Fotografia e Identidade: do Crime à redenção

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Fotografia e Identidade: do crime à redenção Caroline Rebeca Comin Silva Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

Resumo: O presente artigo tem como objetivo rever o papel social da fotografia na formação da identidade de indivíduos em três diferentes momentos. O primeiro desdobra-se nos finais do século XIX, quando a fotografia passa a integrar o Sistema de Identificação da Prefeitura de Polícia de Paris, o segundo, quando a imagem criminal, nos mesmos moldes da sua primeira aparição, suporta as ideologias de raça presentes no nazismo, e a terceira, quando o artista Manfred Bockelmann, na atualidade, revisa as imagens de “criminosos” da Alemanha do Terceiro Reich e envolve-se na missão de devolver às crianças judias sua verdadeira identidade, que se distancia completamente das ideologias sobre a raça criminosa. Cumpre-nos o papel de identificar o poder que a fotografia p ossui ao tipificar indivíduos e assim, suplantar suas reais identidades. Palavras-chave: fotografia criminal, fotografia documental, identidade, identificação, tipificação, nazismo, desenho e fotografia. 1 Introdução O que permitiu à fotografia poder ser considerada imagem científica? Sua relação de verossimilhança com o real: a objetividade. Embora esta seja uma afirmação sobre a qual muitas discussões já decorreram, em finais do século XIX não era raro a idealização da imagem fotográfica enquanto cópia mimética da realidade, uma espécie de “atestado de presença”1. Esta crença na exatidão da imagem fotográfica, ainda que ingénua, foi o sustentáculo para a utilização da fotografia enquanto meio de estudo em campos científicos. A eficiência técnica em capturar instantaneamente aspetos da vida natural, de espécies, de etnias, de partes do corpo possibilitou à arqueologia, à geografia, à antropologia, à criminologia, à medicina, e a muitas

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Fabris, A. (2002). Atestado de presença: a fotografia como instrumento científico. Locus-Revista de História, 8(1), páginas 29 – 40, p. 30. Disponível em https://locus.ufjf.emnuvens.com.br/locus/article/view/2438/1735. Acesso a 14 de outubro de 2016.


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