvolvimento da refrigeração comercial está diretamente ligado às transformações no modo de vida das pessoas e, por isso, há necessidade de novas soluções de eficiência”, observa Eduardo Almeida, vice-presidente do Departamento Nacional de Refrigeração Comercial da ABRAVA, diretor de tecnologia da Bitzer Compressores e também ex-aluno de Engenharia Mecânica com ênfase em RAC da FEI. INDUSTRIAL Com equipamentos eficientes como chillers com carga reduzida de R-717 e chillers com trocadores a placas (PHEs) e com maiores potências, que podem variar entre 100 KW a 3000 KW para um compressor, os refrigeradores industriais estão presentes para resfriamento de vacinas, na liquefação de gases, sorvetes e liofilização, em câmaras de estocagem de congelados, no resfriamento de leite e derivados, em fábricas de gelo, no resfriamento de concreto e em vários processos indus-
Tomaz Cleto: Brasil é o quarto maior produtor e exportador de carne suína e o segundo em bovina
triais. Os especialistas afirmam que o cenário é muito promissor e o agronegócio é o setor que mais impulsiona o segmento atualmente. Para atender às normas de agências reguladoras e exigências internacionais de exportação, a refrigeração é um dos principias elementos dessa cadeia de valor. “O Brasil, atualmente, produz 13 milhões de toneladas/ano de carne de frango e exporta 33% dessa produção; é o quarto maior produtor e exportador de carne suína e o segundo em carne bovina. Além disso, produz 11,5 bilhões de litros/ano de refrigerantes e é o quarto maior produtor mundial de cerveja”, enumera o engenheiro Tomaz Cleto, vice-presidente de Eficiência Energética da ABRAVA e ex-aluno de Engenharia Mecânica com ênfase em RAC do Centro Universitário FEI. A inovação no setor de ar condicionado e refrigeração foi tema de encontro organizado pela Agência de Inovação FEI (AGFEI) com representantes da ABRAVA e com a presença de alunos, ex-alunos e professores. O evento foi realizado em maio no campus São Bernardo do Campo e integra um recente acordo firmado entre as duas instituições para a disseminação de informações e promoção para os setores de refrigeração e ar condicionado.
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EM PAUTA PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS As exigências ligadas à sustentabilidade estão mudando todas as perspectivas de futuro, seja na refrigeração comercial ou industrial. O mercado passa por um período de transição em busca de soluções que minimizem o impacto ambiental, tanto pela aplicação dos fluidos naturais ou por sistemas eficientes que consumam menos energia. “Para atender tais exigências, as indústrias de refrigeração comercial têm à disposição uma série de fluidos sintéticos e tecnologias com refrigerantes naturais – com baixo GWP (do inglês Global Warming Potential), como a aplicação do gás carbônico (CO) e propano, até então utilizados somente para uso industrial. Outro fator que reduz o consumo em cerca de 40% é a utilização de portas nos expositores”, ressalta o presidente do Departamento Nacional de Refrigeração Comercial da ABRAVA, Eduardo Almeida. O grande desafio para os profissionais de refrigeração está em tornarem-se aptos a trabalhar com novas soluções para substituir os fluidos refrigerantes do tipo HCFC (hidroclorofluorocarbono), utilizados há décadas. O primeiro passo foi substituí-los pelos HFCs (hidrofluorcarbono), que estão cobrindo, temporariamente, a ausência de uma solução definitiva em termos de custo, aplicação e eficiência. Os fluidos naturais, principalmente o CO e o propano, se apresentam como grandes alternativas para aumentar a eficiência energética. “Para adequarem-se a esse cenário, os principais fabricantes de fluidos refrigerantes vêm trabalhando para atender às normas do Protocolo de Montreal, desenvolvendo tecnologias cada vez mais sustentáveis, eficientes e seguras, e desempenhando um papel fundamental em diversas aplicações e indústrias em todo o mundo”, reitera o engenheiro Eduardo Almeida. Para desenvolver novos produtos há a necessidade de uma ação coordenada, evitando o crescimento das emissões de gases de efeito estufa, incluindo as associadas ao uso de HFCs em diferentes aplicações. Enquanto a área de refrigeração comercial sempre foi fortemente baseada nos fluidos sintéticos – que agrediam a camada de ozônio e contribuíam para o aumento do efeito estufa (CFCs, HCFCs e HFCs) –, a refrigeração industrial foi baseada nos fluidos naturais como CO, hidrocarbonetos (propano) e, sobretudo, amônia, substância muito utilizada por ser um fluido de excelentes características operacionais, gerando sistemas com alta eficiência e melhor coeficiente de transferência de calor para aplicações. “Os novos gases atingirão uma pequena faixa de aplicação na refrigeração industrial, em locais onde os fluidos naturais não possam ser empregados de maneira eficiente”, argumenta o engenheiro Tomaz Cleto. O fato é que todos os setores de refrigeração e ar condicionado terão de aprender a conviver com fluidos refrigerantes inflamáveis, já que essa é uma tendência mundial e um caminho irreversível. O propano, por exemplo, é um dos refrigerantes que vêm aumentando a utilização em supermercados. Segundo os especialistas do setor, a aplicação desses fluidos pode ser realizada de forma tão segura quanto a de qualquer outra substância, desde que as normas de conformidade e segurança sejam rigorosamente respeitadas. “O risco relacionado à inflamabilidade pode ser reduzido com a implantação de cuidados simples, como utilização de baixas cargas de fluido refrigerante, sistema resistente e estanque a vazamentos, eliminação de fontes de ignição ou uso de componentes elétricos à prova de explosão. Para isso, é indispensável treinamento adequado para manusear, manter e operar sistemas com esse tipo de fluido”, destaca o vice-presidente de Eficiência Energética da ABRAVA.
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A EFICIÊNCIA AUMENTA C Com a necessidade de tornar os processos mais práticos, os engenheiros de refrigeração e ar condicionado estudam e desenvolvem sistemas e dispositivos cada vez mais compactos e eficientes, que podem ser controlados remotamente. Por meio dos processos de automação predial é possível efetuar estudos em cada ambiente, controlar mecanismos, verificar funcionamento, efetuar medições, antecipar problemas e realizar ações preventivas. Segundo o engenheiro Gilberto Campos Machado, presidente da Pro-Air Brasil, vice-presidente executivo da ABRAVA e especialista em RAC pela FEI, a automação traz inúmeros benefícios à cadeia de valor e é uma tendência em constante crescimento. “Por meio de uma plataforma integrada e unificada de gestão predial é possível proporcionar, por exemplo, mais produtividade e ambientes de trabalho seguros, garantindo a qualidade do ar e a temperatura, assim como reduzir custos de energia e otimizar a sustentabilidade, assegurando que o sistema de automação predial trabalhe de forma eficiente e criando registros e relatórios que possibilitem rápida tomada de decisão”, argumenta. A automação predial surgiu justamente para garantir o controle dos equipamentos de ar condicionado e o consumo de energia, e hoje é necessária para integrar todos os componentes, como chillers, fan coils, tubulação e bombas.
GRANDE POTENCIAL DE ATUAÇÃO ES A área de refrigeração e ar condicionado é muito ampla e o mercado está em constante crescimento e evolução. Segundo levantamento da ABRAVA, nos últimos 10 anos o faturamento do setor cresceu 61,8%, atingindo a marca de R$ 30,58 bilhões – para 2019, a previsão é um crescimento de 5%. Com o aumento da utilização de controles inteligentes e aspectos de segurança operacional cada vez mais complexos, o mercado busca conhecimento de Engenharia para concepção, configuração e otimização de processos que garantam melhor produtividade e eficiência energética. Para atender à demanda, o Centro Universitário FEI oferece um curso de especialização em Refrigeração e Ar Condicionado com o objetivo de qualificar engenheiros ou tecnólogos que atuam ou tenham interesse nas áreas de refrigeração, condicionamento de ar, ven-
Gilberto Campos Machado cita os protocolos de comunicação de dados para a automação predial
O engenheiro Gilberto Campos Machado lembra que, atualmente, já existem protocolos de comunicação de dados voltados para automação predial que possibilitam a comunicação entre controladores de mais de um fabricante. Inclusive, a maioria já conta com IP Controler, um método avançado de controladores nível 3 que facilita proje-
Montagem a partir
tar, gerenciar e controlar a refrigeração predial. Para o engenheiro Eduardo Almeida, a indústria, por meio da Engenharia, precisa desenvolver equipamentos capazes de fazer manutenções preventivas e preditivas, por meio das quais a atuação no campo seja a mais reduzida possível. “Um dos objetivos da automação é fazer com que o técnico vá a campo com o trabalho mais direcionado, reduzindo tempo e retrabalho. A digitalização, portanto, torna-se fundamental, pois permitirá reunir a maior quantidade de dados por meio de controladores e transformar em curvas gráficas que possam ser analisadas e repassadas às oficinas, centrais de manutenção e mecânicos”, avalia. A possibilidade de intervir antes de o problema ser maior reduz o tempo de correção em até cinco vezes. Embora a implantação dos sistemas de automação necessite de um pouco mais de investimento pode, ao longo do tempo, reduzir em até 30% os custos com energia elétrica e, com isso, é possível recuperar o investimento em
da imagem: iStoc kphoto/Maxipho to
COM MONITORAMENTO REMOTO
curto prazo. “A automação é essencial, mas é importante ter em mente que a eficiência desse tipo de sistema está totalmente vinculada a um bom projeto, marcas confiáveis, empresas capacitadas e profissionais qualificados. Além disso, estar atento aos lançamentos de mercado é um diferencial para obter o melhor desempenho de um sistema”, ensina o engenheiro Gilberto Campos Machado.
STIMULA RENOVAÇÃO DO CURSO NA FEI tilação e aquecimento. Tendo como base princípios da termodinâmica, mecânica de fluídos e transferência de calor, a especialização oferece conteúdo avançado e alinhado com as expectativas do mercado. “Estamos revisando as disciplinas para modernizar o curso e deixá-lo o mais atual possível, com a grade reestruturada já para a próxima turma, principalmente no que se refere às áreas de eficiência energética e sistemas digitais de controle, temas com grande apelo e que têm demandado mão de obra especializada”, comenta o engenheiro mecânico e professor Marcelo Fantinato, coordenador da especialização. A qualificação profissional ainda é o grande gargalo do setor e as empresas instaladoras e fabricantes acabam contratando engenheiros plenos ou profissionais de outras áreas, pois não encontram especialistas em RAC com qualificação para acompanhar a expansão e as constantes inovações. Para entender a demanda das empresas, a FEI e a ABRAVA estão em constante troca de informações visando debater as necessidades do mercado, as inovações e as competências necessárias, o que tem influenciado positivamente a linha de aplicação das disciplinas. “Esse intercâmbio é importante para que os alunos conheçam o alto potencial de atuação e as oportunidades disponíveis nesse mercado, que está aberto para quem estiver mais bem preparado”, afirma o professor Marcelo Fantinato.
O professor Marcelo Fantinato coordena a especialização
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BUSCA POR MELHORES DESEMPENHOS E PESQUISAS FOCAM NO PROCESSAMENTO E NA CARACTERIZAÇÃO DE MATERIAIS MAIS LEVES, RESISTENTES E AMBIENTALMENTE RESPONSÁVEIS
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Engenharia de Materiais visa, entre outros objetivos, o desenvolvimento de novas tecnologias que permitam a criação de materiais mais leves, resistentes e ambientalmente corretos para uma infinidade de aplicações, considerando também os custos envolvidos. Os profissionais do segmento precisam ter embasamento científico e tecnológico dos processos de fabricação e conformação de diferentes materiais, adequando suas propriedades às mais diversas aplicações, incluindo setores como automobilístico, construção civil, medicina, geração de energia e aeroespacial. O trabalho dos engenheiros de materiais nem sempre envolve o desenvolvimento de um novo produto e, muitas vezes, o grande desafio está exatamente em estudar os já existentes para ter uma melhor compreensão dos desempenhos possíveis e das possibilidades de dimensionamento e aprimoramento. Consciente da importância das pesquisas na área, os projetos do Departamento de Engenharia de Materiais do Centro Universitário FEI envolvem quatro segmentos: metais, cerâmicos, plásticos/ borrachas (polímeros) e compósitos. As linhas
de pesquisa estão relacionadas a temas como Cerâmicas Técnicas, Modificação, Reciclagem e Processamento de Polímeros, Transformação de Fases e Comportamento Mecânico de Materiais Estruturais, e todas oferecem soluções para as questões técnicas propostas pelas empresas, principalmente aquelas que mantêm parceria científica e tecnológica com a Instituição. Um bom exemplo é o trabalho de doutorado conduzido pelo professor William Naville, que avalia o comportamento mecânico e a corrosão de aços inoxidáveis utilizados em implantes temporários de cirurgias ortopédicas. “No Brasil, não há o hábito de retirar uma placa metálica colocada em alguma parte do corpo, porque isso demandaria uma nova cirurgia com todos os riscos e dificuldades inerentes ao procedimento. Por isso, estamos fazendo um teste de corrosão e de fadiga causada pelos movimentos corporais, em fluido sintético que imita as condições do corpo humano, simulando o uso de um implante”, detalha. A pesquisa está caracterizando o material para ter dados que visam melhorar o processo de fabricação e o dimensionamento de implantes. Outra linha de pesquisa visa desenvolver soluções tecnológicas para processamento e utilização de aços inoxidáveis em ambientes severos, como os encontrados em extração e
FEI É DESTAQUE EM DESAFIO INTERNACIONAL DE M O comprometimento com a excelência mantido pelo Centro Universitário FEI pode ser observado pelos resultados obtidos anualmente em um desafio internacional organizado pela Sociedade para o Avanço de Materiais e Engenharia de Processos (SAMPE). Anualmente, a SAMPE possibilita aos estudantes a oportunidade de participarem de competições, no Brasil e no exterior, que visam projetar e construir pontes em material compósito. Com etapa final nos Estados Unidos, o Student Bridge Contest reúne alunos de todo o mundo que devem projetar, construir e testar uma ponte estrutural em miniatura usando vários materiais compostos. Na
refino de petróleo, indústrias químicas e de papel e celulose. Uma das pesquisas é desenvolvida em parceria com a Villares Metals para a substituição do molibdênio – elemento de liga muito caro usado no aço – por tungstênio, que a empresa tem disponível em materiais de sucata. A troca gerará uma redução de custos para a companhia sem prejudicar qualquer propriedade do material, além de melhorar a resistência à corrosão. Pesquisadores da área também desenvolveram uma técnica de ensaio para determinar a resistência à corrosão por pites, o que permite a comparação rápida e precisa de diferentes classes de aços inoxidáveis e ligas de níquel com objetivo de avaliar o desempenho de ligas de alta resistência à corrosão, melhorando as informações usadas em seleção de materiais. “Resolvemos um problema tecnológico grave porque, até então, não existia um teste normatizado que permitisse a comparação dessas diferentes classes. Assim, pode-se aperfeiçoar a seleção e o uso desses materiais em projetos críticos de Engenharia”, pontua o professor doutor Rodrigo Magnabosco, docente do Departamento de Engenharia de Materiais e coorde-
nador do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Engenharia Mecânica. Com colaboração da professora doutora Daniella Caluscio dos Santos, o docente também pesquisa uma linha de simulação computacional de equilíbrio termodinâmico e transformações de fase assistidas por difusão em aços inoxidáveis dúplex. A ferramenta está se mostrando essencial para o desenho de processos de tratamento térmico, soldagem, forjamento e laminação a quente desses aços de alto desempenho, tanto em resistência mecânica quanto em resistência à corrosão, pois determinados ciclos térmicos podem provocar a formação de fases indesejáveis e deletérias a essas propriedades. REAPROVEITAMENTO A preservação do meio ambiente e as leis ambientais que orientam sobre o descarte correto de materiais favorecem a procura de soluções para o reaproveitamento de resíduos industriais. Em parceria com uma empresa fabricante de embalagens para cosméticos, a FEI está trabalhando com um polímero que imita vidro e é amplamente usado em embalagens de perfume, mas gera muito resíduo durante o pro-
cesso de fabricação e é pouco reaproveitado. “Nossa intenção é reaproveitar esse resíduo, misturando com outros polímeros para criar um novo material. Estamos avaliando a mistura deste resíduo com o nylon e observamos que esse novo material tem a resistência ao impacto aumentada, o que permitiria o uso em frascos mais simples e que não precisam de transparência, ou até mesmo em pincéis de batom”, afirma a professora doutora Adriana Martinelli Catelli de Souza, coordenadora do curso de Engenharia de Materiais. Outros estudos avaliam o reaproveitamento do polietileno reticulado, material usado em fios e cabos elétricos que substitui o uso de policloreto de vinila (PVC) – que libera ácido clorídrico em contato com o fogo, tornando-se altamente tóxico. Por ser um material reticulado que não pode ser fundido novamente ou reutilizado em uma peça nova, o polietileno reticulado precisa ser moído e transformado em carga (pequenas partículas). O professor Baltus Bonse, responsável pela pesquisa, está misturando este material com outros polímeros para estudar suas propriedades e, então, utilizá-lo para outras finalidades.
MATERIAL COMPÓSITO edição deste ano, em Charlotte, nos Estados Unidos, a FEI representou o Brasil concorrendo em cinco categorias, ganhou o primeiro lugar em duas delas e ficou em terceiro lugar na classificação geral. Nas categorias fibra de carbono perfil quadrado e fibra natural perfil I, a FEI ficou em primeiro lugar; nas categorias fibra de vidro perfil I e sanduíche garantiu o terceiro lugar; e ficou na quinta colocação na categoria fibra de carbono perfil I. “Vence a ponte que for mais leve e resistir à carga de projeto, sendo que essa carga depende da categoria. Essas pontes, que lembram as vigas utilizadas em construções, devem ser construídas com materiais compósitos e são submetidas ao ensaio de flexão”, explica o professor William Naville, responsável pela equipe FEI de Compósitos Avançados. Desde a primeira participação no Desafio Nacional, em 2014, a Instituição foi campeã em diferentes categorias no Brasil, sendo considerada uma das principais equipes da competição.
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Foto polímeros: iStockphoto/DJSrki e Foto perfis de metal: shutterstock/Oleksandr_Delyk
E NOVAS POSSIBILIDADES
EM PAUTA VERSATILIDADE DAS MATÉRIAS-PRIMAS EM PÓ As cerâmicas suportam temperaturas muito elevadas, não se deformam e são muito duras, características que as tornam excelentes para aplicações como refratários, ferramentas de corte, dispositivos de proteção térmica e fibras para a produção de compósitos. Entretanto, essas mesmas propriedades são fatores limitantes na fabricação de peças, pois processos comuns em metais e polímeros, tais como laminação, fundição, injeção, extrusão e usinagem, não podem ser aplicados diretamente em materiais cerâmicos. A solução recai sobre o uso de matérias-primas transformadas em pós muito finos, que podem ser compactados sob pressão e, posteriormente, aquecidos para adquirir resistência mecânica. “Quando são misturadas com água, as matérias-primas em pó transformamse em massas plásticas e suspensões líquidas, possibilitando inúmeras técnicas de moldagem”, explica o professor doutor Fernando dos Santos Ortega, que desenvolve projetos relacionados à fabricação de materiais cerâmicos e de metais produzidos por metalurgia do pó. Os estudos focam processos baseados em suspensões líquidas de diferentes matérias-primas, o que permite desenvolver várias tecnologias inovadoras. Alguns exemplos incluem a fabricação de molas
cerâmicas capazes de atuar em temperaturas nas quais as ligas metálicas perdem a característica de elasticidade ou, ainda, materiais com variação contínua de composição e/ou porosidade, como uma barra cuja composição varia continuamente de aço para cerâmica ao longo de seu comprimento. Também há projetos envolvendo o desenvolvimento de biocerâmicos para próteses e implantes que, muitas vezes, requerem estruturas porosas semelhantes às dos ossos, obtidas por meio da transformação das suspensões líquidas em espumas cerâmicas. O processamento por via líquida permite, ainda, o desenvolvimento de compósitos de matriz metálica, reforçados com nanopartículas cerâmicas e com ganhos significativos nas propriedades mecânicas. “Normalmente, materiais cerâmicos são opacos, então, outra vertente é obter cerâmicas nanoestruturadas que tenham o máximo de translucidez ou até mesmo transparência. Esses materiais poderiam ser utilizados em satélites de comunicação, telas de smartphones e outros dispositivos que necessitem de transparência, porém, mantendo a resistência mecânica e térmica. Este é um estudo moderno e inovador”, pontua o professor doutor Gilberto José Pereira.
Os professores Gilberto José Pereira (à frente) e Fernando dos Santos Ortega desenvolvem projetos relacionados à fabricação de materiais cerâmicos e de metais, além de biocerâmicos para próteses e implantes
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ALTERNATIVA S FEI INTEGRA SELETO GRUPO DE PESQUISA INTERNACIONAL PARA O DESENVOLVIMENTO DE BIOCOMBUSTÍVEIS AVANÇADOS
O
aumento da demanda mundial por energia nas últimas décadas fez com que países industrializados e emergentes iniciassem uma série de pesquisas sobre novas fontes energéticas, principalmente de origem renovável. O Brasil, segundo maior produtor de biocombustíveis do mundo, tem a vantagem de possuir uma tecnologia de produção de etanol de primeira geração renomada e bem-estabelecida, utilizando cana-de-açúcar, que é uma matéria-prima de alta eficiência. Para contribuir com os avanços na área, Brasil e União Europeia assinaram uma parceria público-privada para desenvolver pesquisas em conjunto, explorando as sinergias brasileiras e europeias em relação à produção, diversificação de cadeias de valor e logística de biomassa, definidas para o desenvolvimento e a implantação de tecnologias de processo para a produção de biocombustíveis avançados com foco na aviação civil. Denominado ‘BioValue – Valorização de cadeia produtiva descentralizada de biomassa visando à produção de biocombustíveis avançados’, o projeto proposto pelo consórcio brasileiro e alinhado ao consórcio parceiro europeu BECOOL – que se beneficia da complementaridade e do conhecimento dos especialistas brasileiros a respeito de biomassa e produção de biocombustíveis lignocelulósicos – foi aprovado no âmbito da chamada de propostas do Horizon 2020, maior programa de pesquisas da União Eu-
SUSTENTÁVEL NA AVIAÇÃO CIVIL cimento e colaboração entre instituições de pesquisa no âmbito nacional é extremamente importante, pois, além de evidenciar o protagonismo dessas entidades em pesquisas para o desenvolvimento de biocombustíveis, possibilitará uma sinergia de experiências, habilidades e complementaridades em que todos se beneficiam”, ressalta. As instituições que integram o BioValue, representadas por pesquisadores de 11 universidades – entre as quais o Centro Universitário FEI –, além de representantes de empresas dos setores de combustíveis, papel e celulose e aviação civil, foram selecionadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) a partir da definição do escopo do projeto e das empresas que teriam interesse na sua realização. “Identificamos os grupos com trabalhos de desenvolvimento, seja em escala de laboratório ou piloto, uma vez que o projeto exigia que já houvesse obtenção de dados complementares”, ressalta Antonio Bonomi. Dentro dessa ótica foram selecionados
aqueles com grande expertise e competência para o desenvolvimento de biomassa e da produção de biocombustíveis avançados para a aviação civil. PARCERIA Com recursos na ordem de R$ 7,5 milhões, as pesquisas serão financiadas pelas Fundações de Amparo à Pesquisa de São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul, com cofinanciamento das empresas Embraer, Petrobras, Klabin e Fibria. De acordo com o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, o primeiro passo para a realização desse projeto de colaboração – que certamente é um dos maiores já realizados no País – foi negociar com a comunidade europeia o edital e a forma de cofinanciamento para garantir uma colaboração efetiva em pesquisa que atendesse aos interesses dos estados envolvidos e do Brasil. Uma vez selecionada a proposta, é de responsabilidade da Fapesp e das demais agências financiar a parte que
iStockphoto/guvendemir
ropeia, com cerca de 80 bilhões de euros de financiamento disponíveis ao longo de sete anos. Além do investimento privado que atrai, o programa busca avanços, descobertas e inovações ao levar grandes ideias da academia para o mercado. Coordenado pelo pesquisador Antonio Bonomi, do Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR) – que integra o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) –, o projeto BioValue se apoia nos eixos da produção e logística de aproveitamento de biomassa, resíduos de cana-deaçúcar (bagaço e palha), cana-energia e resíduos florestais, rotas termoquímica/bioquímica e produção de biocombustíveis avançados, em especial para aviação, com ênfase na geração de gás de síntese como intermediário. Segundo o coordenador, a iniciativa também prevê a utilização de métodos e processos produtivos e logísticos das biomassas e avaliações de sustentabilidade técnica, econômica, ambiental e social. “Esse intercâmbio de conhe-
Felipe Maeda/Fapesp
Arquivo Embraer
EM PAUTA
Carlos Henrique de Brito Cruz diz que o primeiro passo foi negociar com a comunidade europeia
lhes cabe no projeto. “Com o incentivo e financiamento para pesquisas colaborativas alcançamos o desenvolvimento de ciência e tecnologia entre pesquisadores de São Paulo e dos demais estados envolvidos, assim como a colaboração com colegas de excelente qualificação na Europa. Isso nos possibilita acelerar a transferência de conhecimento e tecnologia para gerar impacto no desenvolvimento econômico e social do Brasil”, acrescenta. Segundo Marcelo de Freitas Gonçalves, engenheiro de desenvolvimento de produto da Embraer, o desenvolvimento de novas tecnologias para a produção de combustíveis alternativos (além das cinco tecnologias atualmente homologadas) é de extrema importância para que a aviação civil mundial atenda metas, como as acordadas pelos estados-membros da Organização para a Aviação Civil Internacional (ICAO, na sigla em inglês). “Entre essas metas estão o crescimento neutro em carbono a partir de 2020 e, a mais ousada, que é a redução das emissões de CO2 em 50% até 2050, tendo como referência o ano de 2005”, declara. O incremento de tecnologias permitirá a expansão dos insumos a serem utilizados, o
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Marcelo de Freitas Gonçalves: desenvolvimento de novas tecnologias na área é de extrema importância
que pode propiciar o uso de mais de uma solução tecnológica em um mesmo país, por exemplo. Atuando fortemente em projetos colaborativos, a Embraer investe em pesquisas porque acredita que a contribuição conjunta de diversos atores de uma cadeia contribui para alavancar novas tecnologias. “Nossas expectativas são as melhores, pois, além da grande oferta de biomassas, que pode possibilitar a ampliação da produção de combustíveis sustentáveis para a aviação, contamos com excelentes instituições de pesquisa nesta parceria, que reúnem conhecimentos em uma oportunidade única”, avalia Marcelo de Freitas Gonçalves. Para o engenheiro, o Brasil é um dos principais líderes na pesquisa de biocombustíveis, mas ainda iniciante quando o tema é a pesquisa em combustíveis sustentáveis para aviação, embora exista uma grande demanda em pesquisas nessa área, da qualificação de insumos até estudos de viabilidade técnica e ambiental. Por outro lado, a academia brasileira está preparada para o desafio de criar uma cadeia que, certamente, pode levar o Brasil a ser um dos maiores produtores de combustíveis sustentáveis para aviação do mundo.
NA VANGUARDA DE N Única instituição privada a integrar o projeto, a possibilidade de estar em um seleto grupo de pesquisadores coloca o Centro Universitário FEI na vanguarda mundial das pesquisas de desenvolvimento de biocombustíveis avançados. “É uma honra e um grande privilégio ter o trabalho da nossa equipe reconhecido. São anos de estudos, pesquisas e testes que evidenciaram nosso potencial de atuação e viabilizaram nossa participação, em conjunto com outros pares, para o grande desafio de desenvolver um biocombustível que possa ser unificado mundialmente”, comenta o chefe do Departamento e coordenador do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Engenharia Química da FEI, professor doutor Ricardo Belchior Torres. O projeto, de grande porte, prevê trabalhos simultâneos em que cada equipe de pesquisadores será responsável por determinado processo que, juntos, resultarão no desenvolvimento do biocombustível. A FEI vai atuar, em parceria com outras instituições, em duas atividades paralelas: a pirólise rápida de biomassa e o processo termoquímico de gaseificação. A pirólise rápida de biomassa é um processo termoquímico de quebra de matéria orgânica através da aplicação de altas temperaturas em atmosferas livres de oxigênio, que resulta na liberação de bio-óleos para produção de substâncias químicas de interesse e que poderão ser usados como matéria-prima na gaseificação. “Ao realizar a pirólise rápida de biomassas da matéria-prima in natura, assim como as correntes ricas em lignina, será possível descentralizar as biomassas em unidades de densificação energética, com a decomposição ou transformação de um produto em outro por meio do calor em condições bem específicas de rea-
ção do processo, para a modernização de rotas para biocombustíveis avançados”, descreve o docente do Departamento de Engenharia Química, João Guilherme Rocha Poço. Em paralelo, os pesquisadores da FEI farão a gaseificação do bagaço de cana-de-açúcar, outras biomassas brutas e intermediárias que são transportadoras de energia para obter gás de síntese para o processo de Fischer-Tropsch – processo químico para produção de hidrocarbonetos líquidos (gasolina, querosene, gasóleo e lubrificantes) a partir de gás de síntese (CO e H2). A equipe do Centro Universitário, composta pelos professores doutores Ricardo Belchior Torres, João Guilherme Rocha Poço, Ronaldo Gonçalves dos Santos e Rodrigo Cella, trabalhará também nesta etapa, particularmente, no condicionamento do gás que sai do gaseificador para a retirada de lignina e outras impurezas. Os estudos de bancada de gaseificação serão realizados no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), onde serão testadas diferentes condições de processo como temperatura, agentes de gaseificação e tempo de residência com todas as biomassas – bagaço, palha de cana, resíduos florestais, celulignina, lignina e bio-óleos – para obter dados experimentais de rendimento e qualidade dos produtos gerados na gaseificação. “O gás extraído da unidade de gaseificação de biomassa, de acordo com composição e tipo de processo, contém particulados, alcatrões e outras impurezas que podem interferir nas tecnologias de utilização dos processos seguintes. Por isso, é fundamental a etapa de limpeza do gás”, descreve o professor João Guilherme Rocha Poço. Além disso, é necessário um sistema de condicionamento de gás para ajustar a proporção H2/CO de modo a proporcionar um
gás de síntese dentro das especificações para utilização. A meta esperada desse consórcio é chegar a biocombustíveis por meio de sistemas de produção de biomassa considerando a cana convencional, culturas energéticas dedicadas, resíduos agroindustriais e resíduos de etanol de segunda geração. “Outros aspectos também precisam ser atendidos como, por exemplo, proposta de cadeia de suprimento completa da biomassa, alternativas de pré-tratamento de biomassa para reduzir impurezas inorgânicas, melhorias de eficiência energética do etanol de se-
gunda geração, avaliação dos aspectos tecnológicos, econômicos, ambientais, políticos, de mercado e sociais das cadeias produtivas, entre outros”, avalia o professor Ricardo Belchior Torres. O diretor da Agência FEI de Inovação (AGFEI), professor doutor Vagner Bernal Barbeta, afirma que este é um grande desafio para a Instituição, pois trata-se de um projeto com grande envergadura ao reunir instituições de referência do Brasil e as empresas que formam esse consórcio. “Não há dúvidas de que o projeto BioValue traz de volta ao Brasil um protagonismo no que se refere ao desenvolvimento de novas tecnologias. Além disso, nos coloca no mapa das instituições de pesquisa de elite, evidenciando a qualificação do grupo de docentes que integra o projeto. Esse é um retorno muito importante e um trabalho que, certamente, dará muitos frutos e criará novas possibilidades de parcerias”, comemora.
Equipe do Departamento de Engenharia Química da FEI que participa do projeto vai atuar em duas atividades, em parceria com outras instituições: pirólise rápida de biomassa e processo termoquímico de gaseificação
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NOVAS TECNOLOGIAS
GESTÃO E INOVAÇÃO
A FORÇA DO ECOSSISTEMA DE INOVAÇÃO ACADEMIA EXERCE PAPEL FUNDAMENTAL NA GERAÇÃO DE CONHECIMENTO E NO DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO
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egundo a Biologia, ecossistema é uma representação da relação dos seres vivos com o ambiente em que vivem, constituindo um meio estável, equilibrado e autossuficiente. O mesmo ocorre no processo de inovação, que emerge a partir da interação de um conjunto de atores que se unem em ambiente próspero e constante adaptação para gerar conhecimento e promover o crescimento da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico, visando atender às demandas do mercado e os desafios da sociedade. O conceito de ecossistema de inovação tem crescido nos últimos 10 anos e é formado por governos ( federal, estadual e municipal), instituições de ensino, organizações públicas e privadas, setores industrial e empresarial, órgãos reguladores e de fomento, empresas, startups, investidores e sociedade civil, entre outros, que compartilham diferentes experiências e conhecimentos multidisciplinares de forma dinâmica e colaborativa. Mundialmente conhecido como o maior polo de alta tecnologia e inovação, o Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos, é exemplo de um ecossistema de inovação bem-sucedido, que emergiu da criação de empresas tecnológicas próximas a universidades possibilitando a troca de conhecimento e de talentos com mindset inovador. Isso permitiu criar um ambiente propício a uma cultura voltada à disseminação do empreendedorismo e ao surgimento de grandes inovações favorecidas pelos mecanismos regulatórios, condições do mercado, iniciativas colaborativas, pro-
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gramas de incentivo ao financiamento e aceleração de novos negócios. O conceito desse ambiente de estímulo a soluções disruptivas tem se expandido pelo mundo e, atualmente, a segunda maior aglomeração mundial de empresas de tecnologia de ponta encontra-se em Tel Aviv, Israel. Apelidada de Silicon Wadi (wadi é vale em hebraico), o polo é berço dos criadores do Waze e Moovit, entre outros, e tornou-se promissor frente à disponibilidade de mão de obra qualificada, recurso financeiro externo e forte investimento em pesquisa. No Brasil, o cenário de colaboração entre os diferentes atores do ecossistema de inovação intensificou-se nos últimos anos, após o estabelecimento de políticas de gestão e incentivo criadas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), como Lei do Bem, Lei de Inovação e Novo Marco Legal de CT&I (2016), que estabelecem regulamentações mais flexíveis para o desenvolvimento de cooperação entre empresas e instituições científico-tecnológicas, bem como a possibilidade de usufruir de benefícios fiscais na execução dessas atividades. Essa intensificação também se atribui à crescente importância dos órgãos de financiamento, como Conselho Nacio-
nal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs). Além disso, nos campi de universidades no Brasil – entre as quais o Centro Universitário FEI – foram criados ambientes de inovação que visam concentrar empresas, incubadoras de negócios, centros de pesquisa e laboratórios capazes de desenvolver produtos e serviços. Dentre os mecanismos para facilitar e impulsionar a relação da universidade com empresas estão os Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs), estruturas instituídas dentro das instituições de ensino superior que fazem interlocução entre a demanda e a oferta de tecnologias por meio da transferência de tecnologias desenvolvidas e pela realização de projetos ou convênios. Para promover as melhores práticas nesse ecossistema, a Rede Inova São Paulo articula as ações de 36 NITs estaduais – dentre os quais a Agência FEI de Inovação (AGFEI) – proporcionando capacitação aos membros e fomentando a cooperação entre entidades participantes e empresas. Outro elemento importante é a Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) coordenada pela Confederação Nacional da
RELEVÂNCIA PARA AÇÕES INOVADORAS NO CENTRO U A pesquisa é parte fundamental no desenvolvimento da inovação e, portanto, a universidade é o principal ambiente de geração, difusão e transferência de conhecimento à sociedade. “A academia sempre teve o papel de avançar as fronteiras do conhecimento e, agora, com problemas que requerem soluções cada vez mais multidisciplinares e interdisciplinares, tem ainda mais capacidade para oferecer um conjunto de competências e profissionais capazes de debruçar em projetos e no desenvolvimento de soluções inovadoras”, destaca o professor doutor Gustavo Donato, coordenador da Plataforma de Inovação FEI e docente do Departamento de Engenharia Mecânica. A FEI quer desenvolver pesquisa científica com apelo tecnológico e atuar em seu entorno ao receber inputs e gerar outputs para esse ecossistema, com desdobramentos na formação e requalificação de recursos humanos de excelência, na geração de conhecimento e na intervenção positiva na comunidade. A Plataforma de Inovação, criada em 2016, é a articuladora e indutora do processo de transformação cultural e or-
Montagem a partir da imagem: iStockphoto/elenabs
Indústria (CNI) que, em 2016, criou um grupo de trabalho formado por governo, setor empresarial e academia para debater as mudanças no ensino e na qualificação na Engenharia – que culminou nas novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs). Para o professor doutor Vagner Bernal Barbeta, diretor da AGFEI, embora o Brasil tenha alguns exemplos de ecossistemas de inovação, como Tecnosinos e TecnoPUC, no Rio Grande do Sul; Porto Digital, em Pernambuco, e o complexo formado por Universidade de São Paulo (USP), Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), em São Paulo, estes não se comparam aos existentes no Vale do Silício. “Precisamos de alguns elementos no ecossistema para que seja alavancado, entre os quais recursos financeiros, que ainda não são suficientes ou são mal aplicados; interações mais efetivas entre empresas
e universidades; marcos regulatórios mais adequados e melhor estruturação desse conjunto de atores para que processos inovadores saiam do papel. Diferentemente da Califórnia, no Brasil não temos a cultura de correr riscos e de aprender com os erros. Mas, se não corrermos riscos, não evoluiremos nem cresceremos”, acredita. A inovação deve ser vista como um ciclo no qual cada ator da cadeia tem sua importância e contribuição para o equilíbrio e a sustentabilidade do ecossistema. O professor lembra que são as empresas que vão transformar o conhecimento gerado nas universidades em aplicação, e essa criação de valor é fundamental para o desenvolvimento econômico, pois gera emprego, competitividade e arrecadação de impostos, que se reverte em mais apoio à pesquisa. “Tudo isso movimenta e retroalimenta a inovação, e um bom ecossistema é aquele que consegue criar uma visão
ampla e que compreende a importância e o papel de cada um”, acentua. Ainda há desafios que precisam ser resolvidos, como quebrar as barreiras entre universidades e empresas para que, juntas, trabalhem de forma coordenada na resolução de problemas. Também é preciso desmistificar essa visão equivocada de que a universidade só sabe fazer pesquisas sem viés de aplicação e de que a empresa só quer saber de lucro e, por isso, busca a universidade apenas para maximizá-lo. Segundo o diretor da AGFEI, são as empresas que entendem melhor o que o mercado necessita. Porém, muitas não têm a infraestrutura física, os recursos humanos nem o tempo necessário para o desenvolvimento de tecnologias que estão na fronteira do conhecimento, presentes nas instituições de ensino e pesquisa como a FEI. Se trabalharem juntos, todos terão muito a ganhar ao complementarem suas competências.
UNIVERSITÁRIO ganizacional voltado à inovação, seja por meio de infraestrutura (salas de metodologias ativas e laboratórios); ou da inclusão de novas tecnologias que permitem desenvolver o perfil protagonista dos alunos. Para atingir as metas são desenvolvidas iniciativas baseadas em uma agenda do futuro pautada nas megatendências 2050, que vêm sendo abordadas anualmente, desde 2016, durante o Congresso de Inovação FEI, que reúne especialistas para compartilhar visões e experiências sobre temáticas fundamentais à sociedade nas próximas décadas. Outra iniciativa é o Diálogo com Visionários, que aproxima os estudantes de grandes líderes empresariais e docentes para conversarem informalmente sobre carreira, tendências, competências profissionais e visões de futuro. Nas Oficinas de Inovação e Criatividade, os
alunos são estimulados a ser protagonistas no vislumbrar das necessidades futuras da sociedade e no uso da formação técnica e do processo de inovação para solucioná-las. “Os projetos pedagógicos curriculares também têm sido continuamente atualizados, a exemplo dos novos currículos de Engenharia que, na essência, foram redesenhados com foco no desenvolvimento das competências dos estudantes e para que esse ecossistema de inovação se reflita dentro das atividades acadêmicas desde o primeiro semestre”, ressalta o professor. Nos últimos anos, inclusive, a FEI tem feito com que as temáticas dos trabalhos integradores, de conclusão de curso, assim como as linhas de pesquisa da pós-graduação, sejam cada vez mais alinhadas às megatendências e possam ser expandidas em benefício da sociedade.
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GESTÃO E INOVAÇÃO ESTÍMULO ÀS PRÁTICAS EM SALAS DE AULA
Disciplina criada para o ciclo básico é coordenada pelo professor Hong Yuh Ching e tem como foco a proposição de problemas e a busca de soluções inovadoras em megatendências
Como parte da cultura de inovação, do desenvolvimento das competências, do processo criativo e das megatendências para o futuro que permeiam os currículos da FEI, uma das disciplinas criadas para o ciclo básico tem como foco a proposição de problemas e a busca de soluções inovadoras que respondam às necessidades das megatendências. Em Práticas de Inovação I, os alunos são divididos em grupos e estimulados a pensar e trabalhar em equipe ao desenvolver um projeto baseado em uma megatendência utilizando a metodologia Design Thinking. O coordenador da disciplina, professor doutor Hong Yuh Ching, coordenador do curso de Administração no campus São Bernardo do Campo, explica que a ferramenta é a espinha dorsal para o desenvolvimento dos alunos que, após a definição da temática, devem identificar um problema, realizar mapa de empatia, fazer análise de SWOT (sigla em português para Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças), brainstorming, focus group para validar solução e, por fim, a prototipação da solução. “O objetivo é despertar a mudança de mindset do aluno, estimular a criatividade, a comunicação e o trabalho em grupo. O feedback dos professores foi fantástico nesse primeiro semestre ao ressaltarem as boas ideias, o envolvimento e a dedicação de todos”, destaca o professor Hong Yuh
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Ching. Na disciplina Práticas de Inovação II, os alunos vão contextualizar conceitos de ecossistema de inovação, tipos de startups e de investimentos, e a última etapa do Design Thinking – evolução –, que é o teste de conceito para verificar se o produto é viável no mercado. Nesse teste, o aluno será desafiado a exercer sua criatividade para que possa fazer essa validação do MVP (Produto Mínimo Viável, em português) junto ao público-alvo para entender se compraria ou não. A ideia é que esses projetos tenham continuidade e sejam aperfeiçoados na disciplina Laboratório de Inovação ao longo dos cursos. Com objetivo de compartilhar os projetos inovadores com os chefes de departamentos de Engenharias, Ciências Sociais e Matemática, o professor Hong Yuh Ching organizou uma apresentação com os 19 melhores trabalhos de todas as turmas do ciclo básico, selecionados pelos professores. Entre os temas abordados estavam cidades inovadoras, saúde e bem-estar, energia, mobilidade, esporte, alimentos, plataforma científica e tecnológica, indústria do futuro e solução financeira. O grupo formado pelos alunos Lívia Pan Rodrigues, Beatryz Yamaya e Matheus Oscar Ribeiro Bastos apresentou aplicativo de mobilidade por comando de voz e sistema de geolocalização que permite aos deficientes visuais saberem pontos
e linhas de ônibus próximos de seu entorno, além do momento de chegada do coletivo e os pontos de parada até o destino final. O propósito do grupo é garantir segurança, acessibilidade ao transporte coletivo e um futuro com maior inclusão social aos deficientes visuais, e encontrar uma solução para um problema de mobilidade que afeta milhões de pessoas. Ao pensar na independência dos idosos, principalmente para não esquecerem a hora do medicamento, os alunos Bárbara Fiocchi Perez, Vitória Natale Matias, Gabriel Carvalho da Silva e Leriane Reis Kemita apresentaram uma pulseira eletrônica à prova d’água que avisa o usuário, por meio de vibração, e aciona a caixinha de remédios abrindo somente o compartimento do medicamento a ser ingerido naquele horário. Ao criar uma máquina de compactar poliestireno expandido, o grupo formado pelos alunos Paolo Prodossimo Lopes, Igor de Castro Oliveira, Richard Stefan Priebsch, Gabriela de Souza Morelis, Renan de Sousa Ferreira e Carlos Eduardo Mastrocezari pretende incentivar e facilitar a reciclagem do isopor por meio da quebra de ligações químicas do material com o uso do limoneno – substância contida na casca de algumas frutas cítricas. A solução para reciclagem do material também pode ajudar a evitar o descarte incorreto de lixo e o impacto ambiental.
AGFEI INCUBA SUA PRIMEIRA STARTUP Para superar os desafios da área de microeletrônica, o grupo de pesquisa Eletrônica Evolucionária da FEI vem realizando estudos, desde 2005, que usam técnicas de Inteligência Artificial (IA) para resolver problemas de múltiplas variáveis de entrada e saída de projetos de circuitos integrados (CIs) analógicos. Sob supervisão dos professores doutores Carlos Eduardo Thomaz, coordenador do Programa de Pós-graduação stricto sensu em mestrado e doutorado em Engenharia Elétrica, e Salvador Pinillos Gimenez, do Departamento de Engenharia Elétrica, o pesquisador de pós-doutorado Rodrigo Alves de Lima Moreto desenvolveu um protótipo de inteligência computacional interativa para projeto e otimização de CIs analógicos, que resultou na primeira startup a ser incubada pela AGFEI. Por ser uma solução inovadora e com bons resultados de pesquisa, o projeto foi submetido e aprovado pelo Programa de Pesquisa Inovativa para Pequenas Empresas (PIPE) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) – leia mais na página 28. Durante 12 anos de dedicação à pesquisa, o engenheiro Rodrigo Alves de Lima Moreto não imaginava que seus estudos pudessem se consolidar em um futuro negócio. “Espero que esse exemplo possa servir de inspiração para outros alunos e professores da FEI acreditarem no potencial de suas pesquisas”, acentua. A tecnologia iMTGSPICE é baseada em técnicas de aprendizagem de máquina que faz todo o processo de projeto e otimização com robustez, e de forma automática, de amplificadores para resolver sistemas de múltiplas variáveis. Os principais resultados demonstraram que o recurso é capaz de reduzir o tempo de ciclo de otimização em até 93,9% – em comparação com o processo de otimização não interativo –, passando a ser realizado em minutos ou horas (dependendo do projeto). Atualmente, as outras ferramentas comerciais disponíveis no mercado podem demandar de dois a quatro meses para o mesmo processo, também considerando a complexidade do projeto. O professor Carlos Eduardo Thomaz destaca que o objetivo foi desenvolver um software com uso de inteligência artificial para auxiliar na melhor tomada de decisão do projetista e não para substituí-lo. “Em casos como de projetos de circuitos integrados analógicos, que requerem conhecimento específico, a ideia é utilizar a tecnologia para ampliar o espectro do projetista e fazer com que tenha capacidade de propor ótimas soluções para o problema”, explica. Para o professor Salvador Pinillos Gimenez, diferentemente do que existe atualmente no mercado, a ferramenta computacional permite que o projetista interfira no processo de otimização
Sob supervisão dos professores doutores Carlos Eduardo Thomaz (dir.) e Salvador Pinillos Gimenez, o pós-doutorando Rodrigo Alves de Lima Moreto (centro) desenvolveu protótipo de inteligência computacional interativa para projeto e otimização de CIs analógicos
a qualquer momento, baseado nos resultados do processo de evolução que são mostrados em tempo real, para também usar o seu conhecimento sobre tais projetos. Outro diferencial é que a ferramenta realiza as análises de robustez durante o processo de otimização para que o circuito integrado analógico possa funcionar adequadamente, mediante as variações do processo de fabricação e das condições ambientais de operação. Embora existam inúmeras soluções para fazer um circuito integrado analógico, quando o projetista expõe o material a condições ambientais pode não funcionar dentro das especificações desejadas. PIONEIRA O projeto foi submetido ao PIPE no fim de 2018 e aprovado no início deste ano. Paralelamente, os professores e o pesquisador de pós-doutorado propuseram à AGFEI que a startup – que deve chamar MTG Solutions Softwares de Otimização para Engenharia Ltda – fosse incubada pela Instituição. “É o primeiro projeto de pesquisa da FEI que vai ganhar um espaço físico com infraestrutura e mentoria para que se consolide no mercado. O objetivo é expandir a atuação e tornar o campus um espaço para o desenvolvimento de ideias inovadoras e troca de experiências entre startups”, destaca o diretor da AGFEI, professor Vagner Bernal Barbeta. Uma parte do recurso do PIPE-Fapesp será destinada para aquisição de equipamentos de medição para caracterização elétrica e experimental dos circuitos integrados que serão fabricados. O objetivo do grupo é fazer a validação para ter a certificação nacional e internacional que ateste a capacidade de otimizar CIs analógicos.
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GESTÃO E INOVAÇÃO
PROGRAMA ESTADUAL APOIA A CRIAÇÃO DE NOVAS EMPRESAS Como estimulador de pesquisa e desenvolvimento tecnológico no setor empresarial no Estado de São Paulo e criador de oportunidades para jovens estudantes e pesquisadores vindos de outros estados ou de fora do Brasil, o Programa de Pesquisa Inovativa para Pequenas Empresas (PIPE) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) é a maior iniciativa brasileira de apoio e estímulo à criação de startups. Criado em 1997, nos últimos quatro anos o PIPE cresceu significativamente em termos de números de projetos recebidos e empresas apoiadas, passando de aproximadamente 130 para 250 projetos aprovados por ano. Em 2018, o programa bateu o quinto recorde consecutivo em valores de projetos contratados: R$ 89,9 milhões. Esse valor é 13,7% superior aos resultados de 2017 e 259% maior que os recursos de 2014. “Para submeter o projeto à aprovação do PIPE é preciso ter um desafio de pesquisa tecnológica que seja direcionado para uma inovação, podendo ser um novo produto, processo, serviço ou aperfeiçoamento”, resume o coordenador adjunto de Pesquisa para Inovação da Fapesp, Sérgio Queiroz. O PIPE é dividido em três fases. A primeira tem duração de nove meses e destina-se à realização de pesquisas sobre a viabilidade
SPIN-OFF DE ESTUDO É SELECIONADO PELO PIPE O estudo de doutorado em Administração de Marcos Weiss se transformou em projeto de pesquisa submetido e aprovado no PIPEFapesp. O doutor em Administração pela FEI desenvolveu uma tecnologia aplicada para gestores públicos utilizarem como ferramenta de apoio ao diagnóstico e planejamento de ações para a adoção e implementação de tecnologias integradas para a gestão das cidades. Com orientação do professor doutor Roberto Bernardes, docente do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Administração da FEI São Paulo, Marcos Weiss criou um modelo analítico capaz de avaliar a existência, aplicabilidade e integração de tecnologias de informação e comunicação (TICs) para, a partir disso, definir rotas para a materialização do conceito de cidade inteligente. Aprovado diretamente para a fase 2 do PIPE – por já ter plano de negócio e estudos de casos realizados durante o doutorado –, o projeto passa por revisão do campo teórico para que um protótipo do modelo analítico atualizado, aprofundando a aplicação de tecnologias emergentes (blockchain, IoT, IA, Data), seja construído para validações em campo. O objetivo da civic tech é disponibilizar o serviço para as prefeituras promoverem uma autoavaliação e identificarem potenciais áreas de melhorias para criar cidades inteligentes, cujo conceito visa transformar os padrões de organização, aprendizagem, gerenciamento de infraestruturas e prestações de serviço, promovendo práticas de gestão urbana que sejam mais eficientes para todos, desde que não percam características históricas e culturais. “A ferramenta identifica quais são os estágios atuais das TICs da cidade comparando os resultados obtidos com uma cidade modelo (baseada em referências
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bibliográficas e práticas mundiais e locais). A seguir, por meio de cálculos e simulações, apresenta quais são os pontos bons e os que requerem melhorias para que os objetivos da cidade sejam alcançados e os impactos que eventuais alternativas (‘e se?’) podem trazer”, explica o pesquisador Marcos Weiss. O gestor público pode obter um diagnóstico para dar o próximo passo, que é realizar um plano estratégico de TI para cidades inteligentes composto de informações sobre o que tem de ser feito, por que, onde, como, quando e a que custo. A ideia é que a ferramenta fique nos portais das prefeituras para que a população também possa acompanhar essa evolução. O modelo proposto divide a gestão das cidades em seis domínios: administração e governança, gestão dos serviços públicos, gestão de infraestrutura pública, serviços eletrônicos à comunidade, plataforma de serviços, inovação e empreendedorismo. Cada domínio se subdivide em seis dimensões, totalizando 36 áreas de interesse que poderão ser ampliadas para 42 ao final da revisão, para criar uma rede de funcionalidades que garanta o melhor fluxo de dados e integrações entre os sistemas de informações e aplicações que suportam as diferentes dimensões da cidade. Um exemplo seria um sistema de gestão de saúde com diversas funcionalidades, como cadastro de usuários, prontuário eletrônico, marcação de exames e consultas, endereços de farmácias e estoques de medicamentos. “A integração dessas informações, além de gerar as informações próprias da dimensão, geração de estatísticas como, por exemplo, número de atendimentos, utilização do sistema hospitalar e ocorrências de doenças, pode ser entrada para sistemas de gestão de
O pesquisador Marcos Weiss criou um modelo analítico capaz de avaliar a existência, aplicabilidade e integração de tecnologias de informação e comunicação
riscos ou mesmo ao sistema de gestão da educação, permitindo que gestores se antecipem a situações adversas”, detalha Marcos Weiss. Para confirmar a aplicabilidade do modelo analítico, durante a tese foram realizadas provas de conceito nas cidades de São Bernardo do Campo, Barueri, Santos e Sorocaba. A ideia do pesquisador é voltar nessas cidades para fazer uma validação com o novo modelo analítico, providenciar ajustes e expandir o projeto. Ao fim da pesquisa, a meta é ter 32 cidades avaliadas por meio da plataforma. “Com os dados coletados será possível dizer quão certo ou errado está o meu modelo para concluir o projeto com a nova tecnologia e pleitear a fase 3 do PIPE ou buscar investidores da iniciativa privada para colocar o serviço no mercado”, pontua. O objetivo é iniciar aproximações com órgãos públicos no segundo semestre deste ano.
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nham superado o desafio técnico”, ressalta. O PIPE também é visto como uma oportunidade para que as instituições de ensino superior incentivem os estudantes a se interessarem pela pesquisa, assim como fomentem e criem oportunidades para pesquisadores atuarem dentro das empresas. Nos últimos três anos, a Fapesp também implantou o PIPE Empreendedor – Programa de Treinamento em Empreendedorismo de Alta Tecnologia, cujo objetivo é oferecer mais robustez e sustentabilidade comercial às propostas aprovadas na fase 1. O treinamento permite que pesquisadores avaliem seu modelo de negócio para desistir ou redefinir a proposta original, aumentando as chances de serem aprovados na fase 2. A mentoria tem como base o programa I-Corps, desenvolvido pelo acadêmico norteamericano Steve Blank e usado nos
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técnica da proposta, com recurso máximo de financiamento de até R$ 200 mil. A segunda fase é concedida para os projetos que demonstram validade da proposta na primeira etapa e que têm dois anos para a execução propriamente dita, com aporte de até R$ 1 milhão. Por fim, na última fase, os recursos devem ser obtidos pela empresa junto ao mercado ou outras agências de financiamento. Em determinadas ocasiões, a própria Fapesp lança editais com a Finep. O coordenador enfatiza que o PIPE é muito importante para o ecossistema de inovação, porque no Brasil há poucas fontes de apoio a esse tipo de atividade de alto risco, que é a pesquisa. “O programa apoia as atividades dentro da cadeia de inovação, cuja pesquisa é a etapa inicial. Fora isso, temos apenas fundos que apoiam empresas que já te-
Sérgio Queiroz é coordenador adjunto da área na Fapesp
Estados Unidos pelo National Science Foundation (NSF), cuja metodologia ensina o pesquisador a transformar os resultados da pesquisa em startup.
DESAFIO E PRODUÇÃO CIENTÍFICA O desafio das cidades inteligentes no Brasil é que o conceito vai muito além da implantação de infraestrutura de tecnologia e comunicação, e a produção científica e tecnológica precisa ter orientação destinada a produzir impacto econômico e social, promover avanço em metodologias de projetos ou estimular a criação de um novo negócio. “Para consolidar-se como cidade inteligente é fundamental ter uma perspectiva integrada de gestão e planejamento estratégico de toda a organização pública, implementando iniciativas de colaboração local e global com as demais cidades mundiais. A liderança pública na arquitetura de ecossistemas de usuários, plataformas e negócios digitais que consolidem os projetos dessas cidades por meio da interação entre as cincos hélices da inovação (universidadegoverno-empresas-sociedade-políticas de inovação) é o segredo da longevidade desses empreendimentos. Por meio de inteligência e análise de dados, a tomada de decisão deve ser sempre direcionada à eficiência, produtividade, produção de conhecimento e efetividade na proposição de valor social que atenda aos interesses e ao bem-estar dos cidadãos”, acentua o professor Roberto Bernardes. O docente coordena pesquisa sobre Ecossistema de Inovação na América Latina que estuda tipologias e características do funcionamento e da governança que estimulem a evolução e maturidade de ambientes para negócios inovadores. O trabalho envolve os professores Pedro Jaime e Edson Sadao, do Departamento de Administração da FEI, o pesquisador de pós-doutorado Denis Eduardo Rosseto, docentes e pesquisadores da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Universidade Andina Simón Bolívar, no Equador, e ESAN University, no Peru.
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GESTÃO E INOVAÇÃO
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O monitoramento de temperatura das cadeias de frio de medicamentos, vacinas e amostras biológicas é essencial para garantir a integridade e qualidade dos materiais e produtos, assim como a segurança dos usuários. Apesar de o avanço tecnológico em dispositivos e sistemas para monitoramento de temperatura cumprir as regulamentações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a extensão territorial e as diferentes zonas climáticas no Brasil continuam sendo os grandes desafios da logística para preservar a integridade do material na temperatura apropriada. Por isso, Sérgio Monteleone, doutorando em Administração na FEI e pesquisador do Laboratório de Internet das Coisas (IoT) – criado a partir da parceria da FEI com a Vivo no campus São Bernardo do Campo – e Brenno Tondato de Faria, mestrando em Engenharia Elétrica e também pesquisador do Laboratório IoT, criaram a startup Intelichain, que pretende oferecer uma plataforma de análise de dados baseada na coleta de informações sobre a temperatura dos produtos transportados. A meta é auxiliar as empresas no controle da cadeia do frio
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PLATAFORMA AUXILIA AS AÇÕES GERENCIAIS NA CADEIA D
Sérgio Monteleone se interessou pelo tema durante o mestrado na FEI, em 2015
e na tomada de decisão durante o processo logístico. A proposta é que a plataforma identifique ações gerenciais, pontos de riscos de ruptura da cadeia do frio, indicadores de desempenho, diferentes posições de sensores, suporte de câmera térmica, otimização logística baseada em modelos de inteligência artificial e simulação termodinâmica, além de formulação de diretrizes para equipamentos de conservação e dispositivos de monitoramento de temperatura. “As empresas que atuam na cadeia do frio, tanto no Brasil quanto no mundo, seguem as diretrizes baseadas na Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, ainda não compreendem o quão importante pode ser o uso da IoT para a coleta e a análise desses dados do monitoramento e, acima de tudo, para a tomada de decisão que auxilie na segurança e logística dos materiais transportados”, argumenta o engenheiro Sérgio Monteolone, que se interessou pelo te-
Brenno Tondato de Faria desenvolveu hardware e software de monitoramento de temperaturas
ma durante o mestrado, em 2015, sob orientação do professor doutor Mauro Sampaio, do Departamento de Engenharia de Produção da FEI. O foco em logística é identificar as necessidades do mercado, em especial o brasileiro, e procurar contribuir para a solução de problemas que os engenheiros de produção enfrentam no dia a dia. “O tema surgiu da visita na área de logística de um laboratório, quando nos relataram que existiam riscos de qualidade no processo de transporte de amostras biológicas coletadas em diversas unidades da rede. Rastreabilidade é um importante aspecto da logística, principalmente quando associada ao transporte. Uma vez identificada a necessidade de mercado, o estudo identificou na literatura os trabalhos já realizados e a tecnologia IoT que poderia ajudar”, detalha o professor Mauro Sampaio. O trabalho teve o suporte do Laboratório IoT da FEI, coordenado pelo professor doutor Rodrigo Filev Maia e, em 2017, surgiu a possibilidade de realizar um projeto piloto em um laboratório de análises clínicas de grande porte. O engenheiro
Brenno Tondato de Faria desenvolveu dispositivos de monitoramento de temperaturas – tanto o protótipo de hardware quanto de software – para coletar as informações do campo. “Para nossa surpresa, conseguimos obter a visibilidade não somente da temperatura, mostrando que no percurso pode haver variações, mas também vimos outros fatores ambientais que eventualmente interferem nesse processo logístico. Assim, conseguimos resolver várias questões de uma única vez”, comenta o professor Rodrigo Filev Maia. Com esses desdobramentos, o grupo começou a pensar em criar uma startup e, a convite da AGFEI, em 2017 os pesquisadores Brenno Tondato de Faria e Sérgio Monteleone participaram do Programa de Aceleração de Empreendedorismo de Base Tecnológica do Instituto I-Corps Brasil, em colaboração com a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), e aprenderam como criar um plano de negócio. Com o suporte de uma rede de mentores, os pesquisadores realizaram várias entrevistas com empresas que atuam nas cadeias do frio e, por meio desse networking, contataram um grande laboratório de análises clínicas que, atualmente, é parceiro para a viabilidade da prova conceito que deve ser concluída no segundo semestre. No momento, os pesquisadores estão coletando dados e avaliando a viabilidade frente a várias situações para identificar os pontos de eficiência e de melhorias e, assim, transformar o sistema em um produto viável para ser aplicado inicialmente no transporte de amostras biológicas.
EXEMPLO DE SUCESSO Com mais de cinco milhões de usuários, um milhão de cupons de descontos gratuitos emitidos por mês e 1.000 marcas parceiras, a Cuponeria vem provocando rupturas no mercado brasileiro desde a criação da startup, em 2011. Por ser pioneira no segmento e criar uma nova cultura de uso de cupons no Brasil, a marca precisou educar empresas e usuários, desmistificar preconceitos e desconfianças, e reforçar a viabilidade e eficácia da plataforma de negócio. Ao longo desses anos, a empresa recebeu investimento de gigantes como Buscapé, Google, ACE, Verus Group e Grupo Bradesco. A empresa tem 29 funcionários e escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro. Cofundadora da startup, a aluna de mestrado em Administração da FEI, Nara Iachan, afirma que desenvolver um conceito novo requer paciência, confiança, muitas tentativas e adaptação para acompanhar as mudanças tecnológicas e de comportamento do usuário. A jovem, na época com 21 anos, trouxe o conceito de cupons de descontos para o Brasil após morar na Argentina. Durante a graduação em Economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) compartilhou a ideia com o colega Thiago Brandão e criou um blog disponibilizando cinco cupons para verificar a aceitação. Diante dos bons resultados, a dupla resolveu se dedicar exclusivamente à startup. Na sequência, os sócios conseguiram um reforço na área de tecnologia da informação com a chegada de Lionardo Nogueira ao time que, além dos conhecimentos de TI, fez o primeiro investimento, de R$ 50 mil. Cupom de desconto é a segunda mídia mais influente do mundo, inclusive com estudos sobre o tema na Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Com atuação nos segmentos de alimentação, moda, beleza, viagens e ingressos diversos, entre outros, Nara Iachan afirma que as empresas têm mudado a visão sobre esse tipo de marketing. “O cupom de desconto ajuda a aumentar as vendas e trazer novos consumidores para as marcas, além de elevar o tíquete médio de quem já comprava. Um bom exemplo é a Marisa, que trabalha conosco há dois anos e, desde então, não deixa de anunciar na Cuponeria porque o cliente quadriplica a compra na loja”, argu-
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DO FRIO
Nara Iachan é cofundadora da Cuponeria
menta. Mesmo assim, ainda há marcas que encontram algumas barreiras para entrar no segmento, principalmente as premium, embora algumas já venham avaliando esse posicionamento frente aos resultados positivos. A primeira mudança de patamar da marca veio com a conquista do primeiro lugar no concurso de startups promovido pelo Buscapé, em 2012. Além do investimento, os sócios receberam auxílio nas áreas de contabilidade, mídia e assessoria de imprensa. Na sequência, foram classificados no Start-up Brasil, edital do Governo Federal que disponibiliza recurso para a contratação de mão de obra. Um dos requisitos era ter uma empresa aceleradora que, na época, foi a Aceleratech – rebatizada de ACE. Em 2016, foi selecionada no programa de investimento e aceleramento de fomento ao ecossistema do Google, quando recebeu um investimento financeiro e uma aceleração no Vale do Silício, por um mês. A Cuponeria também foi selecionada pelo programa inovaBra, que estabelece parcerias entre empresas e o Grupo Bradesco para acelerar o processo de entrega de novas experiências aos clientes, foi contratada para desenvolver ações promocionais de descontos exclusivos aos clientes do banco, e o inovaBra decidiu investir na startup em 2018. Com esse recurso, a Cuponeria está ampliando a equipe e expandindo o crescimento. “O aporte é fundamental por tudo que esse ecossistema proporciona de oportunidade e inovação. Quando se começa a fazer parte desse ecossistema também temos acesso a mentorias, troca de experiências e ideias com outros empreendedores, um apoio muito importante e que faz toda a diferença”, ressalta. Nara Iachan é orientada no mestrado pelo professor Roberto Bernardes e participa de pesquisa de ecossistemas liderada por empresas junto com o professor Leonardo Gomes, da Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA-USP).
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GESTÃO E INOVAÇÃO
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OLHAR PARA A INOVAÇÃO EM PAÍSES EMERGENTES
A professora Fernanda Ribeiro Cahen é autora de livros sobre o comportamento de empresas em setores de alta tecnologia e aspectos importantes dos ecossistemas em países emergentes
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Resultado dos últimos 10 anos de pesquisas, o livro ‘Startups and Innovation Ecosystems in Emerging Markets – A Brazilian Perspective’ (Editora Palgrave Macmillan), publicado neste ano, analisa o comportamento de empresas em setores de alta tecnologia e aspectos importantes dos ecossistemas em países emergentes. O livro também mostra como o Brasil chegou à implementação mais bem-sucedida de parques tecnológicos e movimentos de incubação na América Latina. A publicação foi editada pelos professores Fernanda Ribeiro Cahen, do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Administração da FEI e docente visitante da University of Southern California – Marshall School of Business; Moacir de Miranda Oliveira Jr. e Felipe Mendes Borini, da Universidade de São Paulo (USP), e é fruto dos estudos realizados na Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA-USP). Nos primeiros capítulos da obra são compartilhadas experiências de startups brasileiras de alta tecnologia, principalmente do Estado de São Paulo, no que diz respeito à inovação e aos esforços em ingressar nos mercados internacionais. A segunda parte é dedicada aos ecossistemas de inovação, ao papel das incubadoras, aos programas de aceleração e aos indicadores de sustentabilidade e de empreendedorismo universitário no Brasil. “O livro dá essa perspectiva de como os ecossistemas se desenvolveram. Comparando com outros países emergentes da América Latina, o Brasil é o que tem um sistema de inovação mais antigo, maduro e robusto. Então, olhamos a experiência brasileira e relacionamos o que países como Índia, China, África do Sul, México e Argentina têm feito em termos de políticas, parques tecnológicos e incentivos às universidades. No caso do Brasil, notamos que as práticas estão concentradas principalmente no Esta-
do de São Paulo”, pontua a professora da FEI. O livro foi publicado no idioma inglês para compartilhar a experiência do Brasil com o mundo e mostrar como é o ambiente de oportunidades de negócios para investidores com interesse no País. Pela vivência no exterior e, principalmente, por estar na Califórnia desde julho de 2018 para o pós-doutorado, a professora Fernanda Ribeiro Cahen faz uma comparação sobre a visão norteamericana de empreendedorismo e inovação com o Brasil, a começar pelo incentivo das universidades – que oferecem aula de empreendedorismo em todos os cursos – e pelas startups, que já nascem internacionalizadas. “A rapidez e a agilidade com que se inicia e alavanca um negócio nos Estados Unidos é muito maior do que as experiências do Brasil, que se deparam com obstáculos e barreiras burocráticas. A própria instabilidade do sistema econômico de um país emergente é diferente, porque o investidor tem medo de fazer negócios no Brasil por não ter uma visão de longo prazo. Nos Estados Unidos, o empreendedor não está preocupado com a instabilidade, mas em procurar fundos e investidores. Na universidade, por exemplo, alunos que desenvolveram um aplicativo na área da saúde, cuja startup tem cinco meses, já conseguiram aporte de US$ 2 milhões”, exemplifica. A linha de pesquisa do pós-doutorado da docente é sobre estratégias de internacionalização de empresas de alta tecnologia. O objetivo é desenvolver uma escala com indicadores capazes de medir as estratégicas para a expansão on-line dos negócios. A professora também é uma das editoras do livro ‘From Copycats to Leaders: Innovation from Emerging Markets’ (a ser publicado) que aborda formas alternativas de inovação desenvolvidas em países como o Brasil, que são importantes para as regiões em que se inserem.
SOLUÇÕES CRIATIVAS PARA UMA VIDA MELHOR DESAFIO DE INOVAÇÃO ESTIMULA ALUNOS A CRIAREM PRODUTOS MAIS EFICIENTES PARA O COTIDIANO EM 2024
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Innovation Hackathon tem um grande número de participantes trabalhando em soluções inovadoras. O foco da iniciativa é promover ideias e processos com o objetivo de melhorar a aplicação de produtos e serviços, exercendo a criatividade e viabilizando competências distintas para obter soluções mais eficientes. Para estimular os alunos de graduação a pensarem em soluções inovadoras, o Centro Universitário FEI e o Istituto Europeo di Design (IED), em uma parceria inédita, promoveram uma atividade de Innovation Hackathon direcionada para os estudantes dos cursos de Administração, Engenharia Têxtil e Design de Moda durante a Semana de Moda do IED. Para ampliar a visão de negócio do ponto de vista técnico, cada segmento trouxe contribuições para viabilizar a concepção dos projetos. Com a abordagem de Design Thinking, os alunos foram divididos em sete grupos e trabalharam na geração de ideias para solução, desenvolvimento dos sketches, construção de moodboard (painel de referências visuais para representar o conceito do projeto), definição de proposta de valor, conceito de protótipo e construção do pitch storytelling. Enquanto o grupo da Engenharia Têxtil da FEI trouxe um olhar técnico sobre o uso dos tecidos, tecnologia aplicada e inovação, o grupo do curso de Moda do IED apresentou a visão de design e os alunos de Administração da FEI colaboraram com um olhar direcionado à viabilidade dos negócios.
Ao trabalhar de forma colaborativa, os participantes foram desafiados a reunir habilidades e desenvolver ideias de produtos, seja via aplicativos conectados ou wearables, para melhorar a vida das pessoas em 2024. Entre os trabalhos de destaque está uma pulseira de tecido elástico e transparente com um sistema dosador de hormônios; uma camiseta para indivíduos com doenças cardíacas composto de sensores para verificação de sinais vitais; e uma jaqueta para deficientes visuais que funciona como um sensor de presença para detectar obstáculos não percebidos pela bengala. Os grupos apresentaram as ideias em um pitch para os coordenadores dos cursos envolvidos. Somando as notas de acordo com conceito, inovação e aplicabilidade, o destaque ficou com o grupo que apresentou uma vestimenta com uso de
sensores para simular práticas esportivas, como escalada ou caminhada – conjuntamente com uso da tecnologia de realidade virtual e aumentada – em que os efeitos dos movimentos seriam sentidos no corpo. Como negócio, a proposta seria a aplicação em centros de treinamento e academias. No decorrer do workshop, os alunos também visitaram os laboratórios da Engenharia Têxtil no campus São Bernardo do Campo da FEI e participaram de discussões e palestras sobre inovação, comportamento, mercado da moda, previsão de tendências e tecnologia de tecidos, ministradas por professores do Centro Universitário e do IED. Para os idealizadores, a viabilidade de negócios e as discussões marcam positivamente o início da parceria com o IED, que deverá gerar novos encontros e aprendizados.
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PESQUISA E TECNOLOGIA
O MUNDO AVANÇA COM A OS NEGÓCIOS NA ÁREA DE IA CRESCEM EXPONENCIALMENTE EM TODO O PLANETA E A PREVISÃO DOS ESPECIALISTAS É QUE ATINJAM A CIFRA DE US$ 118,6 BILHÕES EM 2025
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mbora já existissem estudos com redes neurais para a criação de computadores inteligentes, foi em 1956, durante uma conferência de especialistas realizada no Dartmouth College, nos Estados Unidos – que durou cerca de seis semanas – que o cientista da computação John McCarthy cunhou o termo Inteligência Artificial (IA). Definida como ‘a ciência e engenharia de produzir máquinas inteligentes’, os cientistas daquele encontro mostraram que os computadores poderiam resolver teoremas matemáticos com base em lógica, o que até então era considerado impossível, e teriam capacidade de fazer reconhecimento e detectar padrões. Desde então, a inteligência artificial passou a ser estudada por inúmeros países e, há alguns anos, virou realidade na vida da maioria das pessoas porque está presente em inúmeros serviços. No Centro Universitário FEI, a inteligência artificial vem sendo estudada na maioria dos cursos e programas de Pós-graduação stricto sensu, que mantêm pesquisas envolvendo alunos de graduação, mestrado e doutorado. Hoje, a IA está fazendo parte, aos poucos, do cotidiano das empresas e das pessoas, por exemplo, por meio dos aplicativos de trânsito como Waze ou Google Maps, que usam inteligência artificial para cruzar as informações dos usuários e calcular a melhor rota. Os assistentes presentes nos smartphones
que têm reconhecimento de voz, como a Siri (Apple), a Bia (Bradesco) e a Lu (Magazine Luiza), assim como as recomendações dos serviços de streaming oferecidos pela Netflix também fazem uso de inteligência artificial. O mesmo acontece com as recomendações de compras que aparecem em diferentes sites ou redes sociais após uma busca por um produto ou serviço. O mercado acredita que a IA será responsável – em um futuro não muito distante – pela existência de máquinas que deverão, além de todo o trabalho físico (antes realizado pelo ser humano), ser responsáveis também por boa parte do trabalho intelectual. “Ainda não há consenso sobre como definir o termo IA, uma vez que a inteligência pode ter diferentes significados, dependendo da área de conhecimento”, pontua o professor doutor Flavio Tonidandel, coordenador dos cursos de Ciência da Computação e Engenharia de Robôs do Centro Universitário FEI. No entanto, pode-se afirmar que a área busca a solução para diferentes problemas com baixa complexidade computacional, uma vez que o computador é capaz de resolver problemas complexos que um ser humano levaria muito mais tempo para solucionar. Algumas características básicas desses sistemas estão relacionadas à capacidade de raciocínio, de aprendizagem e de reconhecimento de padrões. Afinal, a IA é uma ciência de dados e con-
A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
O professor Flavio Tonidandel afirma que a IA pode ter diferentes significados, dependendo da área
EVOLUÇÃO Como os humanos são seres sociais limitados por aspectos físicos, cognitivos e psicossociais, um dos maiores desafios da inteligência artificial é modelar o comportamento durante o uso de sistemas digitais a fim de reduzir as limitações humanas e permitir o próximo passo na evolução da relação homem-máquina. “Muitas propostas consideram a captura de dados de uso de sistemas digitais por meio de variáveis de interação, como tempo utilizado para executar uma tarefa e utilização dos componentes em tela, sem considerar variáveis utilizadas em estudos mais abrangentes como os da área de Psicologia”, pontua o professor doutor Plinio Thomaz Aquino Júnior, do Departamento de Ciência da Computação da FEI. A Instituição desenvolve um estudo que pretende compreender a conexão entre os traços de personalidade e a forma como usuários reais navegam pelos sites para determinar, de forma automática, os objetivos e desejos em tempo real, aumentando o desempenho, a assertividade, a qualidade e o
O docente Plinio Thomaz Aquino Júnior trabalha em projeto para colaborar com otimização de sistemas
custo de processamento. A ideia é colaborar com a otimização de sistemas adaptativos, como recomendação de compras, sugestões em sites de notícias, informações sobre produtos, sequência de navegação em sites de compras, chats inteligentes e interação com robôs. Os especialistas acreditam que o futuro promete ir muito além, com o uso de computadores inteligentes que vão cuidar ou organizar todas as tarefas dos seres humanos, tanto em relação à vida pessoal quanto profissional. O professor Flavio Tonidandel ressalta que a IA é autoalimentada e, quanto mais se desenvolve, novas tecnologias surgem. Segundo o docente, por meio de um celular ou até mesmo de um robô, os assistentes inteligentes poderão cuidar de uma pessoa desde a infância, acompanhando o seu desenvolvimento e indicando o que é melhor para sua qualidade de vida. O sistema de IA também poderá organizar viagens, agendar restaurantes com foco na dieta alimentar do indivíduo e definir a logística de acordo com o transporte e o trânsito.
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shutterstock/Willyam Bradberry
templa diferentes áreas, como redes neurais, métodos simbólicos, sistemas especialistas, inductive learning, computação evolucionária, planejamento automatizado, raciocínio baseado em casos, reconhecimento de linguagem e visão computacional. O mercado global de IA inclui, ainda, uma grande variedade de aplicativos, como processamento de linguagem e automação de processos robóticos e, atualmente, também é sinônimo de machine learning e big data, cujo objetivo é ganhar conhecimento e padrões relacionados ao comportamento, ao mercado e às tendências. Com tantas possibilidades, os negócios na área estão cada vez mais aquecidos, de acordo com a empresa norte-americana de pesquisa de mercado Tractica. A expectativa é que o mercado global de software de inteligência artificial apresente um crescimento massivo nos próximos anos, com receita passando de US$ 9,5 bilhões, em 2018, para US$ 118,6 bilhões em 2025. Segundo a empresa de consultoria IDC, a liderança dos investimentos em inteligência artificial está na indústria de varejo, com aportes esperados de US$ 5,9 bilhões em soluções de automação de atendimento aos clientes, consultas de compras e recomendações de produtos. Em seguida aparecem os bancos, com investimentos previstos de US$ 5,6 bilhões, especialmente em soluções automatizadas para combater ameaças, prevenção de fraudes e sistemas de investigações. A indústria e os provedores de saúde completam a lista dos segmentos que mais apostam na inteligência artificial neste momento. Juntos, os dois segmentos devem apresentar o maior crescimento dos aportes na área de IA, com alta anual superior a 44%.
PESQUISA E TECNOLOGIA
Inserido no contexto da tecnologia, o Centro Universitário FEI criou, em 2005, o mestrado de Engenharia Elétrica com área de atuação em Inteligência Artificial Aplicada à Automação. Quando o stricto sensu em Engenharia Elétrica foi criado pelos professores doutores Marcio Rillo ( falecido) e João Antonio Martino, a inteligência artificial fazia parte apenas de duas áreas de atuação na FEI: IA aplicada à automação e microeletrônica. O atual coordenador do Programa de Pós-graduação stricto sensu de Engenharia Elétrica, professor doutor Carlos Eduardo Thomaz, explica que eram poucos os cursos que tinham esse nome de forma tão clara. “No início foi um direcionamento visionário dos líderes do programa e, ao longo desses quase 15 anos, a IA passou a ser aplicada em mais linhas de pesquisas dentro da FEI”, pontua. Na área de Automação e Robótica, a concentração está nos projetos ligados aos robôs, enquanto na linha de pesquisa de Processamento de Sinais e Imagens (PSI) há projetos com reconhecimen-
to de padrões de imagens médicas, por exemplo. O docente orienta dois trabalhos relacionados à medicina que utilizam algoritmos de IA. Uma das pesquisas investiga o impacto da musicalidade para o envelhecimento das pessoas, com a avaliação da hipótese de que aqueles que tiveram prática musical ao longo da vida, tocando instrumentos e/ou estudando música, têm um ganho cognitivo maior, possibilitando o desenvolvimento de resistência a doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. “Sabemos que o cérebro é uma estrutura totalmente vinculada com o modo de vida e, quanto mais atividades cerebrais, mais o cérebro estará ativo e cognitivamente resistente à neurodegeneração. E praticar música, que é uma atividade cognitivamente complexa, gera uma vantagem importante durante o envelhecimento, fase em que pode haver corte de sinapses”, acentua o professor Carlos Eduardo Thomaz. Outro projeto, que tem financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e
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ESTUDOS ENVOLVEM DE RECÉMNASCIDOS AO ENVELHECIMENTO
colaboração com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explora algoritmos de IA para reconhecer padrões de dor em rostos de recém-nascidos. Traços específicos como fronte saliente, sulco nasolabial pronunciado, boca aberta e olhos cerrados são métricas clínicas para o reconhecimento da dor. Os algoritmos de IA também estão sendo usados para a solução de sistemas complexos de circuito integrado analógico com múltiplas variáveis de entrada – que incluem parâmetros tec-
REALIDADE VIRTUAL ESTÁ ENTRE OS P
O professor doutor Paulo Sérgio Rodrigues (em pé) coordena 24 projetos que utilizam a inteligência artificial, envolvendo aproximadamente 50 alunos
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O Centro Universitário FEI também desenvolve o projeto VR-FEI (Virtual Reality FEI), que tem por objetivo desenvolver aplicações para mundos imersivos que envolvem jogos, salas de aulas e simuladores com uso de realidade virtual e aumentada e ‘Mundos 360’. Atualmente, são cerca de 50 alunos em 24 projetos que utilizam a inteligência artificial, com coordenação do professor doutor Paulo Sérgio Rodrigues, do Departamento de Ciência da Computação. Por meio do processamento de imagens, a inteligência artificial está colaborando para uma pesquisa que identifica notícias falsas (fake news) nas redes sociais e pode ajudar pesquisadores na busca de textos científicos. A detecção de fraudes em ima-
INSTITUTO AVANÇADO ENVOLVE DIFERENTES INSTITUIÇÕES
nológicos do processo de fabricação e dimensões dos componentes – e muitas variáveis de saída. “O projeto manual de um sistema desse tipo é complexo, trabalhoso e leva um tempo muito grande, geralmente meses, enquanto os algoritmos de inteligência artificial são adequados para a solução de sistemas complexos desse tipo de circuito”, detalha o professor doutor Salvador Pinillos Gimenez, do Departamento de Engenharia
Elétrica. O grupo de Eletrônica Evolucionária da FEI desenvolveu uma ferramenta computacional que usa métodos de IA capazes de projetar e otimizar circuitos integrados analógicos tolerantes às variações do processo de fabricação e às condições rigorosas de operação com um tempo bastante reduzido, em torno de horas, que poderá reduzir significativamente o tempo total de projetos desse tipo de circuito.
PROJETOS DESENVOLVIDOS gens, principalmente para investigação policial, também faz parte dos projetos da VR-FEI. “Temos ainda o VR EDUC, um agente virtual imersivo para ensino baseado em avatar mostrando que, em breve, não será mais necessário sair de casa para estudar, pois a sala de aula, os demais alunos e o professor – que poderá ser um profissional ou inteligência artificial – farão parte de uma realidade virtual”, informa o docente. Na área da saúde, um estudo está utilizando a IA para o desenvolvimento de uma navegação imersiva que guie o médico dentro do corpo humano durante cirurgias. E, por meio de processamento de sinais e imagens, outra pesquisa está criando um agente inteligente para sugerir dietas com base na análise dos exames médicos dos indivíduos. Ainda na área da saúde, um projeto do grupo visa colaborar com o trabalho dos médicos sugerindo diagnósticos, tratamentos e modos de vida saudável para os pacientes.
Diversos países, como China, Canadá, Japão, Estados Unidos e alguns da Europa já reconheceram o papel essencial que a IA terá no desenvolvimento da sociedade nos próximos anos. Para estimular o crescimento brasileiro nesta área e manter o País engajado nos avanços de ponta no campo, pesquisadores das principais universidades criaram, em 2018, o Instituto Avançado de Inteligência Artificial (AI²). O consórcio envolve pesquisadores e especialistas em IA de diversas áreas, comprometidos com o futuro do setor e com espírito colaborativo e construtivo para solucionar problemas desafiadores com alto impacto social e econômico, por meio do apoio financeiro do setor privado. O professor Reinaldo Bianchi, do Departamento de Engenharia Elétrica da FEI, é um dos responsáveis pelo AI² e explica que o principal objetivo é implantar uma organização sustentável, sem fins lucrativos, capaz de enfocar os interesses da comunidade de IA para ajudar a sociedade brasileira a acompanhar os desenvolvimentos internacionais na área. “A ideia é fazer ciência nos moldes de institutos internacionais, sem depender do governo. A verba será proveniente das empresas que farão parceria com os nossos pesquisadores para a solução de problemas”, explica. Os pesquisadores acreditam que é uma oportunidade de o Brasil fazer parte da onda mundial em direção a uma sociedade digital. Embora o grupo não tenha um ponto físico, possui estatuto e realiza reuniões periódicas que permitem o contato com especialistas e estudo de casos de empresas interessadas no trabalho desenvolvido. A iniciativa já tem parceiros do setor privado como IBM, Intel, Petrobras, Grupo Fleury e Serasa.
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PESQUISA E TECNOLOGIA
ROBÔS INTELIGENTES TÊM FUTURO PROMISSOR A união de inteligência artificial e tecnologia de robôs vai colaborar com a medicina, agricultura e segurança e chegará a um ponto em que tudo será integrado às cidades inteligentes, que terão uma infraestrutura digital com sistemas de informações e tecnologias próprias para a gestão, tornando as decisões mais eficientes de acordo com os dados colhidos. As leis continuarão a ser criadas pelos humanos, mas os sistemas inteligentes poderão interpretá-las e aplicá-las de forma mais adequada. Ciente de que os robôs autônomos inteligentes poderão executar atividades em diversos ambientes e contextos, a FEI tem conduzido pesquisas para o desenvolvimento de uma plataforma completa considerando robôs que executem atividades em diversos ambientes para ajudar pessoas nas mais diversas atividades cotidianas. Esses robôs poderão manipular objetos, reconhecer pessoas e acompanhá-las, entre outras tarefas. “O robô auxiliará na assistência de pessoas idosas ou com baixa mobilidade, podendo colaborar no controle da hidratação ou de medicamentos, além de reconhecer e chamar ajuda no caso de situação de perigo, como uma queda, por exemplo”, detalha o professor Plinio Thomaz Aquino Júnior. Os ambientes nos quais os robôs interagem com humanos são chamados de ‘cenários de uso de acordo com os métodos de Interação Humano-Robô (IHR)’ e o entendimento desse comportamento é essencial para estabelecer uma comunicação mais eficaz e segura. Características sociais, físicas e culturais ajudam a definir estratégias de comunicação entre os humanos e as máquinas inseridas no ambiente. O professor explica que os humanos apresentam diversos estados durante o processo interativo, que podem ser caracterizados como variáveis úteis para a tomada de decisão do robô durante a execução de tarefas. Dentro desse contexto, a FEI também desenvolve pesquisas com objetivo de analisar as variáveis ambientais e biológicas do usuário para a criação de uma interface social mais natural entre homem e robô, englobando a percepção de características humanas para viabilizar uma melhor compreensão do robô no ambiente em que se encontra e como poderá auxiliar o usuário em suas intenções e tarefas em âmbito doméstico. A Interação Humano-Robô também vem sendo estudada em situações de emergência envolvendo multidões em ambientes fechados. Segundo o professor Flavio Tonidandel, os robôs móveis autônomos terrestres estão cada vez mais inseridos nos ambientes internos para auxiliar seres humanos em tarefas como limpeza, transporte de materiais
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O professor Reinaldo Bianchi, do Departamento de Engenharia Elétrica, com a robô Hera
hospitalares, serviços hoteleiros, coleta e entrega de pedidos de refeições em restaurantes. Entretanto, em situações de emergência, o robô ainda pode provocar acidentes ou obstruir algum acesso importante. “Temos um trabalho que visa contribuir com a evacuação de um ambiente fechado em caso de alarme, incêndio ou de possível detonação de bomba, com o menor risco possível de ter o robô atrapalhando este objetivo”, relata. A teoria proposta prevê que o robô decomponha o mapa do ambiente em células de tamanho e formato fixos e classifique cada uma delas com valores que determinam, a partir de dados de um simulador de multidão, a intensidade de passagem de pessoas, auxiliando-o a identificar regiões onde esta intensidade é baixa para não atrapalhar a evacuação. JOGADORES A competição envolvendo robôs também gera pesquisas dentro da Instituição que incluem a construção e o desenvolvimento do sistema de controle que possibilite que andem, corram e chutem dinamicamente a bola, com equilíbrio, percepção visual do ambiente de jogo e até aprendizado de novas jogadas. “Na categoria de Robôs Humanoides, por meio de uma câmera integrada e programação que utiliza técnicas de inteligência artificial, o robô deve encontrar os objetos que o cercam, como a bola e outros robôs, localizar-se no campo, planejar as jogadas e realizá-las, levando em conta todos os agentes presentes no jogo”, explica o professor doutor Reinaldo Bianchi, do Departamento de Engenharia Elétrica, que coordena os projetos relacionados à competição de robôs e aos robôs humanoides com foco em serviços.
DÚVIDAS E ÉTICA ENTRE AS PREOCUPAÇÕES como ‘Quem vai ensinar o carro ou um determinado equipamento?’ ‘O que é um bom exemplo?’ ‘Quem escolhe os exemplos?’ ‘Quem garante que a máquina aprenderá tudo?’. “A questão do aprendizado da inteligência artificial preocupa a sociedade e envolve assuntos delicados, como o uso em questões militares, inclusive. O futuro assusta ainda mais quando se sugere colocar a IA em robôs, porque a máquina inteligente vai andar e interagir, e não ficará mais restrita aos computadores”, pontua o professor Flavio Tonidandel. Os robôs com inteligência artificial também geram uma discussão em relação às três leis da robótica. A primeira diz que o robô não pode machucar o ser humano e nem permitir que algo ruim aconteça. Assim, surge a dúvida de como o robô saberá qual é o limite entre o bem e o mal que, em geral, só é alcançado quando há empatia. A partir do mo-
mento em que tiver essa noção, o robô poderá perceber que está sendo explorado pelo humano, poderá ficar triste ou pleitear direitos? A segunda lei diz que o robô deve seguir as ordens dos seres humanos, desde que não entre em conflito com a primeira. A terceira lei preconiza que o robô tem de se preservar, desde que não entre em conflito com as duas primeiras leis. “Será que o robô realmente tem de obedecer ao ser humano mesmo sabendo que o mandante está errado? Vai poder ou não questionar uma ordem? Esses são apenas alguns vieses que podem ser um gargalo para a evolução da inteligência artificial”, acredita o professor Flavio Tonidandel. A IA será debatida amplamente no Congresso FEI de Inovação e Megatendências 2050, a ser realizado no campus São Bernardo do Campo de 15 a 17 de outubro com o tema Inteligência Artificial e o SER do Humano: complementariedade ou competitividade para aprender, inovar e viver?
Montagem a partir das imagens: iStockphoto/mennovandijk e Kupicoo
Essa nova era da inteligência artificial vai desencadear na sociedade discussões sobre questões éticas e os possíveis problemas, como os empregos que serão retirados dos seres humanos e até mesmo a possibilidade de os sistemas inteligentes aprenderem a ter preconceito. Entre as questões em discussão estão os carros autônomos e as decisões que devem tomar. Sabe-se que o veículo sempre vai proteger o ocupante, mas, com as demais pessoas no trânsito, a reação do veículo autônomo ainda é uma incógnita que dependerá da sociedade em que está inserido. Em caso de um acidente inevitável, alguns países determinam proteger os mais velhos, enquanto outros dão preferência aos mais jovens. Com isso, os carros deverão receber uma configuração diferente dependendo do país em que serão utilizados, para que pensem de acordo com a cultura local. Essa situação envolve diferentes perguntas
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NOTÍCIAS
CRIATIVIDADE EM ALTA NOVOS APLICATIVOS SÃO DESTAQUE NA FEIRA DE EMPREENDEDORISMO REALIZADA NO CAMPUS SP
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rojetos voltados para as áreas de saúde, bem-estar, inclusão, serviços e negócios foram os destaques das iniciativas apresentadas pelos alunos de Administração do campus São Paulo que participaram da 25ª Feira de Empreendedorismo da FEI, em maio. Divididos nas categorias Aplicativos, com projetos do terceiro ciclo, e Novos Negócios, idealizados pelo sétimo ciclo, os trabalhos se destacam pela criatividade e viabilidade de aplicação. Nesta edição, além de atuarem como avaliadores no pitch, representantes do setor de tecnologia, e-commerce, investidores e startups participaram como mentores ao longo do semestre, orientando os alunos no desenvolvimento, nas estratégias e na viabilidade dos projetos, com contribuições sobre financial hacking, hubs de empreendedorismo, editais e programas de aceleração, indicação de leituras e podcasts relevantes. Entre os destaques do terceiro ciclo está o Vision, um aplicativo cujo objetivo é proporcionar mais independência aos deficientes visuais na rotina de compras. Criado pelas alunas Amanda Batistuci, Isabela Gigeck e Isabella Martini, o app indicará ao usuário a seleção de supermercados que possuem o Sistema Vision e ajudará o consumidor a encontrar a prateleira com o produto desejado, informando marca e valor. O InterAGED, desenvolvido por André Souza Di Matteo, Leonardo Rodriguez Munhoz, Giovanna Venâncio de Souza, Beatriz Nascimento de Carvalho e Pamela Lima dos Santos, faz a interação entre idosos ao divulgar atividades e serviços com objetivo de reunir pessoas com interesse comum e auxiliar na prevenção de casos de solidão e depressão, recorrentes nesta faixa etária. Concebido pelos estudantes Gustavo Gumieiro Alves, Julia Rodrigues da Silva, Kaique Mendes Soares e Valdir Soares Matos Júnior, o Plus Health tem como proposta auxiliar a prática de atividades físicas e uma alimentação saudável,
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pontuando locais na cidade de São Paulo que disponibilizam atividades esportivas gratuitas, assim como um serviço de delivery baseado em um cardápio de refeições saudáveis. A plataforma também oferece serviços de acompanhamento de gasto calórico, análise do tempo de atividade física, sistema de metas e recompensas, e pode funcionar como um grande aliado na prevenção do sedentarismo e dos maus hábitos alimentares. No sétimo ciclo, um dos aplicativos apresentados foi o Van Bora, software de transporte coletivo que utiliza vans para a locomoção de grupos para eventos realizados na cidade de São Paulo. Desenvolvido por Juliana Moreira de Almeida Relvas, Larissa Correia da Fonseca, Leticia Rodrigues Guimarães e Michele Aires Souza, o software permite que os clientes compartilhem a viagem com outros usuários para destinos em comum. Outro destaque foi o Shopping Sales, criado por Luciana Ferreira de Sousa, Natalia Oliveira Andriola e Rafaela Saboia. Destinado a lojistas que atuam em shopping centers, o aplicativo visa auxiliar na divulgação de anúncios de descontos exclusivos para usuários das plataformas. Para o coordenador da Feira, professor doutor Luiz Ojima Sakuda, da disciplina de Implementação de Negócios, incentivar os alunos a pensarem em inovação é essencial para formar profissionais bem preparados para o mercado. “O empreendedorismo e a inovação não são importantes apenas para quem quer começar um novo negócio, pois as corporações e o governo estão valorizando cada vez mais competências relacionadas a essas áreas em todos os níveis”, comenta. A Feira também teve a participação dos criadores da plataforma Noust – todos alunos de graduação da FEI –, que promoveram partidas de RPG para estimular os participantes a criar narrativas e histórias. Sucesso em empreendedorismo, a Qeco integra o ecossistema de startups incubadas no SEBRAE e pertence ao ex-aluno de Administração Renato Bon, que dividiu sua experiência com os estudantes ao apresentar a plataforma e recrutar alunos com interesse e perfil para trabalhar neste segmento. A 26a edição da Feira de Empreendedorismo está agendada para dia 9 de novembro.
IMERSÃO NO AMBIENTE UNIVERSITÁRIO PORTAS ABERTAS MOSTROU TECNOLOGIA, PESQUISA E INOVAÇÃO PARA ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO
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om aproximadamente 90 atividades que mostraram, na prática, como funcionam e são desenvolvidas tecnologias – entre as quais realidade virtual, Indústria 4.0, Internet das Coisas (IoT) e veículos autônomos –, o Centro Universitário FEI abriu mais uma vez as portas do campus São Bernardo do Campo para receber visitantes. O objetivo do Portas Abertas – que está na 11ª edição – é apresentar o cotidiano de um campus
universitário aos estudantes do Ensino Fundamental e Médio, que podem vivenciar um universo repleto de tecnologia, pesquisa e inovação, participando interativamente de atividades nas áreas de Engenharia, Ciência da Computação e Administração. O evento, realizado no dia 18 de maio, recebeu mais de 3 mil visitantes – a maioria alunos de 52 escolas do Grande ABC, da Grande São Paulo e da Baixada Santista –, assim como professores, pais e ex-alunos da FEI. Os visitantes conheceram o projeto VR-FEI (Virtual Reality FEI), da Ciência da Computação, com aplicações para mundos imersivos de realidade virtual e aumentada; a Sala Laser, que desafia os participantes a atravessarem o espaço sem disparar o alarme; e os robôs
humanoide, industrial, de serviços e do time de Futebol de Robôs. Além disso, visitaram os laboratórios de Manufatura Digital, Automação e Internet das Coisas. Os estudantes também conheceram o Simulador Fórmula FEI, com o qual tiveram a oportunidade de experimentar a sensação de pilotar em uma pista de corrida. Durante a visita, os alunos participaram, ainda, de uma competição de troca de pneus que exigiu rapidez e habilidade em um pit stop com o Fórmula FEI. Exposições, palestras, jogos matemáticos, práticas voltadas para professores e experimentos nos laboratórios de Física e das Engenharias de Materiais, Química, Elétrica e Mecânica também fizeram parte da programação.
ENCONTRO REÚNE EX-ALUNOS DE ADMINISTRAÇÃO O I Encontro de Egressos da Escola Superior de Administração de Negócios de São Paulo (ESAN/SP) foi uma oportunidade de relembrar histórias e reaproximar ex-alunos. Primeira das instituições criadas pelo Padre Roberto Sabóia de Medeiros, S.J., em 1941, a ESAN/SP foi pioneira nos estudos específicos de Administração no Brasil e, a partir de 2002, passou a integrar o Centro Universitário FEI. Os egressos participaram de uma conversa com Alaíde Barbosa e Marco Quirino, pesquisadores do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Universidade de São Paulo (USP) e especialistas da empresa Saber em Rede sobre ‘A gestão de negócios na sociedade 5.0’ e ‘A tecnologia aplicada à gestão de negócios’, respectivamente.
Para João Florêncio Junior, formado pela ESAN em 1979 e ex-professor do curso de Administração da FEI (1980/1988, 1994/2008), foi uma oportunidade única e muito importante para voltar a ter contato com colegas e com o universo da Instituição. “A ESAN foi fundamental em toda a minha trajetória profissional e, consequentemente, para as conquistas no decorrer desses anos. Estar de volta é um privilégio e uma forma de retribuir tudo que me foi ofertado nas minhas passagens como aluno, diretor de Centro Acadêmico e professor”, avalia. Entusiasmado com o encontro, João Florêncio Junior tem se dedicado a buscar outros colegas de graduação, promover novos eventos e compor uma associação de ex-alunos. Um novo encontro já está marcado para dia 9 de novembro.
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ARTIGO
BIOCOMBUSTÍVEIS: UMA PERSPECTIVA RENOVÁVEL
O Professor doutor Ronaldo Gonçalves dos Santos Departamento de Engenharia Química Centro Universitário FEI
A expectativa é que, em um futuro próximo, os biocombustíveis sejam a principal forma de combustível para o impulso da atividade humana...
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petróleo tem sido a principal fonte mundial de energia, alimentando o mercado de combustíveis, a indústria de transformação e as atividades domésticas. Entretanto, o crescente aumento da demanda energética, aliado aos efeitos prejudiciais das mudanças climáticas, impulsionou a busca por processos sustentáveis para a produção de energia e combustíveis. Como consequência, programas para redução do uso de combustíveis fósseis têm se tornado prioritários para empresas e governos, e visam a redução de gases poluentes oriundos das atividades produtivas da indústria do petróleo. Segundo a International Energy Outlook (EIA), estima-se que o consumo mundial de energia deva aumentar cerca de 50% até 2035. Desta forma, a menos que a matriz energética mundial seja alterada, a demanda por combustíveis fósseis pode registrar um aumento de aproximadamente 90% no futuro. Além disso, questões econômicas também impactam a estrutura da matriz energética mundial e exigem a exploração de biocombustíveis como substitutos para combustíveis derivados do petróleo. Biocombustíveis são combustíveis obtidos por meio da biomassa (microrganismos vivos, de origem vegetal e animal, incluindo alimentos, algas e resíduos animais). Ao contrário dos combustíveis fósseis, os biocombustíveis são considerados fontes renováveis de energia, uma vez que podem ser gerados por meio do cultivo ou da reprodução e causam menos efeitos danosos ao meio ambiente – quando comparados ao processo da indústria petrolífera. Conforme a aplicação da biomassa original, os biocombustíveis podem ser categorizados em primários e secundários. Biocombustíveis primários utilizam a biomassa inalterada como fonte de energia e são tradicionalmente chamados simplesmente de biomassa. Madeira, gordura animal e resíduo florestal são exemplos comuns de biocombustíveis primários. Por outro lado, biocombustíveis secundários são aqueles produzidos a partir do processamento da biomassa para produzir substâncias com maior conteúdo energético que a original e, comumente, são substitutos potenciais dos combustíveis fósseis. Nesta categoria encontram-se biodiesel, bioetanol e biohidrogênio. Além disso, biocombustíveis líquidos são geralmente preferidos devido à vasta infraestrutura disponível para uso e distribuição, sobretudo para aplicações em transporte. O bioetanol, usualmente conhecido como álcool, é o combustível líquido com maior produção mundial, com destaque para o Brasil e os Estados Unidos. No Brasil, o bioetanol é produzido essencialmente através do processamento da cana-deaçúcar, enquanto nos Estados Unidos o milho é a fonte primária (sendo utilizado em mistura com a gasolina para aplicações automotivas). O biodiesel é o segundo biocombustível mais comum, sendo produzido a partir de plantas oleosas tais como soja e palma, e utilizado puro em automóveis ou em misturas com o diesel do petróleo. Assim, diante do panorama energético atual e das mudanças climáticas atribuídas aos combustíveis fósseis, há um severo esforço para a implementação de biocombustíveis como fonte substituta aos combustíveis convencionais. A expectativa é que, em um futuro próximo, os biocombustíveis sejam a principal forma de combustível para o impulso da atividade humana, com a grande vantagem de serem sustentáveis do ponto de vista social, ambiental e econômico.
Inscrições Abertas
Desenvolvimento Profissional com Propósito Pessoal
PÓS-GRADUAÇÃO
Mestrado: Administração • Engenharia Elétrica Engenharia Mecânica • Engenharia Química Doutorado: Administração • Engenharia Elétrica
fei.edu.br/pós