Toponímia LX – José Manuel de Mello

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Ao atribuirmos o nome de José Manuel de Mello a uma avenida de Lisboa, reconhecemos e perpetuamos a memória de um dos grandes nomes da iniciativa privada e do compromisso cívico no Portugal contemporâneo. Empresário visionário, humanista dedicado e figura de referência na economia portuguesa, José Manuel de Mello deixou uma marca indelével na história empresarial do nosso país e um impacto relevante na vida económica, social e institucional da cidade de Lisboa.

Nascido em Lisboa em 1927, José Manuel de Mello foi herdeiro de uma longa tradição empresarial familiar, encabeçada pelo seu avô Alfredo da Silva, fundador do Grupo CUF. No entanto, mais do que prosseguir um legado, José Manuel de Mello reinventou-o. Com um espírito modernizador, transformou a Companhia União Fabril numa das maiores e mais diversificadas empresas industriais da Península Ibérica. Sob a sua liderança, a CUF tornou-se um verdadeiro grupo económico nacional, com presença em setores tão diversos como a química, a metalurgia, a energia, os transportes e a banca.

Com o 25 de Abril de 1974 e o processo de nacionalizações, José Manuel de Mello viu-se obrigado a recomeçar. Fê-lo sem ressentimento, mas com coragem e determinação. Fundou o Grupo José de Mello, um novo grupo empresarial baseado em valores de excelência, inovação e sentido de serviço ao país. Este novo grupo viria a afirmar-se nas áreas da saúde, através da José de Mello Saúde (hoje CUF Saúde), nas infraestruturas, na indústria e nos serviços, contribuindo novamente para a geração de emprego qualificado e para o desenvolvimento sustentado da economia portuguesa.

Lisboa beneficiou diretamente deste novo ciclo. A cidade acolheu a sede de diversas empresas do Grupo José de Mello e foi palco de importantes investimentos em áreas estruturantes como a saúde, a habitação, os transportes e os serviços. A implantação de modernas unidades hospitalares, como o Hospital CUF Descobertas, representa um contributo concreto para a qualidade de vida dos lisboetas, tornando acessível uma medicina de excelência, tecnológica e humanizada.

Mas José Manuel de Mello foi mais do que um industrial e gestor de exceção. Foi também um homem de cultura e de responsabilidade cívica. Promoveu, através da Fundação José de Mello, várias iniciativas de caráter social, educativo e cultural, apoiando projetos que visavam combater desigualdades, valorizar a educação e fomentar a inovação social. Lisboa, enquanto cidade aberta e solidária, foi destinatária natural desse empenho filantrópico e dessa visião integradora da sociedade.

Ao darmos hoje o nome de José Manuel de Mello a uma avenida da nossa cidade, prestamos tributo a um lisboeta ilustre, mas também a um modelo de liderança e de serviço público através da iniciativa privada. Num tempo em que se procuram exemplos de integridade, competência e visão, José Manuel de Mello permanece como referência: pela forma como soube conciliar crescimento económico com responsabilidade social; pela maneira como enfrentou a adversidade com dignidade e inteligência; pela coragem com que soube reconstruir, sem nunca abdicar dos seus princípios.

A escolha deste topónimo representa, também, um sinal claro de como Lisboa valoriza aqueles que, vindos da sociedade civil, se dedicaram ao país e à sua cidade. José Manuel de Mello foi um desses Homens, cuja obra permanece, cujos valores inspiram e cuja memória merece ser perpetuada.

Que esta nova Avenida José Manuel de Mello seja, assim, um lugar de memória, mas também de futuro. Um lugar onde Lisboa inscreve, no seu mapa, um nome que representa trabalho, visão, coragem e serviço ao bem comum.

Carlos Moedas Presidente da Câmara Municipal de Lisboa 2025

ORIGENS e FORMAÇÃO

José Manuel de Mello nasceu em Cascais, a 8 de dezembro de 1927, sendo neto do industrial português Alfredo da Silva, o criador da Companhia União Fabril (CUF), herdou um dos legados empresariais mais relevantes da história económica portuguesa. Ao longo da sua vida, distinguiu-se por uma visão estratégica, capacidade de perseverança e compromisso com o desenvolvimento social e económico do país — traços que marcaram o panorama nacional e o tecido cívico de Portugal.

Filho de Manuel de Mello e de Amélia de Mello, com quem manteve uma relação próxima, foi o mais novo de quatro irmãos, crescendo num ambiente marcado pelo rigor e sentido de responsabilidade, valores que moldaram a sua formação pessoal e intelectual. Inscreveu-se no Instituto Superior de Agronomia, mas aos 20 anos interrompeu os estudos ao ser chamado a integrar o universo empresarial da Companhia União Fabril.

◊ Os quatro filhos de D. Manuel e Amélia de Mello: Maria Cristina, Jorge, Maria Amélia e José Manuel.

◊ José Manuel de Mello ao longo dos anos. Fotografias do Arquivo de família.

COMPANHIA UNIÃO FABRIL (CUF)

Este conglomerado industrial, fundado em 1898, após a fusão da Companhia Aliança Fabril com a Companhia União Fabril, veio a preponderar no panorama económico português do século XX. A convivência com figuras marcantes do meio, aliada à observação dos métodos de gestão do avô e do pai, moldou-lhe o carácter e despertou precocemente um espírito empreendedor que definiu a sua trajetória.

◊ Primeiro logótipo da CUF, registado no inicio do sec. XX.

◊ Vista aérea do complexo fabril mandado construir por Alfredo da Silva no Barreiro . 1929.

◊ Companhia União Fabril - Fábrica Sol. Início do sec. XX. Av. 24 de julho e Alfredo da Silva.

◊ José Manuel de Mello na inauguração da doca Alfredo da Silva, 1971.

◊ Irmãos Jorge e José Manuel de Mello.

Em 1973, antes da Revolução de 25 de Abril de 1974, partilhava a liderança do Grupo CUF com o irmão Jorge de Mello. O Grupo e empregava

◊ Algumas fotografias do universo da “CUF - Companhia União Fabril.“

No auge da sua atividade, incluia mais de 60 empresas e empregava cerca de 12 mil pessoas.

A nova identidade do grupo CUF nos anos 70.

◊ O grupo CUF continuou o seu crescimento ao longo dos anos, atingindo o seu apogeu nos anos 70.

PÓS 25 DE ABRIL DE 1974 E A RECONSTRUÇÃO

Com a mudança de regime em 1974, teve início um extenso processo de nacionalizações. No caso da CUF, a sua apropriação pelo Estado foi formalizada pelo Decreto-Lei n.º 532/75, de 25 de setembro, tendo a família Mello perdido quase todo o seu património empresarial. Forçados ao exílio, José Manuel e os seus familiares fixaram-se na Suíça no final desse ano, representando uma interrupção abrupta de cerca de quinze anos na sua atividade empresarial em Portugal.

◊ Jorge e José de Mello à chegada ao Palácio de Belém para se reunirem com a Junta de Salvação Nacional, 1974

Com o regresso da estabilidade democrática e a abertura ao setor privado na década de 1980, José Manuel de Mello regressou a Portugal determinado a relançar o projeto empresarial da família. A sua intervenção foi decisiva para a reconstrução de um império económico com raízes na história industrial do país.

◊ José Manuel de Mello no início do nascimento do Grupo José de Mello (início dos anos 80)

FUNDAÇÃO DO GRUPO JOSÉ DE MELLO

Em 1988, constituiu a holding José de Mello SGPS, S.A., estrutura através da qual reorganizou os negócios familiares e lançou as bases do atual Grupo José de Mello, um conglomerado económico diversificado. Inspirado pelos valores do avô Alfredo da Silva e orientado por uma visão estratégica para os desafios contemporâneos, promoveu, com a colaboração dos seus filhos, a recuperação de empresas e lançou novas unidades de negócio. Esta abordagem prática e prospetiva sustentou todo o processo de reconstrução do grupo, garantindo-lhe relevância no novo contexto económico português.

Fiel ao lema do fundador — “Mais e Melhor” —, o grupo reafirmou-se nos setores da saúde, das infraestruturas e da energia, recuperando também a presença histórica da família na indústria química.

◊ Arquivo da família

◊ Arquivo RTP. c.199-

SETORES ESTRATÉGICOS

No campo das infraestruturas, assumiu uma posição relevante como acionista da Brisa – Autoestradas de Portugal. A empresa expandiu a sua rede viária e consolidou-se como uma das maiores concessionárias europeias, reforçando a qualidade das infraestruturas nacionais.

No domínio da indústria química, José Manuel de Mello reposicionou o grupo em empresas de destaque. Em 1997, num gesto profundamente simbólico, pois marcava o regresso da antiga CUF Industrial, adquiriu a Quimigal hoje conhecida como Bondalti, que opera nas áreas dos químicos industriais e nano materiais.

Na década de 2000, adquiriu participações na EDP – Energias de Portugal e na Efacec, referência em engenharia eletrotécnica. Estas aquisições reforçaram a presença da família Mello em setores como a eletricidade e a tecnologia industrial.

Na saúde, afirma-se como referência nacional no setor privado, através dos hospitais e clínicas CUF. O seu investimento não se limitou à vertente empresarial, integrando uma componente de responsabilidade social, inspirada na tradição humanista da antiga CUF. Já nas primeiras décadas do século XX, a empresa apoiava os seus operários com cuidados de saúde, educação e bem-estar, um legado que os descendentes procuraram adaptar às exigências contemporâneas.

Para José Manuel de Mello, a rede CUF representava uma oportunidade estratégica e um compromisso com a comunidade, contribuindo para melhorar os padrões da saúde em Portugal, em articulação com o sistema público. Esta visão refletia-se na missão da CUF: prestar cuida-

dos de saúde com elevados padrões de qualidade e conhecimento, respeitando o primado da vida. Esta orientação ética e social refletia-se também na gestão do grupo, que promovia o bem-estar dos colaboradores através de ambientes de trabalho saudáveis, políticas de conciliação e iniciativas de carácter humanista.

◊ Hospital CUF, aberto em 1945 no Palácio Sassetti. Mandado construir por D. Manuel de Mello, com o propósito de servir a mais de 80 mil trabalhadores do Grupo e suas famílias.

REDE CUF

A José de Mello Saúde/CUF iniciou a sua atividade em Lisboa com a inauguração do Hospital CUF Infante Santo, a 10 de junho de 1945. Criado para os colaboradores da CUF e suas famílias, este hospital marcou o início de uma trajetória de expansão e inovação na saúde privada em Portugal, sustentada pela excelência e pela proximidade ao utente.

◊ Inauguração do Hospital CUF Descobertas, 2001.

Em 2001, a CUF abriu o Hospital CUF Descobertas, no Parque das Nações – a primeira unidade privada em Portugal organizada por valências médicas e equipas dedicadas, Em 2020, foi inaugurado o Hospital CUF Tejo, em Alcântara, uma infraestrutura moderna e tecnologicamente avançada, que veio substituir o Hospital Infante Santo. Este projeto, com um investimento superior a 170 milhões de euros, reforçou significativamente a presença da CUF em Lisboa.

◊ Cerimónia de inauguração do Hospital.

◊ Identidade da Fundação.

A Fundação foi criada por iniciativa de D. Manuel de Mello, não só em homenagem à sua mulher mas também como forma de reforçar e dar continuidade à obra social do Grupo CUF.

RESPONSABILIDADE SOCIAL

A Fundação Amélia de Mello, criada em 1964 por Manuel de Mello e por José Manuel de Mello, continua a ter um papel central na vertente social do legado familiar, ao conceder bolsas de estudo, financiar investigação em diversas universidades portuguesas e apoiar projetos sociais. Sob a sua influência, foram lançados programas de bolsas para filhos de colaboradores do grupo, apoio a e iniciativas de voluntariado corporativo.

RECONHECIMENTO E LEGADO

A sobriedade marcava o modo de estar de José Manuel de Mello. Com uma grande capacidade de reinvenção e liderança, era uma figura respeitada no mundo empresarial e no tecido social português. Evitava o protagonismo mediático, preferindo que fossem o trabalho e os resultados a evidenciar os seus méritos — atitude que espelhava os valores da sua família. Esta reserva era expressão de uma ética que valorizava a substância em detrimento da exibição pública.

Para além do envolvimento na Fundação, demonstrou interesse por várias expressões culturais. Era apreciador de desportos náuticos e

hipismo, demonstrando sempre uma forte ligação à terra e à vinicultura. Investiu na Herdade da Ravasqueira, onde não só promoveu a produção de vinhos de excelência, como também constituiu uma notável coleção de carruagens antigas.

À data do seu falecimento, a 16 de setembro de 2009, com 81 anos, o Grupo José de Mello detinha participações relevantes em empresas como a Brisa, a José de Mello Saúde/CUF, Bondalti, a Efacec e a EDP, demonstrando a sua solidez.

José Manuel de Mello foi distinguido ao longo da vida com várias condecorações oficiais, em reconhecimento pelo seu contributo para a economia e o desenvolvimento social do país. Foi agraciado, em 1964, com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Mérito Industrial; em 1969, com a Grã-Cruz da mesma Ordem pelo Presidente Américo Tomás; em 2006, com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente Jorge Sampaio; e, em 2018, já após o seu falecimento, com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito, atribuída pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, que destacou o seu legado enquanto “fazedor de obras sociais, concretas, para as pessoas também concretas”.

O reconhecimento estendeu-se para além da sua vida, perpetuando-se na geração dos seus filhos, quando o Grupo José de Mello foi distinguido com o IMD Global Family Busines Award (2024), um dos mais prestigiados prémios mundiais atribuídos a empresas familiares.

em cima

◊ Entrega da Condecoração da Ordem do Infante D. Henrique, pelo presidente Jorge Sampaio. José Manuel de Mello é representado pelo filho Vasco de Mello. 2006

A Câmara Municipal de Lisboa, reconhecendo o importante legado social de José Manuel de Mello, preserva a sua memória na Toponímia da cidade, atribuindo o seu nome a um arruamento na Freguesia da Estrela, onde se situa o Hospital CUF Tejo.

BIBLIOGRAFIA

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_Grupo José de Mello. (n.d.). “História e imagens institucionais”. Consultado em maio de 2025. In josedemello.pt/imagens/

_Grupo José de Mello. (2025). “História do Grupo”. Consultado em maio de 2025. In josedemello.pt/historia-do-grupo/

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_Fundação Amélia de Mello. (2025). “Sobre a Fundação”. Consultado em junho de 2025. In fundacaoameliademello.org.pt/

_Visão. (2018, 23 de junho). “A saga dos Mello”. Consultado em junho de 2025. In visao.pt/actualidade/sociedade/2018-06-23-a-saga-dos-mello/

_Jornal de Negócios. (2023, 17 de outubro). “Grupo José de Mello cria holding para negócio do vinho e quer estar no top 3 até 2030”. Consultado em junho de 2025. In jornaldenegocios.pt/empresas/vinhos/ detalhe/grupo-jose-de-mello-cria-holding-para-negocio-do-vinho-equer-estar-no-top-3-ate-2030

_Presidência da República Portuguesa. (2006, 2018). “Registos das condecorações atribuídas”. Consultado em junho de 2025. In ordens.presiden cia.pt/

_IMD Business School. (2024). “José de Mello Group wins 2024 IMD Global Family Business Award”. Consultado em junho de 2025. In imd.org/news/ leadership/jose-de-mello-group-wins-2024-imd-global-family-business -award/

FICHA TÉCNICA

EDIÇÃO_ Câmara Municipal de Lisboa

PRESIDENTE _ Carlos Moedas

PRESIDENTE DA COMISSÃO MUNICIPAL DE TOPONÍMIA _

Diogo Moura

DIREÇÃO MUNICIPAL DE CULTURA_ Laurentina Pereira

DEPARTAMENTO DO PATRIMÓNIO CULTURAL_ Jorge Ramos de Carvalho

TÍTULO_ José Manuel de Mello

COORDENAÇÃO_ António Adriano

TEXTOS_ António Adriano

DESIGN_ Ana Filipa Leite

TIRAGEM_ 200

DEPÓSITO LEGAL_ 551069/25

EXECUÇÃO GRÁFICA_ IMPRENSA MUNICIPAL DE LISBOA

A Câmara Municipal de Lisboa agradece à família pela colaboração, tanto na partilha de informação como na cedência de imagens, sem as quais não teria sido possível a ilustração da presente edição biográfica.

toponimia@cm-lisboa.pt revelar.lisboa.pt/explorar/toponimia | facebook.com/toponimiadeLisboa

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