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CIDADE DO MÉXICO

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SUMARIO

SUMARIO

A casa estúdio Diego Rivera e Frida Kahlo, finalizada em 1932, fora projetada pelo arquiteto Juan O’Gorman e localiza-se na região metropolitana da Cidade do México (México), no bairro San Ángel, dentro do distrito de Álvaro Obregón. Em vista disso, é colocada a análise do local no qual se insere buscando compreender sua influência e sua importância na obra de O’Gorman.

A CIDADE

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Traçando uma breve trajetória histórica da Cidade do México entre os séculos XIV e XVIII, tem-se no século XIV a constituição do território como centro do Império Asteca, a chamada Tenochtitlán, dispondo da configuração comuns as produções arquitetônicas e urbanísticas da sociedade Asteca. Posteriormente, com a ocupação da antiga cidade pelos colonos espanhóis, essa é ocupada e reconstruída de acordo com os padrões de exploração implementados pelo Império Espanhol e nos séculos XVII e XVIII, se estabelece como importante núcleo político administrativo desse e como centro financeiro e urbano das colônias da Espanha na América. No século XIX, o México se torna independente e a cidade coloca-se como a capital do país em 1824. Quando, em 1862, ocorre a invasão e ocupação francesa de parte do território nacional, dentre eles a Cidade do México, que perdura até 1867, são aplicadas, sob o comando do Imperador Maximiliano, um conjunto alterações de caráter urbanístico e arquitetônico influenciadas pelas reformas de Haussmann em Paris. Dentre essas está a construção da avenida Paseo de la Reforma, que interliga os espaços entre o Palácio Nacional e o Castelo de Chapultepec, com referências a avenida Champs-Elysées. Em 1884, com o governo de Porfírio Díaz, buscou-se uma

Tenochtitlan (Templo Mayor pode ser visto no centro)

arquitetura que indicasse a participação do México na modernidade e que, no entanto, enfatizasse a diferença do méxico em relação a outros países através da incorporação de características locais da arquitetura. Nesse momento, também se faz presente a forte influência europeia, uma vez que as comissões arquitetônicas mais importantes do porfiriato tinham sido dadas a estrangeiros. Durante a governança de Díaz, são colocadas uma série de estátuas políticas de heróis mexicanos ao longo do Paseo de la Reforma, iniciando uma tradição que se tornou permanente no país, como uma forma de construir o patrimônio comum pela qual a nação pudesse ser unificada. As medidas adotadas, sobretudo a partir do governo de Porfírio Díaz, exemplifica o que é apresentado por Roberto Fernández, em seu livro “El laboratorio americano” , o qual defende que América Latina teria sido

“laboratório de sistemas públicos e econômicos, e das diversas propostas culturais e estéticas que, lançadas geralmente a partir da Europa, como sistemas e utopias, vão ali se sucedendo e sendo aplicadas; laboratório no qual vão incessantemente se fundindo a modernidade ecumênica importada e a própria cultura pré-colombiana, sempre insurgente.” (MONTANER, 2015)

No século XX, a partir de 1910, a Cidade do México coloca-se como cenário da Revolução Mexicana. Em seguida, o Estado pós-revolucionário imprimiram marcas no padrão de urbanização da cidade, valorizando e preservando a cultura e o patrimônio arquitetônico, que podem ser constatadas tanto no centro histórico quanto nos cantos mais distintos dos assentamentos populares. No centro histórico da cidade preservou-se grande parte dos edifícios monumentais do século XVIII e XIX, com o aparecimento de poucos edifícios de escritórios novos, e prédios existentes são de pouca altura e datam do começo do século XX. Nele se intercalam pequenas lojas e negócios especializados com

edifícios residenciais de pouca altura, prédios governamentais e escolas. Além disso, nesse período apresenta-se o modernismo mexicano, com a busca de uma arquitetura genuinamente mexicana e tendências nacionalistas, de experimentação diversificada e até mesmo inovação estrutural. A partir de então, a Cidade do México vivencia um período de desenvolvimento, recebendo uma grande quantidade de indústrias e atraindo, consequentemente, um grande números de migrantes. Na década de 90 observa-se, assim, um crescimento urbano e a presença massiva de urbanização popular. Nessa época, inicia-se um processo de dispersão dessas indústrias em direção a cidades menores, de modo que a cidade começa a dispor de novas concentrações, relativas aos serviços de produção, presença de investimentos estrangeiros diretos e sedes de empresas, indicando-se o surgimento de funções de cidade global.

PRAÇA DO ZÓCALO

A praça do Zócalo, principal praça da Cidade do México, mais conhecida como a Praça da Constituição, está entre as quatro maiores praças do mundo. Suas origens nos remete ao período pré-hispânico, isto é, a cultura e urbanismo ameríndios. Ao longo da história, El Zócalo passou por diferentes transformações, as quais são capazes de representar a historiografia urbanística mexicana.

Construída pelo povo originário do Vale do México, a Praça da Constituição tem suas origens no século XIV, momento de apogeu do Império Asteca. Considerada a principal praça asteca, Zócalo era o centro político e religioso da capital Tenochtitlan. As praças, no contexto urbano ameríndio eram locais de múltiplos

Desenho de Tenochtitlán, com o Templo Mayor à esquerda

usos, onde eram realizadas celebrações, trocas comerciais e cerimônias, sendo necessário que fossem amplas para receberem o povo que passava grande parte do tempo ao ar livre (SALVAT, 2017). Neste período a capital ameríndia apresentava uma organização urbana bem definida. Orientados pela cosmologia e pela natureza, a cidade seguia um traçado hierarquizado. Havia um entendimento específico do espaço e do tempo, o espaço dividia na direção vertical e horizontal. As dimensões verticais eram: Omeyocan (área celeste acima da Terra), Tlalpan (No solo - a Terra) e Mictlan (Região dos Mortos ou Inframundo), os quais tinham suas subdivisões. E a dimensão horizontal, ou seja, a superfície da Terra (Tlalpan), a qual dividia-se em cinco regiões: o centro e os quatro rumos do universo, o qual dividia a cidade. Consideradas as quatro direções do universo - Mayotlan, Teopan, Atzacualco e Cuepopan - com um centro que determinava o espaço sagrado e político, composto pelo Templo Mayor e demais edifícios, como o Palácio de Monteczuma II, a residência do imperador asteca. Outra característica importante a ser considerada é a ocupação estratificada do território. As elites sociais ocupavam as áreas mais próximas ao centro, enquanto que o povo mais se estabelecia nas áreas mais periféricas. Quando os colonizadores espanhóis liderados por Hernán Cortez chegaram ao Vale Mexicano ficaram deslumbrados com a dimensão, a organização e a riqueza cultural da civilização asteca. Naquele momento a capital Tenochtitlán abrigava 200 mil habitante, mais do que em muitas das grandes cidades europeias, como Sevilha, que na época contava com 70 mil habitantes. Dois anos depois, os espanhóis e seus aliados destruíram Tenochtitlan e construíram uma nova cidade sobre os escombros. O projeto da nova cidade, realizado por Alonso García Bravo (14901561) em 1524, baseava-se nas linhas já existentes na cidade asteca, formadas pelos canais e estradas. Segundo Michael Smith, “a fu

Cartografia de 1550 elaborada por Alonso de Santa Cruz, cartógrafo da corte do rei espanhol Carlos V (link para acesso à original http://art.alvin-portal.org/alvin/viewer.jsf?file=http://art.alvin-portal. org/retservice/attachment/preview/alvin-record:4289-ATTACHMENT-0001)

Plano da centro da Cidade do México elaborado por Ignacio Alcocer e Andrés Sanchez (Dirección de Estudios Geográficos y Climatológicos). 56 x 56 cm. Século XX (c. 1935).O mapa apresenta a sobreposição da planta da antiga Tenochtitlan em traços vermelhos e, em traços pretos, a planta da Cidade do México. A imagem quadrangular na área central inferior refere-se à atual Praça da Constituição. 11

fundação de uma nova cidade-estado asteca costumava começar com a construção de três elementos principais: o palácio real, o templo piramidal, e o mercado”. Tal modelo urbano manteve-se na América Hispânica, o que por sua vez estabeleceu uma relação de valor entre as construções e sua proximidade do centro, algo que não ocorria nas cidades europeias. Visto isso, o Palácio Nacional encontra-se onde antes era o antigo Palácio Real de Monteczuma II, onde era o antigo mercado comercial de Tenochtitlan hoje está implantado o Palácio de Belas Artes, em 1524, Cortez manda que se erga o primeiro templo cristão na praça, finalizado em 1532, o qual mais tarde fora demolido. Estes e demais edificações de poder político, religioso e cultural, permaneceram agregados à grande praça central, reproduzindo o modelo asteca de hierarquizar os edifícios pela proximidade. Mais tarde, em 1790, o Vice-rei Juan Manuel de Güemes Pacheco Padilla (1740-1799) propõe uma renovação neoclássica na cidade e então contrata o arquiteto Ignacio de Castera (1750-1811). Dentre as ações do projeto, na Praça do Zócalo foram instalados na portões e uma estátua equestre do Rei Carlos IV. Durante essa reforma, no mesmo ano, foram descobertos dois monólitos astecas sob a praça: a escultura da deusa da Terra, Coatlicue, e a Pedra do Sol ou Calendário Asteca. Hoje, estas peças estão no Museu Nacional de Antropologia. Em 1843, o presidente Antonio López de Santa Anna (17941876) determina a demolição do mercado “El Párian” para erguer no centro da praça um monumento à independência do México. Já na segunda metade do século XIX, a ideia europeia de arborização chega à América Hispânica e a praça do Zócalo passa por uma grande reforma, recebendo fontes, jardins, árvores, bancos de ferro e um quiosque para apresentações. No século XX, com a chegada da eletricidade, chegam também os bondes e parte da praça é atravessada pelas linhas. 12Mais tarde, ainda no século XX, Manuel Gorozpe e Luiz R. Rui ,

Vista aérea da cidade do México em 1932, com a Praça do Zócalo em primeiro plano

elaboram um novo projeto para a praça - retiram as árvores, mantêm os jardins e fontes, e adicionam aos quatro cantos da praça quatro esculturas de Pegasus, do artista espanhol Agustín Querol. A última transformação significativa na praça ocorreu entre 1957 e 1958. Ernesto P. Uruchurty (1906-1997), também conhecido como “Regente de Ferro”, tirou os jardin e os monumentos e cimentou toda a praça, colocando a bandeira nacional ao centro, deixando-a com um aspecto de parada militar. Essa atitude representou um ato simbólico muito forte. Ao longo dos séculos o poder político sempre tentou apagar a memória ameríndia de Tenochtitlan. E embora a presença física do passado indígena tenha se tornado visível e materialmente presente na região sobretudo com as escavações do Templo Mayor a partir de 1978, o legado de Tenochtitlan sempre esteve ali, no traçado de suas principais vias, na monumentalidade de sua praça principal e na localização de seus principais símbolos de poder.

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