Katherine webb a herança pt

Page 226

em teias de aranha e tão mumificada quanto eu receava que Caroline estivesse. Gritei que era a minha vez de me esconder, mas Beth fora a primeira a encontrar Henry, por isso era a vez dela. Henry e eu ajoelhámo-nos no fundo das escadas, fechámos os olhos e contámos. Acho que, naquela idade, eu ainda não sabia contar até cem. Confiava em Henry, e ele normalmente contava um, dois, salta uns poucos, noventa e nove, cem; assim, depois do que me pareceu uma eternidade, ao ouvir a governanta a bater com pratos na cozinha abri um olho para o ver. Henry não estava ali. Abri os olhos e vi-o a descer as escadas. Ele sorriu-me de um modo desagradável, e olhei em volta. Eu fazia aquilo instintivamente sempre que me encontrava sozinha com aquela expressão no rosto de Henry. Para o caso de haver ajuda por perto. O coração bateu-me acelerado no peito. – Já chegou a altura de irmos à procura da Beth? – sussurrei, por fim. – Não. Ainda não. Eu digo-te quando for a altura – disse ele. – Agora, vamos, vem comigo. – Usou a sua voz de simpatia falsa, um tom estridente que também usava para enganar os labradores. Estendeu-me a mão e eu peguei-lhe, sem vontade. Entrámos no escritório; ele acendeu a televisão. – Agora já podemos ir? – voltei a perguntar. Havia algo de errado. Dirigi-me à porta, mas ele esticou a perna e bloqueou-me. – Ainda não! Já te disse, não podes ir procurá-la até eu dizer. Esperei. Sentia-me triste. Não vi o que estavam a transmitir na televisão. Olhei para Henry, de novo junto da porta. O que é o tempo quando temos cinco anos? Não faço ideia de quanto tempo fui obrigada a esperar. Deve ter sido mais de uma hora, e pareceu-me uma eternidade. Quando a porta se abriu, corri para ela. O meu pai entrou, perguntou onde estava Beth. Viu o meu rosto ansioso e voltou a perguntar. Henry encolheu os ombros. O meu pai e eu procurámos por toda a casa, a chamá-la. No corredor do piso de cima, ouvimo-la – o som de pancadas, e gemidos ténues de aflição. O lanço de escadas de acesso ao sótão tinha por baixo um armário com uma chave de ferro na porta. O meu pai virou a chave, levantou o trinco e Beth saiu aos tropeções, o rosto pálido e manchado por lágrimas e sujidade. – Mas que raio…? – disse o meu pai, pegando nela ao colo. A respiração dela era tão ofegante que os seus próprios soluços quase a sufocavam, e os seus olhos estavam fixos de uma maneira que me assustaram. Era como se ela se tivesse


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.