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A PROJEÇÃO DAS AULAS EXPERIMENTAIS DE FÍSICA NA MOSTRA BRASILEIRA DE FOGUETES

RESUMO A projeção das aulas experimentais de Física na Mostra Brasileira de Foguetes

Alan Luiz Figueiredo da Paz1

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Este relato de experiência, visa discorrer acerca da projeção das aulas experimentais de Física, por meio da construção de base de lançamento de foguetes e foguete de garrafa pet, aplicados na Mostra Brasileira de Foguetes (MOBFOG). O trabalho foi desenvolvido com a alunos do 1º ao 4º ano do ensino técnico integrado (ensino médio e técnico), regularmente matriculados na Escola de Ensino Técnico do Estado do Pará – EETEPA, situada no município de Salvaterra – PA, arquipélago do Marajó. A abordagem experimental no ensino de Física supervisionada pelo professor e gerenciada pelo aluno, possibilita não somente a aquisição de conhecimentos, mas realça reflexões acerca da prática docente, ensino por protagonismo do aluno e mudanças de perspectiva de vida e ensino. No primeiro ano de aplicação da MOBFOG em nossa escola, obtivemos 23 alunos inscritos, divididos em 8 equipes de dois ou três alunos. Diante dos resultados alcançados na seletiva interna, a equipe MARAJÓ HLI 16 foi convidada a participar do Jornada de Foguetes no Rio de Janeiro, na presente olimpíada, obteram a distância 186,3m, o que resultou a conquista do título de equipe campeã da Jornada de Foguetes. O mérito alcançado possibilitou o compartilhamento de conhecimentos astronômicos e astronáuticos pela equipe campeã e professor com alunos da própria escola e comunidade externa, aproximando aluno-professor e aluno-disciplina, além de estimular outros alunos a participarem desta olimpíada, bem como de oportunizar a projeção acadêmica e profissional dos envolvidos.

Palavras-chave: Aula experimental. Metodologias ativas. MOBFOG.

1. INTRODUÇÃO

O presente relato de experiência intitulado “A projeção das aulas experimentais de Física na Monstra Brasileira de Foguetes ”, visa relatar a inserção e vivência acerca do alcance das aulas experimentais de Física na formação dos alunos, além despertar o interesse pelas aulas de Física, Astronomia, Astronáutica e ciências afins, bem como prepará-los e projetá-los para as olímpiadas nacionais, em especial a Mostra Brasileira de Foguetes (MOBFOG).

1 Professor de Física da SEDUC- Pa. Especialista em Ensino de Física pela Faculdade Martins (FAMART). Pós-graduando em Neuropsicopedagogia com ênfase em educação inclusiva pelo Centro de Ensino Superior de Vitória (CESV).

2 MOBFOG (Mostra Brasileira de Foguetes): É uma olimpíada experimental realizada anualmente e internamente pelas escolas, organizada pela Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB) entre alunos de todos os anos do ensino fundamental e médio em todo território nacional.

O interesse pela inserção da prática metodológica experimental, partiu durante minha formação (autor deste relato), tanto na educação básica (ensino fundamental) quanto no ensino superior, quando constatei que a aprendizagem se tornava mais eficiente, significativa e gratificante por meio da consonância entre teoria e prática. Na ocasião, quando eu e os demais colegas de sala de aula éramos instigados a manusear experimentações, como por exemplo a modelagem de Quelônios (répteis da ordem Chelonia), com materiais alternativos, como ouriço de

cocô e papelão, a aprendizagem oferecia significância, haja vista, que estávamos a “construir” um conhecimento que era novo em nosso aprendizado, isto tonava a aula envolvente e contagiante. Outras memórias enraizaram tal abordagem metodológica em meu

cognitivo, como a identificação de briófitas e pteridófitos a campo aberto, além da incisão em pequenos peixes para identificação da bexiga natatória e sua funcionalidade. Práticas simples que alicerçavam o conhecimento e criavam pontos de ancoragem. Metodologias como estas, aproximava-me do professor e de sua prática, o que por sua vez, eternizava a figura destes profissionais em minha formação

O presente autor é Licenciado em Ciências Naturais com habilitação em Física, além de Licenciado em Ciências Biológicas, com Pós-graduação no ensino de Física, com regência há três anos em sala de aula, com aluno do ensino médio profissionalizante na disciplina de Física. Em 2017 comecei a lecionar, inseri nas minhas aulas, algumas práticas experimentais, não somente para facilitar a internalização do conteúdo, mas para colocar o aluno na condição de “cientista”, com desenvolvimento de habilidades reflexivas, auto avaliativas e interativas. Neste sentido, a experimentação deve ser uma estratégia adotada, pois gera diálogos, problematizações, observações, refutações acerca da experimentação (GUIMARÃES, 2009 apud PONTICELLI et al, 2013), isto é, gera reflexões individuas num contexto coletivo.

O protagonismo do aluno não enfraquece a importância da figura do professor, pelo contrário, realça e ressignifica que a aprendizagem é conjunta e não unilateral (DEBALD et a, 2020), mas sim democrática, numa sistemática coletiva. O professor atua como mediador e esclarecedor do processo de ensino e aprendizagem (BARBOSA e MOURA, 2014), logo, aceitar metodologias ativas, denota acolhimento de novos conhecimento e empatia com a informação que é atribuída ao aluno.

Este trabalho apresenta em seu desenvolvimento as seguintes seções metodológicas: Divulgação da MOBFOG e Jornada de Foguetes; Orientação das equipes; Seletiva Interna; Preparação para a Jornada de Foguetes; Participação na Jornada de Foguetes; Resultados alcançados e Considerações Finais.

O relato de experiência compartilhado, é resultado da inserção de metodologias ativas, com uma abordagem experimental, aplicada numa perspectiva estimuladora e participativa na 13º MOBFOG ocorrida no ano de 2019. O trabalho foi desenvolvido com a alunos do 1º ao 4º ano do ensino técnico integrado (ensino médio e técnico) regularmente matriculados na Escola de Ensino Técnico do Estado do Pará – EETEPA, situada no município de Salvaterra – PA, arquipélago do Marajó, no período de maio a novembro de 2019.

A experimentação como metodologia ativa é compreendida como estratégia por descoberta, baseada na perspectiva de reconstrução do conhecimento cientifico, seja de forma individual ou coletiva, através da interação com o objeto ou meio (HIGA e OLIVEIRA, 2012). No entanto, sua aplicação perpassa por entraves que distanciam a prática experimental do protagonismo do aluno, como a carência de recursos didáticos, tempo extra para elaboração das atividades, a prática pode sair do controle, incerteza nas capacidades cognitivas e atitudinais do aluno.

A presente pesquisa apresenta uma análise metodológica qualitativa de natureza interpretativa, haja vista que, quando o aluno é colocado na condição de cientista ou pesquisador, este percebe a atenção voltado ao seu processo formativo inserido pelo professor (ABOU SAAB e GODOY, 2007), isto possibilita um maior envolvimento do aluno no processo de aprendizagem. A pesquisa valeu-se dos diálogos dos alunos participantes desta iniciativa inédita em nossa escola, como forma de elucidar e corroborar as mudanças geradas em cada aluno.

A proposta de trabalho desenvolvida, consiste na construção de Bases de Foguetes de cano de PVC (Policloreto de Polivinila) ou outros materiais e Foguetes proveniente de garrafa Pet (Politereftalato de etileno). Por meio desta iniciativa, foi possivel introduzir conceitos e aplicações físicas, como as leis de Newton, lançamento obliquo, aerodinâmica, reação química, força de arrasto, velocidade média e etc. A proposta dirigia instruir e capacitar os alunos a desenvolverem seus próprios projetos de Lançamento de foguete e, por conseguinte participar da 13ª MOBFOG.

É valido destacar, que a prática de lançamento de foguetes já era uma constante realizada deste 2017, porém somente em 2019 dispus de maior visibilidade em razão MOBFOG. Logo, a execução da atividade deu-se de forma amistosa e sem dificuldades, uma vez que a maioria do alunado já possuía noções básicas de confecção e lançamento de foguetes de garrafa pet, pois aplicava esta prática em minhas aulas sobre Cinemática e Dinâmica.

Previamente à divulgação da olimpíada na escola, consultei o site da MOBFOG para assim, fundamentar-me sobre as regras regidas pelo edital da 13º edição da MOBFOG, além de conhecer a plataforma do site, bem como pesquisar acerca da construção de bases de lançamento e foguetes de garrafa PET. Posteriormente, dialoguei com a coordenação pedagógica e direção da escola para consentimento do cadastro da escola na olimpíada.

Uma vez a escola cadastrada, ocorreu a divulgação nas salas de aulas por meio de conversações e com o auxílio do Data show, expus uma síntese das normas e exigências contidas certame seletivo, bem como exibir vídeos disponíveis no Youtube com depoimentos de participantes que se destacaram em edições anteriores, como forma de estimular e inspirar nossos alunos. No primeiro ano de aplicação da MOBFOG em nossa escola, obtivemos 23 alunos inscritos, divididos em 8 equipes de dois ou três alunos.

Da orientação das equipes.

Nesta etapa, foi criado um grupo de comunicação e informes no aplicativo WhatsApp como forma de orientar remotamente as equipes, haja vista que nem todas as equipes poderiam possuíam disponibilidade para encontros presenciais, no entanto, as orientações ocorriam em horário vagos dentro da escola. Desta forma, atendia as equipes de forma presencial e remotamente. Neste grupo, foi postado diversos links sobre tutorial de construção bases de foguetes e foguetes de garrafas pet.

Os links e sites eram diversificados, elucidavam por exemplo, melhor garrafa pet a ser utilizada; material para se fazer uma aleta resistente, seu formato e tamanho; tipo de coifa (bico do foguete); como evitar que pressurização escape do foguete; centro de massa e pressão do foguete; proporção de vinagre e bicarbonato de sódio; funcionamento do gatilho de propulsão do foguete; angulação da base de foguete, entre outros.

A maioria das equipes construíram suas bases e foguetes por meio da autonomia investigativa e cientifica, numa perspectiva do protagonismo estudantil. A aprendizagem por protagonismo desenvolvida pelo aluno está além do “desenvolvimento de suas capacidades de abstração, reflexão, interpretação, proposição e ação, [...]” (BRASIL, 2018, p. 465), perpassa pela projeção destas experiências no projeto de vida desses alunos, bem como soma-se a tomada de decisões, leitura da realidade, autoconhecimento e responsabilidade social.

3 WhatsApp: aplicativo interativo de troca de mensagens e comunicação, através de testos, áudio, imagens e vídeo pela internet, disponível para smartphones Android, iOS, Windows Phone, Nokia e computadores Mac e Windows.

Uma vez criada as bases de lançamentos e foguetes, cada equipe iniciou sua sequência de testes, para assim verificar a eficácia da prática (SOUSA, 2010), por meio dos testes os alunos descartam as variáveis inconsistentes e validaram os fatores que contribuem para a progressão da prática experimental em questão.

Da Seletiva Interna.

A seletiva ocorreu no dia 10 de maio de 2019, o local escolhido foi o Campo de Pouso de aviões de pequeno porte do município de Salvaterra, com a participação de 23 alunos (Fig. 1). Previamente ao lançamento, ocorreu o sorteio para delinear a ordem de lançamento das equipes, o que possibilitou a sistematização de lançamentos e organização. Cada equipe dispôs de dois lançamentos, o melhor alcance entre as duas tentativas constituiria a distância registrada da equipe no site da MOBFOG.

Fig. 1. Equipes participantes da seletiva interna. Fonte: PAZ, 2019.

Para facilitar a marcação do alcance dos foguetes lançados, foram distribuídas na extensão do Campo de Pouso placas com demarcação e com auxílio de uma trena, a marcação ocorria de forma mais prática. Cada equipe apresentou sua base construída com cano de PVC de 20mm ou 25mm, além de dois ou mais foguetes de garrafa PET, este quantitativo de foguetes deve-se ao fato de que após a colisão do foguete com o solo, sua estrutura é desconfigurada ou se torna instável para um próximo lançamento.

Como forma de manter a segurança e seguir as exigências do edital, as equipes estavam com EPI (Equipamento de Proteção Individual) constituído de calça jeans, tênis, óculos de proteção e jalecos (MOBFOG, 2019). Infelizmente apenas o manômetro não foi utilizado nas bases de lançamento em razão de sua carência em nossa região e devido ao seu preço mediante a realidade dos alunos.

No momento do lançamento dos foguetes, cada equipe convenientemente utilizou para a reação química medidas particulares de vinagre, constituído de 4% ácido acético e bicarbonato

de sódio de acordo com os inúmeros testes realizados antes da seletiva. A reação química entre os dois produtos, libera dióxido de carbono (CO2), o que pressuriza o sistema base-foguete (FONSECA et al, 2018). Após pressurização, as equipes verificam a pressão ideal no interior do foguete, para assim, acionar o dispositivo que prende o foguete (gatilho) na base de lançamento e assim, a propulsão é realizada.

O desempenho das equipes foi satisfatório, poucas equipes obtiveram falhas, geralmente associada ao escape da pressão interna do foguete ou o mal manuseio do gatilho de acionamento do foguete ou ainda deficiência na aerodinâmica dos foguetes. A primeira participação da escola EETEPA – Salvaterra na 13º MOBFOG foi promissora, haja vista que equipes ultrapassaram a marca mínima solicitada do edital da seleção, isto é, ultrapassaram os 100m de alcance, condição necessária para receber o convite para outra fase chamada de Jornada de Foguetes, realizada em Barra do Piraí, no Rio de Janeiro. Na Tabela 01, constam as metragens alcançadas pelas 8 equipes, cada equipe é mensurada na tabela pelas iniciais dos nomes dos integrantes.

Tabela 1 - Metragem alcançada no lançamento de Foguetes.

Equipes Distância (m)

J.T.R. 101m

A.C.R. 61m

A.M.W. 70m

D.G.J. 56m

D.J.R. 94m H.LI. 113m A.L. 102m

R.W.S. 70m

Fonte: PAZ, 2019.

A tabela mensura que as equipes obtiveram mais 50% de êxito em seus lançamentos, bem como três equipes destacaram-se, com ultrapassagem de 100m de distância, contudo, apenas uma equipe por escola é convidada a participar do Jornada de Foguetes, isto é, a equipe H.L.I., que em seguida passou a ser chamada equipe MARAJÒ H.LI. 16. O termo Marajó faz referência ao local de origem, as letras H.L.I. condizem com as inicias dos nomes dos três alunos (Hugo, Lucas e Ingler) e nº 16 faz referência ao ano de ingresso da instituição EETEPA,

Da preparação para a Jornada de Foguetes.

Diante do convite, elaborou-se um planejamento de metas, com reuniões para melhoria e aperfeiçoamento da base de foguetes e foguetes de garrafa PET. Indiquei a equipe vários links para fundamentação e filtragem de informações para testagem, bem como leitura de artigos nesta linha abordagem, para assim, consolidarem sua explanação no evento. Mediante análises e

discussões, a equipe decidiu idealizar outra base de lançamento de foguetes para apresentar e utilizar na Jornada de Foguetes, bem como construir um novo modelo de foguete mais eficiente. Diante dos diálogos acordados, selecionou-se na Tabela 2 os materiais necessários, bem como estão ilustrados na Fig. 2:

Tabela 2 - Materiais para construção da base de lançamento de foguetes. Nome Quantidade

Vara de Cano 50 mm 1

Cano de esgoto 40 mm (10 1 cm) Joelho (L) 8 Cano T 25 mm 12

Luva de redução 50/25mm 1

Luva de redução 50/20mm 1 Luva de 50 mm 2 Luva de 40 mm 1 Anilha 1 Abraçadeira de nylon 12 Abraçadeira p/ mangueira de 2 fogão Registro 2 Cola PVC 1 Torneira de Jardim 1 CAP 2 Manômetro 1 Serra 1

Fonte: PAZ, 2019 Fig. 2. Materiais utilizados na construção da base de foguetes.

Fonte: PAZ, 2019

Da construção da Base de Foguetes e Foguete de garrafa PET.

De posse dos materiais, a equipe iniciou a construção da base de lançamento, aferindo medições e serrando os canos de PVC (Fig. 3 e Fig. 4). Para melhor percepção da estrutura da base de foguete, construiu-se uma mini maquete de isopor e mediante sua configuração, a estrutura foi moldada (Fig. 5). Para fins mensuráveis, destacou-se as medições de cada seção de cano PVC contida na estrutura da base de foguete (Fig. 6 (a) e Fig. 6 (b).

Fig. 3. Equipe realizando as medições da base de foguetes.

Fonte: PAZ, 2019 Fig. 4. Alunos serrando cano de PVC de 25mm.

Fig. 5. Montagem da Base

Fonte: PAZ, 2019

Fig. 6. (b) Lateral da base do foguete com as medições.

Fonte: PAZ, 2019 Fig. 6. (a) Lado anterior da base de foguete com as medições.

Fonte: PAZ, 2019

Fig. 7. Base de Lançamento de Foguetes finalizada.

Fonte: PAZ, 2019

Na Figura 7, observamos a Base de Lançamento de Foguete finalizada, as gregas (símbolo marajoara) estampadas na base, representam a linguagem iconográfica de nossa cultura. A cor vermelho e preto representam respectivamente a coloração o urucum e o carvão, utilizados por nossos ancestrais na expressão cultural.

Ao finalizar a base de lançamento, iniciou-se a etapa de criação do foguete de garrafa PET. A equipe testou diferentes modelos de garrafas, com diferentes capacidades volumétricas, assim como formato e tipo de material para as aletas (asas do foguete), tipo de coifa (bico do foguete), proporção de vinagre e bicarbonato, nível de pressurização medido pelo manômetro e acionamento do gatilho de lançamento. A base de lançamento apresentou a angulação de 45º (NOWACKI e SANTOS, 2016), posição está que configura a angulação ideal para atingir maior alcance segundo as literaturas e testagens da equipe.

Foram realizados dezenas de testes com o meu acompanhamento e ponderações, isto, possibilitou eliminar as variáveis desfavoráveis e chegar aos seguintes resultados. Conclui-se que a garrafas PET de 1litro, de uma marca específica, apresentou maior desempenho, pois seu formato cilíndrico (Fig. 8) era o mais plano possível encontrado em nossa região, o que possibilitou maior aerodinâmica, menor força de arrasto e menor massa. Adotou-se para a coifa do foguete, a parte superior de uma taça de acrílico com formato ogival ou parabólico (Fig. 9), pois observou-se que durante a colisão do foguete com o solo, este componente pouco danificou-se. Em relação as aletas, optou-se por utilizar e reaproveitar persianas de PVC (Fig. 10), devido resistência com o ar, além de serem planas e rígidas. Na Fig. 13 apresentamos o modelo de foguete finalizado com maiores resultados nos testes Pré Jornada de Foguetes.

Os testes realizados com este foguete (Fig. 13) e com a base de lançamento de foguete (Fig. 7), foram otimistas, os alcances variaram entre 150m a 219m. A melhor proporção de vinagre e bicarbonato de sódio utilizados para atingir a máxima distância foi de 500ml para 60g, com pressurização de 130psi a 150psi. É notório perceber a customização realizada pela equipe na escolha por materiais alternativos, de baixo custo e fácil acesso, haja vista que o edital exigia a criatividade na elaboração dos projetos. Apenas o dispositivo manômetro foi de difícil acesso, pois não comercializavam em nossa região, necessário comprar por site de vendas on-line.

Fig. 8. Garrafa PET de 1L.

Fonte: PAZ, 2019 Fig. 9. Taça de Acrílico

Fonte: PAZ, 2019 Fig. 10. Aleta de Persiana

Fonte: PAZ, 2019

Fig. 11. Garrafas cortadas e fixadas com fita isolante

Fonte: PAZ, 2019 Fig. 12. Fixação das Aletas

Fonte: PAZ, 2019

Fig. 13. Foguete utilizado na Jornada de Foguetes

Fonte: PAZ, 2019

Jornada de Foguetes.

A Jornada de Foguetes é um evento nacional que ocorre na cidade Barra do Piraí, no estado do Rio de Janeiro, com as melhores equipes provenientes da seleção interna (MOBFOG) de cada escola. Neste evento, com duração de uma semana, as equipes se reúnem para com-

partilhar de suas experiências e aprendizados com estudantes de todo o Brasil, tanto de escolas públicas quanto privadas, bem como professores de diferentes áreas do conhecimento. A equipe MARAJÓ H.L.I. 16 esteve entre as 50 equipes convidadas, com a incumbência de expor toda trajetória de seu projeto (Fig. 14), bem como demonstrar a execução de sua base de lançamento de foguete e foguetes de garrafa PET.

Durante o evento, alunos e professores assistem palestras na área da astronomia e astronáutica, bem como participam de minicursos de construção de foguetes pressurizados e de combustíveis sólidos. Após as formações, cada equipe sistematicamente demonstrou o lançamento de seus foguetes por meio de suas bases de lançamentos, com direito a dois lançamentos. Nossa equipe obteve em seu primeiro lançamento obliquo a distância de 186m e no segundo lançamento a metragem de 158m, a maior distância prevalece como a metragem da equipe. Ao final do evento todas as equipes são premiadas com certificados de participação e dependendo de sua distância alcançada, a equipe recebe medalhas e troféus de ouro, prata e bronze.

A solene premiação iniciava, as metragens das equipes eram divulgadas em um telão, em seguida recebiam suas premiações diante de todas as equipes, com calorosa parabenização. Dezenas de equipes já haviam recebido sua premiação e continuávamos ansiosos, nervosos e apreensivos..., até que, nossa equipe MARAJÓ H.L.I. 16 acabara de ser anunciada, nossa metragem possibilitou se enquadrar na categoria dos campões, conquistávamos assim, o título de equipe Campeã da Jornada de Foguetes (Fig. 16). Uma associação de emoções e memórias aflorava, toda dedicação, coragem, gastos econômicos, e aflição resultava em uma conquista inédita em nossa querida Ilha de Marajó e em nosso Estado do Pará.

Fig. 14. Apresentação da equipe MARAJÓ H.L.I. 16.

Fonte: PAZ, 2019 Fig. 15. Equipe MARAJÓ H.L.I 16 preparada para o lançamento de foguete.

Fonte: PAZ, 2019

Fig. 16. . Equipe MARAJÒ HLI 16 recebendo troféu e medalhas de Campeão da Jornada de Foguetes do presidente da MOBFOG.

O resultado deste trabalho corroborou a credibilidade investida em nossos alunos, ao assumirem o protagonismo juvenil de sua formação e aprendizado. Fomos recebidos em nossa cidade com carinho e comemoração, direcionados pela a escola, professores, pais de alunos e alunos. Destaco aqui o poder transformado que as aulas experimentais podem ocasionar no âmbito escolar da vida de nossos promissores alunos. Uma simples aula prática, projetava agora personagens de uma realidade tão diferente das demais regiões do Brasil.

Resultados alcançados

A inserção desta proposta metodológica nas aulas de Física associadas a olimpíada Mostra Brasileira de Foguetes desencadeou grande repercussão em nossa escola, cidade e redes sociais. Observou-se que esta conquista olímpica despertou em nossos alunos o interesse não apenas na MOBFOG, mas do mesmo modo nas aulas de Física, assim como na valorização do professor. De fato, essa conquista é inefável, proveniente de uma equipe possuía propósitos em comum, somaram coragem diante de múltiplos desafios, bem como a projeção de nossos alunos a lugares, experiências, percepções e aprendizados que outrora não haviam conquistados.

Nossos campeões foram convidados a somar saberes em eventos como feiras de ciências (Fig. 17) de outras escolas, demonstrar o funcionamento de sua base de foguetes e foguetes, bem como compartilhar de suas experiências com outros jovens, numa perspectiva de que a dedicação, doação e ações conjuntas podem resultar em conquistas imensuráveis. Seguidamente ministraram palestra e oficina de confecção de foguetes de garrafa PET para alunos da própria escola (Fig. 18). A equipe assumia postura de cientistas, preocupados com a forma de repassar o conhecimento de forma categórica e estimulante.

Fig. 17 Equipe MARAJÓ H.L.I. 16 demonstrando o funcionamento de seu projeto.

Fonte: PAZ, 2019 Fonte: PAZ, 2019

Como educador, saber ouvir o aluno diante de uma intervenção pedagógica é uma necessidade, tal habilidade é o mecanismo de verificação da intervenção metodológica aplicada no processo de ensino e aprendizagem, isto é, o retorno do aluno possibilita identificar se a prática instigou o aluno a reflexão, numa perspectiva de mudança pessoal e profissional. Nesses pressupostos, exponho a seguir as falas consentidas e identificadas dos três alunos acerca das mudanças, percepções, experiências e conhecimentos alcançados por meio desta estimada olimpíada de lançamento de foguetes.

Foi incrível a experiência de participar da MOBFOG, tivemos a oportunidade de conhecer mais sobre a está olimpíada, além de conhecimentos de astronomia e astronáutica. Tudo foi novo para mim, foi muito emocionante conhece pessoas novas, um pouco da cultura dos participantes e levar um pouco da cultura do Marajó, que por sinal foi bem aceita. Confesso que estava um pouco tenso e com medo, pois não sabíamos qual visão teriam de nós, mas ao conhecerem toda nossa trajetória e dificuldades de locomoção, passamos a ser admirados. Mostramos nosso melhor, sempre com alegria, pois estávamos a li para se divertir, sem nenhum descontentamento. Tudo foi inesquecível, desde a viagem até o dia que nossa equipe se apresentou para os estudantes de vários estados. Confesso que estava nervoso na hora da apresentação, mas, foi mais uma forma de adquirir experiência. Nosso comprometimento trouxe reconhecimento para mim, para a equipe e para nossa escola. Minha equipe foi ótima, jamais esquecerei esse momento maravilhoso em minha formação. (LUCAS LIMA, 2020).

O relato acima expressa a apreensão e medo diante de um desafio atípico a sua realidade, ressalta também, a preocupação de qual visão os outros participantes teriam de sua equipe, pois vinham de um local no extremo do pais, pouco conhecido, com cultura e costumes diferentes. De fato, a equipe surpreendeu as demais equipes ao relatar as dificuldades de locomoção, num percurso de duração de aproximadamente 3154 km, com direito a locomoção de via balsa, navio, avião e carro, para assim, vivenciar esse momento diferente do nosso cotidiano. Soma-se a esta expressividade de emoções a seguinte fala:

Participar da Jornada de foguetes, foi uma experiência sensacional, a expansão de conhecimento foi inevitável. Sabe aquela realidade que nos cerca, que temos como padrão? .... Então, quando nosso avião aterrissou no Rio de Janeiro, ela foi quebrada, estávamos em uma terra diferente, cultura diferente, alunos de todos os estados do Brasil, reunidos com o mesmo objetivo, compartilhar conhecimento. A cada palestra e oficina eu me surpreendia, percebemos que existia um oceano de ideias para confeccionar foguetes que eram desconhecidas por nós, mas agora podemos repassar isso

para os futuros alunos que iram nos representar lá. Foi um momento que nunca vou esquecer, hoje carrego comigo tudo o que vivemos em Barra do Piraí - RJ. Desejo que mais equipes da região marajoara participem da MOBFOG e Jornada de Foguetes e nos representem nessa jornada e traga conhecimentos para outros alunos. (INGLER DANTAS, 2020).

A expressividade do aluno, remente a uma participação inacreditável, pois cada um carrega consigo múltiplas dificuldades e medos até participar deste evento interestadual, quando suas reflexões foram ampliadas. Os eventos científicos realmente apresentam este perfil, possibilitar o contato com realidades e culturas diferentes, expandir vivencias e alterar a postura reflexiva e atitudinal do participante. O aluno ainda enfatiza o dever de socialização da experiência adquirida, como forma de estimular e confirmar que é provável a participação em um evento de grande expressividade cientifica, bem como reforça o convite a outras equipes acerca da eminente participação de nossos alunos marajoaras neste evento. Agrega-se a esta expressividade de aprendizados, o pensar a seguir:

Certas experiências nunca se apagaram de minha memória, assim como a primeira vez que tive o contato com Sistemas Operacionais do curso de Técnico em Informática. Da mesma forma como a maravilhosa e esquecível trajeto na Jornada de Foguetes em 2019, no Rio de Janeiro. Não foi fácil chegar lá, primeiramente tínhamos que nos classificar em primeiro lugar em nossa escola (EETEPASalvaterra). Uma vez selecionados, foram meses tentando conseguir dinheiro e apoio para viagem, além de muitas tentativas de inovar e turbinar nossa Base de Foguete e o próprio Foguete. Fizemos vários cálculos e testes até chegar numa distância aproximada de 220 metros. Mas tudo isso foi ainda mais espantoso quando chegou o dia da viagem, ainda não estava acreditando que iríamos participar de uma Olimpíada Nacional (Meu Deus), "cara que loucura!".... Quando chegamos no Rio de Janeiro, foi um jogo de cintura, andar numa cidade desconhecida, nosso guia foi o Google Mapas e Uber. Hoje as memórias estão internalizadas, agradeço a EETEPA - Salvaterra e Professor Alan por proporcionar essa grande experiência que nunca sairá da minha memória. (HUGO LIMA, 2020).

O relato acima reafirma a inefável experiência firmada em nosso consciente, bem como reforça a dedicação, pesquisa e testagens assumidas mediante a necessidade de apresentar um exímio trabalho. Por fim, elucida o agradecimento aos vários personagens que embasaram força nesta jornada. Ressalto ainda o envolvimento determinante de nossa Direção escolar, Secretária do Estado, Pais, professores e representantes locais. A conquista alcançada é resultado de um coletivo que diante das barreiras, não se oprimiu em contribuir para projeção de nossos alunos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A participação em olimpíadas nacionais possibilita refletir acerca da mudança pessoal, educacional e profissional gerada nos personagens envolvidos, desde a troca de experiências, percepção de realidades, formação continuada, aproximação família- escola e professor aluno, alem da autoafirmação de seu trabalho e ideais. De fato, as olimpíadas reforçam a aplicabilidade do protagonismo estudantil, além de novas descobertas, novos lugares, novos personagens, ideias, técnicas e conhecimentos, além de somar valor a análise curricular dos envolvidos. As olímpiadas possibilitam a motivação, agregação de desafios, necessidade de autonomia mediante aquisição de conhecimentos e saberes, bem como projetar nossos alunos a possíveis conquistas acadêmicas.

ABOU SAAB, L. A.; GODOY, M. T. Experimentação nas aulas de biologia e a apropriação do saber. UEPG, 2007. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/ arquivos/446-4.pdf>. Acesso em: 28 set. 2020. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular: Ensino Médio. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica, 2018. DEBALD, B; et al. Metodologias Ativas no Ensino Superior: O Protagonismo do Aluno. Porto Alegre: Penso, 2020. FONSECA, M. V. S; et al. Uma abordagem didática para a pressão interna de foguetes de

garrafa PET propulsionados pela reação química entre vinagre e bicarbonato de sódio.

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