O CAMINHAR DO ANCIÃO

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Tantas vezes (Para Eunice Marinho, in memórian)

Sempre conversamos com alguém querendo lhe dizer tudo da nossa vida, mas temos receio de não ser compreendidos, porque talvez as dúvidas persistem em nossa vã memória taciturna, de tanto ver, de tanto caminhar a esmo. Mesmo assim, palavras são espelhos d’alma quando transmitimos mensagens incompreensíveis, de tudo isso sabemos; que o tempo é pouco, corre frêmito em direção a todas as vidas, em todas as horas, seja lá o que for precisamos dialogar e garantir o espaço da democracia, cuja herança grega aprendemos a ouvir o outro na sua inquietude, na sua humanização. Talvez ainda tenhamos tempo para falar sobre o amor, sobre a beleza da filosofia que nos entranha o pensar racional, mesmo assim, devemos crer em nós mesmo, pois o amanhã traz novamente aquele pensar poético, que tanto inquietou Bandeira em sua viagem a Pasárgada. Quantas vezes sofremos pela dor de não termos novas chances, de ver o pôr do sol, de sentir a aurora brotando em nossa infância, tantas vezes esquecidas pela memória dos dias que correm, que levam nossos sonhos para sempre, numa viagem que talvez 62


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