Catálogo "A Cerimónia do Adeus"

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Cada imagem aí captada é uma palavra dessa longa frase visual a dizer um silêncio que só a vida pode abalar. José Manuel dos Santos

Mário Soares’ State Funeral was a confirmation of his life – and a reflection of it. Everything had a purpose and a place, a meaning and a symbolism. Each captured image presented here is a word in that long visual sentence of silence that only life can disturb. José Manuel dos Santos

Associação dos Amigos dos Cemitérios de Lisboa

A CERIMÓNIA DO ADEUS | FAREWELL CEREMONY

O Funeral de Estado de Mário Soares foi a verificação da sua vida – e nada houve nele que não fosse uma leitura dela. Tudo teve, por isso, um sentido e um sinal, um significado e um símbolo.

A CERIMÓNIA DO ADEUS O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos fotógrafos

FAREWELL CEREMONY a view of Mário Soares State Funeral through the photographers lenses


A CERIMÓNIA DO ADEUS O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos fotógrafos

FAREWELL CEREMONY A view of Mário Soares State Funeral through the photographers lenses

Associação dos Amigos dos Cemitérios de Lisboa


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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

Índice Table of contents

Apresentação Presentation 7

Fernando Medina

Presidente da Câmara Municipal de Lisboa | Mayor of Lisbon

Um Adeus Português A Portuguese Farewell 11

José Manuel dos Santos

Honrar uma Grande Figura e dignificar o Estado Honouring a great man and dignifying the State 23

Jorge Silva Lopes

O fim de um tempo The End of An Era 29

Ana Sá Lopes


CATÁLOGO

26. Paulo Vaz Henriques

3. Leonardo Negrão

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4. Nuno Moreira

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33. António Pedro Ferreira

CATALOGUE 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 66 68 70 72 74 76 78 80 82 84

1. António Pedro Santos 2. Armindo Ribeiro

5. Sara Matos 6. Campiso Rocha 7. Manuel de Almeida 8. Luís Filipe Catarino 9. Miguel Gomes Baltazar 10. Rui Gaudêncio 11. João Relvas 12. Francisco Leong 13. João Porfírio 14. Paulo Petronilho 15. Alfredo Cunha 16. Luís Carvalho 17. Diana Tinoco 18. Vitor Mota 19. Mariline Alves 20. Ivo Rainho Pereira 21. Mário Cruz

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27. Hugo Amaral 28. Nuno Ferreira Santos 29. Sérgio Lemos 30. Nuno Fox 31. Nuno Botelho 32. Bruno Colaço

34. Rafael Marchante 35. Américo Simas 36. Pedro Catarino 37. José Carlos Carvalho 38. João Girão 39. Miguel Figueiredo Lopes 40. Álvaro Isidoro 41. Manuel Levita 42. Paula Nunes 43. Tiago Miranda 44. Luís Saraiva 45. Miguel Lopes 46. Nuno Correia 47. Pedro Nunes 48. António Cotrim 49. Filipe Amorim

22. Luís Barra 23. Daniel Rocha 24. Patrícia de Melo Moreira

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25. Enric Vives-Rubio

Fichas de Catálogo Catalog cards


A exposição A Cerimónia do Adeus – O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos fotógrafos, organizada pela Câmara Municipal de Lisboa em colaboração com a Associação dos Amigos dos Cemitérios de Lisboa, cumpre dois propósitos de forte intenção e grande significado. Antes de tudo, presta homenagem, no primeiro ano da sua morte, a uma figura maior da nossa história contemporânea, com um prestígio internacional ímpar. Ele foi o fundador principal da democracia portuguesa e ocupou os mais altos cargos públicos. O tributo visual que evoca Mário Soares, sepultado, ao lado de Maria Barroso, no jazigo de família do Cemitério dos Prazeres, apresenta notáveis fotografias de fotógrafos que cobriram o seu Funeral de Estado, o primeiro do nosso regime democrático. As cerimónias funerárias deram à República um ritual celebrativo, uma liturgia laica, uma estética protocolar e uma memória simbólica que aqui estão patentes e documentados. Quero agradecer calorosamente, a todos os fotógrafos que participam neste projeto, a sua generosa disponibilidade e o seu valioso contributo. Mário Soares era um homem da vida e da liberdade que a torna livre, grande e nobre. O seu funeral foi uma memória da sua vida, dos valores e dos símbolos dela. É, por isso, que esta exposição, sendo sobre a sua morte, é ainda sobre a sua vida. Com ela, agradecemos a Soares o seu combate, intenso, total e permanente, pela democracia, de que foi o mais alto e ilustre rosto. Com A Cerimónia do Adeus, inaugura-se a nova Galeria de Exposições Temporárias do Cemitério dos Prazeres. Este novo núcleo museológico, que será também constituído por uma exposição permanente, responde ao desejo da Câmara Municipal de Lisboa de dignificar – culturalmente, patrimonialmente, civicamente – os cemitérios municipais. Ao fazê-lo, propomos uma relação mais culta, informada, consciente e contemporânea dos cidadãos e da sociedade com os cemitérios, dando à memória dos lugares uma importância ao mesmo tempo simbólica e real. A nova relação consagra um novo olhar da vida sobre a morte. É isso que acontece em muitas cidades de todo o mundo, onde os cemitérios recebem imensos visitantes e têm uma meritória e ambiciosa atividade cultural, científica e pedagógica de estudo, investigação, divulgação, criação e comunicação. Inaugurarmos este novo espaço e o seu programa de valorização dos cemitérios com uma evocação de Mário Soares, é a melhor maneira de o começarmos. Fiéis à memória dele, sabemos que a fatalidade da morte é ainda mais uma grande razão para lutarmos por uma vida digna para todos, fundada na liberdade, na justiça que lhe dá mais alcance e na solidariedade que a universaliza. Este antigo e sempre novo humanismo, que representa o melhor da Humanidade no seu milenar caminho no tempo, não morre. E ensina-nos a honrar os que morreram, dignificando os lugares habitados pela sua memória. Alguns dos que aí estão, são aqueles que, como disse Camões, “por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”. Por isso, continuam a ser, para nós, referência, exemplo, inspiração e saudade. Mário Soares é um deles.

Fernando Medina Presidente da Câmara Municipal de Lisboa


The exhibition Farewell Ceremony – A View of Mário Soares’ State Funeral through the Photographers Lenses, organised by the Lisbon City Council in collaboration with the Associação dos Amigos dos Cemitérios de Lisboa, fulfils two purposes of strong intention and great significance. To start with, it pays homage to a major figure in our contemporary history with a unique international prestige in the first year after his death. He was the main founder of Portuguese democracy and held the highest public positions. The visual tribute evoked by Mário Soares’ grave, buried alongside Maria Barroso in the family’s vault at the Cemitério dos Prazeres, presents remarkable photographs by photographers who covered his State Funeral, the first of our democratic regime. The funeral ceremonies gave the Republic a celebratory ritual, a lay liturgy, an aesthetic protocol, and a symbolic memory which are documented here. I would like to warmly thank all the photographers participating in this project for their generous availability and valuable input. Mário Soares was a man of life and of the liberty which makes life free, great, and noble. His funeral was a memory of his life, his values, and symbols. That is the reason why this exhibition, being about his death, is still about his life. With this exhibition, we thank Soares for his intense, total and permanent fight for democracy, of which he was the highest and most eminent face. With the Farewell Ceremony – A View of Mário Soares’ State Funeral through the Photographers Lenses exhibition, the new Temporary Exhibition Gallery of the Cemitério dos Prazeres is inaugurated. This new museum space, which will also consist of a permanent exhibition, responds to the desire of the Lisbon City Council to culturally, patrimonially, and civically dignify the municipal cemeteries. In doing so, we put forward a proposal for a more cultured, informed, conscious, and contemporary relationship of citizens and society with cemeteries, giving both a symbolic and real importance to the memory of places. The new relationship enshrines a new perspective of life over death. This is what happens in many cities around the world, where cemeteries receive many visitors and have meritorious and ambitious cultural, scientific, and pedagogical activities of study, research, dissemination, creation, and communication. Inaugurating this new space and its program of valuing cemeteries with an evocation of Mário Soares is the best way to start it. Faithful to his memory, we know that the fatality of death is yet another great reason to fight for a dignified life for all, founded on freedom, on the justice that broadens its reach and on the solidarity that universalises it. This ancient and ever new humanism, which represents the best of Humanity in its millennial path in time, does not die. It teaches us to honour those who died, dignifying the places inhabited by their memory. Some of them are those who, as Camões once said, “by valiant works liberate themselves from the law of death”. They continue to be, for us, a reference, an example, an inspiration, and we miss them. Mário Soares is one of them.

Fernando Medina Mayor of Lisbon


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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

UM ADEUS PORTUGUÊS José Manuel dos Santos Curador

Mário Soares gostava muito de falar da vida – e da sua vida. Não gostava nada de falar da sua morte. Nem sequer da morte dos outros. Esse era o seu tabu, a sua superstição, o seu amuleto. Para ele, a morte está do outro lado do vidro da vida. Não se consegue olhá-la de frente, nem ler o seu nome inominável. Por isso, as palavras sobre a morte entristeciam e sujavam as palavras sobre a vida. Não as achava necessárias ou úteis. Julgava-as mesmo funestas, malfazejas, aziagas e evitáveis. Se elas caíam numa conversa, afastava-as, ou afastava-se delas, e ficava triste como se fica triste quando, no meio de um dia claro, há uma escuridão que desce subitamente, ouvindo-se ao longe o grito aflito das aves. Ou como se, sobre um papel branco onde se vai começar a escrever, aparecesse uma nódoa de tinta. Mas este homem, que fazia da vida uma felicidade íntima e uma exaltação exclamada, sabia que a morte fala em nós, mesmo que nós não falemos nela. Ele queria esquecer essa vetusta vestal do templo do Nada, cuja memória não se desdiz e cuja mão não se distrai. Assim, ele nunca poderia dizer, a si-próprio ou a outro, o que diz Fernando Pessoa com a voz de Álvaro de Campos: «Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente! / Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém... / Sem ti correrá tudo sem ti. / Talvez seja pior para outros existires que matares-te... / Talvez peses mais durando, que deixando de durar...». Soares acreditava nele e na vida! Por isso, tinha uma desconfiança disfarçada, mas indisfarçável, desse genial poeta tão lúcido («Merda! Sou lúcido!») e tão céptico («Não, não creio em mim.»), tão exacto e tão incerto («Eu, que não tenho nenhuma certeza, serei mais certo ou menos certo?»), tão díspar e tão disperso («Um drama em gente em vez de em actos»), que fez da vida uma distância a tudo, menos àquilo que, nela, era passagem por uma morte já presente por avanço. Foi a partir desse lugar de perigo próprio e de pânico pausado que Pessoa escreveu as palavras que aboliram a realidade ruidosa do mundo, abdicaram da soberania majestática do Eu e deram aos deuses os passos perdidos do exílio. É por isso que, da sua obra, vem o frio de um vento veloz e velado de treva branca. É por isso que, aí, tudo se torna morte de si-mesmo e vida de outra coisa. Soares não falava da sua morte, mas conhecia o lugar dela no seu mapa interior. Assim faz quem se aventura numa viagem a um país desconhecido e quer fitar a fronteira a partir da qual o nome que diz esse país se desdiz, ele procurava nas várias sabedorias, não a pergunta que espera a resposta, mas a resposta que cria a pergunta.


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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

Sabia que somos tempo e que a morte é, desse tempo, o fim. Procurava ouvir as vozes que tal dissessem com palavras vivas de vida. Em Epicuro, na carta a Meneceu, leu e falava disso: «Habitua-te à crença de que a morte não nos diz respeito, dado que todo o mal e todo o bem assentam na sensação e a sensação acaba com a morte. Logo, a crença verdadeira de que a morte nada é para nós faz uma vida mortal feliz, não ao acrescentar-lhe um tempo infinito, mas ao eliminar o desejo de imortalidade. Pois não há razão para que o homem que tem plena certeza de que nada há a recear na morte encontre algo que recear na vida. Assim, também é tolo quem diz que receia a morte não por ser dolorosa quando chegar, mas por ser dolorosa a sua antecipação; pois o que não é um peso quando está presente é doloroso sem razão quando é antecipado. A morte, o mais temido dos males, não nos diz consequentemente respeito; pois enquanto existimos a morte não está presente, e quando a morte está presente nós já não existimos. Nada é portanto nem para os vivos nem para os mortos visto que não está presente nos vivos, e os mortos já não são. Mas os homens em geral por vezes fogem da morte como o maior dos males, por vezes almejam-na como um alívio para os males da vida. O homem sábio nem renuncia à vida nem receia o seu fim; pois a vida não o ofende, nem supõe que não viver é de algum modo um mal. Tal como não escolhe a comida da qual há maior quantidade mas a que é mais agradável, também não procura a satisfação da vida mais longa, mas sim a da mais feliz. Quem aconselha o jovem a viver bem e o velho a morrer bem é tolo não apenas porque a vida é desejável, mas também porque a arte de viver bem e a arte de morrer bem são uma só.» Leu também «Da Velhice», de Cícero:

Era em Belém, ao fim de tarde, naquele vasto, vivo e vibrante gabinete, no qual o mundo passava a toda a hora, que tinha uma larga secretária, com o tampo tapado de livros e papéis, e pinturas da escola holandesa na parede. Ou, então, estávamos na varanda que dá sobre o jardim dos buxos, e onde o rio, com os seus olhos de luz, nos pode ver. Quando o dia corria para a noite e, entre as árvores, os pavões gritavam o seu tédio ou o seu cio, muitas vezes ele falava de quem já não falava. Trazia-o até nós, dando-lhe – dando-nos – os fios da sua figura, os sons da sua voz, as cores do seu carácter, os tons do seu talento, os factos da sua vida. Falava da coragem, da audácia, da valentia, da imaginação, da perspicácia, do humor, do prazer, da alegria. Além de ser o Péricles da democracia portuguesa, era também o Plutarco das «Vidas Paralelas dos Homens Ilustres» da resistência e da liberdade. Às vezes, dizia versos; outras vezes, dizia ditos. Contava conversas e narrava acontecimentos. Enquanto falava, o seu rosto interrogava o nosso e as suas mãos tinham gestos leves, lentos e longos. Havia no que dizia gratidão, graça, admiração e saudade. Então, a sua voz anoitecia e essa noite ia ao encontro da outra noite que chegava, dando ao mundo um sol de sombra e abrindo no poço do céu uma fundura fixa de fogueira falhada. Toda a vida de Soares foi a insistência, sem medo, sem medida e sem meta, nessa liberdade que a vida dá e que a morte tira. Era em nome daquela que afastava esta. Assim, olhava a morte com uma indignação distraída ou com aquela proximidade longínqua com que se olha a queda dos graves e se conhece a lei que a rege, embora não se esteja sempre a pensar nela. Afinal, ele que em política era kantiano (dizia ele), na vida era nietzschiano (digo eu), na morte era espinosiano (digo eu também). Soares não aceitou ser vivido pela vida – foi ele que a viveu. E também não aceitou ser morto pela morte – foi ele que foi morrendo, antes dela o vir matar. O fim da sua vida, com a doença que o cercou, poupou-o de ver a morte no espelho dos seus olhos, mas não nos poupou a nós de ver esse seu não-ver e esse seu não-ser.

«Todos os homens desejam chegar à velhice, mas, quando lá chegam, queixam-se.» Não leu Wittgenstein, mas concordava com ele: «Com a morte o mundo não se altera, cessa. // A morte não é um acontecimento da vida. A morte não pode ser vivida. / Se se compreende a eternidade não como a duração temporal infinita, mas como intemporalidade, então vive eternamente quem vive no presente. / A nossa vida é infinita, tal como o nosso campo visual é sem limites.» E Jorge Luis Borges, com quem Soares falou em São Bento, numa tarde que ainda hoje dura para os que ali estiveram, perguntava com magnífica ironia: «Por que vou morrer, se nunca o fiz antes? Por que vou cometer um acto tão alheio aos meus hábitos? É como se me dissessem que vou ser mergulhador ou domador ou alguma coisa parecida...» E acrescentava: «Perante qualquer desgraça, penso que ainda me falta viver uma experiência totalmente nova. Ou que não há mais nada, e esta também seria uma nova experiência». Mário Soares não falava da sua morte, nem da morte dos outros, mas falava dos outros que tinham morrido e eram seus amigos. Gostava de os tornar vivos pela mnemónica da recordação, da evocação, da restituição. Deles, contava histórias e fazia disso ensinamento, exemplo e divertimento. Basta ler o «Portugal Amordaçado» para sentirmos o peso dos amigos mortos de quem ele falava como se estivessem vivos. Mais tarde, de cada vez que um amigo morria, escrevia sobre ele, desenhando-lhe a presença sobre a ausência que começava.

Foi como se ele juntasse a sua confusão à confusão do mundo, para assim virar as costas à crua e cruel clareza da morte, dando-lhe um nevoeiro para que ela, nele, avançasse para ele, dizendo o seu nome de Indesejada. Ele viveu de olhos abertos, mas não morreu de olhos abertos. Para a sabedoria antiga, isso não era uma coisa boa. Para o conhecimento moderno, talvez não tenha sido uma coisa má. Durante a vida, Soares não falava da sua morte e dos acontecimentos que a seguir se dariam, senão por alusões fugazes, fugidias e indispostas. E ainda falava menos desse depois em que o seu antes já não teria lugar. Não deixou as últimas vontades ou, como fez o seu amigo François Mitterrand, não regulou os tempos e os modos das suas exéquias e do ambíguo e minucioso esplendor cerimonial delas. Soares não teve vontades para quando já não tivesse vontade. Assim, nada disse ou escreveu sobre um futuro que já não era o seu. Foi numa tarde triste de um sábado. Mário Soares morreu a 7 de Janeiro de 2017, um mês exacto após ter feito 92 anos. O pai, João Soares, cuja fotografia, nos tempos do fim, nos levava sempre a ver ao escritório, quando jantávamos em sua casa, tinha morrido aos 91 anos – e o filho sempre acreditou que seria nessa idade que morreria também. O vulto feminino vestido de negro que, com a sua mão forte e fúnebre, fria e feroz, vai parando a respiração da vida – dos raros vultos femininos por quem ele não tinha curiosidade nem interesse – deu-lhe mais um mês para que, também nisso, o seu optimismo ontológico não fosse desmentido por um fatal pessimismo antropológico. Esse mês acrescentado a um vaticínio que assim não se cumpriu foi a vitória de uma derrota. Os 92 anos do filho foram ao encontro dos 91 anos do pai – e assim se cruzaram nessa estranha e sombria numerologia da morte. Há homens que morrem de uma morte que não é só deles. Mário Soares morreu e a democracia a que ele deu um rosto fez da sua morte a hora de um tributo, de um reconhecimento e de uma despedida. Fez dela o tempo de um adeus português. Foi Alexandre O’Neil, amigo de Soares, que deu este título a um poema de amor, que se constitui como uma das mais violentas vozes de acusação à ditadura e à mísera e mesquinha pequenez da sua «vidinha»!


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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

Nesse poema, O’Neill escreve: «Não tu és da cidade aventureira / da cidade onde o amor encontra as suas ruas / e o cemitério ardente / da sua morte (...) Nesta curva tão terna e lancinante / que vai ser que já é o teu desaparecimento/ digo-te adeus...» Ao decretarem Cerimónias Fúnebres com Honras de Estado para o grande homem que se ausentava de uma vida longa e lapidar, os representantes de Portugal concederam a esta morte o simbolismo e a solenidade merecidos por quem, além de ter exercido os mais altos cargos na política e no Estado, fez uma aliança, várias vezes reiterada e por várias formas tornada perene, com a História, que o não deixou, não deixa, nem deixará afastar-se dela. O Funeral de Estado de Mário Soares foi a verificação da sua vida – e nada houve nele que não fosse uma leitura dela. Tudo teve, por isso, um sentido e um sinal, um significado e um símbolo. Do claustro, cor do sol no ocaso, dos Jerónimos à face frontal do busto da República; do verde e azul do Grande Colar da Torre e Espada à flama de fogo da Ordem da Liberdade; da residência e do Colégio Moderno aos Paços do Concelho de Lisboa; da passagem à frente do Palácio de Belém à paragem em frente do Palácio de São Bento; da Fundação do seu nome às bandeiras vermelhas e ao erguer dos punhos no PS do Largo do Rato; da sua própria voz, nos Jerónimos, a falar dos Jerónimos, à voz de Maria Barroso a dizer, de Álvaro Feijó, os «Dois Poemas de Amor da Hora Triste – Quando eu morrer, e hei-de morrer primeiro do que tu...»; do poema de Baudelaire murmurado, com emoção contida, pela filha Isabel («Ó Mort, vieux capitaine, il est temps! levons l’ ancre!») ao orgulhoso «memento» dos anos de resistência e combate do pai, feito pelo filho João; das insígnias das condecorações entregues pelos netos, Jonas e Lilah, ao cravo vermelho que Fernando Medina depôs no féretro; dos discursos de Marcelo Rebelo de Sousa e de Eduardo Ferro Rodrigues à mensagem , vinda da Índia, de António Costa; dos aviões que atravessaram o céu à saída do Mosteiro onde estão os túmulos de Camões, Gama, Pessoa e Herculano às salvas marítimas no momento do adeus no cemitério; da guarda de honra a cavalo pelas ruas da cidade às lágrimas dos que aplaudiam o morto e não a morte; do Mozart, do Elgar e do Fauré ouvidos nos claustros ao toque de silêncio escutado antes da entrada no jazigo; das palavras de Sophia de Mello Breyner Andresen citadas no programa («O que primeiro reconheci nele foi não só a coragem, (...) mas uma forma especial de ser corajoso. Era uma coragem sem crispação e sem excitação: raciocinava, relativizava, desdramatizava e ria dos ridículos e das manhas do adversário...») à profusa proliferação das flores; da presença dos amigos e admiradores de tantos países aos inumeráveis votos de pesar e de mágoa; da entrega final pelo Presidente da República da Bandeira Nacional ao beijo com que a filha Isabel a recebeu – estas Cerimónias Fúnebres com Honras de Estado deram à República Portuguesa uma liturgia e um rito, que são uma medida e uma mensagem. Essa medida e essa mensagem dizem uma grandeza digna, uma altura de atitude e um precedente memorável. Nesses dias fúnebres, jornalistas e comentadores, fotógrafos e operadores de imagem levaram, de Portugal, estas cerimónias a todo o mundo. As imagens, então captadas, registadas, fixadas, multiplicadas, difundidas, guardadas, conhecidas, inéditas, têm o estranho condão de fazerem da sua actualidade uma continuidade que não recua e da sua continuidade uma actualidade que não recusa. Num tempo em que, de um instante para o outro, tudo deixa de ser, de valer, de convir ou de interessar, esta lenta viagem visual de dois dias escuros e frios e fortíssimos restitui-nos a energia da sua aura e devolve-nos a sua verdade visual. A exposição que assim inaugura a Galeria da Capela dos Prazeres convoca estas imagens para trazer, até nós, os seus dias e aquele que ali não figura senão como o grande ausente- presente delas. Mas, se é uma exposição de evocação e tributo (também de invocação e de memorização), é, para isso acontecer, uma exposição de fotografia. Foi este o princípio que a inspirou. Foi esta a lei que a definiu. Foi este o critério que a organizou. Em todas as fotografias reconhecemos aquilo que, nelas, há em comum e que lhes dá uma afinidade, uma proximidade, uma contiguidade e uma unidade: o mesmo referente, o mesmo código e o mesmo contacto ( para usar as palavras da semiologia). Mas, em cada fotografia que vemos, notamos, descobrimos, reconhecemos a marca autoral de cada fotógrafo, com o seu ponto de vista, a sua escala visual, o seu programa jornalístico, o seu propósito estilístico, a sua personalidade estética, a sua aptidão

técnica: diferentes destinadores, diferentes destinatários, diferentes mensagens (para continuar a usar a linguagem da semiologia). Juntas, como aqui se expõem, são uma série, uma sucessão, uma sedimentação de imagens – meios de um fim. A exposição tem por título «A Cerimónia do Adeus», porque foi isso que ela foi. Mas também porque Mário Soares leu, com um interesse, uma curiosidade e um entusiasmo, que pareciam ser só dele, o livro com que Simone de Beauvoir se despediu de Jean-Paul Sartre e a que deu esse nome («La cérémonie des adieux»), ao mesmo tempo solene e sentimental, Simone conta donde lhe veio o título e este podia ser um diálogo de Soares com Maria Barroso: «...eu ia viajar com Sylvie. Gostava destas viagens, mas separar-me de Sartre era sempre para mim um pequeno choque. Desta vez, fui almoçar com ele em La Coupole, onde Sylvie tinha ficado de me ir buscar às quatro horas. Levantei-me três minutos antes. Ele sorriu de uma maneira impossível de definir e disse-me: «Então, é a cerimónia do adeus!» Toquei-lhe no ombro sem responder. O sorriso, a frase, perseguiram-me durante muito tempo. Dei à palavra «adeus» o sentido supremo que veio a ter alguns anos mais tarde...» Ouvi Mário Soares repetir, com uma voz velada de vertigem, as sílabas dessas palavras – «A Cerimónia do Adeus» – como se fossem um mantra ou um lema, um slogan ou uma madalena de Proust. A morte e a fotografia olham-nos e olham-se nos olhos com que vêm o mundo. Num livro de uma beleza obscura, a que deu o título de «A Câmara Clara», Roland Barthes escreveu: «Todos esses jovens fotógrafos que se agitam no mundo, dedicando-se à captação da actualidade, não sabem que são agentes da Morte. É o modo como o nosso tempo assume a morte; sob o alibi denegador do terrivelmente vivo, de que o fotógrafo é, de certa forma, o profissional. Porque, historicamente, a Fotografia deve ter alguma relação com a «crise da Morte», que começa na segunda metade do século XIX; e, pela minha parte, preferiria que, em vez de se colocar constantemente o advento da Fotografia no seu contexto social e económico, se pusesse também em questão a ligação antropológica da morte e da nova imagem. Porque, numa sociedade, a Morte tem de estar em qualquer lado; se ela já não está ( ou está menos) no religioso, deve estar em qualquer outra parte. Talvez nessa imagem que produz a Morte, pretendendo conservar a vida. Contemporânea do recuo dos ritos, a Fotografia corresponderia talvez à intrusão, na nossa sociedade moderna, de uma Morte assimbólica, fora da religião, fora do ritual, uma espécie de mergulho brusco na Morte literal. A Vida/ a Morte: o paradigma reduz-se a um simples disparo, aquele que separa a pose inicial do papel final. Com a Fotografia entramos na Morte crua. Um dia, à saída de uma aula, alguém me disse desdenhosamente: «Você fala cruamente da Morte». Como se o horror da Morte não fosse precisamente a sua crueza! O horror é isto: nada ter a dizer da morte de quem eu mais gosto, nada ter a dizer da sua foto que contemplo incessantemente sem nunca poder aprofundá-la, transformá-la. O único «pensamento» que posso ter é o de que nessa primeira morte está inscrita a minha própria morte. Entre as duas mortes, a única coisa a fazer é esperar; não tenho outro recurso a não ser essa ironia: falar do «nada a dizer». Os fotógrafos que, nesta exposição, se apresentam foram «os agentes», desta vez conscientes e intencionais, da morte fotográfica de Mário Soares e das cerimónias rituais que a significaram, configuraram e fixaram para o futuro. Cada imagem captada, e que aqui se mostra, é uma palavra dessa longa frase visual a dizer um silêncio que só a vida pode abalar.

Este texto não segue o novo acordo ortográfico, por decisão do autor.


A PORTUGUESE FAREWELL José Manuel dos Santos Curator

Mário Soares enjoyed talking about life – and his life in particular. He loathed mentioning his own death, or that of others. And that in itself became his taboo, his belief, and his emblem. For him, death is on the other side of the looking glass. It can’t be looked in the eye, nor can its unmentionable name be read. And thus, words about death would sadden and soil words about life. He didn’t find them necessary or useful. He would go as far as consider them harmful, perverse, unlucky and avoidable. If they made their way into a conversation, he would shun them, or shy away from them, and would become as sad as one gets when darkness suddenly arrives on a bright day, accompanied by the distant cry of distressed birds. Or like a crisp piece of white writing paper, with a blot on it. But this man, who led his life with intimate happiness and outspoken elation, knew that death talks about you, even when you don’t mention it. He longed to forget this old vestal of the temple of Emptiness, whose memory should not be cursed and whose hand is always swift. Hence, he could never tell himself or others what Fernando Pessoa once spoke through Álvaro de Campos’ voice: “Are you missed? Oh vain shadow of a people!/No one is ever missed; you are not missed by anyone... / Without you everything will continue without you. / Maybe it’s even worse for others if you exist rather than killing yourself... / Maybe you weigh more as you endure, than when you fade...” Soares believed in himself and in life! And because of that, he held a disguised mistrust, one which he couldn’t hide, towards that genius poet, so lucid (“Shit, I’m so lucid!”) and so sceptical (“No, I don’t believe in myself.”), so exact and so uncertain (“Will I, one who’s uncertain of everything, be more or less correct?”), so different and so scattered (“An unfolding drama of personalities instead of acts”), whom had built his Life as a distant place, removed from everything, apart from that which lead towards a foreseen death. It was from this place of owned danger and paused panic, that Pessoa wrote the words which abolished the loud reality of the world, which abdicated the majestic sovereignty of the Ego and gave the gods the lost steps of exile. That’s why the cold of a quick and mist-veiled wind blows from his work. That’s why, in it, everything becomes its own death and the beginning of something new. Soares wouldn’t speak of his death, but he knew the place it held in his mind’s map. Just as one does when adventuring in an unknown country, hoping to grasp the outlines of its borders; in various wisdoms, he sought not the question waiting to be answered, but the answer that generates the question.


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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

He knew we are made of time, and that death is its end. He searched for the voices that said it so with lively words. And he found them in Epicurus’ letter to Menoeceus: “Get accustomed to the belief that death does not concern us, given that all that’s evil or good rests on feeling, and feeling is where death meets its end. Hence, to truly believe that death is something external to us makes up to a happy mortal life, not because it ads a sense of infinite time, but because it eliminates the desire for immortality. There is no reason for a man who’s unmoved in the face of death, to find anything to fear in life. And thus, foolish is the one who fears death, not for its painful nature, but for the agonizing anticipation of its arrival; for that, which is not a weight when present, becomes unreasonably painful when awaited. Death, the most fearsome of evils, is foreign to our condition, for while we exist death is not present, and when it is we are no longer living. Therefore, nothing belongs to the living or the dead, since it’s not present in the living, and the dead no longer exist. However, sometimes men run from death’s malevolent nature, and sometimes they crave it as relief from life’s wicked ways. A wise man will neither relinquish his life nor fear its end; for life is not unpleasant, and neither is death a bad thing in any way. Just as one chooses food by its flavour over its abundance, so does one seek fulfilment through a happy life rather than a long-lived one. Foolish is the one who counsels a young man to live well and an old man to die well, for not only is life desirable, but also because both arts of living well and dying well are one and the same.” He also read “On Old Age”, by Cicero: “All men want to reach an old age, but when they do, they complain.” He didn’t read Wittgenstein, but he agreed with him: “Death does not change the world, it ends it. // Death is not one of Life’s events. It can’t be lived through./ If one understands eternity, not as an infinite time measurement, but as timelessness, then one can enjoy the present eternally./ Our life is infinite, just like our visual range is boundless.” And Jorge Luis Borges, with whom Mário Soares spoke to in São Bento, one afternoon that still lingers on for those who were there with them, asked with a magnificent tone of irony: “Why will I die, if I’ve never done so before? Why will I carry out such an act, so foreign to my routine? It’s just like telling me I’m going to be a diver, or an animal tamer or something of the sort...” And added: “Faced with such misfortune, I always think I still have some completely new experience to live through. Or that there isn’t anything else, and this one would also be a new experience”. Mário Soares didn’t speak of his death, nor that of others, but he did talk about deceased friends of his. He liked bringing them back to life by remembering them, conjuring them, by restoring their memories. He told stories about them and turned them into teachings, examples and entertainment. One needs only to read “Portugal Amordaçado” (“Silenced Portugal”) to feel the weight of his fallen friends, of whom he speaks as if they were alive. Later on, as other friends died, he would write about each one, filling the void they’d leave behind.

He did so at his long writing desk, its top covered by books and papers, with Dutch School style paintings covering the walls, in Belém, on late afternoons, in that wide, exciting and vibrant office of his, in which the world rushed by, at all hours of the day. Or at the veranda overlooking the garden, and where the river can see us, with its beaming eyes. When the day rushed into night, and peacocks let out their calls for boredom or matting rituals among the trees, he would speak of the one who can no longer do so. He would bring him to us, revealing us the outline of his body, the sound of his voice, the colours of his personality, the shades of his talent, the facts of his life. He would speak of courage, audacity, bravery, imagination, wit, humour, pleasure and joy. Not only was he the Portuguese Democracy’s Pericles, but he was also its “Parallel Lives” Plutarch for resistance and freedom. Sometimes he would cite verses, others he would quote sayings. He would relate conversations and narrate events. While he spoke, his face would question ours, as his hands gently, slowly and widely gestured. His words would eco gratitude, grace, admiration and longing. Then, his voice would grow sombre and twilight would set in, bridging a heavenly gap with the already burnt-out flame. Soares’ whole life was lead with persistence, fearlessness, immensurability and voracity for the freedom one is given by life, and ripped away from by death. It was for freedom that he shunned death. Hence, he would stare at it with some distracted indignation or with that measured closeness with which one sees others befall the same fatal fate, ruled by an unknown law that strays from the mind. He was, after all, Kantian in his politics (or so he said), Nietzschean in life (according to me) and Espino-an in death (again, so I say). Soares didn’t let life lead him – he truly lived. And he didn’t accept being killed by death as well – he gradually started dying, before it came for him. His overpowering disease spared him the deathly reflection of his decay through his eyes, although it didn’t spare us. It was as if he added his own confusion to the world’s, so this way he could turn his back on the raw and cruel clarity of death, fogging her way as she searches for him, calling out her unwanted name. He lived with his eyes wide open, but they were shut when he died. Old tales believe it to be a bad omen. Modern views say that maybe it wasn’t such a bad thing. Over the course of his life, Soares didn’t speak about his death and what would come after he died, apart from a few fleeting, distasteful moments. And he would talk about this after-death even less. He didn’t write down his last wishes nor did he set up the time and procedures for his funeral service, as did his friend Mitterrand. Soares had no wishes for the period when he could no longer wish for anything. Hence, he didn’t say or write anything about a future that was no longer his. It was a sad Saturday afternoon. Mário Soares died on January 7th 2017, exactly a month after his 92nd birthday. His father, João Soares, whose photograph was shown to us in his office whenever we visited, at a time nearing his death, had died at 91 years of age – and his son had always believed he would die at the same age. The dark cloaked, feminine shadow that coldly and swiftly stops the breath of life with its strong and funereal hand – one of the rare womanly shapes he had no interest or curiosity for – gave him one more month, so his ontological optimism would not be refuted by some fatal anthropological pessimism. That extra month was a bittersweet victory against an unfulfilled prediction. The son’s 92 years of age met his father’s 91 years – and so they crossed paths in this strange and grim numerology of death. There are some men whose deaths are bigger than most. When Mário Soares died, the democracy he put his life into took his death as an opportunity to honour and recognise him and bid him farewell. It turned it into a “Portuguese Goodbye”, the same name given to a love poem written by Soares’ friend, Alexandre O’Neil, that styles itself as one of the harshest voices against the foregone dictatorship and the small mindedness of its “little life”!


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In this poem O’Neil writes: “You are not from the adventurous city/ the city where love meets the streets/ and the burning cemetery/ and its death (...) In this tender and sharp turn/ that foresees your disappearance/ I bid you goodbye...” By announcing a state honoured funeral service for the great man and his long and exemplary life, Portugal’s representatives gave his death the symbolism and solemnity that are due for those who, despite any high ranking political and State positions, built an often reiterated and perpetuated alliance with History, thus forever bound to it. Mário Soares’ State Funeral was a confirmation of his life – and there wasn’t any element of it that couldn’t be read as an interpretation of it. Everything had a purpose and a place, a meaning and a symbolism. From the Mosteiro dos Jerónimos’ cloister, lit by the setting sun, to the forward facing bust of the Republic; from the green and blue colours of the Torre e Espada Military Order’s sash to the Order of Liberty’s flame of fire collar; from his residence and the Colégio Moderno to Lisbon’s City Hall; from his passage by Belém’s Palace to his stopover in front of São Bento’s Palace; from his Foundation to the red flags and raised fists of his political colleagues at Rato Square; from the sound of his own voice at the Mosteiro dos Jerónimos, talking about the monastery, to the voice of his wife Maria Barroso, reading Álvaro de Feijó’s “The Sad Hour’s Two Love Poems – When I die, and I will die before you...”; from the murmured Baudelaire poem, read with constrained emotion by his daughter Isabel (“Oh Death, old captain, it is time! Raise the anchor!”) to his son’s proud “memento” to his dad’s years in fighting and resisting; from the insignias to the decorations delivered by his grandchildren, Jonas and Lilah, to the red carnation Fernando Medina placed on his coffin: from Marcelo Rebelo de Sousa and Eduardo Ferro Rodrigues’ speeches to António Costa’s message, sent from India; from the planes crossing the sky as he exited the monastery where Luís de Camões, Vasco da Gama, Fernando Pessoa and Alexandre Herculano are buried to the military shots heard as he was buried in the cemetery; from the horse-riding guards on the streets to the cries of those who applauded the dead and not death itself: from Mozart, Elgar and Fauré’s musical notes overheard in the cloisters to the dead of silence as the casket entered the vault; from the words of Sophia de Mello Breyner Andersen quoted in the program (“What I first recognised in him was not only his bravery, (...) but his special way of being brave. It was a quiet and calm bravery: he would think, relativize and de-dramatize a subject and would laugh at anything ridiculous or at his adversary’s plots...” to the array of flowers; from the attendance of all his admirers and friends from several countries to the countless messages of sadness and sorrow; from the final presentation of the flag by the President to the kiss with which his daughter received it – these state honoured funeral services gave the Portuguese Republic a liturgy and a ritual that carry a message. One of great dignity, high character and eternal memory. During these days of mourning, journalists and commentators, photographers and film crews spread these images of Portugal across the world. These captured, registered, multiplied, saved, broadcasted, never-before seen images have the power to perpetuate this memory. At a time where in an instant everything can change, or loose value, or becomes a nuisance or uninteresting, this slow visual trip of two dark, cold and sombre days brings back the aural energy of what happened, and its visual truth. Thus, the exhibition showing at the Capela dos Prazeres Gallery conjures these images to transport us to those days. But if this is a tribute exhibition (which also seeks to evoke and remember), then it can only be a photography exhibition. That was the principle that inspired it; the law that ruled it so; the criteria that put it together. In all these photographs we recognise that which they all have in common, and which binds them together, gives them a sense of proximity, adjacency and unity: the same subject, the same code and the same sensibility. But in each of them we notice, find and recognise the author’s subjective point of view, his perspective, his journalistic agenda, his stylistic purpose, his aesthetics, his technical aptitude: different creators, different audiences, different messages. As they’re laid out, together they are a series, a succession, a sediment of images – leading towards the same end.

The exhibition is called “Farewell Ceremony”, to recall the nature of what it portrays. But also because Mário Soares read Simone de Beauvoir’s book, with which she said goodbye to Jean-Paul Sartre and to which she too named it “The Farewell Ceremony” (La cérémonie des adieux”), with a very particular sense of interest, curiosity and enthusiasm. Sentimental and grave at the same time, Simone tell of how she came up with the title, and it could very well be the result of a conversation between Mário Soares and his wife Maria Barroso: “... I was going on a trip with Sylvie. I liked travelling, but separating from Sartre was always a bit of a shock for me. This time around, I went for lunch with him at La Coupole, where Sylvie had planned to pick me up at 4pm. I got up three minutes before. He smiled in an way impossible to describe and told me: “So, this is our farewell ceremony!” I touched his shoulder with no reply. The smile, the phase, it haunted me for a long time. I gave the word “Goodbye” the deified meaning it came to have a few years later ...” I heard Mário Soares repeat these words – “A Farewell Ceremony” – with a veiled sense of vertigo, as if they were a mantra or a motto, a slogan or a Prout’s Madeleine. Death and photography reflect and stare at us with the same eyes with which they look at the world. Roland Barthes once wrote, in a beautifully dark book he named “Camera Lucida”: “All of these young photographers fussing about in the world, determined to capture the Now, don’t know they are agents of Death. It is the way our era regards death; under a blinding alibi of the terribly alive, of which the photographer has become, in a way, a professional. Because, historically, Photography must have some kind of relation with the “Death Crisis”, which started in the second half of the 21st Century; and, on my part, I would prefer if one could question the anthropological connection between death and the new image, instead of constantly pairing the advent of Photography with its social and economic context. Because Death must be somewhere in a society; if it is no longer associated with religion (or is less associated with it), it must be somewhere else. Maybe in that image that showcases Death, hoping to steal a fragment of life. Contemporary to the rolling back of rituals, in our modern society, Photography would be associated with the intrusion of a non-symbolic Death, excluded from religion or rituals, a kind of swift dive into literal Death. Life/Death: the paradigm is reduced to a simple shot, one that separates the initial posing from the final print. With Photography we step into raw Death. One day, as I was leaving class, someone told me in a scornful tone: “You speak of Death in a raw manner”. As if the horror of Death wasn’t precisely its raw quality! This is its horror: having no say in the Death of a loved one, having no say about that person’s picture at which I’m constantly looking at, without ever being able to deepen its meaning or transform it. The only “thought” I can have is that, in this first death I can see my own. Between both deaths, the only thing one can do is wait, there’s no other course of action besides the irony of talking about the “having no say”. The photographers taking part in this exhibition were the conscious and intentional “agents” of the photographic death of Mário Soares and his ritualistic ceremonies, to which they gave meaning, shape and memory for the future. Each captured image presented here is a word in that long visual sentence of silence that only life can disturb.


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HONRAR UMA GRANDE FIGURA E DIGNIFICAR O ESTADO Jorge Silva Lopes Embaixador

É um lugar-comum dizer que uma imagem, ao mostrar uma realidade, nos poupa no exercício e na prática das palavras, o que também se aplicará na descrição de uma cerimónia de Estado. Contudo, nesse caso, uma fotografia não será seguramente suficiente para explicar tudo o que está por detrás do que nela pode ser visualizado. Na verdade, a preparação de qualquer dessas cerimónias constitui, até pela discrição que lhe é exigida, um processo cuja complexidade não é facilmente percetível. É ainda obrigação de quem as prepara, evitar, tanto quanto possível, imprevisibilidades, as quais, despertando igualmente a atenção dos fotógrafos, podem diminuir a dignidade da cerimónia. Não se pretende com isso insinuar que as duas atividades sejam antagónicas, pelo contrário, são complementares e essenciais para a valorização de muitos atos oficiais de dimensão nacional. Para as cerimónias que decorrem com maior frequência, a prática reiterada fixou um modelo, não rígido mas flexível, adaptável a cada situação concreta e ainda ajustável às diferentes circunstâncias, quer dos tempos, quer, num registo mais pragmático, às crescentes limitações de meios. Assim se compreenderá que muito desafiante será a “construção” da resposta à não existência de um modelo para certo tipo de cerimónia. Foi um desafio desses que, no final de 2016, inesperadamente justificou o meu regresso temporário a Portugal, pouco tempo depois de ter deixado as funções de subchefe do Protocolo do Estado. De facto, o súbito agravamento do estado de saúde do Dr. Mário Soares fazia recear que se aproximava o inevitável desenlace, impondo-se, com toda a celeridade, tomar providências quanto à preparação do que vieram a constituir as primeiras exéquias fúnebres de um chefe de Estado Português democraticamente eleito no pós-25 de abril. Esperava-me a missão de dar continuidade a um trabalho, que por minha iniciativa e com a atenção empenhada do então chefe do Protocolo do Estado, Embaixador António Almeida Lima, havia iniciado cerca de três anos antes, no sentido de suprir uma lacuna resultante de ao longo da atual democracia Portuguesa não se ter ainda vivido tal situação. Creio ser compreensível a emoção sentida, não apenas por se tratar da personalidade que era o Presidente Mário Soares, mas também, num registo muito pessoal e simbólico que me permito referir, pelo facto de, literalmente, logo no meu primeiro dia na carreira diplomática e na primeira atividade para a qual fui destacado, ter estado, nos Jerónimos, “ao lado” do então Presidente da República (naturalmente à distância que se impunha a um jovem e inexperiente adido). À frequência com que, nos meses subsequentes, por exercer funções no Protocolo de Estado, conheci essa “proximidade”, devo seguramente o conhecimento e o gosto que fui adquirindo por uma atividade tão específica e presente em todo o meu percurso profissional.


O trabalho de estudo e pesquisa que havia levado a cabo partira da constatação da não existência, em Portugal, de um cerimonial para exéquias fúnebres de Estado e da consciência da inevitabilidade da sua futura necessidade. Procurei basear-me em documentação reunida ao longo dos anos e, posteriormente à luz verde recebida do chefe do Protocolo, também em elementos de informação entretanto recolhidos. A raridade das fontes, quer legais (apenas o luto nacional está legislado), quer outras, era explicada pela sensibilidade do tema. Não obstante essa limitação, os documentos elaborados referiam algum historial quanto a precedentes nacionais e estrangeiros, identificavam os procedimentos a seguir (imediatos e subsequentes), numa espécie de plano de ação, e apresentavam propostas para o cerimonial que contemplavam diferentes opções quanto aos locais e aos formatos dos vários atos.

HONOURING A GREAT MAN AND DIGNIFYING THE STATE Jorge Silva Lopes

Conforme previsto nos documentos, foi designado um grupo de trabalho que integrava nomeadamente os representantes da família do antigo chefe de Estado, José Manuel dos Santos e Jorge Ferreira, responsáveis não apenas em manter a comunicação, mas também, como naturalmente se verificou, em participar ativamente na definição das diferentes cerimónias. O leque de participantes neste exercício, que me foi dado coordenar, incluiu ainda representantes de todas as entidades envolvidas, designadamente: órgãos de soberania, gabinetes ministeriais e CML, Protocolo do Estado, forças militares e de segurança, emergência médica, comunicação social, Teatro Nacional de São Carlos, Mosteiro dos Jerónimos. Importa referir também que decisões superiores das quais se carecia para fazer avançar os trabalhos foram facilitadas pela participação ativa nas reuniões, a partir de dada altura, das Senhoras ministra da Presidência e secretária de Estado dos Assuntos Europeus. Boa vontade, profissionalismo, espírito construtivo, sentido de Estado por todos demonstrados, conjugados com um diálogo permanente, permitiram ultrapassar as dificuldades e a delicadeza de um exercício tanto mais complexo quanto destinado a executar, a partir de um momento que não se poderia prever, uma sucessão de diligências e atos protocolares. Para além desses atos, há que lembrar ser expectável que a notoriedade internacional do Presidente Mário Soares trouxesse a Lisboa, como se confirmou, um número considerável de chefes de Estado e de delegações estrangeiras, cujo acompanhamento foi também necessário preparar. Foi, pois, um trabalho de uma equipa que se multiplicava em muitas outras equipas! Em todo este processo de passar “do papel aos atos” e construir o conteúdo de aplicação à prática , não é demais relevar o extraordinário contributo do José Manuel dos Santos. A ele se deve, para além da coreografia das diferentes cerimónias e a responsabilidade pelos seus momentos mais tocantes e emotivos, a permanente atenção ao detalhe, a criatividade, o pragmatismo e o constante diálogo que soube manter com vista a encontrar soluções para os sucessivos desafios. Nesse trabalho, foram sempre grandes objetivos honrar a memória de alguém de quem foi próximo colaborador e preservar a dignidade e a imagem do Estado. As frequentes e profícuas missões preparatórias a todos os diferentes locais contribuindo também para encontrar soluções que facultassem a participação de todos nas cerimónias. A chuva que caiu não impediu a utilização do mosteiro dos Jerónimos, local escolhido e a todos os títulos simbólico, o que permitiu situar no espaço exato do claustro toda a cerimónia evocativa. Também não dificultou os cortejos, nem a emotiva e breve cerimónia junto à Câmara Municipal de Lisboa. Quis o destino que me tivesse cabido o acompanhamento dos restos mortais do Presidente Mário Soares desde o local onde se encontravam até junto da sua residência, da sua família e da multidão que aguardava. Terá seguramente constituído um dos momentos de maior emoção em toda a minha carreira profissional. A imagem captada pela comunicação social no cemitério dos Prazeres, no quase derradeiro momento das cerimónias, logo após a entrega da bandeira nacional à família do Presidente Mário Soares, poderá atestar o cumprimento da “missão” que me foi confiada, de “salvaguarda da dignidade da República e do respeito pela figura institucional e pessoal do antigo chefe de Estado e da sua família”. Esse curto espaço de tempo terá certamente feito reviver muitas imagens à maioria dos presentes.

Não terei sido exceção, na memória guardarei todos estes momentos!

Ambassador

It is commonplace to say that an image, when portraying reality, spares the use of words, which can also be applied to the description of a State ceremony. However, in this case, a photograph will surely not be enough to explain everything behind what can be seen in it. In reality, the preparation of any of these ceremonies constitutes a complex process, which is not easily discernible, especially for the level of discretion it requires. It is also the duty of those making the preparations, to avoid unforeseeable events, as much as possible, which might alert the attention of photographers and thus diminish the dignity of the ceremony. It is not my intention to imply that both activities are antagonistic, quite the contrary, they are complementary and essential for the validation of many official acts of national dimension. For the most frequent ceremonies, a repeated practice has set a flexible model, adaptable to each specific situation and still adjustable to the different circumstances of the times, and, in a more pragmatic register, to the increasing limitations of means. It is easy to understand how challenging the “construction” of a non-existing model for a certain type of ceremony. It was one such challenge that, at the end of 2016, unexpectedly justified my temporary return to Portugal shortly after leaving the post of Deputy Head of the State Protocol. In fact, the sudden worsening of Mr. Mário Soares’ health condition, made one fear that the inevitable outcome was approaching, and it was imperative to take measures in preparation for what would become the first funeral of a Head of the Portuguese State democratically elected after the 1974 revolution. I was entrusted with the mission of continuing a work which, upon my own initiative and with the committed attention of the then Head of the State Protocol, Ambassador António Almeida Lima, had begun about three years earlier to fill a gap resulting from the fact that no State funeral had occurred yet during the current Portuguese democracy. I believe the emotion I felt was understandable, not only because it was President Mário Soares, but also, on a very personal and symbolic note, because on my first day in the diplomatic career, the first task I was assigned to, was to stand “next to” the then President of the Republic in the Mosteiro dos Jerónimos (naturally from a distance suited to a young and inexperienced attaché). I surely owe the knowledge and the taste acquired for protocol matters to the frequency with which I closely engaged with him in the following months while working at the Protocol of State. The study and research I had carried out had begun from the realisation of the non-existence of a procedure protocol for State Funeral ceremonies in Portugal and the awareness of the inevitability of its future necessity. I relied on documentation gathered over the years and also on information collected in the meantime, after receiving permission from the Head of the Protocol.


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The scarcity of sources, whether legal (only national mourning is legislated) or others, was explained by the sensitivity of the topic. Notwithstanding this limitation, the documents I drafted referred to a history of national and foreign precedents, identified the procedures to be followed (immediate and subsequent), in a sort of action plan, and presented proposals for the ceremony that included different options regarding the places and organisation of the various acts. As foreseen in the documents, a working group was appointed, which included representatives of the former Head of State’s family, José Manuel dos Santos and Jorge Ferreira, who became responsible not only for maintaining communication, but also for participating in the development of the ceremonies. The range of participants in this working group, which I coordinated, included representatives of all the entities involved, namely: sovereign bodies, ministerial offices, the Lisbon City Council, the State Protocol, military and security forces, medical emergency services, the media, the São Carlos National Theatre, and the Mosteiro dos Jerónimos. It should also be noted that higher-ranking decisions, which were needed to progress with the preparations, were facilitated by the active participation of both the Minister of the Presidency of Council of Ministers and of the Secretary of State for European Affairs. Goodwill, professionalism, a constructive spirit, and Statesmanship, demonstrated by everyone, combined with a constant dialogue, allowed us to overcome the difficulties and sensitivity of a complex protocol exercise. In addition, it should be remembered that the international reputation of President Mário Soares brought to Lisbon a considerable number of foreign Heads of State and delegations, whose escort also needed assistance. It was, therefore, a teamwork effort, dealt on many fronts! During the complete process of “theory to practice”, the extraordinary contribution of José Manuel dos Santos cannot be understated. Apart from choreographing the different ceremonies and its most touching and emotional moments, his constant attention to detail, creativity, pragmatism, and systematic communication made it possible to find solutions for the continuous amount of challenges faced. His most important objectives were to honour the memory of someone he closely worked with and to preserve the dignity and the image of the State, always. His frequent and fruitful preparatory missions to all the different venues also contributed to find solutions that would allow the participation of everyone in the ceremonies. The pouring rain did not prevent the use of the Mosteiros dos Jerónimos, the chosen symbolic venue that allowed for the evocative ceremony to take place in the cloister. Nor did it interfere with the procession, or the emotional and brief ceremony at Lisbon’s City Hall. I was destined to accompany the remains of President Mário Soares to his residence, his family and the waiting crowd. It surely was one of the most emotional moments of my entire professional career. The photo captured by the media in the Prazeres cemetery at the very last moment of the ceremony, after the delivery of the national flag to President Mário Soares’ family, can attest to the fulfilment of the “mission” entrusted to me, to “safeguard the dignity of the Republic and the respect for the institutional and personal figure of the former Head of State and his family”. This short time lapse will surely have revived many memories to most of those present.

I haven’t been an exception; I will keep all these moments in my memory!

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O FIM DE UM TEMPO Ana Sá Lopes Jornalista

O cortejo ia começar na casa de Mário Soares. Moro a sete, 10 minutos a pé, da rua João Soares. Quando acordei, quase em cima da hora, vi que o meu filho não se tinha deitado. Tinha passado a noite a trabalhar. – Não vás, disse eu. Tens que dormir. – Tenho que ir, disse ele. E debaixo do frio glaciar dessa manhã de segunda-feira, 10 de janeiro, eu e o meu filho atravessámos juntos o caminho que durante anos fizéramos no tempo em que ele era criança e eu o levava de manhã ao Colégio Moderno. Pela mão. Era um tempo que tinha acabado há muito, mas ao acompanhar-me naquele percurso que há muitos anos não fazíamos lado a lado, era como se fosse agora ele a dar-me a mão para enfrentarmos juntos o tempo que agora tinha acabado. O tempo de Mário Soares. Quando chegámos à rua João Soares uma das primeiras pessoas que vi foi o senhor Branquinho que, nos últimos tempos, além de segurança, foi grande amigo e apoio do ex-Presidente da República, e que várias vezes me disse: – Eu nem quero pensar como vou ficar no dia em que ele morrer. Não me consegui aproximar do senhor Branquinho para lhe dizer nada. À porta do número 2 da rua João Soares – a rua que Mário Soares habitava desde adolescente, quando os pais decidiram fundar o colégio – estavam os filhos João e Isabel, o amigo de sempre José Manuel dos Santos, Jorge Coelho, o sobrinho Eduardo Barroso. Os alunos do Colégio Moderno perfilavam-se à porta da escola para dar o último adeus a Mário Soares. Aí o meu filho largou-me a mão, a mão psicológica, e disse: – Vou ter com os meus. Os dele eram os miúdos do Colégio Moderno. Eu fiquei com os meus colegas jornalistas. Não tínhamos grandes coisas a dizer uns aos outros, mas tentámos mudar de assunto e dizer mesmo algumas piadas que é uma forma como outra qualquer de reagir ao fim de um tempo.


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Os miúdos do Colégio a aplaudir a passagem do corpo de Mário Soares foi uma das coisas que mais me comoveu no funeral, talvez a par dos discursos de Isabel Soares e de João Soares no dia seguinte na cerimónia dos Jerónimos. Ou a vénia solitária de Jaime Gama à passagem da urna – a homenagem discreta daquele a quem um dia Soares chamou «peixe de águas profundas» cujas relações com o fundador do PS passaram pelos melhores dos tempos e pelos piores dos tempos. No fim de um tempo, o que sempre sobra é o melhor dos tempos. No largo em frente ao cemitério dos Prazeres encontrei o dr. Vera Jardim. Sendo ele sucessor de Mário Soares à frente da Comissão para a Liberdade Religiosa, não teve lugar nos Jerónimos e nem sabia ao certo se poderia entrar no cemitério, já que estava montada uma rede de segurança incompatível com o feitio de Mário Soares. Mas, vá lá, entrámos os dois.

THE END OF AN ERA Ana Sá Lopes Journalist

Ficámos à espera que o cortejo que tinha atravessado os lugares simbólicos de Mário Soares – a Assembleia da República e a Fundação, mais ou menos em frente, o Partido Socialista no Largo do Rato – chegasse. Chegou. Aí finalmente alguém se lembrou que o dr. Vera Jardim merecia o lugar que merecia. Confesso que na altura várias coisas do protocolo de Estado me irritaram. Mas, enfim, Mário Soares também nunca tinha sido o mais protocolar dos homens (tirando a sua britânica pontualidade). Também não gostei do armão militar, que me fazia lembrar a carroça para onde tinham sido atirados os regicidas Buíça e Alfredo Costa. Mas percebo que o funeral de Soares não pudesse ser feito numa carruagem monárquica. Umas das coisas que eu não queria era chorar. Mas no cemitério dos Prazeres, quando o altifalante fez ecoar a voz de Mário Soares num discurso de 1986, não consegui fazer o que queria. O fim do tempo de Mário Soares é um encerramento de um tempo para três gerações. Fiquei praticamente até ao fim. Ao contrário dos amigos que convocam esta exposição, não gosto de cemitérios. Nasci no Minho, o lugar dos cemitérios imponentes, mas sempre me impressionou passar por eles, olhá-los, entrar lá dentro. Cada um de nós é diferente ao lidar com a morte e eu não sou boa nisso. Mas, não sei como, vi-me a ficar até ao fim nos Prazeres até quase já não sobrar ninguém no funeral do dr. Mário Soares. Sozinha. As minhas colegas de jornal tinham já ido trabalhar. À saída do cemitério dos Prazeres encontrei a minha amiga Patrocínia César. Alguém nos fotografou. Estamos as duas com cara de quem só ali se deu verdadeiramente conta de que o funeral de Mário Soares marcava, mais do que algum acontecimento dos últimos anos, o fim de um tempo.

The procession was due to start at Mário Soares’ house. I live seven to ten minutes walking distance from João Soares street. When I woke up, almost late, I noticed my son hadn’t gone to bed. He had spent the night working. – “Don’t go”, I told him. “You’ve got to get some rest”. – “I have to go”, he said. And under the glacial cold of that Monday morning, 10th of January, me and my son went down the path we took for years, when he was a child and I would walk him to Colégio Moderno in the morning, by the hand. It was a time that was now long gone, but by walking with me down that road that we had failed to do side by side for so many years, it was as if now he could hold my hand so we could face the end of Era, together. Mário Soares’ era. When we arrived at João Soares street, one of the first people I saw was Mr. Branquinho, whom had been, apart from his security guard, a great friend and supporter of the former President, in the last few years. He told me several times: – I don’t even want to think of how I’ll feel on the day he dies. I couldn’t get closer to Mr. Branquinho to offer him some kind words. Standing at the door of No. 2 on João Soares street – the street Mário Soares had lived in since his teenage years, when his parents founded the school – were his children João and Isabel, his old time friend José Manuel dos Santos, Jorge Coelho and his nephew Eduardo Barroso. The Colégio Moderno students lined up by the door of the school to bid a final farewell to Mário Soares. That was when my son let go of my hand, and my mind’s hand, and said: – I’m going to stand with my own. His own were the children from Colégio Moderno. I stayed with my journalism colleagues. He barely had anything to say to each other, but we tried to change subject and tell a few jokes as a way to react to the end of an era.


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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

The school children applauding as the body of Mário Soares passed by was one of the most touching things for me at the funeral, maybe just as much as João Soares and Isabel Soares’ speeches the next day at the Mosteiros dos Jerónimos ceremony. Or Jaime Gama’s solitary bow as the coffin was carried – a discreet tribute from a man who Mário Soares had once called “deep-water fish”, and whose relationship with the leader of the Socialist Party went through some of its best and worst moments. At the end of an era, all that’s left is the best of times. I found Dr. Vera Jardim at the square in front of the cemetery. Having succeeded Mário Soares as the leader for the Religious Freedom Committee, he had no place at the Mosteiro dos Jerónimos and didn’t quite know if he could enter the cemetery since a security operation, one that was incompatible with Mário Soares’s character, had been set up. We both waited for the procession to arrive, having gone first by symbolic places for Mário Soares – the Parliament and his Foundation, which were close to each other, and his Party’s headquarters in Rato’s Square. As it arrived, someone finally decided that Dr. Vera Jardim should have the place he earned. I must admit that, at the time, some things about State Protocol were irritating me. But then again, Mário Soares had never been one for protocols (apart from his British-like punctuality). I also didn’t like the military carriage, which reminded me of the wagon where the Buiça and Alfredo Costa, two known King murderers, had been thrown into. But I understand that Mário Soares’ funeral couldn’t be done using a royal carriage. One of the things I didn’t want to do was cry. But at the Cemitério dos Prazeres, when the speaker echoed Mário Soares’ voice in a speech from 1986, I couldn’t hold it in. The end of Mário Soares’ era is the end of an era for three different generations. I stayed almost till the end. Contrary to some friends who organized this exhibition, I don’t like cemeteries. I was born in Minho, land of stately cemeteries, but I was always bothered when I passed by them, or by looking at them or going into one. Each of us is different at dealing with death, and I’m not good at it. However, and without knowing how, I saw myself lingering on at the cemetery, until almost everyone was gone. Alone. My newspaper colleagues had gone back to work. Outside the cemetery I found my friend Patrocínia César. Someone took a photograph of us. We both look like we had just realised that Mário Soares’ funeral was a mark for end of an era, more than any other event in the past few years.

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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

CATÁLOGO | CATALOGUE


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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Antรณnio Pedro Santos

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Armindo Ribeiro

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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

Leonardo Negrão

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Nuno Moreira

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Sara Matos

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Campiso Rocha

6


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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Manuel de Almeida

7


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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

Luís Filipe Catarino

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Miguel Gomes Baltazar

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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

Rui Gaudêncio

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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

João Relvas

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Francisco Leong

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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

João Porfírio

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Paulo Petronilho

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Alfredo Cunha

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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

Luís Carvalho

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Diana Tinoco

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Vitor Mota

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Mariline Alves

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Ivo Rainho Pereira

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Mรกrio Cruz

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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

Luís Barra

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Daniel Rocha

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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

Patrícia de Melo Moreira

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Eric Vives-Rubio

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Paulo Vaz Henriques

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Hugo Amaral

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Nuno Ferreira Santos

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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

Sérgio Lemos

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Nuno Fox

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Nuno Botelho

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Bruno Colaรงo

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Antรณnio Pedro Ferreira

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Rafael Marchante

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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

Américo Simas

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Pedro Catarino

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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

José Carlos Carvalho

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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

João Girão

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Miguel Figueiredo Lopes

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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

Álvaro Isidoro

40


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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Manuel Levita

41


118

A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Paula Nunes

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Tiago Miranda

43


122

A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

Luís Saraiva

44


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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Miguel Lopes

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Nuno Correia

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Pedro Nunes

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Antรณnio Cotrim

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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

Filipe Amorim

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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

Fichas de Catálogo | Catalog cards 1

António Pedro Santos

Lusa

Claustro do Mosteiro dos Jerónimos | Jerónimos Monastery’s Cloister

2

Armindo Ribeiro

Câmara Municipal de Lisboa

Antigo Refeitório dos Frades do Mosteiro dos Jerónimos | Jerónimos Monastery Friars’ Dining Hall

3

Leonardo Negrão

Diário de Notícias

Assembleia da República – Palácio de São Bento | Parliament – São Bento Palace

4

Nuno Moreira

Nova Gente

Claustro do Mosteiro dos Jerónimos | Jerónimos Monastery’s Cloister

5

Sara Matos

Diário de Notícias

Câmara Municipal de Lisboa – Praça do Município | Lisbon City Hall – Município Square

6

Campiso Rocha

Caras

Claustro do Mosteiro dos Jerónimos | Jerónimos Monastery’s Cloister

7

Manuel de Almeida

Lusa

Cemitério dos Prazeres | Prazeres Cemetery

8

Luís Filipe Catarino

Fotógrafo oficial do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa | Official Photographer for the Mayor of Lisbon

Cais das Colunas – Praça do Comércio | Cais das Colunas – Comércio Square

9

Miguel Gomes Baltazar

Jornal de Negócios

Ribeira das Naus | Ribeira das Naus

10

Rui Gaudêncio

Público

Av. 24 de Julho | 24 de Julho Avenue


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11

A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

João Relvas

23

Daniel Rocha

Lusa

Público

Presidência da República – Palácio de Belém | Presidency of the Republic – Belém Palace

12

Francisco Leong

24

Patrícia de Melo Moreira

Agence France-Presse (AFP)

Agence France-Presse (AFP)

Sede do Partido Socialista – Largo do Rato | Socialist Party Headquarters – Rato Square

Claustro do Mosteiro dos Jerónimos | Jerónimos Monastery’s Cloister

13

João Porfírio

25

Eric Vives-Rubio

Jornal I

Público

Av. 24 de Julho | 24 de Julho Avenue

14

Paulo Petronilho

26

Paulo Vaz Henriques

Av. da Liberdade | Liberdade Avenue

Fotógrafo oficial do Primeiro-Ministro

Claustro do Mosteiro dos Jerónimos | Jerónimos Monastery’s Cloister

15

Alfredo Cunha

Assembleia da República – Palácio de São Bento | Parliament – São Bento Palace

27

Hugo Amaral

Claustro do Mosteiro dos Jerónimos | Jerónimos Monastery’s Cloister

Câmara Municipal de Lisboa – Praça do Município | Lisbon City Hall – Município Square

Observador

16

Luís Carvalho

Cemitério dos Prazeres | Prazeres Cemetery

17

Diana Tinoco

Público

Jornal I

Capela do Cemitério dos Prazeres | Prazeres Cemetery’s Chapel

18

Cemitério dos Prazeres | Prazeres Cemetery

19

Mariline Alves

Lusa

Correio da Manhã

Sede do Partido Socialista – Largo do Rato | Socialist Party Headquarters – Rato Square

Sede do Partido Socialista | Socialist Party Headquarters

31

Nuno Botelho

20

Ivo Rainho Pereira

Expresso

TV Guia /Flash

Cemitério dos Prazeres | Prazeres Cemetery

21

Mário Cruz

Claustro do Mosteiro dos Jerónimos | Jerónimos Monastery’s Cloister

28

Nuno Ferreira Santos Claustro do Mosteiro dos Jerónimos | Jerónimos Monastery’s Cloister

29

Sérgio Lemos

Vitor Mota

Correio da Manhã

Correio da Manhã

Claustro do Mosteiro dos Jerónimos | Jerónimos Monastery’s Cloister

30

Nuno Fox

Lusa

Mosteiro dos Jerónimos | Jerónimos Monastery

22

Luís Barra

Visão

Claustro do Mosteiro dos Jerónimos | Jerónimos Monastery’s Cloister

Sede do Partido Socialista – Largo do Rato | Socialist Party Headquarters – Rato Square

32

Bruno Colaço

Correio da Manhã

Jazigo da Família Barroso Soares – Cemitério dos Prazeres | Barroso Soares’s Family Vault – Prazeres Cemetery

33

António Pedro Ferreira

Expresso

Cemitério dos Prazeres | Prazeres Cemetery


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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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139

O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

Rafael Marchante

45

Miguel Lopes

Reuters

Lusa

Sede do Partido Socialista – Largo do Rato | Socialist Party Headquarters – Rato Square

35

Américo Simas

46

Nuno Correia

Câmara Municipal de Lisboa

Câmara Municipal de Lisboa

Cemitério dos Prazeres | Prazeres Cemetery

Cemitério dos Prazeres | Prazeres Cemetery

36

Pedro Catarino

47

Pedro Nunes

Correio da Manhã

Reuters

Sede do Partido Socialista | Socialist Party Headquarters

Cemitério dos Prazeres | Prazeres Cemetery

48

António Cotrim

37

José Carlos Carvalho

Cemitério dos Prazeres | Prazeres Cemetery

Visão

Lusa

Praça do Império | Império Square

38

João Girão

Antigo Refeitório dos Frades do Mosteiro dos Jerónimos | Jerónimos Monastery Friars’ Old Dining Hall

49

Filipe Amorim

Sol

Diário de Notícias

Rua do Ouro | Ouro Street

Antigo Refeitório dos Frades do Mosteiro dos Jerónimos | Jerónimos Monastery Friars’ Old Dining Hall

39

Miguel Figueiredo Lopes

Fotógrafo oficial do Presidente da República

Presidência da República – Palácio de Belém | Presidency of the Republic – Belém Palace

40

Álvaro Isidoro

Diário de Notícias

Rua do Ouro | Ouro Street

41

Manuel Levita

Câmara Municipal de Lisboa

Câmara Municipal de Lisboa – Praça do Município | Lisbon City Hall – Município Square

42

Paula Nunes

Eco

Claustro do Mosteiro dos Jerónimos | Jerónimos Monastery’s Cloister

43

Tiago Miranda

Expresso

Mosteiro dos Jerónimos – Praça do Império | Jerónimos Monastery – Império Square

44

Luís Saraiva

Fotógrafo oficial do Presidente da Assembleia da República

Mosteiro dos Jerónimos – Praça do Império | Jerónimos Monastery – Império Square


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A CERIMร NIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mรกrio Soares visto pelos Fotรณgrafos

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A CERIMÓNIA DO ADEUS

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O Funeral de Estado de Mário Soares visto pelos Fotógrafos

EXPOSIÇÃO

PUBLICAÇÃO

Organização | Organization Câmara Municipal de Lisboa Associação dos Amigos dos Cemitérios de Lisboa

Título | Title A Cerimónia do Adeus – O Funeral de Estado de Mário Soares Visto pelos Fotógrafos

Curadoria | Curator José Manuel dos Santos

Edição | Editing Câmara Municipal de Lisboa Associação dos Amigos dos Cemitérios de Lisboa

Assistentes de Curadoria | Curator Assistants Margarida Chantre António Soares

Coordenação | Coordinator José Manuel dos Santos Jorge Ferreira

Coordenação Executiva | Executive Coordination Jorge Ferreira (Associação dos Amigos dos Cemitérios de Lisboa) Sara Gonçalves (Divisão de Gestão Cemiterial – CML)

Assistente de Coordenação | Coordinator Assistant Tiago Gonçalves

Assistente Executivo | Executive Assistant Tiago Gonçalves Projeto museográfico | Museographic project José Dias - Design, Lda. Produção gráfica | Graphic production PortoDesign, Lda. Tradução | Translation Eduardo Feteira Construção | Construction Barata e Santos, Lda. Iluminação | Lighting Efeito Especial

Textos | Texts Fernando Medina José Manuel dos Santos Jorge Silva Lopes Ana Sá Lopes Design gráfico | Graphic Design José Dias - Design, Lda. Tradução | Translation Eduardo Feteira Impressão | Printing Soartes - Artes Gráficas, Lda. ISBN 978-989-20-8161-8 Depósito Legal | Legal Deposit ... ?

© Câmara Municipal de Lisboa Associação dos Amigos dos Cemitérios de Lisboa Janeiro | January, 2018



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