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Algumas anotações e inquietações sobre a questão dos públicos de cultura1 José Marcio Barros2
A categoria públicos de cultura refere-se a uma realidade polissêmica, dinâmica e complexa, resultante da ação indutora que as instituições sociais, primárias e secundárias, realizam, direta ou indiretamente, com seus sujeitos e grupos, de acordo com as normas, valores e práticas sempre determinadas espaço-temporalmente. Públicos de cultura não existem a priori e não decorrem naturalmente da condição humana. Não se configuram como uma potência ou latência, mas como o resultado de oportunidades e aprendizagens. Públicos de cultura são construções históricas, mas também, sempre passíveis de contextualização sincrônica. São formados, criados, cultivados, ou não. De acordo com Isaura Botelho, públicos de cultura não é uma categoria natural: públicos são formados, daí porque se constituir em grosseiro equívoco pensar a questão pelo simples viés da oferta ou pela ainda predominante perspectiva nascida na França nos anos 60 do século XX, de se buscar dar acesso ao legado da cultura culta. A centralização das iniciativas de formação de público, na questão do preço e da distribuição espacial das ofertas, reduz a questão a uma dimensão econômica, ignorando-se que as práticas culturais existem no cotidiano. Aqui estamos diante de um grande paradoxo, ao qual voltaremos em outros momentos do texto - políticas de acesso reforçam o desequilíbrio e a desigualdade, ou seja, democratização cultural sem democracia cultural reforça desigualdades. A predominância de uma perspectiva de mercado produz um excesso de ofertas de bens culturais legitimados pelas leis de mercado, secundarizando o fato das pessoas transitarem por diferentes registros culturais que implicam mediações socioculturais da ordem da linguagem, das regras, valores e hábitos cotidianos. É a exposição constante e diversificada à cultura e a participação ativa nas escolhas que atuam de forma mais determinante e definitiva na formação de públicos, ou seja, dizem respeito, fundamentalmente, aos âmbitos da produção, circulação e fruição de valores e bens culturais dos quais participam, ativamente, 1
Texto produzido a partir da participação como relator do Encontro Internacional Públicos da Cultura, realizado entre os dias 12/11 a 14/11 de 201, no SESC Vila Mariana em São Paulo. 2 Professor da PUC Minas e UEMG. Coordenador do Observatório da Diversidade Cultural. josemarciobarros@gmail.com