TEORIAS DA PERSONALIDADE - Tradução da 9ª edição norte-americana

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Introdução

O Estudo da Personalidade: Avaliação, Pesquisa e Teoria

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Psicanálise e psicologia não são sinônimos ou termos permutáveis. Freud não era psicólogo, mas um médico que exercia clínica particular e trabalhava com pessoas que sofriam de problemas emocionais. Embora treinado como cientista, ele não utilizou o método experimental; em vez disso, elaborou a sua teoria da personalidade com base na observação clínica de seus pacientes. Durante uma longa série de sessões psicanalíticas, aplicou sua interpretação criativa com base no que os pacientes lhe contavam sobre os seus sentimentos e experiências passadas, tanto os reais quanto os fantasiados. Portanto, o seu enfoque diferencia-se muito da investigação laboratorial rigorosa dos elementos da experiência consciente ou do comportamento. Inspirado pelo enfoque psicanalítico de Freud, um grupo de teóricos da personalidade desenvolveu conceitos peculiares do comportamento humano fora da corrente principal da psicologia experimental. Esses teóricos, os neopsicanalistas, concentravam-se na pessoa como um todo de acordo com a maneira como ela agia no mundo real, e não em elementos de comportamento ou de unidades de estímulos-respostas, como estudado na psicologia de laboratório. Os neopsicanalistas aceitavam a existência de forças conscientes e inconscientes, e os behavioristas, a existência apenas do comportamento observável. Consequentemente, os primeiros teóricos da personalidade eram especulativos em seus trabalhos, fundamentando-se mais em deduções baseadas na observação do comportamento de seus pacientes do que na análise quantitativa dos dados de laboratório.

O estudo científico da personalidade Vemos então que a psicologia experimental e o estudo formal da personalidade começaram em duas tradições separadas, utilizando métodos distintos e visando atingir objetivos diferentes. É preciso observar que a psicologia experimental, nos seus anos de formação, não ignorava totalmente a personalidade – estudavam-se alguns de seus aspectos –, mas não existia uma área de especialização distinta denominada personalidade, como havia na psicologia infantil ou social. Somente no final da década de 1930 o estudo da personalidade foi formalizado e sistematizado na psicologia norte-americana, principalmente com o trabalho de Gordon Allport, da Harvard University. O livro mais importante de Allport, Personality: A Psychological Interpretation, é considerado o marco do início formal do estudo da personalidade. Depois dos seus esforços iniciais, surgiram outros livros e revistas profissionais, jornais foram fundados, as universidades passaram a oferecer cursos e a fazer pesquisas. Essas atividades sinalizavam um reconhecimento cada vez maior de que algumas áreas que preocupavam os psicanalistas e neopsicanalistas poderiam ser incorporadas à psicologia. Os psicólogos acadêmicos começaram a crer que era possível desenvolver um estudo científico da personalidade. De 1930 até hoje, surgiu uma grande variedade de abordagens para o estudo da personalidade. Neste livro, além dos enfoques psicanalíticos e behavioristas acima citados, discutiremos vários outros, como a abordagem do curso de vida que argumenta que a personalidade continua a desenvolver-se durante toda a trajetória de nossas vidas; a abordagem dos traços, que defende que grande parte de nossa personalidade é herdada; a abordagem humanista, que enfatiza as forças humanas, virtudes, aspirações e a realização de nosso potencial; e a abordagem cognitiva, que lida com as atividades mentais conscientes. Para terminar, exploraremos os trabalhos de teóricos que se concentraram em questões mais limitadas da personalidade, como a necessidade de realização, locus de controle, comportamento de busca de sensações, o desamparo aprendido e otimismo/pessimismo. Examinaremos, então, o que cada abordagem pode nos ensinar sobre a personalidade e concluiremos com uma nota positiva e alegre sobre a descrição da assim chamada personalidade feliz.

Definições de Personalidade Frequentemente utilizamos a palavra “personalidade” ao descrevermos outras pessoas e a nós mesmos. Mas sabemos o que ela significa? Talvez. De acordo com um psicólogo, poderemos até ter uma ideia se examinarmos o que queremos ao utilizar a palavra eu (Adams, 1954). Ao dizer eu,


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