TCC arqurbuvv BIOARQUITETURA: BAMBU COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO

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BIOARQUITETURA A UTILIZAÇÃO DO BAMBU COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO APLICADO EM UMA POUSADA LITORÂNEA CAROLINA PAIXÃO CASTIGLIONI 2017/1


UNIVERSIDADE VILA VELHA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

CAROLINA PAIXÃO CASTIGLIONI

BIOARQUITETURA: A UTILIZAÇÃO DO BAMBU COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO APLICADO EM UMA POUSADA LITORÂNEA.

VILA VELHA 2017


CAROLINA PAIXÃO CASTIGLIONI

BIOARQUITETURA: A UTILIZAÇÃO DO BAMBU COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO APLICADO EM UMA POUSADA LITORÂNEA.

Monografia apresentada ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Vila Velha como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Profa. Dra. Larissa Leticia Andara Ramos.

VILA VELHA 2017



Aos meus pais, Marilese e Ovilton (in memoriam); A minha irmĂŁ, amiga e companheira de todas as horas, VytĂłria; A minha tia, ZezĂŠ (in memoriam).


Agradecimentos A minha mãe, amiga e conselheira, que mesmo nos momentos mais difíceis nunca me deixou só, e me deu força para seguir adiante. A minha irmã, pelas descontrações em meio ao caos dos estudos, pela força transmitida e a crença depositada. Ao meu pai (in memoriam), pelos ensinamentos de vida. Aos meus familiares e amigos, que acreditaram tanto quanto eu que, sim, era possível. Ao amigo Alysson Braz, pela amizade e pela ajuda quando tudo parecia perdido. A professora Edna Gumz, pelas palavras de conforto e força em um momento delicado e de tribulação. Ao corpo docente, pelos ensinamentos ao longo desses 5 anos. E finalmente a minha orientadora, Larissa, pelo apoio, ensinamentos e experiências compartilhadas, que ajudaram a fazer deste trabalho algo realmente prazeroso.


“Há um gosto de vitória e encanto na condição de ser simples. Não é preciso muito para ser muito. ” Lina Bo Bardi


RESUMO O presente trabalho visa apresentar as características físicas e mecânicas, técnicas de corte, tratamentos e aplicação do bambu enquanto método construtivo de uma pousada litorânea, analisando sua viabilidade e aplicabilidade segundo os conceitos da bioarquitetura para a elaboração de um projeto a nível de estudo preliminar de uma pousada litorânea. Enquanto ramo da arquitetura que aprofunda os conceitos de sustentabilidade, a bioarquitetura propõe não só ações sustentáveis de redução de usos, gastos energéticos e utilização de materiais recicláveis e/ou reutilizáveis, mas também a integração da edificação com o meio, tornando-a parte da paisagem, sem que esta seja agredida física e visualmente. Tendo em vista que as pousadas são equipamentos hoteleiros de lazer, de menor porte, que proporcionam aos hóspedes e usuários relações mais íntimas e diretas, busca-se que tal relação possa ocorrer entre hóspede e arquitetura, hóspede e natureza e, principalmente, arquitetura e natureza.

Palavras-chave: Bioarquitetura. Construção com bambu. Sustentabilidade. Arquitetura hoteleira. Pousadas ecológicas.


ABSTRACT The present study aims to present the physical and mechanical features, cutting techniques, treatments and application of bamboo while constructive method of a seaside Inn, analysing your viability and applicability according to bioarchitecture concepts for the development of a project at the level of preliminary study of a seaside Inn. While branch of architecture that deepens the concepts of sustainability, not only proposing sustainable actions bioarchitecture of reduced energy and operating expenses, uses recyclable and/or reusable, but also the integration of the building with the environment, making it part of the landscape, without this being assaulted physically and visually. Considering that the hostels are hoteliers leisure equipment, smaller companies, which provide guests and most intimate relations and direct users, search that this relationship can occur between guest and architecture, guest and nature and, above all, architecture and nature.

Keywords: Bioarchitecture. Bamboo construction. Sustainability. Hotel architecture. Hotel ecolodges.


LISTA DE FIGURAS Figura 1: Nanai Beach Resort ................................................................................................................................................................................................... 22 Figura 2: Hotel Fazenda Suiça Le Canton............................................................................................................................................................................... 22 Figura 3: Pousada Bahia Bonita ................................................................................................................................................................................................ 23 Figura 4: Pousada Aloha Brasil ................................................................................................................................................................................................. 23 Figura 5: Classificação do equipamento hoteleiro segundo MTUR..................................................................................................................................... 24 Figura 6: Pousada Jardim Secreto. .......................................................................................................................................................................................... 24 Figura 7: Estimativa preliminar de áreas.................................................................................................................................................................................. 25 Figura 8: Café da manhã. ........................................................................................................................................................................................................... 26 Figura 9: Lazer e piscina. ........................................................................................................................................................................................................... 26 Figura 10: Esquema de painel fotovoltaico.............................................................................................................................................................................. 27 Figura 11: Reuso de águas cinzas............................................................................................................................................................................................ 27 Figura 12: Quarto do Resort Green Village, Bali. ................................................................................................................................................................... 29 Figura 13: Implantação Resort Green Village, Bali. ............................................................................................................................................................... 29 Figura 14: Distribuição mundial do bambu .............................................................................................................................................................................. 30 Figura 15: Bambu Guadua ......................................................................................................................................................................................................... 31 Figura 16: Bambu Gigante ......................................................................................................................................................................................................... 31 Figura 17: Bambu Mossô ........................................................................................................................................................................................................... 31 Figura 18: Bambu industrializado, laminado ........................................................................................................................................................................... 32 Figura 19: Variação de diametros e densidade de fibras ...................................................................................................................................................... 33 Figura 20: Comparação de resistência entre materiais ......................................................................................................................................................... 33 Figura 21: Bambusa tuldoide ..................................................................................................................................................................................................... 35 Figura 22: Bambusa vulgaris ..................................................................................................................................................................................................... 35 Figura 23: Uso do bambu com até 1 ano ................................................................................................................................................................................. 36 Figura 24: Uso do bambu com mais de 2 anos ...................................................................................................................................................................... 36 Figura 25: Achatamento da extremidade da peça e como evita-lo ..................................................................................................................................... 38 Figura 26: Secagem por fogo .................................................................................................................................................................................................... 39 Figura 27: Secagem in loco ....................................................................................................................................................................................................... 39


Figura 28: Imersão química ........................................................................................................................................................................................................ 39 Figura 29: Pavilhão Zeri, Alemanha .......................................................................................................................................................................................... 42 Figura 30: Construção com bambu gigante ............................................................................................................................................................................. 43 Figura 31: Construção com bambu Guadua ............................................................................................................................................................................ 43 Figura 32: Fundações de pedra e cimento ............................................................................................................................................................................... 44 Figura 33: Bambu incorporado a fundação de concreto ........................................................................................................................................................ 44 Figura 34: Albergue em bambu .................................................................................................................................................................................................. 45 Figura 35: Ponte de bambu ........................................................................................................................................................................................................ 45 Figura 36: Detalhe de estrutura em bambu.............................................................................................................................................................................. 45 Figura 37: Estrutura e cobertura em bambu ............................................................................................................................................................................ 45 Figura 38:Centro Max Feffer, cobertura em bambu ................................................................................................................................................................ 45 Figura 39: telhado com estrutura em bambu ........................................................................................................................................................................... 46 Figura 40: encaixes da estrutura da cobertura em bambu .................................................................................................................................................... 46 Figura 41: Cobertura e telhado em bambu .............................................................................................................................................................................. 46 Figura 42: Cúpula de bambu do Cafeneaua Apei Si a Aantului ........................................................................................................................................... 47 Figura 43: Treliça em bambu ...................................................................................................................................................................................................... 47 Figura 44: Cobertura de 3 aguas de palha ............................................................................................................................................................................... 47 Figura 45: Cobertura verde, estrutura em bambu ................................................................................................................................................................... 48 Figura 46: montagem de telhado em bambu ........................................................................................................................................................................... 48 Figura 47: Projeto do escritório Bambu Carbono Zero ........................................................................................................................................................... 48 Figura 48: Assoalho em bambu ................................................................................................................................................................................................. 49 Figura 49: esteira de bambu sobre piso de concreto ............................................................................................................................................................. 49 Figura 50: Assoalho de bambu in natura .................................................................................................................................................................................. 49 Figura 51:Parede de bambu ....................................................................................................................................................................................................... 50 Figura 52: Esquadria pivotante de bambu................................................................................................................................................................................ 50 Figura 53: Esquadria em bambu ................................................................................................................................................................................................ 50 Figura 54: Município de Guarapari ............................................................................................................................................................................................ 52 Figura 55: Guarapari e seus distritos ........................................................................................................................................................................................ 53 Figura 56: Terreno de estudo ..................................................................................................................................................................................................... 53


Figura 57: Vegetação existente ................................................................................................................................................................................................. 55 Figura 58: Coqueiros e bananeiras existentes........................................................................................................................................................................ 55 Figura 59: Zoneamento Urbano Meaípe .................................................................................................................................................................................. 56 Figura 60:Estudo solar e ventos ................................................................................................................................................................................................ 58 Figura 61: Estudo de vegetações existentes .......................................................................................................................................................................... 59 Figura 62: Pousada Bambusal vista do mar. .......................................................................................................................................................................... 61 Figura 63: Implantação ............................................................................................................................................................................................................... 63 Figura 64: Setorização ................................................................................................................................................................................................................ 65 Figura 65: Corte esquemático AA" – Hospedagem e circulação vertical ........................................................................................................................... 66 Figura 66: Corte esquemático BB” – Lobby e piscina............................................................................................................................................................ 66 Figura 67: Perspectiva da implantação .................................................................................................................................................................................... 67 Figura 68:Planta baixa Lobby .................................................................................................................................................................................................... 68 Figura 69: Acesso principal, fachada norte ............................................................................................................................................................................. 69 Figura 70: Acesso ao lobby pela hospedagem. ...................................................................................................................................................................... 69 Figura 71: Acesso ao lazer......................................................................................................................................................................................................... 69 Figura 72: Estar do Lobby .......................................................................................................................................................................................................... 70 Figura 73:Planta baixa geral da hospedagem ........................................................................................................................................................................ 71 Figura 74: Planta baixa Suíte Simples e Casal ....................................................................................................................................................................... 72 Figura 75: Planta baixa Suíte Simples e Acessível ................................................................................................................................................................ 73 Figura 76: Hospedagem, vista do lazer.................................................................................................................................................................................... 74 Figura 77: Fachada do bloco. .................................................................................................................................................................................................... 74 Figura 78: Lazer, vista do 2º pav. da hospedagem. ............................................................................................................................................................... 75 Figura 79: Circulação vertical .................................................................................................................................................................................................... 75 Figura 80: Lazer, vista do 1º pav. da hospedagem. ............................................................................................................................................................... 75 Figura 81: Passarela para circulação horizontal..................................................................................................................................................................... 75 Figura 82: Vista da hospedagem do lazer. .............................................................................................................................................................................. 76 Figura 83: Planta baixa do serviço ............................................................................................................................................................................................ 77 Figura 84: Serviço, fachada com vegetação vertical. ............................................................................................................................................................ 78 Figura 85: Planta baixa Bar/Restaurante ................................................................................................................................................................................. 79


Figura 86: Vista do deck para a orla.......................................................................................................................................................................................... 80 Figura 87: Avanço do deck sobre a curva de nível. ................................................................................................................................................................ 81 Figura 88: Vista do deck para o lazer........................................................................................................................................................................................ 82 Figura 89: Fachada voltada para a praia .................................................................................................................................................................................. 83 Figura 90: Acesso da praia. ........................................................................................................................................................................................................ 84 Figura 91: Planta baixa Ateliê Comunitário .............................................................................................................................................................................. 85 Figura 92: Fachada Sul Ateliê Comunitário.............................................................................................................................................................................. 86 Figura 93: Acesso da orla ........................................................................................................................................................................................................... 87 Figura 94: Vista da Av. Meaípe .................................................................................................................................................................................................. 88 Figura 95: Orla, vista do interior do Ateliê ................................................................................................................................................................................ 89 Figura 96: Ateliê comunitário x jardim ....................................................................................................................................................................................... 90 Figura 97: Planta baixa Lazer ..................................................................................................................................................................................................... 91 Figura 98: Vista sul do lazer. ...................................................................................................................................................................................................... 92 Figura 99: Lazer, vista para o Bar/Restaurante ....................................................................................................................................................................... 93 Figura 100: Borda infinita ............................................................................................................................................................................................................ 94 Figura 101: Lazer, área de leitura .............................................................................................................................................................................................. 95 Figura 102: Lazer, vista para a hospedagem........................................................................................................................................................................... 96 Figura 103: Corte boca de pescado .......................................................................................................................................................................................... 97 Figura 104: Corte bico de flauta ................................................................................................................................................................................................. 98 Figura 105: Encaixe e fixação viga dupla x pilar ..................................................................................................................................................................... 98 Figura 106: detalhe parede planta baixa. ................................................................................................................................................................................. 99 Figura 107: Detalhe parede vista ............................................................................................................................................................................................... 99 Figura 108: Detalhe fixação do painel de bambu .................................................................................................................................................................. 100 Figura 109: Vista de exemplo de painel para esquadrias .................................................................................................................................................... 101 Figura 110: Exemplo painel simples........................................................................................................................................................................................ 101 Figura 111: Exemplo painel maior ........................................................................................................................................................................................... 102 Figura 112: Detalhe da cobertura ............................................................................................................................................................................................ 102 Figura 113: Detalhe do assoalho de bambu, 2º pav. da hospedagem .............................................................................................................................. 103 Figura 114: Detalhe fundação .................................................................................................................................................................................................. 103


Sumário 1.

2.

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................................................................ 16 1.1.

Contextualização e justificativa do tema........................................................................................................................................................................ 17

1.2.

Objetivos Gerais ............................................................................................................................................................................................................. 18

1.3.

Específicos ...................................................................................................................................................................................................................... 19

1.4.

Metodologia e temas por capítulo ................................................................................................................................................................................. 19

EQUIPAMENTO HOTELEIRO: POUSADA................................................................................................................................................................... 22 2.1.

Definição do equipamento Pousada .............................................................................................................................................................................. 23

2.2.

Infraestrutura necessária ............................................................................................................................................................................................... 24

Serviços oferecidos ..................................................................................................................................................................................................................... 25 2.3. 3.

Sustentabilidade em um Pousada .................................................................................................................................................................................. 26

BIOARQUITETURA: MÉTODO CONSTRUTIVO EM BAMBU ........................................................................................................................................ 29 3.1.

A Bioarquitetura e a viabilidade do bambu na construção civil ..................................................................................................................................... 29

3.1.1. 3.2.

Características construtivas do bambu .......................................................................................................................................................................... 32

3.2.1.

Propriedades físicas e mecânicas do bambu .......................................................................................................................................................... 33

3.2.2.

Durabilidade ........................................................................................................................................................................................................... 34

3.3.

4.

Tipos de bambu mais utilizados no Brasil............................................................................................................................................................... 30

Tratamentos e cuidados necessários para aplicação ..................................................................................................................................................... 36

3.3.1.

Cura e secagem dos colmos ................................................................................................................................................................................... 38

3.3.2.

Tratamento de conservação ................................................................................................................................................................................... 40

ESTUDO DE CASO E APLICAÇÃO DO BAMBU COM MATERIAL DE CONSTRUÇÃO ....................................................................................................... 42 4.1.

Estrutura em bambu....................................................................................................................................................................................................... 43


5.

6.

4.2.

Coberturas em bambu .................................................................................................................................................................................................... 45

4.3.

Revestimento em bambu ................................................................................................................................................................................................ 48

ANÁLISE DO TERRENO ........................................................................................................................................................................................... 52 5.1.

Justificativa da escolha da cidade e do terreno .............................................................................................................................................................. 52

5.2.

Contexto Social e Econômico .......................................................................................................................................................................................... 54

5.3.

Contexto urbano legal ..................................................................................................................................................................................................... 56

5.4.

Contexto Ambiental ........................................................................................................................................................................................................ 57

O PROJETO: POUSADA BAMBUZAL ........................................................................................................................................................................ 62 6.1.

IMPLANTAÇÃO DO PROJETO ........................................................................................................................................................................................... 62

6.1.1.

SEDE/LOBBY ............................................................................................................................................................................................................ 68

6.1.2.

HOSPEDAGEM ......................................................................................................................................................................................................... 71

6.1.3.

SERVIÇO ................................................................................................................................................................................................................... 77

6.1.5.

ATELIÊ COMUNITÁRIO ............................................................................................................................................................................................. 85

6.1.6.

LAZER ....................................................................................................................................................................................................................... 91

6.2.

DESCRIÇÕES TÉCNICAS .................................................................................................................................................................................................... 97

7.

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................................................................................................105

8.

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................................................................................106


16


17

1. INTRODUÇÃO

A bioarquitetura busca, através da

conhecimento

utilização

pairam

sobre

técnicas

construtivas

técnicas como a do bambu, e tornam

integrar,

de

forma

sua utilização e introdução no mercado,

harmoniosa, a arquitetura e a natureza,

lenta. Concomitantemente, analisando

oferecendo resultados de baixo impacto

as necessidades sociais e ambientais

ambiental

operacionais

da população e das cidades, pode-se

O largo crescimento das cidades, física

reduzidos. Para isso faz-se a utilização

observar então, a importância de

e economicamente, tem apresentado

de

naturais,

estudos que aprofundem e sensibilizem

resultados negativos no modo de vida

provenientes de fontes renováveis e/ou

outros profissionais para a utilização de

da população e na sua relação com o

recicláveis.

técnicas

1.1.

sustentáveis,

Contextualização e justificativa do tema

meio ambiente que os cerca. Sabe-se a importância dos recursos naturais do planeta para a sobrevivência de todos os seres vivos. Atualmente, devido à conscientização

ecológica

na

construção civil, faz-se necessário a apresentação de novas alternativas, técnicas

e

recursos

para

de

ainda

tornar

edificações, sejam elas de grande,

e

custos

matérias

primas

Enquanto ramo da Arquitetura que incorpora

todos

os

conceitos

de

sustentáveis,

e

materiais

principalmente

na

indústria da construção civil.

sustentabilidade e se aprofunda ainda

O bambu é um desses materiais,

mais

podendo ser utilizado como elemento

em

questões

ecológicas

e

paisagísticas, a bioarquitetura, ganha

estrutural,

espaço no Brasil e traz consigo técnicas

revestimentos, mobiliários e outros,

e alternativas sustentáveis que vem

apresentando bons resultados quando

sendo desenvolvidas em centros de

aplicado, tanto à resistência física e

pesquisas e universidades.

mecânica quanto a durabilidade e

médio ou pequeno porte, sustentáveis e ecologicamente corretas.

construtivas

Contudo,

questões

preconceituosas

e

normativas, a

falta

de

estética.

coberturas,

fechamentos,


18

É um material com flexibilidade de uso,

utilização

arquitetura

caracterizadas como um Hotel de lazer

baixo custo de produção, proveniente

contemporânea hoteleira do estado do

de menor escala e por isso promovem

de fonte renovável e com resultados

Espirito

uma relação mais intima entre hospede

estéticos atraentes.

benefícios, aplicando-o ao conceito de

A nível de escala mundial, o bambu tornou-se, ao longo dos anos, um material de extremo potencial para a

na

Santo,

bioarquitetura

observando

e

seus

principalmente

oferecendo alternativas sustentáveis para projetos de arquitetura hoteleira.

e hospedeiro (ANDRADE, 2000). Sendo assim, dadas características e relações estreitas que uma pousada promove entre pessoas. Busca-se,

construção civil. Há muito já era

Deste modo, o presente trabalho coloca

neste trabalho promover esta mesma

utilizado por nativos asiáticos em

em questão a viabilidade da utilização

relação

construções de pontes e casa, e

do

natureza/paisagem.

também era utilizado como matéria

construtivo a ser aplicado em uma

prima

pousada litorânea, situada no Espirito

para

o

artesanato,

como

ferramenta e, inclusive, alimento.

Santo,

Devido às inúmeras potencialidades, o bambu tem ganhado espaço enquanto material

sustentável

para

uso

e

bambu

enquanto

buscando

material

em

suas

1.2.

entre

hospedes

e

Objetivos Gerais

características a utilização do material de forma eficaz e condizente com o Desenvolver um projeto arquitetônico, a

conceito de Bioarquitetura.

nível de estudo preliminar de uma

aplicação nas mais variadas áreas da

Vale ressaltar que as pousadas são

pousada litorânea aplicando técnicas

construção

na

equipamentos hoteleiros destinados ao

que utilizam o bambu como método

substituição da madeira, portanto, este

alojamento temporário relacionado a

construtivo dentro dos conceitos de

estudo

estadias curtas promovendo conforto e

Bioarquitetura.

e

principalmente

apresenta

avaliando-o

e

tal

material,

encorajando

sua

lazer

para

os

clientes.

São


19

1.3.

Específicos

Oferecer alternativas sustentáveis

primeiramente

foram

realizados

a arquitetura hoteleira do estado.

estudos sobre o material, observando

Para que o objetivo geral deste trabalho

os cuidados e técnicas, de cortes e

seja

tratamentos,

alcançado,

estipularam-se

objetivos específicos, sendo eles: •

1.4.

Estudar o bambu enquanto método

capítulo

Em seguida, a pesquisa é direcionada

para a caracterização do equipamento O método utilizado para a realização

hoteleiro pousada, tendo como base de

deste trabalho consiste em reunir dados

estudos as exigências normativas do

bibliográficos, artigos e teses sobre o

Ministério de Turismo e referencia

específicas de uma pousada e suas

bambu

bibliográfica

necessidades,

sua

pousadas/hotéis, analisando os dados

Planejamento e Projeto.

infraestrutura e serviços fornecidos.

coletados ao longo da pesquisa e

O estudo de caso e aplicação torna-se

Apresentar brevemente alternativas

criando referencial teórico sobre a

a terceira etapa desta pesquisa. Nela

que aliadas ao método construtivo

temática, para que o planejamento e

são descritas brevemente as principais

em bambu reforçarão o conceito de

projeto

técnicas de aplicação do material e os

projeto de bioarquitetura.

realizados de forma facilitada.

tipos de aplicações direcionados a

Integrar a arquitetura proposta com

O desenvolvimento do trabalho foi

construção civil que são: cobertura,

a natureza de forma a reduzir ao

realizado em etapas de importância.

estrutura, revestimentos e fechamento.

máximo os impactos, visuais e

Uma vez que o foco principal deste

Após a

ambientais, por ela causados.

trabalho

iniciados

usuários/hospedes. •

para

utilização do material.

Metodologia e temas por

construtivo que ofereça soluções confortáveis e seguras para os

necessários

Estudar

as

características

observando

e

arquitetura

desenvolvidos

é

o

aqui

material

de

sejam

bambu,

do

escolha

livro

do

estudos

Hotel:

terreno,

são

sobre

as


20

características físicas, ambientais e

Tomando como base toda a pesquisa

plantas baixas das edificações, cortes e

sociais da área para dar início ao

realizada e visitas de campo ao terreno,

detalhes esquemáticos, e perspectiva

estudo preliminar do projeto.

o projeto é desenvolvido, gerando os

volumétrica.

produtos:

Planta

de

implantação,


21


22

2. EQUIPAMENTO HOTELEIRO: POUSADA

Ainda segundo Andrade (2000), o

avaliação de oferta e tamanho do hotel

mercado

(ANDRADE, 2000).

hoteleiro

passa

a

se

desenvolver com base na demanda do segmento de mercado de turismo, que

Este capítulo descreve brevemente o

especifica

equipamento

pousada,

consumidores cujos interesses orientam

comentando sua distinção entre hotéis

o tipo de produto ofertado, neste caso, o

centrais e resorts, dando enfoque no

tipo de hotel que atenderá a tais

tipo de estrutura, funcionamento e

necessidades. Entretanto, apesar da

necessidades básicas exigidas pelo

crescente

Ministério

Brasileiro,

existem fatores de risco que podem

utilizando como referencias o livro –

comprometer o sucesso do negócio e

Hotel: Planejamento e Projeto.

estes podem ser ligados à arquitetura,

hoteleiro

do

Turismo

A expansão da economia leva a sociedade

a

significativos modo

de

incorporar

novos

contingentes

ao

consumo,

tornando,

e seu o

turismo, um segmento de importância e crescimento constante, aumentando cada vez mais a oferta hoteleira e seu consumo (Andrade, 2000).

um

conjunto

demanda

do

de

mercado,

A definição desses elementos pode ser realizada

respondendo

a

três

perguntas: “Para quem está sendo projetado (cliente/usuário)?”; “Qual tipo de hotel que se pretende implantar?” e finalmente “Onde fazê-lo?”. Figura 1: Nanai Beach Resort

dentre eles: a má localização do equipamento e projetos mal resolvidos. Por isso, é de tamanha importância que

Fonte: Busca temática, 2016.

Figura 2: Hotel Fazenda Suiça Le Canton

o profissional responsável pelo projeto domine

tanto

o

conhecimento

do

mercado (lei da oferta e demanda) quanto os outros elementos necessários para a implantação do equipamento: Fonte: Zarpo, 2016.


23

Andrade (2000) ainda cita que é de

prédio único de até três pavimentos,

que vão variar de acordo com os tipos

igual

como nas figuras 03 e 04.

de infraestruturas, serviços e medidas

importância

viabilidade

estar

atento

econômico-financeira

à do

empreendimento e para que tal possa

sustentáveis disponíveis e implantadas Figura 3: Pousada Bahia Bonita

no equipamento. Essa classificação

ser considerado viável o equipamento

tem

como

deve ter o valor arrecadado igual ou

determinadas pela Empresa Brasileira

superior ao investido.

de

Turismo

base

exigências

(EMBRATUR)

e

a

Associação Brasileira de Indústria de Hotéis (ABIH) e pode variar do nível 1 2.1.

(uma estrela), o mais simples, onde são

Definição do equipamento

estipulados requisitos mínimos a serem Pousada

Fonte: Bahia Bonita, 2016.

Figura 4: Pousada Aloha Brasil

cumpridos, como forma de controle de qualidade do equipamento, ao nível 5 (5

Segundo o Ministério do Turismo

estrelas), o mais completo, onde todos

(MTUR), entende-se como pousada, o

os requisitos de infraestrutura, serviços

meio de hospedagem que possui

e sustentabilidade estipulados pelo

característica horizontal, que preste

MTUR

serviço de recepção, alimentação e

fiscalizados por agentes do Inmetro,

alojamentos temporário de capacidade para até 30 unidades habitacionais e

são

cumpridos

à

risca

como mostra a figura 05 a seguir. Fonte: Aloha Brasil, 2016.

até 90 leitos, podendo ser distribuído

Pousadas, assim como hotéis, podem

entre chalés e/ou bangalôs ou um

ser classificadas em diferentes níveis,

e


24

Existem algumas categorias que ainda

características peculiares ligadas à

contrário de meios de hospedagem

vão além, com 6 estrelas, que são as

região a qual está ou será inserida, com

localizados em áreas não centrais,

categorias superluxo, SmallLuxury e

traços de sua cultura e costumes, de

como

Leading,

forma confortável e aconchegante.

pousadas que,

mas

estás

não

são

obrigatórias. (Epichin, 2016)

Figura 6: Pousada Jardim Secreto.

resorts,

hotéis-fazenda

e

por possuir maior

disponibilidade de áreas e função de lazer, podem oferecer mais atividades e

Figura 5: Classificação do equipamento hoteleiro segundo MTUR

infraestrutura.

Entretanto

a

infraestrutura de uma pousada, bem como de um hotel-fazenda é menor do que a infraestrutura ofertada por um resort (ANDRADE, 2000).

Fonte: MTUR, 2016

2.2.

Por

Infraestrutura necessária

possuir

um

espaço

limitado,

Fonte: Jardim Secreto, 2016.

Além de ocupar áreas menores, e

A infraestrutura necessária e oferecida

oferecer serviços mais específicos e

por cada meio de hospedagem varia de

menos

acordo com sua localização e função.

comparada ao resort, as pousadas

Por exemplo, meios de hospedagens

também possuem uma infraestrutura

localizados

centrais,

menor, o que reflete diretamente no

dificilmente possuem áreas recreativas,

valor investido neste empreendimento.

quadras

Por exemplo, áreas administrativas

de

em

áreas

esportes,

restaurantes

diversificados,

quando comparada a outros meios de

próprios, instalações amplas e abertas,

possuem

setores

hospedagem, as pousadas possuem

pois não possuem funções de lazer, ao

reduzidos,

bem

quando

unificados

como

áreas

e de


25

serviços,

devido

à

limitação

na

Figura 7: Estimativa preliminar de áreas

quantidade de unidades habitacionais e/ou

hóspedes,

consequentemente

necessitando de menor número de funcionários. Segundo

o

MTUR,

as

unidades

habitacionais em uma pousada devem possuir uma área mínima de 11,00 a 15,00 m2. Tal dimensão é considera pequena para este uso. Andrade (2000) define que as unidades habitacionais deveriam ter o mínimo de 17,00 a 25,00 m2, para que sejam confortáveis, e a partir delas podem-se definir outras áreas da pousada, como áreas

comuns/sociais,

conforme

a

Fonte: Andrade, 2000, p.199

Contudo, alguns serviços são básicos e comuns, sendo eles:

Serviços oferecidos

figura 07. Os serviços oferecidos neste tipo de empreendimento acordo

com

a

podem

variar

de

especialidade

da

pousada e/ou a cultura local.

Restaurante

Bar

Piscina

Lavanderia

Café da manha


26

Atividades recreativas

Estacionamentos

Áreas de serviços

Áreas administrativas

Figura 8: Café da manhã.

2.3.

Sustentabilidade em um Pousada

Segundo o MTUR, para receber boa classificação neste quesito, o meio de

Estas

áreas

são

hospedagem deve apresentar soluções

dimensionadas

definitivas

segundo a quantidade de hóspedes e a função desse serviço. O restaurante, por exemplo, caso seja aberto ao público

externo

dimensionamento

terá

um

mínimo

para

Fonte: Jardim Secreto, 2016.

Figura 9: Lazer e piscina.

de

sustentabilidade,

utilizando os recursos de maneira ambientalmente

responsável,

socialmente justa e economicamente viável,

não

comprometendo

comportar o número de hóspedes e terá

possibilidade

acréscimo de área para comportar os

gerações

clientes

necessidades atuais.

externos.

As

atividades

recreativas darão enfoque em esportes

em

uso

de

detrimento

futuras das

Neste sentido, o projeto deve contar

locais ou que desfrutem do ambiente e Fonte: Tartaruga, 2016.

natureza.

de

a

com

alternativas

ecologicamente

corretas como coleta de águas cinza,

Devido à escala reduzida, tanto a

para utilização em regra de jardim ou

infraestrutura

serviços

para descargas de bacias sanitárias,

prestados aos hóspedes são mais

conforme a figura 10. Outra estratégia

familiares e pessoais.

pode ser o uso de painéis solares

quanto

os


27

térmicos para o aquecimento de água,

Figura 10: Esquema de painel fotovoltaico

Cabe também destacar a relação de

(figura 11), aberturas amplas que

integração entre a arquitetura e a

permitam a passagem de luz e da

paisagem a qual será inserida, que é

ventilação natural, evitando consumo

um dos conceitos que a bioarquitetura

diurno de energia, de forma que haja

propõem. A edificação deve torna-se

conforto térmico ao hospede. Pode

parte da paisagem sem causar-lhe

optar

grandes impactos visuais. É de igual

por

aplicação

de

materiais

sustentáveis, pisos drenantes, bacias sanitárias de baixo consumo, lampas

importância Fonte: Ecologic Construções, 2016.

que

está

relação

transponha os limites físicos de uma

de led, cobertura ecológica ou verde,

construção e alcance os usuários,

horta orgânica, tijolo de solo e cimento,

tornando direto o contato entre hóspede

concreto opções

sustentável de

materiais

entre e

outras

Figura 11: Reuso de águas cinzas

sistemas

e natureza, mesmo que o primeiro esteja dentro da edificação e assim

ecológicos.

proporcionar-lhe experiências únicas.

Fonte: Cresesb, 2016.


28


29

3. BIOARQUITETURA:

Em seus conceitos, também propõe a redução da emissão de poluentes, a

MÉTODO CONSTRUTIVO EM BAMBU

Figura 13: Implantação Resort Green Village, Bali.

integração da construção com o meio ao qual será inserido de forma sutil – transformando-a em um elemento da paisagem sem que esta seja agredida –

3.1.

A Bioarquitetura e a viabilidade do bambu na construção civil

A bioarquitetura segue conceitos da sustentabilidade na redução de gastos e utilização de materiais provenientes

, incentiva à utilização de recursos que valorizem a ventilação e iluminação natural reduzindo gastos de energia,

Fonte: Namu, 2016.

bem como propõem a captação de

O bambu enquadra-se neste conceito

águas pluviais e reuso de águas cinza.

devido a sua infinidade de usos e

(Vasconcelos, 2008)

qualidades, incorporando fortemente os

Figura 12: Quarto do Resort Green Village, Bali.

princípios de fonte renovável, interação

de fontes renováveis e/ou recicláveis.

com

As matérias primas utilizadas nesse

biodegradável.

ramo são chamadas de materiais

Em todo o mundo, há uma preocupação

verdes, devido as suas origens, que

com a atual situação de consumo dos

são certificadas pelo conselho de

recursos naturais do planeta, e como

manejo florestal e são advindas de

isso vem afetando a todos.

florestas sustentáveis. Fonte: Namu, 2016.

o

meio,

material

verde

e

Na construção civil, sustentabilidade é, quase, uma palavra de ordem onde


30

cada vez mais buscam-se recursos e

comparada a outras matérias primas da

pragas. Sendo assim, as espécies mais

tecnologias para tornar os edifícios

construção civil como, por exemplo, a

utilizadas para construção e com maior

ecologicamente corretos, os chamados

madeira (BARROS, 2004).

facilidade de acesso aqui no Brasil são

edifícios verdes.

O tempo de crescimento de uma árvore

as espécies Dendrocalamus giganteus (Bambu Gigante), Guadua angustifólia

Muitos estudos realizados sobre o

de lei, tendo como exemplo o eucalipto,

bambu apontam características físicas,

para maturação e corte da tora, gira em

mecânicas

de

torno de 6 anos e de cada muda extrai-

vantagens ambientais que fortalecem a

se apenas uma tora, enquanto o bambu

sua indicação como matéria prima para

leva 3 anos, ou seja, metade do tempo,

utilização na construção civil, entretanto

para atingir ponto de corte e possibilita

devido à pouca visibilidade de mercado

extração de até 80% da moita (a

As características específicas de cada

e inexistência de normas técnicas que

depender da espécie).

Figura 14: Distribuição mundial do bambu

e

químicas,

além

regularizem sua utilização, o material ainda é visto como artesanal e de difícil manejo. O

bambu

3.1.1. Tipos

uma

gramínea

que

bambu

Hidalgo-López

e

Phyllostachys aurea (Bambu Cana-daÍndia). Fonte: Ramos, 2007.

existem mais de 1000 espécies de

do dióxido de carbono da atmosfera,

entretanto nem todas estão aptas para

boa resistência à tração e compressão,

utilização na construção civil, pois o

leveza e alta velocidade de propagação

material deve aliar boa resistência

e

mecânica à baixa predisposição a

quando

Mossô)

(2003),

bambu

rápido,

(Bambu

Phyllostachys

mais

apresenta alta capacidade de absorção

crescimento

pubescens

Guadua),

utilizados no Brasil Segundo

é

de

(Bambu

espalhadas

pelo

mundo, espécie determinam os tipos de usos para as quais são mais adequadas.


31

O Bambu Gigante, por exemplo, é

colmos

muito

esquadrias, construção de móveis,

utilizado

como

elemento

é

mais

utilizado

estrutural, por possuir diâmetro de até

ferramentas

30 cm e altura de até 40 m, e pode ser

domésticos, entretanto também é muito

utilizado inclusive na substituição do

indicada para utilização em estruturas

aço em lajes e vigas de concreto.

pois possui colmos eretos e muito

Já o bambu Guadua, possui menos amido em seus colmos e com isso

agrícolas

é

componente

mais de

utilizado coberturas,

Figura 16: Bambu Gigante

utensílios

resistentes (Ramos, 2007). Figura 15: Bambu Guadua

apresenta melhor resistência a pragas, então

e

para

Fonte: MF Rural, 2017.

Figura 17: Bambu Mossô

como vigas,

pilares e até como painel divisório. O bambu cana-da-índia possui menor diâmetro (variando entre 3 e 5 cm) e por isso é mais utilizado em artesanatos, confecção de mobiliários e esquadrias, contudo também pode ser utilizado na composição de estruturas (HIDALGO-

Fonte: Alsa Garden, 2016. Fonte: Mercado livre, 2017.

LÓPEZ, 2003), e o Bambu Mossô, por possuir menor variação de diâmetro (7

Sendo um material versátil, o bambu

a 15 cm) e altura (20 a 25 cm) nos

pode ser utilizado de duas formas para


32

a construção, essas são: in natura ou

material in natura. Neste processo, o

industrializado.

colmo do bambu é aberto e dele são

Segundo

Hidalgo-López

(2003),

a

utilização do bambu in natura requer atenção e cuidados específicos quanto ao corte, à cura e a aplicação. É importante saber a idade do material, se este é mais flexível ou rígido e como realizar

as

conexões,

encaixes

e

junções (tanto com outros materiais quanto com o mesmo). Também são necessários cuidados quanto ao tratamento para melhor

retiradas

suas

receberem

fibras,

devido

que

tratamento

maciça, possibilitando sua utilização

fechamentos apresentando

aplicações até vantagens

do bambu

são,

laminas ou blocos imitando madeira

diversas

Características construtivas

após

então, coladas e prensadas, formando

em

3.2.

desde

mobiliário, sobre

a

madeira industrializada comum, por ser mais leve (Hidalgo-López, 2003). Figura 18: Bambu industrializado, laminado

Para

melhor

utilizar

determinado

material, seja ele qual for, é necessário conhecer suas características físicas e mecânicas,

assim

durabilidade.

Quando

com

sua

se

trata,

especificamente, de materiais naturais como

madeira

e

bambu,

essa

necessidade é ainda maior. As propriedades físicas de um material informam sobre sua densidade, teor de

durabilidade do bambu (que será

umidade, dureza e outros, enquanto as

melhor desenvolvido no item 3.2.3.),

características

uma vez que este pode ser atacado por

sobre o tipo de força e carga que o

insetos, como por exemplo, as brocas,

material sustenta, se é mais resistente

reduzindo a vida útil do material.

à Fonte: Abril, 2016.

Já o bambu industrializado evita alguns problemas presentes na utilização do

tração,

mecânicas

informam

compressão

e/ou

cisalhamento. A durabilidade informa o tempo de vida útil desse material e como prolonga-la no tempo.


33

3.2.1. Propriedades

físicas

e

mecânicas do bambu É

necessário

observar

Figura 19: Variação de diametros e densidade de fibras

Alguns estudos realizados no Brasil pela Universidade Federal de Alagoas

algumas

(UFAL), afirmam que essa resistência

características físicas específicas do

pode chegar a 215 MPa e variam de

bambu para sua utilização, tais como:

acordo com a espécie. A tabela a seguir

densidade, teor de umidade e ponto

mostra a comparação de força e

saturação da fibra.

massa/volume Fonte: Pinterest, 2016.

A

densidade

está

relacionada

estão mais internas ou externas, e informam a força gradativa da parede de colmo. Quando relacionada com o tamanho do colmo, a densidade indica que tipo de resistência mecânica o material vai exercer melhor. O Teor de umidade está relacionado diretamente à quantidade de água existente no material e interfere no tipo e tempo de cura que o material deve receber (Hidalgo-López, 2003).

o

bambu

e

materiais como cimento, aço e madeira.

à

localização das fibras no colmo, se

entre

Existem variáveis que devem ser consideradas quando se fala sobre a

Figura 20: Comparação de resistência entre materiais

resistência mecânica do bambu. Estas estão relacionadas às características físicas do material, como: os sentidos das fibras, localização dos nós e o posicionamento vertical deles (que podem variar de forma a ser: basal, intermediário ou de topo). As fibras do bambu

são

orientadas

de

forma

paralela ao eixo do colmo tornando o material

mais

resistente

(HIDALGO-LÓPEZ, 2003).

à

tração

Fonte: Revista Construire, n.260, 2005 apud Ramos, 2007.


34

Os nós são áreas que apresentam

bambus que apresentam maior solidez

Dendrocalamus

maior valor quanto à tensão devido à

são os que foram cultivados em solos

(Liese 1985). Além disso, no

descontinuidade das fibras e acabam

pobres e secos, e os mais flexíveis, em

género Guadua há diversas

por se tornar zonas de concentração de

solos ricos e úmidos.

espécies

tensões que podem ocasionar na ruptura da peça.

longispathus

que

têm

pouca

resistência e durabilidade.

3.2.2. Durabilidade

Algumas espécies de bambu possuem

O bambu é o único material que é forte

A durabilidade do bambu varia de

pouca durabilidade (1 a 2 anos) devido

tanto na resistência a tração quanto na

acordo com o tratamento utilizado na

à quantidade de amido presente nos

compressão

assim

cura do material, a forma como esse

seus colmos. O amido presente causa

durante toda sua vida útil, a não ser

material é aplicado e pode variar

alta propensão a pragas, como é o caso

pela resistência a compressão que

também, de acordo com sua espécie e

de

aumenta à medida que o material

gênero. Segundo Hidalgo-López (2003,

(Bambusa

envelhece (HIDALGO – LÓPEZ, 2003).

p. 142) ainda podem ocorrer diferenças

tuldoide), ilustradas nas figuras 21 e 22,

de durabilidade dentre as espécies de

a seguir. Essas espécies devem ser

mesmo gênero de bambu:

evitadas

e

se

mantem

Algumas condições sobre o tipo de local em que é cultivado e o tipo de solo também

são

importantes

para

também

diferenças

em

determinar as propriedades físicas e

termos de durabilidade entre as

mecânicas do bambu, por exemplo: os

espécies do mesmo gênero:

bambus

por exemplo, Dendrocalamus

que

são

cultivados

em

encostas apresentam-se mais fortes do

strictus

aparecem

menos

que os cultivados em vales, e os

resistentes a cupins do que

espécies

nativas

vulgaris

para

construção civil.

a

da e

China

Bambusa

utilização

na


35

Figura 21: Bambusa tuldoide

Hidalgo-López

que

Existem algumas regras e formas de

testes realizados com várias espécies

aumentar a durabilidade do material

apontam a Guadua angustifólia como

ante ao corte. Primeiramente, deve-se

espécie

observar e conhecer a espécie que será

que

(2003),

afirma

apresenta

melhores

resultados de durabilidade.

utilizada e se tal espécie é adequada

Esta espécie é nativa da América do Sul

Fonte: CNSEED, 2016.

Figura 22: Bambusa vulgaris

e há muitos anos é utilizada por

É recomendado, tanto por Hidalgo

colombianos em suas construções.

como por outros estudiosos do bambu,

Suas toras são extraídas a partir do 3º

que o corte da tora seja realizado

ano de maturação, o que proporciona

durante a época de chuva, o que

ao

minimiza a possibilidade do material ser

material

maior

durabilidade

e

resistência.

danificado por pragas, pois nessa

Sua eficácia é tamanha que ainda “existem casas de bambu que foram construídas espécimes

em maduros

1890

usando

de

Guadua

angustifolia [...], que até o presente tempo são usados sem qualquer tipo de tratamento

físico

ou

químico”

(HIDALGO-LOPÉZ, 2003, p. 143). Fonte: Prota, 2016.

para a aplicação desejada.

época há uma redução da quantidade de amido que a planta matriz fornece aos colmos. Ainda são necessários cuidados quanto ao corte.


36

Este

deve

ser

realizado

minunciosamente “sobre o primeiro nó

Figura 24: Uso do bambu com mais de 2 anos

localizado acima do solo” (HIDALGO –

vão. Os pilares devem ser apoiados em

LÓPEZ, 2003, p. 143), com uma serra,

sapatas ou baldrames a no mínimo 50

facão

cm do solo. Desta forma pode-se

ou

machado

pequeno.

É

prolongar a durabilidade do material.

importante que o colmo que fique não forme um copo e abrigue aguas da chuva,

pois

características

pode da

prejudicar planta

a

as se

3.3.

Tratamentos e cuidados

desenvolver. A idade do colmo também vai estipular os usos a que são

necessários para aplicação Fonte: Hidalgo-López, 2003 p.144

indicados, como ilustra a figura 23 e 24. Figura 23: Uso do bambu com até 1 ano

Quanto à aplicação, os cuidados a

Segundo

serem tomados estão relacionados ao

existem normas básicas de utilização

contato direito do material com o solo e

do bambu na construção, que se deve

a exposição deste às intempéries (os

ter

dois devem ser evitados). Bambus

aproveitamento

utilizados

danifica-lo ou tornar seu tempo de vida

em

fechamentos

Fonte: Hidalgo-López, 2003 p.144

construções e/ou

sem

vedações

útil

em

Hidalgo-López

mente

reduzido,

para do

(1981),

o

melhor

material

independente

sem

das

apresentam maior durabilidade quando

técnicas que serão empregadas.

protegidos por largos beirais, que

Essas normas consistem em ações

devem ter no mínimo 1/3 da altura do

“certas” e “erradas”, para o emprego do


37

cortes

bambu in natura e principalmente na

acidentalmente com o machado

finas ou em mau estado de

utilização do material enquanto método

ou facão.

conservação.

❖ Ações

estrutural de construção. ❖ Ações certas para vigas e colunas: ✓ Utilizar bambu com três ou mais

✓ Utilizar corda de nylon, vegetal

devidamente curados, secados e

apropriador para o uso.

feitos

de

✓ Utilizar

forma

✓ Utilizar bambus com diâmetros e paredes apropriados para o uso

os

com diâmetro

fios

desejado.

ou suportes de forma:

de

amarra

tamanho

inferior,

erradas

para

peças

Utilizar cravos ou pregos com de

6

cm,

para

bambus

fixar com

extremidade inferior que, ao

junções.

fissuras.

gretas

viga

lateralmente à coluna.

verticais,

fissuras

ou

ser

Utilizar bambu sem nó em sua

idade inferior a três anos.

Utilizar bambus que possuam

possa

ou suporte de formas:

serem

insetos.

qual

golpeado sem produzir fissuras.

diâmetro menor ou para fixar

Utilizar

o

❖ Ações erradas para colunas, vigas

lateralmente

que

de igual comprimento

Utilizar bambus verdes com

Utilizar bambus atacados por

apropriado,

possuam nó em sua extremidade

mais

❖ Ações erradas para vigas e colunas:

❖ Ações certas para colunas, vigas ✓ Utilizar vigas ou colunas de

horizontais: ▪

Realizar a amarra no meio do

duplicados, com dois ou três fios ❖ Ações

apropriada

peças

Utilizar cordas elásticas, muito

colmo entre os nós

ou de couro

uniões

para

horizontais:

✓ Utilizar bambus com cortes e

certas

anos, que tenham sido prévia e

tratados com imunizadores.

produzidos

bambu em alguns usos específicos do

pregada

golpeados,

produzam

Bambus utilizados em estruturas, mais especificamente em vigas ou lajes, devem receber atenção e cuidados


38

quanto ao achatamento da extremidade

Entretanto nem sempre é possível tal

O processo de cura, para extração da

das peças.

feito, então a ação de prevenção do

seiva, pode ser realizado in loco e

achatamento da peça é a implantação

consiste em posicionar o colmo apoiado

de um colmo de bambu ou um cilindro

na touceira de bambu sem que sejam

de madeira, de diâmetro inferior e, no

retirados seus galhos e folhas e de

caso do bambu, que possua nó, que

forma que esteja isolado do solo,

seja facilmente encaixado no interior da

permanecendo nesta posição de 4 a 8

peça em questão.

semanas. (Ghavami & Marinho, 2002)

O

achatamento

ocorre

devido

à

inexistência de nó da área de conexão entre uma peça e outra, por onde a carga é conduzida, conforme a figura 25. Por isso, o corte do bambu deve ser feito de forma a possibilitar que a vara possua em suas extremidades, nós.

Segundo Pereira (2001), depois de realizada a cura, o colmo é levado à

Figura 25: Achatamento da extremidade da peça e como evita-lo

3.3.1. Cura e secagem dos colmos

secagem

para

extração

de,

aproximadamente, 10% a 15% do teor O teor de umidade e a seiva presente

de umidade presente. Este processo

no material após a sua extração permite

torna-se indispensável, pois o bambu

que

de

seco além de se tornar mais leve (o que

pragas/fungos que podem prejudicar as

facilita o transporte e a trabalhabilidade

características do material e danifica-

do material), também se torna mais

los fisicamente. Por este motivo é

resistente quanto as suas propriedades

importante que o colmo extraído seja

mecânicas.

este

seja,

ainda,

alvo

colocado imediatamente em cura e Fonte: Hidalgo-López, 1981.

posteriormente em secagem.


39

A secagem pode ser realizada de

Figura 26: Secagem por fogo

Figura 28: Imersão química

Fonte: Tratamento do bambu, 2016.

Fonte: UFSM, 2016.

maneiras distintas, como: deixar as varas na posição vertical, em um local coberto e ventilado, por um período de tempo de 2 a 8 semanas, a depender da espécie e do clima (Vasconcellos, 2004); secagem por fogo podendo ser posicionado a 50 cm de distância da chama, ou por maçarico, onde a vara é colocada em andaimes e queimada até que perca a cor verde completamente –

Figura 27: Secagem in loco

este processo apesar de trabalhoso e

Pereira (2001) afirma que, ainda no

de demandar tempo, proporciona ao

processo de secagem, podem surgir

material mais brilho e resistência.

fissuras nas varas que podem ser evitadas com uma secagem mais lenta,

A secagem pode ser realizada ainda

de

por estufa, de forma que não haja

rapidamente pelas extremidades do

incidência solar direta sobre a vara e

colmo.

nem calor excessivo, entretanto este método demanda equipamentos de custo elevado por isso é mais utilizado em grande escala.

Fonte: Tratamento do bambu, 2016.

forma

que

a

água

não

sai


40

3.3.2. Tratamento de conservação

Já Ghavami & Marinho (2004) utilizam o método Boucherie que utiliza a

A cura e secagem da vara são

pressão atmosférica para realizar a

importantes etapas que retiram do

penetração da substância nos colmos e

bambu a seiva e água excessivas,

como consequências a seiva é retirada

porém faz-se necessário que este

e seu lugar tomado pelo conservante.

receba

para

Este método deve ser realizado em

prolongar a durabilidade. Para isso

bambus recém-cortados e com a seiva

existem diversos métodos de aplicação

ainda em movimento.

tratamento

adequado

e produtos, que serão descritos abaixo.

Há ainda o tratamento por imersão, que

Segundo Salgado & Azzini (1994) o

também é o de menor custo, onde as

método

varas

de

conservação

por

são

submergidas

em

um

transpiração consiste em colocar o

reservatório com produtos químicos e

colmo após a cura, em um recipiente

ali ficam por cerca de cinco semanas ou

com conservante. Este será conduzido

mais (Cardoso Junior,2000).

ao topo pela corrente transpiratória realizada pelas folhas. Esse tratamento pode durar até quatro dias, a variar de acordo com o clima.

Por

ser

tratar

de

um

material

ecologicamente correto, é ideal que o bambu seja tratado com conservantes não poluentes e prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente.


41


42

4. ESTUDO DE CASO E

construído em bambu, o pavilhão Zeri

na utilização do bambu em construções

(figura 29).

na América latina, o conhecimento

APLICAÇÃO DO BAMBU

sobre Figura 29: Pavilhão Zeri, Alemanha

COM MATERIAL DE

o

material

vem

sendo

aprofundado, ainda que de forma vagarosa e informal no Brasil, uma vez

CONSTRUÇÃO

que este material ainda não possui normas técnicas a obedecer. Assim

O forte apelo ecológico a favor da

sendo,

preservação das grandes florestas, e

bioarquitetos brasileiros, como é o caso

meio ambiente, torna o bambu um

da Celina Llerenna e do Edoardo

material com grande potencial para

Aranha,

diversos usos. Suas utilidades são

desenvolvidas e utilizadas por grandes

tamanhas que existem mais de 1500

Fonte: Ecolog Ambiente,2016.

bambu

esteve

presente

técnicas

no

estudiosos

do

geral,

utilizadas

são

bambu

por

técnicas

como,

por

exemplo, Oscar Hidalgo-López.

tipos de usos documentados. O

as

como

método de construção em muitas culturas pelo mundo, mas não havia reconhecimento e interesse global pelo material até o ano 2000, quando aconteceu em Hanover, Alemanha, uma Expo abrigada sob um pavilhão

Desde então, o bambu é visto sob um

Nos

subcapítulos

sequentes

novo ponto de vista tanto tecnológico

algumas técnicas serão brevemente

quanto ecológico.

apresentadas por características de

É verdade que, determinadas espécies

aplicação e ilustradas com estudos de

estão mais aptas para alguns usos do

casos

que outras, como citado no capítulo

técnicas de conexões e encaixes,

anterior, e que identifica-las não é uma

elementos estruturais, de cobertura e

tarefa fácil. Entretanto, com o aumento

revestimentos.

aplicados.

Serão

ilustradas


43

4.1.

Estrutura em bambu

para

a

utilização

como

elemento

Figura 31: Construção com bambu Guadua

estrutural. Como já citado no capítulo Pontes, esculturas, casas, edifícios de

anterior, algumas espécies possuem

tamanhos

são

menor resistência física e a pragas e

algumas das aplicações possíveis para

possuem, também, menor durabilidade.

o bambu como elemento estrutural.

Algumas das espécies que mais se

Progressivamente, o bambu tem se

utilizam para estruturas são: Bambu

tornando uma escolha sustentável e

Gigante, Bambu Guadua, Bambu Cana

econômica para construções. Suas

da índia e Bambu Mossô.

modestos.

Estas

características de resistência e leveza potencializam a sua utilização como elemento

estrutural

e

Figura 30: Construção com bambu gigante Fonte: Triskle Ambiental, 2016.

quando

trabalhadas com técnicas já tradicionais

A estrutura em bambu é uma parte

da construção, na substituição de

resistente e ao mesmo tempo delicada

materiais como o aço, a madeira ou até

da construção e exige proteção contra

mesmo

material

as intempéries e contra a umidade do

demonstra sua força, adaptabilidade e

solo para que tenha máxima duração,

flexibilidade de uso.

como já citado no capítulo anterior.

o

concreto,

Contudo, conhecimentos

são mínimos

o

necessários sobre

as

espécies de bambu que estão aptas

Fonte: Enge Facil, 2016.


44

Neste contexto as fundações são parte fundamental de toda estrutura, pois, além de auxiliarem na condução de

Figura 32: Fundações de pedra e cimento Fonte: Ramos, 2007.

Para

levantar

necessários

a

estrutura,

bambus

com

são idade

superior a 3 anos, que estejam em

carga do bambu para o solo, ao evitar

perfeito estado físico, secos e tratados,

que o contato entre ambos ocorra

não podendo haver fissurar, trincas ou

diretamente, evita

quais

também

que o

outros

danos

que

possam

material possa ser degradado por

prejudicar a resistência do material. Os

fungos

cortes

e

bactérias

atraídas

pela

umidade. Duas

opções

devem

ser

realizados

corretamente e os colmos devem ter de

fundação

dimensões adequadas para suportar as

que

protegem o bambo do contato direto

Figura 33: Bambu incorporado a fundação de concreto

com o solo são as fundações de pedra

trechos de mesmo diâmetro sendo necessário retirar as partes excedentes

e cimento (figura 32) e as fundações

ou inferiores para utilização elementos

que incorporam o bambu à base de

não estruturais ou em junções, a

concreto (figura 33). Para evitar que a

depender do tipo de técnicas a ser

umidade passe do solo para o cimento

utilizada (RAMOS, 2007).

e consequentemente para o bambu, na base do betão, é colocada uma placa de aço (RAMOS, 2007).

cargas exigidas. Utilizam-se apenas os

Fonte: Ramos, 2007.


45

Figura 34: Albergue em bambu

4.2.

Figura 36: Detalhe de estrutura em bambu

Coberturas em bambu

Devido as suas características de resistência e leveza, o bambu é um material

ideal

para

estrutura

de

coberturas. Tal elemento virá a abrigar e

proteger

toda

a

estrutura

da

construção do sol e da chuva que Fonte: SustentArqui, 2016.

Fonte: SRC, 2016.

podem danificar o material (Ramos, 2007).

Figura 35: Ponte de bambu

Figura 37: Estrutura e cobertura em bambu Figura 38:Centro Max Feffer, cobertura em bambu

Fonte: Pinterest, 2016.

Fonte: Bamboo Earth Architecture, 2016. Fonte: Galeria da Arquitetura, 2016.


46

Ainda segundo Ramos (2007), para a Figura 39: telhado com estrutura em bambu

estruturação da cobertura define-se a cumeeira e os beirais, que estarão apoiados nos suportes exteriores. Após a montagem dessa estrutura, os colmos

são

partidos

longitudinalmente

e

ao

colocados

meio em

posição côncava lado a lado, onde terão seus encontros cobertos pelas Fonte: Hidalgo-López, 1981.

outras metades dos colmos. Esse método tem semelhança com as telhas

Figura 40: encaixes da estrutura da cobertura em bambu

Fonte: Hidalgo-López, 1981.

capa-canal. Figura 41: Cobertura e telhado em bambu

Fonte: Pinterest, 2016.


47

Há também coberturas com sistemas

Esse tipo de cobertura permite maior

Existem

circular ou radial que são apoiadas por

conforto

telhados que podem ser utilizados para

um pilar central que suporta toda a

ventilação do ambiente.

coberturas em bambu. Alguns dos mais

estrutura.

Sabe-se que treliça são ideais para

utilizados

Figura 42: Cúpula de bambu do Cafeneaua Apei Si a Aantului

alcance de vãos maiores, entretanto é

telhados verdes e telhado com próprio

necessário

colmo do bambu.

térmico

por

cuidado

permitir

quanto

a

ao

inúmeras

são:

variedades

material

de

orgânico,

dimensionamento dessa estrutura, pois

O telhado de materiais orgânicos é feito

apesar do bambu responder bem aos

de vegetais como, por exemplo, folhas

esforços de tração e compressão

de coqueiro. Apesar de possuírem boas

exigidos no sistema, pode ocorrer

características como isolante térmico,

deformações e ruptura da peça uma

esses

vez que o material não responde bem

manutenção, principalmente se forem

ao esforço cisalhante (RAMOS,2007)

feitos de folha ou palha, pois não são

Figura 43: Treliça em bambu

materiais

Fonte: In Hbitat, 2016.

telhados

demandam

impermeabilizados

muita

e

necessitam estar em ângulos limitados As treliças são outro tipo de sistema de

entre 30 e 40 graus.

cobertura tradicional. As empenas são

Figura 44: Cobertura de 3 aguas de palha

triangulares, o que simplifica o tipo de estrutura da cobertura e reduz o tempo de construção. Fonte: Pinterest, 2016 Fonte: Dreams Time, 2016


48

4.3.

Revestimento em bambu

Os telhados verdes, na figura 51,

Os telhados com colmos de bambu são

requerem uma forração, como um

os mais simples para a construção. Os

tapete feito de bambu ou utilizar o

colmos devem possui o tamanho da

Muito além das características de

próprio bambu de aproximadamente 3

agua inteira do telhado, desde a

resistência e leveza, apresentadas pelo

cm que vão sobre a estrutura da

cumeeira até o beiral. O bambu

bambu, pode-se observar também seu

cobertura.

utilizado

deve

agradável

potencial

estético.

Sua

impermeabilizante, as pedras, solo e na

possuir diâmetro superior a 6 cm e as

aplicação

como

material

de

finalização a vegetação. Este método

inclinações podem ser de 25 a 40 graus

revestimento acrescenta a construção

também exige manutenção constante.

(RAMOS, 2007)

identidade e conforto.

Figura 46: montagem de telhado em bambu

Figura 47: Projeto do escritório Bambu Carbono Zero

Aplica-se

o

material

(RAMOS, 2007) Figura 45: Cobertura verde, estrutura em bambu

para

esse

método

Fonte: Design Architecture Art, 2016 Fonte: Ramos, 2007.

Fonte: Bambu Carbono Zero, 2016


49

Quando aplicado no piso, caso este

Existem técnicas especificas para a

Segundo Ramos (2007) essa técnica

seja também de bambu, é necessário

aplicação de revestimento do piso em

apresenta maior resistência a cargas

cuidado quanto a nível em que se

bambu. Pode-se utilizar o revestimento

elevadas.

encontra. Por exemplo, se a construção

de bambu que é produzido como

está ao nível do solo é preferível que o

esteiras de bambu e aplicado em lajes

assoalho seja levantado com uma

de multicamadas, sobre uma base de

pequena

cimento (figura 49).

estrutura

melhorando

a

Figura 50: Assoalho de bambu in natura

higienização e conforto. A estrutura desse piso deve ser feita com bambus de idade igual ou superior a 3 anos, que

Figura 49: esteira de bambu sobre piso de concreto

estejam devidamente tratados e que tenham pelo menos 1 cm de espessura de parede do colmo e é composta por feixes de bambu que são anexados a

Fonte: Hidalgo-López, 2003 apud Ramos,

estrutura do edifício. (RAMOS, 2007)

2007.

Figura 48: Assoalho em bambu Fonte: Ramos, 2007

Além do piso, as paredes também podem receber aplicação do bambu,

Pode-se utilizar o assoalho de bambu inteiro onde bambus de pequeno diâmetro são amarrados nos feixes com Fonte: Hidalgo-López, 1981.

distancias de 30 a 40 cm (figura 50).

tanto em sua composição, sendo trabalha com outros materiais, quanto sendo unicamente de bambu.


50

Algumas tecnologias, que combinam o

E

bambu

para

utilização de esquadrias feitas em

construção de paredes, utilizam o

bambu que são elementos importantes

colmo inteiro do bambu ou os dividem

para a conexão entre o interno e o

longitudinalmente,

colocando-os

externo. Elas podem variar de tamanho

sobrepostos horizontalmente para que

e técnica de construção de acordo com

possam auxiliar na resistência ao

a quantidade de luz e ventilação que se

cisalhamento.

deseja para os ambientes.

Figura 51:Parede de bambu

Figura 53: Esquadria em bambu

e

outros

materiais

completando

a

composição,

a

Figura 52: Esquadria pivotante de bambu

Fonte: Ramos, 2007.

Fonte: Ramos, 2007 Fonte: Ramos, 2007


51


52

5. ANÁLISE DO TERRENO

5.1.

Justificativa da escolha da cidade e do terreno

Conhecida “Cidade

mundialmente Saúde,

como

Guarapari

está

Com os anos, Guarapari tornou-se um

Devido às características e a atual

dos símbolos de turismo no ES.

situação de desenvolvimento, a cidade

Segundo a Prefeitura de Guarapari

de Guarapari torna-se objeto de estudo

(PMG,2014), a cidade possui mais de

deste

40 praias e uma vasta rede hoteleira,

tantas qualidades: ecológicas, culturais

chegando a receber 700.000 turistas

e sociais, bem como a possibilidade de

todos os anos e abrigando mais de

um ambiente pacato de balneário que

105.000

interage com a agitada vida urbana.

habitantes.

Seu

território

localizada no litoral Sul do Espirito

ocupa uma área de 594.487 km²

Santo (ES) e é parte integrante da

dividida em três distritos: Guarapari

Região Metropolitana da grande vitória

Sede, Todos os Santos e Rio Calçado;

(RMGV). Fundada pelo padre José de

e faz divisa com os municípios de Vila

Anchieta em 1585, a Vila dos Jesuítas

Velha, Marechal Floriano, Anchieta,

(ou

Viana, e Alfredo Chaves. Guarapari

Guaraparim)

munícipio tornando-se

de

pertenceu

Anchieta cidade

até

desde

ao 1891,

oferece

ainda

uma

então.

atividades, diurnas e noturnas, desde

Contudo, seu crescimento fora lento e

esportes

aquáticos,

sem

atividades

culturais,

destaques

turísticos

durante

variedade

artesanatos

e

só em meados do ano 1960, graças às

versatilidades e belezas naturais.

monazíticas

de

propriedades medicinais. (IBGE,2014)

dentre

Figura 54: Município de Guarapari

ecoturismo,

agronegócio, destacando-se por sua

areias

oferecendo,

de

muitos anos, passando a atrair olhares

suas

trabalho,

Fonte: ES, 2016 adaptado pela autora


53

Figura 55: Guarapari e seus distritos

Figura 56: Terreno de estudo

Fonte: PDM – Guarapari, 2014 editado pela autora

O

terreno

escolhido

para

o

desenvolvimento deste projeto está localizado na avenida Meaípe (ES-60) o distrito de Guarapari-Sede no bairro

Fonte: Google Maps, 2017 adaptado pela

Meaípe, conforme ilustra a figura 56 a

autora

seguir, que é um dos bairros que se

acessos, favorecendo a viabilidade

destaca por suas praias, belezas

Este

terreno

naturais, tradição e cultura.

privilegiada quanto aos visuais naturais litorâneos,

a

possui

situação

visibilidade

empreendimento e a facilidade de

do

econômica do projeto e promovendo o encorajamento de atividades artesanais e construções sustentáveis na área,


54

neste proposta, leva-se em conta

região como, por exemplo, restaurantes

topografia, em grande parte regular,

também as necessidades da população

e boates. A região também é repleta de

apresenta alguns relevos e desníveis

e da cidade, uma vez que Guarapari

tradições

que

sofre

com

artesanatos e panelas de barro. Uma

aproveitamento dos visuais da orla.

problemas de abastecimento de água,

das curiosidades sobre a tradição e

Há também resquícios de uma antiga

tornando este fato um motivo a mais

cultura do local está relacionada a

ocupação

para a elaboração da proposta de

ligação direta da pesca artesanal com a

resíduos de uma fundação.

construção

que

identidade dos moradores locais que

Em grande parte do terreno não existe

de

são conhecidos como “xareu” graças a

vegetação

um peixe que era abundante na região.

importância para preservação, apenas

A pesca artesanal foi durante muito

árvores (Amendoeiras-da-praia) que

tempo o meio de renda e alimento das

promovem sombra a um quiosque,

famílias tradicionais do bairro.

improvisado e irregular no limite do

Entretanto, hoje, a atividade perdeu

terreno, conforme a figura 57 a seguir.

abraça

em

altas

de

temporadas

bioarquitetura,

fortemente

o

conceito

sustentabilidade, nesta localização.

5.2.

Contexto Social e Econômico

e

cultura,

produzindo

força e espaço dentro da comunidade e Meaípe é um bairro conhecido de Guarapari, não só por suas belas praias - sejam elas, secretas, como a Praia dos Padres ou abertas como a Praia de Meaípe - mas também pela diversidade de atividades noturnas realizadas na

um dos motivos principais é a falta de um

espaço

comunitário

para

a

organização das suas atividades.

O

terreno

características

de

estudo singulares

apresenta também

quanto aos seus aspectos físicos. Sua

possibilitam

devido

o

a

rasteira

maior

presença

de

de

grande


55

Figura 57: Vegetação existente

Figura 58: Coqueiros e bananeiras existentes

Fonte: Arquivo pessoal

Fonte: Arquivo pessoal A principal avenida de acesso ao

RMGV, e a BR-101 e BR-262 que são

Há também coqueiros e bananeiras,

terreno (Av. Meaípe) é uma via de alto

as principais vias de acesso ao estado

figura

fluxo de veículos, aumentado em

do Espirito Santo.

feriados e altas temporadas. Essa via é

Para chegar ao bairro de ônibus existe

vegetação velha e que outrora fora

de

é

a frota municipal a alguns ônibus

queimada. Parte do terreno possui

transpassada pela ES-60, que conecta

intermunicipais com: viação Alvorada,

barreiras físicas que impossibilitam ou

Meaípe/Guarapari

municípios

viação Planeta e Sudeste. Destes

dificultam o acesso, e nota-se a

vizinhos ao sul do estado e vias como a

apenas a viação Alvorada não passa

presença de vegetação arbustiva não

Rodovia do sol, que por sua vez

em frente ao terreno parando próximo à

identificada, além de capim colonião.

conecta Guarapari ao restante da

Praia dos Padres.

58,

características

que físicas

apresentam de

uma

vital

importância,

a

pois


56

As edificações do entorno imediato são

Companhia

Espirito

Santense

de

predominantemente de uso residencial

Saneamento (CESAN) apresentam-se

com até 2 pavimentos, com exceção

desatualizados.

Figura 59: Zoneamento Urbano Meaípe

das edificações na orla da praia e na Av. Meaípe que são de uso misto com 5.3.

comércio no térreo e residência no

Contexto urbano legal

pavimento superior. O bairro em si é predominantemente de

Segundo o Plano Diretor Municipal

classe média, e apesar de possuir um

(PDM), o terreno de estudo faz parte da

adensamento satisfatório, para uma

Macrozona Urbana Ocupada e, dentro

região em desenvolvimento, dispões de

dela, da Zona de Uso Turístico 1 (ZUT-

muitos lotes vazios ou subutilizados,

1) que é definida na Seção III – Art. 77

por

do PDM de Guarapari como “áreas

se

tratar

de

uma

área

em

crescimento.

situadas próximas a elementos naturais

Há também a presença de vários hotéis

que

e pousadas a beira mar.

turísticos, [...] onde se busca incentivar

Vale ressaltar que, para a realização de

o

um

fins

serviços de apoio ao desenvolvimento

o

do turismo, em detrimento da atividade

projeto

acadêmicos,

que

não

seria

desenvolvimento

de

tenha

necessário um

estudo

topográfico detalhado do terreno, pois os arquivos CAD disponibilizados pela

funcionam

incremento

de

como

atrativos

equipamentos e

exclusivamente residencial [...]”.

Fonte: PDM – Guarapari, 2017 modificado pela autora

O

objetivo

estimular

deste a

zoneamento localização

é de

equipamentos, comércios e serviços que tem como foco o turismo local, preservando os visuais e marcos significativos da paisagem natural e urbana. Deste modo, ficam estipulados através do anexo 14/09 que: Hotel, Apart-Hotel e similares deve obedecer


57

5.4.

Contexto Ambiental

ao coeficiente de aproveitamento (CA)

quartos de até 35 m² necessitam de 1

de 1,2; Taxa de ocupação (TO) de 60%;

vaga

taxa

10%;

hospedagem, e 1 vaga a cada 35m² de

O

gabarito máximo de 3 pavimentos;

área quando o empreendimento contar

posicionamento ambiental favorável,

afastamento frontal e fundos de 3,00

com bar, restaurantes, lavanderias,

pois além de permitir o fácil acesso de

metros e lateral de 1,5 metros.

salas

pedestres e veículos ao equipamento

O terreno em questão possui 3455m²

convenções etc.

de

permeabilidade

de

para

de

cada

3

reuniões,

unidades

centro

de

de

com CA de 4146m² e TO de 2073m². No

anexo

apresenta

um

hoteleiro, também desfruta de visuais únicos de praticamente toda a praia de

encontram-se

A Prefeitura Municipal de Guarapari

Meaípe.

orientações quanto à quantidade de

determina o uso da cartilha “Calçada

Os

vagas de estacionamento e carga e

Cidadã”, que é baseada na Norma

predominância, do sudeste e leste

descarga, determinadas pela metragem

Brasileira (NBR) 9050/2015, para a

devido a brisa marítima. A proximidade

quadrada

elas

construção padronizada de calçadas

do terreno com a praia também o expõe

relacionadas, por exemplo: para Hotel,

acessíveis e desta forma promover uma

a maresia, que segundo moradores é

Apart-Hotel e Similares com áreas

circulação segura para transeuntes e

mais forte no inverno e no verão quase

menores à 3500m² estipula-se 1 vaga

moradores locais.

não existe.

das

15,

terreno

áreas

a

ventos

são

provenientes,

em

de carga e descarga, e para áreas

Por contar com uma área aberta que

maiores a 3500m² fica a ser definido por

não possui muita vegetação de porte

um Estudo de Impacto a Vizinhança.

grande e devido ao gabarito baixo da

Já as vagas de estacionamento são

região, o terreno dispõe de muita

definidas pelo metro quadrado dos

iluminação solar direta, aumentando o

quartos aonde, empreendimento com

uso

de

iluminação

natural,

mas


58

necessitando também de cuidados e

Segundo

tratamentos com o conforto térmico das

Guarapari conta com boa regularidade

edificações.

de chuvas, o que torna viável a

Figura 60:Estudo solar e ventos

moradores

no

geral,

utilização de sistemas de reuso de aguas pluviais. A pesar de, atualmente, não contar com uma

quantidade

favorável

de

vegetação que auxilie na redução do calor e favoreça ao máximo o conforto ambiental das edificações, a disposição de

áreas

permite

o

plantio

de

vegetações nativas da mata atlântica, a fim

de

fortalecer

a

relação

dos

hospedes e moradores locais com natureza

original

da

área

e

proporcionando maior conscientização ambiental. Devido à forte insolação durante o período da tarde e falta de vegetação, as fachadas que estiverem voltadas para Norte e Oeste devem receber Fonte: desenvolvido pela autora.

atenção e cuidados para que seja


59

alcançado o conforto térmico dos

ao

ambientes

climatizadores ambientais.

e

assim,

trabalhando

juntamente a ventilação natural, reduzir Figura 61: Estudo de vegetações existentes

máximo

a

necessidade

de


60


61

Figura 62: Pousada Bambusal vista do mar.


62

6. O PROJETO: POUSADA BAMBUZAL

sentimentos, como: o bambu, o tijolo

esquemáticas que ilustram o produto

ecológico, madeiras de demolição ou

final gerado.

de reflorestamento, o sapê, pedras, sistemas de captação e coleta de águas

Seguindo

os

bioarquitetura, oferecer

conceitos

da

pluviais, bem como favorecimento da

projeto

busca

ventilação e iluminação natural e a

hospedes

uma

este

aos

propostas

de

um

espaço

experiência diferenciada na relação:

desenvolvimento

natureza

conscientização ambiental.

através

x

arquitetura, dos

promovida

conceitos

da

sustentabilidade, objetivando a leveza, o conforto, a integração e a rusticidade da

arquitetura

e

dos

ambientes.

Concomitantemente busca-se estreitar os laços entre meio de hospedagem e hospede, promovendo a proximidade das

relações

existentes

em

uma

arquitetura de pequeno porte, como uma pousada.

neste

desenvolvimento

atividades

aos

usuários

tais

IMPLANTAÇÃO DO PROJETO

Para que o empreendimento se adeque tanto a função social que lhe cabe quanto aos quesitos de preservação

capítulo

ocorre

necessário o cruzamento entre as

projeto a nível de estudo preliminar, que

características físicas, ambientais e

utiliza

construtivo

sociais do terreno com o conceito de

sustentável a estrutura em bambu,

bioarquitetura, desta forma, definindo

demonstrando e descrevendo, em seu

diretrizes projetuais que promovam o

decorrer, técnicas de conexões e

melhor aproveitamento dos recursos

encaixes, e cuidados necessários para

naturais gerais disponíveis, bem como

a

visibilidade

utilização

produto,

natural e visual desejados, faz-se

um

como

do

de

método

desse

método

na

construção, bem como apresentando

Para isso utilizam-se materiais que proporcionem

Portanto,

de

para

6.1.

plantas,

cortes

e

perspectivas

e,

consequentemente,

viabilidade do empreendimento. Assim, o desafio deste projeto consiste em trabalhar o método de construção


63

em bambu utilizando formas e volumes que não agridam ou conflituem com esta paisagem geral, mas que ao mesmo

tempo

possam

se

impor,

atraindo olhares e despertando o interesse de possíveis clientes. Buscando alcançar tal objetivo, a implantação da pousada como um todo, prioriza principalmente o contato visual e físico do hospede ou usuário com os atrativos naturais do local e o melhor aproveitamento

de

luz

e

ventos

naturais. Para isso, promove-se a fragmentação

dos

blocos,

criando

maior permeabilidade e dinamismo entre eles. Esta fragmentação também evita o alto impacto visual gerado pela inserção de um único bloco que abrigue e promova todas as atividades e serviços de uma pousada.

Figura 63: Implantação


64

A topografia do terreno consiste em sua

como escoamento natural das agua

em jardim, e de águas cinzas, para

grande parte em elevações e desníveis.

pluviais que não puderem ser captadas.

reuso nas bacias sanitárias.

Buscando

preservar essa topografia de

No

forma

geral,

a

pesquisas sobre o terreno e o entorno

da

notou-se também a necessidade de

proposta e movimentando apenas o

uma área destinada a comunidade

necessário de terra, as edificações

local, que auxilie, fortaleça e promova a

foram implantadas de forma a expor

conscientização sobre importância de

mais as áreas públicas, dispondo-as

atividades sustentáveis, artesanais e de

nas extremidades do terreno, enquanto

baixo impacto ambiental, que possa

busca-se proteger mais a hospedagem,

promover também renda extra aos

localizando-a

moradores.

Seu ponto mais alto está a 8 metros acima do nível do mar e 2 metros acima do nível da rua (Av. Meaípe), enquanto a área mais baixa está a 5 metros do nível do mar e 1 metro abaixo do nível desta mesma avenida. Esta condição torna-se muito favorável e promove uma

melhor

empreendimento

visibilidade uma

vez

do

que

o

principal acesso a pousada está voltado e nivelado com a Av. Meaípe, que é a principal do bairro, e uma das principais de

Guarapari

com

citado

anteriormente. Tira-se proveito das questões topográficas, também, para

permeabilidade,

respeitando a

mais

privacidade

ao

centro

do

processo

de

conhecimento

Com

base

e

nessas

mesmo, com maior afastamento da

necessidades, propõe-se um ateliê

avenida e trabalhando com vegetações

comunitário, controlado pela pousada,

e

que em parceria com a comunidade

paisagismo

para

reforçar

tal

privacidade do bloco.

promova

promover maior aproveitamento do

O sistema de abastecimento de água,

visual da praia, como é o caso do

que é separado por blocos, conta com

bar/restaurante, e ao mesmo tempo,

reguladores de vazão e reutilização de

gerar a privacidade necessária ao

águas

empreendimento e ao usuário, bem

armazenadas em cisternas para reuso

pluviais,

capitadas

e

o comércio

de produtos

artesanais e sustentáveis.


65

Desta forma, define-se a implantação

01 - Ateliê Comunitário (Azul)

03 - Sede/Lobby (amarelo)

do empreendimento com os seguintes

02 - Blocos de Hospedagem (vermelho)

04 – Serviço (laranja)

05 - Bar/Restaurante (roxo)

blocos, posicionados da esquerda para a direita: Figura 64: Setorização


66

Figura 65: Corte esquemático AA" – Hospedagem e circulação vertical

Figura 66: Corte esquemático BB” – Lobby e piscina


67

Para promover uma circulação vertical

tamanho do terreno e as diferenças de

vencer alturas de até 4 m suportando

e

à

níveis entre alguns blocos e áreas de

até 250kg ou 4 pessoas, como é o caso

eventuais usuários com limitação de

lazer, faz-se o uso de rampas com

do acesso ao nível da piscina e ao bar,

movimentos,

são

inclinação de 8%, ou em casos mais

e são exclusivas ao uso de pessoas

trabalhados com piso de concreto

extremos que não comportariam rampa

com

poroso, que permite maior infiltração

utiliza-se plataformas elevatórias, que

locomotivos,

das águas pluviais no solo. Devido ao

consomem pouca energia e podem

plataforma do bloco de hospedagem.

horizontal

livre,

os

e

acessível

caminhos

Figura 67: Perspectiva da implantação

limitação com

de

movimentos exceção

da


68

6.1.1. SEDE/LOBBY

A Sede é o bloco com a função de recepcionar os hospedes, causando-

Figura 68:Planta baixa Lobby

lhes

a

primeira

empreendimento

impressão e

do

acolhendo-os.

Possui 112m², que contam com sala de estar,

banheiros

acessível),

(sendo

amplas

1

deles

esquadrias,

proporcionando maior sensação de integração do interno com o externo (lazer e a praia), maior aproveitamento da luz e ventilação natural, e também com o setor Administrativo. Assim como a hospedagem, possui em sua maior parte estrutural e telhado em bambu com as áreas molhadas em tijolo ecológico. O bloco está no mesmo nível que a avenida Meaípe, 600cm acima do nível do mar, e conecta-se diretamente com todas as outras áreas da pousada. Possui pé direito de 400cm.


69

O

telhado,

sustentado

por

mãos

Figura 70: Acesso ao lobby pela hospedagem.

francesas, projeta-se em longos beirais, tanto na orientação norte quanto na orientação sul, abrigando o acesso ao lazer

e

a

baia

de

embarque

e

desembarque do acesso principal. Figura 69: Acesso principal, fachada norte

Figura 71: Acesso ao lazer


70

Devido à proximidade dos blocos, as

foram posicionadas cuidadosamente

vegetação alta/arbustiva, para auxiliar

esquadrias voltadas para a ala oeste,

afim de proteger a privacidade imediata

no direcionamento visual do usuário

onde está localizada a hospedagem,

do

para o lazer.

Figura 72: Estar do Lobby

bloco,

trabalhando

também

a


71

6.1.2. HOSPEDAGEM Figura 73:Planta baixa geral da hospedagem


72

Dividida em 3 blocos de 67m² por andar, mais a circulação vertical e rouparia, a hospedagem é o único setor que possui dois pavimentos. São dois apartamentos de até 30m² por pavimento em cada bloco e oferece três tipos de layouts: •

Suíte Simples (2 camas de solteiro, armário, escrivaninha, mesa para café da manhã, TV e frigobar.)

Suíte Casal (1 cama casal Queen,

armário,

TV,

escrivaninha¹, frigobar e mesa para café da manhã)

Figura 74: Planta baixa Suíte Simples e Casal


73

Suíte

Casal

com

banheiro

acessível (1 cama casal Queen, armário, TV, frigobar e mesa para café da manhã) Todos os quartos recebem sol da manhã e são protegidos do sol da tarde por beirais estendidos de 150cm, que por sua vez são sustentados por mãos francesas, e pelas passarelas de circulação horizontal que conectam as suítes a circulação vertical. Esta,

dispõe

elevatória,

de

de

uma

baixo

plataforma

consumo

de

energia, que suporta até 4 pessoas ou 250kg, uma escada aberta, que permite ao hospede uma conexão direta com a natureza/paisagismo proposto, e uma rouparia

que

pavimentos.

atende

aos

dois

Figura 75: Planta baixa Suíte Simples e Acessível


74

Com exceção dos banheiros e do bloco

entre si e com as construções do

de

entorno.

circulação

hospedagem

vertical,

possui

toda

estrutura

a em

bambu, com pilares principais e treliças

Figura 76: Hospedagem, vista do lazer

aparentes. O telhado conta com uma sobreposição de

água,

com

basculantes

fixas,

permitindo a saída regular do ar quente e

fortalecendo

ambientes

o

conforto

através

da

dos

ventilação

cruzada. Essa disposição do telhado também permite maior passagem de luz

natural

para

o

ambiente,

e

juntamente com as esquadrias, que são de tamanhos superiores aos habituais, trabalham para favorecer a redução do consumo de energia elétrica. As formas simples dos blocos buscam o menor impacto visual na paisagem de inserção e a comunicação dos blocos

Figura 77: Fachada do bloco.


75

Figura 79: Circulação vertical

Figura 78: Lazer, vista do 2º pav. da hospedagem.

Figura 80: Lazer, vista do 1º pav. da hospedagem. Figura 81: Passarela para circulação horizontal.


76

Figura 82: Vista da hospedagem do lazer.


77

6.1.3. SERVIร O Figura 83: Planta baixa do serviรงo


78

O serviço, assim como os outros

depósitos

blocos, possui um programa enxuto e

higiênico, depósitos de colchão e

reduzido

do

material de jardim, a rouparia geral, lixo

equipamento e visando a terceirização

seco e úmido, vestiários e refeitório

de

para funcionários.

devido

atividades

ao

porte

especificas,

para

a

comunidade. Por ser o único bloco que não possui

de

limpeza

e

material

Possui área quadrada de 102m²

estrutura em bambu, sendo ele todo em tijolo ecológico, e estando elevado a 100cm do nível geral do terreno, buscou-se trabalhar neste um jardim vertical, abrigado por um beiral em bambu que por sua vez é sustentado por mãos francesas. O telhado é verde, composto por vegetação rasteiras que se projeta, e pende sob as laterais do beiral. Possui

acesso

independente,

controlado por uma guarita, acoplada a construção. Também abriga uma área de triagem do carga e descarga,

Figura 84: Serviço, fachada com vegetação vertical.


79

6.1.4. BAR/ RESTAURANTE Figura 85: Planta baixa Bar/Restaurante


80

Localizado na área mais alta do terreno,

Para que a área seja acessível as

O bloco dispõe de uma cozinha

a 200 cm do nível da Avenida Meaípe,

pessoas com limitação de movimentos,

pequena (20m²), praça de garçons

o Bar/ Restaurante possui uma vista

tanto o bar quanto a orla, as escadas

(4m²), depósitos de bebida e comida

única e incrível da praia.

dispõem de plataformas elevatórias,

(2,7m² cada), uma câmara frigorífera

localizadas

(4m²)

escadas Figura 86: Vista do deck para a orla

juntos

às

respectivas

com

antecâmara,

banheiros

(sendo um acessível) e um grande deck de 78m² que comporta até 12 mesas, com vista panorâmica para o mar. O deck possui estrutura em bambu e se projeta 500 cm à frente da curva de nível mais alta, rumo a praia, conforme a figura 87 a seguir. O espaço também pode ser utilizado como salão de café da manhã, e se conecta diretamente a praia através de uma escadaria, que vence a diferença de 500cm existente entre o Bar/Restaurante e a calçada da orla.


81

Figura 87: Avanço do deck sobre a curva de nível.


82

Figura 88: Vista do deck para o lazer


83

Figura 89: Fachada voltada para a praia


84

Figura 90: Acesso da praia.


85

6.1.5. ATELIÊ COMUNITÁRIO Figura 91: Planta baixa Ateliê Comunitário


86

Como citado anteriormente, o ateliê

Os banheiros possuem estrutura de tijolo

comunitário é uma edificação pública,

ecológico aparente. O ateliê dispõe

controlada pela gerência da pousada e

também de uma pequena copa, e

destinada ao comercio artesanal ou

varanda

reuniões e atividades comunitárias da

edificação, que é protegida por um beiral

população local.

de 150 cm. Amplas janelas possibilitam a

O bloco conta com de 54m² mais varanda, e jardim com uma excelente vista para a praia de Meaípe, figura 94 a frente.

Sua

posição

também

é

estratégica para chamar a atenção de transeuntes

na

avenida

para

o

empreendimento. A edificação, estruturada em bambu, possui forma octogonal facilitando a disposição dos pilares principais. Assim como

a

estrutura

das

paredes,

a

estrutura do telhado também é em bambu seguindo a malha octogonal, sendo

sustentadas

pelos

principais e mãos francesas.

pilares

redução

em

do

proporcionando

todo

uso

o

perímetro

da

de

energia

e

conforto

térmico

ao

espaço. Figura 92: Fachada Sul Ateliê Comunitário.


87

Figura 93: Acesso da orla


88

Figura 94: Vista da Av. MeaĂ­pe


89

Figura 95: Orla, vista do interior do AteliĂŞ


90

Figura 96: AteliĂŞ comunitĂĄrio x jardim


91

6.1.6. LAZER

A área da piscina, principal área de lazer da pousada, conta com uma

Figura 97: Planta baixa Lazer

piscina de borda infinita que se projeta sobre a curva de nível em direção ao mar. Possui uma forma orgânica que busca conversar com a topografia existente. A área também conta pergolados, abrigando redes e esteiras, e um deck que fica parcialmente protegido por uma amendoeira da praia (árvore popularmente

conhecida

como

castanheira) preexistente e preservada. Além da piscina, a pousada conta com uma área de leitura, relaxamento e contemplação, coberta e abrigada do sol, sob as amendoeiras e quiosque com estruturas em bambu e telhado de sapê.


92

A área de leitura até 100cm abaixo do nível geral do terreno e para acessa-la criou-se uma rampa com inclinação de 8%. Figura 98: Vista sul do lazer.


93

Figura 99: Lazer, vista para o Bar/Restaurante


94

Figura 100: Borda infinita


95

Figura 101: Lazer, รกrea de leitura


96

Figura 102: Lazer, vista para a hospedagem


97

6.2.

DESCRIÇÕES TÉCNICAS

parede. Também exercem a

apresenta maior uniformidade na

função de vigas, treliças, mãos

condução de cargas. No geral

Para o desenvolvimento do projeto,

francesas, bem como estrutura

ocorre em uniões a 90º, como é

optou-se por utilizar dois tipos de

do telhado.

o caso de pilares x vigas ou

bambu: •

Bambu Gigante (Dendrocalamus giganteus): com diâmetro de 20cm e altura de até 550cm, é utilizado

com

pilar

principal,

principalmente na hospedagem, por possuir dois pavimentos. O material

fica

protegido

da

umidade do solo por uma base de 30 x 30 x 60 cm, sobre uma

Bambu

Guadua

compatibilidade

das

resistências

(Guadua

Figura 103: Corte boca de pescado

mecânica, química e física assim como a disponibilidade do material e mão de obra no mercado brasileiro, bem como a quantidade de informações e técnicas desenvolvidas

e

utilizadas

por

bioarquitetos brasileiros experientes, como a arquiteta Celina Llerenna. No geral, utilizam-se como base técnicas aperfeiçoadas por grandes estudiosos

fundação de tijolo ecológico. •

esquadrias.

A escolha das espécies se dá devido a

do bambu, como Oscar Hidalgo-López.

Fonte: UFMG, 2016.

Bico de flauta: também é muito utilizado

na

construção

de

angustifólia): com diâmetro de

Os encaixes escolhidos para este

estruturas, contudo em uniões

10 e 12 cm, sendo utilizados

projeto são os cortes:

diagonais que tem função de

respectivamente esquadrias/guarda-corpo painéis/pilar

secundário

em e da

Boca de pescado: muito utilizado na construção de estruturas pois

travamento das peças como, por exemplo, mão francesa, painéis menores e treliças.


98

Figura 104: Corte bico de flauta

Figura 105: Encaixe e fixação viga dupla x pilar

Fonte: Hildago-López, 2003.

No caso das vigas, optou-se por utilizar peças inteiras em dupla camada no perímetro da edificação, ou onde estão localizadas as maiores solicitações de cargas, e uma camada nas divisões dos

O método de construção das paredes,

Equador. A estrutura possui pilares de

ambientes.

utilizado para o projeto, é baseado no

bambu com cerca de 10 cm, amarrados

proporcionar uma melhor distribuição

método

ou fixados com parafuso em tiras de

de cargas e evitar o momento fletor que

utilizado na Colômbia, Costa Rica e

Desta

forma

pode-se

pode levar a peça a ruptura. Fonte: Ramos, 2007 adaptado pela autora.

Bahareque,

que

é

muito

bambu, a 30-40 cm de distância.


99

O revestimento é feito com areia,

Figura 107: Detalhe parede vista

cimento e gesso. Esse mesmo método pode ser feito de outra forma: acrescentando um suporte paralelo e em diagonal e criando uma câmara

de

ar

que

permitirá

o

isolamento acústico e térmico dos ambientes internos. (Ramos, 2007)

Figura 106: detalhe parede planta baixa.

Fonte: Ramos, 2007 adaptado pela autora.

Fonte: Ramos, 2007 adaptado pela autora.


100

Para a fixação ou conexão das peças,

Segundo Ramos (2007) as junções são

Ainda segundo Ramos (2007) os

optou-se pela utilização de parafusos

os pontos mais frágeis das estruturas

painéis para o fechamento das paredes

metálicos, transpassados por um furo

feitas em bambu. Para que uma junção

devem ser modulados de forma a

realizado

previamente

um

esteja integra é necessário que toda a

facilitar a produção, reduzir o tempo de

furadeira

próximo

e

estruturas também esteja, assim uma

construção e os custos.

posteriormente preenchendo o colmo

manterá a outra estável e juntas darão

com concreto para reforçar a fixação.

continuidade a função estrutural da

Esta técnica é muito utilizada pela

junção, transmitindo as forças de forma

arquiteta Celina Llerenna em suas

controlada e equilibrada.

ao

com nó

construções, e é chamada “técnica colombiana”.

Neste projeto a modulação dos paneis variam de acordo com o uso: se é para esquadria, porta ou fechamento. As variações são: •

Porta

de

acesso

principal:

painéis com modulação de 187

Figura 108: Detalhe fixação do painel de bambu

ou 212 x 210 cm de altura. •

Portas comuns 80 cm: painéis com 105 x 210 cm.

Esquadrias: painéis com 112 x 210 (+ 50 de basculante fixa para ventilação)

Esquadria

pivotante

vertical:

paneis variam entre 98, 92,50 e 57 x 210 (+ 50 de basculante fixa Fonte: Ramos, 2007 adaptado pela autora

para ventilação).


101

•

PainĂŠis

comuns

para

Figura 110: Exemplo painel simples

fechamento: podem variar de acordo com o bloco ao qual serĂŁo

inseridos

sendo

suas

medidas de 105, 106, 70, 67, 51 e 46 cm. Figura 109: Vista de exemplo de painel para esquadrias

Fonte: Ramos, 2007 adaptado pela autora

Fonte: Ramos, 2007 adaptado pela autora


102

Figura 111: Exemplo painel maior

O revestimento das paredes ĂŠ feito a

por

partir de algumas camadas, segundo

arquiteta Celina Llerenna.

Ramos (2007): Tiras de bambu fixadas diretamente no painel, rede metĂĄlica ou hessian (estopa tecido) e por fim o acabamento de gesso em cimento,

exemplo

muito

utilizado

pela

A cobertura do Lobby e da hospedagem foram trabalhadas com treliça, ver detalhe na figura 112.

conforme mostrado anteriormente na

O piso do segundo pavimento da

figura 92. Esse tipo de revestimento

hospedagem

permite maior leveza a estrutura, ao

bambu, conforme a figura 113 a seguir.

possui

assoalho

contrĂĄrio de revestimentos com adobe, Figura 112: Detalhe da cobertura

Fonte: Ramos, 2007 adaptado pela autora

Fonte: Ramos, 2007 adaptado pela autora

de


103

Figura 113: Detalhe do assoalho de bambu, 2º pav. da hospedagem

Figura 114: Detalhe fundação

Fonte: Ramos, 2007 adaptado pela autora

Fontte: Ramos, 2007 adaptado pela autora

Para a fundação, optou-se pelo método que utiliza bambu incorporado ao concreto, elevando-se 50 cm do solo, protegendo o pilar da umidade do solo conforme mostra a figura 114 a seguir.

Este método permite maior durabilidade do material e evita que o material seja degradado por fungos e bactérias que são atraidas pela umidade.


104


105

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo buscou bases e conceitos da Bioarquitetura para a utilização do bambu na construção, por isso os métodos aqui descritos são métodos tradicionais, que há muito são utilizados como alternativa de baixo impacto ambiental e que, concomitantemente, alguns deles são até aperfeiçoados por estudiosos

brasileiros

do

bambu,

tornando assim, este estudo viável e diretamente aplicável à realidade das construções brasileiras. Ao estudar os cuidados que se devem ter com o bambu, desde a plantação e corte aos tratamentos e cuidados para aplicação, bem como suas técnicas de aplicação,

pode-se

observar

a

variedade de usos oferecidos pelo

bambu na construção, tendo em vista

A adaptabilidade e flexibilidade que o

que o material pode estar presente em

material fornece a construção permitem

todas as etapas desta.

que a edificação possa se tornar um

É necessário, contudo que, ao utilizar o

elemento

bambu como método construtivo, o

aparência de algo que já fazia parte do

profissional

local. Essa característica em particular

técnico

de

tenha suas

conhecimento limitações,

suas

é

muito

recém-implantado,

importante

bioarquitetura,

técnicas corretas para amarrações,

implantação da edificação, uma vez

conexões e juntas, principalmente se o

que o equipamento hoteleiro deste

material for utilizado como elemento

trabalho, trata-se especificamente de

estrutural.

uma pousada litorânea.

A viabilidade uso do bambu dentro do

O bambu se torna novamente uma boa

conceito de Bioarquitetura é defendida

opção de método construtivo pela

pelas características descritas como

leveza tanto estrutural quanto visual

ecologicamente corretas e por ser um

que o material fornece, proporcionando

material altamente renovável quando

calmaria, conforto e tranquilidade, tal

comparado ao aço, madeira e concreto.

como o som e a brisa do mar.

uma

pousada

litorânea

pelas

características estéticas, de conforto e experiência diferenciada que oferece.

para

na

características físicas e mecânicas e de

Também é viável para a construção de

quanto

tanto

com

a


106

8. REFERÊNCIAS

ADAMS, C. Bamboo Architeture and Construcion with Oscar Hidalgo. In: DESIGNER/builder magazine. New México, September, 1997. ANDRADE, Nelson; BRITO, Paulo Lucio de; JORGE ,Wilson Edson. Hotel Planejamento e Projeto. Editora SENAC São Paulo - 2ª edição revista e atualizada, 2000. BARROS, Brunas Rosa de. Bambu: Alternativa construtiva de baixo impacto ambiental. Alagoas, 2004 12p Artigo, Universidade Federal de Alagoas (UFAL). CAEIRO, João Gabriel B. M. Construção em Bambu. Lisboa, 2010. 135p Dissertação de Mestrado – Faculdade de Arquitectura – Universidade Técnica de Lisboa.

CARDOSO JUNIOR, R. Arquitetura com bambu. Porto Alegre, 2000. 109p Dissertação de mestrado – Programa de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. EPICHIN, Valeska. Hotel Boutique: luxo ecofriendly em empreendimento turístico. Vila Velha, 2016. 111p Trabalho de Conclusão de Curso – Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Vila Velha. GHAVAMI, K. Desenvolvimento de Elementos Estruturais Utilizando-se Bambu. Habitat Brasil 96 - Feira da Habitação Urbana, 1. Florianópolis, Brasil. 1996, Anais. Florianópolis, Brasil. GHAVAMI, K.; MARINHO, A.B. Propriedades Mecânicas dos Colmos dos Bambus das Espécies: Mosó e Guadua Angustifolia para Utilização na Engenharia. Publicação – RMNC-2 Bambu 02/2002 do Departamento de

Engenharia Civil da PUC-Rio, 45 páginas. 19 páginas. LOPEZ, Oscar Hidalgo. Manual de Construccíon con Bambu. Cali, Colômbia: Estudios Tecnicos Colombianos, 1981. Universidad Nacional de Colombia y Centro de Investigacción de Bambu y Madera CIBAM. LOPEZ, Oscar Hidalgo. Bamboo: The Gift of the Gods. Minnesota, EUA: Oscar Hidalgo-López, 2003. Universidade de Minnesota. MARQUEZ, Fábio Lanfer. A viabilidade das construções em bambu: analise de obras referencias. São Paulo, 2007. 12p Artigo - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo. RAMOS, Larissa L. A. COSTRUIRE IN BAMBÙ: VERIFICA DELLE CONDIZIONI DI APPLICABILITÀ NELL’EDILIZIA POPOLARE BRASILIANA. Milão, 2007 277p. Dissertação de Doutorado – Dipartimento di Scienza e Tecnologie


107

dell'Ambiente Costruito, Politecnico di Milano, Italia.

civil/108/artigo286055-1.aspx> acesso em 24 de Agosto de 2016.

SALGADO, A.L.B.; AZZINI, A. Conservação do Bambu. O Agronômico, v.46, 1994.

Ministério do Turismo, Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem. Disponivel em: < http://www.classificacao.turismo.gov.br /MTUR-classificacao/mtursite/Entenda?tipo=6> acesso em 07 de outubro de 2016.

VIDIELLA, Alex Sánchez. Bamboo. Editora FKG, 2011.

Archydail, Bambu: uma alternativa viável ao concreto armado. Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/62105 4/bambu-uma-alternativa-viavel-aoconcreto-armado> acesso em 31 de agosto de 2016. Planeta Sustentável, O que é Bioarquitetura? Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br/ noticia/casa/conteudo_271284.shtml> acesso em 20 de agosto de 2016. Techi Pini, Construções em bambu. Disponível em: <http://techne.pini.com.br/engenharia-


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