Revista Ler - nº 19

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Refugiados e migrantes Agosto de 2022 Número 19 Revista do Sistema de Bibliotecas Vera Cruz

EXPEDIENTE DIRETOR GERAL Heitor Fecarotta DIRETOR DE GESTÃO Marcelo Chulam DIRETORA PEDAGÓGICA Regina Scarpa REVISTA CONCEPÇÃOLERE PESQUISA Alexandre Leite (Biblioteca Geral) PROJETO GRÁFICO Kiki Millan e Juliana Lopes (Casa Vera Cruz) EDIÇÃO DE TEXTO Renata Blois (Comunicação) REVISÃO DE TEXTO Iara Arakaki (Casa Vera Cruz)

Revista do Sistema de Bibliotecas Vera Cruz Agosto de 2022 Número 19

5 ApresentaçãoSumário......................................................................................................................................... 7 Indicações do Sistema de Bibliotecas Vera Cruz ................................................................................ 8 Biografias, reportagens e relatos pessoais 8 Literatura infantil 11 Literatura juvenil 13 Quadrinhos........................................................................................................................................... 15 Literatura adulta 16 Filmes 21 Livros teóricos 21 Fotografia ............................................................................................................................................. 22

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Apresentação A questão dos refugiados e migrantes é das grandes preocupações do nosso tempo no Brasil e no mundo. Suas interfaces com o racismo, a xenofobia, o desemprego e o trabalho, bem como com o nacionalismo e a globalização, certamente fazem dela um dos principais problemas do século 21.

A Organização das Nações Unidas (ONU) define como refugiados pessoas que estão fora de seu país de origem devido a perseguições e confrontos relacionados a questões de raça, religião, nacionalidade, grupo social e/ou opinião política, como também devido à grave e generalizada violação de direitos humanos e conflitos armados. Ano após ano, o mundo registra o aumento do número de pessoas forçadas a saírem de suas casas por esses motivos. Até o final de 2021, esse número chegou a 89,3 milhões, de acordo com um relatório da Agência da ONU para Refugiados (Acnur). Em 2022, no entanto, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, o mundo alcançou a dramática marca de 100 milhões de pessoas em deslocamento forçado — uma das maiores e mais velozes crises humanitárias desde a Segunda Guerra Mundial.

Outro tema bastante sensível da atualidade é a das migrações. Ao contrário dos refu giados, que deixam suas casas de maneira compulsória, os migrantes escolhem mudar de país em busca de melhores condições de vida, trabalho ou educação. Enquanto os refugiados não podem voltar a seu país de origem, os migrantes recebem proteção do governo de seu local de origem. O que ambos os grupos têm em comum é a busca por uma vida mais digna — além de, muitas vezes, enfrentarem dificuldades no país de chegada devido à xenofobia.

Dada a importância de que questões como essas façam parte do currículo escolar e seja do conhecimento dos alunos e de toda a comunidade escolar, a equipe do 6º ao 9º ano do Vera promoveu recentemente a mesa-redonda “Refugiados: desafios de quem deixa sua terra e busca um recomeço no Brasil”, com a participação de refugiados e especialistas no assunto. Agora, a Revista Ler dá mais uma contribuição para essas reflexões, neste número inteiramente dedicado ao tema.

Convidamos você, leitor/a e profissional do Vera, a conhecer um pouco mais a respeito da vida de refugiados e migrantes que tiveram suas histórias retratadas em livros e fil mes. Nas páginas seguintes, vocês poderão conferir a indicação de 60 obras presentes em nosso acervo — além de literatura infantil e juvenil, há biografias, reportagens e relatos pessoais, quadrinhos, livros teóricos, livros de fotografia e filmes. Boa viagem pelo conhecimento!

8 Revista Ler As sinopses das publicações a seguir fazem parte do material de divulgação das editoras.

A balada do cálamo, de Atiq Rahimi Na obra, o autor e diretor franco-afegão Atiq Rahimi procura dar forma à experiência traumática do exílio, ao mesmo tempo em que relembra sua história de vida e a autodescoberta como artista. Oscilando entre o presente em Paris e o passado errante, o livro mescla memórias a reflexões artísticas, iluminadas por caligrafias e calimorfias (letras antropoformes) do autor. A história de Atiq se desenrola em três palcos principais: a Cabul da infância, onde aprendeu a grafar o alfabeto persa com seu cálamo e vivenciou a prisão e a tortura de seu pai. De lá, a primeira fuga foi para a Índia, cuja rica e sensual cultura causou uma revolução interna no adolescente afegão. Por fim, a França, onde recebeu asilo cultural em 1984 e construiu uma carreira premiada como cineasta e romancista. Eu estou aqui: crianças que deixaram seus países para começar uma nova vida no Brasil, de Maísa Zakzuk Morar em um novo país, aprender uma nova língua, fazer novos amigos... Foram esses os desafios enfrentados por Sebastien, que veio do Haiti, por Rimas, nascida na Líbia, e pelas outras dez crianças que você irá conhecer neste livro. Todas elas precisaram deixar a sua terra natal por diferentes motivos, como guerra civil, conflitos políticos, desastre natural ou crise econômica. Seja como refugiadas ou imigrantes, essas crianças estão aqui, reconstruindo uma nova vida no Brasil. Confira a história de cada uma delas. São depoimentos repletos de coragem, sabedoria e esperança. Histórias de quem aprendeu, muito cedo, a lutar por seu lugar no mundo. Infiel: a história de uma mulher que desafiou o islã, de Ayaan Hirsi Ali Ayaan, aos 37 anos, narra a trajetória de sua vida, desde a infância tradicional muçulmana na Somália até o exílio na Holanda. É uma vida de horrores, marcada pela circuncisão feminina aos cinco anos de idade e outras violências. É também uma vida de exílios, pois seu pai era um importante opositor da ditadura somali: a família fugiu para a Arábia Saudita, depois para a Etiópia, e finalmente se fixou no Quênia. Obrigada a frequentar escolas em muitas línguas diferentes e conviver com costumes que iam do rigor muçulmano da Arábia à mistura cultural do Quênia, a adolescente Ayaan chegou a aderir ao fundamentalismo islâmico como forma de manter sua identidade. Mas a guerra fratricida entre os clãs da Somália e a perspectiva de ser obrigada a se casar com um desconhecido escolhido por seu pai mudaram sua vida, e ela acabou fugindo e se exilando na Holanda. Passa a adotar uma visão cada vez mais crítica do islamismo ortodoxo, concentrando-se especialmente na situação de opressão e violência contra a mulher na sociedade muçulmana.

Indicações do Sistema de Bibliotecas Vera Cruz Biografias, reportagens e relatos pessoais

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Longe de casa: minha jornada e histórias de refugiadas pelo mundo, de Malala

AoYousafzaIlongo de sua jornada, a paquistanesa Malala Yousafzai visitou uma série de campos de refugiados, o que a levou a pensar sobre sua própria condição de migrante — primeiro dentro de seu país, ainda quando criança, e depois como ativista internacional, livre para viajar para qualquer canto do mundo, exceto sua terra natal.

Neste livro, a jornalista Patrícia Campos Mello conta a improvável história de um casal de sírios que se apaixonou pela internet e arriscou a vida ao decidir se instalar na cidade de Kobane, sitiada pelo Estado Islâmico. Era 2 de abril de 2014 e eles estavam separados por 2,5 mil quilômetros: Raushan na gelada Rybinsk, na Rússia, e Barzan em Istambul, na Turquia. Dois jovens exilados que não se conheciam nem tinham amigos em comum. Ela, uma estudante que interrompera o curso de direito na Universidade de Alepo após episódios de violência perpetrados por extremistas religiosos; ele, um jornalista afastado do país por sua militância pela independência curda. O pano de fundo de Lua de mel em Kobane é a terrivelmente complexa e violenta Guerra da Síria. A primavera árabe, a eclosão do Estado Islâmico, a militância curda e o regime de Bashar al-Assad são algumas das grandes questões que a autora enfrenta para dar inteligibilidade aos dilemas e decisões do jovem casal. Minha casa é onde estou, de Igiaba Scego Três primos com três diferentes cidadanias, tentam juntar as memórias de toda a família desenhando o mapa da sua cidade de origem, Mogadíscio. Quando Igiaba Scego, sentada àquela mesa, tem que desenhar o seu mapa pessoal, fica perplexa. Ela se dá conta de que não conhece a cidade onde sua família viveu antes de se mudar para a Itália. A sua Mogadíscio é Roma, cidade onde nasceu e cresceu. Por isso, àquele mapa familiar, ela junta os lugares da sua vida italiana. Se o livro de Igiaba Scego se assemelha a um mapa, é também porque nos leva à descoberta de um tesouro precioso: uma nova perspectiva sobre a condição humana de imigrante, que é a de todos nós.

Em “Longe de casa”, que é ao mesmo tempo um livro de memórias e uma narrativa coletiva, Malala explora sua própria trajetória de vida e apresenta as histórias de nove garotas de várias partes do mundo, do Oriente Médio à América Latina, que tiveram que deixar para trás sua comunidade, seus parentes e o único lar que conheciam. Numa época de crises migratórias, guerras e disputas por fronteiras, Malala nos lembra que os 68,5 milhões de deslocados no mundo são mais do que uma estatística — cada um deles é uma pessoa com suas próprias vivências, sonhos e esperanças.

A angustiante jornada de Nujeen para fugir da Síria devastada pela guerra até chegar à Alemanha é uma história de força, coragem e esperança que dá um rosto para a grande questão humanitária do nosso tempo: a crise dos refugiados sírios. Para milhões de pessoas ao redor do mundo, essa adolescente de dezessete anos personifica o melhor do espírito humano. Com a locomoção limitada à cadeira de rodas devido à paralisia cerebral e sem poder frequentar a escola na Síria por causa de sua doença, Nujeen aprendeu inglês sozinha, assistindo a novelas americanas na TV. Quando sua pequena cidade se transformou no epicentro do combate brutal entre os militantes do Estado Islâmico e os soldados curdos apoiados pelos EUA, em 2014, ela e sua família foram obrigados a fugir. Apesar de suas limitações físicas, Nujeen iniciou a árdua jornada rumo à segurança e a uma nova vida.

Nujeen: a incrível jornada de uma garota que fugiu da guerra na Síria em uma cadeira de rodas, de Christina Lamb e Nujeen Mustafa

Lua de mel em Kobane, de Patrícia Campos Mello

10 Revista Ler O que é o quê: autobiografia de Valentino Achak Deng, de Dave Eggers Nascido em Marial Bai, no sudoeste do Sudão, Valentino Achak Deng teve uma infância tranquila. Mas, em 1983, seu país foi dividido ao meio por disputas petrolíferas e pelo empenho do governo em impor o rigoroso conjunto de leis religiosas islâmicas. De maioria católica, as aldeias do sul foram arrasadas pelas milícias árabes do norte, dando início à guerra civil. Sobrevivente do ataque que dizimou sua família e seus amigos, Valentino tem sete anos quando se lança numa fuga desesperada rumo à Etiópia. Logo encontra um grupo de meninos perdidos, com quem percorre mais de mil quilômetros a pé, em geral à noite, para escapar dos bombardeios e do ataque das milícias. Valentino sobrevive. Depois de três anos num campo de refugiados etíope e dez num campo queniano, emigra em 2001 para os Estados Unidos. Ali conhece Dave Eggers, que transforma sua história em livro. Para poder viver: a jornada de uma garota norte-coreana para a liberdade, de Yeonmi Park e Maryanne Vollers Yeonmi Park não sonhava com a liberdade quando fugiu da Coreia do Norte. Ela nem sequer conhecia o significado dessa palavra. Tudo o que sabia era que fugir era a única maneira de sobreviver. Se ela e sua família ficassem na terra natal, todos morreriam — de fome, adoentados ou mesmo executados. Park cresceu achando normal que seus vizinhos desaparecessem de repente. Acostumou-se a ingerir plantas selvagens na falta de comida. Acreditava que o líder de seu país era capaz de ler seus pensamentos. Aos treze anos, quando a fome e a prisão do pai tornaram a vida impossível, Yeonmi deixou a Coreia do Norte. Era o começo de um périplo que a levaria pelo submundo chinês de traficantes e contrabandistas de pessoas, a uma travessia pela China através do deserto de Gobi até a Mongólia, à entrada na Coreia do Sul e, enfim, à liberdade.

Querido mundo: a história de guerra de uma menina síria e sua busca pela paz, de Bana Alabed Aos 3 anos de idade, Bana Alabed tinha uma infância feliz que foi interrompida abruptamente por uma guerra civil. Durante os quatro anos seguintes, Bana viveu em meio a bombardeios, destruição e medo. Sua provação angustiante culminou em um cerco brutal em que ela, seus pais e os dois irmãos mais novos ficaram presos em Aleppo, com pouco acesso a comida, água, medicamentos e outras necessidades básicas. Com o potencial revolucionário da Internet, Bana, em um gesto simples, mas inédito, usou o Twitter para pedir paz e mobilizar pessoas ao redor do mundo pelo mesmo intuito. Contendo palavras da própria Bana e cartas comoventes de sua mãe, Fatemah, “Querido mundo” não é apenas um relato de uma família ameaçada pela guerra — o livro oferece, também, uma perspectiva única sobre uma das maiores crises humanitárias da história, vista pelos olhos de uma criança.

Valentes: histórias de pessoas refugiadas no Brasil, de Aryane Cararo e Duda Porto de Souza A questão dos refugiados tem ganhado holofotes pelo mundo inteiro, mas o preconceito, a xenofobia, as fake news e o medo frequentemente atrapalham a discussão. Para auxiliar na compreensão desse tema tão complexo e combater a desinformação, as jornalistas Aryane Cararo e Duda Porto de Souza reuniram histórias de vida emocionantes, de pessoas de mais de quinze nacionalidades, que vieram para o nosso país pelos mais variados motivos — desde dificuldades financeiras até perseguição baseada em raça, religião, nacionalidade, orientação sexual, identidade de gênero ou opinião política —, todas em busca de um lugar onde pudessem de fato viver.

Caminho de pedras: a jornada de uma família de refugiados, de Margriet Ruurs Rama e sua família se veem forçadas a deixar para trás tudo que amam e conhecem. Levando apenas o que podem carregar, partem da Síria em busca de um refúgio na Europa. A chegada, de Shaun Tan Obra que narra as peripécias de um homem, separado de sua esposa e filha, chegando a uma terra totalmente estranha, à qual terá de se adaptar. Ali buscará moradia, sustento e condições para trazer a família para junto de si. Conhecerá também a história de outras pessoas que, como ele, tiveram de recomeçar a vida após um doloroso processo de desenraizamento. O cometa é um Sol que não deu certo, de Tadeu Sarmento Emanuel é um menino que vive num campo de refugiados sírios no meio do deserto da Jordânia. Dentre privações e obrigações, encontra lugar para sonhar em companhia dos amigos, como a menina Amal, por quem nutre um sentimento diferente, que não compreende muito bem. Pelo olhar do protagonista, o leitor é apresentado ao drama dos refugiados sírios e acompanha os dilemas e sonhos de Emanuel em meio ao seu cotidiano sofrido e incerto.

11 Literatura infantil Amal e a viagem mais importante da sua vida, de Carolina Montenegro

Como seria para uma criança ter de cruzar sozinha mares e fronteiras? É isso que este livro leva os jovens leitores a imaginar; para algumas crianças, uma possibilidade impensável; para centenas de milhares de menores refugiados desacompanhados, uma dura realidade. O livro conta com o apoio do Acnur — agência da ONU para refugiados e homenageia as crianças refugiadas.

O caminho de Marwan, de Patricia de Arias O livro narra a história de Marwan, um pequeno menino refugiado que, como outros milhões de seres humanos, atravessou mares e desertos, fugindo da guerra e da fome, em busca de um lugar de pertencimento. Passo após passo, até a próxima fronteira, Marwan tenta se lembrar da voz materna... E assim caminha, com ternura e curiosidade, levando os leitores pelas mãos rumo à liberdade.

12 Revista Ler Um lençol de infinitos fios, de Susana Ventura Maria é uma garota boliviana que vive em São Paulo com sua família. Ela tem um caderno onde escreve histórias e pensamentos, pois pensa em ser escritora um dia.

Com seus amigos Juan, Manoela e Jun, vive o dia a dia da grande cidade e prepara um trabalho para a escola sobre os países da América Latina. Num dia de pesquisa na Biblioteca Mário de Andrade, os amigos conhecem Ludmi, uma jovem haitiana que está na cidade em busca de seu pai. Mapa dos sonhos, de Uri Shulevitz Depois de caminhar para muito longe de sua terra natal conturbada pela guerra, um menino e sua família vivem na pobreza, num país estranho. O menino não tem brinquedos nem livros, e, o que é pior, a comida é escassa. Um dia, em vez de pão seu pai traz para casa um mapa e o pendura na parede. De repente, sem sair do quarto, o menino é transportado para vários lugares do mundo todo.

A menina que abraça o vento: a história de uma refugiada congolesa, de Fernanda Paraguassu O livro conta a história de Mersene, uma garotinha que teve que se separar de parte da família para fugir do triste conflito vivido na República Democrática do Congo. Enquanto se adapta à nova vida no Brasil, ela cria uma brincadeira para driblar a saudade. Migrantes, de Issa Watanabe História de uma grande e única migração, uma viagem de incertezas onde a morte e a esperança coexistem. Um livro sem palavras que constrói uma história a partir do cotidiano, de cenas da rotina nos campos de refugiados e dos deslocamentos que impactam a contemporaneidade. O drama da fome, a tragédia, o fechamento de fronteiras, a crise humanitária. Mas também o papel da solidariedade, do compromisso, da importância do essencial e da partilha. Para onde vamos, de Jairo Buitrago Uma menina viaja com seu pai, mas não sabemos para onde vão. Durante a longa caminhada, ela vai contando os animais, as nuvens e as estrelas do céu. Também conta crianças e soldados. Às vezes, eles param em algum lugar, durante uns dias, pois o pai precisa ganhar dinheiro para prosseguirem.

Dois meninos de Kakuma, de Marie Ange Bordas O livro fala da vida de duas crianças, Geedi e Deng, no campo de refugiados de Kakuma, no Quênia, que existe desde 1992. Por meio de fotoilustrações e pelas vozes dos dois meninos, Geedi, nascido no campo, e Deng, que veio sozinho do Sudão, conhecemos um pouco do cotidiano, passado, sonhos, afetos e inquietações destas crianças. Em Kakuma, os dois assistem aos adultos sobreviverem na esperança de voltarem para a sua pátria ou serem acolhidos por outro país onde possam reconstruir suas vidas. Mas se perguntam o tempo todo: Por que estamos aqui? Por que estes conflitos nunca acabam? Qual futuro nos aguarda?

O garoto de lugar nenhum: uma história de coragem e da amizade entre um jovem refugiado sírio e um garoto americano, de Katherine Marsh Ahmed está preso em uma cidade que não quer nada com ele. Recém-chegado a Bruxelas, na Bélgica, o jovem de quatorze anos fugiu de uma vida de incertezas e sofrimento na Síria, perdendo o pai na perigosa viagem à costa da Europa. Agora, Ahmed precisa lutar para sobreviver sozinho, mas, sem ninguém para confiar e sem ter para onde ir, ele começa a perder as esperanças. Até que ele conhece Max, um menino americano. Solitário e com saudades de casa, Max está sendo incomodado por um valentão na escola e não fala uma palavra de francês. Quando as vidas de Max e Ahmed colidem, cresce uma amizade entre eles, desafiando todas as probabilidades. Juntos, aprenderão o que significa ser corajoso e como a esperança pode mudar seus destinos. Layla, a menina síria, de Cassiana Pizaia, Rima Awada Zahara e Rosi Vilas LaylaBoas veio de Alepo, no norte da Síria. Ela e sua família tiveram que deixar o país por causa da guerra, assim como quase todos os seus amigos e familiares, obrigados a procurar um lugar seguro para viver. Neste livro, Layla conta histórias do período tão conturbado que viveu antes de finalmente chegar ao Brasil. Por meio de sua narração, o leitor entrará em contato com um mundo completamente diferente, com outros cheiros, sabores, cores e dores. Como será ficar longe de tudo e todos que conhecemos, viver com tantas lembranças tristes, ter que recomeçar do zero?

13 Literatura juvenil O diário de Nisha, de Veera Hiranandani Nisha não é de falar muito. Quietinha e reservada, prefere observar as pessoas ao seu redor e anotar os detalhes do cotidiano em seu diário, onde pode ser ela mesma. E ser ela mesma não é nada fácil no epicentro da Partição da Índia, que, após séculos de tensão religiosa, atinge seu ápice criando dois estados independentes do governo britânico: a Índia (maioria hindu) e o Paquistão (maioria muçulmana). Parte hindu e parte muçulmana, Nisha não sabe muito bem a qual lugar pertence, e não entende os desdobramentos políticos deste momento tão crucial da história. Por que hindus e muçulmanos estão brigando tanto entre si? Por que milhares de pessoas precisam abandonar seus lares? E por que tantas acabam morrendo ao atravessar as fronteiras? Com as tensões criadas pela separação, o pai de Nisha decide que é perigoso demais para eles permanecerem no lugar que, agora, se tornou o Paquistão. É neste cenário turbulento que Nisha e sua família — o irmão Amil, a avó e o pai — embarcam no primeiro trem, rumo a um novo lar.

14 Revista Ler Os pichadores de Jabalia: a vida em um campo de refugiados palestino, de Ouzi FaixaDekel de Gaza, campo de refugiados palestino. Youval, um jovem soldado israelense, vai servir no campo de Jabalia. Ali, vivencia o difícil cotidiano dos milhões de refugiados sem pátria. Ao acompanhar um pequeno grupo de pichadores que imprime mensagens de resistência nos muros do campo, Youval aprende que a diferença é uma experiência enriquecedora.

Uma travessia perigosa, de Jane Mitchell Inspirado em fatos reais, este romance juvenil é narrado por Ghalib Shenu, um menino curdo sírio de 13 anos que vive com a sua família na cidade de Kobani, no norte da Síria. Ele e seu primo Hamza Al-Khateeb gostam de pilhar objetos como sapatos entre os escombros de prédios bombardeados pelo Estado Islâmico. Durante uma dessas aventuras pela cidade, eles são atingidos. Hamza se machuca com mais gravidade. Após o incidente, a família de Ghalib decide sair da Síria e ir para a Europa. A travessia de mais de 2 mil quilômetros se inicia, passando por fronteiras cheias de policiais truculentos, campos de refugiados, um mar repleto de perigos, dentre outros obstáculos físicos e emocionais. Como refugiados, eles se tornam reféns da fome, violência, falta de assistência médica, além da constante tensão e ausência de perspectiva.

A odisseia de Hakim: 1. da Síria à Turquia, de Fabien Toulmé

15 Quadrinhos

A odisseia de Hakim: 3. da Macedônia à França, de Fabien Toulmé Após o resgate no Mar Mediterrâneo, Hakim e seu filho pequeno chegam ao território europeu com muita esperança. No entanto, para chegar à França, a dupla terá de enfrentar uma nova série de desafios, dentre centros de detenção, polícia de fronteira e xenofobia. A coragem e a solidariedade providenciais de estranhos serão suficientes para permitir que eles cheguem ao seu destino e finalmente reencontrem sua família? Um outro país para Azzi, Sarah Garland Azzi e seus pais correm perigo e precisam fugir às pressas, deixando para trás sua casa, seus parentes, seus amigos, seus trabalhos e sua cultura. Ao embarcarem rumo a um país desconhecido, levam, além da pouca bagagem, a esperança de uma vida mais segura. Azzi terá de enfrentar a saudade que sente da avó e muitos desafios: aprender outra língua, compartilhar a preocupação dos pais, adaptar-se à nova casa e cidade, frequentar a nova escola e fazer novas amizades.

Reportagens, de Joe Sacco Joe Sacco tem se voltado cada vez mais aos quadrinhos curtos para nos mandar seus relatos dos conflitos ao redor do globo. Reunidas pela primeira vez, essas reportagens mostram por que Sacco é um dos principais correspondentes de guerra dos nossos tempos. São histórias de refugiados africanos em Malta, de contrabandistas palestinos, de criminosos de guerra e de suas vítimas. E ainda de uma incursão com o exército americano no Iraque, em que ele vê de perto a miséria e o absurdo da guerra.

Na continuação da história real de Hakim, este segundo volume aborda a dificuldade de uma família em permanecer unida enquanto todos tentam sobreviver, e a terrível perspectiva de atravessar o Mar Mediterrâneo. No exílio e longe de sua terra natal, Hakim encontra alguma esperança no nascimento de um filho. Mas, entre subempregos e inúmeras dificuldades, a complexidade do mundo o alcança mais uma vez e separa sua família. Abandonado à própria sorte e com uma criança a tiracolo, Hakim tentará sobreviver, apesar dos obstáculos e da precariedade de sua situação, até que considera o pior: embarcar em um bote improvisado em busca da salvação.

História real de Hakim, um jovem sírio que teve de deixar tudo para trás: sua família, seus amigos, seu negócio próprio, seu país. Tornando-se assim um “refugiado”. Porque a guerra estourou, porque o torturaram, porque o país vizinho parecia capaz de oferecer-lhe um futuro e segurança. Um testemunho sobre o que é ser humano em um mundo, muitas vezes, desumano. A odisseia de Hakim: 2. da Turquia à Grécia, de Fabien Toulmé

16 Revista Ler Literatura adulta Aquele que é digno de ser amado, de Abdellah Taïa O livro aborda vários temas: a relação difícil entre mãe e filho, a dor da homossexualidade, o exílio no estrangeiro, a ilusão de emancipação e a submissão cultural. Também aborda o colonialismo e as relações de poder e de como eles se refletem na vida afetiva de um homossexual árabe de 40 anos radicado nos dias de hoje em Paris. O azul entre o céu e a água, de Susan Abulhawa Palestina, 1947. Beit Daras é uma vila tranquila rodeada por oliveiras e lar da família Baraka. Quando forças israelenses surgem nos arredores, ninguém suspeita do terror que está prestes a acontecer. Logo a vila está em chamas. Entre fumaça e cinzas, famílias precisam abrir caminho até os campos de refugiados em Gaza, em uma viagem que testará seus limites. Após chegarem, nada mais é o mesmo. Em uma narrativa que vai do mágico ao terrivelmente real, percorrendo pontos no Oriente Médio e na América em diversas gerações de uma mesma família, “O azul entre o céu e a água” conta a história de mulheres imperfeitas, porém profundamente corajosas, de corações partidos, de resistência, de renovação.

Como fazer amor com um negro sem se cansar, de Dany Laferrière Romance de estreia de Dany Laferrière, um dos principais escritores contemporâneos de língua francesa, nascido no Haiti em 1953, “Como fazer amor com um negro sem se cansar”, publicado em 1985, é ambientado na década de 1970 em Montreal, Quebec, e põe em cena dois jovens negros exilados: um aspirante a escritor, que vive várias aventuras amorosas, e seu curioso companheiro de quarto, o “filósofo” Buba, que passa o tempo a dormir, ouvir jazz e a ler o Corão. No centro da trama estão as diferenças entre cultura de origem — o trópico caribenho — e cultura de inserção — a próspera sociedade quebequense da América do Norte. Retrato divertido do cotidiano e das fantasias de dois outsiders, mas também inédito acerto de contas com a América, “Como fazer amor...” combina altas doses de humor, erotismo, sarcasmo e poesia para dar voz a esse diálogo intenso e vivo que se trava na pele, mas também no imaginário de diferentes culturas. Despertar os leões, de Ayelet Gundar-Goshen O neurocirurgião Eitan Green parece ter a vida perfeita. Ele ama a esposa, Liat, uma policial. Transferido com relutância de Tel Aviv para a poeirenta Beer Sheva, à beira do deserto, o médico compra um carro novo para transitar pelas estradas tomadas pela areia. Certa ocasião, no entanto, ele atropela alguém e foge do local. A vítima é um imigrante africano que está buscando uma nova vida em Israel. Quando a viúva da vítima bate à porta de Eitan no dia seguinte, portando sua carteira e afirmando saber tudo o que aconteceu, o médico descobre que o preço dela pelo silêncio não é dinheiro. É algo totalmente diferente e aterrador. Algo que irá solapar a sua existência segura e o conduzirá a um mundo de segredos e mentiras que ele nunca poderia ter imaginado. Mas também passa a conhecer um outro lado de seu país: a existência de toda uma população de imigrantes da África que chega a Israel com a esperança de encontrar um novo capítulo para suas vidas depois de enfrentarem a fome, a guerra e o preconceito.

17 Exodus, de Leon Uris Um dos maiores fenômenos literários do século 20, este romance épico descreve as atrocidades que os judeus sofreram na Europa e o êxodo desse povo em direção à Palestina em busca de um Estado próprio. Um sonho acalentado por milênios, concretizado depois de muita luta e sofrimento. O caminho seguido ilegalmente por milhares de pessoas resultou na fundação do Estado de Israel, pequeno oásis cercado de inimigos por todos os lados. O fio, de Victoria Hislop Dimitri é um idealista. Filho de um rico comerciante de tecidos e educado para a vida aristocrática, ele decide fugir com o exército durante a Segunda Guerra Mundial. Katerina, bordadeira de renome, é uma refugiada da Ásia Menor que se perde da mãe ainda criança. Dimitri e Katerina se conhecem numa improvável vizinhança, que reúne judeus, cristãos e muçulmanos, gregos e gregos “novos”: uma espécie de amostra da grande colcha de retalhos em que se transformou a Grécia ao longo do século 20. Acompanhando a vida desses dois personagens, o leitor é convidado a conhecer a história grega recente: desde a guerra com a Turquia e a troca de populações que a sucedeu até as batalhas contra os nazistas e os horrores da guerra civil. “O fio” mostra como a força e a coragem são capazes de construir laços que resistem às maiores adversidades. Hereges, de Leonardo Padura O autor cria uma mistura de romance histórico e noir, resultado de anos de investigação sobre a perseguição aos judeus. O ponto de partida é um episódio real: a chegada ao porto de Havana do navio S.S. Saint Louis, em 1939, onde se escondiam mais de novecentos refugiados vindos da Alemanha. A embarcação passou vários dias à espera de uma autorização para o desembarque. No romance, o garoto Daniel Kaminsky e seu tio aguardavam nas docas, trazendo um pequeno quadro de Rembrandt que pertencia à família desde o século 17 e que esperavam utilizar como moeda de troca para garantir o desembarque da família que estava no navio. No entanto, o plano fracassa, a autorização não é concedida e o navio retorna à Alemanha, levando também a esperança do reencontro. Quase setenta anos depois, em 2007, o filho de Daniel, Elías, viaja dos Estados Unidos a Havana para esclarecer o que aconteceu com o quadro e sua família.

Longa pétala de mar, de Isabel Allende Em plena Guerra Civil Espanhola, o jovem médico Víctor Dalmau e sua amiga, a pianista Roser Bruguera, são obrigados a abandonar Barcelona, exilar-se e atravessar os Pirineus rumo à França. A bordo do Winnipeg, navio fretado pelo poeta Pablo Neruda, que levou mais de dois mil espanhóis para Valparaíso, eles embarcaram em busca da paz e da liberdade que não tiveram em seu país. Recebidos como heróis no Chile, os dois se integrarão na vida social do país durante várias décadas, até o golpe de Estado que derrubou Salvador Allende, com quem Víctor estava ligado por laços de amizade, graças à paixão pelo xadrez. Víctor e Roser se verão novamente desterrados. Uma viagem pela história do século 20, de mãos dadas com alguns personagens inesquecíveis que descobriram que numa única vida cabem muitas outras, e às vezes o difícil não é fugir, mas voltar.

18 Revista Ler Lotte & Zweig, de Deonísio da Silva Escritor austríaco judeu, biógrafo de destaque, humanista, pacifista e crítico do nazifascismo, Stefan Zweig (1881-1942) refugiou-se no Brasil com a esposa, Charlotte Elizabeth Altmann, em 1940. Mas Zweig não viveu por muito tempo entre nós. Em 1942, foi encontrado morto ao lado da esposa em seu pequeno bangalô em Petrópolis. Fato que até hoje não se esclareceu completamente: suicidaram-se ou “foram suicidados”? Não houve autópsia — sob a alegação de não incomodar os mortos. A história social e política da época não deixa dúvidas de que havia razões para um assassinato. Mas Zweig deixou uma carta de despedida justificando-se: “quando alcanço 60 anos de idade, seriam necessários esforços imensos para reconstruir a minha vida, e a minha energia está esgotada pelos longos anos de peregrinação...” Afinal, o que ocorreu naquela noite? Marcas de nascença, de Nancy Huston O romance de Nancy Huston, autora canadense radicada na França, conta a história de uma família marcada pelo desenraizamento, pelo dilaceramento da guerra e pela busca de identidade. E o faz de uma maneira original: por meio do olhar infantil, inocente e perspicaz de quatro crianças, numa narrativa que viaja por vários pontos do planeta, começando na Califórnia do ano de 2004 e terminando na Alemanha nos anos finais da Segunda Guerra. “Marcas de nascença” é uma obra polifônica não apenas por ter quatro narradores, mas pela multidão de assuntos abordados: a educação infantil, o fascínio da violência, o exílio, a força e os limites da memória, os legados familiares, a incomunicabilidade das experiências traumáticas, as consequências do silêncio e da vergonha. As montanhas de Buda, de Javier Moro A jovem camponesa Kinsom ousa defender um homem agredido por chineses e grita “Viva o Tibete livre!”. Isso é a senha para que seja detida e fique três anos na prisão de Gutsa. Lá conhece Yandol, uma monja de quinze anos com quem começa uma amizade. Por meio da fé e da solidariedade sobrevivem às dificuldades da cadeia. Após fugirem da prisão, as amigas decidem se juntar a um grupo de refugiados que pretende atravessar as montanhas do Himalaia durante a noite. O objetivo é deixar a opressão em que vivem para encontrarem a liberdade e seu líder espiritual, o dalailama, na Índia. Para tornarem realidade o sonho de uma vida melhor, as jovens terão que sobreviver ao cansaço, ao frio, a fome e as implacáveis patrulhas chinesas.

Pachinko, de Min Jin Lee Livro narra a saga de três gerações de imigrantes coreanos no Japão do século 20. Na Coreia do início dos anos 1900, a adolescente Sunja, filha adorada de um pescador aleijado, apaixona-se perdidamente por um rico forasteiro. Esse homem promete o mundo a ela, mas, quando descobre que está grávida e que seu amado é casado, Sunja se recusa a ser comprada. Em vez disso, aceita o pedido de casamento de um homem gentil e doente, um pastor que está de passagem pelo vilarejo, rumo ao Japão. A decisão de abandonar o lar e rejeitar o poderoso pai de seu filho dá início a uma saga dramática que se desdobrará ao longo de quase cem anos. Neste romance movido pelas batalhas enfrentadas por imigrantes, os salões de pachinko, o jogo de caça-níqueis onipresente em todo o Japão, são o ponto de convergência das preocupações centrais da história: identidade, pátria e pertencimento. Para a população coreana no Japão, discriminada e excluída — como Sunja e seus descendentes —, os salões são o principal meio de conseguir trabalho e tentar acumular algum dinheiro. Uma grande história de amor, Pachinko é também um tributo aos sacrifícios, à ambição e à lealdade de milhares de estrangeiros desterrados.

O soprador, de Michel Gorski e Sílvia Zatz O livro conta a história do padeiro Berko, que sobreviveu aos campos de concentração nazistas graças ao ofício herdado de seus antepassados, e que continuou sendo exercido na sua padaria de Buenos Aires na década de 1980.

Já Graciela precisa seguir em frente. Trabalha numa empresa como secretária e procura recompor sua vida com Beatriz. Ao contrário do marido, ela cai em uma rotina de mudanças constantes, em que mesmo o seu amor por Santiago, que ambos consideravam imutável, poderá ser afetado.

Durante os tempos turbulentos da Segunda Guerra Mundial, do exílio e da ditadura militar argentina, o elemento capaz de preservar a identidade e os laços ameaçados pelas armas e pela distância é o bialy kuchen, pão tradicional da comunidade judaica de Bialystok, na Polônia. Em uma única noite, numa mesa de bar em Varsóvia, a repórter francesa Claudine Chateau partirá dos segredos do preparo do bialy e seu sabor peculiar, para reconstituir os acontecimentos da vida do padeiro Berko e de seu filho Lipa, sobrevivente da ditadura na Argentina.

19 Palavra perdida, de Oya Baydar Uma noite, no terminal rodoviário de Ancara, Ömer Eren, famoso escritor, vivendo uma crise de bloqueio criativo, testemunha um tiroteio envolvendo um casal de jovens curdos. Abalado pela cena, decide pegar um ônibus em direção à Anatólia, onde dezoito anos antes fora um militante de esquerda, com a esperança de que esse retorno traga de volta a “palavra perdida”. Elif, sua esposa, uma cientista de renome, prepara-se para participar de uma conferência na Dinamarca, confiando que a viagem traga um reencontro com filho único, Deniz, em exílio na Noruega desde a morte da esposa, vítima de um atentado em Istambul. Tragédia pessoal e tragédia de um povo se mesclam neste romance, no qual Oya Baydar ausculta com acuidade incomum a relação entre pais/pátria e seus filhos, quer tocando na angústia de famílias desgarradas, quer tomando a palavra do povo curdo, a quem foram negadas a língua e a identidade. O pomar das almas perdidas, Nadifa Mohamed Hargeisa, segunda maior cidade da Somália, 1987. A ditadura militar que está no poder faz demonstrações de força, mas o vento que sopra do deserto traz os rumores de uma revolução, e em breve, pelos olhos de três mulheres, vamos assistir ao mergulho do país em uma sangrenta guerra civil. Aos 9 anos, atraída pela promessa de ganhar seu primeiro par de sapatos, a menina Deqo deixa o campo de refugiados onde nascera. Em circunstâncias dramáticas, conhece Kawsar, uma viúva que logo em seguida é presa e espancada por Filsan, uma jovem soldado que deixara a capital, Mogadício, para reprimir a rebelião que crescia no norte. Depois de um primeiro encontro rápido, elas se separam, mas voltam a se reunir para viver um destino impensável poucas semanas antes.

Primavera num espelho partido, de Mario Benedetti Santiago e Graciela são um casal separado pelo exílio e pela prisão. Ele é um homem sofisticado detido pela ditadura uruguaia por suas posições políticas. Ela, uma mulher forte, independente, é obrigada a se mudar para a Argentina com Beatriz, sua filha pequena e dom Rafael, seu sogro. Em cinco anos de prisão se comunicam apenas por cartas esporádicas. Ele vive num tempo estático, onde nada de novo acontece. Na cela, passa e repassa as lembranças familiares como forma de se manter são.

Autor recria os anos de Nova York após os atentados de 11 de setembro para contar a história de imigrantes em busca de uma nova vida. Mas não é apenas um livro sobre as dificuldades de viver num país distante, é também a saga de um homem que, abandonado pela mulher e por seu filho pequeno, precisa redescobrir o valor da amizade e do amor.

Trem para o Paquistão, de Khushwant Singh No verão de 1947, Índia e Paquistão, até então uma única colônia britânica, tornamse duas nações independentes, precipitando a migração de mais de dez milhões de pessoas, muçulmanos da Índia fugindo para o Paquistão e de hindus e sikhs no caminho inverso. A aldeia fictícia de Mano Majra, perto da fronteira com o Paquistão, permanece à margem dos conflitos. Ali, muçulmanos e sikhs convivem pacificamente, numa rotina ritmada pelos trens que passam na estação local. Para eles, o único sinal de que algo mudou são os horários inconstantes dos trens cada vez mais cheios levando e trazendo refugiados. Quando um deles estaciona silencioso, o comissário de polícia, um militante político educado na Inglaterra e o bandido profissional local precisam se posicionar frente à ameaça de um massacre. Uma reflexão afiada não apenas sobre Índia pós-independência em busca de sua própria identidade, mas também sobre a intolerância e o fundamento religioso.

Vagalumes e parasitas, de Cynthia Ozick Na década de 1930, antes da eclosão da Segunda Guerra e no auge da Grande Depressão, os Estados Unidos vivem um período de inundação estrangeira. Centenas de famílias oriundas da Europa aportam no Novo Mundo, transformando-se do dia para a noite em refugiados. Rose, uma jovem órfã, tão desamparada que chega a se sentir uma estrangeira em seu próprio país, adentra a realidade ambígua desses refugiados ao começar a trabalhar para um casal de estudiosos judeus que escapara, com seus cinco filhos, da Alemanha nazista. No encontro desses personagens deslocados, tão desamparados quanto apaixonantes, Cynthia Ozick, considerada uma das maiores escritoras norte-americanas contemporâneas, tece um romance sobre desejo, fama, fanatismo, e o estranho poder da interpretação.

20 Revista Ler Terras baixas, de Joseph O’Neill

Vidas provisórias, de Edney Silvestre Expatriados, separados no tempo e na geografia, Paulo e Barbara compartilham a experiência do exílio. Diferentes motivos os levam ao estrangeiro. Em 1970, Paulo, perseguido pela ditadura militar, é preso, torturado e abandonado sem documentação na fronteira, de onde segue para o Chile e depois para a Suécia. Barbara, com uma identidade falsa, deixa o país para trás em 1991 — durante o governo Collor —, fugindo de um rastro de violência, e se instala nos Estados Unidos como imigrante ilegal. Em seu terceiro romance, Edney Silvestre cria um retrato das transformações que ocorreram no país e no mundo nos últimos quarenta anos. O autor se vale de sua experiência de onze anos como correspondente baseado em Nova York para revelar o universo dos imigrantes e, ao mesmo tempo, recriar de forma contundente um Brasil visto a distância.

O autor analisa as origens, os contornos e o impacto do medo de que algo terrível possa ameaçar o bem-estar da sociedade. O autor disseca o pavor provocado pelas migrações e o processo de desumanização dos recém-chegados. Mostra também como políticos têm explorado os temores e ansiedades que se generalizaram, especialmente entre os que já perderam muito — os excluídos e os pobres. Muito mais do que uma crise migratória, vivemos uma crise humanitária, afirma Bauman. E a única forma de escapar é rejeitarmos as traiçoeiras tentações da separação, reconhecermos nossa crescente interdependência como espécie e encontrarmos novas formas de convivência em solidariedade e cooperação com aqueles que podem ter opiniões ou preferências diferentes das nossas. Em vez de muros, pontes.

Marcel Marx é um escritor aposentado que se exilou voluntariamente na cidade portuária de Le Havre, onde exerce a profissão de engraxate. Ele abandonou toda e qualquer ambição literária e vive em um mundo reduzido, formado pelo restaurante da esquina, seu trabalho e sua esposa Arletty. Inesperadamente, o destino coloca bruscamente em seu caminho um jovem imigrante africano ao mesmo tempo em que sua esposa fica gravemente doente. Marcel deve combater o muro frio da indiferença humana para tentar ajudar o jovem imigrante.

Livros teóricos Estranhos à nossa porta, de Zygmunt Bauman

Quem? Entre muros e pontes, direção de Cacau Rhoden e Julio Matthos Retrato de um povo exilado, que sobrevive quase que exclusivamente do auxílio de ONGs que se fazem presentes na região do Saara Ocidental levando mantimentos, remédios e um pouco de esperança àqueles que há 40 anos vivem à margem da sociedade, esperando a pacificação do território sob intensa opressão e violência.

Uma temporada na França, direção de Mahamat-Saleh Haroun Abbas, um professor africano deixou seu país para ficar longe da guerra civil que assolava a África Central. Junto com seus dois filhos, partiu para a França buscando um recomeço, e lá pediu asilo político. Ele se apaixona por Carole, que oferece teto e comida para Abbas e seus filhos. Após dois anos de espera, o pedido foi rejeitado pelo governo, e prestes a ser expulso do país, eles precisam tomar uma difícil decisão.

Filmes O porto, direção de Aki Kaurismäki.

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22 Revista Ler Fotografia Êxodos, de Sebastião Salgado

O Projeto Êxodos foi realizado ao longo de seis anos, em viagens por quarenta países. É o próprio Sebastião Salgado quem escreve: “Este livro conta a história da humanidade em trânsito. É uma história perturbadora, pois poucas pessoas abandonam a terra natal por vontade própria. Em geral, elas se tornam migrantes, refugiadas ou exiladas constrangidas por forças que não têm como controlar, fugindo da pobreza, da repressão ou das guerras. [...] Viajam sozinhas, com as famílias ou em grupos. Algumas sabem para onde estão indo, confiantes de que as espera uma vida melhor. Outras estão simplesmente em fuga, aliviadas por estarem vivas. Muitas não conseguirão chegar a lugar nenhum”.

Onde vou morar?, de Rosemary McCarney Este livro de fotos para jovens leitores chama a atenção para milhares de crianças ao redor do mundo que foram forçadas a fugir da guerra, do terror, da fome, de doenças e de desastres naturais — jovens refugiados em movimento com o pouco que lhes sobrou e cheios de incertezas. É difícil imaginar, mas as imagens deste livro ajudarão crianças que não foram afetadas a se colocar no lugar de quem não tem um lar e a ver como elas são privilegiadas. E, mesmo com um futuro incerto, as crianças se adaptam e são capazes de encarar a incerteza com otimismo. As imagens são do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). São fotos de crianças em países como Líbano, Ruanda, Iraque, Níger, Hungria, Jordânia e Grécia. Refugiados, de Robert Capa Os refugiados da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) abrem este volume da “Coleção Folha Grandes Fotógrafos”. Já no fim do conflito, em meados de março de 1939, o fotojornalista húngaro visitou o acampamento onde se concentravam 80 mil homens em condições lastimáveis, confinados em abrigos improvisados, sem água potável e vítimas de enfermidades. Retratos de crianças do êxodo, de Sebastião Salgado

Em suas viagens para acompanhar a “humanidade em trânsito”, Sebastião Salgado sempre encontrou bandos de crianças, todas elas “loucas para serem fotografadas”. Ele escreve na introdução: “Em toda situação de crise [...] as crianças são as maiores vítimas. Mais fracas fisicamente, são sempre as primeiras a sucumbir à fome ou à doença. Emocionalmente vulneráveis, não têm condições de compreender por que estão sendo expulsas de suas casas [...] Isentas de responsabilidade pelos próprios destinos são, por definição, inocentes”. O livro é, na verdade, o registro fotográfico de uma pergunta: “Como é possível uma criança sorridente representar o infortúnio mais profundo?”.

AGRADECIMENTOS PELAS DOAÇÕES Lilian FlaviaClaudiaStarobinasSonciniRiccaHumberg

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