Armando lucas correa a garota alemã

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Minha mãe se detém na varanda, esperando que o homem com a pele mais escura que ela já viu na vida lhe abra a porta. Uma senhora de baixa estatura e cabelos grisalhos aparece na entrada. Está usando blusa branca, saia preta e um avental azul. “Bem-vindas!”, ela diz com uma voz firme, mas gentil. “Sou Hortênsia.” A entrada leva a uma sala quadrada com molduras nas paredes e no teto. Um pequeno palácio no meio do Caribe! Os móveis são uma imitação do clássico estilo francês: cadeiras com braços e encosto em medalhão, pés cabriolet e detalhes dourados. Quando vê os móveis, a nova señora Rosen solta uma sonora gargalhada. “Aonde viemos parar? Hannah, bem-vinda ao Petit Trianon!” Um longo corredor leva aos fundos da casa. No final, chega-se à sala de jantar, que tem móveis pesados e uma mesa com tampo de espelho. Uma escada leva a quatro quartos espaçosos no andar de cima. Há espelhos em toda parte e uma infinidade de elaboradas marchetarias. Meu quarto fica em cima da varanda e tem vista para a rua. Os móveis ali são verde-claros, há uma pequena penteadeira em formato de meia-lua, rodeada de espelhos, e uma cômoda com flores pintadas à mão. Abro uma porta, achando que é um armário, e descubro que é meu banheiro. Tenho outra surpresa quando vejo o piso de ladrilhos, que me lembram no mesmo instante a estação Alexanderplatz: a mesma cor verde-gris do café onde costumava me encontrar com Leo ao meio-dia. O quarto de Mama fica nos fundos da casa: a mobília de madeira escura tem linhas sóbrias e retas. Hortênsia e eu espiamos pela janela, que ficará fechada a partir de agora, e vemos a casa de hóspedes em cima da garagem, que ocupa a maior parte do quintal. “É ali que eu moro”, ela diz. “O quarto de Eulogio fica ao lado.”


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