Texto2 conceito de literatura para a infância

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Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti Cadernos de Estudo 14

Literatura Infantil: Raízes e Definições Olga Maia Fontes EB1 de Gondivai

Resumo A preocupação da constante actualização quanto às melhores estratégias pedagógicas, leva-nos a analisar vectores ligados a um nível etário mais avançado, mas, principalmente, a um outro mais precoce. O conceito de Literatura Infantil surge, desde há muito, rodeado por um debate, no qual teóricos e críticos literários tentam chegar a um consenso, sem, contudo, alcançarem um acordo universalmente aceite. Este artigo pretende enunciar as várias concepções de Literatura (nomeadamente a Infantil) e fazer uma breve abordagem das suas origens históricas. Palavras-Chave Literatura, Literatura Infantil, Literatura Juvenil.

Abstract The constant concern to keep informed about the best teaching strategies leads us to the examine features related to the later ages but mainly the ones regarding the early ages. Defining Children’s Literature has proven to be a difficult and lasting task. Several literary critics and experts have tried to achieve a commonly accepted agreement, even though it has been proven to be quite a hard challenge. This article has the main purposes of pointing out several definitions of Literature (including Children’s Literature) and briefly referring to its historical origins. Keywords: Literature, Children’s Literature, Juvenile Literature.

A génese da Literatura infantil Pretende-se aqui glosar certos aspectos ligados ao estudo da chamada Literatura Infantil, particularmente os que respeitam às suas raízes, bem como às suas possíveis ligações com especificidades típicas da cultura tradicional oral e popular. Durante a Idade Média, segundo Rocha (1984), a escola assumiu uma dimensão muito distinta. Nessa altura, a escola era uma instituição precária, desorganizada, demasiado subjectiva e instável, vulnerável à transmissão de crendices, superstições e ideias fantasistas variadas. Muito diferente, portanto, da racionalidade e objectividade que, normalmente, pretendemos ver reflectidas nas práticas diárias académicas actuais. Além das escolas eclesiásticas medievais, estabelecidas inicialmente com o desígnio de formar clérigos, existiam somente certos cursos inconsistentes, assegurados por professores e mestres-escola, livres de determinar os seus próprios curricula arbitrariamente. Nesta época, poucas eram as crianças que iam à escola e as que iam também não permaneciam aí por muito tempo. Participando na totalidade da vida comunitária e social, das rotinas, jogos, brincadeiras e festas, aparentemente, não havia, neste período histórico, assuntos com que uma criança não pudesse contactar. Os temas da vida adulta, a luta pela sobrevivência, com todas as suas alegrias e preocupações, a sexualidade, a morte, a transgressão das regras sociais, o imaginário, as convicções, as comemorações, as indignações e perplexidades mais diversificadas eram testemunhadas, em primeira mão, por toda sociedade, independentemente da faixa etária de cada elemento. Na realidade, qualquer criança com mais de sete anos, por mais cândida e delicada que parecesse, ocupava já o papel de um adulto em ponto pequeno, possuindo o direito inalienável de manifestar uma identidade própria, tanto no quotidiano familiar como no social. O espírito popular medieval festivo, ligado a actos públicos, enfatizava o colectivo. Todavia, era, concomitantemente, marcado pelo fatalismo, pela crença no assombroso, em poderes sobre-humanos, em pactos com o diabo e em personificações bizarras de todo tipo, dominadas por um teocentrismo absoluto e omnipresente. Nesse mundo, onde incontestavelmente reinavam a superstição e o maravilhoso, era perfeitamente comum acreditar em fadas, gigantes, anões, bruxas, elfos, duendes, dragões, castelos encantados, poções, tesouros, fontes da juventude, países quiméricos e inebriantes. Crianças e adultos sentavam-se, lado a lado, nas praças públicas, durante as festividades ou à noite, depois do trabalho diário, para, ansiosamente, escutarem os contadores de histórias e os bardos. Portanto, deve-se ser particularmente cuidadoso ao falar em “contos maravilhosos” ou “histórias de encantar”, quando nos referimos às narrativas populares medievais, pois facilmente se poderá cair 1


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