PSICOSSOMÁTICA E A PSICOLOGIA DA DOR - 2a edição revista e atualizada

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Psicossomática e a Psicologia da Dor

Sartre3 coloca que a nossa vida é resultado de nossas escolhas. E sua própria vida é um exemplo de como as escolhas o levaram a um sofrimento físico irreversível nos últimos anos de sua vida. Simone de Beauvoir escreve em seu livro A cerimônia do adeus4 passagens dos últimos anos da vida de Sartre, em que sua escolha de vida mostra claramente as consequências de seu sofrimento. Ela relata que, usando o argumento de que dormir era perda de tempo, ele tomava remédios para se manter acordado o maior tempo possível. E acrescido a isso, a ingestão excessiva de álcool e tabaco fizeram dele um enfeixamento de anomalias e sofrimentos bastante severos em seus últimos tempos de vida. O quadro de Sartre é um exemplo bastante claro e elucida o que fazemos de nossas vidas com escolhas que muitas vezes não são aquelas de que o organismo necessita para manter-se saudável e em equilíbrio. No entanto, nem sempre as escolhas que fazemos são claras e mostram de modo tão notório o imbricamento da condição emocional com o surgimento de anomalias físicas. E desde a ingestão excessiva de álcool e tabaco, passando ainda por uma alimentação muitas vezes inadequada e com um modo de vida estressante imposto pela contemporaneidade, o fato é que o quadro de sofrimento do paciente contemporâneo está a exigir novas e constantes conceituações de dor e sofrimento. Exemplo dessas citações é a LER – Lesão por esforço repetitivo. Em tempos idos essa anomalia acometia principalmente musicistas eruditos – violonistas, pianistas, regentes etc. – e atletas em geral, que em função dos esforços repetitivos de suas atividades se viam lesados e muitas vezes até impossibilitados de continuar a exercer suas atividades. Na atualidade, as principais vítimas da LER são os usuários de computador, principalmente os mais jovens. E temos uma questão bastante simples para se evitar tal anomalia, que, no entanto, é desprezada até mesmo pelos profissionais da saúde envolvidos com os princípios da Ergonomia. Pois, anteriormente, os profissionais que exerciam atividades de escritas o faziam atuando em máquinas de escrever com teclados duros e desconfortáveis. Resultado disso é que havia um fortalecimento natural da musculatura das mãos e dos braços, o que por si evitava o surgimento da LER. Na atualidade, diante dos teclados macios dos modernos computadores, não há esse fortalecimento da musculatura, e em consequência a repetição provoca tendinites e toda sorte de transtornos provocados pela LER.5 3 4

SARTRE, J. P. O existencialismo é um humanismo. Lisboa: Lisboa, 1970. BEAUVOIR, S. Cerimônia do adeus. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

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