E S TO M I A
UM PASSO DE CADA VEZ Há 5 anos, Guilherme Lucas vive com uma bolsa de ileostomia. Viu na caminhada uma chance de mudança de hábito e retomada da qualidade de vida e autoestima
SAIBA MAIS SOBRE O PRECONCEITO QUE AS PESSOAS ESTOMIZADAS SOFREM
POR Breno Algarte
Receber a notícia que irá usar uma bolsa coletora de excrementos fecais externa ao seu corpo não é fácil para muita gente, mas não foi o caso do empregado público, Guilherme Caetano Lucas, de 45 anos, viu na estomia uma chance de cura. Diagnosticado com retocolite ulcerativa, uma doença inflamatória intestinal, Guilherme foi submetido a uma cirurgia de estomia, que consiste em uma incisão na área abdominal utilizada para expelir fezes numa bolsa. A única solução para parar as crises de ir frequentemente ao banheiro foi a retirada do intestino grosso, local onde a doença estava instalada.
que um grande desafio preocupou o jovem casal: uma gravidez inesperada.
Nascido em Uberaba (MG), filho de um dentista e de uma professora, passou a infância e o começo da adolescência em Patos de Minas (MG), a 430 km de Brasília. Um acontecimento marcante para o jovem foi a separação dos pais quando ele tinha 14 anos. Diante de toda a situação, com 17 anos, teve que ir morar em São Paulo com o pai, para começar a vida adulta e ter mais oportunidades.
Após cinco anos, Guilherme começou a trabalhar como psicólogo, de forma autônoma. Foi uma fase profissionalmente instável, pois não tinha experiência. Ele ainda tinha o agravante de ter que sustentar uma nova família, o estresse e preocupação eram inevitáveis. Ainda assim, no auge da juventude, sem perceber, descuidou da alimentação e dos exercícios físicos, o que afetou a saúde.
De volta à terra natal, após três anos, em Uberaba, conheceu Ana Paula, aos 22 anos, em uma loja de discos onde ele trabalhava. A jovem morava em Boa Vista (RR), mas após a morte do pai, se mudou para Uberaba. Conheceram-se através do primo de Guilherme e se aproximaram pela afinidade musical. Um encontro ao acaso e já se passaram 23 anos, e o relacionamento está cada dia mais forte. Foram dois anos juntos, até
Nota: Neste texto, foi utilizado o termo estomia, palavra de origem grega que significa "abertura", "boca", "orifício” ou "poro diminuto”. Segundo o Dicionário de termos médicos, “as formas estoma («orifício ou poro diminuto»), estomia (formação de um orifício de uma víscera na pele e que pode ser espontânea e adquirida), estomizar (realizar estomia em), e estomizado (que tem um estoma ou pessoa que é portadora de um estoma) afiguram-se mais corretas que as que exibem o- inicial, uma vez que e-, é a vogal que tradicionalmente se junta (prótese) a étimos de origem grega e latina começados por s seguido de consoante: grego skopiá «local de observação”. Contudo, nas associações brasileiras de representação das pessoas com essa deficiência o termo utilizado é ostomia.
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Revista EsquinA
Com a chegada da primeira filha, Vitória, aumentaram as responsabilidades. Ana Paula com 18 anos e Guilherme com 23, ainda no início da graduação em psicologia, sem muita estrutura, iniciaram uma família. Construíram uma casa e, com dificuldades, acabaram se adaptando à situação. Nada foi programado e não havia como fugir. Era tempo de transformações, foram necessárias adaptação e força.