Sismicidade

Page 1

SISMICIDADE NO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES | MÓDULO 2

Estes diapositivos apresentam o módulo 2. Depois de explorado este módulo deve ser complementado com uma actividade prática proposta no módulo de actividades práticas onde se facultam mapas das ilhas e dados para os alunos traçarem cartas de isossistas.

1


SISMICIDADE NO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES | MÓDULO 2

Estes diapositivos podem ser explorados no sentido de mostrar aos alunos a importância dos documentos e das descrições dos relatos dos acontecimentos na interpretação e caracterização dos eventos. A recolha de informação macrossísmica é feita através dos relatos dos acontecimentos registados em documentos históricos, jornais ou através de questionários às populações atingidas pelos eventos.

2


SISMICIDADE NO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES | MÓDULO 2

A ilha de S. Miguel foi palco do primeiro grande terramoto registado nos Açores desde o seu povoamento em meados do séc. XV. O terramoto de 22 de Outubro de 1522 ocorreu numa segundafeira cerca das 11 horas da noite, ficando também conhecido como a «Subversão de Vila Franca do Campo» (Frutuoso, 1522-1591), com epicentro ao largo da costa sul, perto de Vila Franca do Campo, atingindo a intensidade máxima X na escala de Mercalli Modificada e a profundidade focal a 12 km, desencadeou ainda um importante movimento de massa que soterrou parte da antiga capital da ilha (Machado, 1966).

3


SISMICIDADE NO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES | MÓDULO 2

Dias (1945), sugere a região de Vila Franca do Campo, ou seja uma faixa no seu prolongamento para o interior da ilha de orientação SSW-NNE, como a zona mais atingida, admitindo ser esta a área onde se terá localizado o hipocentro. Apontando uma intensidade máxima de grau X (MCS-17) em Vila Franca do Campo e apresenta uma carta de intensidades, no entanto o referido autor admite não pretender traçar a carta de isossistas do sismo de 1522, por esta ser uma tarefa difícil dadas as variadíssima circunstâncias que podem influenciar a intensidade com que o sismo é sentido em cada região. Machado (1966), baseando-se em Frutuoso (1522-1591), fez uma avaliação das intensidades, as quais coincidem praticamente com as que foram avaliadas por Dias (1945). Elaborou uma carta de intensidades, sugerindo a localização do epicentro nas proximidades de Vila Franca do Campo (37º 42´,4 N; 25º 23´,8W), e que a intensidade máxima atingida foi grau X (MM-31) em Vila Franca. Com base nas intensidades determinou as acelerações do solo e estimou a profundidade do foco, a cerca de 12 km. Calculou intensidades teóricas e obteve as anomalias correspondentes, que conclui serem compatíveis com a existência de uma câmara magmática sob os vulcões de Água de Pau, Furnas e Sete Cidades.

4


SISMICIDADE NO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES | MÓDULO 2

Silveira (2002) reinterpretou a informação disponível e à luz da Escala Macrossísmica Europeia (EMS-98) traçou a carta de isossistas. Segundo Silveira (2002), o tipo e a quantidade de estragos verificados concordam com uma intensidade máxima de grau X, justificada pela ocorrência de danos directos de nível 5 na maioria das edificações de Vila Franca do Campo. O diapositivo apresenta-se o traçado das isossistas baseadas na análise da ocorrência de danos directos de nível 5, concluindo-se que a geometria definida permite colocar a hipótese do epicentro do sismo se ter colocado em terra, na vertente SE do vulcão do Fogo, possivelmente a NNW de Vila Franca do campo. Nestas condições, a forma elíptica das isossistas poderá atribuir-se aos condicionalismos estruturais impostos por uma zona de factura de direcção geral NW-SE (Silveira, 2002). As consequências deste evento foram catastróficas: habitações destruídas e soterradas, caminhos obstruídos, terrenos de cultivo danificados a que se junta a morte de pessoas (cerca de 5000) e animais. A massa de lama que arrasou a Vila ao entrar no mar, formou um pequeno tsunami como se poderá depreender da descrição de Gaspar Frutuoso «... E outro penedo muito grande atravessou a vila toda, da serra ao

5


SISMICIDADE NO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES | MÓDULO 2

mar, onde se foi assentar no porto antigo, que então servia, entrando pela água alguns quarenta passos...».

6


SISMICIDADE NO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES | MÓDULO 2

Um dos perigos geológicos mais frequentes, quer a nível mundial, quer a nível regional, neste contexto, no arquipélago dos Açores, são os movimentos de massa, responsáveis em muitos casos por inúmeras vítimas e destruições consideráveis. Segundo Zêzere (2000); Valadão (2002) pode definir-se movimento de vertente como todo o deslocamento de massa instabilizada de rocha ou solo, ou seja, agregados mais ou menos volumosos de partículas que se destacam de um dado maciço rochosos ou terroso devido à ocorrência de rotura, imediatamente antes do evento ou muito anterior a este, ao longo de uma superfície ou combinação de superfícies, seguindo-se a sua movimentação, mais ou menos rápida, na direcção do sopé da vertente, podendo envolver vários processos. Os movimentos de vertente são controlados por factores condicionantes e desencadeantes, capazes de modificar as forças internas e externas que actuam sobre os materiais. Os primeiros, factores estruturais e morfológicos, motivam a redução da resistência dos maciços pois induzem o colapso, sem que se verifique qualquer mudança nas condições geométricas da vertente. Os segundos, associados a fenómenos de natureza climática, sísmica e antrópica, provocam um aumento das tensões

7


SISMICIDADE NO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES | MÓDULO 2

de corte, sem que se verifique diminuição da resistência do material (Vallejo et al., 2002).

8


SISMICIDADE NO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES | MÓDULO 2

Nos Açores os movimentos de vertente podem ser despoletados por diversos fenómenos, encontrando-se associados a sismos, a erupções vulcânicas, a precipitação intensa ou prolongada, por vezes associada com ventos fortes e também pela acção do Homem (Valadão, 2002; Resendes, 2004). A morfologia do terreno na região de Vila Franca do Campo é muito variada, a Norte da vila a topografia é muito declivosa e caracteriza-se por uma rede de linhas de água profundamente encaixadas de pequena dimensão e caudal intermitente. Uma escarpa de falha, de direcção WNW-ESE, limita esta zona mais acidentada, localizando-se no seu topo a Ermida de Nossa Senhora da Paz. A Sul, onde se localiza Vila Franca do Campo, encontra-se uma área relativamente aplanada, apenas sulcada por linhas de água, cujo traçado é definido, pelos contactos litológicos entre as diferentes escoadas lávicas que afloram junto da linha da costa e nos leitos das linhas de água (Marques, 2004). Segundo o mesmo autor, a morfologia do terreno no séc. XVI não devia ser muito diferente daquela que se observa actualmente, provavelmente a linha de costa poderia ser um pouco diferente e as cabeceiras das linhas de água não seriam tão recuadas.

9


SISMICIDADE NO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES | MÓDULO 2

Marques (2004) através do estudo que efectuou analisando os vários documentos históricos, trabalhos de campo de identificação e caracterização do depósito que destruí Vila Franca do Campo, trabalhos de laboratório, recolhendo amostras referentes ao depósito de 1522, realizando análises laboratoriais e recorrendo ao modelo de fluxo desenvolvido por Felpeto et al., (1996) concluiu que a fonte principal da escoada de detritos que provocou a destruição de Vila Franca do Campo situou-se a NW da vila, a Sul do Pico da Cruz e os materiais provenientes desta fonte foram canalizados pelo leito extremamente encaixado da Ribeira da Mãe d ´´Agua propagando-se sobre a vila devido à diminuição do encaixe do vale da ribeira segundo um eixo aproximado NNW-SSE, hipótese que coincide com o relato de Frutuoso (1522-1591?). Uma segunda fonte deverá ter-se situado na parte jusante da Ribeira Seca, a qual não foi possível identificar de forma tão exacta, considerando-a como uma área de alimentação de cuja massa instabilizada foi canalizada pela Ribeira Seca.

10


SISMICIDADE NO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES | MÓDULO 2

Um evento idêntico ao registado a 31 de Outubro de 1522, atendendo que actualmente cerca de 20 000 pessoas vivem em Vila Franca do Campo, resultaria numa catástrofe de proporções impensáveis. Não podemos esquecer que as condições geomorfológicas, geológicas e estruturais que condicionaram o evento de 1522 continuam inalteráveis e que a elevada sismicidade que ocorre em todo o arquipélago e em particular no maciço do Fogo constitui um perigo permanente (Wallenstein, 1999)

11


SISMICIDADE NO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES | MÓDULO 2

BIBIOGRAFIA DIAS, A.A.M. (1945) – O Sismo de 1522 em S. Miguel. Insvlana. Separata nº4.Ed. Instituto Cultural de Ponta Delgada, vol I. FRUTUOSO, Gaspar (1583?) – Livro Quarto das Saudades da Terra. Ponta Delgada : Instituto Cultural, 1981. Vol. 2 MACHADO, F. (1966) – Anomalias das intensidades do terramoto de S. Miguel (Açores) em 1522. Boletim do Museu e Laboratório Mineralógico da Faculdade de Ciências. Lisboa.10:2 (1966) p 109 117 MARQUES, Rui Tiago Fernandes (2004) – Contribuição para o conhecimento da instabilidade geomorfológica nos Açores : estudo de movimentos de vertente associados a diferentes mecanismos desencadeantes. Universidade dos Açores, Departamento de Geociências, 2004. 136 p. Tese de Mestrado em Vulcanologia e Riscos Geológicos RESENDES, João Pedro Melo (2004) – Contribuição para o estudo dos riscos geológicos no concelho de Povoação (S. Miguel, Açores) e suas implicações em termos de planeamento de emergência. Universidade dos Açores, Departamento de Geociências, 2004. 149 p. Tese realizada no âmbito do Mestrado em Vulcanologia e Riscos Geológicos SILVEIRA, Dina Isabel Ribeiro Pereira (2002) – Caracterização da sismicidade histórica da ilha de S.Miguel com base na reinterpretação de dados de macrossísmica : contribuição para a avaliação do risco sísmico. Universidade dos Açores, Departamento de Geociências, 2002. 149 p. Tese de mestrado em Vulcanologia e Riscos Geológicos VALADÃO, P. (2002) – Contribuição para o estudo de Movimentos de Vertente nos Açores. Universidade dos Açores, Departamento de Geociências, 120 p. Tese de Mestrado em Vulcanologia e Riscos Geológicos ZÊZERE, J.L., (2000). A classificação dos movimentos de vertente: tipologia, actividade e morfologia. Apontamentos de Geografia.

12


SISMICIDADE NO ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES | MÓDULO 2

Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa. Série Investigação n.º6. Lisboa. 29 p. WALLENSTEIN, Nicolau Maria Berquó de Aguiar (1999) – Estudo da história recente e do comportamento eruptivo do vulcão do Fogo (S. Miguel, Açores) : Avaliação preliminar do hazard.. Universidade dos Açores, Departamento de Geociências, 1999. 26 p. Tese de Doutoramento no ramo de Geologia, especialidade de Vulcanologia

13


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.