Arqueologia Subaquatica no Brasil

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Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, Anais da I Sem ana de Arqueologia, Suplemento 8: 53-62, 2009

A arqueologia subaquática no Brasil Gilson Rambelli*

RAM BELLI, G. A arqueologia subaquática no Brasil. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, Suplemento 8: 53-62, 2009.

Resum o: O presente artigo pretende apresentar alguns dos problemas que envolvem a preservação do patrimônio cultural subaquático no Brasil, que, devido a distorções conceituais resultantes de um histórico de abordagens aventureiras e pouco científicas, acabou por ficar à margem da produção do conhecimento público e da arqueologia brasileira. Pretende, também, discutir e apresentar as soluções que estão sendo adotadas para a reversão deste cenário, por meio de projetos acadêmicos de pesquisa, programas de educação patrimonial junto à sociedade brasileira e, sobretudo, aos praticantes do mergulho recreativo. Incentivando os arqueólogos à prática do mergulho autônomo. Palavras-chave: Arqueologia subaquática - Patrimônio cultural subaquático - Arqueologia brasileira

Sinto-me à vontade para escrever um artigo1 sobre a arqueologia subaquática no Brasil, para uma publicação do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAEUSP), porque, como o leitor poderá acompanhar ao longo deste texto, a arqueologia subaquática sistemática nasceu e deu os seus primeiros passos nesta instituição. O MAE-USP faz parte do histórico dessa especialização arqueológica no Brasil, que, felizmente e modestamente, pude acompanhar bem de perto como protagonista. Entre estágio na graduação, como bolsista de iniciação científica, especialização em arqueologia subaquática na França, mestrado e doutorado, foram 16 anos

(*) Professor do Núcleo de Arqueologia da Universidade Federal de Sergipe (N A R/UFS). Coordenador do Laboratório de Arqueologia de Ambientes Aquáticos (LA A /N A R /U FS). Membro efetivo do International Committee on Underwater Cultural Heritage (ICUCH / IC O M O S); Vice-Presidente da Sociedade de Arqueologia Brasileira - SA B (2007-2009): rambelli@ arqueologiasubaquatica.org.br (1) Este artigo foi inspirado na palestra proferida, como o mesmo título, na I Sem ana de Arqueologia do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (M AE-USP).

de minha vida acadêmica vinculada ao MAEUSB daí o meu etemo agradecimento aos professores e funcionários desta casa que me apoiaram, bem como, o meu reconhecimento especial à professora Maria Cristina Mineiro Scatamacchia, pela coragem que teve em aceitar, no final dos anos 1980, o desafio de um jovem estudante que foi aprender a mergulhar para tentar fazer arqueologia debaixo d 'águ a com a mesma seriedade que era exigida aos trabalhos arqueológicos em superfície. Terminado esses importantes e necessários comentários, inicio este artigo definindo conceitualmente o que é arqueologia subaquática na concepção dos arqueólogos. Ela nada mais é que a versão molhada e obediente da arqueologia! E uma especialização arqueológica e não uma disciplina sui generis. Logo, o que a diferencia da arqueologia terrestre é a necessidade de o arqueólogo ter que levar na mochila uma mistura gasosa para respirar debaixo d’água, como um cilindro de ar comprimido, por exemplo, bem como, a necessidade de adaptar métodos e técnicas nas etapas de campo, e os cuidados especiais com os artefatos, que se encontram em excelente estado de conservação, mas frágeis e em equilíbrio com o ambiente aquático (Bass 1969; Rambelli 2002).

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