jornal567_31_03_2011

Page 12

OPINIÃO

12

31

w w w . campeao p r o vin cia s.co m

QUINTA-FEIRA

DE MARÇO DE 2011 CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS

“A demagogia não pode fazer caminho” No seu discurso de posse, essa grande figura do séc. XX, que dá pelo nome de Nelson Mandela, disse que “quando a chuva vem, a erva fica verde e as flores aparecem, é o ritual de unidade que todos temos nesta nossa terra”. Ao analisar os tempos de hoje e a crise que nos assola, veio-me à memória o esforço extraordinário que este “gigantesco” ser humano fez para levar a paz e a concórdia à sua África do Sul. Soube, como ninguém, dar sinais e usar gestos conciliadores e com a humildade que só os grandes têm, dizer, alto e bom som, que na política nada é “preto ou branco”. Nesta nova fase do calendário político, é decisivo que todos tomem consciência destas elementaridades. Por enquanto, cá pelo nosso quintal à beira mar plantado, tudo se tem passado ao contrário de tudo isto. Precisamos, como de pão para a boca, de assumir um ritual de unidade, um sentido de

compromisso à volta do interesse nacional, nesta fase de grande risco que estamos a atravessar. Postas assim as coisas, a ninguém se autorizará que use o país e as suas penúrias para relançar os demagógicos papões “ou nós ou o dilúvio”. Serenidade e contenção têm que passar a marcar o tom no debate político. É que todos os seus protagonistas, mesmo a terem que dizer na campanha eleitoral o que os assemelha ou diferencia, têm de deixar sempre uma frincha, bem aberta, na porta do diálogo para, no pós-eleições, se construírem pontes à volta dos problemas e das soluções a implementar nesta embrulhada em que nos meteram. Va i , p o r i s s o , s e r preciso humildade, bom senso e sentido patriótico, para se poder pôr o País à frente d e b irr as e o r g u lh o s pessoais. Há que fazer tábua rasa, desde o Presidente da República até ao líder do PSD, das des-

considerações e provocações que Sócrates lhes fez no contexto do PEC4. Tudo isso são coisas do passado. É urgente repensar e reescrever os caminhos do futuro, a construir sobre as pedras bem instáveis do presente, onde todos os dias temos descarrilado. Apesar disso, vamos deixar de lado quaisquer ferozes cominações, mesmo que justificadas. Sabe-se que, por causa da crise resultante de uma má gestão da coisa pública, os meios não abundam, exigindose, portanto, soluções estruturais daquelas que ancoram gerações.

Vai ser preciso um grande compromisso Contudo, nada do que ontem de mal aconteceu nas relações institucionais, políticas ou pessoais, pode atormentar, num futuro próximo, as exigências de um qualquer grande compromisso, que assegure uma maioria política e social capaz de fazer acreditar,

de novo, este desencantado povo. Magistratura activa? Sim, vamos a isso, sem deixar mais a banda passar tocando desafinada… Diálogo construtivo entre partidos? Incontornável, mesmo que tenha havido desconsiderações, quanto baste. Razões de queixa institucionais? Já passou, porque por cima de tudo há uma dívida assustadora (são precisos 8,30 mil milhões de euros nos próximos três meses) e juros intimidantes (já estamos nos 8,80 por cento, nos empréstimos a cinco anos). Umbigos e vaidades pessoais? Têm que c e d e r, p o r q u e o u t r o s valores mais altos se perfilam. Neste desafio nenhum partido responsável se pode auto-excluir. O momento é de chamamento à participação e ao envolvimento e não pode ser, nunca, de tolher o passo ao diálogo e à concertação, única forma de, com verdade, podermos desenhar uma nova concepção

JOSÉ BELO *

do nosso pequeno mundo e da nossa vida colectiva. Feito isto, sejam quais forem os resultados eleitorais, renasce a esperança de governos a g o v e r n a r, s e m c r i s pação, prepotência e desconsiderações, com rigor e sentido de futuro, almofadados no Parlamento por partidos que, na sua saudável divergência, estarão unidos, dentro ou fora do Governo, pelo que é a dramática evidência dos factos. A objecção que, logo, apetece a muitos pôr é a de que com estes protagonistas será isso possível? Te m d e s e r, m e s mo que para isso seja necessário “expurgar” quem se deleita a deitar poeira para os olhos dos contribuintes e se dá mal com o rigor, a

verdade e com o diálogo institucional sério… Dizia alguém que em política não se ensarilham armas e que a cartucheira tem que estar sempre cheia. Pessoalmente, não sou tão assertivo, quando se vivem momentos desta intensidade social, económica e financeira. É o interesse nacional a interpelar tudo e todos…e a pedir que se queimem etapas, com pragmatismo, porque o momento é cruel e temos que, com urgência, sair deste barco cheio de rombos, com comandantes desacreditados, enquanto é tempo de se poder atracar e reparar os danos. Porque, no fim, quem tem que ganhar é Portugal. (*) Jurista

Exemplo de superação O mundo acompanha com ansiedade o drama do povo japonês, vítima de um terremoto de magnitude 9, na sexta-feira (11/03), considerado o pior do país desde os primeiros registros, no fim do século XIX, segundo o serviço geológico dos EUA. O tremor foi seguido de um tsunami com ondas de até 10 metros, que devastaram territórios no nordeste do arquipélago. Já são mais de 6 500 mortos contabilizados e 10 259 desaparecidos. Em consequência do desastre, o vazamento de radiação, como da usina de Fukushima, tornou-se o maior problema para as autoridades japonesas, deixando em alerta a população. Em Tóquio, muitos enfrentam filas em estações de comboio e aeroportos, tentando a todo custo se afastar da contaminação nuclear. Um quadro altamente emergencial que leva

outros países a também repensarem os sistemas de segurança de suas usinas. Nós, brasileiros, que guardamos fortes ligações com o Japão, estamos profundamente consternados com a tragédia. Endereçamos fervorosas preces pelos que faleceram e solidariedade aos familiares, muitos deles certamente com parentes que residem no Brasil. Falamos de uma nação acostumada a enfrentar problemas decorrentes das condições geológicas severas. Em 1987, no livro “Dialética da Boa Vontade – Reflexões e Pensamentos”, demonstrei minha admiração pela capacidade do povo japonês de superar obstáculos: É nos momentos de crise que se forjam os grandes caracteres e surgem as mais poderosas nações. Vamos ao exemplo do Japão:

país isolado em algumas ilhas. Não tem petróleo. Importa a maioria dos elementos de que prec i s a p a r a s o b r e v i v e r. Dizem que os japoneses perderam a guerra. Eu, porém, acho que eles a ganharam, pois aí se fizeram uma nação de poderio internacional. (...) Você chama um nipónico, ou um descendente dele, e lhe dá, digamos, uma pedreira. Ali, faz surgir uma produtiva lavoura. Por quê?! Porque a luta para vencer a exiguidade territorial das suas ilhas fez com que suplantassem as restrições e, vencendo a falta de grandes áreas férteis, se tornassem insuperáveis agricultores. Isso sem falar na imponência de sua indústria... Eis por que não devemos fugir das dificuldades. Temos de enfrentá-las e transformá-las em sucesso. (...) Com esse mesmo espírito de superação e

o amparo de Deus, os nossos Irmãos japoneses haverão de seguir em frente, desenvolvendo tecnologias ainda mais avançadas de prevenção contra essas catástrofes naturais. Um modelo com o qual o planeta muito aprende. Que as cerejeiras, símbolo de felicidade no Japão, como a que plantamos no conjunto educacional da LBV em São Paulo, Brasil, em homenagem a tão de cidido povo, floresçam em tempos melhores a todos!

Solidariedade aos irmãos japoneses Oportuna a palavra do imperador Akihito na quarta-feira (16/03), ao pedir ao seu povo que não desista e seja solidário: “Espero, do fundo do coração, que as pessoas deem as mãos, se tratem com compaixão e consigam ultrapassar estes

JOSÉ DE PAIVA NETTO*

tempos difíceis”. Minha saudação fraterna aos membros da Oomoto, na pessoa do ilustre professor Shigeki Maeda, e aos nobres monges Yvonete Silva Gonçalves (Shakuni Joko) e Ricardo Mário Gonçalves (Shaku Riman), da Associação Religiosa Nambei Honganji Brasil Betsuin. O casal budista gentilmente respondeu à mensagem em que prestei solidariedade ao povo japonês, a seus descendentes e familiares no Brasil: “Caríssimo Irmão e Amigo José de Paiva Netto, em nome de todos os nossos irmãos e amigos japoneses, profundamente abalados pela inenarrável tragédia que se abate sobre

sua Pátria, queremos agradecer do fundo do coração vossa luminosa mensagem de conforto e solidariedade, que será devidamente repassada às pessoas e organizações afetadas que são de nosso conhecimento. Que a Luz sem Impedimentos da Sabedoria e da Compaixão Búdicas vos ilumine e guarde!”. Na sexta-feira (18/03), no Templo da Boa Vontade, em Brasília/DF (Brasil), realizamos um momento ecuménico de prece dedicado às vítimas no Japão e seus entes queridos. (*) Jornalista, radialista e escritor. É director-presidente da Legião da Boa Vontade (LBV) – www.lbv.pt


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.