Mediações e mediadores culturais: escritores, artistas e divulgadores

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empreendimento como em outros impressos. No Diccionario de lingua brasileira de Silva Pinto (1832), a palavra autor correspondia àquele “que inventava uma obra, que é causa de um efeito”. Ou seja, além de mediador, Eleutério foi também criador e produtor de bens culturais. Na tríade que compunha a publicação de um periódico – tipógrafos e impressores, redatores e colaboradores, assinantes e leitores –, era tarefa do redator de qualquer impresso escolher as matérias, indicar o teor e tema dos artigos de fundo, os quais os colaboradores se ocupavam em escrever, além de ler os originais, calcular a ordem dos artigos, o número de colunas e das linhas que faltavam preencher. Assim se dava o dia a dia do trabalhador “redator em chefe”: Chegada que seja à noite, vão de minuto em minuto aumentando-se os originais. Lá pelas 9 horas o redator em chefe, o ajudante do redator da parte exterior, começam a desembrulhar esse caos e a distribuir originais, o que por certo não tem nada de fácil, tantos são os artigos e correspondências que há para ler, tantas as passagens que suprimir-se, modificar-se, emendar-se e completar-se. A maior parte desses artigos são escritos à pressa com má letra e em mau papel; para decifrá-los são precisos incalculáveis esforços de atenção e inteligência, não havendo um minuto a perder porque o paginador, ou o ajudante do paginador, estão incessantemente reclamando originais para os compositores que trabalham com maravilhosa rapidez (O BR ASIL, 1851, p. 4).

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Como se pode perceber, o redator chefe de um impresso acumulava funções que iam desde a sua organização formal até a definição do conteúdo publicado. Muitas vezes, os redatores eram auxiliados por outros redatores ou colaboradores, pois os primeiros desempenhavam funções externas ao impresso e necessitavam de auxiliares que dessem sustentação ao empreendimento. No caso de O Espelho, Eleutério foi auxiliado por Machado de Assis, que, também como um dos redatores, personalizou a redação da revista (OLIVEIRA, 2010). Isto posto, pensemos sobre o projeto da revista de Francisco Eleutério de Sousa. O Espelho foi uma revista semanal de literatura, modas, indústria e artes. Publicada em formato de brochura com folhas in-fólio e totalizando 19 números, brindou seus leitores com estampas de moda, retrato biográfico e partituras musicais. Nas suas 12 páginas, que eram compostas de nove a


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