Teorias da Personalidade - tradução da 10a edição norte-americana

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Teorias da Personalidade

Um psicólogo de Nova York relatou que seus pacientes chineses imigrantes queixavam­ ‑se inicialmente apenas de sintomas físicos, como dor nas costas ou dor de estômago, e nunca de depres­são. Era preciso fazer muitas sessões até que eles adquirissem a confiança necessária para ousar descrever um problema como a depressão. Algumas línguas asiáticas, como o coreano, não têm uma palavra específica para a depressão. O psicólogo relatou que um paciente coreano finalmente bateu no peito com o punho e disse que estava com “o coração quebrado” e descreveu então a condição mental em termos físicos. Ásio­‑americanos também são menos propensos a tomar medicamentos antidepressivos em comparação aos brancos (Gonzales et al., 2010). Com tais convicções contrastantes sobre a natureza de um transtorno específico, é fácil entender por que as pessoas de culturas diferentes podem ter pontuações distintas nos testes de variáveis da personalidade. Além disso, a prática de usar valores, convicções e normas americanas como o padrão pelo qual todos serão julgados ajuda a explicar muitas das pesquisas que mostram que os ásio­‑americanos tendem a receber diagnósticos psiquiátricos diferentes dos pacientes americanos de ascendência europeia. Negros. Pesquisas realizadas nos anos 1990, em geral, mostraram diferenças consistentes entre sujeitos negros e brancos nos testes de personalidade de autorrelato. Com base em diferenças de resultado desse tipo, alguns psicólogos concluíram que testes de personalidade difundidos e usados com frequência, como o MMPI, eram tendenciosos em relação aos afro­‑americanos e não deviam ser usados para avaliar suas personalidades. As evidências que dão suporte a esse ponto de vista foram contraditas por pesquisas posteriores que usaram o MMPI. Por exemplo, em um estudo com pacientes psiquiátricos (brancos e negros) internados em um centro de atendimento a veteranos, não foram encontradas diferenças significativas nas escalas dos testes (Arbisi; Ben­‑Porath; McNulty, 2002). Entretanto, foram encontradas diferenças entre estudantes universitários brancos e negros em um teste planejado para medir a paranoia. Os estudantes negros tiveram pontuação significativamente mais alta nos itens que mediam a falta de confiança nas pessoas, suspeita sobre suas motivações e tendência a manter­ ‑se alerta em relação aos outros. Esses achados significam que os negros são mais paranoicos do que os brancos? Não. Precisamos avaliar e interpretar esses e outros achados semelhantes dentro do contexto étnico e racial adequado. Assim, os pesquisadores observaram que “as diferenças de grupo podem refletir desconfiança ou cautela interpessoal causada por difundida discriminação e pressuposto racismo” (Combs; Penn; Fenigstein, 2002, p. 6). Um estudo feito com veteranos que buscavam tratamentos para abuso de drogas apontou que os pacientes afro­‑americanos obtiveram uma pontuação maior do que a dos pacientes brancos na maioria das escalas do MMPI­‑2. Os pesquisadores concluíram que essas diferenças raciais consideráveis levantam preocupações a respeito do MMPI­‑2 como ferramenta de diagnóstico entre veteranos negros (Monnot et al., 2009). Uma conclusão semelhante foi tirada ao interpretarem­‑se as pontuações mais altas do que as usuais em algumas escalas de alguns MMPI­‑2 de membros de duas tribos indígenas americanas. Os pesquisadores concluíram que esses resultados dos nativos americanos podiam refletir “a possibilidade de sofrimento psicológico causado pela opressão histórica e pela adversidade presente” (Pace et al., 2006, p. 320). Outra pesquisa revelou que universitários afro­‑americanos que se identificavam fortemente com valores culturais negros tinham níveis mais baixos de depressão e desesperança do que aqueles que não tinham uma forte identificação cultural (Walker et al., 2010). No entanto, adolescentes negros que tinham uma alta pontuação em discriminação percebida relataram maior depressão, bem como autoestima e satisfação de vida mais baixas, do que aqueles que pontuavam mais baixo em discriminação percebida contra eles (Seaton et al., 2010). Pesquisas realizadas sobre os efeitos de aconselhamento e de terapia com dois grupos de estudantes universitários negros mostraram que eles classificavam os terapeutas negros de modo mais favorável do que os terapeutas brancos. Os estudantes também aceitavam e compreendiam melhor


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