Domenica de rosa cartas da toscana pt

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3 Cartas da Toscana por Emily Robertson

A

s noites de verão na Toscana, a beber vinho branco gelado e a ver as estrelas a surgir por cima das colinas distantes, são o que faz tudo isto valer a pena. Os dias de verão podem ser muito quentes e cheios de conflitos; as crianças discutem, o marido não para de falar da sua ideia brilhante para transformarmos o campo de baixo num terreno húmido (isto numa área em que a chuva de verão dará para encher aproximadamente um copo de iogurte) e o supermercato enche-se de turistas a comprar a variedade errada de salsichas para as omnipresentes churrascadas. As tardes podem ser lentas e opressivas, dominadas pelos remorsos de termos bebido um copo de vinho a mais ao almoço, mas as noites… as noites são a perfeição. O ar enche-se do perfume dos limoeiros e do odor penetrante do alecrim espalhado sobre as brasas do grelhador, e os pássaros regressam a casa, mergulhando pelos ares e desafiando a morte, para irem fazer o ninho na Torre Albano. Foi para isto que viemos para Itália. Segurando um copo de cerveja morna e já morta na mão, Emily está sentada no terraço a pensar no facto de estar encalhada num país estrangeiro com três filhos, sem marido, sem dinheiro e com uma mulher a dias psicótica. O perfume dos limoeiros não a faz sentir-se minimamente reconfortada. A noite toscana é escura, uma negrura pesada e pulsante que nada tem a ver com a ausência de luz, mas antes com a presença do escuro. O cantar áspero dos grilos soa como uma respiração profunda, rouco e regular. Por entre as oliveiras, Emily vislumbra o brilho branco de pedras, ali onde a piscina está a ser construída. O que vai ser agora daquilo, daquele símbolo da vida de expatriado que Paul tanto amava? Os trabalhadores parecem ter posto as ferramentas de parte durante o verão, mas o que acontecerá quando


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