Introdução à economia

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capítulo 1

› Dez princípios de economia

Uma pessoa racional sabe que as decisões que tomamos durante a vida raramente são “preto no branco”, com diversos tons de cinza. Na hora do jantar, a decisão não é entre jejuar e comer até não poder mais, mas aceitar uma colherada a mais de purê de batatas ou não. Quando chega a hora das provas, sua escolha não é entre não estudar mais nada e ficar estudando 24 horas por dia, mas, sim, passar uma hora a mais reven‑ do anotações ou ver TV. Os economistas usam a expressão mudança marginal para descrever um pequeno ajuste incremental em um plano de ação existente. Lembre­‑se de que margem pres‑ supõe a existência de “extremidades”, portanto mudanças marginais são ajustes ao redor das extremidades daquilo que você está fazendo. A pessoa racional, em geral, toma decisões comparando esses benefícios marginais com custos marginais. Por exemplo, suponha que você esteja considerando ligar para uma amiga com seu telefone celular. Você decide que falar com ela durante 10 minutos lhe proporcionaria um benefício avaliado em $ 7. Seu plano de telefonia custa $ 40 por mês, mais $ 0,50 por minuto em todas as chamadas realizadas. Em geral, você utiliza 100 minutos por mês, então, sua conta mensal total é de $ 90 ($ 0,50 por minuto vezes 100 minutos, mais a taxa fixa de $ 40). Sob tais circunstâncias, você deveria fazer a ligação? Você pode ser ten‑ tado a raciocinar da seguinte forma: “Já que eu pago $ 90 por 100 minutos de ligações todos os meses, o minuto médio ao telefone custa $ 0,90; portanto, uma chamada de 10 minutos custa $ 9. Como o custo de $ 9 é maior do que o benefício de $ 7, não farei a ligação”. Essa conclusão, no entanto, está errada. Embora o custo médio de uma chamada de 10 minutos seja $ 9, o custo marginal – o montante do aumento em sua conta, caso você faça a chamada extra – é apenas $ 5. Você só tomará a decisão certa se comparar o bene‑ fício marginal com o custo marginal. Como o benefício marginal de $ 7 é maior do que o custo marginal de $ 5, você deve fazer a ligação. Esse é um princípio que as pessoas compreendem de forma inata: os usuá‑ rios de telefones celulares com minutos ilimitados (ou seja, minutos gratuitos na margem) são mais pro‑ pensos a fazer chamadas longas e fúteis. Pensar na margem também funciona para decisões empresariais. Considere uma companhia aérea que tenha de decidir quanto cobrar de passageiros que estejam na lista de espera. Suponhamos que o voo de um avião de 200 lugares, costa a costa, através do país, custe à empresa $ 100 mil. Nesse caso, o custo médio de cada assento será de $ 100 mil/200, ou seja, $ 500. Talvez alguém sugira que essa empresa não deve vender uma passagem por menos de $ 500. Na verdade, uma empresa racional consegue encontrar formas de aumentar seus lucros pensando na margem. Imaginemos que o avião esteja prestes a decolar com dez assentos vagos e que um passageiro na fila de espera esteja disposto a pagar $ 300 pela passagem. A empresa deve vender a pas‑ sagem a esse preço? Claro que sim. Se o avião está com assentos vagos, o custo de acrescentar mais um passa‑ geiro é mínimo. Embora o custo médio por passageiro seja de $ 500, o custo marginal é apenas o custo do saquinho de amendoins e do refrigerante que o passageiro extra consumirá. Desde que o passageiro pague mais que o custo marginal, vender a passagem para ele é lucrativo. A tomada de decisões marginais pode ajudar a explicar outros fenômenos intrigantes da economia. Eis uma pergunta clássica: por que a água é tão barata e os diamantes tão caros? A água é essencial para a sobre‑ vivência humana, os diamantes não. Contudo, por algum motivo, há pessoas que preferem desembolsar mais dinheiro por um diamante a fazê­‑lo por um copo de água. O motivo é que o desejo de pagar por um bem baseia­‑se no benefício marginal que uma unidade extra deste proporcionaria. O benefício marginal, por sua vez, depende de quantas unidades a pessoa já possui. A água é essencial, porém o benefício marginal de um copo a mais é pequeno, pois a água existe em abundância. Ninguém precisa de diamantes para sobreviver, mas, como são raros, o benefício marginal é considerado alto. Um tomador de decisões racional executa uma ação se, e somente se, o benefício marginal exceder o custo marginal. Esse princípio explica por que as pessoas usam tanto seus telefones celulares, por que as companhias aéreas vendem passagens abaixo do custo médio e por que se paga mais por diamantes que por água. É necessário algum tempo para nos acostumarmos com a lógica do raciocínio marginal, entretanto o estudo da economia oferece muitas oportunidades para praticar.

mudança marginal um pequeno ajuste incremental em um plano de ação

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07/12/18 14:22


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