Heinrich Halfeld “A povoação de Pirapora é composta de 30 a 35 casinhas cobertas de capim ou palha de coqueiro, habitadas por uns pescadores e suas famílias, que se ocupam de apanhar peixe, secá-lo ao sol sobre varais e vendê-lo às tropas. As tropas levam o peixe para as cidades, vilas, arraiais e serviços de mineração do distrito de Diamantina”. Foi assim que o engenheiro alemão Heinrich Wilhelm Ferdinand Halfeld descreveu o povoado que encontrou no norte de Minas Gerais, de onde partiria para uma viagem de dois anos, de 1852 a 1854, encarregado pelo governo imperial de traçar o primeiro estudo aprofundado do Velho Chico, com mapas e relatos. Os mapas de Halfeld são uma obra prima. Não possuem coordenadas geográficas. Mas, elaborados em escala rigorosa, representaram pela primeira vez o desenho do Rio São Francisco. Corria o ano de 1825 quando ele desembarcou no Brasil. Viera a bordo do veleiro “Doris” para integrar o imperial Corpo de Estrangeiros, formado por Dom Pedro I. Onze anos depois, fora nomeado “Engenheiro da Província de Minas Gerais”, fincando
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residência na Vila Rica, hoje Ouro Preto. Sua primeira missão foi construir uma estrada de ferro. No ano de 1852, enfim, chegou ao Rio São Francisco. Percorreu cerca de dois mil quilômetros, 382 léguas. Descreveu os tipos de embarcações e de peixes de cada trecho, detalhou a variação da altura dos barrancos e assinalou os trechos mais estreitos e largos, profundos e rasos, calmos e agitados. As margens eram mais baixas e as águas mais velozes nas proximidades da cachoeira de Paulo Afonso. Diante das dificuldades da navegação, concluiu que o trecho exigia “um corretivo”. O trabalho de Halfeld rendeu o “Atlas e relatório concernente a exploração do São Francisco, desde a cachoeira de Pirapora até o Oceano Atlântico”. Ele terminou de escrever o relato em 1858, na vila de Santo Antônio do Paraibuna, atual Juiz de Fora.