Armando lucas correa a garota alemã

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sinfonia de sons dentro de sua cabeça que a impede de entender com clareza o que está acontecendo aqui fora. “É a velhice, não tem mais jeito”, diz ela com um sorriso breve, e então se levanta para fazer alguma coisa, qualquer coisa, para se manter ocupada. Mamãe acha que tia Hannah e Catalina precisam de alguém para ajudá-las. Ela fala sobre as duas como se fossem da família. E são de fato. Tia Hannah nos pede para celebrarmos o seu aniversário ao entardecer: a hora em que o capitão do St. Louis apareceu em sua cabine com um cartãopostal que agora está conosco. Era seu décimo segundo aniversário. O que se seguiu foi uma longa vida neste lugar onde ela nunca se sentiu em casa. Para ela, os anos em Cuba são os menos importantes. Sua vida de verdade foi em Berlim e a bordo do St. Louis. O resto foi, em grande parte, um pesadelo. Catalina encontrou uma vela queimada até a metade numa gaveta da cozinha e a espetou no meio do bolo branco. Eu saio à procura de Diego e o convido para provar o meu primeiro bolo. Nós apagamos as luzes da sala de jantar e mamãe acende a vela. Primeiro, cantamos em inglês, por minha causa, embora meu aniversário já tenha passado. Minha tia insiste, e fazemos isso para agradá-la. Eu fecho os olhos e faço um pedido. O que eu mais quero neste momento é poder voltar a Havana. Nós acendemos a vela novamente, desta vez para a tia Hannah. Catalina canta uma versão em espanhol que eu nunca tinha ouvido: “Felicidades, Hannah, en tu día, que lo pases con sana alegría, muchos años de paz y armonía, felicidad, felicidad, felicidad”. Emocionada, tia Hannah inclina-se sobre o bolo, fecha os olhos e faz um pedido secreto. Há uma longa pausa, e então ela sopra a vela, mas a respiração fraca não apaga a chama. No final, ela a apaga com os dedos, sorri para todos nós e me dá um grande abraço.


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