Artesania Cariri

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FEVEREIRO DE 2012

REGIテグ DO CARIRI

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Uma nova costura pelos labirintos

da artesania caririense

Márcio Dornelles Em cada cidade visitada, amor e talento à flor da pele. A viagem do Jornal do Cariri por 18 municípios da região, com mais de 1.800 fotografias e centenas de histórias para contar, se transformou em três cadernos especiais do projeto Artesania Cariri – A Riqueza do Artesanato, publicados entre os meses de novembro e dezembro de 2011. A iniciativa promoveu um resgate das tipologias em torno das práticas artesanais, propondo uma releitura do próprio fazer artístico, baseado na tradição familiar ou nas necessidades impostas pela vida, como o sustento de vários filhos. Os cadernos cumpriram sua função principal: uma difusão do conhecimento sobre o momento sócio-econômico e cultural que envolve o setor artesanal da região caririense. Mas, o trabalho foi além. Trouxe para o leitor a realidade de pessoas simples, porém, dispostas a costurar a própria história, como bem fazem as mãos em tecido virgem. O Jornal do Cariri contou com a ajuda do Instituto de Estudos Pesquisas e Projetos da Uece (Iepro), do Banco do Nordeste e da Prefeitura de Juazeiro do Norte para expandir as próprias fronteiras e ir buscar vivências e práticas artesanais nos distritos mais afastados, de cidades localizadas no extremo da região. Madeira, palha, barro, papel, cipó, alumínio, gesso e até pedra, nas mãos de artesão de habilidade ímpar, ganham qualquer forma e múltiplos sentidos. O artesanato se faz perceber acima da importância econômica. O sorriso escancarado no rosto do artesão transmite a valorização do trabalho delicado, iniciado e finalizado com as mãos. O dinheiro

obtido com a venda dos produtos é importante, mas assume papel coadjuvante quando esbarra na felicidade do homem de se sentir útil, capaz de surpreender os próprios olhos com a destreza acumulada pela experiência. Mas, ainda há obstáculos a superar. A dinâmica da vida cotidiana moderna, a pouca valorização das peças, a falta de incentivo à formação de novas gerações de artistas populares e a ausência de uma política pública permanente de resgate de histórias, saberes e fazeres populares, são fatores que preocupam e ameaçam a sobrevivência dessas manifestações. São brechas que exigem uma discussão aprofundada e objetiva sobre os rumos de atividades tão significativas para seus municípios, que ajudam a recontar e compor a história, a atualidade e as perspectivas da região. O projeto Artesania Cariri – A Riqueza do Artesanato ainda tem uma missão a cumprir. Encerrada a apresentação de textos, fotografias, entrevistas e edições, o Jornal do Cariri prepara uma mostra fotográfica para março e abril de 2012. A exposição percorrerá Crato, Juazeiro e Barbalha, o famoso triângulo Crajubar, com imagens de personagens e obras do Cariri feito à mão.


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NOVEMBRO - 2011

Volume 1

O sertテ」o

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REGIÃO DO CARIRI

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EDITORIAL

Missão de redescobertas

O Jornal do Cariri, em parceria com o Instituto de Estudos Pesquisas e Projetos da Uece (Iepro), Banco do Nordeste e Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte, lançou o projeto “Artesania Cariri – A Riqueza do Artesanato”, no último dia 10 de novembro, no Hotel Verdes Vales, em Juazeiro do Norte. A iniciativa busca o resgate das tipologias em torno das práticas artesanais da região. Dos produtos característicos de cada cidade, seus ícones populares de autoria e a importância cultural das manifestações artísticas referenciais nesse setor de atividades. Três cadernos editoriais de oito páginas (tamanho Tablóide) vão trazer, entre os meses de novembro e dezembro deste ano, o resultado de um passeio da equipe de reportagem do Jornal do Cariri por um painel de amostras sobre práticas artesanais que ajudam a compor relevâncias de identidade regional. Para a divulgação dos trabalhos, a idéia do projeto “Artesania Cariri” é utilizar a veiculação de material editorial por intermédio de um dos meios de comunicação mais representativos do povo e do pensamento da região. Isso ocorrerá durantes os meses de novembro

e dezembro deste ano, em forma de matérias jornalísticas editadas quinzenalmente para o Jornal do Cariri, com adaptações posteriores às linguagens de rádio, TV e internet.

res e a ausência de uma política pública permanente de resgate de histórias, saberes e fazeres populares, são fatores a preocupar e ameaçar a sobrevivência dessas manifestações.

Resgatar e valorizar

Mostra Fotográfica e

saberes e fazeres

No Cariri, cada cidade ostenta sua identidade cultural de maneira expressivamente peculiar, onde seus artesãos traduzem em madeira, palha, barro, papel e diversas outras matérias-primas, a força da sua tradição e da sua cultura. Promover a difusão dessa diversidade, garimpando histórias e buscando justificativas para o crescimento e expansão de cada tipologia, é o objetivo do projeto “Artesania Cariri - A Riqueza do Artesanato”. Mesmo em regiões fortemente ligadas ao artesanato como a do Cariri, significados relevantes desse universo criativo estão cada vez mais fora do alcance de decodificação simbólica das diversas comunidades. A dinâmica da vida cotidiana moderna, a pouca valorização das peças, a falta de incentivo à formação de novas gerações de artistas popula-

Livreto

Encerrada a apresentação de textos, imagens, fotografias, entrevistas e edições, será realizada em janeiro de 2012 a mostra fotográfica intitulada “Artesania Cariri, a Riqueza do Artesanato”. A exposição irá percorrer vários pontos da conurbação composta pelos municípios de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, o famoso Triângulo Crajubar, região de maior adensamento populacional. Entre as localidades preferenciais, estão escolas, museus, centros de religiosidade e memória. O Jornal do Cariri também irá publicar como encarte um livreto com poesias, crônicas e textos variados sobre o artesanato caririense, a serem ilustrados por trabalhos fotográficos produzidos durante as etapas de composição das matérias jornalísticas do projeto.

Contatos: Diretor-presidente: Luzenor de Oliveira - Diretor de Conteúdo: Donizete Arruda

Diretora de Jornalismo: Jaqueline Freitas - Editor Caderno Especial: Wilton Bezerra Jr Editor - chefe e Fotografias: Márcio Dornelles

Projeto Gráfico e diagramação: Flávio Marques e Evando Ferreira Matias

Redação: cidades@jornaldocariri.com.br | policia@jornaldocariri.com.br redacao@jornaldocariri.com.br Departamento Comercial: comercial@jornaldocariri.com.br Geral: jornaldocariri@jornaldocariri.com.br Administração e Redação: Rua Pio X, 448 - Salesianos Cep: 63050-020 - Fone: (88) 3511.2457


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REGIÃO DO CARIRI

Nordeste brasileiro

Criação espontânea e

habilidade para viver Artesanato. A palavra vem do Latim ars, que significava “capacidade de fazer alguma coisa”. Ars passou, mais tarde, a “arte”. Através do Italiano artigiano, temos “artesão”, aquele que exerce atividades mecânicas ou decorativas. Depois, o sentido foi-se modificando e passou a estar relacionado a “aquele que faz manualmente,

por sua conta, objetos para uso doméstico”. Hoje, artesanato adquiriu uma definição bem mais abrangente e aceita-se como sendo o “resultado de uma habilidade bem treinada e de uma sabedoria própria do metier. Constitui-se em expressão espontânea de criatividade de um povo”.

Alimentos

E essa “habilidade espontânea”, segundo o “Estudo Setorial do Artesanato”, realizado pelo Sebrae Ceará, pode ser aplicada a quase tudo. Contempla produtos como imagens sacras, esculturas, jarros, mobiliário, tapetes, acessórios do vestuário, calçados, brinquedos, instrumentos musicais, utilitários para o lar, trajes típicos, redes, mantas, ar-

Tipologias Tipologias

tigos de cama, mesa e banho, miniaturas, doces de frutas regionais e bebidas de frutas típicas, testemunhos do talento inato de uma gente que usa as mãos para transformar em arte todo o seu potencial criativo. Ao todo, no Nordeste foram mapeadas e reconhecidas 11 tipologias e 57 segmentações, conforme quadro abaixo:

Couro

Reciclados

Cerâmica

Madeira

Rendas e Bordados

Cestaria e

Metal

Tecelagem

Trançado

Pedras

Tecidos

Ceará

Produção artesanal em 76,1% dos municípios, ou seja, em 140 dos 184 municípios do Estado; Maior relevância em pólos como o de Fortaleza, Serras de Aratanha e Baturité, Ibiapaba, Canoa Quebrada, Jericoacoara e Cariri.

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O Cariri feito à mão

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S

empre um destaque especial quando o assunto é artesanato, a região concentra grande diversidade em tipos de arte. Isso transforma esse “oásis” de grande área verde mais ao Sul do Ceará reconhecido também como celeiro cultural. E, dizem os historiadores, tanta variedade e riqueza teve a providencial ajuda do Padre Cícero, cratense de nascimento e responsável pela fundação de Juazeiro do Norte. Um “patriarca do sertão” que ganhou fama e legitimidade de santo popular em todo país. Reza a história, recontada no site www.planetasustentavel.abril.com. br e na Revista “Bravo” (Especial Ceará-2009) que, quando um romeiro chegava à Região e se apresentava ao padre, este lhe perguntava o que sabia, o que podia ou o que queria fazer. No fim da conversa, recebia o viajante uma missão que, mais tarde, deveria ser estendida aos herdeiros. Assim, cada domicílio passou a abrigar um altar (oratório) e uma oficina. Em Juazeiro do Norte, os ofícios eram levados tão a sério e de maneira profícua, que começaram a surgir ruas específicas para cada tipologia. É justamente toda essa rica pluralidade que pretendemos começar a mostrar no primeiro número da série de três publicações do projeto “Artesania Cariri, A Riqueza do

5. Madeira

6. M

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Nesta edição, vamos abordar o trabalho dos artesãos da microrregião Sertão do Cairri, que reúne os municípios de Aurora, Barro, Mauriti, Abaiara, Brejo Santo, Jati, Milagres, Penaforte e Porteiras.

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9. Renda

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REGIÃO DO CARIRI

O Sertão do “OÁSIS” Rico artesanalmente como é o Cariri, se torna fácil perceber que algumas tipologias apareçam com mais força em determinados municípios. Tendo como base o “Estudo Setorial de Artesanato” do Sebrae Ceará, mapeamos e levantamos as tipologias de maior relevância em cada uma das cidades da microrregião Sertão do Cariri, conforme o quadro: Área - 4.598.852 km² 08 municípios

187.259 habitantes, segundo o Censo de 2005 do IBGE.

Ocorrência registrada de 08 das 11 tipologias nordestinas reconhecidas

Milagres: couro

Aurora: rendas e bordados;

Barro: couro / madeira/ rendas e bordados

Mauriti: couro / cerâmica / rendas / cestarias e trançados / metal

P

enaforte: cestarias e trançados / rendas e bordados A tipologia de maior abrangência no Sertão do Cariri é a de rendas e bordados, registrada em sete municípios, seguindo-se os artefatos de couro, com quatro ocorrências. As demais (madeira, tecelagem, cerâmica, cestarias e trançados) apresentam dois registros por município. Alimentos e metal têm uma ocorrência cada.

Abaiara: rendas e bordados B

rejo Santo: madeira / rendas e bordados / tecelagem / alimentos

J

ati: couro / rendas e bordados / cerâmica / tecelagem

Onde e o quê tem de melhor Rendas e bordados -

Aurora, Abaiara, Barro, Brejo Santo, Jati e Penaforte.

Como tipologia, a renda e o bordado são usados em produtos de cama, mesa e banho, enxovais, artigos para copa e cozinha, trajes típicos, roupas, decoração e bonecas. No Cariri, há uma predominância do ponto cheio, do crochê e do ponto-de-cruz. Isso se repete nas regiões do

11 segmentações:

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Sertão às quais nos atemos nesta edição, e com mais força nas cidades de Aurora, Abaiara, Barro, Brejo Santo, Jati e Penaforte. As peças mais comuns são toalhas, caminhos de mesa, toalhinhas, lenços, enfeites para toalha de banho, panos de prato, toalhas de lavabo.

• Labirinto • Vagonite • Frivolite • Richilieu • Rendende • Ponto-de-cruz • Ponto-cheio • Bilro • Crochê • Irlandesa • Renascença • Filé


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nde nde e eo o quê quê tem tem de de melhor melhor o que tradiçã or a m u É elo am ti, Mil ro de regise v i ve p e n t a a r J b , o o s r r e Ba io, alim es é ior núm a o o f í c s ve z e s p e l o ndo ma s microrregiõ de u g e s ita a s do, mu Reg ião. Em gia com ípios das du e nas cidade lo o ip t ic à A un taqu os um apego om des s oito m ontram A lojinha c uis, em e n t ar e r tros no aparecendo c auriti. , a i t Ja es. anuel L ara comport e, no s , M s u M o e q e r a d a u s u A r e o o . l r p im s a ) p r g e a oc n o a p õ m t n il s a e o e (f ex qu rad Jati, M uma matéria iadas dimen Bôsco , naugu e, é pe i o o d r ã a u r Barro, m o d é a o i é J c v c c o a re tro da O cour rense, g anha péu de a r t e s ã o vo l t a r p a r a S ã o no Cen dade que o é o cha mpre gosta a e e l a c p em ic uido o t t ís a i e san eça elic te s conseg trabalhando ecof acter p n r r a a a é e it c t a m is d r is é v o a to b o e as 5 anos indo p peça m ueiro usa e o aqueiro tam tá sent . Depois de 1 ial de trabalh o muito v q s a e o v . d s o a e r que diçã atal roup ater irado s, baiterra n e reuniu o m lta numa con que lhe ens prar. A s comp , arreio deiras. s , l la o e de com putadas pelo e e r v , e t c e Pa u l o om as e, e qu s e ca dis eu mes tou. El muito ntece c tas, escultura atos de s e vo l u b s t i t u i r o s a n o s d e i d a d u e , n o o a i c a m o o p q n as 14 O mesm a, porta revis catas e os sa ecendo o que ial: par ando t inha h c n e o p c r c s e e a e r rar qu o ef alp ição ofício nhas d andálias, as “Mesm ias para fatu s, ele é d . o a o r u t n o a a n a ss há um balhar 30 d a ant ig o atro di , está Afora a . orreu, ra ssui um ro. De acord em qu t m o ui a u a p i q r s u i A á c g c r . o e e a a/ ada cou , pr ons n ju i cour o Ce c r / m r i s , a e r o e t e a t s p s i d i C o i l s a / it d al pau so aqu Na ver artesanais fe unidades.net 830182, a a capit Não tro co is n 9 s m 8 o o 3 g .c 1 i a t “ = o t o: de ar ag ina tp://n expor enfátic felicidade.” site ht /index.php?p ecuária e da a rica a h com o n e p i a t am explic ção da uranor juacult iva participa mia cearense te material. at es no signific uros da eco duzidas com o o c r e p d s ção peça ade de varied

iti.

Couro

Madeira -

Barro e Brejo

Maur agres e

Santo

e mais destaira aparece com força de ma em to na esa art O . As peças de Barro e Brejo Santo es ad cid s na ro ist reg cado biliário rústico quenas indústrias de mo pe de ser m de po to tan do trabalho genhos de cana, além en de ria ina qu ma à como agens sacras e res na fabricação de Im do ha tal e es or ult esc de ha e brinutos para copa e cozin od pr , ras ldu mo es, lar popu quedos populares. vive em Brejo velaria sacra do Cariri, mo da cio ofí l íci difi No tre a tradição, ntual, que se divide en po m ge na rso pe um Santo rcenaria cheia nário. Por isso, da ma cio olu rev o e o rn de o mo ou não, vão eira e móveis acabados po , ira de ma de as tor de o Raimundo Capeças do que o artesã is ma e s ça pe o ind rg su o artesanato hobby. Além de bonito, um ra ide ns co to) (fo al br ido, tem nome dinho”, como é conhec un aim “R seu lo pe ntada. to fei cado: geometria segme lia pemp co São peças feitas pedaço ncia ciê daço, num jogo de pa ida e simetria que exige cu a viu do”. Ele confessa que vez na técnica pela primeira caeri internet, feita por am e s, so nos ou japoneses ido gu Or . adaptou ao seu estilo de lda cu lhoso do grau de difi ão de que envolve a confecç o a cada peça, ele mostr

ista plica que, embora art resultado enquanto ex s, em eja balhos feitos em igr reconheci do pelos tra conna ão de altares e até ostensórios, Na decoraç endo viv ina osos, não se imag fecção de troféus religi , que ria ete o trabalho de march desse talento. Mesmo eço pr m bo gio e fama, tem um sempre lhe rendeu elo no mercado. m, em ser referência, també E a madeira começa a Dias. ra rei Pe balho de Damião Mauriti a partir do tra ções fei ir im ilizou-se por impr . Nas esculturas, notab veis. mó s no uras retratadas e bem nordestinas às fig as foria leg ivi uma linha que pr Optou por desenvolver ncos ba e s ira os em mesas, cade mas naturais de tronc dá lucro. e qu o çã va rusticidade. Ino ína nu ge is ma da s cheio


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estarias Trançados e C

Tecelagem-

Mauriti e Jati

Brejo Santo e Jati

Esta tipologia tem boa evidência nas cidades de Brejo Santo e Jati, com a produção de redes, mantas, tapetes, almofadas e artigos para copa e cozinha, com fios de algodão cru e linha.

palha de as pelo emprego da Tipologias dominad a confecção bu e do cipó para carnaúba, do bam éus, bolsas, objetos, como chap dos mais diversos s de vestuátapetes, acessório cestas, mobiliário, para copa e as, painéis e artigos rio, sacolas divers cozinha.

i aurit e das M - cidad arte-

a l a única nde o ia. t e M it i é es o ânc

v r iõ Mau icrorreg tem rele , tais l s a m o t duas o em me ntes ram serrat e , sana ge difer ferraria atas l , n Abra : latoaria ria. Com ricam a b o l a ute com os f rinas, aec tesã lhari as, os ar s, lampa s a usad s, canec s, forma e a la i bac , caçaro om forja os s i outr tc. C fun lo, e lém de instruo b a de os, ares rna, bigo udiment e ferreir as r tos d onad men onfecci ores são c s, armad afoice es, cho c od rg de re tribos, a as s eç e p , lhos aduras, para o h s io ec las, f , ut ilitár a copa e s r a a r sac rt igos p a , lar ha. cozin

rECICLAGEM -

Penaforte

Poderiam ser nove as tipologias, se levarmos em conta uma que vem tomando força a medida em que cresce a consciência ambiental no Cariri cearense. A reciclagem. E fomos encontrar em Penaforte uma família dedicada a esse novíssimo artesanato. A criativa pintura da casa, feita com um espanador molhado em tinta e que dá um visual diferenciado em relação às outras construções de Penaforte, não deixa dúvida de que ali mora uma família diferente. O pai, Luís Mauro de Sousa, pedreiro e estudante, é um artista reciclador nato que contagiou toda a família com uma nova visão do que pode ser aproveitado artisticamente. Assim, da mulher, Maria Lúcia, professora que faz guirlandas de Natal com garrafas pet às filhas gêmeas, Mayara e Maysa, que se dedicam a criar árvores natalinas do mesmo material, tudo é motivo para reinventar utilidades e fazer arte. De todos os cantos da casa modesta, vão aparecendo caixas de restos de madeira, enfeites de parede em jornal reciclado, vasos de papel marchê e até um abajour de casca de árvore.

Cerâmica

Alimentos (doces e bebidas)

-

Brejo Santo

Doces e bebidas aparecem como tipologia forte apenas em Brejo Santo, com a produção de doces de frutas regionais típicas.

-

M

auriti e Jati Esta tipologia marca as cid ades de Mau mulher indíg riti e Jati. A ena já fazia p anelas e prato massapês pró s de barro dos ximos. Ainda hoje, a cerâm para os mais ica é usada variados arte fatos caseiros quartinhas (m como jarras, oringas), gam elas, pratos, alguidares, va m ealheiros, sos, panelas e similares, m diversas, lum iniaturas inárias, aran delas e utilitá lar. Além do rios para o barro, também são usados co téria prima o mo magesso e a arg ila, principal confecção de m en figuras sacras te na , brinquedos tação de anim , represenais, pessoas, flagrantes do do trabalho ru dia a dia e ral.


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M auriti- Um mundo

de criatividade Dos nove municípios que integram as microrregiões de Barro e Brejo Santo, o município de Mauriti é o que apresenta a maior diversidade de tipologias com cinco registros, seguido por Brejo Santo, com quatro ocorrências. Com um nome originário do tupi, que denominava uma palmeira (humburity, árvore que dá sumo, classificada como Maurititia Vinífera), a cidade de Mauriti é famosa por sua extensa área geográfica e muitos distritos como Anauá, Buritizinho, Coité, Nova Santa Cruz, Olho dágua, Palestina, São Félix, São Miguel, Umburanas. A maior parte concentrando artesanato de qualidade. E a madeira começa a ser referência, também, em Mauriti a partir do trabalho de Damião Pereira Dias. É verdade que é difícil reconhecer no artesão que fez sucesso na Expocrato, na Expoece, na Feirart da Ceart e na Casa Cor Ceará 2011, o pequeno agricultor que aos 15 anos capinava lavoura e brocava na

Aurora - Terra de

famosos e premiados A tradição de alguns municípios em focarem tipologia específica tende a mudar e se enriquecer a partir do investimento em cursos, treinamentos e capacitações. É o que acontece em Aurora. O município de 25 mil habitantes já recebeu, por exemplo, curso de artesanato em cerâmica – ‘Louceiras do barro cru’, promovido pela Secretaria de Cultura de Aurora, em parceria com o Centro de Artesanato do Ceará (CEART). A capacitação veio ajudar a resgatar o artesanato em barro que é uma tradição regional. Ajudou a revelar artistas como

Francisco Oliveira, o Franzé D´Aurora (foto). Influenciado pela avó, uma conhecida artesã popular nesta tipologia, ele começou moldando em barro e não demorou a ir descobrindo a madeira e outras técnicas. O talento iniciado no artesanato ganhou outras expressões e levou Franzé para fora do Cariri. A primeira exposição foi em 1969, integrando coletiva que marcou a programação de aniversário do Ideal Clube de Fortaleza. Em 1972, participou do Salão dos Novos, obtendo o primeiro lugar, feito que repetiu no concurso de artesanato do Banco do Estado do Ceará

(BEC), em 1976, para representar o Ceará na inauguração das agências de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. A partir daí, tornou-se pioneiro na técnica ferro-cimento e, na década de 80, realizou importantes trabalhos como o painel de cimento armado em Aurora e uma turnê pela Região Sudeste, apresentada no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. Aurora, também berço do celebrado artista plástico Aldemir Martins, tem iniciativas interessantes como o compromisso dos artesãos locais em prol da sobrevivência do ofício junto às novas gerações.

zona rural de Mauriti. Filho de marceneiro especializado em fazer engenho puxado a boi, ele nem pensava em trabalhar com madeira quando foi convidado a aprender a profissão. Recebeu, então, do seu mentor, Raimundo Élcio, uma escultura e o desafio de fazer algo igual. Não só copiou a peça, como descobriu, ali, a sua vocação. Mas, demorou a encará-la com seriedade. Antes, chegou a montar três bandas de forró. Desistindo da música, voltou-se, definitivamente para o artesanato, preocupando-se, no entanto, em inovar. Nas esculturas, notabilizou-se por imprimir feições bem nordestinas às figuras retratadas e nos móveis, optou por desenvolver uma linha que privilegia as formas naturais de troncos em mesas, cadeiras e bancos cheios da mais genuína rusticidade. Inovação que dá lucro. Um retorno financeiro maior e imediato que vem assegurando uma vida melhor para ele e para a nova geração de artesãos que ele ajuda a formar.

Milagres - folclore e preservação No município de Milagres, uma outra manifestação de apoio aos artesãos fica na rua Presidente Vargas, um ponto de convergência do artesanato da cidade. Num casarão bem instalado, decorado com peças históricas e mantido pela iniciativa privada, a Casa de Cultura Guiomar Gomes tem o apoio do Governo do Estado, para manter viva a arte popular. Peças em crochê, em cabaças e reciclados, represen-

tando o folclore da Região e o cotidiano simples e encantador dessa parte do Cariri, dão vida e testemunham o respeito pela arte manual da cidade. Uma arte que tem um guardião atento na figura de André Azevedo que, além de artesão,a é um conhecedor e um disseminador da Cultura local. O espaço serve, também, para a realização de cursos e oficinas e um endereço do rico artesanato de Milagres.


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D ezembro

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Volume 2

Caririaテァu e Chapada do Araripe

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Da serra aos sertões, sob O

o signo da diversidade

segundo volume do projeto Artesania Cariri traz um mapeamento da produção artesanal de mais duas microrregiões do Sul Cearense: Caririaçu e Chapada do Araripe. Com seus 12 municípios: “Altaneira, Antonina do Norte, Araripe, Assaré, Campos Sales, Caririaçu, Farias Brito, Granjeiro, Potengi, Salitre, Tarrafas e Várzea Alegre”, uma área de 6.085.513 quilômetros e 158.387 habitantes, essas duas

microrregiões repetem uma característica que o Cariri ostenta: a diversidade da produção artesanal. Nessa faixa de terra, onde a base da economia é a pecuária e o cultivo do algodão, feijão, milho e cana de açúcar, há perfis econômicos interessantes como o do município de Farias Brito, conhecido pela produção de cal, e o de Assaré, onde o Turismo e suas atividades associadas ba-

A Chapada do Araripe é um planalto localizado na divisa dos estados do Ceará, Piauí e Pernambuco. Abriga uma floresta nacional (1946), uma área de proteção ambiental (1997), um geoparque (2006) e cinco municípios (Araripe, Assaré, Campos Sales, Potengi, S a l i t r e ) . Tem 95.047 habitantes e uma área de 4.784,685 quilômetros quadrados. Para essa reportagem, incluimos ainda os municípios vizinhos de Tarrafas, Antonina do Norte e Campos Sales Várzea Alegre, pertecentes à à mesorregião Centro-Sul Cearense.

ANTONINA DO NORTE

POTENGI

salitre

araripe

seiam boa parte das fontes de ocupação e renda da população. Com relação à produção artesanal, a tipologia mais presente, segundo o estudo “Setorial do Artesanato” do Sebrae Ceará, é a renda e bordados, identificada em praticamente todas as cidades e que dão acabamento a peças de vestuário, cama, mesa e banho, utilizando-se os fios do próprio tecido ou fazendo-se apliques.

TARRAFAS VÁRZEA ALEGRE

ASSARÉ ALTANEIRA

FARIAS BRITO

A microrregião de Caririaçu tem população estimada pelo IBGE (2005),em 63.340 habitantes e possui uma área total de 1.300,828 km². Está dividida em quatro municípios: Altaneira, Caririaçu, Farias Brito e Granjeiro.

GRANJEIRO CARIRIAÇU


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REGIÃO DO CARIRI

Rendas e Bordados

Um vareio de técnica

por todos os cantos

Os bordados e rendas das regiões de Caririaçu e Chapada do Araripe são conhecidos pelas várias técnicas utilizadas. As mais comuns são o “ponto cheio”, “vagonite”, “boa-noite”, “labirinto”, “redendê” e “ponto-de-cruz”.

Segmentações

em euro-

orig - O bordado tem ” e it o N a o (o B o mais usado “ do tecido desfiad

rtir ea a ser péia e é feito a pa , esticando-se a ár os nt po ns gu al de". Utilié cambraia) em bastidor ou "gra um de lio xí au construir trabalhada com indo os fios para un e i-s va ha lin As peças zando agulha e ioso e delicado. uc in m é ho al ab de mesa o bordado. O tr idas são toalhas uz od pr te en m , blusas e mais freqüente lenços de bolso a, ej nd ba de s e banho, pano passadeiras.

e tipo de renda, também “Labirinto” - Ess rdestaca, sobretudo, pela pe

conhecido por "crivo", se aas são contornadas por "m feição. As peças produzid nto me ba rcionando um aca tame" ou "perfilo", propo to a rendeira risca o deseirin perfeito. Para fazer o Lab o linho) e em seguida, obenho no tecido (geralmente a e tece com o auxílio de um decendo ao riscado, desfia or. stid ba a tesoura e um lâmina, uma agulha fina, um

“Redendê” -

É um outro tipo de bori é elaborado com Carir no lar popu dado muito bordadeira corta o a , Nele ura. teso e agulha, linha s e, tecido em quadrados, losângulos ou triângulo s com com o auxílio de um bastidor, vai unindo-o s. barra ando form , ridas colo ou linhas brancas

V

“ agonite”- É um tipo de ponto para bordado que se caracteriza pela perfeição dos desenhos, construídos a partir do preenchimento, com ponto cheio, dos espaços desfiados do tecido.

uz” - Os “Ponto de Cr tipo de bordado

tecidos usados nesse ão. O processo são o linho ou o algod agulha e linhas é simples: usando-se ruindo os desecoloridas e vai-se const s em formato nhos sempre com ponto amentos florais, de cruz. Bordam-se orn fauna da região, paisagens, espécies da nogramas, refiguras geométricas e mo iosos conjuntos sultasndo em harmon de cama, mesa e banho.

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várzea Alegre

linha e agulha para criar nove filhos O

ponto cruz é uma das especialidades de dona Maria Ferreira Silva Socorro (foto), que mora numa casa simples, mas limpíssima, na rua Batista de Freitas, bem na entradinha do município de um dos municípios cearenses que tem o orgulho de nunca ter mudado de nome: Várzea Alegre. Mais que isso: foi bordando e tecendo que ela conseguiu sobreviver e tirar da agulha e linha o sustento dos nove filhos depois que foi abandonada pelo marido, quando o menorzinho tinha só três meses. Nessa época, ela conta que nada sabia além de cuidar da casa, dos filhos e capinar na roça. Foi uma frase do filho mais velho, com medo de, sem o pai, morrer de fome, que deu a essa mulher baixinha e

risonha a inspiração e força para ir aprendendo tudo o que aparecesse e que pudesse gerar algum tipo de renda. “Pedia para me ensinarem qualquer traba-

lho manual e tentava, tentava até começar a fazer”, conta. E tinha que fazer “muito”. “Eu trabalhava de manhã até meia noite ou uma da madrugada. Fazia tudo. Da varanda de rede e até doce de leite para vender. Mas, graças a Deus, deu certo”. O “dar certo” para dona Maria Ferreira são os filhos, alguns ainda estudando, mas todos encaminhados na vida. “Quando eu conto a minha história, tem gente que até chora. Mas sou feliz. Trabalho no que gosto e o que faço me deu uma vida nova”.

Farias Brito

Técnica e requinte para novas gerações É um bordado difícil, o vagonite. Mas, a habilidade nessa segmentação foi o que deu fama à dona Maria de Fátima Barbosa Martins (foto), do município de Farias Brito, que um dia já foi “Quixará”. Trocou de nome para homenagear o filósofo Raimundo de Farias Brito. Vamos encontrá-la sentada à porta de casa, balançando o neto que dormia na rede. O contato com agulhas e linha começou aos 12 anos, ensinada por uma amiguinha da mesma idade. Mas o que começou como brincadeira de criança, virou ofício, rapidinho, pela necessidade de sobrevivência. E, aos poucos, a vocação recém-

-descoberta foi assimilando outras tipologias como o trabalho com palha de bananeira e carnaúba e o bordado em ponto cheio e reto. Apesar da desenvoltura com que transita entre tantas técnicas, ela confessa que foi o “vagonite” em que mais se especializou. E para provar a excelência alcançada no trabalho, vai lá dentro, correndo, buscar uma peça para mostrar, com indisfarçável orgulho, o diferencial do seu trabalho. “Está vendo? O bordado não passa, não vaza para o avesso do tecido. E isso é muito difícil”. A técnica aprimorada transformou-a em instrutora em vários distritos onde vem ajudando a lapidar uma novíssima geração de artesãs a quem ensina, não só o ofício, mas o amor pela cultura e manifestações populares. Uma iniciativa da Prefeitura que tem mesmo se notabilizado por iniciativas como a realização de cursos para inspirar novas vocações, como o de “Escultura em Argila” promovido pelo Centro Cultural e destinado aos artesãos da cidade.


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O

r o h l e m e d m e t ê u q o nde e

Assaré, Caririaçu e Potengi

Malhar o metal dá ritmo à economia

Divididas em ramos como As peças em metal tem registros em Assaré, Caririaçu e Potengi.baldes, canecas, bacias, co-

lataria, ferraria, serralheria, cutelaria e resultando em produtos como chocalhos pos, raladores, candeeiros, caçarolas, lamparinas, foices, dobradiças, armadores de rede, tipologia essa heiras”, “passarin das para o gado, estribos, ferraduras, esquadrias, portões, espingar dá o ritmo da vida econômica.

Potengi, a cidade que não dorme A artesania em metal divide com o di-

nheiro da pensão dos aposentados a base da economia da cidade de Potengi. Desmembrada do município de Araripe, a cidade chamou-se, durante muito tempo, de “Xique-Xique”. É conhecida no Cariri como "a cidade que não dorme", por causa da grande quantidade de ferreiros. Ao todo, são mais de 40 oficinas espalhadas, principalmente pela rua principal. e fica fácil identificá-las pela morros de refugo pretos na

frente de cada uma. Como o trabalho em metalurgia produz muito calor e a arquitetura característica das oficinas, com portas estreitas e janelas pequenas -quando as tem-, não favorecem ventilação, elas acabam se transformando em verdadeiros fornos, onde a temperatura em muito excede os 35ºC médios do restante da cidade. Isso explica porque, para amenizar o calor, os ferreiros começam a trabalhar sempre depois da meia-noite.

Pólo ferreiro

Calor que sustenta e conforma a vida Há nove anos dividido entre a bigorna e o forno,

Luis Carlos Pereira (foto) é filho e irmão de ferreiro. Do ofício, que já lhe queimou muito as mãos e endureceu pele e espírito, ele confessa que não gosta. Mas faltam opções e, sobretudo, remuneração que que se equipare na região. Tudo acaba empurrando-o para cada vez mais perto do calor infernal que garante vida com algum conforto para a mulher e o filho Antonio Carlos, de três anos. Para ele, Luis Carlos não quer nem pensar a mesma sina. É quando a maioria das pessoas acabou de deitar ou está ainda no chamado primeiro sono, que o ferreiro deixa a casa pequena e sai para trabalhar. E é cedo da madrugada ainda, quando ele começa a aquecer e martelar o ferro para dar forma a foices, facões e roçadeiras. As batidas fazem um barulho forte e característico que só não mantem toda

Potengi acordada porque a cidade parece ter-se acostumado à dura rotina do segmento mais forte da sua economia. O barulho das batidas só parece diminuir quando começa a se misturar com o do resto da cidade que acorda. Com um dia a dia diferenciado, ele ficam na lida até as 11 horas, meio-dia, quando a temperatura externa alta torna impraticável o trabalho nas oficinas. Nessa hora, as batidas param para só recomeçar lá pelas quatro, cinco horas da tarde. Por volta das seis, sete param novamente para retomarem na madrugada. Potengi tem o maior pólo ferreiro do Cariri cearense. Sua produção é vendida no comércio local, e exportada para outros municípios do Ceará, Piauí, Maranhão.


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r o h l e m e d m e t ê u nde e o q

O

Araripe e Caririaçu

os d a ç n a r t e s Cestaria oça r a d e t n e g tiram

das, as cestatológicas preserva len pa ias nc rê fe m das re a produção artesimbologia da su na a Em Araripe, parapaalé siv es o dos pr ex ão palha na confecçã m rticipaç pelo emprego da rias e trançados te a para ad e in rv m se a do é ar ia a tipolog stas. A taqu sanal. Na região, ba e apéus, bolsas e ce aú ch rn o ca m co de is ho ta ol , jetos etes, apanhar gu fo ra mais diversos ob ás, pa çu as ca bu , se utiliza em as, gaiolas e tá sistente que o talo re fazer bicas e calh ais m , ta an pl o cipó da fabricar pífaros. Já alhas. iaçu. mentos, nas cang ju nificância em Carir os e br so usados o reconhecida sig igues, o ad dr m to Ro m os te nt m Sa bé m m ense, Joaqui ar Os trançados ta ce e nt cia er m famoso co A terra natal do

H abilidade e sustento

com a palha do milho

Fazer arte e viajar na palha do milho. Foi assim com dona Maria Martins de Lima (foto). Ela e o marido, Josimar Martins (foto), que viviam em um sítio e trabalhavam na roça, tem agora uma história de sucesso para contar graças ao trançado com palha de milho. Começaram procurando imitar o que viam aqui e ali, até em programas de televisão. Depois, ganharam capacitação da Prefeitura e foram desenvolvendo habilidades. Hoje, a produção não para de crescer estimulada por uma criatividade que faz seu Josimar exibir novas coisas a cada momento. Assim, a cartela de produtos, que já inclui cestinhas, bandejas, caixas, jogos americanos, bolsas, tapetes e jogos para escritório, se diversifica. Resultado, o artesanato que garantiu folga financeira e a oportunidade de sonhar com dias melhores, já financiou aventuras inesquecíveis como uma viagem a São Paulo e vindas quase que mensais a Fortaleza. “Coisas que eu nunca pensei em viver, antes”, conta dona Maria. Eles fundaram até uma associação, a Arte Nossa, que reúne sete artesãs, para atender à procura pelos produtos. “Estou tentando, agora, vender para fora, para essas grandes empresas”, revela seu Josimar que acaba contando, baixinho, um sonho: “Vender para a TokStok”.

e esnga” e do jurista folclórico “Seu Lu foi baes rg Bo de Oliveira le do critor Raimundo e habitavam o Va qu os di ín s ao em ag o tem aprenen pi m icí ho un tizada em e Araripe. O m o dr Pe gião e que está o Sã de s rra a abundante na re im pr iaCariri, entre as se ér at tes tram a pio. Gente que an ar em renda um tesãos do municí dido a transform ar bolsas de o as m os co s lid ça bi mãos ha milho em pe do a lh pa a a virando arte nas rm s. tura, agora transfo de muitas família balhava na agricul ntem o sustento ra ga e qu o, çã ra e objetos de deco

Granjeiro

Artesãos resgatam

o Sisal nas encostas da serra

município criado em 1957 e inicialmente conhecido como Junco e São Pedro do Cariri, tem resgatado o sisal como alternativa de renda e trabalho para a comunidade. Na localidade de Serrinha, por exemplo, vamos encontrar dona Maria Nazaré Santos (foto), de 69 anos. Há 15 ele passa dias e dias, traçando os fios macios e claros da palha. Também conhecido como agave, uma espécie de fibra têxtil, o trabalho com o sisal vem permitindo o surgimento de artesãos entre filhos de agricultores e espalhando plantações desse tipo de planta, antes quase em extinção, pelas encostas da serra. A comunidade chegou a criar a Associação dos Produtores de Sisal, mas Dona Maria explica

Granjeiro,

que das 28 pessoas, poucas continuam trabalhando com a fibra. “E é porque as encomendas são muitas. Tudo o que a gente faz, vai para a Ceart, vende logo, e eles pedem mais. Hoje, somos só oito trabalhando e fica difícil atender”, explica.


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Farias Brito, Caririaçu e Várzea Alegre

Redes em teares primitivos

A tecelagem aparece com forte ocorrência nos municípios de Farias Brito, Caririaçu e Várzea Alegre, tendo a rede de dormir como principal produto. Antes, feita pelos indígenas usando a fibra do tucum, a rede foi incorporada aos hábitos dos colonos portugueses que passaram confeccioná-la tecida em al-

godão. Ainda hoje é produto "made in Ceará", exportado pelo mundo inteiro. O turista leva, identificando-a como legítima representante do artesanato do Estado. No Sul do Ceará, ainda existem artesãs que as fazem manualmente, com teares primitivos, em que pese a concorrência das tecidas industrialmente.

Arte e superação Sítio Mocotó Arte e superação no no S ítio M ocotó E V

A

m árzea legre, no Sítio Mocotó, a 12 quilômetros da sede, a rede virou ponto de partida de uma história de superação, empreendedorismo e sucesso. Que uniu três irmãs: Rosinha, Ceilda e Cileide (na foto, agachadas), portadoras de atrofia nos membros superiores e inferiores, órfãs de mãe e excluídas por serem “diferentes”. Na tecelagem, encontraram uma forma não só de sobreviver, mas de gerar renda e trabalho para toda a comunidade. Especializadas em produzir, quase que totalmente de forma artesanal, coloridas redes de dormir, tipo sol a sol, elas criaram a Associação Comunitária do Sítio Mocotó. Hoje, a entidade diversificou a produção e, além da montagem das peças com varandas em crochê, produz vários artigos bordados à máquina.

Campos Sales

Associativismo incentiva produção e comércio


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Salitre, Altaneira e Antonia do Norte

FUxico, palha, bordado

e renda para Juazeiro

A

l de bordados, com aplicação de parte da produção é ção artesana Gran as. rend e os dad to e trabalho com fuxico. O mesmo s ações voltadas para o artesana , ajudando a reforçar o em tecido eiro Juaz em dida ven do Norte, município no município de Salitre são concentra- estoque artesanal da cidade que mais recebe acontece em Antonina antes habitado pelos índios Judas na Associação Comunitáantes e turistas na Região. visit e da stas Arti e sãos ria dos Arte O mu- cás e conhecida pelo nom É o que se vê também em Altaneira. a utem pop que Com bo, . cam ade Comunid Santa Te- de Mon nicípio, originalmente chamado de l lação estimada em 14.582 re David sua produção artesana pad do e e que ganhou esse nom reza o para icípi ada mun cion o dire habitantes, ida como também Moreira justamente por ser conhec foca a sua produção nos produ- esta tipologia. iva ress exp a “cidade alta”, tem uma bora, palh em s trançado

Assaré

Mestres da cultura em PLENA atividade A

ssaré, terra do compositor, repentista e poeta popular Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, deve ao autor de “Triste Partida” boa parte da sua fama. Mas a cidade é cheia de tradições culturais preservadas através do reconhecimento às figuras que referenciam os saberes e fazeres populares. São agraciadas com o título de “mestres da cultura” e se destacaram em atividades que vão da música, tradições religiosas, dança e vaquejada ao artesanato em madeira, barro e gastronomia. Dona Zilda Sampaio Mota e Seu Mundinho Mota (foto) formam um casal destes mestres. Ele, pequena estatura e jeito humilde, destaca-se pelo trabalho em madeira, confeccionando oratórios cheios de detalhes. Ela, olhos azuis e muito falante, ficou conhecida pela pintura que vai além

da decoração de louças. As suas rosas coloridas também estão nos quadros em óleo que enfeitam a casa onde moram, na rua Padre Emílio Cabral, perto do Centro de Assaré. Casados há 57 anos, se conheceram na cidade e contam que o trabalho artesanal sempre sustentou a família de dois filhos. No início, Seu Mundinho também ajudava pintando, lata de querosene. Depois, cada um se aplicou em seu próprio ofício. Autodidatas, descobriram e aprimoraram suas próprias técnicas preservando um saber artesanal cada vez mais difícil de encontrar. Seu Mundinho, por exemplo, não usa quase nenhuma ferramenta para burilar as saliências e reentrâncias de seus oratórios de uma rusticidade encantadora, quase primitiva.


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D ezembro

Volume 3

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Regiテ」o Metropolitana do

Cariri

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Janela de artesania para o “mundo todo”

A

ntes da chegada dos portugueses ao interior brasileiro, no século XVII, as terras localizadas no sopé da Chapada do Araripe eram habitadas pelos índios Kariris. Os primeiros contatos com o homem branco foram mantidos pelas caravanas militares e/ou religiosas, que tanto estudaram a região como catequizaram os indígenas e os agruparam em aldeamentos ou missões. Segundo historiadores, esses contatos e alguns descobrimentos no interior do país ajudaram a espalhar os boatos de que nessas regiões existiria ouro em abundância, o que ocasionou uma verdadeira corrida aos sertões brasileiros. Inclusive com a chegada de famílias inteiras, vindas de Portugal, sonhando com

as riquezas das terras inexploradas e com a esperança de encontrar o minério. Até porque isso representava aumento de patrimônio e do prestigio pessoal na Corte portuguesa. Era a lenda das Minas dos Cariris Novos. A busca do metal nas ribanceiras do Rio Salgado trouxe a colonização e, como consequência, a doação de sesmarias, o que permitiu o surgimento de lugarejos e vilas que mais tarde se tornariam municípios. Hoje, resultado de uma reivindicação antiga e efetivamente concretizada graças à Lei Complementar nº 78, de 26 de junho de 2009, a Região Metropolitana do Cariri é um fato. Com as complexidades, exuberâncias e contradições culturais de um grande ajuntamento

A criação da Região Metropolitana do Cariri teve, como objetivo, constituir uma circunstância cultural e socioeconômica capaz de compar-

tilhar, com a capital do Estado, a atração de equipamentos, serviços e investimentos públicos e privados. Segundo a Secretaria das Cidades do

farias brito

Nova olinda

Santana do cariri

crato

JUAZEIRO DO NORTE

BARBALHA

MISSÃO VELHA

JARDIM

humano abrigado na riqueza natural de um verdadeiro oásis ao Sul do Ceará. É formada pelos municípios de Juazeiro, Barbalha e Crato, Santana do Cariri, Nova Olinda, Farias Brito, Missão Velha e Jardim. Uma parcela desses recursos governamentais será destinada, justamente, ao fomento e fortalecimento do setor turístico através de iniciativas como, por exemplo, a construção do Centro de Cultura e Eventos do Cariri, no Crato; o projeto Roteiro da Fé, que requalificará o Centro Comercial de Juazeiro; e a implantação do Museu do Engenho, no sítio Tupinambá. Têm relevância, também, os projetos e as ações voltadas para a produção associada ao turismo, em que se enquadra o artesanato caririense. Estado do Ceará, até 2013, US$ 65 milhões serão investidos para a implantação do projeto Cidades do Ceará / Região Metropolitana do Cariri.


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Juazeiro do Norte

Tradição de fazer arte que dignifica e sustenta A

religiosidade está na gênese do crescimento do lugar. Assim, não há como fugir às exponenciais referências sobre a figura responsável não só pela fundação e desenvolvimento de Juazeiro do Norte, como pelo incentivo na popularização dos ofícios que disseminaram as tipologias artesanais Cariri afora: o Padre Cícero Romão Batista. Com uma área total de 4.115,828 quilômetros quadrados, a Região Metropolitana do Cariri ou Cariri Central, reúne oito municípios com características históricas comuns. Basicamente, as cidades formaram-se ao redor de fazendas de gado e de propriedades religiosas doadas por donos de terras para a construção de igrejas. Essas comunidades

religiosas tinham, também, o objetivo de catequizar os índios e moradores da região. No primeiro volume desta trilogia, lembramos que era a figura do sacerdote quem recebia as legiões de sertanejos em busca do abrigo em Juazeiro. Do padre, ouviam a direta recomendação de que deveriam seguir as tradições católicas e aprender um ofício para garantir e dignificar o próprio sustento. E assim, Juazeiro e o Cariri seguiram à risca a orientação do “Padim”, criando seus oratórios nas salas e uma oficina nos fundos de cada casa. Quem não bordava, costurava, tecia, esculpia, talhava, fundia ou trançava, tratava de aprender e passar a

técnica para os filhos, a fim de garantir a sobrevivência e as bênçãos do padre. De tal forma incentivados, os muitos peregrinos que se radicaram no pequeno arraial que deu origem a Juazeiro, começaram a produzir utensílios para o cotidiano. Hoje, a cidade concentra, também, o maior número de artesãos e de associações voltadas para o artesanato. Algumas famosas como o Centro de Cultura Popular Mestre Noza, local de parada obrigatória para turistas, e a Associação dos Artesãos Mãe das Dores do Padre Cícero.


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Meca da escultura religiosa, ourivesaria e lapidação S

egundo publicação do Sebrae sobre “Caminhos do Fazer, Guia de Produtos Associados ao Turismo”, o contato com matérias-primas como o barro e a madeira, revelou vocações em Juazeiro do Norte. Assim, grande parte dos artesãos passou à escultura, especialmente inspirada na temática religiosa. Imagens sacras de todos os tamanhos podem ser encontradas, do simples souvenir de gesso a gran-

des esculturas finamente executadas com argila e fibra de vidro. É em Juazeiro, também, que vamos encontrar uma interessante parceria entre lapidadores e ourives. É promovida pela Associação dos Lapidários, Artesãos Minerais e Ourives, que uniu na cidade a já tradicional ourivesaria à lapidação de pedras, resultando na produção de belíssimas jóias. Na sede da entidadeé possível assistir ao trabalho de lapidação dos cristais, ametistas e turmalinas.

Lamparinas do “Padim”. Para sempre, amém! P

elas ruas de Juazeiro, encontramos artesãos de metais que ainda mantém viva uma tradição iniciada pelo fundador da cidade: a produção de lamparinas. Em um quartinho apertado, de porta única e sem janelas, vamos encontrar seu Cícero Sousa em plena atividade de flandrereiro, nome que ele próprio dá a quem trabalha o flandres, comprado em folhas. Sentado num banco pequeno e baixo e munido de uma espécie de alicate, ele vai, com destreza, moldando e burilando, reunindo e apertando peças, até que surge mais uma lamparina. Por dia, mais de 100 saem das suas mãos direto para o mercado. Resultado de uma jornada de trabalho que começa às sete horas da manhã e vai até as 17 horas. Seu Cícero acredita que seu o ofício aprendido com a família está longe de ficar com os dias contados. “Desde que eu comecei, há 15 anos, continuo vendendo do mesmo jeito. E não acredito que isso vá mudar. Vai sempre ter mercado para a lamparina”. Sobre a pergunta que não cala: Se tem luz

elétrica, para que comprar lamparina? Ele tem a resposta na ponta da língua: “É a tradição. Além disso, quando falta energia, quem salva é a lamparina. Ela é muito usada para andar no escuro e ir de uma casa para outra, nos sítios”. Como Cícero, outros 50 dividem o mesmo ofício na cidade. Cada lamparina tem cerca de dez centímetros. Ele vende por R$ 1,50 a unidade. E não dá para quem quer. Tanto que no incremento de seu mercado fiel, Cícero lançou uma novidade: a lamparina pequenina, de pouco mais de três centímetros. “Essa é para quem quer levar de lembrança. Acesa, a luz dura uma hora. Já a grande faz luz a noite toda”.

Urbanização como fator de diversidade O “Estudo Setorial do Artesanato” do Sebrae Ceará classifica o município como um dos mais ricos em tipologias. As técnicas mais fortemente presentes são relacionadas ao trabalho em cerâmica, couro, madeira, rendas e tecelagem. Com taxa de urbanização superior 95%, o que praticamente extingue zonas rurais, diversidade artesanal é o que não falta à cidade. As mãos rápidas e talentosas dos artesãos juazeirenses estão presentes em quase tudo. Nos utensílios em palha, bordados e xilogravuras que deixaram as capas dos livrinhos de cordel para se transformarem em quadros religiosos e decorativos, bem como na nova geração de artesanias: os reciclados. Um setor que cresce em novas utilidades e plasticidades das peças usadas e renovadas na sua finalidade primária.


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Doces e Compotas

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Barbalha açucarada

com arte e talento O

fértil Vale do Cariri mantém entre suas principais tradições a confecção de doces e compotas. Com uma expressiva produção de frutas, é comum encontrar quem transforme, com açúcar, talento e arte, bananas, abacaxis, laranja, caju, goiaba e siriguela, em deliciosas iguarias. Na cidade de Barbalha, onde ainda pontificam os trabalhos com madeira, cerâmica, tecelagem e metal, a produção artesanal de doces tem reconhecido destaque. É na terra natal do celebrado Monsenhor Murilo, do advogado Hermes Carleial e dos médicos Leão Sampaio e Lírio Callou, que dona Maria do Socorro Silva Soares (foto) é a doceira mais afamada. Nascida em Exu, ela veio para o Cariri depois do casamento com um barbalhense. Demorou para ver na especialidade desenvolvida pela mãe, um ofício que iria ajudá-la a educar as filhas. Moradora de Barbalha há 32 anos, dona Maria do Socorro lembra que foram os pedidos dos amigos e a propaganda boca a boca os responsáveis pelo seu reconhecimento. Embora diga que seus doces não tem segredo, vai revelando detalhes e cuidados que explicam o sabor único, unanimidade na região. Um item com açúcar, outro com mel, outro com rapadura preta. Assim, combinando sabores, ela conquistou e continua encantando a cidade, principalmente com ineditismo em receitas com os doces de jambo, amendoim e gergelim.

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Enxovais e Paramentos

Crato bordado à mão como ofício de fé O

mesmo amor que dona Maria do Socorro dedica aos doces em Barbalha, outra exuense emprega nos bordados que faz e vende na cidade do Crato. Berço natal da figura que move a fé no Cariri, o Padre Cícero, a cidade, tem fortes registros de tipologias como couro, tecelagem e madeira, mas as rendas e bordados são um caso à parte. E foi isso o que percebeu dona Maria Neide de Macedo (foto) quando chegou à cidade, em 1971. Casada com um cratense, foi o bordado à mão que sempre ajudou a bordadeira no orçamento familiar. Hoje, ela emprega uma das suas duas filhas. Começou trabalhando no quintal de casa. As peças ficaram conhecidas e as encomendas foram chegando. Tanto que se encheu de coragem e montou uma loja no Centro. Agora, a demanda cresceu ao ponto da necessidade de empregar outras bordadeiras. Isso a afastou da máquina de costura e do bastidor. Foi cuidar de pensar novos produtos. “A minha especialidade é cama, mesa, banho, enxovais de noiva e de bebê” enumera.

J

á dona Maria Marques da Costa (foto), também bordadeira e moradora do Crato, tem uma especialidade diferente: “Sou especialista em fazer e bordar roupas de padre”. Esse tipo de vestimenta tem nome específico: paramentos litúrgicos. Mas, como ela foi descobrir esse ofício? A história é longa e começa com a menina que adorava ver a mãe bordar, mas não tinha nem agulha. Usava um espinho de mandacaru. “Minha mãe dizia que não ia desperdiçar agulha comigo, que não sabia trabalhar direito”, conta. Nessa época, dona Maria Marques morava num sítio onde tudo era difícil. Por isso, só foi ganhar a tão esperada agulha muito tempo depois. “Aí, fui aprender a fazer ‘richeliê’, já na máquina da minha mãe. Fazia blusas e recebia muitas encomendas. Foi então que um padre me pediu para fazer uma roupa para ele. Disse que não sabia e ele explicou: dava o pano e, se ficasse bom, me pagaria. Caso contrário, não haveria problema”. A roupa ficou linda e logo a história se espalhou entre o clero da região. Hoje, dona Maria Marques veste padres de 52 paróquias. Do Crato, de Juazeiro e ainda sacerdotes da Paraíba e Pernambuco. Mas, se engana quem pensa que as roupas ricamente trabalhadas são vendidas por um alto preço. Uma promessa feita por ela, depois que conseguiu andar de novo após um ano numa cadeira de rodas, faz com que seja cobrado apenas o material usado e um percentual para que ela sobreviva com dignidade. “Sei que dá muito trabalho, mas gosto do que faço e tem, ainda, a minha promessa que vou cumprir até o fim da vida,” garante.


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Utensílio e decoração

Jardim repleto de trançados e cestarias O lugar já foi conhecido como Bar-

ra do Jardim e Santo Antonio do Jardim. Está encravado em região antes habitada por tribos indígenas e serviu de palco a memoráveis acontecimentos históricos. Hoje, o município de Jardim, que ostentava como tipologias de maior incidência o tecido, as rendas e bordados, o couro, a tecelagem e o metal, vê crescer na região um tipo de artesanato quase rudimentar, mas de grande aceitação: o trançado e a cestaria. Tipologia característica de utensílios e objetos de decoração é encontrada em várias versões por todo o Cariri. Em Jardim, tem destaque pelas bandas do Sítio Gravatá, localizado pouco antes

da sede do município. Francisca Sirley de Sousa (foto) é uma dessas artesãs dedicada ao trançado e cestaria. Portadora de defici-

ência que limita os movimentos, ela conta que começou a trabalhar com cipó. “Para ter o que fazer”, pois desde pequena, passa a maior parte do tempo sentada. Quanto à matéria-prima, a mãe, os irmãos e primos trazem da floresta que cerca a casa humilde, mas de alvenaria, plantada no alto de uma pequena elevação, à beira da estrada. Sirley é autoditada. Não só no ofício de trançar o cipó, que transforma em luminárias, vasos, leques e outros objetos de decoração. Aprendeu sozinha, também, a bordar e, agora, a costurar. Apesar de receber aposentadoria, o dinheiro que consegue com o artesanato ajuda a pagar os estudos da irmã mais nova, hoje cursando o último ano do

curso de Pedagogia. A primeira da família a conseguir graduação superior. A conquista, inimaginável há algum tempo, é o sonho realizado de Sirley. Ela conta com indisfarçável orgulho. Afinal, sem o trabalho artesanal dessa filha, neta e bisneta de agricultores, não seria possível pagar os estudos da primeira professora formada da família.

Entre potes e esculturas

Missão Velha do barro que molda a vida Missão Velha é conhecida por patrimonios na-

turais como a sua cachoeira e pelo grande número de pontos de concentração de fósseis. Suas tipologias mais expressivas são a tecelagem e a cerâmica. Esta última, em franco crescimento graças à vocação natural e aos de cursos de capacitação que propiciam a descoberta de novos talentos. Uma das professoras dessa novíssima geração, Maria do Socorro Nascimento (foto, à esquerda) é a ceramista mais famosa da cidade. A habilidade para moldar o barro e tirar dele desde esculturas de conhecidas personalidades públicas a peças utilitárias como potes, jarras e panelas já lhe rendeu fama e várias viagens. Em uma delas, teve o orgulho de apertar a mão do ex-presidente Lula e da atual presidente Dilma Rousseff. Suas esculturas também já foram parar nas mãos de gente famosa como o apresentador Jô Soares. Nada dessas histórias, porém, muda o jeito humilde de quem sabe, como poucos, misturar areia, água e talento. Vizinho a casa onde Maria do Socorro mora com a mãe e o pai, na localidade de Baixa do Coresma,

ela mantém um galpão onde trabalha, às vezes, até durante o turno da noite. “Se deixar, esqueço até de comer”, conta. A mãe da artesã, dona Terezinha (foto), é uma espécie de auxiliar. Entre fazer o almoço, lavar roupa, arrumar os quartos e varrer a sala, ela vai “cortando a massa”, como se chama o ato de molhar o barro. Depois, passa uma espécie de arame para desfazer os nódulos e partes duras. Assim, quando Maria do Socorro chega para esculpir e moldar, já encontra a massa pronta. A vocação ela descobriu aos 13 anos, vendo os mais velhos trabalharem na olaria. Com um mês, lembra, fez sozinha o primeiro pote. E, depois, não parou mais. Foi se aperfeiçoando no ofício, descobrindo os segredos do barro e criando releituras para peças tradicionais. Sorriso fácil e jeito inquieto, Maria do Socorro conta que, “embora o trabalho com o barro tenha lhe dado tudo”, sonha com outros desafios. Está no segundo semestre da Faculdade de Serviço Social, curso à distância que considera “uma vitória” para quem chegou à graduação fazendo telecurso.


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Chapada do Araripe

Santana é coisa rara em renda, pedra e gesso C

onhecida como a capital cearense da Paleontologia, Santana do Cariri possui um vasto sítio arqueológico. Abriga o Museu da Universidade Regional do Cariri e tem uma das maiores reservas fossilíferas do mundo. O município destaca-se também pelo

comércio de produtos feitos manual mente. Turistas compram artesanato típico em renda, bordado, cerâmica e pintura. Boa parte dessa produção está concentrada no Casarão Cultural Felinto da Cruz Neves e Generosa Amélia da Cruz, que abriga artesãos e rendeiras. A renda de Santana é coisa rara. A cidade tem orgulho de fazer a de bilro como manda a tradição. Lá, ao invés da almofada pequena, que caracteriza as rendeiras do litoral, é usada a almofada grande, com mais de um metro e apoiada em cavaletes. As mulheres trabalham sentadas em cadeiras. Também a forma de torcer a linha foi preservada e repete o ritual, feito há séculos, com o fuso rodando no chão. Já o

bilro é de espinho de mandacaru, que tem na ponta uma semente de macaúba. Dona Antonia Toilza (foto) faz parte de uma iniciativa que resgata e preserva o artesanato original da cidade, batizado de “Projeto Bilro”. Ela conta que retomou os trabalhos manuais há seis anos, com um curso da Ceart (Centro de Artesanato do Ceará). Hoje, faz crochê e bordado cheio, além da renda de bilro. Trabalha com outras cinco artesãs em redes, caminhos de mesa, bolsas , toalhas de bandeja e manta. O projeto está ajudando a formar uma nova geração de rendeiras. Os quatro filhos de dona Antonia, a exemplo de outras famílias das rendeiras, também sabem o ofício.

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ais adiante, vamos encontrar outra tipologia característica de Santana do Cariri: o trabalho com pedra. Santeiro e também escultor, Francisco Evilázio usa a pedra Cariri, o gesso e o calcário laminado, abundantes na região. Como a retirada e venda de fósseis estão proibidos, o artista imita à perfeição esqueletos de peixes, calangos e libélulas, como se estivessem fossilizados. “É uma forma de preservar o meio ambiente e, ao mesmo tempo, garantir para os turistas uma lembrança da cidade”, explica.

Fama e autenticidade

Nova Olinda da Casa Grande e do “Seu Espedito Seleiro” Com 13 mil habitantes e 54 anos de his-

tória, o município de Nova Olinda deu novo impulso ao turismo quando inaugurou a Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri. Hoje, segundo Francisco Alemberg de Souza Lima, coordenador do projeto Promoção do Turismo Social e Cultural de Base Comunitária no Sertão do Cariri, apoiado pelo Ministério do Turismo, a cidade recebe uma média de 33 mil visitantes por ano. No entorno do projeto, surgiram então, pousadas domiciliares, oficinas caseiras de artesanatos, lojas de souvenirs e restaurantes de comidas típicas. Com o dinheiro gerado pelo fluxo turístico foi criado um fundo de educação que tem dado aos jovens a possibilidade de acesso à formação universitária. Hoje, a pequena Nova Olinda é um dos 65 destinos indutores do Desenvolvimento Turístico Regional priorizados pelo Ministério do Turismo. A cidade é berço de Espedito Veloso de Carvalho,

o “Seu Espedito Seleiro” (foto), um dos artesãos em couro mais conhecidos do Ceará. O apelido ganhou graças à habilidade para fazer selas de vaqueiro. Filho e neto de artesãos, ele conta que começou cedo no ofício. Tratou de passar aos filhos, que hoje também trabalham com couro. Sentado na velha máquina de costura, Espedito Seleiro diz que acha inspiração em tudo o que vê. De todas as peças, a que lhe dá mais satisfação é a sela. “Faço roupa de vaqueiro, também, bolsa, sandálias, mas é na sela onde eu exercito tudo o que aprendi”. E o que ele aprendeu não é pouca coisa, não. Na oficina, instalada no Centro de Nova Olinda, as paredes estão cobertas de artesanato e de homena­gens a quem ganhou fama em todo o Nordeste sem nunca ter saído da sua cidade. Artesãos como Seu José Ferreira ou como Dona Bernadete Santana, que vamos encontrar vendendo abanos de palha de coqueiro na beira da estrada, próximos ao Sítio Serra do Zabelê, são autênticos representantes do artesanato caririense.

Gente anônima que, com a vocação à flor da pele, vive de uma produção nem sempre reconhecida ou bem remunerada, mas que dá o tom dos saberes e fazeres populares que fazem do Cariri cearense o celeiro de vocações mais rico do Ceará.


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O periテウdico do Cariri independente

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REGIテグ DO CARIRI foto : Samuel Macedo


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REGIÃO DO CARIRI

Artistas da vida Márcio Dornelles

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alos nas mãos e um sorriso escancarado no rosto. A demonstração de felicidade contrasta com histórias tristes de vida, superadas com a arte caseira, com o amor pelo artesanato. Quando o marido sumiu, numa história tantas vezes repetida pelo Brasil, a dona de casa Maria Ferreira Socorro, de Várzea Alegre, precisou descobrir-se artista e se virar para sustentar os nove filhos. Assim, como a brava artesã, o Jornal do Cariri conheceu homens e mulheres que lutam, sol a sol, para garantir o sustento diário, utilizando materiais geralmente descartados, como madeira, palha, barro e garrafa plástica. As viagens da equipe de reportagem por 18 cidades renderam muitas histórias e fotografias, que retratam o cotidiano simples, mas rico em saber da nossa gente. Em cada imagem, um pouquinho do Cariri, do Ceará, do Nordeste inteiro. Do ferreiro de Potengi, que começa o seu trabalho quando todos dormem, à bordadeira , acostumada às muitas horas de dedicação, à família com tradição em reciclagem, aos mestres da cultura, que repassam seus conhecimentos, aos escultores, que transformam um tronco bruto em imagem, o Jornal do Cariri ho-

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REGIテグ DO CARIRI

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Renda - Santana do Cariri

Calテァados - Jati

Cerテ「mica - Missテ」o Velha


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REGIテグ DO CARIRI

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Reciclagem: Penaforte

Bordado - Campos Sales


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Couro - Nova Olinda

Cestaria - Caririaテァu

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Escultura - Milagres


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REGIÃO DO CARIRI

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A vida reinventada com as mãos. Redescobertas sobre artes e cultura de um povo. Reportagem e Exposição Fotográfica Novembro a Dezembro de 2011


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