Diálogos sobre a educação infantil e o PNLD literário (2022)

Programa de Estudos PósGraduados em Literatura e Crítica Literária PUC-SP

Diálogos sobre a educação infantil e o PNLD literário (2022) Alguns critérios literários para avaliar o livro endereçado à primeira infância

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Por que retomamos a discussão sobre o edital do PNLD literário 2022 – Educação Infantil?

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O PNLD é o Programa Nacional do Livro Didático, que tem o intuito de distribuir obras didáticas, pedagógicas e literárias aos alunos e professores das escolas públicas de educação básica do País. Ao sair um edital do PNLD, precisamos ficar muito atentos pois, ele pode ser tanto um fator de estímulo para a publicação de bons livros (se o Edital é bem feito) ou um grande problema, afetando absurdamente a educação pública do nosso país e o mercado editorial de livros de qualidade.

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O QUE SERIA UM PNLD LITERÁRIO IDEAL (EDUCAÇÃO INFANTIL) ?

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UM PNLD LITERÁRIO DESTINADO À EDUCAÇÃO INFANTIL DEVERIA GARANTIR:

• LIVROS QUE RESPEITEM A POTENCIALIDADE DAS CRIANÇAS. • LIVROS QUE SÃO RESULTADO DE UM DIÁLOGO ENTRE TEXTO, IMAGEM E DESIGN. • LIVROS COM DIVERSIDADE DE GÊNEROS TEXTUAIS, DE TEMÁTICAS, DE FORMATOS .

• LIVROS COM ABAS, DOBRAS, QUE PERMITEM OUTRAS FORMAS DE A CRIANÇA SE RELACIONAR COM O LIVRO. • LIVROS QUE DIALOGUEM COM DOIS EIXOS ESTRUTURANTES DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: AS INTERAÇÕES E A BRINCADEIRA. • LIVROS QUE DESPERTEM A PERCEPÇÃO SENSÍVEL E ESTIMULEM A COGNIÇÃO. WOODGROVE BANK

O Edital PNLD 2022: Critérios gerais para a avaliação pedagógica

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O Edital PNLD 2022 e a incoerência com a BNCC (2017)

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BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Mec, 2017.

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Critérios específicos para avaliação das obras, segundo o Edital ( 2022)

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Antonio Candido, no ensaio O direito à Literatura (1995), apresentado em uma conferência sobre os direitos humanos no final da década de 1980, define a Literatura do seguinte modo:

Literatura

“Chamarei de literatura, da maneira mais ampla possível, todas as criações de toque poético, ficcional ou dramático em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura, desde o que chamamos folclore, lenda, chiste, até as formas mais complexas e difíceis da produção escrita das grandes civilizações. Vista deste modo, a literatura aparece claramente como manifestação universal de todos os homens em todos os tempos. Não há povo e não há homem que possa viver sem ela, isto é, sem a possibilidade de entrar em contato com alguma espécie de fabulação” (CANDIDO, 1995, p. 174).

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Candido continua:

Literatura

“Assim como todos sonham todas as noites, ninguém é capaz de passar as vinte e quatro horas do dia sem alguns momentos de entrega ao universo fabulado. O sonho assegura durante o sono a presença indispensável deste universo, independentemente da nossa vontade. E durante a vigília, a criação ficcional ou poética, que é a mola da literatura em todos os seus níveis e modalidades, está presente em cada um de nós, analfabeto ou erudito” (1995, p. 175).

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Octávio Paz (1982), há meio século, dizia que a linguagem nasce do ritmo, afirmando que ele (o ritmo) prefigura uma linguagem. Em suas palavras:

Literatura

“O ritmo não é apenas o elemento mais antigo e permanente da linguagem, como também não é difícil que seja anterior à própria fala. Em certo sentido, pode-se dizer que a linguagem nasce do ritmo ou pelo menos, que todo ritmo implica ou prefigura uma linguagem. Assim todas as expressões verbais são ritmo, sem exclusão das formas mais abstratas ou didáticas da prosa” (PAZ, 1982, p. 82).

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Literacia A “literacia emergente” é um conjunto de estudos que enfatiza o desenvolvimento de habilidades leitoras na primeira infância, antes da alfabetização. Leal, Gamela, Peixoto e Cadima (2014) evidenciam que

A literacia emerge antes do ensino formal da leitura e da escrita; a literacia é definida como um ato total de leitura e não apenas como decodificação; é dado o devido relevo ao ponto de vista da criança e ao seu envolvimento ativo com os constructos da literacia emergente; o contexto social da aprendizagem da literacia não é ignorado, sendo que a criança aprende a ler e escrever através do envolvimento ativo com o seu ambiente. (2014, p. 176) Kümmerling-Meibauer afirma que o contato do bebê com o livro atua em três esferas: aspectos cognitivos, linguísticos e desenvolvimento estético (2012, p. 6), trazendo as bases para leitura, a qual também consideramos literária. Essa interação é multimodal (KÜMMERLING-MEIBAUER, 2012, p. 22), ou seja, envolve não apenas uma linguagem, mas duas ou mais – a exemplo: linguagens verbal, visual e gestual. Nesse contexto, se a capacidade de pensar tem início no corpo, o livro para a primeiríssima infância, compreendido em seu projeto gráfico somado à linguagem visual e/ou textual, parece também indicar a leitura literária.

Kümmerling-Meibauer : “visual literacy is not innate, but is acquired by a long-lasting and permanent process of learning” (2012, p. 94), “a leitura visual não é inata, mas é adquirida por um processo duradouro e permanente de aprendizagem” (tradução nossa).

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Literacia Pensando os livros com narrativas para a primeiríssima infância, Kathleen Ahrens sugere três possíveis critérios para avaliação da narrativa: “(1) there is physical, physiological or emotional change; (2) it is developmentally appropriate such that it provides form for experience; and (3) it is quick and pleasurable to read” (2012, p. 81-2). “(1) há uma mudança física, fisiológica ou emocional; (2) o enredo é adequado ao desenvolvimento da criança, de modo que traga uma experiência próxima do seu dia a dia; (3) é uma leitura breve e prazerosa” (tradução nossa).

A autora indica que esses três critérios são percursores da alteridade e do gosto pela leitura. E conclui: In conclusion, narrative picturebooks may be considered beneficial for the youngest readers, not only for purposes of language and literacy acquisition, but also so that infants and toddlers may begin to join in one of the benefits of being part of the human race: to appreciate another’s point of view as one’s own and to enter into the greater humanity of a shared knowledgebase that embraces individual and cultural differences at the same time that it transcends them (AHRENS, 2012, p. 87).

“Por fim, os livros narrativos podem ser considerados benéficos para os leitores mais jovens, não apenas para fins de aquisição de linguagem e alfabetização, como também para que bebês e crianças pequenas possam começar a usufruir de um dos benefícios de fazer parte da raça humana: apreciar o ponto de vista de outra pessoa como a sua e entrar na maravilhosa humanidade, compartilhando conhecimentos que abrangem as diferenças individuais e culturais, ao mesmo tempo em que as transcende” (tradução nossa).

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Aspectos problemรกticos do edital PNLD (2022) WOODGROVE BANK

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1. Limitação de formato; 2. Impossibilidade de dobras; 3. Visão de ilustração incoerente com as pesquisas; 4. Concepção utilitária da literatura (pág. 32); 5. Rigidez no número de palavras no texto; 6. Imposição de frases previsíveis, simples e vocabulário familiar das crianças.

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Alguns exemplos de livros de qualidade

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Cadê o pintinho? , Márcia Leite e Anita Prades | Pulo do Gato

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Maia e Mia, Debora Barbieri e Vanessa Prezoto | Casa Babayaga.

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ZOO bem LÓGICO, Stella Elia e Weberson Santiago | Casa Babayaga.

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Azul, Meritxell Marti e Xavier Salomรณ | Jujuba.

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Lina e o Balão, Komako Sakai ( trad. Lúcia Hiratsuka) | Pequena Zahar

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Sete patinhos na lagoa, Caio Riter e Laurent Cardon | Biruta.

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Gobo Gobo Gobu Gobu , Katsume Komagata | 0,1,2

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C´est quoi ça, petit Papa Noel? , Jean Maubille | Pastel.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS •

BITTENS, Cássia Maria Rita Vianna. O universo literário ao alcance daqueles que ainda não leem: tendências contemporâneas da literatura para bebês. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, SP, Brasil, 2018. 102p < https://tede2.pucsp.br/handle/handle/21557 >

•

BONAFFÉ, Marie Los libros, eso es bueno para los bebês. Ciudad de México: Océano Exprés, 2016. E-Book. ISBN 9786077358671. Disponível em: <http://oceano.mx/obras/los-libros-eso-es-bueno-para-los-bebes-marie-bonnafe-14428.aspx> Acesso em 10 jun. 2020.

•

BRASIL. Ministério da Educação. EDITAL PNLD 2022– Programa Nacional do Livro e do Material Didático. s.d.B Disponível em: < https://www.fnde.gov.br/index.php/programas/programas-do-livro/consultas/editais-programas-livro/item/13526-edital-pnld-2022 > Acesso em 10 jun. 2022.

•

______. Ministério da Educação. PNA– Política Nacional de Alfabetização. s.d.B Disponível em: <http://alfabetizacao.mec.gov.br/> Acesso em 10 jun. 2022.

•

______. Referênciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil-Vol 3. Brasília: MEC/SEF, 1998.

•

______. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Mec, 2017.

•

CANDIDO, Antonio. O direito à Literatura. In: ______. Vários escritos. 3. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1995. p. 169-191.

•

CAMARGO, L. Ilustração do livro infantil. Belo Horizonte: Editora Lê, 1995.

•

GOLSE, Bernard; DESJADINS, Valérie. Corpo, formas, movimentos e ritmo como precursores da emergência da intersubjetividade e da palavra no bebê. Trad. Regina O. de Aragão. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, São Paulo: AUPPF, v. 8, n. 1, p. 14-29, jan./mar. 2005.

•

KÜMMERLING-MEIBAUER, Bettina (Ed.). Emergent Literacy: Children’s books from 0 to 3. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2012.

•

LINDEN, Sophie V. D. Para ler o livro ilustrado. Trad. Dorothée de Bruchard. São Paulo: Cosac Naify, 2011.

•

PALO, Maria José e OLIVEIRA, Maria Rosa D. Literatura infantil – voz de criança. São Paulo: Ática, 2007.

•

PAZ, Octávio. O arco e a Lira. 2. ed. Trad. Olga Savari. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

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Ministraram o Curso Profa. Dra. Diana Navas , Doutora em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo, mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP e graduada em Letras. Possui graduação em Letras - Licenciatura plena, realizou seu estágio pós-doutoral na Universidade de Aveiro. Atualmente, é Professora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Literatura e Crítica Literária da PUC-SP. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura Portuguesa, Literatura Juvenil, Crítica Literária, Teoria Literária. Atua, principalmente, nos seguintes temas: romance contemporâneo, metaficção, crítica literária, tendências da literatura juvenil contemporânea brasileira e portuguesa. diana.navas@hotmail.com | @LiteraturaPUCSP Regiane Magalhães Boainain é doutoranda em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP, membro dos Grupos de pesquisa ( CNPq): A Voz escrita infantil e juvenil e O narrador e as fronteiras do relato ( ambos pela PUC -SP). Regiane é professora de Português, autora de materiais didáticos e idealizadora do site e canal Veredas do Texto. Já escreveu manuais do professor para o PNLD de 2019 e 2020 pela Editora Nova Fronteira e atualmente escreve manuais do professor (PNLD 2022) para a editora Movimenta. www.veredasdotexto.com | rmboainain@gmail.com | @veredasnoinsta | @remagboainain

Cássia V. Bittens é psicóloga, idealizadora do Literatura de Berço, mestra em Literatura e Crítica Literária pela PUC – SP. É membro do Grupo de Pesquisa (CNPq): A voz escrita infantil e juvenil, também pela PUC-SP. Dá cursos e oferece formação sobre os livros e leituras na primeiríssima infância . Participou da elaboração do manual do PNLD 2019/20. cassia.bittens@gmail.com | @literaturadeberco WOODGROVE 31 BANK

Obrigada!

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