orelha 90mm
lombada 11mm
Capulanas Cia de Arte Negra
“ No livro circula todo o balaio da formação do grupo: contextos pessoais, históricos, geográficos e psicológicos. Nele talvez não seja possível captar o que vem quando assistimos ou participamos de suas peças, mas sim se pode ouvir o resfolegado do pulmão e adivinhar o brio das suas íris, na peleja e na graça(...) Nas páginas aí dentro, tu vai se banhar em dilemas rasgados, amargos e saborosos da identidade negra, do espelho trincado, do gozo, do lamento. Compreenderá, namorando suas próprias memórias e calendários do futuro, sobre nossa pulsação e nossas horas de anestesia a se vencer. Vai sacar como se esbarra num folclore repisado que nos caricatura, como se rasga os cartões postais que nos chicoteiam. E vai manjar um pouco da dificuldade de bolar um Teatro que não deve apenas morar na auto-exaltação mas que também não quer e não pode abandonar nossas glórias, nossos revides e nossas urgências, nossa matriz de filosofia e de movimento. Vai sacar a fonte de uma arte que anseia por utopias tanto quanto por expor nossas próprias contradições (...)”
Allan da Rosa
Karla Santiago Passos Pesquisadora do Corpo e cênica
Realização Apoio Institucional
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Apoio Cultural
{EM} GOMA Dos Pés à cabeça, os quintais que sou
Vi por sobre os olhos os passos de quem poderia um dia saber-se assim: Mulher de riso insigne... De pés plantados em um quintal, em muitos... De quantos nomes poderia assim se chamar os pés descalços nos entremeios das saias compridas, no latejante riso. Vi-lhes suor escorrer, e não só pelas tarefas, também pelos dentes dos leões a quererem abocanhar seus pescoços, a quererem passo por passo a pequena e minúscula respiração fora da técnica, para então criticar, verificar, aconselhar... Essas mulheres nada têm a ver com essas formas específicas. Vi o ar percorrer-lhes os corpos e da entrega livre a lágrima severa escorrer. Lágrima severa e limpa que vem do querer manifestar pelo o que há em si, no dentro, no ventre. Seus pés de escudo negro parecem querer chamar o ancestral mais direto. E a boca, o que chama? e os olhos, os cabelos, e as mãos: Seria o canto aberto, seria a língua ardente, seria o corpo oblíquo...? Não sei qual nome dar-lhes, só sei olhar por entre elas à espera da transmutação serena e corajosa, da vociferação tenaz de suas vozes que num clamor incandescente poderia proferir a beleza e não a lástima. Se de singelos e pequenos são feitos os seus passos, deixa a erva certa perfumar-lhes os caminhos, curar as feridas, estancar o sangue, embeber de força o corpo, rachar em viço o ser...
Capulanas por Raquel Trindade Jovens mulheres negras, inteligentes e bonitas, talentosas e guerreiras, resolveram criar um grupo teatral. Débora, Priscila, Flávia e Adriana batizam esse núcleo de Capulanas, tecido utilizado na África para envolver a criança, assim a mãe exerce a maternidade sem perder a liberdade, seus braços ficam livres para fazer o que quiser. “As Capulanas” primeiro montam “Solano Trindade e Suas Negras Poesias”, convidam os irmãos músicos e atores Manoel e Zinho Trindade, netos do poeta. Agora, preparam um espetáculo baseado no trabalho de Tereza Cárdenas, negra cubana, “Quando as palavras sopram os olhos... respiro”. Estou ansiosa para assistir. Sei que são mulheres que levam a sério o que se propõem a fazer. Que o deus grego do teatro, Dionísio, dê a essas jovens inspiração para conseguirem sua meta na arte que escolheram. Pedindo também aos Orixás que lhes deem saúde, paz, amor e prosperidade, abrindo seus caminhos para que alcancem cada vez mais sucesso.
Raquel Trindade A Kambinda Embu das Artes, 2011. Raquel Trindade, é coreógrafa, artista plástica, terapeuta ocupacional, escritora, professora com notório saber pela UNICAMP, idealizadora e fundadora do Teatro Popular Solano Trindade de Embu das Artes/SP, Urucungos Puítas e Quijengues de Campinas/ SP e do Bloco de Carnaval Cambinda de Embu das Artes/SP. Ativista do Movimento Negro é referência nacional e internacional na cultura negra onde vem difundindo-a desde a época de seu pai Solano Trindade.
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