Revista TECH-i9 (Edição 2023)

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TECNOLOGIA & INOVAÇÃO'23

Especial

Sustentabilidade

Sustentabilidade

TECH-i9 | 3
Marinha Grande
Textos – Helena
Cempalavras, Lda.
de
desta edição são
seus autores. Os mesmos não devem ser reproduzidos no todo
Redação e Administração: Centro Empresarial da Marinha Grande, Rua de Portugal, Lote 18 – Fração A, 2430-028
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Silva/CEFAMOL
CUMSA – verso de capa, S3D – p. 11, HASCO – p. 17, TEBIS – p. 23, CHETO
verso
Os conteúdos
da inteira responsabilidade dos
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MISSÃO SUSTENTABILIDADE Capacitar a indústria para abraçar os desafios da produção sustentável 6 OPINIÃO João Faustino – Presidente da CEFAMOL 8 ENTREVISTA Anabela Vaz Ribeiro – Global Compact Network Portugal 12 ENTREVISTA Markus Heseding – Presidente ISTMA Europa 18 ROTEIRO PARA A TRANSIÇÃO ECOLÓGICA O contributo do CENTIMFE para o Cluster Engineering & Tooling 24 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL Criar estratégias eficazes como garante de futuro das empresas 28 FINANCIAMENTO SUSTENTÁVEL Sustentabilidade das finanças incrementa crescimento das empresas 34 NOVOS MODELOS DE NEGÓCIO Desenvolver parcerias para ganhar escala e poder negocial 40 SUSTENTABILIDADE SOCIAL A imprescindível aposta na criação de ambientes de trabalho felizes 46 GESTÃO E TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO Criar valor nas empresas e nas pessoas 54 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E ECOLÓGICA Low Carb – Roteiro para a neutralidade carbónica e capacitação da indústria de moldes 60 SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL Apostar na inovação tecnológica para alcançar um rumo sustentável 64 OPINIÃO A visão dos fornecedores 72 FORMAÇÃO E SUSTENTABILIDADE O papel das escolas em gerar nos jovens a consciência sustentável 74
ÍNDICE

EDITORIAL TECH-i9

SUSTENTABLIDADE UM DESÍGNIO PARA A INDÚSTRIA DE MOLDES

Decorrente das crescentes preocupações com questões ambientais e alterações climáticas, com a transição digital e energética ou com a limitação de recursos, as empresas necessitam adotar, de forma proativa, práticas sustentáveis para garantir o seu sucesso, a médio e longo prazo.

Operando o sector num mercado global, altamente competitivo e com condições de negócio em constante evolução, o tema da sustentabilidade apresenta, tanto desafios, como oportunidades para as empresas. Por um lado, a procura dos consumidores por novos produtos, ecológicos e “amigos do ambiente”, por outro o interesse em processos de fabrico otimizados e eficientes, que utilizam menos recursos e impulsionam a inovação e a diferenciação no mercado.

Estas exigências implicam investimentos em I&D, bem como a adoção e integração de novas tecnologias e competências ou a adaptação das organizações a novos requisitos e regulamentações, resultando em mudanças estruturais nas empresas. A cooperação interempresarial irá assumir, nesta vertente, um papel essencial para atingir ganhos de escala, dimensão e massa crítica que permitam reforçar a intervenção e posicionamento no mercado internacional.

O grande desafio será encontrar um equilíbrio entre as exigências de mercado e a sustentabilidade económica das empresas.

Com este propósito, e para enfrentar os preços e condições de pagamento impostos, há que gerar capacidade de tesouraria e promover condições de acesso a instrumentos que permitam a capitalização e formas alternativas de financiamento que possibilitem continuar a promover os investimentos necessários à atualização tecnológica e organizacional das empresas. Não poderemos subestimar que o acesso a financiamento bancário, aos apoios comunitários ou até a atração de novos investidores ou clientes estará diretamente relacionado com os planos de sustentabilidade, descarbonização e desenvolvimento a ser apresentados pelas empresas.

De destacar que as empresas que adotam práticas sustentáveis são encaradas como responsáveis e com uma visão de futuro, atraindo mais

Os últimos anos têm sido desafiantes para a indústria de moldes nacional. As alterações do contexto internacional, das condições de negócio, dos custos de produção, a necessidade de atrair talento ou as dificuldades sentidas ao nível do financiamento e capitalização das empresas, constituem fatores primordiais a ultrapassar para garantir o investimento, o desenvolvimento e o crescimento sustentável do sector.

De igual modo, será necessária uma gestão ativa e dinâmica e a promoção de uma cultura de inovação, a qual se irá refletir na capacitação de gestores e colaboradores, não só para uma mudança de mentalidades, mas também para a aquisição de novos saberes multidisciplinares.

Será imprescindível definir uma estratégia clara, que estabeleça objetivos, políticas e KPI’s, que sejam regularmente analisados, antecipando eventuais correções a implementar. Haverá necessidade de desenvolver sistemas de gestão e governação robustos que garantam índices de produtividade e competitividade nas empresas ou a criação e gestão de novos modelos de negócio.

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Manuel Oliveira Secretário-geral da CEFAMOL

SUSTENTABILIDADE

MELHORAR

A EFICIÊNCIA OPERACIONAL E MITIGAR OS RISCOS ASSOCIADOS À ESCASSEZ DE RECURSOS

facilmente talento, pela promoção de uma cultura de inovação e desenvolvimento interno. Estas organizações demonstram um maior interesse e empenho no bem-estar dos seus colaboradores e este compromisso aumenta, naturalmente, o seu envolvimento, lealdade e compromisso, reduzindo taxas de rotatividade e os custos de recrutamento associados.

A sustentabilidade na indústria de moldes não é apenas uma palavra da moda ou uma obrigação moral, mas

sim um imperativo estratégico. Será fundamental para a competitividade, para a integração em novas cadeias de valor, para atrair novos clientes e negócios, para melhorar a eficiência operacional e mitigar os riscos associados à escassez de recursos. No sentido de superar estes desafios, as empresas devem adotar uma abordagem holística, integrando os conceitos relacionados com a sustentabilidade, na sua estratégia, operações e processos de tomada de decisão.

As entidades representativas do sector, a academia e as entidades oficiais e governamentais também desempenham um papel vital na criação de um ambiente propício a este processo, à promoção de iniciativas conjuntas, criação de instrumentos e políticas de apoio ou incentivos e regulamentos mais ajustados à dinâmica empresarial.

A sustentabilidade apresenta desafios e oportunidades para a indústria de moldes. Ao abordarem as condições comerciais, a governança e gestão e os aspetos sociais através de práticas sustentáveis, as empresas podem preparar o caminho para um futuro mais competitivo, verde e responsável. Abraçar a sustentabilidade como um desígnio nas suas diversas vertentes não é apenas uma tarefa imprescindível para as empresas de moldes, mas sim uma viagem transformadora em direção a uma indústria mais competitiva, forte e global.

A
NA INDÚSTRIA DE MOLDES SERÁ FUNDAMENTAL PARA A COMPETITIVIDADE, PARA A INTEGRAÇÃO EM NOVAS CADEIAS DE VALOR, PARA ATRAIR NOVOS CLIENTES E NEGÓCIOS, PARA

MISSÃO: SUSTENTABILIDADE

CAPACITAR A INDÚSTRIA

PARA ABRAÇAR

OS DESAFIOS DA PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL

Encontrar um modelo de negócio que permita às empresas serem competitivas e, ao mesmo tempo, zelar pela proteção do ambiente. Este é um dos principais desafios que se coloca à indústria de moldes. Mas, mais do que adotar medidas que priorizem a ecologia, é imperioso mudar mentalidades, de forma a trilhar um novo caminho, assente na aposta em produtos mais seguros para o ambiente, no uso eficiente dos recursos, na seleção das tecnologias mais adequadas, e também numa estratégia que privilegie uma diferente forma de organização, valorizando mais as pessoas e o seu papel. Desta forma, as empresas caminham para a sustentabilidade.

Um desenvolvimento sustentável pressupõe um conjunto de medidas e ações que coloquem em harmonia tudo o que compõe uma organização, seja a nível ecológico, económico, social e até cultural. As empresas da indústria de moldes e plásticos olham para este desígnio que é, afinal, transversal a todas as áreas de negócio, procurando encontrar e adequar as melhores ‘ferramentas’ aos objetivos que se propõem alcançar. Não há varinhas mágicas e nem fórmulas secretas para atingir este patamar. A forma de alcançar a sustentabilidade, considera a indústria, é ir caminhando lentamente, dando passos seguros e mudando, de forma a ser a cada dia melhor do que no dia anterior.

A principal meta é conseguir gerar riqueza sem danificar a saúde do planeta. Para isso, importa apostar numa produção mais limpa, que contemple, entre outros aspetos, a incorporação de energias renováveis, a adoção de medidas que assegurem a eficiência energética, mas também a aposta na investigação e na inovação, no desenvolvimento de novas soluções que garantam a melhoria das tecnologias de fabrico do molde.

Apesar do processo de fabrico não se caracterizar por uma pegada ecológica muito significativa, tem, no entanto, duas questões que constituem desafios enormes para as empresas: por um lado, as principais matérias-primas – o aço ou o alumínio – e, por outro, o produto final – o plástico. Pensar os processos produtivos, de forma a criar soluções eficazes é uma das principais prioridades das empresas.

Para além disso, é fundamental olhar toda a cadeia de produção e, nesse sentido, importa, entre outras,

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VENCER A BATALHA DA SUSTENTABILIDADE IMPLICA QUE AS EMPRESAS INOVEM E APOSTEM NA

CRIAÇÃO DE MODELOS DE NEGÓCIO QUE ASSEGUREM A EFICIÊNCIA PLENA

Mudar mentalidades

E ser sustentável não se limita a dar prioridade ao ambiente. Só a uniformização de todos os fatores que integram a vida de uma empresa – do ambiente à economia e aos aspetos sociais – é, afinal, o garante da necessária sustentabilidade. Esta poderá traduzir-se, então, na comunhão harmoniosa de todos estes fatores.

Para que resulte, é imprescindível mudar mentalidades e, com estas, gerar novos comportamentos, definir rumos ambiciosos e trilhar o caminho sem desvios. É que uma empresa só consegue investir em tecnologias e integrar os melhores talentos se tiver as finanças sustentáveis. E as pessoas e o seu capital valor só permanecem se a empresa tiver sustentabilidade social.

Por isso, é cada vez mais importante que as organizações estejam alerta para conseguir munir-se de condições que lhes permitam aceder a ferramentas de apoio à tesouraria. Isso implica que as instituições financeiras criem, também, instrumentos de financiamento sustentável, melhorando a inclusão das pequenas e médias empresas (PME), proporcionando-lhes os instrumentos e incentivos adequados para aceder a financiamento. E, desta forma, assegurar o reforço da resiliência do sistema económico e financeiro perante os riscos, em matéria de sustentabilidade.

Trata-se, afinal, de romper com muitas das práticas instituídas e enraizadas e fazer de novo. E diferente.

As empresas têm de integrar a sustentabilidade na sua cultura, juntamente com a monitorização da sua eficácia, de forma a identificar, prevenir e mitigar potenciais consequências adversas relacionadas com a proteção ambiental ou os direitos humanos.

sensibilizar os parceiros para estas questões e criar modalidades novas de transporte dos produtos. A pensar em tudo isto, a CEFAMOL e o CENTIMFE estão a trabalhar na criação de um Roteiro para a Descarbonização na Indústria de Moldes, que ajude à capacitação e preparação do sector para esta transição.

É que a proteção ambiental é uma urgência global. E assim sendo, há metas a cumprir pelos países. No caso dos que integram a União Europeia, o ano de 2050 foi definido como o ‘alvo’ para alcançar a neutralidade carbónica. Foram criadas diretrizes e lançados variados instrumentos de política que direcionam as ações para a proteção ambiental.

Vencer a batalha da sustentabilidade implica que as empresas inovem e apostem na criação de modelos de negócio que assegurem a eficiência plena, alterando métodos e processos, adotando um percurso mais assente na inovação, que seja o garante da sustentabilidade.

É que as pessoas são, e continuarão a ser, o elemento-chave das organizações. E o seu bem-estar encabeça a lista de condições que asseguram a sustentabilidade de uma empresa. Independentemente do recurso cada vez mais intenso a tecnologias, à digitalização e até à inteligência artificial, a verdade é que as pessoas são a alma das empresas. É nelas que reside o conhecimento e, por isso, são o garante da competitividade e eficiência. Logo, o sucesso de uma empresa mede-se pelo papel das suas pessoas.

É um caminho exigente que as empresas dificilmente conseguirão percorrer sozinhas, sendo, por isso, essencial um alinhamento coletivo que coloque o sector num patamar de excelência, a nível da sustentabilidade, que se estende muito para além do contexto da emergência climática.

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*Helena Silva CEFAMOL

As preocupações ambientais, sociais e de governação (ESG) estão a tornar-se, cada vez mais, um foco importante para muitas empresas, em todo o mundo. A indústria de moldes não é exceção, sendo esta uma realidade presente nas exigências do mercado e dos clientes, mas também na consciência dos responsáveis máximos das nossas empresas.

Esta é uma temática que vem ganhando relevância para quem opera a nível global e integra cadeias de fornecimento e desenvolvimento de novos produtos, que, à semelhança das nossas empresas, também necessita de soluções mais eficientes, económicas e mais “amigas” do ambiente, que contribuam para a preservação dos recursos naturais e alimentem processos de descarbonização.

Autoridades, investidores, mas principalmente o consumidor final, estão mais atentos a este tema, tomando a sua decisão de compra, grande parte das vezes, em função destes aspetos, razão pela qual as empresas (muitas delas os nossos clientes diretos ou indiretos)

têm vindo a incentivar e evidenciar boas práticas de sustentabilidade, não só a nível interno, mas repercutindo-as ao longo da sua cadeia de fornecimento, a qual chega às nossas organizações.

Mas estão os nossos clientes disponíveis para suportar tais investimentos?

Estão disponíveis a pagar mais a quem respeita estas regras? Tal é tido em consideração quando comparamos preços e orçamentos? Creio que muitos de vós sabem qual é a resposta…

No entanto, não acreditem que isto é apenas mais uma moda ou um conceito de marketing que devemos utilizar. A sustentabilidade é um tema importante e relevante para as nossas empresas e sector que não devemos ignorar,

mas sim tirar o máximo partido da competitividade que nos poderá trazer. Analisemos, então, alguns desafios que temos de enfrentar para garantir a nossa própria sustentabilidade.

Ao nível da governação:

1. Modelo de negócio: a capacidade de financiamento e capitalização das empresas será cada vez mais importante para poder continuar a ser competitivo num mercado que apresenta(rá) preços baixos e condições de pagamento com prazos cada vez mais longos. Estarão os clientes a fazer tudo para garantir a “sustentabilidade” da sua cadeia de fornecimento e a valorizar processos de descarbonização e eficiência

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SUSTENTABLIDADE OS DESAFIOS E AS (CON)TRADIÇÕES DA SUSTENTABILIDADE
João Faustino Presidente da CEFAMOL

que podem ser conseguidos pelo nearshoring, tal como apregoam?

2. Gestão das empresas e ganhos de escala: as mudanças e transformações organizacionais, tecnológicas

e geracionais obrigam-nos a reforçar competências, a sermos ágeis e rápidos na tomada de decisão, pelo que só com equipas multidisciplinares e bem preparadas conseguiremos dar uma resposta eficiente ao mercado.

A SUSTENTABILIDADE É UM TEMA IMPORTANTE

E RELEVANTE PARA AS NOSSAS EMPRESAS E SECTOR QUE NÃO DEVEMOS IGNORAR, MAS SIM, TIRAR O MÁXIMO PARTIDO DA COMPETITIVIDADE

QUE NOS PODERÁ TRAZER

Em paralelo, temos de ganhar massa crítica para responder aos desafios e agregações dos nossos clientes. Há que incentivar a cooperação, ou até mesmo as fusões e aquisições no sector para não continuar a ser um “David a lutar contra Golias”.

3. Ética e transparência: a credibilidade é um elemento fundamental no conceito de sustentabilidade, pelo que as empresas se deverão reger pelos padrões da ética e transparência, valorizando a sua oferta e as suas competências, não desmerecendo a de terceiros e evitando apresentar condições de negócio ao mercado que sabemos que elas mesmo não terão sustentabilidade futura.

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Ao nível social:

1. Gestão do conhecimento: num momento em que a atração de jovens e talento é, em si mesmo, um desafio para a atividade industrial, torna-se prioritário garantir que a experiência e o saber acumulado nas empresas não seja perdido. Há que incentivar políticas de gestão de pessoas que permitam valorizar o conhecimento, formar e capacitar os colaboradores e dar mérito ao seu desempenho.

2. Estimular a produtividade: só com boas práticas sociais, de envolvimento e valorização dos seus colaboradores, as empresas poderão tirar máxima rentabilidade dos fortes investimentos que têm, e continuam a realizar em tecnologia. Tal permitirá reforçar a eficiência de recursos e otimização de processos que aumentarão a sua competitividade a nível global.

3. Envolvimento na comunidade: as empresas de moldes são agentes sociais com a máxima relevância para as comunidades em que se inserem. Esta ligação e envolvimento reforçarão a boa imagem e o reconhecimento

perante o público em geral, facilitando processos de atração de talento e employerbranding.

Ao nível ambiental:

1. Consumo de energia e outros recursos naturais: o reforço da eficiência produtiva permitirá às empresas contribuir para a poupança de recursos naturais, ao mesmo tempo que fortalecem a sua competitividade por via da redução de custos operacionais. Os investimentos realizados no sector em energias renováveis vêm complementar esta intervenção e a consciência ambiental na indústria.

2. Valorização da oferta: integrando cadeias de fornecimento globais, torna-se crítico para as empresas valorizarem a sua oferta junto do mercado, demonstrando o impacto que as suas soluções técnicas poderão trazer ao processo produtivo dos clientes. Os ganhos de eficiência e produtividade que os moldes nacionais aportam terão de ser quantificados e demonstrados como um contributo significativo para que os clientes atinjam as suas metas de impacto ambiental e redução de emissões de carbono.

Como podemos verificar pelos exemplos acima citados, a sustentabilidade é, sem dúvida, da máxima importância para o sector e terá implicações sérias no seu acompanhamento e resposta aos desafios do mercado, na capacidade para garantir financiamentos e acesso a apoios comunitários para novos projetos de investimento, na valorização da sua oferta, não esquecendo o impacto na sociedade e público em geral, o que direta ou indiretamente poderá influenciar a capacidade das empresas para atrair talento e novas competências.

A sustentabilidade, em todas as suas vertentes e componentes, é também um investimento para as empresas e um elemento que irá condicionar a sua atividade no mercado. Estarão os clientes aptos a reconhecer os ganhos que daí advêm? Estarão as nossas empresas conscientes dos ganhos destes investimentos? Conseguirão valorizar os mesmos no mercado?

São muitas as perguntas e desafios que se apresentam pela frente, mas, mantendo uma tradição, temos plena certeza de que as nossas empresas se irão adaptar às novas circunstâncias do mercado, capacitar os seus recursos, valorizar a sua oferta, diferenciando-se uma vez mais no contexto internacional e conquistando novos clientes e mercados. Sem dúvida, que o principal desafio será garantir a sustentabilidade atual da indústria para que as empresas possam fazer este caminho.

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O
A SUSTENTABILIDADE ATUAL DA INDÚSTRIA PARA QUE AS EMPRESAS POSSAM FAZER ESTE CAMINHO C M Y CM MY CY CMY K
PRINCIPAL DESAFIO SERÁ GARANTIR
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ANABELA VAZ RIBEIRO

Global Compact Network Portugal

“A SUSTENTABILIDADE DEIXOU DE SER UMA OPÇÃO PARA SER

UMA NECESSIDADE COMPETITIVA DAS EMPRESAS ”

12 | TECH-i9 ENTREVISTA

O United Nations (UN) Global Compact é uma iniciativa lançada em 2000 pelo então Secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, que tem como objetivo mobilizar empresas a criar um mundo mais sustentável. Diretora executiva da estrutura em Portugal, desde 2018, Anabela Vaz Ribeiro defende que, no caminho da sustentabilidade, as empresas devem “repensar o seu modelo de negócio, a partir dos dados de contexto e dos Planos de Ação Globais”, e também “conhecer as tendências, as expectativas dos mercados e das pessoas”.

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Como podemos definir o tema ‘Sustentabilidade’ em empresas industriais? O que vai influenciar e impactar nos seus negócios?

Sustentabilidade tem a mesma definição para qualquer tipo de empresa. Sustentabilidade, definida pelo UN Global Compact, começa com o sistema de valores da empresa e uma abordagem assente em princípios no desenvolvimento do negócio. Significa operar, de forma que, no mínimo, sejam assumidas as responsabilidades nas áreas dos Direitos Humanos, Trabalho Digno, Proteção Ambiental e Anticorrupção. Os negócios responsáveis atuam de acordo com os mesmos valores e princípios independentemente da geografia em que a empresa opera, tendo a consciência de que as boas práticas numa área não compensam por práticas inadequadas noutra.

Ao incorporar os Dez Princípios do UN Global Compact nas estratégias, políticas e procedimentos, e estabelecer uma cultura de integridade, as empresas não estão apenas a assumir as suas responsabilidades para com as pessoas e o planeta, mas estão também a estabelecer as bases para o sucesso a longo prazo da própria organização.

O que devemos entender por ‘empresas sustentáveis’?

É uma questão ambiental ou vai muito para além disso?

Uma empresa sustentável (ou responsável) é aquela que realiza a sua atividade de forma íntegra, respeitando as pessoas e o planeta. A pressão ambiental é a mais visível, sem dúvida, mas ambicionar ser sustentável implica muitas outras áreas, desde logo cuidar das questões sociais internas e na comunidade. Os Direitos Humanos fundamentais são ameaçados todos os dias e também cabe às empresas cuidar desses aspetos. Gerir os fornecedores de forma responsável, olhar para as comunidades e a cadeia de valor, inovar. Se não cuidarmos das pessoas, não haverá clientes no futuro.

É extremamente vantajoso para as empresas que alinhem a sua atividade com os dois grandes planos de ação globais: Agenda 2030 das Nações Unidas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e com o Acordo de Paris. Ignorar este contexto vai traduzir-se em dificuldades em ultrapassar desafios e em perda de oportunidades. Ambos os planos trazem uma nova visão para o mundo, um conjunto de oportunidades de inovação, resposta a novas necessidades, são requeridas novas competências, entre outros aspetos. Um novo mundo no qual sabemos que onde há oportunidades, há negócios.

Garante de eficiência

É possível uma empresa ser competitiva não sendo sustentável? Porquê?

Os negócios evoluíram e a forma como fazemos negócios

alterou-se profundamente. A sustentabilidade deixou de ser uma opção para ser uma necessidade competitiva das empresas. Constitui um driver fundamental de eficiência operacional e inovação.

O estudo anual do UN Global Compact diz-nos que os CEO de empresas com mais de USD 1000 Milhões de Dólares de receitas anuais acreditam que a sustentabilidade será importante para o sucesso futuro dos seus negócios. Porquê? Porque apoia o crescimento da marca, as expectativas dos clientes e dos consumidores e os requisitos dos mercados, que começam a estar alinhados com a sustentabilidade, incrementa as receitas, permite mitigar riscos e reduzir custos pela eficiência dos processos operacionais e pela redução do uso de recursos.

A transição para um modelo de desenvolvimento que considera a sustentabilidade dos recursos (ou seja, não utilizar mais do que a natureza tem capacidade para regenerar) coloca limites às empresas que não são sustentáveis. Enfrentarão primeiro uma redução de atividade e se não se adaptarem, a extinção.

Como podem as empresas fazer a transição para um negócio mais sustentável?

Repensar o seu modelo de negócio, a partir dos dados de contexto e dos Planos de Ação Globais. Conhecer as tendências, as expectativas dos mercados e das pessoas. Desde cedo que o UN Global Compact tem obrigatoriedades de relato anual para as empresas. É uma forma de orientar a sua ação e de lhes transmitir os temas a abordar. Como a empresa é gerida, como é constituída a força de trabalho e os órgãos de governação, que princípios segue, qual é o seu referencial ético? Como utiliza os recursos naturais? Como é a eficiência dos seus processos, que mecanismos de melhoria utiliza? Como gere as pessoas? Que compromissos assume

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com os Direitos Humanos fundamentais? Que políticas e procedimentos utiliza para gerir as suas pessoas?

As metas

Quais as prioridades e as metas (a nível de calendário) a ter em conta neste percurso que se impõe às empresas?

É difícil abordar todos os temas e não se espera isso das empresas. Potencialmente, as empresas abordam o que as afeta mais e neste momento diria que é o compromisso da Europa e do país com a neutralidade carbónica. Esta questão afeta o investimento e a capacidade de aceder a financiamento, por parte das empresas no sistema financeiro. Não significa que as empresas não consigam aceder a financiamento, significa apenas que o valor pode não ser competitivo. É uma pressão adicional.

Que mecanismos de suporte estão disponíveis para auxiliar as empresas a fazer esta mudança?

As instituições públicas estão a colocar requisitos no acesso ao financiamento sobre estas matérias, mas ainda escasseiam os mecanismos de apoio para ajudar as empresas nessa transição. Da nossa parte, internacionalmente e em Portugal, dispomos de uma Academia com mais de 300 cursos de formação nestas áreas que permite a todos/as os/as

trabalhadores/as das empresas a sua frequência gratuita. Da mesma forma, com o objetivo de ajudar as empresas nesse caminho, temos vindo a desenvolver Programas Aceleradores no âmbito do UN Global Compact Network Portugal, desde a abordagem aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, aos Direitos Humanos Fundamentais, Ação Climática e Igualdade de Género. A rede portuguesa do UN Global Compact, com o intuito de apelar à mobilização e à tomada de ações concretas

UMA EMPRESA SUSTENTÁVEL

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(OU RESPONSÁVEL) É AQUELA
QUE REALIZA A SUA ATIVIDADE DE FORMA ÍNTEGRA, RESPEITANDO AS PESSOAS E O PLANETA

por parte dos líderes empresariais e responsáveis máximos de organizações não empresariais, tem vindo a levar a cabo Calls to Action com objetivos e timelines concretas, de que são exemplo a Plataforma Portuguesa para a Integridade e a Meta Nacional para a Igualdade de Género.

O UN Global Compact a nível global e a rede portuguesa em particular possuem também um conjunto de recursos, manuais e plataformas que permitem capacitar as empresas nos domínios do Desenvolvimento Sustentável. O calendário de eventos anual acaba por servir como alavanca para a sensibilização do tecido empresarial em geral.

Atualmente, em concreto no espaço geográfico da União Europeia, assiste-se ao surgimento de um enquadramento legal denso nestas matérias, de que é exemplo a Taxonomia Europeia e a Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD), que nos parece vir a ser um agente acelerador desta mudança, nomeadamente nas empresas do sector da indústria, mas também nos restantes sectores , pois acredita-se que venha a existir um efeito de arrastamento nas cadeias de valor das grandes empresas. Na União Europeia, em virtude dos compromissos assumidos com o objetivo de assegurar a neutralidade climática da Europa até 2050, há uma evidente reorientação para investimentos de mais longo prazo e em tecnologias e empresas mais sustentáveis. Existe uma preocupação no sector financeiro em que as decisões de investimento sejam realizadas tendo em conta critérios Ambientais, Sociais e de Governação, comumente conhecido com o acrónimo “ESG – Environmental,SocialandGovernance”. O UN Global Compact, atento a esta realidade, tem agora uma representação permanente em Bruxelas para defender o ponto de vista das empresas e contextualizar a sua intervenção. Ao longo dos últimos anos temos vindo a introduzir o UN Global Compact como standard em índices internacionais como o Dow Jones Sustainability Index, Referenciais da OCDE e da UE, Plataformas de avaliação de fornecedores como o Ecovadis e agora avançámos para esta representação.

E em Portugal…?

As empresas queixam-se de dificuldades em encontrar pessoas com formação específica para apoiar nesta questão. As escolas têm um papel importante a desempenhar? E estão a fazer esse caminho ou é necessário reforçar essa aposta?

As escolas estão a desenvolver diversas iniciativas para dar resposta a esta questão. Há no mercado alguma oferta, embora ainda se estejam a dar os primeiros passos. A sustentabilidade tornou-se um tema complexo com diversas vicissitudes que precisam de aprofundamento e handsonnas empresas. A investigação é insuficiente. É preciso a prática para tornar a investigação em conhecimento. É um caminho que se está a fazer.

O que tem feito e, em termos de futuro, o que projeta fazer para incutir esta mudança na indústria?

Como referi anteriormente, a UN Global Compact Network Portugal, em alinhamento com as restantes redes mundiais da iniciativa, tem levado a cabo um conjunto de programas e iniciativas. Com isso, temos procurado capacitar os profissionais que trabalham estes temas nas empresas participantes.

Da nossa parte, em Portugal, estaremos atentos ao desenvolvimento desta realidade no espaço europeu, mas também ao frameworkmundial que é a Agenda 2030 das Nações Unidas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, e procuraremos responder às expectativas das empresas portuguesas que devem olhar para este tema como uma oportunidade para inovar e criar valor de forma responsável.

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A SUSTENTABILIDADE DEIXOU DE SER UMA OPÇÃO PARA SER UMA NECESSIDADE COMPETITIVA DAS EMPRESAS. CONSTITUI UM DRIVER FUNDAMENTAL DE EFICIÊNCIA OPERACIONAL E INOVAÇÃO

Sistema de acoplamento de fecho múltiplo

O sistema de acoplamento de fecho múltiplo da HASCO permite a conexão de circuitos de regulação da temperatura num só passo. Os processos de configuração podem ser executados de forma rápida e fácil, sem o risco de confundir os tubos.

▪ Sistemas disponíveis:

- Standard HASCO

Novo - USA (ZI)

Novo - Francês

- Clean Break

Novo - Clean Break, variantes HT

▪ Conexão central de tubos de regulação da temperatura

▪ Travamento fácil e seguro

▪ Tempos de preparação significativamente mais curtos

▪ Compatível com os diferentes sistemas do mercado

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SUSTENTABILIDADE

MARKUS HESEDING

Presidente ISTMA Europe

“O FABRICO DE MOLDES TEM

UMA INFLUÊNCIA GRANDE NA

SUSTENTABILIDADE

DA PRODUÇÃO NO CLIENTE”

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O presidente da ISTMA Europe, Markus Heseding, defende que a aposta na sustentabilidade é inevitável para os produtores de moldes, traduzindo-se, até, numa necessidade dos clientes. No seu entender, o foco das empresas deve situar-se nos desenvolvimentos técnicos e tecnológicos, até porque “tecnologia e competência nas soluções é o que diferencia a nossa indústria”. Salienta ainda a necessidade de o sector olhar atentamente para as Pessoas, mas também para o sucesso do negócio, pois “é um pré-requisito necessário que os esforços de sustentabilidade no fabrico de moldes conduzam a modelos de negócio bem-sucedidos”.

Como é que o tema da ‘Sustentabilidade’ irá impactar a indústria de moldes e no seu posicionamento nas cadeias de valor globais?

O fabrico de moldes tem uma influência particularmente grande na sustentabilidade da produção no cliente. Isso acontece porque o uso de matérias-primas e energia, bem como a segurança da produção – especialmente a produção ‘zero defeitos’ – e a qualidade do produto, dependem diretamente da ferramenta. Por isso, é de esperar que o foco das indústrias-clientes seja muito mais direcionado do que era antes para as capacidades das ferramentas e moldes. Afinal, a escolha dessas soluções altamente inovadoras está nas mãos de especialistas em produção, que são quem pode avaliar as capacidades das tecnologias. Através do desenvolvimento em parceria, no qual o fabrico de moldes já esteja envolvido no processo de desenvolvimento de peças, podem ser levantadas potencialidades inimagináveis em termos da sustentabilidade. Para apoiar isso, por exemplo, os fabricantes de moldes e compradores da VDMA projetaram, recentemente, um processo otimizado de pedido e confirmação (de encomenda), que será apresentado, pela primeira vez, na edição deste ano da Moulding Expo, em Estugarda, e disponibilizado, para comentários, a todos os interessados (via ISTMA).

Há, na sua opinião uma ligação direta entre o tema Sustentabilidade e Nearshoring(proximidade das cadeias de fornecimento)?

Os transportes, as viagens (de longa distância) e as normas sociais desempenham um papel na avaliação holística das cadeias de abastecimento. Portanto, é provável que o nearshoring venha a assumir um papel de maior relevo. No entanto, satisfazer as necessidades dos clientes internacionais e fornecer soluções inovadoras continuará a ser a prioridade máxima dos fabricantes.

A ISTMA Europe está a dinamizar um programa que pretende alertar e sensibilizar as empresas para a sustentabilidade, mas também partilhar boas práticas desenvolvidas no sector. Pode dar a conhecer um pouco mais deste programa, explicando os objetivos e ações que serão realizadas neste âmbito?

A sustentabilidade, como sabemos, tem muitos aspetos que, em conjunto, garantem que a nossa sociedade – e, portanto, também a indústria – seja mais consciente e moderada no recurso à energia e às matérias-primas que temos à nossa disposição. É por isso que a nossa prioridade, com a campanha da ISTMA ‘A tecnologia impulsiona a sustentabilidade’, é disponibilizar informação sobre o maior número possível de opções tecnológicas e organizacionais nas mãos das partes interessadas das indústrias de moldes e ferramentas e dos seus clientes. Começámos no dia 4 de maio, com uma sessão online, destacando o papel dos

O FOCO DAS EMPRESAS DEVE SITUAR-SE NOS

DESENVOLVIMENTOS TÉCNICOS

E TECNOLÓGICOS, ATÉ PORQUE

“TECNOLOGIA E COMPETÊNCIA

NAS SOLUÇÕES É O QUE

DIFERENCIA A NOSSA INDÚSTRIA”

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aços especiais para moldes, e também as vantagens das ferramentas modulares. Nas próximas sessões, iremos analisar muitos outros aspetos, por exemplo, como as ferramentas de corte, dispositivos de fixação ou máquinas, podem contribuir para a sustentabilidade no fabrico de moldes. A ISTMA irá realizar esta série de eventos no decorrer dos próximos dois anos.

Negócios bem-sucedidos

Numa indústria que está localizada em várias partes do globo, com ritmos diferentes de preocupações com a questão ambiental, como será possível criar uma linha orientadora que permita que todos sigam o mesmo rumo a esse nível?

Poderá ser criado algo do género de um ‘manual de boas práticas’, mas a nível mundial, para esta questão?

Com o processo de encomenda e decisão de compra otimizados, queremos realmente estabelecer algo dessa natureza. No entanto, não seria uma boa abordagem esperar que a Europa determinasse os esforços de sustentabilidade para todo o mundo. Além disso, há muita criatividade e grandes ideias em todo o mundo, com as quais nós podemos aprender muito. É por isso que

estamos a concentrar-nos no que pode ser alcançado, no que faz sentido e no que é viável, nomeadamente tecnologia e organização. Aliás, partimos do princípio de que as melhores práticas resultantes da tecnologia se espalharão muito rapidamente por todo o mundo, se forem economicamente bem-sucedidas. Contamos com isso, especialmente porque os nossos clientes estão localizados em vários pontos do mundo.

Para além da sustentabilidade ambiental, há preocupação com a sustentabilidade financeira das empresas do sector. Há formas de encontrar um modelo de negócio mais sustentável para esta indústria?

Partindo do pressuposto que apenas as empresas economicamente bem-sucedidas sobrevivem, é um pré-requisito necessário que os esforços de sustentabilidade no fabrico de moldes conduzam a modelos de negócio bem-sucedidos. Não haverá um modelo de negócio único e bem-sucedido no futuro, mas muitos modelos de negócio diferentes, todos eles com a sua razão de ser. Por exemplo: se um fabricante de ferramentas pode oferecer ao seu cliente padrões de sustentabilidade mais elevados, isso traduz-se numa clara vantagem competitiva. Afinal, os próprios

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ATRAVÉS DO DESENVOLVIMENTO EM PARCERIA, NO QUAL O FABRICO DE MOLDES JÁ ESTEJA ENVOLVIDO NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PEÇAS, PODEM SER LEVANTADAS POTENCIALIDADES INIMAGINÁVEIS EM

TERMOS DA SUSTENTABILIDADE

clientes estão interessados em tornar as suas cadeias de valor mais sustentáveis porque os seus próprios clientes o exigem, os seus financiadores impõem-no e os políticos, bem como a sociedade, exigem-no. Isto significa que se trata de uma ação em cadeia. Consequentemente, essa criação de ferramentas continuará também a ser financeiramente sustentável.

Muitas vezes, a adoção de medidas ‘amigas do ambiente’ são encaradas como um custo elevado. O que ganham as empresas com a aposta na sustentabilidade?

A sustentabilidade será uma condição de acesso ao mercado no futuro. Os clientes vão exigi-lo, tal como a sociedade e as políticas. A produção neutra em termos climáticos na Europa já está firmemente ancorada no tempo, nas metas a alcançar. É claro que muitas medidas custam dinheiro, mas muitas delas ajudam a poupar dinheiro. Muitas vezes, trata-se apenas de nos concentrarmos nestas questões. Os custos são sempre compensados pelos benefícios. Já que as condições básicas do mercado estão atualmente a mudar para a sustentabilidade, vemos estes como fatores de sucesso. Aliás, o fabrico de moldes tem por tradição esta aposta na mudança. Afinal, quem, senão o sector de moldes, garantiu, nas últimas décadas, que os materiais caros fossem utilizados com mais parcimónia, que as faturas de energia dos clientes pudessem ser mantidas sob controlo e que indústrias pudessem ser bem-sucedidas no mercado mundial nas condições económicas mais difíceis?

Tecnologia e competência

Neste tema da Sustentabilidade, qual é, na sua opinião, o papel das Pessoas?

As pessoas são o fator-chave. Juntos, temos de projetar um objetivo para a indústria de moldes e compartilhá-lo com o maior número possível de pessoas. As pessoas precisam de metas atraentes para também se sentirem emocionalmente envolvidas. Notamos que os jovens já valorizam muito o tema da sustentabilidade no seu pensamento e sentimento.

As indústrias que têm a reputação de serem sujas e causarem problemas no mundo são agora incapazes de atrair jovens talentos. Isto torna ainda mais importante que sejamos capazes de mostrar repetidamente às pessoas, fora da nossa indústria, como, com a nossa forma de produzir, fazemos parte da solução.

Como a indústria de moldes na Alemanha está a olhar para este tema? Serão os desafios diferentes das empresas portuguesas?

O trabalho dos fabricantes portugueses é reconhecido por todo o mundo. Internacionalmente, é frequente encontrá-los em praticamente todas as feiras comerciais. Até agora, a Alemanha era um local de produção tão forte que o mercado de moldes não era apenas atraente para as empresas alemãs, mas também para muitos fornecedores estrangeiros. Mas isso está a mudar, de tal forma que os fabricantes alemães estão a ser, cada vez mais, empurrados para os mercados estrangeiros. Aí, todos os concorrentes têm desafios semelhantes. No entanto, as empresas sediadas na Alemanha, em particular, sentem-se desproporcionalmente expostas a obstáculos burocráticos e a condições de enquadramento difíceis, como o aumento dos preços da energia e a elevada carga fiscal, bem como a uma escassez cada vez mais notória de trabalhadores qualificados.

Que conselho dá às empresas de moldes para que se preparem da melhor forma para este desafio?

O foco deve estar nos grandes desenvolvimentos técnicos e tecnológicos. Tecnologia e competência nas soluções é o que diferencia a nossa indústria. Por mais banal que pareça, temos de repetir esta ‘história’ as vezes que forem necessárias. Não só para o cliente: também os políticos e o público desempenham aqui um papel de relevo. Cada exemplo positivo da nossa indústria, no que diz respeito a negócios mais sustentáveis, ajudará este nosso sector a atrair os talentos criativos para enfrentar as tarefas futuras e, assim, preparar o modelo de negócio das empresas para o futuro.

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Simulação feita e máquinas a trabalhar. Posso ficar tranquila e aproveitar o fim de semana.

Com o Tebis consigo simular toda a operação da máquina. Posso definir o setup, as ferramentas e calcular percursos NC sem colisões, aplicando estratégias já testadas e comprovadas. Durante a programação, posso analisar áreas críticas, uma vez que o Tebis Automill® conhece todo o nosso chão de fábrica através de gémeos digitais. Posso ficar tranquila enquanto as máquinas operam.

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ROTEIRO PARA A TRANSIÇÃO

ECOLÓGICA – O CONTRIBUTO

DO CENTIMFE PARA O CLUSTER ENGINEERING & TOOLING

As empresas do Cluster Engineering & Tooling enfrentam tempos de mudança e desafios que precisam de ser explorados e vencidos. As alterações climáticas e a necessidade de descarbonizar os processos de fabrico e a distribuição dos produtos, produzir com menor poluição e máxima eficiência possíveis, conceber produtos com menos recursos e de origem renovável, inovando no próprio modelo de negócio, são apenas alguns dos desafios que estão definidos nos diversos planos de ação elaborados pela Comissão Europeia. Estes desafios resultaram em Diretivas e Regulamentos que as empresas do Cluster terão de cumprir, se quiserem manter-se competitivas e ganhar vantagem nos mercados europeus e internacionais.

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João e Cátia I&D – CENTIMFE – Centro Tecnológico da Indústria de Moldes, Ferramentas Especiais e Plásticos

Para preparar o Cluster para os desafios de 2030 (e futuros) recorreu-se à elaboração do Plano de Ação para o Cluster, com base num processo colaborativo já previamente testado e publicado cientificamente por Vasconcelos et al 1 Neste processo, designado por Dialogue Living Labs (DLL), as empresas foram convidadas a trabalhar em conjunto para conhecerem os desafios e definir as ações a serem tomadas para conseguirem alcançar, de modo consistente e com convicção, a transição ecológica.

Sessões colaborativas DLL

3. ESTRATÉGIA de ser Cluster Tooling

Num processo colaborativo e participativo do Cluster

empresas foram chamadas a participar na discussão

Transição Ecológica no Cluster. No ínicio, foram identificados indústria.

Principais desafios identificados pelas empresas dos DLL

Produção mais eficiente e ao menor custo

Adoção de tecnologias digitais para a melhoria de produtos e processos

Sensibilização dos clientes

Energia renovável e eficiência energética

Numprocesso colaborativo e participativo do Cluster Engineering & Tooling, as empresas foram chamadas a participar na discussão do plano de ação para a Transição Ecológica no Cluster. No ínicio, foram identificados os principais desafios da indústria.

Transporte e logística

Produção mais eficiente e ao menor custo

Adoção de tecnologias digitais para a melhoria de produtos e processos

Sensibilização dos clientes

Energia renovável e eficiência energética

Como resultado do processo colaborativo foram identificados os principais desafios da indústria, tendo sido propostas as ações que estariam ao alcance de cada empresa, individualmente, implementar. O número de ações foi vasto, cerca de 120, tendo-se votado nas mais importantes e que estão descritas no Roteiro para a Transição Ecológica.

Transporte e logística

1. Vasconcelos, L.T., Silva, F.Z., Ferreira, F.G., Martinho, G., Pires, A. & Ferreira, J.C. Collaborative process design for waste management: co-constructing strategies with stakeholders. Environ Dev Sustain 24, 9243–9259 (2022). https://doi.org/10.1007/s10668-021-01822-1

Mudanças comportamentais

Resíduos gerados na fábrica e a sua valorização

Em seguida, foram identificadas as ações para a Transição 117 ações a serem implementadas para as empresas. Posteriormente análise SWOT de cada um dos desafios, permitindo a outras ações adicionais, de modo iterativo. As ações foram decorreram na Marinha Grande e em Oliveira de Azeméis, mais importantes para o Cluster. Por fim, as empresas definiram que permitem planear o caminho para um Cluster sustentável

Ecodesign do produto

Normas e requisitos legais

Financiamento

Em seguida, foram identificadas as ações para a Transição Ecológica, tendo-se alcançado 117 ações a serem implementadas para as empresas. Posteriormente foi realizada uma análise SWOT de cada um dos desafios, permitindo a sua análise e apuramento de outras ações adicionais, de modo iterativo. As ações foram votadas, em sessões que decorreram na Marinha Grande e em Oliveira de Azeméis, tendo-se identificado as mais importantes para o Cluster. Por fim, as empresas definiram os objetivos SMART,

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Mudanças
Resíduos a Ecodesign Normas Financiamento

Principais ações selecionadas para o Roteiro

Desafio Objetivo Ações

Sensibilização dos clientes

Desenvolver e implementar três técnicas (metodologias, tecnologias) para a rastreabilidade das matérias-primas secundárias, até 2030.

.: Desenvolvimento e implementação de metodologias de rastreabilidade de processos produtivos e matérias-primas secundárias para aumento da confiança de utilização dos produtos, em parceira com os fornecedores;

.: Desenvolvimento de projetos de demonstração e de sensibilização junto dos clientes;

.: Conhecer, envolver e comunicar ativa e abertamente com os diversos atores e estabelecer parcerias com fornecedores, clientes e OEMs.

Ecodesign do produto

Reduzir em 15 % o impacte ambiental dos produtos próprios, concebidos utilizando ferramentas de Ecodesign, até ao final de 2030.

.: Envolver fornecedores, clientes e OEMs no processo de Ecodesign de produtos;

.: Criar manual de boas práticas e formação em Design for Manufacturing and Assembly (DFMA);

.: Formação em Ecodesign de Produto, Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) e outras metodologias;

.: Projetos de I&D na temática de Ecodesign

.: Projetos para criação de produtos ecológicos em parceria com os clientes.

Energia renovável e eficiência energética

Reduzir em 20 % o consumo energético em função do volume de produção e em 20 % o consumo energético do edifício, recorrendo à monitorização digital dos consumos e avaliação/otimização dos processos de fabrico, até final de 2028.

Até ao final de 2030, 20 % do total de energia consumida deverá ser obtida através da produção própria (autoconsumo) ou a partir de comunidades de energia renovável.

.: Avaliar processos e recursos de modo a identificar e implementar medidas para minimização dos consumos energéticos;

.: Monitorização do consumo energético no processo de fabrico;

.: Adoção de tecnologias de produção de energia renovável mais eficientes (e.g. painéis fotovoltaicos);

.: Promoção de comunidades de energia renovável.

Normas e requisitos legais

Alcançar, pelo menos, uma certificação ambiental na empresa (produtos, sistemas de gestão, organização), até 2030.

Paralelamente, com a preparação das ações foi também elaborado o Livro Branco, que resulta do levantamento dos principais aspetos da sustentabilidade, para que o Cluster tenha o mesmo conhecimento no que diz respeito ao tema da sustentabilidade, que é bastante vasto e complexo. A junção dos dois documentos resultou no Roteiro para a transição ecológica.

Claro que o Roteiro, por si só, não é suficiente para impulsionar a transição ecológica. O CENTIMFE também preparou um toolkit, que contém uma ferramenta de autodiagnóstico, através da qual as empresas poderão perceber qual o seu

.: Acesso gratuito a normas;

.: Formação e sensibilização;

.: Participação em comissões técnicas de tecnologias inovadoras, que possam promover a simplificação da legislação;

.: Criação de uma base de dados de normas e documentos legais sectoriais que facilite a pesquisa, identificação e consulta.

nível de maturidade para a transição ecológica: inicial, intermédio, avançado e evolutivo. Esta ferramenta reflete os desafios atuais e futuros das empresas do Cluster no caminho para a sustentabilidade, baseados nos planos de ação elaborados pela Comissão Europeia. O toolkit inclui também um conjunto de workbooks, checklists e guias de boas práticas que permitirão às empresas conhecer e procurar novas técnicas, metodologias e abordagens para melhorarem o seu nível de maturidade.

Este foi um trabalho desenvolvido pelo CENTIMFE em conjunto com as empresas. Para que o Roteiro tenha mais

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26 27
no
Roteiro para a Transição Ecológica Engineering &
Livro Branco e Plano de Ação Cluster
Tooling

impacto junto dos policy makers, o CENTIMFE desafia toda a cadeia de valor do plástico moldado – fabricantes de moldes, fabricantes de peças em plástico, produtores de matérias-primas e recicladores – a aderirem ao Pacto de Compromisso. O Pacto, assim como o toolkit e o Roteiro, estão disponíveis em watt.centimfe.com.

O Programa COMPETE2020 financia este projeto, promovido pelo CENTIMFE, para que o conhecimento científico e tecnológico da transição dupla possa ser fácil e rapidamente transferido para as empresas, para que estas possam explorar novos mercados e serem mais competitivas. Para além da transição ecológica, o projeto criou também uma LearningFactoryque agrega um conjunto de demonstradores da Transição Ecológica e Digital, que será apresentada durante os OpenDays, permitindo aumentar a transferência de conhecimento para as empresa.

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CRIAR ESTRATÉGIAS EFICAZES COMO GARANTE DE FUTURO

DAS EMPRESAS

Estratégia. É o ponto de partida e o elemento principal para ajudar as empresas a alcançar a sustentabilidade dos seus negócios e, com isso, trilhar, com sucesso, o caminho de futuro.

Os vários pilares da sustentabilidade têm de constituir, de forma articulada, a prioridade dos processos produtivos. Só dessa forma, as empresas alcançarão eficiência que lhes permitirá ser competitivas nos mercados.

Estratégia das empresas deve priorizar sustentabilidade

Uma estratégia assente na sustentabilidade é, no entender de José Morais, da Lexus Consultores, fulcral para criar organizações eficientes e competitivas.

“As empresas sabem bem o que fazer no domínio ambiental; sabem o que podem fazer no domínio social; conhecem o seu estado no domínio económico e financeiro e, conhecendo o seu estado neste domínio, têm de conseguir projetar como é que se podem manter, de forma sustentável, no mercado”, defende. Por isso, enfatiza, o fator determinante é “uma estratégia de sustentabilidade” que constitua a prioridade das empresas. “Se não for assim, se a sustentabilidade for considerada algo à parte, há uma segmentação das várias questões essenciais ao funcionamento da empresa que dificilmente a completarão”, sublinhando que “tem de existir a integração entre as várias iniciativas e os projetos que contribuem para o desenvolvimento da empresa e a

estratégia da sustentabilidade, de forma a que esta assuma um carácter prioritário”.

E quando se refere a ‘sustentabilidade’, pensa-a no seu sentido mais abrangente. E neste particular, diverge em relação às áreas que são, tradicionalmente, consideradas no plano da sustentabilidade. É que, afirma, não são três, mas quatro. E explica: “devemos entender a estratégia, não em três componentes – que, tipicamente, são as três áreas que estão nos objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas – mas em quatro perspetivas”. Por isso, para além do ambiente, do económico-financeiro e do social, aponta a ‘continuidade’ numa perspetiva de futuro do negócio. Mas esta, sublinha, só se alcança com a conjugação das outras três.

A nível ambiental, José Morais considera não haver dúvidas da evolução dos fabricantes de moldes. “O sector tem feito progressos significativos, com exemplos que vão desde o encaminhamento dos resíduos, até à utilização de eletricidade

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SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL

de origem renovável, ou os consumos de água, o isolamento térmico das empresas, entre outros”, enumera, adiantando que o mesmo se passa em relação à questão social. “As empresas, apesar das adversidades do mercado e das dificuldades financeiras que boa parte atravessa – quer no domínio da capitalização, quer do domínio do investimento – têm continuado a ter um papel social relevante, seja junto dos seus colaboradores e na manutenção de postos de trabalho, seja nos municípios onde estão integradas porque contribuem, não só para evitar o desemprego como também para o desenvolvimento das sociedades”.

Futuro

Já no terceiro domínio, o económico-financeiro, salienta que “as empresas, mais uma vez, apesar das dificuldades, induzidas quer pelo decréscimo de encomendas, quer pelas condições de pagamento, quer pela quebra dos preços de venda, têm conseguido, no essencial, manter essa sustentabilidade”.

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José Morais – LEXUS

E nesta questão, acentua, o sector está a organizar-se e a posicionar-se, de forma a encontrar soluções, seja junto da banca, seja dos fundos de financiamento – o PRR e o PT 2030. “Importa realçar que, independentemente da sua situação, as empresas não deixaram de investir e, portanto, mantiveram a perspetiva de apostar na sua competitividade”.

E isso é, a seu ver, fundamental para o passo seguinte, o quarto da sua lista, o que permite fazer face à sua concorrência internacional: a continuidade, numa lógica de qualidade e competitividade.

“A sustentabilidade também é e deve ser entendida como a continuidade dos bons resultados de carácter ambiental, social e, naturalmente, dos bons resultados económico-financeiros”, defende, considerando que se trata de, afinal, “aprofundar as componentes anteriores, em particular a económico-financeira, de uma maneira muito racional para que as empresas possam manter-se e aprofundar a sua competitividade”.

Mas para que isso se concretize, adverte, é essencial que as empresas adotem determinadas mudanças de atitude. Por exemplo, investir na rentabilização dos equipamentos e ferramentas que, ao longo dos anos, foram adquirindo e apostando na (re)definição de métodos de trabalho. “A verdade é que, infelizmente, nós continuamos a ver as nossas empresas com graus de competitividade inferiores a, por exemplo, as suas congéneres alemãs. E isso não é por terem menos equipamento tecnológico; mas antes, por exemplo, serem inferiores na taxa de ocupação das máquinas ou nos prazos de entrega dos moldes”.

Os alemães, salienta, “estão a fazer um esforço significativo de incrementar em 15% a produtividade e melhorar entre 10 e 15% o tempo de entrega dos moldes”, enfatizando que a indústria nacional tem de ter isto em atenção. “Não basta investir em equipamentos, é essencial priorizar a sua rentabilização”, sustenta, lembrando que “evoluímos a nível ambiental e no domínio social, mas continuamos a ter um desempenho abaixo de outros sectores a nível da produtividade”.

“É neste cruzamento entre o económico-financeiro e a continuidade do negócio que se tem que investir mais”. E esse investimento, salienta, “faz-se olhando para dentro das empresas”. Isto significa, no seu entender, dar destaque ao bom uso dos seus recursos e dos seus ativos. E, acrescenta, significa também perceber onde melhorar os vários domínios da cadeia de valor, ou seja, da produção (desde a área comercial ao chão de fábrica) à expedição e assistência pós venda.

Análise

Para que tal aconteça, frisa, “precisamos de analisar os dados de todas as fases de produção”, de forma a perceber qual é a percentagem e qual é o valor que, efetivamente, se traduz em resultados para a empresa e perceber as situações em que tal não aconteceu, analisando as suas causas e procurando evitar que tal volte a repetir-se. Estes dados, acentua, têm de ser “oportunos e fiáveis”, de forma a permitirem uma intervenção atempada e que se traduza em eficiência para a empresa.

“Muitas vezes, os empresários ou gestores estão a tomar decisões baseadas em informações que não são fidedignas e isso prejudica a tomada de decisões”, alerta, considerando que, por isso, “esta análise interna é complexa, mas necessária”. Contudo, para além de olhar para dentro, as empresas têm, também, de direcionar a sua atenção para fora. “É preciso fazer essa análise externa, olhando para os mercados, os concorrentes e os clientes e munir-se de ferramentas de ajuda à decisão para que se ganhe eficácia”, considera.

“Há um limite que as empresas não podem atravessar: estar a vender abaixo do custo. Se o fizerem, estão a caminhar, a prazo, para a rutura”.

Lembra que, na questão da produtividade, há uma outra componente muito importante: “os clientes da indústria de moldes estão inseridos numa cadeia de valor que, cada vez mais, enfatiza a sustentabilidade”. Logo, mais cedo ou mais tarde, os fabricantes de moldes têm de apostar nessa vertente.

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“Os grandes grupos económicos já têm isso embebido na sua estratégia e transferem-no para os fornecedores de primeira linha que, por seu turno, vão declinando para as outras linhas de fornecimento. Estando a indústria de moldes nesta linha de fornecimento tem, inevitavelmente, de encontrar respostas para poder transformar isto em valor”, adverte, defendendo que “significa que as empresas têm de ser capazes de demonstrar o seu compromisso com a sustentabilidade e de, adicionalmente, mostrar o impacto, positivo e negativo, do fabrico do molde na sustentabilidade global”.

A dificuldade de fazer esta aposta reside, no seu entender, no encontrar de uma fórmula que permita fazê-lo “de forma simples e quase não onerosa para a empresa, o que significa encontrar ferramentas que permitam obter os dados desses desempenhos de forma simples”.

se sintam motivadas e esclarecidas, de forma a priorizarem a estratégia da empresa”.

Ambiente e pessoas

Destacando as questões ambientais, é “imperioso” reduzir o desperdício e fazer um trabalho de qualidade. Ao mesmo tempo, diz ser fulcral reduzir os tempos de fabrico e aumentar a rentabilidade dos equipamentos.

“Tudo isto, em conjunto, acaba por ser, afinal, o caminho para a sustentabilidade”, considera, frisando que “uma boa equipa faz um bom trabalho, um bom trabalho deixa os clientes satisfeitos, um cliente satisfeito traduz-se em novas encomendas e isso é o que permite encarar o futuro com esperança e otimismo”, sustenta.

MOLDOESTE:

Aposta na sustentabilidade para alcançar eficiência

Olhar a sustentabilidade como prioridade é fundamental para alcançar a eficiência. E esta passa pela redução do tempo de fabrico, a redução de custos – particularmente do desperdício –, mas passa também por servir bem os clientes, trabalhar em conjunto com os parceiros e fornecedores, e respeitar a concorrência. É desta forma que Valdemiro Teixeira, da Moldoeste, sintetiza a questão da sustentabilidade que, no seu entender, assume particular complexidade, num momento em que o mundo vive um estado de pós-pandemia de Covid-19 e a Europa se tenta preparar, quase diariamente, para as consequências da guerra na Ucrânia.

“As empresas têm de lidar com as consequências diretas destas duas situações”, acentua, exemplificando com o aumento exponencial da inflação e dos preços, em geral, mas sobretudo os da energia e das taxas de juro. Ou seja, “falar com rigor sobre a questão sustentabilidade empresarial só se estivermos munidos de uma bola de cristal porque, na atual situação, é muito difícil prever o futuro, até mesmo num curto prazo”.

Por isso, considera que é necessário juntar a palavra ‘resiliência’ para se pensar na questão da sustentabilidade aplicada às empresas. “Os fabricantes de moldes têm uma longa escola no seu percurso, neste campo da resiliência”, enfatiza, considerando que para conseguirem singrar neste caminho, as empresas têm, cada vez mais, de valorizar as suas pessoas pois estas são “imprescindíveis a uma estratégia de sucesso”.

“A continuidade das empresas passa por encontrar formas de melhorar, de uma maneira geral, a sua performance e a sua comunicação”, defende, considerando que “é necessário colocar com destaque a questão da sustentabilidade numa visão alargada do negócio, contemplando, entre outras questões, os seus riscos e oportunidades”. Mas, salienta, “nada disso serve sem pessoas: é fundamental que estas

O mundo, salienta, “apesar das enormes mudanças geopolíticas, está cheio de oportunidades e nós só temos de as encontrar”. Para isso, “é preciso que as empresas

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Valdemiro Teixeira – MOLDOESTE

estejam atentas e corram atrás dessas oportunidades”. No seu entender, a indústria de moldes “sempre soube reinventar-se e esta será mais uma longa batalha que vai ter pela frente”, mostrando-se convicto de que se trata de uma batalha que “vamos acabar por vencer”.

Destaca como imperioso que as empresas consigam avançar com a certificação da sua pegada ecológica. No caso do grupo que representa, adianta, essa questão está a ser trabalhada e acautelada, quer na unidade de plásticos, quer na unidade de moldes. “Isto vem dotar-nos de um nível de rigor enorme e alcançá-lo tem, naturalmente, custos”, explica, defendendo que é preferível apostar, o mais cedo possível, neste tipo de medidas do que, mais tarde, tentar correr atrás de soluções para as necessidades dos clientes.

Para além do nível ambiental, as finanças da empresa têm de estar também alinhadas com a estratégia de sustentabilidade. “O controlo de custos é essencial”, sublinha, exemplificando que, no seu caso, “este é um processo em curso e, para isso, temos ferramentas de controlo”. Volta, contudo, a enfatizar que as ferramentas, por si só, não são a solução: “é preciso pessoas: essas, sim, são a chave do sucesso. Se estas não forem e não se sentirem motivadas, as tecnologias podem servir para melhorar os processos, mas não alcançarão os resultados pretendidos”.

As tecnologias, sustenta, “servem para melhorar os processos e não para controlar as pessoas: as pessoas é que controlam as tecnologias. Esta questão está cada vez mais subjacente e temos de conseguir fazer com que todos dentro da organização sintam isso”. No entanto, enfatiza, “face às atuais adversidades que o mundo enfrenta, a mudança não é fácil”.

Falando do Grupo Moldoeste, conta que, desde sempre, “as questões ambientais e esta procura de ser sustentável têm sido uma das nossas prioridades, a par com, a nível financeiro, a cautela e o rigor com os investimentos que fazemos”.

“Procuramos fazer bem com o mínimo custo possível e causando o mínimo dano à empresa e à sua envolvente”, destaca. Exemplifica, a esse nível, com o caso das instalações onde, atualmente, se encontram. Desde 2018, no planeamento do edifício, relata, ficou prevista a instalação de painéis solares que só este ano serão colocados. No seu

entender, “é fundamental, em tudo o que fazemos enquanto empresas, tentar planear o máximo possível no futuro, mas dar os passos apenas no tempo certo”.

Mudanças

“Este é o caminho que estamos a trilhar, procurando envolver todos: desde clientes, fornecedores, funcionários. Todos os players têm de estar envolvidos e temos de desenvolver um trabalho de parceria com todos”, explica.

Para Valdemiro Teixeira, não pode dissociar-se a questão ambiental da financeira e da social: só com a articulação das três se assegura a sustentabilidade de uma empresa. “Com a crise económica mundial, nota-se a falta de liquidez das empresas, há menos encomendas e os preços dos moldes são mais baixos. Por outro lado, o apoio bancário é algo incerto. Ora, isto, em conjunto pode ser problemático para as empresas”, afirma, considerando que, “para ultrapassar tal situação, é preciso definir estratégias de ação claras que têm de passar, sempre, por colocar as pessoas como primeiro foco”.

Valdemiro Teixeira acrescenta que a sustentabilidade é, atualmente, uma questão já valorizada por muitos clientes. “Alguns já pedem a visão da empresa, a médio prazo, no que diz respeito à sustentabilidade, e fazem-no antes de decidir avançar com o negócio”, conta, salientando que “isto significa que, se neste momento já é assim, no futuro vai ser cada vez mais e as empresas têm de estar preparadas para isto”. No seu entender, “é fundamental acrescentar ao desafio ‘reduzir custos, rentabilizar investimentos, sem perder clientes e vendas’ a questão da sustentabilidade das empresas”. Acrescenta que “o preço de cada molde melhora quando se vende um bom produto”. Mas, adverte, “para além do bom produto, é fulcral uma boa comunicação e um serviço pós-venda que garanta a confiança”.

VANGEST: Sinergias como forma de assegurar a sustentabilidade

“As sinergias de grupo são, sem dúvida, a melhor forma de assegurar a sustentabilidade do negócio”. Quem o defende é Nuno Cipriano, CEO do Grupo Vangest, para quem “a complementaridade das nossas unidades de negócio (Moldes, Injeção,

Protótipos, Meios de Controlo e Software) é um elemento diferenciador, o que torna o nosso posicionamento único no mercado”. E, por isso, enfatiza, “aproveitar as sinergias que daí resultam é fundamental”.

Esse aproveitamento, esclarece, pode ser feito de diversas formas, “desde os serviços integrados de suporte, o cross-selling, as economias de escala e a otimização de recursos: todas as formas de aproveitamento das sinergias de grupo contribuem para robustecer o negócio como um todo”.

O investimento em tecnologia, adianta, “sempre teve e vai continuar a ter um papel fundamental na nossa indústria”, até no que diz respeito à questão da sustentabilidade. E isso é notório, no seu entender, na renovação dos parques de máquinas para equipamentos mais modernos e com maior eficiência energética, o investimento em parques solares para autoconsumo, e outros investimentos em tecnologias mais sustentáveis. Estes, afirma, “têm um peso importante no posicionamento da empresa ao nível da sustentabilidade ambiental”.

Mas, enfatiza Nuno Cipriano, “além das tecnologias, são cada vez mais as pessoas e os métodos que podem alavancar a diferenciação e contribuir para uma maior sustentabilidade, nas suas diversas vertentes: desde a consciência ambiental que tem inerente uma cultura de redução de desperdícios até ao desenvolvimento de processos eficientes que são necessários para garantir um serviço premiummais competitivo”.

Apesar da estratégia e do esforço das empresas no sentido de caminhar na direção de um futuro mais sustentável, há questões que, salienta, causam alguns constrangimentos.

“Estamos inseridos no mercado europeu e sujeitos às regras do primeiro mundo, mas competimos, muitas vezes, com países emergentes que jogam o mesmo jogo, mas com outras regras”, considera, enfatizando que “garantir a competitividade num mercado exigente e global ao mesmo tempo que fazemos a nossa parte para contribuir para um mundo melhor e mais sustentável, é um enorme desafio”.

Parcerias fortes

No entanto, na sua opinião, não é possível que uma empresa seja, hoje, competitiva, se não garantir um conjunto de ações que a configurem como sustentável. “A eficiência dos processos, que pressupõe a redução dos desperdícios e a otimização dos recursos, é uma condição absolutamente fundamental para a competitividade”, afirma.

E para assegurar essa competitividade é fundamental fazer-se rodear de bons parceiros. “Ter parcerias fortes e duradouras, quer com clientes quer com fornecedores, é importante para desenvolver o alinhamento necessário a todo este processo”, defende, acrescentando que, no entanto, “infelizmente da parte dos clientes, muitas vezes, o discurso da sustentabilidade não tem consequências práticas quando

o fator ‘preço’ fala mais alto”. Por isso, destaca, “a questão da competitividade é fulcral, embora nem sempre seja possível, nem desejável, competir com a oferta de países low cost”

Outro aspeto que classifica como importante na cadeia de valor, diz respeito aquilo que diz serem “as exigências que nos chegam, normalmente dos nossos maiores clientes, tais como os indicadores de redução de emissões e de autossuficiência energética, que somos encorajados a passar também aos nossos fornecedores”. Ora, sublinha, “sendo um caminho que ainda está no seu início na nossa indústria, acredito que será algo preponderante no futuro e que vai influenciar a seleção dos parceiros de negócio”.

Uma outra dificuldade neste caminho da sustentabilidade é, no seu entender, “encontrar permanentemente o equilíbrio certo entre o volume de captação de negócios e os preços que salvaguardam as margens necessárias”. Este, destaca, “é fundamental para assegurar uma rentável ocupação da capacidade instalada, e assim garantir que os recursos são utilizados da forma mais eficiente e sustentável possível”.

E adverte: “baixar preços para ganhar volume já se revelou catastrófico para muitas empresas do sector”. Mas, salienta, em contrapartida, que “só é possível uma empresa ser competitiva se conseguir garantir os níveis de ocupação que permitam uma correta otimização dos recursos”.

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Nuno Cipriano – VANGEST

SUSTENTABILIDADE DAS FINANÇAS INCREMENTA CRESCIMENTO DAS EMPRESAS

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FINANCIAMENTO SUSTENTÁVEL

Finanças sustentáveis que assegurem a rentabilidade dos negócios. Para além de uma estratégia assente em práticas mais amigas do ambiente e que assegurem melhor ambiente social, as empresas procuram formas de assegurar a sustentabilidade dos negócios, que permitam alavancar os negócios e crescer. Com as novas regras negociais, impostas, em muitos casos, pelos clientes, e as alterações na legislação que impõem datas de mudança tendo como prioridade a sustentabilidade, é necessária uma tesouraria firme que permita olhar o futuro sem receio.

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“A sustentabilidade e a responsabilidade social são nos dias de hoje marcas indissociáveis da nossa economia e sociedade”, considera Luís Pinto, consultor, adiantando que “as empresas assumem estas novas marcas na sua organização interna, na sua estratégia e na forma como se articulam com os seus parceiros”.

Lembra que a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, adotada por todos os 193 Estados-Membros das Nações Unidas, em 2015, “define as prioridades e aspirações do desenvolvimento sustentável global para 2030 e procura mobilizar esforços globais à volta de um conjunto de objetivos e metas comuns, estruturadas em torno de cinco princípios: Planeta, Pessoas, Prosperidade, Paz e Parcerias”. Adianta ainda que “são 17 os ‘Objetivos Estratégicos de Desenvolvimento Sustentável’ (ODS) que representam um apelo urgente à ação de todos os países para uma parceria global” e “reconhecem que a erradicação da pobreza e outras privações devem ser acompanhadas de estratégias que melhorem a saúde e a educação, reduzam a desigualdade e estimulem o crescimento económico ao mesmo tempo que combatem as alterações climáticas e preservam os ecossistemas”.

Por outro lado, e no seu entender “de forma ambiciosa”, a Europa “estabelece um novo paradigma de reporte de informação ESG (Environment,SocialandGovernance), a chamada informação não financeira, que se aplicará não só às empresas europeias, mas também às empresas não europeias que operam na Europa e cujos objetivos operacionais e quantificáveis estão estruturados em três pilares: Ambiental, Social e Governance, como forma de criação de valor substancial para a organização”.

E estas novas obrigações, salienta, têm “a mesma relevância das informações financeiras, integrando os documentos de prestação de contas e, portando, devendo ser auditadas”.

Crescimento económico

Luís Pinto sublinha ainda que “está cada vez mais na ordem do dia, no mundo financeiro, a expressão ‘finanças sustentáveis’, através da qual se procuram integrar os objetivos operacionais ESG nas estratégias, com o propósito de otimizar os impactos do sector financeiro e de contribuir para um crescimento sustentável da economia”.

Uma estratégia assente nas finanças sustentáveis, adianta, “pretende canalizar capital em atividades que contribuam para a sustentabilidade, nomeadamente as que foram já identificadas na ‘taxonomia das finanças sustentáveis’ referida no regulamento (UE) 2020/852 de 18 junho como sendo: a) a mitigação das alterações climáticas; b) a adaptação às alterações climáticas; c) a utilização sustentável e proteção dos recursos híbridos e marinhos; d) a transição para uma economia circular; e) a prevenção e o controlo da poluição, e; f) a proteção e restauro da biodiversidade e dos ecossistemas”.

Por seu turno, a Comissão Europeia “detalhou os critérios climáticos para os ‘investimentos verdes’, em que se inclui, a título de exemplo, a reabilitação de edifícios, fabrico de cimento, aço e baterias, entre outros sectores ”.

“Para conquistar o selo de sustentabilidade, uma determinada atividade deve contribuir para um dos seis objetivos ambientais da taxonomia e não impedir os outros cinco”,

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FINANÇAS SUSTENTÁVEIS

POTENCIAM CRESCIMENTO ECONÓMICO AO SEREM DIRECIONADOS PARA NOVOS

NÍVEIS DE COMPLIANCE E DE BOAS PRÁTICAS E AO SEREM GERADORAS DE VALOR PARA O NEGÓCIO

enfatiza. Por isso, destaca, “observando a agenda política e económica mundial, a questão já não é porquê, mas quando é que as empresas vão cumprir o compromisso ESG”.

No seu entender, “finanças sustentáveis potenciam crescimento económico ao serem direcionados para novos níveis de compliance e de boas práticas e ao serem geradoras de valor para o negócio”. E, mesmo sem estarem, por agora, obrigadas a atingir os objetivos ESG, “é já sentida pelas empresas, mesmo as PME, pressão por parte de alguns dos seus clientes para informação sobre o grau de cumprimento de tais objetivos, na medida em que os produtos ou serviços fornecidos integram a sua cadeia de valor”.

Ora, sustenta Luís Pinto, “o alheamento destas preocupações poderá ser um sério entrave à sua integração na atividade económica global, podendo excluí-las da cadeia de fornecedores de grandes clientes”.

Oportunidades

Para Luís Pinto, “outras implicações das finanças sustentáveis com efeito positivo na atividade das empresas são, nomeadamente: I) redução de custos – uma empresa que economiza matérias-primas, água e energia tem ganhos de eficiência; II) contributo para a redução de matérias-primas cada vez mais escassas; III) gestão da imagem com a perceção que se transmite para os seus parceiros potenciando negócios; IV) fidelização e atração de clientes que cada vez veem nas políticas para a sustentabilidade um ato de cidadania; V) redução do custo do capital face à crescente introdução da análise de risco dos fatores de sustentabilidade das empresas, além de que os fundos comunitários estão cada vez mais direcionados para

transição digital da economia e objetivos de sustentabilidade social e ambiental, e; VI) as novas políticas nacionais e europeias como por exemplo o Pacto Ecológico Europeu (o Green Deal) tenderão a obrigar/sugerir às empresas a dar ao consumidor final informação sobre a pegada carbónica, hídrica e social, ou seja, as empresas alinhadas com estas preocupações potenciam os seus negócios”.

Por isso, considera, o Quadro da sustentabilidade “é, sem dúvida, um grande desafio para as PME, principalmente quando, ao acabarem de sair de uma situação pandémica, entram numa conjuntura de elevada incerteza causada pela guerra que grassa na Ucrânia, a qual, tem desencadeado um conjunto de efeitos disruptivos nas principais variáveis económicas e financeiras”. E, defende, “resta às empresas transformar as dificuldades em oportunidades”.

“Atuar com impacto junto de cliente, fornecedores e da sociedade”

“O financiamento sustentável é uma questão que assume carácter urgente na Europa e no mundo. Por isso, as empresas têm de posicionar-se rapidamente, de forma a adotar novas formas de agir, que assegurem a sua competitividade e até continuidade futura”. Vítor Ferreira, professor do Departamento de Gestão e Economia do Instituto Politécnico de Leiria (IPL), e

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Luís Pinto – VITIS MANAGEMENT CONSULTING

O FINANCIAMENTO SUSTENTÁVEL

É

UMA QUESTÃO QUE ASSUME CARÁCTER URGENTE NA EUROPA

E NO MUNDO. POR ISSO, AS EMPRESAS TÊM DE POSICIONAR-SE RAPIDAMENTE, DE FORMA A ADOTAR NOVAS FORMAS DE AGIR, QUE ASSEGUREM A SUA

COMPETITIVIDADE E ATÉ CONTINUIDADE FUTURA

empresário, resume, desta forma, a premência que considera existir na sustentabilidade financeira dos negócios.

“Nas últimas duas décadas tem-se assistido a um esforço para que as empresas tenham uma responsabilidade social e corporativa mais ativa do que no passado; ou seja, para além de darem lucro e continuarem a existir, elas têm de definir prioridades para atuar com impacto positivo junto dos colaboradores, dos clientes, dos fornecedores, mas também da sociedade como um todo”. No seu entender, isto leva a que as empresas “tenham de criar uma noção diferente de responsabilidade, neste caso, responsabilidade social e ambiental”.

Até há não muito tempo, salienta, “o conceito era difuso, mas começou a ser importante que as empresas criassem modelos para comunicar de uma forma mais sistemática o que faziam, sobretudo para comunicar aquilo que era a sua atividade, para além da questão económica e financeira”. Atualmente, reforça, “uma empresa deve demonstrar o que faz como ator social e público, muito para além do simples reporte financeiro”.

Como salienta, “nos últimos 15 anos, o conceito e importância dos três eixos essenciais ESG (EnvironmentSocialGovernance) evoluiu muito. No entanto, nesta questão da sustentabilidade, não existe ainda um standarduniversal obrigatório para fazer reporte, embora existam linhas que estão todas ligadas entre si e que surgem plasmadas na GlobalReportIniciative(GRI)”.

Desta forma, apesar de não ser ainda obrigatório realizar este reporte há, no entanto, “um número significativo de empresas que já segue estas métricas”. No seu entender, é importante que as empresas se familiarizem urgentemente com estas questões. A GRI, sustenta, “tem imensos indicadores ambientais, mas também muitos deles do lado social, como transparência ou segurança, e tudo isto junto impacta no ambiente de trabalho e no ambiente social”.

Esta mudança, acentua Vítor Ferreira, nota-se sobretudo nas grandes empresas (nacionais e estrangeiras) que “já perceberam que, nesta questão, têm de ser mais ativas”. E há uma

razão evidente para que isto aconteça: “é que, quem financia e quem compra, preocupa-se também com estas questões. Algum financiamento público segue já esses requisitos, por isso esta questão é essencial como forma de assegurar o futuro das empresas”.

Despertar para a sustentabilidade

Vítor Ferreira alerta, ainda, que não é apenas o financiamento público a valorizar estas questões. O mesmo se passa, adverte, com outro tipo de apoios ao investimento, como os fundos, sejam eles privateequity, capital de risco ou de outro tipo. “Estes já começaram a reservar parte do seu montante para iniciativas que sigam e que mostrem métricas de sustentabilidade”, refere.

“Vivemos numa sociedade em que as redes sociais ajudam quer a melhorar, quer a destruir a imagem das empresas. As questões da sustentabilidade estão muito presentes nestes fenómenos de comunicação viral”, afirma, considerando que desde os fundos aos bancos, o escrutínio das empresas a apoiar é feito, atualmente, também em função do seu impacto no mundo e da imagem que transparece desse impacto.

“As empresas têm que demonstrar que cumprem e que criam iniciativas a esse nível”. Contudo, de uma maneira geral, a indústria não parece ainda muito desperta para estas questões.

“No próximo quadro de apoio 2030, muitos dos projetos vão ter exigências ESG, ou seja, a questão social, o ambiente e a sustentabilidade vão estar muito presentes e constituir prioridade no que diz respeito à aprovação dos projetos”, sublinha,

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Vítor Ferreira – DOCENTE POLITÉCNICO DE LEIRIA

acrescentando que “isto implica que as empresas, para além de valorizar estas questões com objetivos, devem também ser capazes de conseguir medi-las. As grandes empresas já o fazem/tentam fazer, mas uma grande parte ainda não começou sequer a fazê-lo e nem sabe como começar”.

É, no seu entender, o que acontece com muitas empresas de pequena dimensão. Mas esta, reforça, “não é uma questão de dimensão”. E exemplifica: se uma microempresa trabalhar para a indústria automóvel terá, provavelmente, de mostrar que está a seguir boas práticas sob pena de ser excluída da cadeia de valor.

Garantir o futuro

O incumprimento de critérios que permitam aceder aos fundos públicos, salienta, “pode condicionar a posição das empresas”. Mas as empresas parecem não ter ainda “urgência” de mudar. Como exemplo, recorda o que aconteceu na questão do Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD), que, em algumas empresas, foi implementado no último momento e quando se esgotava o prazo legal para o fazer. “As empresas não colocam esta questão como uma prioridade, porque não há datas quase a expirar, no entanto, quanto mais tempo demoram, mais difícil será a mudança”. Mas, sustenta, as empresas, do ponto de vista estratégico, “devem mudar antes de ser obrigatório”. É que, diz, “a História mostra-nos que aqueles que esperam, quando chega o momento de mudar já vão tarde, porque os que chegam primeiro, acabam por tirar partido da experiência que o tempo lhes dá”.

Em relação à indústria de moldes, considera que se trata de um sector que “em termos de cadeia de valor, está longe do consumidor e, por isso, não tem a visibilidade que têm outros, aos quais caberá fazer mais rapidamente a mudança, sob pena de perderem competitividade”. Mas mesmo que não haja a “pressão do cliente final, em termos de imagem corporativa”, essa pressão poderá vir dos clientes industriais. “Os empresários deviam estar preocupados com esta questão, não apenas a ambiental - que é mais visível - mas também a social”. “Crescentemente, as grandes marcas e fabricantes escolhem e monitorizam fornecedores, em função destes indicadores. Por isso, defende, as empresas “devem, o quanto antes, apostar na criação dos seus planos para a sustentabilidade, de forma a ganharem eficiência e diferenciação”. No entanto, acredita que a generalidade das empresas estará, a esse nível, um pouco atrasada.

“Todo este processo de mudança está a ser - e vai ser - muito rápido. Isso vai ser percetível quando as empresas se depararem com as candidaturas europeias e perceberem que, para as integrar, têm de ter métricas no domínio da sustentabilidade”. E para aquelas que argumentam que esta mudança representa um custo avultado, Vítor Ferreira contrapõe que se trata de “um investimento que permite que o desempenho da empresa venha a melhorar no futuro”.

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OS NOVOS MODELOS DE NEGÓCIO DESENVOLVER PARCERIAS PARA

GANHAR ESCALA E PODER NEGOCIAL

As empresas são unânimes: é impossível pactuar com o atual modelo de negócio que permite que, contratualmente, os clientes possam financiar-se nos fabricantes de moldes. Por isso, a indústria procura soluções que permitam ganhar poder negocial. A criação de parcerias entre empresas, de forma a ganharem escala, bem como a oferta mais alargada de serviços aos clientes são as soluções que, à partida, reúnem maior consenso.

GRUPO GLN: Sustentabilidade fundamental para assegurar futuro dos negócios

A aposta na sustentabilidade, nas suas vertentes ambiental, financeira e social, vai ser fundamental para assegurar o futuro das empresas. A convicção é de Rui Ângelo, CEO do Grupo GLN, para quem a decisão de colocar esta questão como uma prioridade – algo que, sustenta, tem de ser feito – parte dos decisores das empresas. “Existe preocupação, mas esta tem de ser acompanha por passos concretos”, defende.

“Não podemos manter o mindsetque existia antigamente, que ‘o mais importante é fazer um molde apenas para dar dinheiro’, pois estaremos limitados a um negócio de curto prazo. Haverá sempre uma ou outra oportunidade para manter negócios desse tipo, mas temos de encarar a realidade para ter sucesso no futuro: o mundo mudou, os nossos parceiros das cadeias de produção já começam a exigir de nós estratégias assentes na sustentabilidade e, por isso, se não tivermos cuidados com o

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SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA

ambiente, com a segurança, com as implicações do nosso negócio, sejam ambientais ou sociais, deixaremos de ser competitivos”, adverte.

No seu entender, isto não significa que o atual modelo de negócio inerente ao fabrico e venda do molde, deva ser abandonado. Deve, sim, ser “repensado e reestruturado”, tendo em conta, sobretudo, as questões da sustentabilidade. “Quando olhamos para a realidade das nossas empresas, sabemos que é difícil conseguirmos encontrar uma forma de estar bem em todos estes pontos, mas há alguns que dependem de nós, como as questões sociais. As ambientais também, apesar de serem um pouco mais complexas”, afirma. Exemplifica com questões que estão em cima da mesa das preocupações do sector, como os aços ‘verdes’ ou os novos materiais, como o plástico reciclado e reciclável, para considerar que o objetivo é ir dando passos, caminhando na direção correta, procurando tornar as empresas mais eficientes a esse nível.

No seu ponto de vista, estas alterações têm de ser acompanhadas de inovação tecnológica. Os moldes portugueses, acentua, competem com empresas internacionais, em muitos casos integradas em mercados muito mais poderosos. “Quer isto dizer que temos de elevar o nível de competitividade mas se tentarmos competir apenas baseados no preço, não teremos bom resultado”, defende. Por isso, “o caminho é continuar a apostar na diferenciação”. Destaca que as empresas têm de aproveitar o benefício de estar próximas geograficamente

de alguns players, o que permitirá trabalhar em conjunto com os seus clientes no antecipar de soluções para aquilo que sejam as suas necessidades.

Aponta como exemplo o molde para considerar que, possivelmente, encontrar formas de o reciclar após o seu tempo útil de produção, poderia ser uma das possibilidades. “Temos contratos nos quais o molde tem de resistir durante mais de 10 ou 15 anos quando o seu tempo de vida a funcionar é metade. Se calhar, não há necessidade desse período tão longo de tempo e podemos trabalhar no sentido de o recuperar mais cedo, tirá-lo da prateleira”.

Mudar o negócio

No seu entender, é a mudança associada a estas e outras questões que ajudará a indústria a ser mais sustentável. “Não vejo a solução centrada na criação de um novo modelo de negócio, mas antes de uma adaptação do que existe, alterando algumas questões, como alguns pontos dos contratos, que se calhar já não fazem grande sentido”, defende.

O primeiro passo, considera, é a mudança de mentalidade de quem gere as empresas. “Quando pensamos, por exemplo, nas condições contratuais do que tem sido o modelo de negócio até agora, nas quais o cliente paga um valor à partida, percebemos que, devido às alterações no mercado, os fabricantes de moldes para terem negócios precisam de estar preparados para financiar os clientes”, salienta, considerando que, neste aspeto, terá de encontrar-se uma

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Rui Ângelo – GRUPO GLN

forma que permita às empresas “não terem as suas tesourarias asfixiadas que, basicamente, é o que está a acontecer a uma grande parte delas”.

A solução desta situação pode ser, em alguns casos, alterar a forma de funcionamento do modelo de negócio. E, em termos de futuro, talvez avançar com a criação de um modelo diferente. “Se pensarmos num novo modelo, este terá de passar por uma inversão desta tendência de os clientes se financiarem nos fornecedores, porque se isso não acontecer, criará situações complicadas às empresas”, sustenta.

Um outro aspeto que crê que apoiaria as empresas a ultrapassar esta questão seria a criação de parcerias que ajudariam as empresas a ganharem escala e a poder negociar junto dos seus clientes e fornecedores. “Esta poderia ser uma forma de fazer um efeito travão, através da união das empresas. Em conjunto, creio que será mais fácil fazer entender aos clientes que o caminho não pode ser o que estão a seguir neste momento. Temos de estabelecer relações de parceria que sejam positivas para todos os lados”, defende. Mas, adverte, “para que estas parcerias funcionem, é preciso que as empresas estejam todas alinhadas”, sendo este um ponto a destacar e refletir, pois em Portugal não existe habitualmente esta cultura. E esse passo tem de ser dado com alguma celeridade. “Se não tomamos medidas, entretanto, começamos todos a sentir o efeito bola de neve: o cliente atrasa pagamentos ao fabricante e este não consegue cumprir com os seus fornecedores”, sustenta. Por isso, a criação de escala é, no seu entender, fundamental, porque assegura uma cadeia de abastecimento estável.

Especialização

Lembrando as mais de sete décadas de história do sector e as muitas crises ultrapassadas, Rui Ângelo mostra-se convicto de que as empresas saberão encontrar o seu caminho e vencer este período de adversidade.

“Acho que temos que nos focar e tentar entender quais são as oportunidades reais que temos e, de uma forma prática e objetiva, dar os passos com rapidez para conseguirmos estabelecer parcerias e ganhar escala”, sublinha, lembrando que, noutros sectores, há exemplos de casos de sucesso que a indústria poderia seguir.

E esta forma de atuar é mais vantajosa do que, por exemplo, avançar com aquisições ou fusões. “Não me parece vantajoso passar para uma situação em que o sector iria concentrar-se apenas em meia dúzia de fornecedores”, enfatiza, considerando que a maior vantagem competitiva continua a ser a manutenção de um conjunto mais alargado de empresas, de diferentes dimensões, mas que se distingam pela especialização em determinadas áreas.

“Isto dá-nos mais flexibilidade, mais competitividade e mais especificidade em determinados produtos”, permitindo abrir portas em mercados variados. Mas não tem dúvidas de que, para ser competitiva, uma empresa precisa de alargar o leque de oferta de serviços ao seu cliente. Cita o exemplo do grupo que administra para revelar que “hoje, não conseguimos viver só com os moldes, a não ser em casos pontuais de elevadíssimo teor de especialização e diferenciação”.

A GLN, explica, “não quer existir apenas como uma empresa de moldes; estamos a apostar também nos plásticos e queremos é que a área de moldes beneficie com o crescimento dos plásticos”. Porque, salienta, “se só vivemos das encomendas que vêm dos clientes específicos de moldes, estamos mais expostos e mais vulneráveis”, enquanto que com a verticalidade e a utilização das sinergias entre ambas as áreas “permite-nos ser mais completos na proposta e competitivos”.

Para alcançar a sustentabilidade, defende ainda, “é preciso dar passos consistentes no sentido daquilo que temos de atingir para sobreviver. É certo que ninguém consegue fazer isso sozinho, e é preciso também coragem”. No seu entender, o caminho passa pela verticalização e pela diferenciação. Estas, diz, “são essenciais, seja para a capacidade interna de mudança, mas sobretudo no relacionamento com os parceiros”

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SIMOLDES: Acautelar planeamento, organização e gestão para ganhar sustentabilidade

“No modelo convencional, a indústria de moldes era e foi sendo uma indústria forte e atrativa, gerava negócio, rentabilidade, pagava bem e ainda permitia margem para atrair pessoas com salários interessantes. Sendo um sector de capital tecnológico intensivo e know-how técnico importante, foi crescendo e este crescimento permitiu ir acomodando de tudo um pouco, desde as empresas que primam pelo bem fazer, a outras que acabam por beneficiar sem ter de fazer muito. E foi-se desenvolvendo apesar de, em algumas organizações, haver uma notória falta de capacidade de gestão, de planeamento e de otimização”. A opinião, em jeito de balanço do passado da indústria de moldes, é assim partilhada por Gonçalo Caetano, do Grupo Simoldes.

E logo depois deste resumo, coloca o discurso no presente para considerar que, atualmente, há questões essenciais às quais as empresas não estão a dar a devida atenção. Como exemplos refere o planeamento, a organização e a gestão, considerando que, numa lógica de sustentabilidade, são questões essenciais.

“O negócio está mais difícil devido, sobretudo, à indefinição que ainda caracteriza a indústria automóvel – o principal cliente dos moldes nacionais”, acentua, mostrando-se convicto de que, seja qual for a decisão dessa indústria, “vai sempre ser preciso um molde”. Por isso, acredita que, uma vez clarificadas as principais questões relacionadas com a mobilidade, a procura por moldes será retomada.

Por outro lado, acrescenta, “o negócio está mais difícil porque as margens são mais curtas e a rentabilidade também”, para além de “estarem a ser colocadas nas nossas empresas responsabilidades maiores devido às condições de recebimento – são mais alargadas no tempo e estão cada vez mais dependentes do uso”. Esta questão, exemplifica, está já a

promover a criação de modelos de pagamento em função da utilização, disponíveis já em alguns mercados.

Mas uma das principais dificuldades, sentida com maior intensidade neste momento, é a dimensão das empresas. “Os fabricantes estão apertados entre as grandes empresas-clientes de um lado, e os grandes fornecedores do outro”, salienta. No seu interior, as empresas vêem-se a braços com outras dificuldades, como a atração e retenção de pessoas.

Cooperação

Tudo somado, acrescenta, “gera grandes constrangimentos nas empresas”. E, reforça, “a nível de contexto, o molde é um produto de altíssima tecnologia, mas da forma como é negociado, acaba por ter um valor quase indiferenciado, com exceção dos moldes de grande precisão ou de grande dimensão”.

E a quantidade de empresas é, no seu entender, um outro problema, acreditando que, devido ao atual contexto, nem todas conseguirão sobreviver. Por isso, considera que a solução “é ganhar escala”. E isso, adianta, faz-se por aquisição, por fusão, por crescimento orgânico ou de uma forma que considera ser a que reúne mais vantagens para o sector: por cooperação empresarial.

Esta, salienta, “permite ganhar a escala necessária e possibilita, por exemplo, aceder a uma gama alargada de recursos, para além de diluir riscos”.

Um dos exemplos que aponta são os consórcios. Muitas empresas têm alguma experiência nesta lógica de funcionamento, devido à participação em projetos de I&D, lembra. Mas a cooperação pode estender-se a várias áreas, como a partilha de compras ou de instrumentos de gestão, que permitem melhores performances, para além da partilha de recursos a nível, por exemplo, da gestão de pessoas.

A seu ver, “há toda uma eficiência coletiva sobre a qual mereceria a pena o sector debruçar-se. E acredito que este é o caminho”. É que, sustenta, “as empresas têm de crescer e haver mais grupos grandes e com maior capacidade negocial e, nesse sentido, a cooperação é decisiva porque permite criar escala. Com isto, consegue-se melhorar a internacionalização, entre muitos outros aspetos”.

Uma outra vantagem que elenca na cooperação é a possibilidade de “criação de estruturas profissionais de gestão”. Por outro lado, sustenta, “permite também a capitalização e acesso a financiamento”, algo que, sublinha, “é essencial para muitas empresas que estão descapitalizadas”.

“Instrumentos de acesso ao financiamento e o mercado de capitais, empréstimos obrigacionistas e investidores internacionais olharão de outra forma para as empresas, se houver esta lógica de escala e de modelos de cooperação”, afirma, enfatizando que existem ainda outras vantagens, como a possibilidade de “rejuvenescimento dos modelos de gestão e governance” e ainda “uma ação mais concertada para atrair recursos humanos”.

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Gonçalo Caetano – Simoldes

Acrescentar valor

Para além da cooperação, as empresas têm, também, de olhar para si próprias e acrescentar valor aos mercados. “Isto significa que no processo produtivo, temos de começar mais cedo e acabar cada vez mais tarde, de forma que o molde deixe de ser uma commoditycom pouco valor acrescentado”. Para isso, “é fundamental conseguir trabalhar em conjunto com o seu cliente e começar mais cedo a sua intervenção no processo, seja através de estudos de design e, no final, prolongar os serviços associados ao molde. Ou seja, entrar numa lógica de venda de molde associada a um conjunto de serviços, sejam eles, por exemplo, o fabrico aditivo, mas também a venda de serviços de manutenção”.

“Estas abordagens de eficiência coletiva não são uma questão nova na indústria; têm sido faladas ao longo dos anos e sabemos que não é fácil conseguir pô-las em prática”, salienta, adiantando que “não é possível a sobrevivência desta indústria sem esta lógica de cooperação entre as empresas”. E isto, adianta, “tem como meta a sustentabilidade dos negócios”, na qual, acrescenta, “a questão ambiental é incontornável”.

Lembrando que, de uma maneira geral, todas as empresas têm investido nesta área, acentua que se trata de “uma questão estratégica”. Tanto assim que, esclarece, “os clientes começam já a exigir algumas medidas e algumas garantias, como os relatórios de sustentabilidade”.

Ora, defende, “a sustentabilidade é inerente à estratégia”. Por isso, esta tem de contemplar projetos e métodos sustentáveis, passíveis de ser medidos e certificados. Mas é preciso, adverte, olhar também para a sustentabilidade social: para as pessoas que estão nas empresas e cuidar dos postos de trabalho.

“É toda uma mentalidade que é preciso mudar e que está assente na cultura da empresa. Por isso, é fundamental que estas questões entrem na lista de prioridades das empresas, de forma a que conquistem maior eficiência”, considera.

“A indústria de moldes tem de admitir que precisa de muita ajuda para concretizar esta mudança. Mas há experiências noutros sectores que podem servir de exemplo para o nosso. E o caminho passa por avançar para uma experiência-piloto, se assim quisermos chamá-la, como ação de demonstração. Trazer para a indústria especialistas na área, para apoiar e acompanhar o processo e alertar a política pública para a necessidade da criação de mecanismos que permitam capitalizar as empresas”, defende.

DRT: Cooperar para ganhar escala e dimensão e enfrentar a concorrência internacional

A mudança é uma necessidade. As empresas estão a braços com um conjunto de dificuldades que impedem o seu crescimento e constituem, até, entraves a que consigam vencer os seus principais concorrentes, dentro e fora da Europa. É desta forma que Sónia Calado, do grupo DRT,

caracteriza, em síntese, o momento que as empresas enfrentam, defendo como solução a cooperação: um passo essencial para assegurar a estabilidade dos negócios e contornar as adversidades.

“Não digo que, com isso, conseguiríamos combater todos os problemas com que nos deparamos neste momento, mas teríamos, por certo, mais sucesso, trabalhando em cooperação, aumentando a nossa escala e enfrentando, mais bem preparados, a nossa concorrência”, explica.

Sem essa cooperação, o que acontece, na prática, sustenta, é que “andamos a concorrer uns com os outros, internamente, em Portugal, esmagando preços, comprometendo negócios e, acima de tudo, colocando em risco a imagem de um sector que sempre pugnou pela excelência”.

Por isso, defende a criação de um novo modelo de negócio, assente na cooperação, considerando que, “se nos juntássemos, criando uma estratégia consistente, de forma a alcançar escala e dimensão, acho que teríamos todos a ganhar”.

No seu entender, definindo um conjunto de regras, isso permitiria que as empresas mantivessem a sua individualidade e especialização, independentemente da sua dimensão, mas tendo a possibilidade de trabalhar inseridas num conjunto, sempre que fosse possível e necessário. “Temos de nos ver como parceiros e beneficiar dessas parcerias, senão muitas das empresas não conseguirão ultrapassar esta fase”, salienta. Contudo, se na teoria este passo parece benéfico, na prática tem sido muito difícil de dar. “Acho que a mentalidade do próprio tecido empresarial português tem sido o maior impedimento, porque, em Portugal, e sobretudo nas pequenas e médias empresas, ainda há um sentimento de posse muito enraizado”, afirma, advertindo que, “enquanto isso não for ultrapassado, enquanto o empresário português não perceber a enorme vantagem de trabalhar em cooperação ou até abrir o capital a que haja troca de participações entre empresas do mesmo sector, é muito difícil criar qualquer fórmula de cooperar”.

É necessária uma mudança de mentalidade. E isso, admite, “não é fácil de acontecer”. No entanto, acentua, “teríamos todos a ganhar se o conseguíssemos fazer”. Desde logo, exemplifica, “ganharíamos a possibilidade de regular o mercado, evitando que concorrêssemos entre nós; depois, teríamos escala para competir com os nossos concorrentes internacionais; e, acima disso, conseguiríamos ter dimensão suficiente para conseguir negociar de outra forma junto dos nossos clientes, fornecedores e entidades do sector financeiro”.

E a escala que se alcançaria, defende ainda, permitiria não apenas ganhar capacidade de produção, mas até serviria de apoio ao equilíbrio das tesourarias das empresas. “Esta possibilidade tem sido muito falada ao longo dos anos, mas creio que chega um momento em que deveríamos passar das palavras aos atos. E este talvez seja esse momento, apesar de, até agora, tudo isto ser ainda muito teórico e até utópico”, adianta, salientando que, no fundo, “está tudo dependente de um único passo: a vontade de querer fazer”.

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Medidas de apoio

E a vontade, acrescenta, está, por vezes, condicionada por outras questões que exigem das empresas uma atenção mais imediata. “As empresas não têm força para olhar mais além porque andam concentradas a tentar encontrar soluções para os seus próprios problemas que, em alguns casos, são muitos e graves”, considera.

Defende que é essencial apoiar o tecido empresarial nesta fase e que isso tem de ser feito pela força governamental e das entidades do sistema financeiro. “Tem que haver a intervenção direta dessas entidades, de forma a que se criem medidas que ajudem as empresas a, por exemplo, terem alguma folga de tesouraria”, esclarece, lembrando que “as empresas estão muito endividadas, devido a todas as adversidades conjunturais passadas e presentes, agravadas pela subida das taxas de juro e pelo aumento de preços de matérias-primas e energia”.

A situação é, a seu ver, “incomportável” e, por isso, “se não houver medidas que permitam às empresas ter algum alívio nas suas tesourarias, uma grande parte delas não vai conseguir cumprir todos os seus compromissos financeiros”.

As medidas, adianta, poderiam passar por questões simples como “permitir às empresas dilatar os prazos de pagamento de financiamentos bancários e reembolsos de projetos de investimento, a possibilidade de alteração das metas do PT2020, a diminuição de prazos de recebimento dos pedidos de pagamento submetidos ao IAPMEI”. Lembra que a indústria de moldes tem grandes especificidades. Uma delas é a dependência da conjuntura internacional, uma vez que se trata de uma indústria exportadora. “As empresas estão expostas a todas as consequências da economia internacional. E a verdade é que os mercados, lá fora, estão parados ou em grande abrandamento”, salienta, acrescentando que, para além disso, “a concorrência tem sido muito forte, até de países como, por exemplo, Itália ou Alemanha, países onde os governos apostam fortemente nas empresas, ao contrário do que tem acontecido com a nossa indústria”.

As empresas, adianta, têm tentado encontrar soluções para contornar estes obstáculos. E, por vezes, “estar tão concentradas na resolução dos seus problemas imediatos, faz com que as empresas não consigam ter tempo para olhar de forma mais abrangente e, por isso, seria fundamental conseguir encontrar um método de as unir”.

E se, para algumas empresas, a gestão mais profissionalizada tem conseguido evitar alguns problemas, para outras, está a ser difícil conseguir vencer as adversidades. “Algumas vão, inevitavelmente, ficar pelo caminho. E isso é muito preocupante porque significa que o sector vai perder massa crítica. As empresas pequeninas vão fazer muita falta, porque sem elas, se subsistirem apenas as maiores, será mais difícil manter a qualidade/quantidade do nosso serviço”, adverte, considerando que “a nossa indústria está a passar por aquilo que serão os momentos muito complexos da sua história”. Por isso, considera, “ou nos unimos ou alguém tem de olhar para a nossa indústria de uma outra forma”, sob pena de comprometer o seu futuro.

“O nosso sector é de grande valor acrescentado, de vanguarda tecnológica, é importante para o país e se se perder esta quantidade de empresas, isto será um problema, não apenas social, como também para o desenvolvimento da região e até do próprio país. Temo que isto não esteja a ser devido ponderado pelas entidades competentes que têm capacidade de intervenção nesta questão”, sublinha.

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Sónia Calado – DRT

A IMPRESCINDÍVEL APOSTA NA CRIAÇÃO DE AMBIENTES DE TRABALHO FELIZES

Olhar para as pessoas e rodeá-las de ações e atividades em que se sintam bem. Cuidar do seu bem-estar e da sua felicidade. Esta tem de ser, cada vez mais, uma das metas das empresas: têm de conseguir criar estruturas que desenvolvam junto dos seus colaboradores a vontade de ficar e que consigam atrair novas pessoas, assegurando a continuidade. Para que tal seja possível, é fundamental que as pessoas estejam no topo das prioridades das organizações.

Pessoas a sentirem-se bem no desempenho das suas funções e no seu ambiente de trabalho. Esta pode ser, de acordo com Artur Ferraz, consultor na área de Gestão de Pessoas, uma das definições de sustentabilidade social aplicada ao mundo empresarial. As pessoas, salienta, são a primazia de toda a organização. Os bons ambientes de trabalho são a chave para assegurar o futuro das empresas.

“Pessoas integradas em ambientes de trabalho onde se sintam bem garantem a estabilidade do negócio e o sucesso da empresa”, sintetiza, advertindo que para se conseguir isso, é fundamental que esse espírito de “cuidar das pessoas” faça parte da cultura da empresa.

Esta é, na sua opinião, a realidade de hoje. É com ela que as empresas têm de contar. “É preciso que as empresas olhem em volta e percebam que não podem estar no século XXI com a mesma mentalidade que havia no século XX”, alerta. “Se as empresas não criarem os seus gabinetes de Gestão de Pessoas, dificilmente conseguirão integrar bem os profissionais que chegam ao mercado de trabalho e reter os que têm nas empresas”, sublinha, adiantando que “é necessário olhar para as pessoas e criar estruturas que as apoiem, a vários níveis, a sentirem-se bem no local de trabalho”.

Este, defende, é um caminho que tem de ser percorrido, uma vez que nem todas as empresas se estão a aperceber

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SUSTENTABILIDADE SOCIAL

da premência da mudança na forma como olham para os seus colaboradores.

“Muitas empresas acreditam que para ter implementada a Gestão de Pessoas é preciso ter dimensão, mas isso não é verdade. Independentemente do tamanho, a organização tem de dar prioridade às suas pessoas e só o consegue se apostar numa estrutura que dê resposta às necessidades das pessoas”, considera. O problema, no seu entender, é que muitas empresas nasceram com o seu fundador e foram crescendo à sua imagem, centrando-se no sucesso do negócio, e quando se tornaram evidentes algumas carências relacionadas com as pessoas, havia já procedimentos e hábitos enraizados e difíceis de alterar.

“É fundamental que as empresas contemplem a questão das pessoas nos seus planos de negócio, de organização, de crescimento”, defende.

“Ao nível do planeamento há uma carência grande. Por exemplo, das dificuldades de estruturar a organização, uma das situações que encontramos com frequência é as pessoas não saberem o seu papel ou os níveis de responsabilidade que têm na organização. Noutros casos, a equipa de gestão de pessoas é responsável por praticamente todo o processo, mas não participa no recrutamento”, exemplifica, asseverando que, desta forma, “é difícil que as coisas possam correr bem”. É que, enfatiza, o sucesso da empresa reside na eficácia

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do papel da gestão de pessoas. É este que garante a sustentabilidade organizacional, em três áreas fulcrais nas empresas: captar, reter e gerir.

A imagem

As pessoas gostam de estar em empresas onde se sentem bem. Criar bons ambientes de trabalho ajuda a reter. Mas não basta. As empresas têm de saber comunicar essa sua prioridade para o exterior, de forma a conseguir atrair novos talentos que acrescentem valor. Por isso, defende, “as empresas têm que saber fazer chegar essa imagem cada vez mais cedo junto dos jovens, mostrando a sua vantagem competitiva e assim atraindo as novas gerações”.

É que, reforça, “a indústria compete, hoje, com muitas outras áreas profissionais. E a área industrial não tem e nunca teve uma imagem atrativa”. Por isso, uma das questões que considera essenciais é que as empresas apostem em estratégias de marketing capazes de atrair os jovens.

“O mundo mudou: as empresas têm de ter isso presente. Hoje, preparar uma empresa para o futuro é diferente do que se fazia no passado e é impossível fazê-lo sem acautelar a vertente social. É fundamental olhar para as pessoas e encontrar formas de valorizar o seu papel”, afirma.

“São as empresas que têm de mudar a sua forma de olhar para esta questão e ir ao encontro dos novos quadros porque são eles, na sua forma de estar e ver o mundo, que ficarão para assegurar o futuro do negócio”, salienta, enfatizando que, em simultâneo, “as empresas não se podem esquecer nunca de olhar também para aqueles que já cá estão, para que se sintam motivados e ajudem a organização a crescer”. “Esta mudança demora mais tempo a fazer nas empresas que estão há mais tempo no mercado e que não têm estrutura de Gestão de Pessoas criada. Têm de o fazer, destruindo hábitos enraizados e vícios antigos”, acrescenta.

Todos os passos têm de ser pensados e planeados, incluindo as pessoas. Até porque, por exemplo, todas as empresas têm a necessidade de assegurar a passagem do poder para as gerações seguintes, seja a nível de sucessão da administração ou na delegação de poder nas linhas de produção. “É preciso que as empresas confiem nas suas pessoas e que o demonstrem, delegando autonomia”, sustenta, considerando que, caso contrário, “é difícil criar um movimento sustentável de sucessão”. Para conseguir isso, é necessário trabalhar na “inclusão” das pessoas, ouvindo-as, valorizando-as, dando-lhes oportunidade de crescer na organização.

Um aspeto fundamental é que as empresas tenham clarificadas as questões relacionadas com as pessoas.

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Artur Ferraz – IBC INTERNACIONAL BUSINESS CONSULTING

O MUNDO MUDOU: AS EMPRESAS TÊM DE TER ISSO PRESENTE. HOJE, PREPARAR UMA EMPRESA PARA O FUTURO É DIFERENTE DO QUE SE FAZIA

NO PASSADO E É IMPOSSÍVEL FAZÊ-LO SEM ACAUTELAR A VERTENTE SOCIAL

“Muitas empresas vão adiando esta questão e, muitas vezes, ficam num limbo organizacional: não avançam com medidas ou decisões e a consequência imediata é que as pessoas, sobretudo as jovens, não se sentem estimuladas e não ficam muito tempo nessas organizações”.

E hoje, reforça, “concorremos com empresas fora de Portugal e atendendo aos salários que se praticam no nosso país, não podemos competir nessa questão”. Por isso, as empresas têm de pensar em medidas que valorizem e estimulem as suas pessoas e as façam querer lá permanecer.

“É muito importante fazer com que as pessoas da organização tenham vontade de cativar outras para ir para o seu lado. Esse é o garante do futuro e de sustentabilidade da empresa”, considera, adiantando que, a este nível, “as empresas têm ritmos e estágios diferentes de desenvolvimento: há empresas a fazer bem o seu trabalho; para outras, esta não é ainda uma prioridade; e outras não começaram sequer a olhar para estas questões”.

SOMEMA: Retribuir às pessoas o bem que representam para a empresa

Uma empresa socialmente sustentável é aquela que está empenhada em distribuir pelos seus colaboradores aquilo que, na prática, eles a ajudaram a alcançar. Assim o entende Fernando Vicente, da Somema, para quem as pessoas são o fator diferenciador das empresas. No fundo, de acordo com o que defende, trata-se de um movimento de circularidade, tendo por base o reconhecimento e a valorização.

Mas esta circularidade não se fica pelo interior das organizações. Para além dos seus colaboradores, a empresa tem de olhar para o exterior, valorizar o papel da sociedade no seu desenvolvimento e retribuir. “Há que, primeiro, internamente e só depois focar o exterior. Mas devemos estar atentos a tudo à nossa volta, sejam instituições ou aqueles que necessitam de ajuda e apoios.

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Uma empresa não pode viver isolada, tem de olhar para a comunidade onde está inserida e ser parte ativa no contributo da sua melhoria. É que toda essa harmonia contribui para o sucesso da empresa”, explica.

No caso das suas pessoas, salienta a necessidade de criar condições que melhorem o ambiente de trabalho e o bem-estar. O salário, considera, é um fator importante, mas não é o único a considerar nesta questão. “Há toda uma responsabilidade social associada ao bem-estar das pessoas a que devemos atender”, afirma.

“Uma empresa pode ter um bom ambiente de trabalho sem ser a melhor empresa do mundo”, considera, adiantando que “é fundamental contribuir para a criação de condições que permitam às pessoas viver melhor: para além do salário, as empresas podem criar outros atrativos, como seguros de saúde ou cartões de combustível, para além de medidas de apoio à família”.

O essencial, destaca, “é que consigam fazer com que as pessoas se sintam valorizadas e motivadas”. Mas, adverte, “para que isso aconteça, as empresas têm de estar numa fase estável e concentradas em promover melhorias a toda a organização. Ou seja, há uma sustentabilidade –que é a económica – que pesa no desenvolvimento da sustentabilidade social”.

No seu entender, “todas as questões da sustentabilidade estão interligadas e só dessa forma se consegue

a sustentabilidade social e esta, no fundo, resume-se a que as empresas consigam ter esse papel fundamental que é contribuir para a paz e conforto social”.

Atrair jovens

Primar pelos ambientes de trabalho mais positivos é, no seu entender, apenas uma das prioridades. A outra passa por conseguir chegar aos jovens e atraí-los para as empresas. “É certo que neste sector nunca houve abundância de pessoas. Desde há muito que as empresas

OS JOVENS QUE ESTÃO AGORA

A CHEGAR ÀS EMPRESAS

VALORIZAM MUITO MAIS

A QUALIDADE DE VIDA, O

EQUILÍBRIO ENTRE TRABALHO

E LAZER E VEEM COM AGRADO

TODO UM CONJUNTO DE BENEFÍCIOS QUE VAI MUITO

PARA ALÉM DO SALÁRIO

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procuram ir às escolas e ter ligações com as escolas de forma a contribuir para a formação dos jovens que recebem. Mas uma coisa é certa: de forma a juntar mais os jovens à indústria, seria fundamental que os alunos passassem mais tempo nas empresas, de forma a assimilarem uma melhor imagem da que a que têm”, afirma.

É que, sublinha, “enquanto não conseguirmos atrair mais os jovens para as empresas, lutamos com uma carência de mão-de-obra e, atendendo à escassez que existe no nosso país, temos de recrutar fora”. Ora, enfatiza, as empresas portuguesas não conseguem, devido à diferença salarial, competir com países europeus. Por isso, a mão-de-obra que conseguem recrutar tem outras origens, como, por exemplo, a India. “Já tivemos de passar por isso: são processos muito complexos e nem sempre garantem resultados satisfatórios”, conta.

No seu entender, “é evidente que a digitalização, a automatização e a robotização vêm ajudar as empresas que, ao adquirir estas tecnologias, conseguem aumentar a produtividade. Vamos precisar de menos pessoas na produção propriamente dita, mas vamos precisar de mais pessoas como aquelas que já temos hoje, para ajudar a preparar a produção, de forma que esta seja mais eficiente para fazer bem à primeira”. “Ou seja, continuamos a precisar de pessoas, mas com outras valências: mais capazes, que pensem mais e produzam mais trabalhando menos, e ajudem a organização a crescer”, acrescenta.

No caso das novas gerações, Fernando Vicente assegura notar diferenças. “Os jovens que estão agora a chegar às

empresas valorizam muito mais a qualidade de vida, o equilíbrio entre trabalho e lazer e veem com agrado todo um conjunto de benefícios que vai muito para além do salário. Aliás, o dinheiro nem é, muitas vezes, a questão essencial para esta nova geração”, relata, defendendo que “é muito importante que as empresas consigam perceber isto e ir ao encontro das expectativas”.

É que, sustenta, “os jovens procuram algo diferente, e isso implica, muitas vezes, que a empresa tenha de ser criativa e oferecer às pessoas algo fora da caixa”. No caso da sua empresa, sublinha, a questão das pessoas é vista com grande atenção por parte da administração. “Somos uma estrutura relativamente pequena e procuramos estar atentos a tudo isto, juntamente com a área de Recursos Humanos e as chefias. Em conjunto, vamos tendo iniciativas que, por vezes, são pequenas coisas, mas que fazem as pessoas sentirem-se mais bem integradas e valorizadas e isto acaba por criar satisfação e conforto”.

Reforça ainda que, se nas empresas jovens esta questão é complexa, para empresas como a Somema, com uma longa história, “é necessário, por vezes, romper com hábitos que se foram mantendo durante décadas”.

A empresa, diz, “tem de adaptar-se e muito rapidamente porque o mundo mudou muito. E mudou muito depressa”. Hoje, adianta, “temos condições e estamos atentos para ver o perfil das pessoas que nos chegam, de forma a percebermos qual a melhor forma de as enquadrar nas equipas. Mas temos de ter flexibilidade para mudar sempre que necessário”.

MOLDIT: No futuro, empresas não terão pessoas para as tarefas manuais

Caminhar para a sustentabilidade é um processo que exige mudança. As empresas têm de apostar mais na digitalização, de forma a substituir as tarefas manuais. Até porque, no futuro, não haverá pessoas em quantidade para assegurar essas tarefas. E, no presente, os recursos humanos que chegam às empresas preferem ser mais ‘controladores’ de automatismos e menos ‘operadores’ manuais de produção. Nuno Silva, da Moldit, defende que este processo de mudança é necessário e inevitável porque é o garante da competitividade, mas também da continuidade das empresas. O primeiro passo para esta mudança passa por alterar “a cabeça dos líderes”.

“Este caminho só se faz se os líderes estiverem conscientes de que tem de ser feito. No futuro, nós não vamos ter pessoas para fazer as tarefas manuais. Os sistemas de produção têm de, rapidamente, converter-se. Até porque, só dessa forma se conseguirá assegurar a questão da competitividade”, sustenta.

As pessoas são, no seu entender, a prioridade das empresas. Por isso, quando pensa em sustentabilidade,

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Fernando Vicente – SOMEMA

o aspeto social surge com destaque. Mas, defende, “a sustentabilidade é, sobretudo, um processo de equilíbrio entre aquilo que é o negócio e o que é a utilização dos meios e das matérias para a produção, de forma a preservar ao máximo o nosso planeta”.

Nesta simbiose, adianta, “conseguimos ter a forma mais eficiente, seja económica, ambiental e social: uma empresa, para ser sustentável, tem de olhar muito para a questão da utilização das matérias, mas também para os processos produtivos e, ao mesmo tempo, para as vertentes económica e social”. É que, sublinha, “o desequilíbrio não permite que exista uma sustentabilidade global, ou seja, estamos a privilegiar apenas um dos aspetos e, com isso, colocamos em risco a continuidade da organização”. E uma empresa, enfatiza, “é uma organização criada sem fim à vista, ou seja, sem previsão de data de fecho; pelo contrário, tem o objetivo de perdurar no tempo”. Para que isso aconteça, tem de ser sustentável.

No seu entender, as questões ambientais representam, hoje, uma das grandes preocupações dos empresários. “Temos de olhar muito para os nossos processos produtivos, para as matérias que utilizamos e encontrar novas formas de produzir, com o menor prejuízo possível para a nossa vida e para o nosso futuro”, afirma, salientando que, ao mesmo tempo, “temos de acautelar que o negócio é economicamente viável, porque as organizações têm de ter rentabilidade”. Uma das metas, acentua, consiste

em retirar o rendimento máximo de cada equipamento. Ou seja, ganhar eficiência.

Pessoas no centro

E esta aposta tem de ser consistente, abrangendo todas as questões, de forma a assegurar que o negócio seja sustentável. E ao fazê-lo, as empresas estão a pensar e a acautelar o bem-estar do seu elemento mais precioso: as pessoas.

“Do meu ponto de vista, temos algumas coisas a fazer na área do ambiente, mas essas são coisas relativamente fáceis. O verdadeiro desafio reside na sustentabilidade social. Este é um ponto fundamental, até por causa da questão que já nos afeta: a escassez de mão-de-obra”, considera. Com essa prioridade elencada, as empresas têm de procurar criar condições para atrair e reter as pessoas.

Exemplifica com as mudanças que diz serem imprescindíveis nos ambientes de trabalho. “Durante muito tempo, fomos uma indústria muito assente em processos de especialização elevada. Ou seja, tínhamos muitos especialistas na organização e cada um fazia aquilo que sabia melhor. Só que isso não contribuía para a sustentabilidade da organização. Por exemplo, as pessoas saíam e, com elas, a especialização que tinham”, lembra, considerando que, hoje, as organizações têm de estar preparadas de outra forma. “Precisamos de transformar as nossas empresas em organizações estandardizadas do ponto

PRESERVAR AO

de vista dos processos, com espaços de trabalho muito mais amigáveis, e a pensar nas pessoas”, diz.

Acentua que uma grande parte dos jovens não se sente atraída pela indústria. “Isso acontece porque a indústria tem uma imagem pouco sedutora, do ponto de vista do trabalho, quando comparada com outros sectores. Para além disso, já não somos tão diferenciados em termos de salários”, justifica.

Por isso, há, nesta matéria, muito a fazer. E se não podem competir a nível salarial, as empresas têm de conseguir ser apelativas de outra forma, sustenta, elencando possibilidades como apoios aos colaboradores na área da saúde, oferta complementar de atividades extensível às famílias, entre outras. “Temos de garantir que cada colaborador se sinta bem, motivado e, ao mesmo tempo, consiga produzir muito mais, de forma a contribuir para a eficiência da organização”, afirma. Por outro lado, considera, “precisamos de trabalhar muito as nossas organizações ao nível, por exemplo, da informação, para que todas as funções e departamentos cresçam na área dos sistemas de gestão de informação”.

Com isto, “permitiremos que os nossos colaboradores cresçam mais rapidamente na organização, uma vez que com maior facilidade conseguem absorver a cultura e a forma de trabalhar”.

Na fabricação, há ainda algumas tarefas mais sensíveis, como as da bancada. “Nesta área, estamos um bocadinho atrasados porque os nossos sistemas de produção ainda estão muito dependentes da mão-de-obra individual, por isso, temos de procurar desenvolver um pouco mais o processo produtivo”, defende, salientando que é preciso que as empresas “invistam em novas competências e em novas tecnologias”. O que está em causa, no seu entender, “é a adaptação de uma liderança que tem de perceber que os processos estão a mudar a grande velocidade e que é preciso atuar com urgência”.

“Mas nós estamos a olhar muito para dentro e não estamos a focar-nos no que se passa fora da nossa organização. Só quando o fizermos é que percebemos que o mercado está a evoluir e, se não agirmos, estamos a perder. Desde logo, a perder pessoas, que saem para outros sectores e até para fora do país”.

Usando como exemplo o que é já a realidade em Oliveira de Azeméis, explica que as empresas de moldes estão a recrutar colaboradores, tendo como prioridade não as suas competências técnicas, mas com um conjunto de softskills que serão fundamentais no futuro. “Abrimos as portas a colaboradores de praticamente todas as áreas. Depois, temos um plano de formação interna forte para que eles se sintam integrados, motivados e que desejem ficar na empresa”, justifica.

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Nuno Silva – MOLDIT
A SUSTENTABILIDADE É, SOBRETUDO, UM PROCESSO DE EQUILÍBRIO ENTRE AQUILO QUE É O NEGÓCIO E O QUE É A UTILIZAÇÃO DOS MEIOS E DAS MATÉRIAS PARA A PRODUÇÃO, DE FORMA A
MÁXIMO O NOSSO PLANETA

GESTÃO E TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO NAS EMPRESAS

EQUILIBRAR AS PRIORIDADES ENTRE A PRODUÇÃO

Aprender a aprender e a transmitir conhecimento adquirido. Ao ritmo que a mudança acontece, já não basta às organizações criar condições para atrair pessoas. É fundamental encontrar uma fórmula que ensine os colaboradores a partilhar e transmitir conhecimento, de forma que este fique na empresa e seja gerador de valor. Por muito que o foco esteja centrado na melhoria da produtividade, as empresas têm de fazer desta questão uma aposta: juntar as várias gerações que compõem as suas equipas e ensiná-las a partilhar, entre si, o conhecimento que detêm.

Gerir o conhecimento das empresas passa por encontrar estratégias que consigam fazer com que as pessoas aprendam a aprender, mas também a partilhar o saber adquirido. Isto é crucial para reter o conhecimento nas empresas e, dessa forma, ganhar eficiência e assegurar o futuro.

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SUSTENTABILIDADE SOCIAL
E O VALOR DAS PESSOAS
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É desta forma que Vasco Rosa Pires, da VR2P – Consultoria Estratégica, olha para a questão da gestão do conhecimento nas empresas. A ‘arma secreta’ são as pessoas. Por isso, as empresas precisam de começar a centrar nelas a sua atenção, da mesma forma que priorizam a produtividade. O mundo está em veloz mudança. E a concorrência não se verifica, como no passado, dentro do mesmo sector: é transversal. Por isso, é necessário incrementar a aposta na criação de condições de atração. E, nesse sentido, as empresas têm de valorizar os departamentos de Recursos Humanos.

Em muitos casos, já são hoje olhados como “muito mais” do que os braços direitos da contabilidade e do pagamento de salários. É que, destaca, “este é um departamento estratégico nas empresas”. E assim deve ser visto. Isto é, no seu entender, fundamental para conseguir definir uma estratégia de atração e retenção de talento. Mas também para dar um passo um pouco maior e encontrar fórmulas para conservar o conhecimento nas empresas.

“Manter as pessoas é essencial para conservar esse conhecimento. Mas elas não podem eternizar-se nas empresas, logo têm de encontrar-se soluções que assegurem que as pessoas partilham o seu conhecimento”, defende, considerando que, para isso, “têm de aprender a ensinar”.

Esse é apenas metade do processo. “As pessoas têm, também, de aprender a aprender”, esclarece.

O futuro

Exemplificando com o seu caso, conta que, nos últimos dois anos, tem sentido um interesse grande, por parte das empresas, nesta questão das aprendizagens. E tem, até, aumentado o número de ações nesta área. Só que, depois e na prática, “os responsáveis de produção e os supervisores mantêm a sua prioridade focada em produzir e não valorizam outras questões”, explica.

No seu entender, há ainda um caminho a percorrer que está muito centrado na vontade dos líderes das organizações. “Tem de haver um plano definido, no qual esteja valorizada esta questão tal como está a produção”, considera, acentuando que “o presente é muito importante, mas acautelar o futuro é crucial”. Por isso, aconselha as empresas a definirem o seu caminho, criando planos que contemplem esta questão. “É preciso que se compreenda porque é que é importante para uma empresa ter as suas pessoas a ensinar, mas também a aprender”, salienta, considerando que, nos últimos anos, os conceitos de ensino e aprendizagem mudaram. Hoje, é consensual a necessidade de aprendizagem constante e contínua, como única forma de acompanhar o acelerado desenvolvimento tecnológico e social. As escolas, lembra, têm um papel diferente do que tinham no passado. “Antigamente, íamos para a escola aprender com os professores. Eles detinham a sabedoria. Hoje, não é assim. É incutido aos jovens o sentimento de questionar o que lhes é dito, e é acentuado o seu papel de aportar desenvolvimento, através do conhecimento que têm em áreas nas quais outras gerações sentem dificuldades”, destaca, acentuando que essa realidade é semelhante ao percurso nas empresas.

“Havia profissionais que detinham a sabedoria e só a partilhavam a custo”, recorda, adiantando que, hoje, “a tecnologia está a contribuir para mudar isto e os jovens, quando chegam às empresas, também têm muito para ensinar a quem lá está”. Ou seja, as empresas hoje têm um ambiente marcado pela “transferência de conhecimento entre as várias gerações”. E é esta troca de experiências que enriquece as empresas.

“Tudo se resume, afinal, a uma melhor comunicação. E comunicar melhor é fundamental para criar empatia, influenciar os jovens a aprender, mas também a partilhar. É este ‘novo conhecimento’ que vai fazer a empresa andar para a frente e conseguir acompanhar os desenvolvimentos tecnológicos. Com isto, as equipas ganham dinâmica e evoluem”, defende. Mas, para que isto se concretize, adverte, “é essencial que os jovens que entram para a indústria se sintam acarinhados, é fulcral que quem está nas empresas sinta que o seu papel é importante, sob pena de desmotivar e sair”.

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Vasco Rosa Pires – VR2P

HOJE, É CONSENSUAL A NECESSIDADE DE APRENDIZAGEM CONSTANTE E CONTÍNUA, COMO ÚNICA FORMA DE ACOMPANHAR O ACELERADO DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E SOCIAL

Ensino e conhecimento

Acredita que o mercado vai falar por si, em relação a esta questão. O futuro das empresas, independentemente da sua dimensão ou área de negócio, reside nas pessoas. “Se as empresas não valorizarem estas questões, acabarão por ficar para trás: sem pessoas, não há empresas”. Por isso, sublinha, “é fundamental que criem estratégias para se tornarem atrativas para terem os melhores profissionais”.

A dificuldade, considera, “é que ainda há muitos empresários que não veem esta realidade e, possivelmente, quando decidirem agir, será demasiado tarde”. É que, enfatiza, “a verdade é que as empresas não treinaram as suas pessoas para criarem mais valor e, por isso, continuam, em muitos casos, como estavam há 20 ou 30 anos. Mas assim não serão competitivas”.

Por outro lado, considera também que o modelo de ensino “está a demorar a adaptar-se a estas questões e mantém-se quase inalterável nas últimas duas décadas”. “O que vemos é uma dificuldade enorme em passar o ensino para o lado dos computadores, das tecnologias ou do ensino à distância. E temos um problema grave, no meu entender, que é preparar os jovens para passar nos testes e não para aprenderem a aprender”, alerta, salientando que, na vida profissional, “nada do que fazem tem a ver com os testes, mas sim com a sua capacidade de aprender e de partilhar conhecimento”. Defende assim a necessidade de se rever o paradigma do conhecimento.

A questão das pessoas é o maior desafio que se coloca, neste momento às empresas. Mas o foco, adverte, parece estar muito centrado no ambiente. “As questões ambientais são, a meu ver, o menor dos problemas quando comparamos com outras. O ambiente é, naturalmente, uma preocupação que as empresas devem ter. Mas a sustentabilidade não se limita ao ambiente”, acentua, sublinhando que “as questões sociais têm um carácter muito importante. Antigamente, as empresas fixavam-se numa localidade e esta crescia em seu redor. É crucial que as empresas mantenham este seu papel de assegurar o crescimento da sociedade à sua volta”.

NECKMOLDE: Preparar hoje a empresa para a próxima geração

“Sustentabilidade significa fazer algo hoje para que o resultado apareça mais tarde, quando já não estivermos cá. Ou seja, pensar mais à frente: fazer e dar passos de olhos e pensamento no futuro”. É desta forma que João Cruz, da Neckmolde, define o conceito de sustentabilidade.

MUITO IMPORTANTES, MAS A HUMANIZAÇÃO DAS EMPRESAS É FUNDAMENTAL PARA ASSEGURAR O SEU FUTURO

E é também desta forma que, na empresa que gere, se procura transmitir esta visão como valor.

Quando este conceito se aplica às pessoas, considera, é liderar tendo presente não apenas o conjunto de colaboradores da empresa, mas também as suas famílias, sobretudo as novas gerações. “É, no fundo, trabalhar no dia a dia, mas pensando e garantindo o trabalho da próxima geração, de forma a garantir que estamos a deixar caminho feito para os nossos descendentes”, explica, sublinhando que “não se trata, apenas, de pensar nas pessoas que temos connosco na empresa, mas também numa família mais alargada, as famílias de todos nós. É fundamental que consigamos passar algo que marque as nossas pessoas e que elas transmitam isso aos seus filhos, de forma a motivá-los a prosseguir este caminho”.

Considera relevante “ouvir os filhos dos nossos colaboradores, as nossas crianças, a falar da empresa onde os pais trabalham: isso é um sinal de que o nosso trabalho, a nível de sustentabilidade social, está a ser bem feito”. E é para chegar aí que a empresa define estratégias e atua diariamente.

“Todas as empresas apostam em tecnologias. É natural que o façam. E é certo que as tecnologias, a automatização, a robótica e a digitalização são muito importantes, mas a humanização das empresas é fundamental para assegurar o seu futuro”, defende, explicando que isso se traduz na forma como “as pessoas se sentem nas empresas no seu dia a dia”.

“Elas são o mais importante e temos a obrigação de conseguir transmitir-lhes isso”, salienta, exemplificando com o caso da sua empresa e contando que, diariamente, “passamos muitas horas a trabalhar nisso, de forma a conseguir que as pessoas se sintam motivadas e integradas”. Porque, na sua opinião, “quem se enquadra e se integra acaba por tornar-se um bom técnico e a empresa beneficia com isso”.

Assim, mais do que especialização, a empresa valoriza “os valores”. Isso significa que as pessoas são olhadas de

forma individual, em função da sua personalidade. “Um dos mais importantes valores é a humildade. É o que procuramos ter todos os dias junto das nossas pessoas. Mas ao selecionar as equipas, temos como prioridade o facto de as pessoas serem sinceras, íntegras e terem bom coração”, explica, adiantando que, nos processos de recrutamento, “é essencial que os novos candidatos falem com a gerência e é nessas conversas que procuramos conhecê-los e lê-los enquanto pessoas”.

A empresa usa, portanto, critérios mais subjetivos na avaliação dos candidatos. Mas essa postura tem-se mostrado positiva. “O nosso processo de recrutamento é mais baseado em questões pessoais e humanas do que em questões técnicas. Muitas vezes, os candidatos ficam muito admirados, mas é muito importante que as façamos, porque pretendemos perceber como é a pessoa e de que forma é que ela pode enquadrar-se na empresa e nos seus valores”, destaca.

Valores

E uma vez aceite, o novo colaborar é acompanhado, de forma a assegurar que está bem alinhado com a empresa. Assegurar o bom ambiente de trabalho é uma das prioridades, explica, mostrando-se convencido que esta forma de atuar só é possível porque a empresa tem uma pequena dimensão. “A nossa estrutura é pequena. Se crescermos mais, vai ser difícil continuar a fazer este trabalho da mesma forma. Mas não temos dúvidas de que manteremos esta forma de seleção sempre”, adianta.

É que, assim, “conseguimos ir andando e caminhando, recheados de excelentes pessoas, que são as pessoas que temos. E, no final, são as próprias que ajudam os outros a alinhar-se e todas as equipas criam o ambiente da empresa”.

Esta forma de atuar, acrescenta, é algo que “se aprende sem ser ensinada porque faz parte do ser humano”. E o exemplo veio desde a criação da empresa, através dos valores do seu fundador. “As nossas equipas são reflexo do fundador: aquilo que ele faz, aquilo que ele é, são exemplos para as equipas”, conta. Por isso, assegura, “somos felizes com o que temos e, gradualmente, vamos crescendo passo a passo, com a contribuição de todos. E cada um sente a importância que representa para a empresa”.

Para além dos colaboradores e suas famílias, João Cruz chama a atenção para a importância de alargar o papel social da empresa à comunidade. “Temos de olhar à volta do local onde geograficamente a empresa está e ajudar naquilo que podemos, seja associações, seja a comunidade local. Uma empresa não consegue crescer isolada, precisa de estar integrada na comunidade e ser reconhecida por ela”, explica, acrescentando que essa integração abarca, também, os clientes e os fornecedores.

“Todos fazem parte desta comunidade e é, para nós, extremamente importante que se sintam satisfeitos com

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É CERTO QUE AS TECNOLOGIAS, A AUTOMATIZAÇÃO, A ROBÓTICA E A DIGITALIZAÇÃO SÃO

o papel da empresa. Se assim acontecer, os resultados aparecem”, sublinha.

Mas admite que, apesar desta forma de estar, manter uma equipa motivada não é fácil. “Neste atual contexto de crise e insegurança, é difícil manter as pessoas otimistas, mas continua a ser o nosso grande foco: primeiro as pessoas; o resto são máquinas que, sem pessoas, não funcionam”, afirma.

Uma geração

Apesar de, entre as três dezenas de colaboradores, existirem pessoas de várias faixas etárias, garante que, na prática, “na nossa empresa, as diferentes gerações trabalham como um todo”.

A empresa realiza, periodicamente, eventos sociais para conectar as pessoas, até fora do ambiente de trabalho. E há o cuidado de escolher as ações, de forma a agradarem às várias gerações de colaboradores, de forma a que se sintam parte integrante da mesma família. A motivação, acrescenta, é trabalhada com o reconhecimento e a evolução na empresa.

“Queremos que as pessoas cresçam e evoluam até ao ponto de ir embora, se for esse o seu desejo, por considerarem não ter mais nada para aprender. Até isso acontecer, as equipas estão unidas e a aprender umas com as outras”, relata.

No processo de entrada, os novos elementos são recebidos como uma mais-valia pela possibilidade de trazer um novo olhar ou novas formas de fazer. “A nossa postura, em relação a quem chega, é olhar para essa pessoa como alguém que nos pode ajudar. Por isso, pedimos para criticar o que acham que não está bem e sugerir mudanças. É importante que se sintam confortáveis a fazer isto porque é essencial para nos garantir inovações no processo. É que quem está há mais tempo acaba por não ter essa abertura para ver de forma diferente”, considerando que “esta forma de agir permite-nos também colocar-nos numa lógica de continuidade porque estamos constantemente a tentar inovar”.

Um dos exemplos que aponta é que são os jovens mais recentes na empresa que ficam com as tecnologias mais recentes a seu cargo. “Se colocarmos pessoas mais antigas nos equipamentos mais novos, elas não conseguem tirar partido, inovar e crescer. Por isso, o normal é que coloquemos as pessoas mais novas nos equipamentos mais recentes, para que possam trazer novas formas de fazer”, explica, adiantando que esta forma de atuação está, desde sempre, na cultura da empresa.

“Tem de haver sempre inovação a acontecer”, sintetiza, salientando que “não somos os melhores, mas sabemos que temos de ir sempre melhorando”. Desta forma, considera, “a empresa cresce numa base sustentável”.

João Cruz salienta ainda que o conceito de sustentabilidade social implica, também, “pensar na sucessão”. No caso da Neckmolde, revela, essa questão está assegurada. “A empresa já está na segunda geração. O fundador é o sócio com maior capital, mas a gerência é assegurada pela segunda geração”, explica. Desta forma, há uma linha de continuidade. “O processo já começou a ser desenvolvido há cinco anos. Faz todo o sentido que o fundador se mantenha porque tem cerca de 50 anos na indústria e toda a sua experiência é imprescindível para garantir o nosso sucesso”, adianta.

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João Cruz – NECKMOLDE

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E ECOLÓGICA

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LOW-CARB – ROTEIRO PARA A NEUTRALIDADE CARBÓNICA E CAPACITAÇÃO DA INDÚSTRIA DE MOLDES

Depois da aprovação do Regulamento do Sistema de Incentivos «Descarbonização da Indústria», a 29 de dezembro de 2021, foi publicado o aviso de abertura para apoio à elaboração de roteiros de descarbonização da indústria e capacitação das empresas, enquadrado na Componente 11 do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), na dimensão Transição Climática, aviso n.º 01/C11-i01/2021.

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Liliana Ramos, Tânia Mendes e Cristina Crespo Inovação Empresarial – CENTIMFE – Centro Tecnológico da Indústria de Moldes, Ferramentas Especiais e Plásticos

A 30 de janeiro de 2023, o IAPMEI selecionou 21 das 39 candidaturas que foram submetidas no âmbito dos Roteiros para a Descarbonização, com um incentivo total de 9,8 milhões de euros, em proposta de decisão.

Este aviso era dirigido às associações empresariais e centros tecnológicos dos diferentes sectores industriais com competências técnicas orientadas para a valorização da atividade industrial.

Com a publicação das decisões finais em maio 2023, o período de contratualização decorre de maio a junho 2023.

O projeto Low-Carb – Roteiro para a neutralidade carbónica e capacitação da indústria de moldes foi aprovado no âmbito desta medida e terá o seu arranque em 01/09/2023.

Trata-se de um projeto em co-promoção entre as entidades

CENTIMFE e CEFAMOL, com um orçamento global de 294.291 euros para dois anos.

O projeto pretende desenvolver um roteiro para a descarbonização do sector industrial dos moldes e visa a sua aplicação prática pelas empresas através da capacitação do sector industrial, com recurso às tecnologias de informação. Este recurso às tecnologias de informação será feito em duas abordagens:

• desenvolvimento de uma plataforma de informação que permitirá conceber planos de ação à medida de cada empresa;

• disponibilização de tecnologias digitais para a descarbonização, que têm enorme potencial para serem aplicadas na indústria de moldes.

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ATIVIDADE 1 Caracterização da situação de referencia ATIVIDADE 2 Estudo das soluções para a descarbonização ATIVIDADE 3 Plano de ação Atividade 4 Disseminação, comunicação e capacitação Atividade 5 Gestão do projeto Figura 1. Estrutura do projeto

Mercado Entidades públicas Academia Sociedade

• Indústria de moldes por sectores de atuação: automóvel, eletrónica, aeronáutica, embalagem

• Indústria de moldes por dimensão: Grandes empresas, PME

• Indústria de moldes por tipo de mercado: exportação, importação, produção para OEMs, produto próprio

• Pool-net,associações empresariais

• Sistema financeiro

• Redes de empresas para a descarbonização

• Instituições UE

• Entidades púbicas nacionais

• Organizações de normalização e certificação

• Exemplos: CCDR-Norte e Centro ADENE, Enerdura, DGEG

• Universidades e Politécnicos

• Centros de investigação

• CTI

• CoLabs

• Público em geral

• Organizaçõesnãogovernamentais

• Redes de empresas para a descarbonização

No que diz respeito à tipologia de atividades a desenvolver no âmbito do projeto destacamos as seguintes

• Promoção e sensibilização das empresas do sector para os temas da Descarbonização, Transição Energética e Sustentabilidade através de fóruns, grupos de trabalho e partilha, e a publicação de artigos e reportagens nos seus meios de comunicação, onde se salienta a Revista “Molde”;

• Dinamização de ações de capacitação e formação para gestores e quadros técnicos das empresas em áreas relacionadas ou conexas com a vertente da Descarbonização;

• Realização de sessões (workshops, conferências e webinares) que permitam debater o tema, analisar boas práticas implementadas, privilegiando o intercâmbio de ideias, experiências e conhecimento entre empresas e centros de saber, bem como a disseminação de resultados obtidos;

• Promoção, no sector, da cooperação entre empresas e entidades do Sistema Científico e Tecnológico em iniciativas conjuntas no âmbito do tema da Descarbonização;

• Promoção, a nível nacional e internacional, do contributo dado pelo sector para a Descarbonização, Transição Energética, Digitalização e Sustentabilidade em toda a cadeia de valor;

• Sensibilização e motivação das empresas para a eficiência produtiva e uma colaboração mais ativa com o Sistema Científico e Tecnológico ao nível do reforço de competências, inovação e I&D nestas vertentes. Um conjunto de stakeholders foram já identificados como público-alvo do projeto e agrupados na Tabela 1. Estejam atentos, contamos convosco para a concretização do projeto Low-Carb – Roteiro para a neutralidade carbónica e capacitação da indústria de moldes.

Se tiverem interesse em receber mais informação acerca deste projeto contacte-nos: inovacao@centimfe.com ou cefamol@cefamol.pt

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Tabela 1. Público-alvo do projeto

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

SUSTENTABILIDADE

AMBIENTAL E ECOLÓGICA, APOSTAR NA

INOVAÇÃO

TECNOLÓGICA PARA

ALCANÇAR UM RUMO

SUSTENTÁVEL

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A sustentabilidade é uma questão-chave para a competitividade das empresas. Estas têm de selecionar e criar métodos e processos e adotar um rumo mais assente na inovação tecnológica, que assegure as melhores práticas ambientais que começam a ser uma exigência dos clientes. O desafio é encontrar a fórmula certa que assegure o melhor aproveitamento dos recursos e, dessa forma, o molde português afirmar-se e certificar-se como um produto resultante de um fabrico ‘amigo do ambiente’.

Sustentabilidade é, cada vez mais, fator de

competitividade

“Se o impacto ambiental do molde não é algo muito significativo, o mesmo não se passa com a produção da peça: ou seja, o molde – na sua fase de uso –, está associado a um processo com um impacto significativo. Um dos exemplos é o consumo de energia e um outro é, evidentemente, a questão dos materiais”.

Elsa Henriques, da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e docente do Instituto Superior Técnico, olha, desta forma, para a produção do molde, mas não deixa de advertir que “isto não quer dizer que o impacto ambiental seja para não considerar na indústria de moldes e ferramentas; pelo contrário, não tenho dúvidas que a questão da sustentabilidade ambiental vai ser, cada vez mais, um fator de competitividade”.

Lembrando que esta não é uma questão nova, recorda uma das ações pioneiras em Portugal e que, há mais de duas décadas, levou a indústria a começar a pensar nesta questão do ambiente. Tratou-se do projeto europeu ‘Eurotooling’, que juntava diversos parceiros, entre os quais empresas

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de diferentes países e, de uma forma muito embrionária, procurava medir a questão do impacto ambiental associado ao molde. “Na altura, foi embrionário e abriu algum caminho na lógica ambiental, mas recordo-me da dificuldade que as empresas tinham em perceber o que estava em causa. Era evidente, então, a vantagem da avaliação económica do molde, mas as questões ligadas ao ambiente estavam ainda longe de constituir uma prioridade para as empresas”, recorda. Para além de alertar as empresas do sector para essa questão, o projeto teve o mérito de introduzir o tema na academia. As análises que então foram desenvolvidas permitiram perceber que o fabrico do molde não tem um impacto ambiental elevado, mas confirmaram que o mesmo não acontece na sua fase de uso, isto é, na fase de produção da peça. O molde, salienta Elsa Henriques, é feito essencialmente de aço e este é reciclável. Apesar dos consumos de energia envolvidos para o desenvolvimento dos vários tipos de aço e para a sua maquinação e processamento, é certo que há processos, noutras indústrias, mais agressivos ambientalmente. Por isso, “não é essencialmente o impacto ambiental do molde no seu ciclo de fabrico, mas na sua fase de utilização, quando está a produzir peças, a esmagadora maioria dos casos, numa empresa de injeção de plásticos”. Contudo, defende que isto não quer dizer que as empresas de moldes

NÃO É UMA QUESTÃO DE SABER QUE APOSTAS SÃO PRIORITÁRIAS PARA ALCANÇAR A SUSTENTABILIDADE

AMBIENTAL: TODAS SÃO IMPORTANTES E NECESSÁRIAS. E ESTE É UM PROCESSO COMPLEXO

QUE NÃO SE ESGOTA NA AQUISIÇÃO DE TECNOLOGIAS

não tenham de apostar no desenvolvimento de práticas mais amigas do ambiente e, especialmente, em soluções de projeto de engenharia orientadas para a minimização do consumo de recursos ao longo da vida do molde.

Competitividade

“As empresas têm que olhar para este tema como um fator de competitividade, têm de fazer alguma vigilância tecnológica, de forma a antecipar e prepararem-se para o futuro que, certamente, será mais próximo do que longínquo”, adverte, assegurando não ter dúvidas de que, “num curto período de tempo, esta questão ambiental vai ser uma normalidade nos mercados”. Ou seja, vão ser os próprios clientes que, para conseguir entrar em determinadas cadeias de valor, terão de assegurar que estão a ser cumpridas as questões da sustentabilidade. E estas têm de ser, no seu entender, “passíveis de ser auditadas”.

“Não basta dizer que nos preocupamos muito com a sustentabilidade: temos de conseguir certificar as nossas práticas”, salienta, estabelecendo um paralelo com o que foi feito na década de 1990 com as certificações no âmbito dos processos de qualidade.

“Quando começaram, as normas de qualidade pareciam não se adequar, em muitos casos, ao contexto industrial. Mas a verdade é que atualmente não nos parece possível que uma empresa possa estar nesta indústria sem ter as certificações de qualidade, cumprir as normas e manter os seus processos de qualidade devidamente documentados e auditados”, sublinha. “Hoje, a certificação dos processos da qualidade é a normalidade, mas se recuarmos 30 anos, não era tanto assim. Acredito que os processo de certificação ambiental e as preocupações de sustentabilidade seguirão um rumo semelhante a este”, acrescenta.

Elsa Henriques defende ainda que as empresas de moldes têm de alterar a sua postura para ganharem competitividade. “Esta indústria é, no fundo, muito reativa: ela inova e dá passos em frente, mas muito por reação àquilo que o mercado e

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Elsa Henriques – FUNDAÇÃO LUSO-AMERICANA

os seus grandes clientes solicitam”, explica, considerando que é fundamental ir dando passos e alterando métodos, tornando-os mais próximos de uma economia mais circular e mais sustentável, antes desta começar a ser uma exigência dos clientes. É que, lembra, “muitos dos clientes desta indústria já começam a pedir e a valorizar estas questões”. Por isso, a indústria de moldes terá benefícios em começar, o quanto antes, a trabalhar consistentemente essa questão.

“Não é uma questão de saber que apostas são prioritárias para alcançar a sustentabilidade ambiental: todas são importantes e necessárias. E este é um processo complexo que não se esgota na aquisição de tecnologias. Essas são importantes, estão disponíveis, usam-se e assimilam-se. Mas a sustentabilidade é, essencialmente, uma questão de método e muito claramente de modelo de negócio”, considera.

Dar passos

No seu entender, “o grande desafio é conseguir ter um modelo de negócio que assegure a sustentabilidade, promovendo a reciclabilidade, a extensão da vida útil dos nossos produtos e também dos nossos moldes, sendo economicamente viável”. É que, salienta, “quando falamos de sustentabilidade, não nos limitamos a pensar no ambiente: pensamos na economia e até na área social”. Por isso, defende que o caminho das empresas é encontrar um equilíbrio entre a viabilidade económica e as boas práticas de proteção do ambiente, mas, enfatiza, “não podem ficar à espera. Têm de começar a dar passos, a mudar”.

Uma das ações que colocaria a indústria de moldes em vantagem seria a certificação do fabrico do molde como

‘sustentável’. Algo que pudesse ser usado pelas empresas no mercado, como bandeira de diferenciação dos seus concorrentes. Um selo de sustentabilidade.

“Nunca seria um selo para o ‘molde amigo do ambiente’ porque o molde nunca será amigo do ambiente. Há sempre algum impacto ambiental associado. Mas o que poderia ser certificada era a forma como esse impacto é minimizado, ou seja, conseguir assegurar que o processo tem os impactos mínimos e que são sustentáveis por acautelarem um conjunto de fatores de preocupação ambiental, como a utilização de energias renováveis e tecnologias mais limpas e redução do desperdício, a sua recuperação e reutilização no final da sua vida útil, por exemplo”, afirma, frisando que para ser eficaz, os impactos ambientais têm de ser quantificados.

“Quando dizemos que os nossos moldes são muito bons e têm uma grande qualidade, temos de conseguir mostrar porque é que estamos a dizer isso”, adianta, considerando que o mesmo deve ser válido para a sustentabilidade.

Para Elsa Henriques, se a indústria de moldes conseguir avançar com um processo de certificação de sustentabilidade, “esse é um argumento de marketing muito poderoso e poderá ser percecionado e valorizado pelos clientes e os mercados”. A forma de o fazer, afirma, poderá passar pela certificação das empresas em termos de critérios de sustentabilidade centrados nos métodos de fabrico, que atestem que os processos são organizados em torno da sustentabilidade.

Enfatiza, referindo que “estamos a falar do passo prévio à utilização do molde em casa do seu cliente”. Já em plena utilização, considera que o molde pode ser também

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classificado em função de critérios, ligados ao consumo energético ou outros.

“Acredito que, mais tarde ou mais cedo, os próprios clientes vão exigir isso porque quando um sector como, por exemplo, o automóvel, tem preocupações de sustentabilidade vai estender essas suas preocupações a toda a cadeia de fornecimento e aí entram também as empresas de moldes”, sustenta.

NEUTROPLAST – Boutique Factory:

As boas práticas refletem-se nos resultados das empresas É certo que a sustentabilidade implica mudanças e essas têm custos. No entanto, defende João Redol, da Neutroplast, “as boas práticas refletem-se nos resultados das empresas”. O percurso passa por encontrar métodos e critérios que possam ser medidos em função de normas que assegurem as boas práticas e, com isso, obter certificações desse bem-fazer reconhecidas internacionalmente.

Como exemplo disso, aponta o caso da norma ISO45001 de gestão da segurança e saúde ocupacional, salientando que, apesar de onerosa, “é fundamental avançar com ela”. Ou seja, para conseguirem bons resultados e rentabilidade, as empresas têm de investir num conjunto de mudanças que se traduzam no compromisso com os critérios ESG.

“Estas questões impactam com aquilo que pensa a maior parte dos clientes, ou seja, o resultado da sua aplicabilidade não é visível, no imediato, nas vendas, mas através destas boas práticas mantêm-se os clientes e conquistam-se novos”, defende. Para além disso, demonstrar esse compromisso reflete-se também na capacidade de atrair e reter as melhores pessoas. Ou seja, a empresa ganha.

É com esta determinação que a Neutroplast tem investido num conjunto de mudanças, de forma a obter diversas certificações, incluindo nas normas mais exigentes e que, em muitos casos, não são obrigatórias.

“As normas servem para atestar a preocupação que a empresa tem no que diz respeito às melhores práticas, mas também para responder a algumas questões de carácter legal, em função do objetivo a alcançar”, explica, acrescentando que, o custo que lhes está associado acaba por tornar-se numa enorme vantagem competitiva para a empresa.

A sustentabilidade, seja ambiental, económica ou social, é uma das preocupações. E para assegurar que estão a ser acauteladas todas as questões, a empresa dedica uma atenção muito especial às formas de o conseguir fazer. “Isto não implica transformações grandes, nem a criação de novos departamentos ou o recrutamento de novas pessoas”, esclarece, contando que nos últimos quatro anos, a empresa reforçou o seu departamento de qualidade com mais uma pessoa para dar maior atenção à parte das normas, essencialmente

no que diz respeito a montar os processos. “O nosso ritmo é conseguir implementar uma norma por ano e fazer isto sem consultoria externa”, salienta, explicando que “entre outras coisas, optámos por ter uma pessoa exclusivamente para toda essa parte da certificação porque queríamos ter essa competência desenvolvida e assegurada na empresa”. Dando como exemplo a sustentabilidade, salienta que, em muitos casos, como por exemplo a forma como são tratados alguns materiais, as empresas deparam-se, entre outras questões, com legislação que existe apenas no papel ou normas europeias que não estão ainda contempladas em Portugal. “Muitas vezes, neste processo, as empresas sentem dificuldades porque não sabem o que é preciso fazer ou como o fazer. E algumas, em diversas questões, acabam por fazer por vontade própria porque não há autoridades que apoiem ou orientem”.

As normas são, no seu entender, essenciais. E as empresas, defende, devem começar a valorizar esta questão. “As normas melhoram a organização e ajudam-na a crescer. É assim que devem ser encaradas, porque uma empresa deve estar, continuamente, a procurar normas para ir melhorando”, explica. No caso da sua empresa, acrescenta, nos últimos cinco anos, “temos feito um esforço grande de transformação, sustentado nesta questão das normas”.

Uma das diferenças que diz sentir é que, “hoje são os donos das nossas empresas clientes a querer visitar-nos quando, antigamente, eram os técnicos ao serviço dos clientes. E isto acontece porque a nossa empresa passa uma imagem de

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João Redol – NEUTROPLAST

estar a fazer diferente, a pensar e a caminhar para o futuro”. Ou seja, a adoção das normas e o que estas representam “fazem com que seja possível que os clientes não se limitem a pensar no preço, mas sim que reconheçam o know-how e toda a preocupação que a empresa tem em estar atualizada e certificada nas melhores práticas”. Esta postura permite abrir portas e mantê-las abertas em sectores de grande exigência, como a indústria farmacêutica.

Aposta no I&D

Uma outra questão que ajuda as empresas a tornarem-se mais competitivas e sustentáveis são os projetos de I&D. No caso da sustentabilidade, João Redol aponta como exemplo os que estão ligados à criação de novos materiais ou de novos processos de reciclagem. E a empresa participa, apesar de ter presente que indústrias como a farmacêutica, médica ou alimentar vão manter requisitos no uso de matérias-primas certificadas, uma vez que as alternativas não estão ainda devidamente estudadas no que diz respeito à segurança do ser humano.

“Neste momento, a estabilidade do que é reciclado é diferente do que não é, e para tudo o que diga respeito ao universo da saúde, por exemplo, é fundamental a confiança

AS EMPRESAS DEVEM CONSEGUIR OLHAR PARA DENTRO DA SUA

ESTRUTURA E VER O QUE PODEM

FAZER HOJE PARA MELHORAR

O QUE FAZEM, E DEFINIR ÁREAS

ONDE POSSAM INCORPORAR

VALOR. DEPOIS, DEVEM

VALORIZAR O PRODUTO DE FORMA SUSTENTÁVEL E TER EM

ATENÇÃO OS NOVOS PROCESSOS

que assegura um material mais estável e o reciclado ainda não o garante”, diz. Mas a sustentabilidade, acentua, vai muito para além dos materiais. Como exemplo, fala de um projeto que permite calcular o ciclo de vida de cada um dos produtos que a empresa faz e, com isso, determinar a pegada de carbono de cada embalagem.

A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL É UM CONVITE A OLHAR PARA DENTRO DAS EMPRESAS E PARA A SUA ENVOLVENTE

E IDENTIFICAR SOLUÇÕES QUE PERMITAM MINIMIZAR A QUANTIDADE E TIPO DE RESÍDUOS GERADOS, A ADOÇÃO DE BOAS PRÁTICAS QUE CONTROLEM

E QUE PROMOVAM A UTILIZAÇÃO RESPONSÁVEL DE RECURSOS NATURAIS, DE ENERGIA E DE MATÉRIAS-PRIMAS E SUBSIDIÁRIAS

“Isto abrange questões como produzir melhor com menos energia e menor impacto nas cadeias de logística e, ao fazer esta análise, podemos ver onde podemos ser melhores. No caso dos laboratórios, por exemplo, olham para isto com muito interesse porque querem empresas sustentáveis e responsáveis a trabalhar com eles”, explicou, exemplificando com um outro projeto, no âmbito da sustentabilidade, mas que não tem diretamente a ver com o negócio da empresa: o ‘Sea Rubbish2Cap’, financiado através dos EEA Grants.

Trata-se de um projeto de investigação e desenvolvimento, reunindo vários parceiros e que consiste na retirada do plástico do fundo do mar, na sua revalorização e aplicação em novos produtos. O objetivo, explica, é, numa lógica de sustentabilidade, “procurar ver diferentes dimensões da investigação e desenvolvimento, para conseguir estar noutras áreas que não apenas o produto com o qual trabalhamos, e estar atento ao que nos rodeia”.

O impacto do projeto reflete-se diretamente com a exploração de aplicações para o material recuperado, potenciando a entrada em novos sectores e indiretamente com a projeção de imagem da empresa ao qual os nossos clientes querem ser associados.

Para João Redol, o exemplo deste projeto ilustra aquilo que tem sido uma prioridade da empresa: “queremos trabalhar com os clientes, mas também com os fornecedores, e ajudá-los a ser mais sustentáveis”.

Quanto ao projeto, salienta, “está em constante reformulação, para identificar, por um lado, o produto que é retirado do mar, mas também onde é que esse material pode vir a ser usado. Isso levou-nos a pesquisar em função do que são as necessidades dos portos piscatórios do mundo, porque esse material poderá ser usado em algumas das coisas que equipam esses portos. Ou seja, estamos a alargar a nossa ação muito para lá do que é o nosso ramo de atividade”.

Isso deve-se a esta aposta na questão da sustentabilidade. E esta, enfatiza, “implica versatilidade: temos de estar atentos ao mercado para nos anteciparmos na criação de soluções para os problemas que podem vir a surgir com a nossa ação”. “A nossa ótica não é fazer as coisas para hoje, mas trabalhar para o futuro”, explica, adiantando que, por isso, “temos de pensar constantemente em ir mais longe, ser algo diferente e sempre com mais inovação”. Para chegar aqui, conta, a empresa começou por olhar para si própria e perceber onde começar a mudança. “As empresas devem conseguir olhar para dentro da sua estrutura e ver o que podem fazer hoje para melhorar o que fazem, e definir áreas onde possam incorporar valor. Depois, devem valorizar o produto de forma sustentável e ter em atenção os novos processos: pensar e criar processos novos”, defende, acrescentando que, para além destas questões, “devem também incluir métricas em tudo o que fazem. Medir é fundamental”.

PRIFER: A sustentabilidade deve ser encarada como uma oportunidade

“As empresas devem encarar a questão da sustentabilidade ambiental como uma oportunidade”. Assim o defende Alexandre Prior, da Prifer, salientando que, ao contrário do que algumas empresas veem a questão, a sustentabilidade ambiental “não é necessariamente significado de custos significativos e desnecessários para as empresas”. Pelo contrário: “é um convite a olhar para dentro das empresas e para a sua envolvente e identificar soluções que permitam minimizar a quantidade e tipo de resíduos gerados, a

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Alexandre Prior – PRIFER

adoção de boas práticas que controlem e que promovam a utilização responsável de recursos naturais, de energia e de matérias-primas e subsidiárias”.

Para Alexandre Prior, a prioridade “é a consciencialização de todos, pois em conjunto temos um papel importante na proteção do meio ambiente”. Lembra que “o planeta Terra é a casa comum que todos temos obrigação de cuidar e as empresas têm uma responsabilidade acrescida”. Ou seja, no caso das empresas, é necessário que estas “preparem o futuro, garantindo a transição energética, a descarbonização, e a adoção de modelos de economia circular”.

Para fazer isso, adianta, as empresas terão, em muitos casos de proceder a alterações na estrutura produtiva. E que, “numa primeira fase, isto implica melhorar a estrutura organizacional, o que passa por definir a política ambiental, o processo de gestão ambiental, os indicadores de desempenho, a avaliação do risco, entre outros, de forma a responder aos requisitos da norma ISO 14001-Sistemas de gestão ambiental/Requisitos e linhas de orientação para a sua utilização”.

Salienta: o processo só funcionará “se existir integração e coordenação do modelo de negócio e do alinhamento das estratégias ambientais ao longo da cadeia de abastecimento, que inclui design e desenvolvimento de produtos e processos de transformação, a procura e seleção de matérias-primas, entrega do produto ao cliente e a gestão do fim de vida do produto”.

Reciclagem

Como exemplo, conta que, em 2017 a Prifer foi convidada a aderir à ECOVADIS, uma metodologia de avaliação da Responsabilidade Social Empresarial (RSE) por meio das suas

políticas, medidas de implementação e resultados. “Este processo revelou-se muito positivo, permitindo consolidar a cultura ambiental e social na Prifer”, conta, acrescentando que “Passámos a considerar políticas de compras sustentáveis e de direitos humanos e a criação do código de conduta para fornecedores, entre outras melhorias”.

Nesse âmbito, um outro aspeto que considera relevante foi “a sensibilização para discriminação positiva de fornecedores com práticas sustentáveis (ambientais e sociais) e o convite aos nossos fornecedores para a adesão à ECOVADIS”.

Considerando que “o molde não é necessariamente inimigo do ambiente”, Alexandre Prior lembra que “o aço, principal constituinte do molde, é um material que pode ser reciclado várias vezes sem perder propriedades”, enquanto que “a energia a utilizar no processo de reciclagem do aço e no processamento do molde poderá e deverá ser de fontes renováveis (por exemplo no caso da Prifer os nossos painéis fotovoltaicos produzem cerca de 15% da energia que consumimos), sendo possível desta forma minimizar o impacto ambiental associado ao fabrico dos moldes”.

Em relação às vantagens que a empresa retira da adoção de políticas ‘amigas do ambiente’, sublinha que, ao adotar essas ações, “já obtém várias vantagens: por exemplo, atualmente as questões ambientais começam a ser avaliadas para o acesso a financiamento (banca, projetos investimento e investigação), e a determinados clientes”.

Por outro lado, destaca, “para os clientes, é cada vez mais importante que as empresas tenham políticas ambientais e tenham parceiros sensíveis a este tema”. Por isso, defende, “todos temos que estar envolvidos nesta dinâmica”.

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OPINIÃO

No nosso caso, os benefícios são evidentes, sobretudo em três sectores-chave do fabrico do molde: design, industrialização (ou fabrico do molde) e produção das peças.

SIGMASOFT: “É CRUCIAL O GRAU DE CERTEZA COM QUE AS EMPRESAS PRODUZEM”

A cultura portuguesa tem uma particularidade muito interessante: quando vemos benefícios que podemos retirar da tecnologia, adotamo-la e procuramos potenciá-la ao máximo. Por isso, as nossas empresas estão bem posicionadas no que diz respeito à tecnologia.

Quando falamos de sustentabilidade, não podemos retirar a tecnologia da equação; pelo contrário, ela é essencial para apoiar as empresas no seu caminho de futuro.

É fundamental que as empresas consigam planear a partir do desenho porque, com isso, asseguram as melhorias técnicas e materiais ou uma análise do ciclo de vida do produto desde a sua criação, assegurando a tão pretendida circularidade. Mas não só. Também se consegue eliminar o erro e reduzir tempos de produção, ganhando rapidez e eficácia. Para além disso, estamos a facilitar o papel das pessoas no processo e, ao mesmo tempo, a apostar na sua valorização. Quanto melhores as ferramentas de apoio, mais qualidade se obtém no processo produtivo. E esse é o nosso desígnio: através da nossa solução de simulação, introduzir melhorias ao longo de toda a cadeia de produção, proporcionando os melhores benefícios. Para além de ganhos ambientais, as empresas tornam-se mais produtivas e eficientes. Se pensarmos no futuro das empresas é fundamental e crucial o grau de certeza com que produzem. Para sobreviver e assegurar um futuro de sucesso, as empresas precisam de aprender, gerir e originar conhecimento. Para isso, é preciso combater o medo e avançar sem receio para a mudança.

PARA SOBREVIVER E ASSEGURAR UM FUTURO DE SUCESSO, AS

EMPRESAS PRECISAM DE APRENDER, GERIR E ORIGINAR CONHECIMENTO

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SUSTENTABILIDADE É UM EQUILÍBRIO DIFÍCIL, MAS IMPRESCINDÍVEL

Sustentabilidade. Uma das formas de definir este conceito é olhar uma empresa como se tratasse de um ser vivo, que precisa de ser alimentado. Esse alimento tem diferentes origens: vem das pessoas que a fazem crescer diariamente, vem dos clientes que lhe dão energia com as suas encomendas, vem da tecnologia que permite fazer acontecer e vem da gestão que orienta todas as anteriores e assegura o rumo certo.

São estes quatro fatores conjugados que deverão ditar a sustentabilidade de uma empresa.

Trata-se de um equilíbrio difícil, mas imprescindível. Contudo, esta sustentabilidade está hoje ameaçada. De uma maneira geral, e pela conjuntura do mercado, as empresas não pensam os investimentos com independência de fatores económicos e de prazos de resposta. Tendem a pensar os investimentos para resolver o problema no imediato, descurando uma visão a médio e/ou longo prazo. Sente-se também uma dificuldade de tomada de decisão causada por vários constrangimentos financeiros –desde logo, as condições impostas pelos clientes – que levam algumas empresas ao não cumprimento das condições contratuais, nomeadamente económicas.

As empresas têm de crescer para conseguir fazer bons investimentos e, para isso, precisam de ter fluxos de tesouraria que lhes permita tomar decisões com base nas reais necessidades e não condicionadas por aquilo que, de momento, lhes é possível alcançar.

Há também organizações com equipamentos adquiridos, mas que estão subaproveitados, que não são rentabilizados. E isso remete-nos para a questão das pessoas que, em muitos casos, não estão a ser devidamente formadas para rentabilizar os equipamentos. Há uma notória necessidade de formação.

Lamentavelmente é comum ouvir os empresários não aceitarem adjudicar uma ação de transferência de conhecimento, vulgo formação, que lhes custaria 1.000€ quando acabam de fazer um investimento num equipamento no valor de centenas de milhar de Euros.

A tecnologia assume hoje um lugar de destaque porque se por um lado há uma enorme escassez de pessoas no mercado, por outro, há também uma enorme pressão nos prazos de entrega, nomeadamente se comparados com os países asiáticos. As empresas têm de conseguir assegurar as mesmas respostas, ou melhorá-las, com os mesmos recursos, humanos e outros. Com as soluções que propomos, procuramos proporcionar este equilíbrio nas empresas, disponibilizando recursos tecnológicos que asseguram inquestionáveis ganhos de eficiência.

Estas questões têm um impacto enorme na sustentabilidade, ao condicionarem o normal funcionamento das empresas.

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*João Ferreira S3D

FORMAÇÃO E SUSTENTABILIDADE

SUSTENTABILIDADE: O PAPEL DAS ESCOLAS EM GERAR NOS JOVENS A CONSCIÊNCIA SUSTENTÁVEL

O ensino superior tem presente nos seus cursos, de uma maneira transversal, a questão da sustentabilidade, de forma a que os alunos quando ingressam no mundo laboral, levem consigo um pensamento e uma postura mais preocupados com tudo aquilo que os rodeia. Ainda sem cursos específicos que formem técnicos especializados na área específica da sustentabilidade, o objetivo é dotar as novas gerações de ferramentas que lhes permitam dar passos hoje a pensar no melhor futuro.

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Politécnico de Leiria: Mudança de hábitos da escola gera rotinas sustentáveis nos jovens

Para incutir nos jovens uma mentalidade mais sustentável, é crucial que aprendam, na prática, olhando (e agindo) para o que os rodeia. Por isso, no Politécnico de Leiria (IPL), os alunos estão rodeados por um conjunto de ações que tornam o dia a dia mais sustentável e que são o exemplo real do que é possível fazer para ser agente da mudança.

Para Carlos Rabadão, presidente do IPL, esta é uma questão essencial. Por isso, destaca as apostas que as várias escolas do Politécnico têm feito no sentido de pensar e cuidar do ambiente.

“Podemos considerar que, no IPL, a sustentabilidade surge de duas formas: desde logo, enquanto organização, procurando a adoção de boas práticas – seja a nível financeiro, social e ambiental – e na abordagem de várias temáticas relacionadas com esta questão, que surge, de forma transversal, na generalidade dos nossos cursos”, afirma.

Os edifícios das escolas, sublinha, “são exemplo de boas práticas ambientais, a nível de consumo de recursos. O refeitório tem uma prática de desperdício zero, apostando, por exemplo, na distribuição das refeições não consumidas”. Mas também a energia é considerada neste esforço. “O consumo energético preocupa-nos desde há muito. Por isso, temos painéis solares de aquecimento, seja para as cantinas, seja para as residências dos estudantes. Temos também em curso a introdução de projetos, através de candidaturas, que visam equipar-nos com tecnologia que permita a produção da energia nos vários polos”, acentua.

O IPL apostou também, há algum tempo, na disponibilização de bicicletas elétricas aos seus alunos, numa tentativa de alertar para práticas de mobilidade amigas do ambiente, mas também da promoção de hábitos de vida mais saudáveis. As escolas têm, também, uma preocupação grande com o bem-estar das pessoas. Neste âmbito, o Politécnico de Leiria foi distinguido com a certificação ‘Healthy Campus’ pela Federação Internacional de Desporto Universitário (FISU) e, mais recentemente, recebeu o Selo de Excelência ‘Alimentação Saudável no Ensino Superior’, atribuído pela Direção-Geral da Saúde (DGS).

“Tudo isto, no fundo, é para nos tornarmos mais sustentáveis, mas também, e sobretudo, para dar o exemplo aos nossos estudantes que, confrontados com estas realidades todos os dias, acabam por integrá-las na sua vida como rotinas”, explica.

Refira-se, ainda, que o IPL aderiu à UnitedNationsAcademic Impact(UNAI), uma iniciativa que alinha instituições de ensino superior com a Organização das Nações Unidas (ONU) no apoio e contributo para a concretização dos objetivos da ONU,

incluindo a promoção e proteção dos direitos humanos, acesso à educação, sustentabilidade e resolução de conflitos.

Trabalho com empresas

Já a nível da formação, acrescenta, o IPL “tem procurado sempre ser um parceiro das empresas no que diz respeito à sustentabilidade”. Um dos exemplos que aponta são os muitos projetos de I&D que a instituição tem desenvolvido ao longo do tempo, em conjunto com empresas de vários ramos de atividade, com particular destaque para os moldes e plásticos.

“Esta é uma preocupação transversal, patente em todos os nossos cursos”, sustenta, acrescentando que, para além disto, “temos a prática enraizada de convidar entidades externas – empresas, na maioria das vezes - para aulas abertas”.

As temáticas da sustentabilidade são integradas nos currículos dos cursos, de forma mais ou menos intensiva, em função das áreas. Por exemplo, destaca, “a nível da oferta formativa, as questões da sustentabilidade ambiental estão muito presentes nos cursos ligados com o mar e a preservação dos oceanos, na ESTM de Peniche. Já em Leiria, na ESTG, temos a licenciatura em engenharia de energia e ambiente, onde é dada muita ênfase à questão da sustentabilidade”.

Para além disso, destaca ainda, a parceria entre as duas escolas, no mestrado em Economia azul e circular.

“A nossa preocupação, a nível da sustentabilidade, tem passado pela reformulação da oferta formativa e por uma aposta em integrar estas questões, não apenas nas áreas que estão diretamente ligadas, mas também de uma for-

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Carlos Rabadão – PRESIDENTE DO IPL

ma transversal, noutras áreas e noutros cursos das várias escolas do IPL”, afirma, lembrando que “temos cursos com cadeiras que abordam de forma mais direta temáticas na área da sustentabilidade, por exemplo nos nossos TeSP: um deles é, até, centrado nas energias renováveis”.

Aliás, destaca, é sobretudo nestes cursos (TeSP) que é possível encontrar mais unidades curriculares relacionadas com a área da sustentabilidade. E isto deve-se à maior flexibilidade que estes têm quando comparados, por exemplo, com as licenciaturas ou mestrados, nos quais, diz, é mais difícil integrar de forma rápida novas disciplinas. No entanto, enfatiza, as áreas da sustentabilidade vão surgindo, de forma transversal. Um outro exemplo que aponta é a engenharia mecânica, na qual também são abordadas as questões da reciclagem (na licenciatura) e a fabricação digital direta e o desenvolvimento do produto (no mestrado).

PARA INCUTIR NOS JOVENS

UMA MENTALIDADE MAIS

SUSTENTÁVEL, É CRUCIAL

QUE APRENDAM, NA PRÁTICA, OLHANDO (E AGINDO) PARA O

QUE OS RODEIA

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FOTO: DR

“O grande desafio que temos é repensar as ofertas e colocar, seja licenciaturas ou mestrados, apenas sustentabilidade”, acrescenta.

Motivar

Para além da mudança nos cursos, conseguir motivar os jovens a interessarem-se por estas áreas é uma outra questão que se afigura desafiante, adianta. “Há cursos, como o mestrado de economia azul e circular, que está a ser bastante apelativo, não apenas para os jovens, mas também para os quadros ativos das empresas. No entanto, há outros, como a engenharia do ambiente – ou qualquer outra engenharia –que não consegue atrair grande número de alunos. É que, de uma maneira geral, as engenharias não cativam os jovens, independentemente da área. Notamos que a engenharia surge como um travão, apesar de, a nível de empregabilidade ser o que representa maiores possibilidades”, esclarece.

No que diz respeito à sustentabilidade, salienta ainda que o IPL tem cursos, como os ligados às energias renováveis, que já são ministrados há vários anos, e que têm conseguido colocar muitos profissionais no mercado. Apesar disso, lembra, “o mercado continua a ter falta de profissionais nestas áreas”.

De forma a encontrar a melhor solução para estas questões, diz ainda, a instituição tem “trabalhado com algumas associações sectoriais”, de forma a, sobretudo através do desenvolvimento de projetos, criar respostas para as necessidades da indústria. A nível dos moldes, conta, “estamos em várias agendas mobilizadoras, como por exemplo na da embalagem do futuro, trabalhando em conjunto com várias empresas na área da inovação tecnológica”. Um dos exemplos que aponta é o projeto INOV.AM, centrado em encontrar novas técnicas de fabrico, sobretudo na área do 3D. A nível dos plásticos, o IPL tem, também, integrado vários projetos e agendas mobilizadoras, procurando apoiar o sector a encontrar soluções mais ecológicas.

No total, revela, “temos neste momento cerca de 180 projetos em execução, todos eles em conjunto com empresas ou envolvendo empresas”, estando em preparação o desenvolvimento de novas 11 agendas mobilizadoras.

ESAN: Discutir o presente e o futuro

“A sustentabilidade é de grande importância na atualidade e reconheço o esforço que toda a comunidade académica faz no sentido de aportar valor a esta temática”, considera Martinho Oliveira, diretor da Escola Superior Aveiro Norte (ESAN) – da Universidade de Aveiro, contando que, no âmbito dos planos de estudo, a ESAN “aborda este tema de uma forma transversal, sobretudo nas unidades curriculares ligadas à gestão de processos industriais, à tecnologia dos materiais, ao design e desenvolvimento de produto”. Nestes, adianta, “o presente e o futuro da sustentabilidade são discutidos com os alunos”.

Para este responsável, “enquanto instituição de ensino superior, temos a obrigação de formar e sensibilizar os nossos alunos para a sustentabilidade, esperando que esta consciencialização os venha a tornar profissionais válidos e competentes no desenvolvimento de soluções sustentáveis, muito especialmente em ambiente industrial”.

Embora a escola já tenha uma unidade curricular dedicada ao tema – “Empreendedorismo e Desenvolvimento Sustentável” –, de forma transversal, a oferta formativa aborda a temática em áreas como a transformação sustentável de materiais e design de produto. Para além disso, acentua, “incentivamos os alunos a procurarem outras ações formativas nesta área, dentro ou fora da Universidade de Aveiro, de forma que possam complementar os seus conhecimentos em metodologias sustentáveis”.

A ESAN, refere ainda, também promove a realização de colóquios que possam abrir o debate sobre esta temática. Neste conjunto de ações, o tema da sustentabilidade surge nas suas diversas vertentes, seja a ambiental, a social e a económica.

O ambiente

“Regra geral, a vertente ambiental é aquela que é mais reconhecida”, explica, sublinhando que, hoje, “a indústria está obrigada a pensar na forma mais eficiente de produzir e reutilizar, sobretudo, quando falamos de uma cadeia circular de valor que olha para o ciclo de vida do produto como um todo”.

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Martinho Oliveira – ESAN

A SUSTENTABILIDADE DEVE SER TRABALHADA EM EQUIPA, SENDO DETERMINANTE QUE A INDÚSTRIA, AS EMPRESAS, AS INSTITUIÇÕES E A SOCIEDADE COOPEREM CONJUNTAMENTE NESSE

SENTIDO, NUM ECOSSISTEMA

DEVIDAMENTE ENQUADRADO EM POLÍTICAS PÚBLICAS COERENTES

Por isso, defende que deve “privilegiar-se uma abordagem sistemática e factual que pode e deve ser alicerçada no cálculo matemático da pegada ecológica dos produtos”. Ou seja, “avaliar o impacto que as nossas práticas, enquanto seres humanos têm sobre o meio ambiente, nomeadamente recursos naturais, resíduos, energia, transportes, etc.”.

Face a isto, acrescenta, “temos a missão de sensibilizar os nossos alunos para o impacto dos nossos atos neste sistema, reforçando a ideia de que ser agente da mudança climática é também uma prioridade”. Para além disto, adianta, a escola

transmite “a importância de privilegiar soluções energeticamente mais eficientes, reaproveitar os produtos no final do ciclo de vida e gerir conscientemente os recursos”.

Pela sua perceção, adianta, “a esmagadora maioria das empresas que conheço e visito está desperta para a questão, mas o grau de prioridade e a interpretação que cada empresa dá à sustentabilidade é arbitrária”. Mas, salienta, “noto que a tendência é para um avanço favorável da sustentabilidade na lista de prioridades das empresas, até pela pressão que determinadas cadeias de valor criam junto do

FOTO: DR

A TENDÊNCIA É PARA UM AVANÇO FAVORÁVEL DA SUSTENTABILIDADE NA LISTA DE PRIORIDADES DAS EMPRESAS, ATÉ PELA PRESSÃO QUE DETERMINADAS CADEIAS DE VALOR CRIAM JUNTO DO TECIDO EMPRESARIAL

tecido empresarial”, acentuando a falta que diz sentir “de se refletir estas necessidades, de forma mais categórica, nas políticas públicas”.

E a escola, assegura, está a procurar apoiar as empresas nesta matéria. “No quadro das múltiplas colaborações que temos com o tecido empresarial, ao nível da investigação e desenvolvimento, a ESAN tem promovido essa mudança. Os projetos desenvolvidos por nós privilegiam o recurso a práticas e a soluções sustentáveis. Muitos dos nossos projetos resultam de desafios apresentados pelo tecido empresarial, no sentido de serem desenvolvidas novas soluções técnicas e mais sustentáveis”, afirma, apontando, como exemplo que “temos um projeto que visa a redução da utilização de polímeros termoendurecíveis (não recicláveis) no desenvolvimento de soluções compósitas, privilegiando-se, em alternativa, os materiais termoplásticos, os quais já podem ser reciclados”.

Há, no entanto, outras soluções que Martinho Oliveira destaca. Por exemplo, a produção aditiva. “Trata-se de um conjunto de tecnologias disruptivas no universo das soluções sustentáveis e que é do interesse das empresas que ambicionem um desempenho ambiental superior”. Também no que diz respeito aos novos materiais. O responsável exemplifica com “o trabalho que temos desenvolvido com empresas em torno da problemática dos plásticos e da sua gradual substituição por bioplásticos, quando estes são, de facto, mais sustentáveis”.

A ESAN, acrescenta, “também participa em diversos eventos com foco na utilização de materiais sustentáveis. No entanto, quando falamos de intervenções específicas com foco na sustentabilidade, a Universidade de Aveiro conta com diversos especialistas na matéria que estão disponíveis para discutir estas temáticas com toda a comunidade”.

É que, para Martinho Oliveira, “a mudança é fundamental e o nosso contributo enquanto instituição de ensino e unidade de investigação para alavancar a sustentabilidade é ativo”. “Contudo, é importante não esquecer que a

sustentabilidade deve ser trabalhada em equipa, sendo determinante que a indústria, as empresas, as instituições e a sociedade cooperem conjuntamente nesse sentido, num ecossistema devidamente enquadrado em políticas públicas coerentes”, enfatiza.

Universidade do Minho: Escola está consciente e a criar apostas novas na sustentabilidade

A Universidade do Minho (UMinho) “está consciente” da importância que assume a sustentabilidade. Tanto assim que a aposta passará por vir a criar cursos que formem especialistas na área, nas suas vertentes ambiental, económica e social. António Pontes, da UMinho, considera que esta é a resposta que a universidade terá de dar a um tema “que está a ser muito debatido pela sociedade e lança muitos desafios às empresas”.

Neste momento, esclarece, a UM tem alguns cursos, licenciaturas, mestrados e até doutoramentos “com unidades curriculares centradas em questões ligadas à sustentabilidade”. Aliás, sublinha, a questão acaba por integrar praticamente todos os cursos, de uma forma transversal. Mas ainda não há um curso que seja exclusivo na área da sustentabilidade.

Exemplifica com o caso dos cursos ligados aos materiais e desenvolvimento de produto, e nos mais vocacionados para as tecnologias, para reforçar que a sustentabilidade é uma questão incontornável. “No tema eco design, por exemplo, são apresentadas ferramentas diversas, nomeadamente análise de ciclo de vida, que juntam as questões ambiental e económica, ao desenvolvimento de novos produtos”, relata, salientando que, a nível de materiais, “temos um conjunto de ferramentas de seleção e bases de dados de materiais, com indicadores de sustentabilidade”.

Ou seja, nestes cursos é dada alguma informação acrescida, sobretudo sobre tomada de decisões que causem impacto no ambiente, permitindo que os alunos fiquem,

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no final, “com uma perceção das várias questões ligadas à sustentabilidade, ambiental, social, ou económica”, esclarece, salientando que, atendendo à tipologia dos cursos, é dado algum destaque “às questões ambientais, como os materiais e o impacto que eles têm no ambiente”. Mas há outras áreas exploradas, como as ligadas à questão do transporte ou embalamento. Ou seja, questões relacionadas com as várias fases do desenvolvimento e fabrico de produtos e que tenha impacto na sua sustentabilidade.

“Os jovens são levados a pensar em novas soluções e a reduzir impacto no ambiente, mas, ao mesmo tempo, a terem uma visão integrada de toda a cadeia de desenvolvimento do produto, desde a extração da matéria-prima até ao fim de vida. Ficam também com a noção e saem com o conhecimento que qualquer decisão que venham a tomar tem impacto ambiental, social e económico”, adianta. Por isso, esta é uma temática abordada de forma transversal na generalidade dos cursos. “São questões atuais e que preocupam toda a sociedade”, reforça.

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António Pontes – UMINHO FOTO: DR

HÁ NA INDÚSTRIA UMA PREOCUPAÇÃO GERAL E GENUÍNA EM CONSEGUIR

ENCONTRAR MATERIAIS DE MENOR IMPACTO E, POR VEZES, ENCONTRAR MATÉRIA-PRIMA GEOGRAFICAMENTE MAIS PRÓXIMA, PARA EVITAR A PEGADA DE CARBONO PROVOCADA PELO SEU TRANSPORTE

Visão de futuro

No fundo, o que a UMinho procura é que, no presente, os jovens alarguem o seu pensamento e criem soluções que garantam um futuro melhor. “Os cursos têm esta visão de futuro e, tendo isso presente, a sustentabilidade é um fator incontornável”, salienta.

“Na verdade, não estamos a formar especialistas na questão da sustentabilidade, mas estamos a dotar os jovens de múltiplas ferramentas que lhes permitirão, no seu dia a dia, e uma vez inseridos no mercado de trabalho, tomar decisões que tenham em conta a sustentabilidade”, enfatiza. Nesse sentido, aponta, é fundamental a ligação que a UMinho tem, desde há muito, com as empresas.

“Temos sentido que as empresas estão preocupadas com as questões da sustentabilidade, sobretudo as empresas que gravitam em torno dos plásticos, procurando soluções. Há na indústria uma preocupação geral e genuína em conseguir encontrar materiais de menor impacto e, por vezes, encontrar matéria-prima geograficamente mais próxima, para evitar a pegada de carbono provocada pelo seu transporte. E há também toda a questão relacionada com o material reciclado e reciclável”, explica, frisando que “nestes aspetos, como noutros, as empresas recorrem à universidade para as ajudar”.

Isso, adianta, passa pelo desenvolvimento de projetos, seja individualmente ou em copromoção, por prestação de serviços ou mesmo pela criação de cursos de formação especializados nestas temáticas. “Não é apenas a Universidade do Minho que colabora com as empresas, mas também as suas unidades de interface, adiantando que alguns exemplos são o Centro para a Valorização de Resíduos ou o Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros. É que, acentua, “a investigação e o desenvolvimento são fundamentais nesta questão da sustentabilidade e a universidade está consciente disso e sempre disponível para apoiar as empresas”.

Capacitação

No seu entender, a estratégia de sustentabilidade “passa pela formação de novos quadros para as empresas que levem consigo esta preocupação e que estejam capacitados para encontrar as melhores respostas”. Nesse sentido, “a missão da universidade é a preparação de quadros técnicos, a curto e médio prazo, para apoiar a indústria nessa mudança”, sendo certo que a área onde existe maior preocupação é a ambiental. “No entanto, temos tido projetos na área social e até na económica e financeira. Por exemplo, cursos de economia e gestão, que têm feito trabalhos sobre novos modelos de negócio ou análise de mercados: tudo isto em conjunto com as empresas”.

No futuro, defende, “será inevitável a formação integrada nas três vertentes da sustentabilidade, num único curso de formação”. “Esta é uma preocupação que temos e, por isso, é para já mais fácil adaptar as áreas de formação existentes, dotando-as de uma visão mais holística da questão da sustentabilidade”, explica, sublinhando que “o caminho passará por avançar com estes cursos e com a formação de profissionais especializados nestas áreas que ajudem as empresas a encontrar as melhores soluções e assegurar o seu futuro”.

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