África ruh uma sombra na aljama

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― O que foi? Por que me olha desse modo? ― Se não sabe, está cega. ― Prefiro estar. ― Por que me beijou? Aquela pergunta a desarmou. ― Não sei, ― confessou ― mas me arrependo muitíssimo. Enoc se deteve bruscamente. ― Por quê? ― É que não percebe? ― O quê? Maria estalou: ― Pelo amor de Deus, olhe para mim! Sou uma ladra piolhenta! E ainda por cima sou cristã. ― Apertou os dentes ― Nem sequer deveria me dirigira palavra. Enoc engoliu em seco. ― Eu não vejo nada disso. ― disse com voz rouca ― Eu vejo uma mulher valente e generosa que se arrisca pelos outros. Maria ouviu soar os sinos da catedral de São Salvador. ― Tem de ir. ― suspirou. Mas Enoc sacudiu a cabeça. ― Não. Não até que você se veja do modo como eu a vejo. ― Sei perfeitamente quem sou. ― A voz de Maria tremeu perigosamente ― A minha própria família me desprezava, por isso fugi de casa. Sou o que escolhi ser… e pertenço a um mundo que não é o seu, o mundo dos marginais. Essa é minha gente agora.

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