Respeitável Público do Sertão das Cotias

O Carnaval de Paraitinga

Respeitável público do Sertão das Cotias

Flores, chitas e o Carnaval de Paraitinga Caíque Toledo

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Caíque Toledo

Respeitável público do Sertão das Cotias Flores, chitas e o Carnaval de Paraitinga

2014

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Autor Caíque Toledo Orientação e revisão Robson Bastos da Silva Design Gráfico e diagramação Paulo Donizetti Foto de capa Rogério Marques

Ficha catalográfica elaborada pelo SIbi - Sistema Integrado de Bibliotecas / UNITAU C198r

Campos, Caíque Toledo de Camargo Respeitável Público do Sertão das Cotias: Flores, chitas e o Carnaval de Paraitinga / Caíque Toledo de Camargo Campos - 2014.

130 f.:; il.

Projeto Experimental (Graduação em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo) - Universidade de Taubaté,

Departamento de Comunicação Social.

Orientação: Prof. Dr. Robson Bastos da Silva.

Departamento de Comunicação Social.

1. São Luiz do Paraitinga. 2. Carnaval. 3. Marchinhas.

I. Título

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Caíque Toledo

Respeitável público do Sertão das Cotias Projeto Experimental de caráter profissional, elaborado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, sob orientação do professor Dr. Robson Bastos da Silva.

Universidade de Taubaté Taubaté, SP 2014

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agradecimentos Chuva de Confetes

Em primeiro lugar para Marcia e Thomaz, popularmente conhecidos como meus pais. Por acreditarem em mim quando eu insisti que queria fazer jornalismo, apesar de, eu sei, eles preferissem medicina ou alguma engenharia da vida. À família em geral, em especial o lado ‘luizense’ dela: o avô Camargo, o tio Gilmar e o primo Rodrigo.

Aos amigos que fizeram dos quatro últimos anos os melhores da minha vida. Entre alguns dos principais, os melhores amigos Camila e Théo, os melhores jornalistas Cecília e Thiago, a companheira de lamentação Milena, o confidente Igor, o louco Felício, o carioca Eros e as incríveis Marcella e Vivian. Sem esquecer de Tor, Samuel, Babi, Lutty, Lilian, Laurene, Alê, Gabriel, Vivian Ferraz, Mari Cassador, Maíra, Amanda, Marisa, Bruna, Marvin, Orlando, Renata, Sanya, Sarah, Bárbara, Zandonadi, Barbosa, João, Ana, Leo Gonzaga, Pedrão, Vitor, Riron, Tassara, Bernardo, Aline, Caio e tantos outros. Ufa. Também, claro, ao Galvão da padaria. Não dá para ser hipócrita justo no último ano, não é?

Fora da faculdade, os que estão comigo sempre: Lucas, Flávio, Rosa. Vinicião, Renan, Lucien. Tauil, Pedras, Matheus, Avellar. Fabrício, Pé, Pablo. E também todos os amigos que estão longe, que na verdade não tem nenhuma diferenciação para os que normalmente estão ao lado.

Com lembranças para os destaques de 2014: a dupla dinâmica Eduardo e Marcel, o parceiro Matheus Rocha, a amiga Amanda Gonçalves, a companheira Mari Antunes, a incentivadora Adriana Lage e também a Ana Karol, melhor pessoa do mundo.

Ao pessoal do O VALE e da Gazeta de Taubaté, que, lá em 2011, deram uma chance para um projeto de jornalista com 18 anos, que ainda achava que podia mudar o mundo. Hoje, graças a Guilhermo, Júlio, Sardinha, Bruno, Rogério, Michelle, Paulão, Daniel e Marquinhos, ele tem certeza que pode.

Aos professores que, risos, sempre me ajudaram como puderam nos quatro anos de faculdade. Em especial ao Robson Bastos, o melhor orientador que qualquer comunicador pode ter. E também um agradecimento especial a Maurílio, César e Edilene. Também para todos que participaram deste livro-reportagem, principalmente os próprios luizenses. Em especial, Galvão Frade, Benito Campos e Judas Tadeu de Campos, que gastaram horas para me darem verdadeiras aulas sobre o nosso Carnaval. Maria Alice e Degiovani Lopes, dois mentores ‘inconscientes’, também precisam ser lembrados.

A quem, de qualquer maneira, ajudou a construir esse livro, que na verdade é só um símbolo para representar tudo que de melhor aconteceu na minha vida nos últimos tempos. E, claro, é óbvio eu deixei de citar muita gente que teve importância nesses anos. Mas, se são mesmo meus amigos, sabem bem que memória nunca foi o meu forte.

Devo, com certeza, tudo que tenho e que terei a todos vocês. E o melhor de tudo é saber que, do céu, do purgatório, ou do inferno, ninguém escapa. É a garantia de que, de jeito ou de outro, pelo menos alguns de vocês eu vou ter pra vida toda e, caso seja assim mesmo que funciona, também lá ‘do outro lado’. Obrigado, obrigado, obrigado.

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“Respeitável público do Sertão das Cotias, Hoje estamos aqui para convidá-los a participarem das festividades de Momo.

Como viver sentindo a passagem do tempo?

Do céu, do purgatório e do inferno, ninguém escapa.

Sabem por quê?”

Discurso de abertura do bloco Juca Teles

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Índice Índice

Prefácio 15 Introdução 17 Capítulo I - Paraitinga, Paraitinga, engalanada de flores e luz

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Capítulo II - A proibição católica e o Carnaval sem rabo e chifre

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Capítulo III - Encucando o Carnaval

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Capítulo IV - O Festival de Marchinhas Carnavalescas

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Capítulo V - Juca Teles do Sertão das Cotias e outros blocos

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Capítulo VI - Como viver sentindo a passagem do tempo?

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Capítulo VII - A imprensa e o Carnaval luizense

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Capítulo VIII - Por luizenses e para luizenses

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Capítulo IX - O céu, o purgatório e o inferno

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prefácio prefácio

Se alguém muito desinformado passasse por São Luiz do Paraitinga, nem desconfiaria de como a pacata cidade é capaz de se transformar durante o Carnaval. Para o olhar estrangeiro, incapaz de detectar a dinâmica local, nada acontece naquelas ladeiras.

Bastaria um tempinho por lá, porém, para perceber que nem tudo é caboclo descalço puxando fumo.

Há sempre algo rolando, algum evento religioso, alguma festa na rua, alguma comilança programada. A vida cultural da cidade é tão pungente que o Carnaval é apenas mais uma de suas manifestações. Estudá-las como fenômenos sociais é de extrema importância. Há quem vá para o Carnaval de São Luiz apenas pela festa, e com toda a razão. Mas há aqueles que, para além do entretenimento, buscam captar seu significado, desvendando os bastidores. O resultado de tal investigação é este livro-reportagem, que pode aliviar a barra dos que vão só pela farra, deixando para o Caíque a tarefa de preocupar-se com o outro lado do Carnaval.

No mundo globalizado, existe uma tendência de olhar para as cidades do interior como núcleos de resistência cultural, onde se preserva uma identidade local que, em função do progresso devastador, as grandes metrópoles atropelaram faz muito tempo. Não à toa, muitos dos maiores eventos culturais se dão no interior, nos charmosos palcos das cidades pequenas – como, por exemplo, Paraty, Paulínia, São Francisco Xavier, Tiradentes, Gramado e, claro, São Luiz do Paraitinga.

Nesse sentido, o trabalho de Caíque é um importante registro do Carnaval luizense, e, partindo de uma perspectiva atualizada, dos anos 80 para cá, confirma que a riqueza cultural de seu povo continua sendo referência para o país. Afinal, não tem padre que não pule no Carnaval de São Luiz do Paraitinga.

Guilherme Tauil

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introdução introdução

Terça­-feira, 19 de fevereiro de 1980.

“Há sessenta anos que os doze mil habitantes de São Luiz do Paraitinga, a 170 quilômetros de São Paulo, não brincam o Carnaval.”

Essa foi a abertura de uma reportagem da Rede Globo de Televisão, exibida pelo Jornal Hoje naquela tarde de fevereiro, bem no início dos anos 80. O apresentador Wellington de Oliveira fazia a chamada para uma matéria da repórter Maria Christina Pinheiro.

O tema era curioso. Em plena década de 80, havia em São Paulo uma cidadezinha que não comemorava a maior festa popular do Brasil. De fato, não havia Carnaval em São Luiz do Paraitinga. Mais de 60 anos antes, um padre italiano, designado pela Diocese de Taubaté para assumir a paróquia luizense, alegou que o Carnaval não era uma festa cristã. Dizia, inclusive, que fiéis que participassem de eventos carnavalescos poderiam ser castigados. Os boatos contam que, em uma de suas pregações, ele chegou a dizer que nasceriam rabos e chifres em todas as pessoas que brincassem o Carnaval. Vejam só.

De volta ao início dos anos 80, a reportagem da TV Globo foi um verdadeiro marco em São Luiz. Se causava tanta estranheza uma cidade que não pulava o Carnaval, por que, então, não começarmos?

E foi o que aconteceu. Festival de Marchinhas, criação dos blocos,

envolvimento cultural... Anos depois, São Luiz do Paraitinga estaria conhecida não só pelos filhos ilustres Oswaldo Cruz e Elpídio dos Santos, mas por ter um dos principais Carnavais do Brasil.

O que diria o italiano Monsenhor Ignácio Gióia se visse a cidade tomada por quase 200 mil pessoas em cinco dias da festa que considerava profana? Se visse que o New York Times, um dos principais jornais do mundo, noticiou e exaltou a festa de São Luiz, que ficou conhecida por todo o Brasil… o que ele diria?

Fato é que o Carnaval luizense se tornou destaque, e apaixona foliões. Pela festa, pela cultura, pelo envolvimento do povo. E uma reportagem de TV foi o empurrão que São Luiz precisava. A ‘cidade que não brincava o Carnaval’, inconscientemente ou não, decidiu fazer história.

Sábado, 1º de março de 2014.

“Respeitável público do Sertão das Cotias. Hoje estamos aqui, para convidá-los a participarem das festividades de Momo”, grita Benito Campos, trajado de Juca Teles, em cima do caminhão. Em alto e bom tom, ele avisa aos 30 mil foliões ao meio dia do sábado de Carnaval que é hora de começarem as festividades luizenses. E sabem por quê? Porque hoje, como ontem, como amanhã, ou como qualquer dia desde o início dos anos 80, porque hoje é Carnaval em São Luiz do Paraitinga.

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Rogério Marques

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Respeitável público do Sertão das Cotias Flores, chitas e o Carnaval de Paraitinga

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apítulo I

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Paraitinga,

Paraitinga,

engalanada de flores e luz մմ Capítulo I

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O maior conjunto arquitetônico tombado do estado de São Paulo fica cerca de 170 quilômetros da capital paulista. Fundada em 1769, a estância turística de São Luiz do Paraitinga hoje é reconhecida pelos antigos casarões de seu patrimônio histórico, por seus filhos ilustres (como o médico Oswaldo Cruz e o músico Elpídio dos Santos) e, desde a década de 80, pelo forte Carnaval. Às margens do rio Paraitinga, um dos principais formadores do rio Paraíba do Sul, São Luiz é localizada no meio da Serra do Mar do Vale do Paraíba paulista. Conhecida como ‘o último reduto da cultura caipira do estado de São Paulo’, São Luiz tem 10.721 habitantes (censo IBGE 2013), e mantém toda a cultura religiosa e arquitetônica, com seus mais de 450 casarões tombados como patrimônio histórico.

A Capital das Marchinhas, na verdade, tem quatro datas históricas sobre sua fundação. A primeira em 5 de março de 1688, quando o Capitão de Taubaté, Felipe Carneiro Alcaçouva e Souza, entregou as primeiras sesmarias para povoar a região dos sertões do Paraitinga. A segunda, comemorada como aniversário da cidade é de 2

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de maio de 1769: foi deferida uma petição para uma nova povoação entre as cidades de Taubaté e Ubatuba, criando oficialmente São Luiz e Santo Antonio do Paraitinga. Em 31 de março de 1773, São Luiz foi elevada à Vila, e, anos mais tarde, em 30 de abril de 1857, foi elevada novamente, dessa vez à categoria de cidade: passou a ter a denominação de ‘Imperial Cidade de São Luiz do Paraitinga’.

Em seus anos como Vila, São Luiz teve sua economia baseada na agricultura, com o plantio de feijão, milho, mandioca e cana de açúcar. Governador da capitania de São Paulo, Dom Luis Antonio de Souza Botelho, o Morgado de Mateus, ordenou que os tropeiros receberiam uma área de terra para lavoura. Com uma localização privilegiada para transportes e escoamento de produtos de plantio, São Luiz teve rápido progresso, sendo inclusive apelidada de ‘Celeiro do Vale’. Anos mais tarde, já com uma queda de produção, São Luiz passou a apostar no café. O produto já era grande fonte de renda para muitas cidades do Vale do Paraíba Paulista, mas só depois veio chegar em Paraitinga.

Ao fim do Século XIX, o café começou a deixar o Vale rumo ao oeste do estado. Com isso, os luizenses passaram por um fraco momento em sua economia. Uma melhora só foi registrada no início do Século XX, com as atividades da pecuária leiteira ­­que, até a década de 80, foi a principal produção na verba de São Luiz.

A cidade também é muito conhecida por seu histórico de eventos festivos e religiosos. Não só o Carnaval, que chega a levar mais de 180 mil foliões por ano até a pequena cidade do interior paulista, mas também pelas próprias festas relacionadas ao folclore luizense.

A principal delas é o Festival de Marchinhas, que antecede o Carnaval todos os anos. Com músicos da própria São Luiz competindo entre si, ele surgiu em 1984, na época da retomada do Carnaval luizense. Outro importante evento é a tradicional Festa do Divino Espírito Santo, que tem suas primeiras referências datadas de 1803, sendo a principal festa religiosa da cidade. Além do Divino e do Festival de Marchinhas, a cidade também comemora a Festa de Reis, Festa de São Sebastião, Semana Santa, Festa de São Benedito,

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Semana da Canção, Festa do Padroeiro, Semana Elpídio dos Santos, Semana Oswaldo Cruz, Festa do Saci, Festa de Santa Cecília, entre outros. Em São Luiz, tudo termina em festa.

Com um povo acolhedor e mantendo as tradições caipiras, São Luiz viveu seus piores dias na virada dos anos de 2009 e 2010. A forte chuva fez com que o rio Paraíba registrasse a maior alta de sua história, prejudicando a estrutura de dezenas de casarões e fazendo oito deles serem destruídos. A Igreja Matriz, principal símbolo arquitetônico da cidade, não resistiu a enchente, e também teve grande parte de suas paredes destruídas -- ela só foi reinaugurada em maio de 2014. Nada, no entanto, que deixasse de lado o histórico do povo luizense de manter suas tradições. Este 2010 foi o primeiro em 30 anos que não houve o Carnaval, mas meses depois a cidade já estava preparada para outros eventos. Nos anos seguintes, mesmo com modificações em locais e trajetos, o maior Carnaval de rua do estado de São Paulo voltou a receber os foliões.

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25 Jerry Rodrigues

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apítulo II

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A proibição católica e o Carnaval sem rabo e chifre մմ Capítulo II

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Historicamente, as principais festas e tradições luizenses são ligadas a religião. Entre as principais manifestações populares de São Luiz, estão a congada, o Moçambique, as cavalhadas, a dança de fitas e, principalmente, a Folia do Divino. A Festa do Divino Espírito Santo de São Luiz do Paraitinga tem seus primeiros registros datados de 1803: a cada ano, um festeiro é escolhido para ser o organizador principal do evento, que dura dez dias. O encontro das bandeiras e a procissão do Divino são momentos marcantes para a população luizense, sempre muito ligada a fins religiosos.

Mas o povo luizense é muito festeiro, e não era diferente com o Carnaval. A primeira notícia que se tem sobre a principal forma de manifestação cultural brasileira data dos últimos anos do século XIX, especialmente da década de 1880. Publicações em

jornais da cidade relatam uma ‘guerra’ entre os foliões na área rural, onde as pessoas degladiavam com água e o corpo esfregado em carvão, tapioca e farinha. O Carnaval urbano de São Luiz do Paraitinga surgiu em 1894, com características venezianas, com o uso de máscaras e confetes.

Já muito popular, a festa deixou de ser unanimidade em apenas 11 anos. Em 1905, publicações da região começaram a fazer críticas sobre a decadência do Carnaval -- uma das principais ‘reclamações’ era a de quê a festa havia perdido o sentido sem o uso dos mascarados. As críticas pediam, principalmente, a volta do brilho do Carnaval dos primeiros anos. Veículos como o Jornal de Taubaté, além de mídias ligadas à igreja católica, como o A Verdade ou o O Lábaro, já falavam sobre o declínio do Carnaval

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Acervo Luiz Homero

Acervo Luiz Homero

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O bonde chique, é bonde caro e não empaca. Bonde de luxo é somente o Espanta Vaca. Espanta a vaca, espanta o boi, a urucubaca há de andar só no pé dois” Espanta Vaca (Luiz Baptista)

luizense. O A Verdade, em 1906, estampou em suas páginas que os foliões “apoteosam bem a miséria, a desfaçatez, a sujeira... Tristíssimo Carnaval... dos pobres de espírito.”

Nos anos seguintes, as temáticas do Carnaval foram bem divididas (nota-se, desde cedo, a importância da participação da imprensa no crescimento e na disseminação do Carnaval luizense).

Enquanto alguns veículos noticiavam os preparativos para a festa e exaltavam a possibilidade de um Carnaval dentro dos padrões tradicionais, outros criticavam os rumos das festividades.

A verdade é que, de qualquer forma, o Carnaval já era peça importante dentro da cultura luizense. Uma das manifestações mais antigas e mais tradicionais vinha do coletor federal Benedito Campos, o Dito Bento, que reunia seus amigos para uma grande festa em

sua chácara, onde hoje é o bairro da Várzea dos Passarinhos. Já na década de 1920, ele juntava os conhecidos em um bonde e, tocando sua concertina e distribuindo serpentinas por toda a noite, ia do centro da cidade até sua chácara. As mulheres, vestidas de branco com uma flor vermelha na lapela, representavam jardineiras.

O bonde, vermelho, remetia a cor que os animais não gostavam. Como a cidade ainda tinha hábitos extremamente rurais, o gado ainda transitava livremente. Quando as jardineiras tocavam suas buzinas ou o bonde aparecia na rua, todas as vacas saiam de perto. Assim surgiu o primeiro bloco que se tem notícia em São Luiz: o Espanta Vaca -- que, já na década de 90, foi recriado para homenagear os primeiros foliões da cidade, e hoje é um dos principais blocos do Carnaval luizense.

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A proibição católica Em 1912, houve uma mudança na religião luizense, que acabou por mexer na rotina da cidade e, principalmente, com a folia.

A recém-criada Diocese de Taubaté designou o padre italiano Ignácio Gióia para ser o vigário de São Luiz do Paraitinga. De cara, Gióia foi contra todo o ambiente festivo do povo luizense -- as histórias contam que o padre teria se revoltado com moças que, na quarta-feira pós-Carnaval, iam receber cinzas com a cabeça e as roupas cheias de confete. Buscando substituir o catolicismo caipira pelos costumes da Cúria Romana, Gióia ‘determinou’ o fim de atividades consideradas profanas.

Em seus sermões, usava a força da Igreja Católica para censurar a participação do povo em festividades que, de qualquer forma, fugissem do principal cunho religioso -- até a popular Festa do Divino, maior evento da cidade, foi interrompida por quase duas décadas. Para um município totalmente ligado à religião, palavras do padre eram praticamente regras.

Certa vez, contam os mais antigos, Gióia profetizou que haveriam enchentes no rio Paraitinga caso as profanidades não fossem interrompidas. Anos depois, em 1967, houve uma enchente que alcançou os pés da escadaria da Igreja Matriz. Bem na época do Carnaval, cerca de um terço da cidade ficou desabrigado graças a força do Paraitinga.

O mais famoso de seus ‘castigos’ teria sido afirmar que nasceriam rabo e chifre em qualquer pessoa que participasse de festas relacionadas à folia e ao Carnaval. O tal sermão nunca foi comprovado, mas luizenses mais antigos confirmam que sempre houve o temor de que os castigos apontados pelo padre realmente acontecessem. Nenhum documento comprova que o padre Ignácio Gióia (que depois viria a ser Monsenhor) realmente fez as tais pregações citadas: apenas a memória oral dos moradores ajuda a contar a história. Mas certa era sua contrariedade aos eventos festivos e, por isso, muita gente deixou de pular o Carnaval nos

bailes e clubes, que, aos poucos, foram perdendo a força -- apesar de nunca terem deixado de existir.

Luizenses mais antigos confirmam, no máximo, que Gióia repreendia as comemorações do Carnaval, a que julgava ser um erro de pecadores. O Monsenhor ficou quase 50 anos como grande perfil religioso da cidade, e é inegável a influência que causou, como ter seu nome usado como batismo para escolas e ruas. Verdade ou não, o povo luizense deixou de lado alguns costumes e tradições à época. Algumas manifestações culturais foram substituídas pelo silêncio. Afinal, bom seria evitar o surgimento de um rabo ou um chifre.

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Não se misturem com os pecadores, os índios e os pagãos. Não satisfareis os desejos e satisfações da carne. Toda alegria do Carnaval é passageira. Deus castiga quem pula ‘Il Carnavale’ com rabo e chifre.

Essa é a punição para quem desodebece o ‘Dio Santo’. A fúria de Deus é capaz de cobrir a torre desta igreja com as águas do rio Paraitinga” Personagem encenando discurso de padre Ignácio Gióia, no documentário São Luiz de Rabo e Chifre (2005)

Acervo Odilon Bonafé

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32 Divulgação / Paranga

Divulgação / Paranga

Divulgação / Instituto Elpídio dos Santos

O grupo Paranga O espírito musical de São Luiz do Paraitinga sempre foi marcante na cultura da cidade. Muito por conta do compositor Elpídio dos Santos, ilustre luizense. Nascido em 1909, Elpídio cresceu aprendendo música, e tinha uma paixão especial pelo violão. Foi, também, parceiro de Amácio Mazzaropi, compondo diversas trilhas para o cineasta.

Vítima da meningite, Elpídio faleceu em São Luiz em 1970, deixando um legado de cerca de 1.000 composições e sete filhos.

E foram alguns deles que, cinco anos após a morte do músico, resolveram criar um grupo para manter o legado deixado pelo luizense. Negão, Pio, Nena e Parê, ao lado dos amigos Galvão e Nhô, resolveram criar o Paranga, aproveitando as canções do pai para trabalhar a cultura e a musicalidade de São Luiz do Paraitinga.

Durante anos, o Paranga foi o principal símbolo da música luizense. Já com o reforço de Renata Marques, entre o fim da década de 70 e o começo da década de 80, o grupo fez pesquisas de diferentes culturas e tradições de São Luiz, como Folia de Reis, Congadas, Moçambiques e antigas modas de viola. Tudo para incorporar o repertório. Em 1980, o Paranga foi responsável pela organização de um manifesto cultural no Mercado Municipal, com a participação de 200 músicos da zonas urbana e rural da cidade.

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»» Elpídio dos Santos

Meu amor da onde vem, quero também Essa alegria de pular, cantar, dançar na folia Olhe bem, não fique só Tem sempre alguém, pra dar o nó No coração do folião Que dó, dó, dó, dó do folião” Que dó, grupo Paranga (composição Negão dos Santos)

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Divulgação / Paranga

Divulgação / Paranga

Nessa época, o grupo fez uma participação em um festival de música popular da TV Globo, cantando a música ‘Vento Noroeste’, de Elpídio, e voltou para São Luiz saudado pelo povo. Conta Galvão, aos risos, que antes os membros do Paranga eram tachados de ‘estranhos e vagabundos’. Depois do reconhecimento, em suas palavras, “as pessoas passaram a ver a música como trabalho, e não só lazer.”

Na retomada do Carnaval, nos primeiros anos de 80, o Paranga foi um dos principais entusiastas das festividades. O grupo foi responsável por uma pesquisa pela cidade, para descobrir antigas marchinhas carnavalescas. Com as composições em mãos, rodavam no mimeógrafo e faziam a distribuição na praça, para que os moradores aprendessem a cantar as músicas que, dali em diante, fariam parte do cenário luizense.

Passando por diferentes formações, com cinco CDs e participação principal no DVD do centenário de nascimento de Elpídio dos Santos, o Paranga se mantém vivo até hoje, com diversas participações em shows e festivais. Nos últimos anos, foram frequentes as parcerias com Renato Teixeira e Zeca Baleiro. A formação atual conta com, além de Negão dos Santos e Renata Marques, a filha do casal, Lia Marques, e o músico João Gaspar.

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Uma reportagem global e a retomada do Carnaval Mesmo após a morte do padre italiano, as festividades eram tímidas. Em setembro de 1979, o jornal local Correio da Terra estampou a manchete “Vamos ter Carnaval?”, contando que um grupo de amigos de São Luiz do Paraitinga havia se reunido para debater sobre a organização da festa para o ano seguinte, que seria realizada no Clube Imperial Luizense.

Já havia na cidade um grupo de samba. Os Vaga-Lumes do Morro, que tinham Elpídio dos Santos como principal compositor durante seus dois primeiros anos, surgiram em 1968.

Mas foi em 1980 que o Carnaval realmente começou a tomar forma. Uma pequena reportagem em rede nacional foi o suficiente para mexer com o brio de muitos moradores. Uma matéria da TV Globo, exibida em 19 de fevereiro daquele ano, contou a história de “São Luiz do Paraitinga, cidade sem Carnaval”. Na opinião de muitos moradores, a reportagem foi mostrada como deboche e de maneira superficial. Que a Globo teria utilizado a lenda sobre as pregações do monsenhor Gióia para ridicularizar a cidade.

A reportagem exibida no Jornal Hoje irritou luizenses, que resolveram, literalmente, colocar o bloco na rua. Foi o empurrão necessário para que a cidade, que já articulava a volta do Carnaval, iniciar uma das festas mais famosas do Brasil.

Reprodução / TV Globo

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A história começa em 1920, quando chegou aqui um padre italiano, Monsenhor Ignácio Gióia, que achava que o Carnaval era coisa do demônio” Maria Christina Pinheiro, repórter da TV Globo

Reprodução / TV Globo

Reprodução / TV Globo

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Naquele ano, a ‘cidade que não brincava Carnaval’ decidiu se reinventar. Com a concordância do então pároco Monsenhor Tarcísio e da prefeitura, a cidade já havia tido uma pequena festa nas ruas em 1980. Foi também em fevereiro deste ano que foi criada uma comissão organizadora do Carnaval luizense, presidida por João Bosco da Silva.

Entre discussões, alguns grupos foram criados. O Bloco da Farinha surgiu formado por Misael José de Almeida, que se reuniu com amigos na antiga fábrica de farinha, por exemplo. Surgiram também os blocos das Melindrosas, Zona do Agrião, do Petróleo, Garrafa de Mé e da Ovelha Negra. Todos prontos para o desfile de 1981.

No entanto, o primeiro Carnaval luizense era totalmente inspirado nas festividades do Rio de Janeiro. As culturas de massa traziam o Carnaval carioca como espelho, e, assim, a festa em São Luiz foi dessa forma caracterizada. O desfile começaria às 20h, e os blocos seguiriam da frente da Igreja das Mercês até a praça Oswaldo Cruz. Na ocasião, havia apenas uma música para os blocos: “Lenda do Carnaval Luizense”, composta por José Roberto, o Quadô. Todos os blocos teriam fantasias personalizadas, e o desfile, por ordem policial, teria seu encerramento às 23h. A partir daí, todos eram convidados a participar da continuação da festa, que aconteceria no Clube.

O jornal O Estado de S. Paulo, em matéria assinada pelo repórter luizense Judas Tadeu de Campos, anunciou em fevereiro de 81 o primeiro Carnaval dos últimos 60 anos em São Luiz.

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Isso significa também que o Carnaval por essas bandas já pegou e que, nem com enchente, padre ou seja lá o que for, de rabo e chifre, esta festa não acaba mais” Jornal Correio da Terra, fevereiro de 1982

Reprodução / O Estado

de S. Paulo - 25/02/1981

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Acervo Antonio Domingos

Acervo Antonio Domingos

Acervo Antonio Domingos

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Acervo Antonio Domingos

Reprodução / Correio

da Terra - 02/1981

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apítulo III

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Encucando o Carnaval մմ Capítulo III

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Encuca a Cuca Letras

մDe մ rabo e chifre Eram 14 dias de novembro de 1981 quando Benito Campos e Luiz Homero, sentados no banco da praça Oswaldo Cruz, inconscientemente decidiram fazer história. Em alguns minutos de conversa, surgiu a ideia de criar um bloco que brincasse as lendas religiosas da cidade. Um bloco que tivesse mais a ver com os costumes e histórias luizenses do que com a cultura de massa carioca, imposta no Carnaval daquele ano. Aos poucos, surgiu o plano de materializar as histórias em bonecos gigantes para os desfiles, e a ideia de criar uma manifestação diferente dos blocos que já existiam. Surgiu então o Encuca a Cuca, principal figura da ‘nova fase’ do Carnaval luizense.

O Encuca recuperou histórias das festas populares luizenses, como o Moçambique, a Folia de Reis e as congadas. A cada ano, era escolhido uma lenda diferente para ser homenageada, em formas de grandes bonecos, como já era tradição na cidade. Em 1982, primeiro ano do bloco nas ruas, cerca de 300 pessoas acompanharam a apresentação da Cuca, com o tema ‘Rabo e Chifre’ -- a primeira de uma série de claras provocações à Igreja Católica.

O Encuca a Cuca saiu apenas depois do desfiles dos blocos ‘tradicionais’ do Carnaval. Benito e Homero, cada um a seu jeito, contam que quando começaram a fazer os bonecos que desfilariam com o bloco, foram julgados e acusados de quererem estragar a festa, ofendendo a igreja.

Nos primeiros anos, o Encuca teve uma crítica muito grande da administração local. A prefeitura, que bancava o Carnaval e havia decidido manter a festa padronizada pela cultura de massa, fez ressalvas contra a mudança que o Encuca estraria propondo. Da primeira vez que saiu, o bloco só foi liberado após a meia-noite, após o desfile oficial. Benito, um dos criadores, conta que a justificativa era a de que o novo bloco iria ‘acabar com o Carnaval de São Luiz’. Um grande engano.

“Encuca a Cuca à Cuca Encuca a Cuca à Cuca Encuca a Cuca à Cuca Que a Cuca logo vem Encuca a Cuca à Cuca Encuca a Cuca à Cuca Encuca a Cuca à Cuca Que a Cuca à Cuca vem De outras bandas do mundo Ela, aqui hoje chegou É um grande horror!

A Cuca veio e aqui virou terror São suas manifestações macabras O seu registro dá feitiço e faz terror Que horror! Tem Cabra-cega, tem o Cabrá E Corpo-Seco do Além Encuca a Cuca à Cuca Encuca a Cuca à Cuca Encuca a Cuca à Cuca Que a Cuca logo vem Encuca a Cuca à Cuca Encuca a Cuca à Cuca Encuca a Cuca à Cuca Que a Cuca à Cuca vem Há Porca dos sete leitõezinhos Tem Boitatá, até Mula-sem-cabeça Bicho-Papão, tem Lobisomem De Rabo e Chifre, Encuca a Cuca e a Cuca vem!”

O Carnaval de Paraitinga

41 Acervo Odilon Bonafé

“

De outras bandas do mundo Ela, aqui hoje chegou É um grande horror!

A Cuca veio e aqui virou terror” Encuca a Cuca (por Luiz Homero)

մCoruja-Já մ “Já! Um mau governador é...

Quem vive pra dormir!

Já! Um bom governador é...

Quem pouco vai dormir!

մմCorvo

uem é?

“Quem é? Q ca Encuca a Cu É uma ave, oé Usada por N ca Encuca a Cu , e v a a m u É oé Usada por N ue enfeitiça Ave preta q a o de carniç Gosta muit special o é muito e O seu feitiç rniceira Essa ave ca o na sujeira Dá de band rnaval” no nosso Ca á d m é b m E ta

մմCobra-gran

de

“A cobra-grande deste Mundo En cuca a Cuca É a Cuca da serp ente que chegou pro Carnaval Por maldição, o seu corpo é dife rente Ele forma um gr ande rabo, que se arrasta pelo chão !

O seu feitiço, com eçou no Paraíso Quando a Eva se m juízo, fez trair ao Pai, Adão Deu confusão!”

Pra governar neste mundo Encuca a Cuca Vou indicar um candidato especial O nosso candidato é a Coruja-Já É a Coruja que chegou pro Carnaval!

Vai casar feitiço com progresso, Até que enfim, alguém que pouco vai dormir O nosso candidato dorme pouco, Quem pouco dorme, faz o mundo progredir!”

O Carnaval de Paraitinga

42 Acervo Odilon BonafĂŠ

O Carnaval de Paraitinga

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O Encuca a Cuca reapresentou aos foliões luizenses alguns personagens de sua mitologia, como a Cobra-Grande e a Porca dos Sete Leitõezinhos, além de novas figuras como o Corvo e a Coruja-Já. Com a temática sombria do bloco, os foliões saiam com máscaras, impossibilitando sua identificação. Conta Luiz Homero que a dúvida de identificar os foliões motivou a criação da letra do Corvo (“Quem é? Quem é?”), um dos grandes sucessos do Encuca.

Foi com o Encuca a Cuca que a cultura do Carnaval carioca foi desaparecendo de vez em São Luiz. Os luizenses começaram a perceber que o Carnaval não precisava de disputa entre os blocos, com jurados e prêmios, e que cada um deveria ter sua própria liberdade de expressão. Aquela festa organizada, com plumas, paetês, horário de entrada e poucas músicas tinha os dias contados.

De cara, o Encuca foi um sucesso. O ritual da encucação, termo dado pelos criadores para o início do bloco, passou a reunir os foliões para a apresentação dos bonecos e o lançamento de foguetes -- que acabaram dando origem à Festa do Chi pul pul, a festa junina luizense. Enquanto os rojões eram lançados (conta Benito, aos risos, que eles eram lançados em forma triangular para simbolizar a púbis feminina), o personagem intitulado Encucador-mor ‘encucava’ os participantes que tomariam as carcaças dos bonecos. Quando estourado o último foguete, os personagens ganhavam vida. E iniciavam a farra do bloco, que, ironicamente, descia a rua chamada Monsenhor Ignácio Gióia, da Igreja do Rosário até a Igreja Matriz.

O sucesso do bloco fez com que cada vez mais bonecos fossem confeccionados, sempre com os artistas designados antes da festa,

e diferentes personagens. No primeiro ano, a temática do Rabo e Chifre foi escolhida justamente para ironizar a ‘proibição’ de outros tempos, e teve a Cuca como personagem. Já em 1983, com 500 participantes, o personagem escolhido foi o Corvo. A inspiração para a música, a única do Encuca que permanece até hoje no Carnaval luizense, veio de um matadouro que existia atrás do Mercado Municipal, ‘frequentado’ por corvos e urubus. Segundo Homero, houve a intenção de buscar a passagem da Arca de Noé para escolher a ave como personagem.

No ano seguinte, a inspiração veio de uma antiga lenda luizense: a Cobra-grande. Contam os mais antigos a história de uma criança, ainda na época em que São Luiz era uma vila, que havia sido jogada no rio Paraitinga, e se transformado em uma grande serpente, que vagava pela cidade. Certa vez, durante uma enchente, o desorientado animal teria se escondido em uma caverna.

Um desmoronamento, no entanto, prendeu a Cobra por baixo do solo, e ela não conseguiu mais se soltar. Para que ela não saísse mais dali, o padre da época determinou a construção de dois templos religiosos: a Igreja Matriz foi erguida sob onde estaria sua cabeça, e a Igreja do Rosário onde estaria a cauda.

A popularidade do Cuca era enorme, e a cada ano crescia muito. Mesmo assim, ainda não tinha tanto apreço por parte do poder político da cidade. Foi em 1985 que surgiu a Coruja-Já: no período brasileiro das ‘Diretas-Já’, movimento que reivindicou eleições presidenciais diretas, a ave foi lançada pelos criadores do bloco para ser a governanta do mundo do Encuca. A letra, claramente, traz algumas ‘cutucadas’ aos políticos (“Até que enfim, alguém que pouco vai dormir / O nosso candidato dorme pouco / Quem pouco dorme, faz o mundo progredir!”).

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Acervo Odilon Bonafé

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Aos poucos, o Cuca foi crescendo desenfreadamente. O início da cobertura da afiliada regional da Rede Globo e também produções da TV Cultura, já no início da década de 90, incharam o bloco, que começou a extrapolar o limite de foliões e levar o nome luizense para outros lugares. A última aparição do Encuca deu-se com o personagem chamado de Gravolens Lau-Lau. Baseado na arruda, planta conhecida por proteger mau-olhado, o nome surgiu também como uma homenagem a figura do morador Pedro Bilard. O bloco fechou o Carnaval de 1995, saindo na madrugada de terça-feira, e nunca mais percorreu as ruas de São Luiz.

Com a popularidade, o número de adeptos foi aumentando, de maneira impossível de ser controlada. Contam os criadores que, como os foliões andavam fantasiados, críticas começaram a crescer. No início dos anos 90, com o auge da epidemia de Aids (sigla para Acquired Immunodeficiency Syndrome, ou em português Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), houveram boatos de que pessoas usavam a ‘desculpa’ das fantasias mascaradas para cutucar os foliões com seringas infectadas. O temor de que turistas, aproveitando o anonimato das máscaras, prejudicassem a integridade dos foliões foi um dos principais pontos que contribuiu para que o bloco não voltasse a sair.

O Encuca a Cuca, grande símbolo da retomada do Carnaval luizense, teve seu fim assim em 1995 -- quando o restante da festa, pelo menos, já estava totalmente caracterizado. Até hoje, a retomada do bloco é cobrada pelos luizenses mais saudosistas. Mesmo que tenha acabado há 20 anos e mesmo que nunca mais volte, o Encuca para sempre será lembrado como o grande precursor do Carnaval de marchinhas de São Luiz do Paraitinga.

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Cuca: “Bicho da cor preta, branca e vermelha, possuidor de chifres e rabo na boca rara, fantástica resultado da prevariação mercadológica e procriadora do reino Encuca a Cuca. O bicho usa o seu olhar para conseguir alto poder de encantamento e sedução: CUIDADO!!!”

Corvo: “Ave mandingueira que encucou até Noé, quando em pleno mundão d’água usou-a sedar os sinais de Deus. Ave feiticeira, o seu assento sobre algum cruzeiro, permita com seu fintar, direciona o local da morte, certa vive de comer carniça e da feitiça especial” Cobra-Grande: “Manifestação de mãe solteira que jogava filhos no rio. Amaldiçoada, transformou-se numa enorme cobra e foi no rio.

A ela debita-se o desaparecimento de vários cidadãos. Após grande enchente, alojou-se numa caverna com o rebaixamento das águas. A caverna desmoronou-se, e a cobra ficou presa sob seus escombros. Ao padre coube a solução: reconmendou-a aos poderes divinos, e acalmou a população construindo dois templos de orações, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, que sob o seu altar situa-se o rabo da cobra, e a Igreja da Matriz, que sob o altar está sua cabeça. De alguns tempos para cá, ela tem desobedecido aos mandados do padre e saído anualmente para foliar no nosso carnaval, junto com o bloco do Encuca a Cuca” Coruja: “Governanta da noite e do reino Encuca a Cuca.

Símbolo da sabedoria para os homens. No bloco Encuca a Cuca, ela é transportada num andor para ficar em posição superior de privilégio e requinte dos governantes” Graveolens Lau Lau: “Fechador de corpo e despacho de maus olhados” Outros: Sapo, Juca Espanta, Porca dos sete leitõezinhos, Lobisomem, Bicho-Papão, Bruxa Linguaruda, Cabrá, Carro do Capeta, Cabra-cega, Diabo.

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“Apocalipse” - acrílica sobre tela (1m x (0,8m)

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»» O quadro ‘Apocalipse’, feito pelo artista plástico luizense José Carlos Monteiro, retrata as lendas e histórias contadas pelo bloco Encuca a Cuca Arquivo pessoal

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Arquivo pessoal

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Acervo Odilon Bonafé

Acervo Odilon Bonafé

Acervo Odilon Bonafé

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“

Eu estava sentado ali na praça, com o Homero, quando falei que queria fazer um bloco em que a gente recuperasse as lendas de fundo moral reliososas. A gente começou a pesquisa as lendas, e materializar em bonecos gigantes. Aí foi surgindo. Veio o fato da Cuca, que não é a Cuca de Monteiro Lobato, é ‘cuca’ de ‘cabeça’.

Alguma coisa que encuca a cabeça das pessoas. Sofremos uma crítica muito grande da administração, que a gente ia acabar com o Carnaval de São Luiz com esse bloco, e tudo mais. Porque até então, era um Carnaval de inflência televisiva total, o Carnaval do Rio era a grande referência.

Só que a gente levou para frente, e deu certo. O Encuca só saia depois das 22h, e foi o sucesso que foi, com vários personagens e muita gente participando”

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“

Arquivo pessoal

»» Benito Campos

Arquivo pessoal

»» Luiz Homero

Assisti o Carnaval de 81 da sacada de casa, achei que podia contribuir de alguma forma, mas pensei que seria legal algo diferente, pegar um gancho naquela crítica do rabo e chifre. Tempos depois, na praça com o Benito, nós começamos a trocar ideias sobre o Carnaval. E falamos que faltava algo voltado para a nossa cultura, uma resposta a essa crítica e que também usasse essa condição religiosa que barrou a festa. E aí nasceu o Encuca.

Procuramos personagens lendários da mitologia de São Luiz do Paraitinga. O pessoal achou que iriamos estragar o Carnaval, porque os personagens poderiam ofender a Igreja. Falaram até que iamos soltar o diabo.

Começou com um rumor negativo, mas a gente não concordava com a cultura de massa, queria algo que fosse daqui. E foi esse sucesso”

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apítulo IV

O Carnaval de Paraitinga

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O Festival de Marchinhas Carnavalescas մմ Capítulo IV

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Durante a retomada do Carnaval luizense, em 1981, ficou definido que a festa aconteceria na rua, com palanque, corpo de jurados e desfile na praça. Bem ao estilo do Rio de Janeiro. Mas, contam os músicos da época, ninguém estipulou um estilo musical. A ideia, de que cada bloco criasse um samba para o desfile, logo veio abaixo: das cinco escolas que sairam no primeiro ano, quatro escolheram a marchinha como ritmo.

Depois do sucesso dos primeiros anos do Encuca a Cuca, surgiu a ideia de fomentar a criação musical na cidade, estimulando os compositores a fazerem marchinhas. Foi então que, em janeiro de 1984, aconteceu o 1º Festival de Marchinhas Carnavalescas de São Luiz. O evento foi realizado no Clube Recreativo Paraitinga, e teve 25 marchinhas inscritas: 20 inéditas e cinco resgatadas de compositores antigos.

O vencedor da primeira edição foi o músico Galvão Frade, na época integrante do grupo Paranga (que, nos primeiros festivais, participou como banda de apoio), com a música “D’aba Quebrada” em primeiro lugar e “Maria Rita”, em segundo. “A vida é serpentina”, composição de Elpídio dos Santos, acabou premiada com a terceira colocação. Era ali o início do que viria a ser uma das maiores tradições luizenses: um Carnaval apenas com marchinhas de compositores da cidade.

O segundo festival foi um grande sucesso. Dessa vez, em 1986, o Carnaval de Paraitinga já havia instaurado um novo bloco de sucesso, o Juca Teles, e as marchinhas confirmaram o papel de destaque. Tanto que a segunda edição recebeu cerca de 80 inscrições, e foi realizada no Clube Imperial Luizense -- que, na ocasião, comemorava 25 anos. A marchinha vencedora foi uma parceria de Galvão Frade e Negão dos Santos, então protagonistas do Paranga: ‘Não fique só’. O compositor Pedro Moradei conquistou a segunda colocação com ‘Granja do Loro’ e ‘Saudade da Serra’, de Marco Rio Branco, foi a terceira colocada.

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Em 1987, mais uma vez, não houve Festival. O evento voltou a ser realizado em 1988, mas foi a partir do ano seguinte que passou a ganhar popularidade. Em 1989, no 4º Festival de Marchinhas Carnavalescas, os organizadores receberam inscrições locais, do Vale e também de São Paulo. Desde então, instalou-se na região a TV Globo Vale do Paraíba, afiliada da Rede Globo, que passou a noticiar não só o Carnaval, mas também o Festival que o antecedia. Daí em diante, as inscrições cresceram, e o evento começou a ganhar a participação de artistas de outros estados.

E, apesar de buscar valorizar a cultura local, a partir do ano 2000 o Festival de Marchinhas Carnavalescas ganhou ainda mais notoriedade, com a participação de artistas de renome nacional, como os músicos Zeca Baleiro, Vanderléia, Chico César e Benjamin Taubkin. Na edição 2012, houve a inscrição da música ‘Pelas Costas’, composta por Marcelo Jeneci, Chico Salém, Betão Aguiar e Arnaldo Antunes.

Para os luizenses, o mais importante para o Festival, além de estimular novas marchinhas, é a participação popular, o que se torna evidente ao acompanhar os inscritos. Não há distinção de classe social, profissão ou, principalmente, idade. Na última edição, em 2014, os vencedores foram os irmãos Camilo e Caio Frade, de, respectivamente, 12 e 17 anos. A marchinha ‘Deixa meu bloco passar’ foi a vencedora do 29º Festival, entre outras 81 músicas inscritas, evidenciando que a arte realmente não tem idade.

Em 2011, quando o músico Galvão Frade venceu o 26º Festival com a música “Maria Inês”, mas o prêmio popular foi dado a Olga Fontes: aos 86 anos, subiu ao palco do coreto para cantar ‘Vovó’ e arrancar aplausos do público. Muito pela falta de distinção entre as inscrições, mas talvez pela paixão e vocação luizense pela música, o potencial artístico da cidade tenha crescido tanto: hoje, a cidade tem catalogadas mais de 2.000 marchinhas da própria São Luiz do Paraitinga.

“

Ai vovó, ai vovó Cabelos brancos, passos lentos agora Não tem mais a energia de outrora A vovó já foi bonita Foi esbelta, foi faceira Hoje só dona saudade Vem ser sua companheira Ai vovó, ai vovó Cabelos brancos, passos lentos agora Não tem mais a energia de outrora Dos salões já foi rainha Era fã da colombina Dançava com o pierrô e o alequim Com fantasia de confete e serpentina Ai vovó, ai vovó Cabelos brancos, passos lentos agora Não tem mais a energia de outrora” Vovó - Olga Fontes (2011)

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Vencedores do Festival de Marchinhas Carnavalescas

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1984 ­- 1º Festival 1°: D’aba Quebrada (Galvão Frade) 2°: Maria Rita (Galvão Frade) 3°: A vida é serpentina (Elpídio dos Santos) 1986 ­- 2º Festival 1°: Não fique Só (Galvão Frade / Negão dos Santos) 2°: Granja do Loro (Pedro Moradei) 3°: Saudade da Serra (Marco Rio Branco) 1988 - 3º Festival 1°: Glu Glu Glu (Turma do Break) 2°: Vem moreninha bonita menina (João Carlos dos Santos) 3°: Buda ou Buda (Paulo Celso Salinas) 1989 -­4º Festival 1°: A Máscara, você e eu (Ubirajara Xavier) 2°: Ilha da Folia (Jorginho BB / Galvão Frade) 3°: Asma de Gato (Jorginho BB) 1990 -­5º Festival 1°: Fada Madrinha (Paulo Celso Salinas) 2°: Velhinho da Banda (Waldemir Xavier da Cunha) 3°: Carnaval, eterna ilusão (Waldemir Xavier da Cunha) 1991 -­6º Festival 1°: Professor Brahma e cachaça (Zezé Cardoso) 2°: Fantasia de Pirata (Luiz Homero) 3°: Carnaval primavera (Maria Neide da Cunha) 1992 -­7º Festival 1°: Amor de Dentada (Pio Filho / Gustavo Salinas) 2°: Julieta dos Sertões (José Lica / Benito Campos / Moreira) 3°: Tristeza do Palhaço (Waldemir Xavier / Marcos Valério Camargo) 1993 ­- 8º Festival 1°: Se ocê vai eu vô (Paulinho Baroni) 2°: Cinderela (José Lica / Roberto Santos) 3°: Urubu Rei (Tarcísio Ferreira / Cláudio dos Santos) 1994 ­- 9º Festival 1°: Te amo (José Lica) 2°: Embaralho (Tarcísio Ferreira) 3°: Sansão e Dalila (Quadô / Roberto Santos / Ricão Moradei)

1996 -- 11º Festival 1º: O bicho vai pegar (Pedro Moradei) 2º: Coisas de Carnaval (Valéria Carini / Alexandre Peixe) 3º: Barzada (Tarcísio do Taxi)

1995 -­10º Festival 1º: Paz no Carnaval (Nonô de Moura) 2º: Ciranda de Casarões (Pedro Moradei) 3º: Só foi pena de Galinha (Ditão Virgílio)

1997 -­12º Festival (Clube) 1º: Coro de Palhaços (Marco Rio Branco) 2º: Quera Minha (Roberto Santos) 3º: Bloco da Pinga (Lúcia / Alexandre Nonô / João Carlos)

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1997 ­- 12º Festival (Praça) 1º: Maré Alta (Anísio Tatit) 2º: A praça é nossa (Afonso Pinto) 3º: Afinal do que estamos falando (Roberto Santos / Stuffa) 1998 ­- 13º Festival 1º: Loirinha (Pedro Minga) 2º: Mega festa da colina (Ditão Virgílio / Ana Rosa / Alexandre Peixe) 3º: Desatinada (Raquel Fernandes / Tarcísio Ferreira) 1999 -­14 º Festival 1º: O Bananeiro (Grupo Chapa Coco) 2º: Amor de Carnaval (Alexandre Nonô / Lúcia) 3º: Manhã de Carnaval (Zé Freire / João Carlos) 2000 -­15º Festival 1º: O Velho Tan­Tan (Zé Freire) 2º: Drama do Pato com a Flor (Tarcísio Ferreira) 3º: Especial (Alexandre Nonô / Lúcia) 2001 ­- 16º Festival 1º: Dentro do Sol (Tarcísio Ferreira / Marco Aurélio) 2º: Estrambelhados (César Nunes / Rafael Cursino / Rodolfo Santana) 3º: Cai na Real (Tarcísio Ferreira / Marco Aurélio) 2002 ­- 17º Festival 1º: Carnadeus (Netto Campos / Benito Campos) 2º: Fuxico Geral (Grupo de Sarau “Sem pé, sem cabeça”) 3º: Nosso Trato (Tarcísio do Taxi) 2003 - 18º Festival 1º: O Bumbo do Coroné (Zé Freire) 2º: Calibre 22 (César & Cisco) 3º: Um espírito carnavalesco (Amarildo Ribeiro) 2004 -­19º Festival 1º: Fantasia (César & Cisco) 2º: Estação Carnaval (Portela / Luciano Coca / Claudio Nicolini / Roosevelt) 3º: Canta cata (Gustavo Salinas) 2005 ­- 20º Festival 1º: Estrelas na mão (Luciano Coca / Rogério / Claudio Nicolini / Portela) 2º: São Luiz do Paritinga (Théo / Tarcísio Ferreira) 3º: Carnaval com Paçoca (José Lica / Rosemeire)

2006 -­ 21º Festival 1º: DJ Pirado (Benito Campos / Zé Freire) 2º: Fantasia (Nene da Viola) 3º: Lágrimas de um Menestrel (Coca / Drika / Leandro / Chico / Nicolini / Portela / Hespanhol / Vinícius) 2007 -­22º Festival 1º: Flor de Primavera (Puru / Germano Drumond / Lu Baleiro / Chicó / Pimenta) 2º: Não quero nem saber (Helinho Dindon) 3º: Chego a lenha (Bruno Soares / Zeca Fumaça) 2008 -­ 23º Festival 1º: Além do Cemitério (Afonso Pinto / César Augusto) 2º: Cordão do Homerão (Zé Freire) 3º: Cisca Reli (Humberto Martins / Maurício Novaes) 2009 - ­24º Festival 1º: Galinho Garnisé (Puru / Bruno Soares) 2º: Arco­Íris (Roberto Santos / Patrícia / Clara) 3º: Diz aí! (Rodolfo Tomazelli) 2010 -­25º Festival 1º: Lendas Macabras (Luis Eduardo Godoi / Leandro Barbosa) 2º: Sou Carnaval (Galvão Frade) 3º: Namoro Virtual (Hespanhol) 2011 -­26º Festival 1º: Maria Inês (Galvão Frade) 2º: Áio no Ôio (Paulo Padilha) 3º: Because de Você (Galvão Frade) 2012 -­27º Festival 1º: Melô da Custureira (Moreno Overá / Totó Porqueira) 2º: Vade Retro (Marco Aurélio / Thar) 3º: Bloco do Sapé (Alunos do Núcleo Escolar dos Caetanos / Giovani Santos / João Bosco) 2013 -­ 28º Festival 1º: Em foco na brincadeira (Gustavo Salinas) 2º: Recado ao rio (Maria Silva Coutinho Carvalhal) 3º: Cores inúteis (Tarcísio Ferreira) 2014 -­29º Festival 1º: Deixa meu bloco passar (Caio Frade e Camilo Frade) 2º: Cantiga de Encucar (Gustavo Salinas) 3º: Fevereiro (Ricão Moradei)

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“

“O Festival bota o fogo no Carnaval. É um evento que reúne os músicos seja para compor, para trocar uma ideia sobre arranjos, para ensaiar... É um intercâmbio de músicas. Tornou-se um evento consolidado. Sempre digo que o prêmio não é ganhar o Festival, porque você é premiado quando, de 80 inscritas, você vai para final. Porque poder participar, subir no coreto e cantar, ou ver alguém defendendo sua música, vale algum prêmio. Mas se você não ganhar e ver que sua música caiu na boca do povo... isso é o que mais vale” Galvão Frade, 55 anos Vencedor da primeira edição do Festival de Marchinhas Carnavalescas

Arquivo pessoal

Deixa a coisa rolar nesse Carnaval Pego meu chapéu de aba quebrada E saio pelo meio do salão Eu quero fantasia, batucada Colombina, serpentina com amor Enrosca no meu peito E para no meu coração, se amarra!

Esse ano eu juro, até de madrugada Carnaval pra mim é você ou nada!

D’aba quebrada (Galvão Frade) Música vencedora do 1° Festival de Marchinhas Carnavalescas, em 1984

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“

Para, para, para, para na contramão Que o meu bloco vai passar Estenda a euforia, vista a fantasia Dê a mão pra alegria , e vá de encontro à folia Deixe se levar pela harmonia, Deixa suar, entre em sintonia E cante, deixe florar sua emoção Carnaval com você, deixa ferver Deixar nascer, a alegria de um folião Enquanto estou com você Pulsa o meu coração Vem meu amor, e me dê a tua mão ...

Deixa meu bloco passar (Caio Frade e Camilo Frade) Música vencedora do 29º Festival de Marchinhas Carnavalescas, em 2014

Arquivo pessoal

O Festival não só é importante pelo seu valor histórico e cultural, como ele tem tamanho valor na descoberta de novos talentos, principalmente conterrâneos.

Como a Marchinha se tornou, nos últimos anos, o ritmo mais popular de São Luiz, acaba que ela é também a precursora de toda uma geração interessada em fazer música aqui. Como eu já disse, vai muito além dessa ideia de competição, é mais um meio de expor o seu trabalho, e mostrar que estamos levando à sério esse papo de preservação cultural. É um orgulho imenso tirar uma cultura de uma cidade tão pacata e universalizá-la. É uma responsabilidade e tanto também!”

Camilo Frade, 17 anos Vencedor da última edição do Festival de Marchinhas Carnavalescas

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Divulgação / Prefeitura de São Luiz do Paraitinga

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Capítulo V

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Juca Teles do Sertão das Cotias e outros blocos մմ Capítulo V

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“Como viver sentindo a passagem do tempo? Do céu, do purgatório e do inferno, ninguém escapa. Sabem por quê?”

Todos os anos, quase 30 mil pessoas enchem a praça e o centro histórico de São Luiz apenas à espera do momento triunfal do Carnaval de Paraitinga. O grito de “Porque hoje é Carnaval”, entalado na garganta de cada folião, é libertado após o discurso de Benito no alto do caminhão. Na pele do mais famoso personagem da cultura de Paraitinga, ele abre oficialmente o Juca Teles, um dos maiores blocos de rua do estado de São Paulo.

Para a grande maioria, trata-se apenas do bloco que simboliza o dia mais cheio de festa. Para os luizenses, a homenagem a uma figura simbólica da cidade. Juca Teles do Sertão das Cotias nada mais era do que o pseudônimo de Benedito de Souza Pinto, um oficial de justiça e dos maiores artistas de Paraitinga. Nascido em 1888, ‘Dito Pinto’ percorria a cidade sob o pseudônimo de Juca Teles e era tachado por muitos como um louco. Organizava eventos culturais, confeccionava os bonecões de João Paulino e Maria Angu, Danças do Caiapó, malhações de Judas, promovia brincadeiras com as crianças e era um brilhante poeta, quase sempre com versos improvisados.

De cartola, gravata, um paletó preto, uma camisa branca e

»» Oficial de Justiça e poeta, Benedito de Souza Pinto (Dir.) usava o pseudônimo de Juca Teles do Sertão das Cotias, e promovia eventos e festas pela cidade, como a malhação do Judas (detalhe)

sempre descalço ou de tamancos, foi alvo de preconceitos simplesmente por ser artista. Um artista que, pelo menos após sua morte, em 1962, precisava ser valorizado. Por anos, a pergunta foi uma só: então por que não homenageá-lo? Pois bem.

A história do bloco do Juca Teles, na verdade, começa a ser contada em maio de 1978. Naquele ano, surgiu em São Luiz o jornal Chicote, mensalmente distribuído pelas ruas da cidade. Com um viés polêmico e uma linha editorial de críticas à política luizense, era organizado pelos redatores Benito Campos, Marco Rio Branco, Judas Tadeu de Campos, José Alfredo Rodrigues, Nilson Lopes Soares, Sérgio Moradei e Sebastião Nascimento. Apesar de São Luiz ter um passado com diversas publicações de imprensa, o Chicote foi o primeiro a ousar-se contra o poder público.

O jornal durou pouco -- em dezembro daquele ano, já estava fora de circulação. No entanto, serviu como precursor para uma nova publicação, já no fim do ano de 1984. O Juca Teles, jornal impresso produzido por Benito, Marco e Judas Tadeu, foi criado com o intuito simplesmente de dar voz a quem queria mudanças na cidade. Feito à base da mimeografagem, O Juca Teles tinha sua ‘sede’ no Sertão das Cotias, e sempre tratava em suas matérias sobre “a vizinha São Luiz do Paraitinga”.

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No mesmo mês de dezembro, em uma conversa informal de bar, surgiu-se a ideia de criar um bloco para O Juca Teles. O Carnaval luizense já tomava seus rumos, e o plano era ampliar cada vez mais a festa. Conta Marco Rio Branco, compositor da letra, que, em janeiro de 1985, o músico Galvão Frade havia levado a história do bloco a sério, e gravado uma fita cassete com a melodia. Há dez dias da abertura do Carnaval daquele ano, a composição foi feita.

No Carnaval de São Luiz, chegariam as cotias do Sertão.

Alguns anos antes, já havia a ideia de homenagear o poeta Juca Teles. No Carnaval de 1983, Benito, ao lado de Nilson Lopes e Cecília Zanon já haviam criado quatro pequenos bonecos, como se tornou tradição em São Luiz: os personagens Juca, sua companheira Nhá Fabiana, e os amigos Zé Barrica e Nhá Filó.

A princípio, o Juca Teles foi criado para fazer um contra-ponto ao Encuca a Cuca. Não que houvesse rivalidade, mas eram

dois opostos: enquanto o sombrio Cuca fazia seu desfile tarde da noite, com foliões mascarados, o Juca foi criado para sair no sol do meio dia. As cores e os sons do Juca Teles foram, por muitos anos, a abertura oficial do Carnaval luizense -- somente em 2001 o início da festa foi antecipada para sexta-feira. Às vésperas do Carnaval, o jornal O Juca Teles convocou os luizenses (“poetas, foliões e delirantes, Evoé”) para, literalmente, por o bloco na rua. No dia 16 de fevereiro de 1985, o bloco saiu em São Luiz pela primeira vez. O Juca teve identificação imediata, e, apesar de pequeno, apresentou ao público a mais sincera representação do Carnaval: alegria, cores e sorrisos. Na ocasião, coube ao jornalista Luiz Egypto fazer o primeiro discurso oficial do Juca.

Em sua edição posterior ao Carnaval de 1985, o jornal O Juca Teles já havia previsto que as palavras de amor não sairiam tão cedo da boca dos luizenses. “Juca Teles veio para ficar. Quem viver verá!”

O Carnaval de Paraitinga

66 Rogério Marques

Aos poucos, o Juca Teles foi passando por mudanças, e, consequentemente, criando a identidade que o tornou tão famoso nos dias de hoje. O primeiro veio do próprio Benito, que se propôs a incorporar o personagem. De uma maneira mais adaptada ao Carnaval, com flores e chitas, passou a se vestir como o homenageado e, a cada ano ser o centro das atenções no que viria a ser o maior bloco da festa de São Luiz.

Todo sábado de Carnaval, pontualmente às 7h, abre a janela e apresenta-se ao sol. Já com o colorido guarda-sol em mãos e a tradicional cartola na cabeça, pula do portão de sua casa para o vizinho chafariz Largo do Theatro, para saudar os primeiros foliões. Os momentos seguintes são de caminhadas pelas ruas do centro histórico, acordando a todos que, em pleno dia de Juca Teles, insistem em querer dormir. Como diz Benito, “acordem, vagabundos! A farra os espera!”.

Pontualmente ao meio-dia, ao lado do discurso aonde convida os foliões para participarem das festividades de Momo, o

Juca Teles tem, por todos os cantos, características marcantes. Os tradicionais bonecões, o estandarte abre-alas, o megafone de lata e o guarda-sol. De traz da Matriz, passando pelo rico patrimônio arquitetônico do Quatro Cantos, do Mercado e da rua Coronel Domingues de Castro até chegar na praça. E, como pedia o ‘Novo Juca’ Benito, “que venha água!”: que as águas das sacadas regassem e energizassem os foliões de notícias e confusões.

Carnaval após Carnaval, são muitos fatores que tornaram o Juca a mais apaixonante manifestação cultural luizense. Nos dias de hoje, algumas tradições mudaram, sempre por motivos de força maior. O Juca Teles, no entanto, segue como principal carro-chefe de São Luiz, abrindo espaço para uma terra mágica, com um potencial artístico fora do comum para um município de 10 mil habitantes. O Juca é o maior símbolo das festividades de São Luiz do Paraitinga. E sabem por quê?

“Porque hoje é Carnaval!”

O Carnaval de Paraitinga

67 Acervo Odilon Bonafé

JUCA TELES “Tem que gritar, ô ô Tem que mostrar, ô ô Tem que cantar, ô ô Tem que cantar...

Juca Teles, amora em flor Boca do povo são palavras de amor Juca Teles, amora em flor Boca do povo são palavras de amor Chegaram as cotias do sertão Trazendo notícias, confusão Lançando dardos tanto quanto Carnaval E que ninguém se lixe e nem se nem nos leve a mal ôôôôÔ e nem nos leve a mal Tem que gritar, ô ô Tem que mostrar, ô ô Tem que cantar, ô ô Tem que cantar...”

O Carnaval de Paraitinga

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“

O Juca era uma figura que desde menino eu ouvia falar, morava aqui do outro lado da rua. Houve uma identificação muito grande da cidade para com o bloco, porque resgatamos a cultura dele, a importância. Ele morreu em 62 de forma desonrada, a família tinha um pouco de vergonha. Isso porque ele criou o personagem, saia na rua e diziam que ele era louco.

Mas, na verdade, era uma figura ímpar.

Era festeiro, pensava muito nas crianças.

Um verdadeiro poeta.

Dar vida ao Juca Teles com essa homenagem é uma honra, porque nós ajudamos a resgatar um pouco de um grande personagem”

“

Arquivo pessoal

»» Benito Campos

Arquivo pessoal

»» Galvão Frade

Como o Carnaval estava fortalecido, o Benito e o Marco decidiram fazer um bloco meio dia, porque tudo acontecia a noite. E decidiram homenagear o Juca Teles, principalmente para as crianças poderem brincar também. Mas a gente achava estranho, será que um bloco meio dia ia dar certo?

Lembro do Benito montando os bonecos, mas como a gente mexe só com música, não participava muito. Um dia o Marco comentou comigo que ia compor a letra e se eu não queria fazer a música. Falei que ia tentar e acabou saindo. Só que ele ainda não tinha feito a letra, e eu entreguei a melodia antes. Foi um sucesso desde o começo, e aos poucos foi se tornando gigantesco. Mesmo com a letra mais complicada de decorar, a gente percebia que as pessoas ficavam encantadas com ele. Até hoje o Juca é um dos nossos grandes orgulhos”

O Carnaval de Paraitinga

“

Iphan

Lionel Medeiros

»» Marco Rio Branco

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Nós tinhamos o jornal Juca Teles, e aí deram a ideia de fazer um bloco. A princípio, claro, achei que estavam loucos. Foi em janeiro que o Galvão me trouxe a melodia, eu fiquei ouvindo e trabalhei em cima para sair a música.

Que, se você tirar dela o lado do Carnaval, você vai ver que é a letra mais politizada de todas, com as conotações ideológicas.

O Juca, na verdade, era um contraponto do Encuca a Cuca, que saia 23h. Durante o dia não tinha nada na cidade, então a ideia era criar um bloco para a abertura das festividades. Com o tempo ele foi se estruturando, mas no começo era tudo muito improvisado. E acho que aí que está o encantamento da história”

O Carnaval de Paraitinga

70 Degiovani Lopes

Degiovani Lopes

Degiovani Lopes

RogĂŠrio Marques

RogĂŠrio Marques

O Carnaval de Paraitinga

71 Rogério Marques

Iphan

Divulgação / Prefeitura de São Luiz do Paraitinga

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Jerry Rodrigues

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Bloco Rei Canário

Fantasia: Traje de futebol Letra: Galvão Frade (2008) “O escrete canarinho demonstrou / Que além da raça, só toque de primeira / Correu o campo inteiro e fez o gol / Levantou a massa, que cantou a noite inteira! O meu coração já saiu quase pra fora / Não dá mais, não aguenta mais, não aguenta mais!

Oh! Canarinho (ô ô ô) / Honra a verde­amarela / Que estarei com você! É nosso time de ouro / Tem passado e tem história (olé, olê, olê) / Sou canário até morrer (olé, olê, olê) / Canário! Canário! Oh, Rei Canário!”

Bloco do Lençol II

Fantasia: Lençol Letra: Galvão Frade e Timel (1983) “Olha só pessoal quem chegou / É o Bloco do Lenço / Sem Colombina e Pierrot!

Nesse bloco não precisa fantasia / Apenas um lençol / Ele antecede a nossa folia / Que é o Carnaval (ô ô)”

Bloco do Lobisomem

Fantasia: Cachorro Louco’ Letra: Galvão Frade (2001) “Disse que era o ‘tar de Lobisome’ / Esse bicho ataca, esse bicho mata, esse bicho come / Em noite de lua cheia / É que a coisa fica feia / Quem sai uivando assim / Uh! Uh! Uh! Uh! Uh! Uh! Uh! Passou a noite no chiqueiro / Depois foi pro galinheiro / No quintal do Seo Joaquim / Foi ele, foi ele sim / Foi ele que contou pra mim!”

Bloco Juca Teles

Fantasia: Cartolas, retalhos e chitas Música: Galvão Frade Letra: Marco Rio Branco (1985) “Chegaram as cotias do Sertão / Trazendo notícias, confusão / Lançando dardos tanto quanto o Carnaval / E que ninguém se lixe / Nem se… Nem nos leve a mal (ô ô ô ô ô) / E nem nos leve a mal! Tem que gritar (ô ô) / Tem que

mostrar (ô ô) / Tem que cantar (ô ô) / Tem que cantar… Juca Teles, amora em flor / Boca do povo são palavras amor”

Bloco da Saúde

Fantasia: Jaleco Branco Letra: Marquinho Santa Casa (2002) “Na saúde é tradição / De braço aberto pro povão / Tem história pra contar!

Com muita seriedade / E também dedicação / Gente pronta pra ajudar!

Seja um amigo bom / Cuide da população / Se quiser colaborar / Basta ter disposição / Doe sangue, meu irmão / E muita vida irá salvar”

Bloco Bicho de Pé

Fantasia: Livre Letra: Galvão Frade (2000) “Eu peguei no mato / Não é carrapato / O que será que é?

Larga do meu pé, larga do meu pé / Mas esse tal de bicho coça / Coça e como coça, coça, seu Zé / Que nem bicho de pé!

Não vem que não tem / Não vem / Bicho de pé de Catuçaba / E a galera gostou / E a galera coçou, coçou, coçou / Bicho de pé de Catuçaba!”

Bloco Etesão

Fantasia: Traje Espacial Letra: Galvão Frade / Ju Francisco / Zé Freire (2001) “O ET voltou só porque você gostou / E com certeza você também / O ET voltou só porque gostou / E esse ano ele vai além! Acompanhando essa nossa folia / Em São Luiz vamos pular / Afinal, são poucos dias / E o Etesão vamos chamar / Vamo’ET, Vamo’ET, Vamo’ET!”

Bloco Bebebum

Fantasia: Fralda e chupeta Letra: Galvão Frade / Gui Salinas / Tarcísio Ferreira (1997) “Mamãe eu quero / Me dá, me dá, me dá / A mamadeira / Me dá, me dá, me dá / A mamadeira! Vou sair de bebezinho / Andar de carrinho / Com uma babá / Quadro dias de folia / De bebedoria / De gugú­-dadá / Mamãe eu quero beber!”

O Carnaval de Paraitinga

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Bloco do Caipira

Fantasia: Traje caipira Letra: Pedro Moradei (1995) “Boto o pé na bota / E vou pra cidade / No Carnaval / Vou extrapolar, porque é feriado / Decreto Nacional! / A rua tá infestada / De alegria e de paixão / Eu largo da minha roça / Mas o meu broto eu não esqueço não!

Lá lalá laiá / Lá lala laiá!”

Bloco Maria Gasolina

Enéas Macedo / Prefeitura de São Luiz do Paraitinga

Fantasia: Livre Letra: Chico Catuçaba (2004) “Quando ela está em casa / Descansando, ou fazendo uma faxina / Deixa tudo e corre pra esquina / Maria Gasolina, Maria Gasolina / Teu apelido é Maria Gasolina!

Até mesmo quando está no banheiro / Tomando banho, perfumando o corpo inteiro / De repente, ela ouve buzina / Já pensa que é pra ela / Se enrola na toalha e corre pra janela!

A noite ela já está acompanhada / Ele tem um carro e ela foi pro escurinho / Todos comentam: Maria vai amar / É quase madrugada, ela nada de voltar! N’outro dia, a Maria está cansada / No rola e rola, a Maria amanheceu / Mas se de novo, ao ouvir uma buzina / Volta pra esquina, ela é Maria Gasolina!”

Bloco do Saci

Fantasia: Saci Letra: Ricão Moradei / Zizi / Ditão Virgílio / Marquinho Santa Casa (2002) “Pula de lá, pula de cá, pula dali / Quem vem chegando, é o Bloco do Saci / (ô ô ô) o Saci chegou! / (ô ô ô) o Saci chegou!

No Bloco do Saci / É assim que a gente faz / Dá um pulo pra frente, e outro pra trás! Vem Saci de longe / Vem Saci de todo lado / Nesse Carnaval, todo mundo ensacizado! / (ô ô ô) o Saci chegou! / (ô ô ô) o Saci chegou!”

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Bloco Cruis Credo

Fantasia: Do além Letra: Tarcisio Ferreira / Galvão Frade (1997) “Cruis Credo / Sartei de banda / Virou feitiço, nunca vi coisa igual / Cruis Credo / Sartei de banda / Virou feitiço, nunca vi coisa igual / Eu quase caí da cama / Levei um susto / E gritei no Carnaval! Lê lê lê ô / O bloco do Cruis Credo chegou!

Na madrugada / Eu vou sair, vou por aí, vou me encantar / Se eu travar na encruzilhada / Na reza braba e no Cruis Credo eu chego lá!”

Bloco do Caetê

Fanstasia: Folha de caetê Letra: Pedro Moradei / Ditão Virgílio (1999) “Mulherada palha milho / Nós vamos fazer pamonha / Dê uma raladinha / Mas o seu dedo não ponha! Rala, rala, rala / Você vai ralar sem medo / Rala, rala, rala / Rala até a ponda do dedo!

Quero ver você embrulhada / Na folha de caetê / Eu quero ficar grudado / Na cintura de mecê / Rala, rala, rala!”

Bloco do Urubu

Fantasia: Roupa preta Letra: Luiz Homero (1983) “Quem é? Quem é? / É uma ave, Encuca a Cuca / Usada por Noé!

Ave preta que enfeitiça / Gosta muito de carniça / O seu feitiço é muito especial! Essa ave carniceira / Dá de bando na sujeira / E também dá no nosso Carnaval / Quem é? Quem é?”

Bloco da Pipoca

Fantasia: Pipoqueiro Letra: Gustavo Salinas / Tarcísio Ferreira (1992) “Eu quero ver você / Pu pu pu pu pu pu pular / Eu quero ver você / Pu pu pu pu pu pu pular / Feito pipoca que não para, piruá! Quero ver também / Botar o sal pra temperar / E rodar, e rodar / Não parar mais de pular!”

Bloco do Casarão

Fantasia: Livre Letra: Antonio Luiz Portela / Luciano Coca / Cláudio Nicolini / Reginaldo Paulini (2002) “Saí do bar do Sêo Elias / E entrei no Casarão / Lá eu avistei um bicho / Que me deixou doidão! Esse bicho é tinhoso / Esse bicho é bem bolado / E na maré desse bloco / Não dá pra ficar parado! Saia na janela, quero ver / Que bloco enrolado / Dizem que vem na contramão / Viagem, é o Casarão! Uh uh uh uh uh / Ai que medo que eu tenho / Uh uh uh uh / De entrar no Casarão!”

Bloco Espanta Vaca

Fantasia: Jardineira vermelha Letra: Galvão Frade / Paulinho Baron / Amarildo Ribeiro (1996) “Éh / Mamar na vaca você quer / Quem que não quer? / Éh éh éh / Mamar no boi você não quer / Quem é que quer? Deixa de moleza / E engravata o nó / Vem a jardineira Espanta Vaca! Eu não tô só (iô iô iô iô) / Eu não to só (iô iô iô iô) / Zona do Agrião!”

Bloco Bico do Corvo

Fantasia: No Bico do Corvo Letra: Galvão Frade (2001) “Mas o que é que vão dizer lá em casa? / Que eu tô no bico do corvo / Que eu to no bico do corvo! No bico da cegonha eu vim / Dormindo num sonho profundo / No bico do corvo agora eu vou / Direto pro outro mundo!

Até no além / Carrego você comigo / Até no além / Carrego você comigo / Mas o que é que vão dizer lá em casa?”

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Bloco do Balacobaco

Fantasia: Traje de campo Letra: Marco Rio Branco (2002) “Ninguém é de ninguém / Mas todo mundo / É de todo mundo / No Carnaval! / Ninguém é de ninguém / Mas todo mundo / É de todo mundo / No Carnaval! É do Balacobaco / baco, baco, baco / Baco, baco, baco / Baco, baco, baco / Do balacobaco!”

“Eu ficava olhando durante o Carnaval e dava para perceber os namoros, mas, principalmente, os ficantes. As pessoas estavam juntas hoje, mas amanhã já estava com outro. A troca de casais acontecia muito, e aí comecei a elaborar esse negócio de ninguém é de ninguém mas todo mundo é de todo mundo. Seguramente fiz umas oito letras para chegar a quatro linhas, e veio uma palavra que não tem tradução.

Balacobaco não é uma expressão de um lugar único ou de uma região, que todo mundo fala. E tem muito também um pouco da música da roça, do pessoal da zona rural, e a letra baseada no urbano” Marco Rio Branco

Bloco da Maricota

Fantasia: Latinhas Letra: Galvão Frade (1987) “Maricota me chamou / E a rainha saiu pra janela / Convidou o povo inteiro da cidade / Que é pra todo mundo ir no rastro dela!

Pr’essa lagoa eu vou correndo pra pescar / Pr’essa lagoa eu vou correndo pra pescar / Vou dar banho na minhoca / Eu não sei que peixe dá / Embodocou a minha vara, Maricota / Veja que tamanho tá!

E a Maricota c’a direita / E a Maricota c’a canhota / Embodocou a minha vara, Maricota / Veja que tamanho tá”

Bloco Pé na Cova

Fantasia: Traje macabro Letra: Afonso Pinto / Idalício Santos (1993) “Entre nesse bloco amigo / Vem pular junto comigo / Entre que o negócio é sério / É transa de cemitério!

Entre nessa onda / Essa moda é nova / A moçada toda, submete à prova / Feito alucinado / Com o Pé na Cova!

Puxa, puxa, puxa / Que puxando estica / Puxa, puxa, puxa / Que puxando estica / Essa gente boa veio do Benfica!”

“Nós estávamos assistindo a uma partida de futebol ali no campo e eu sempre ouvia a turma gritar e xingar um tal de Pé na Cova. ‘Vai Pé na Cova, toca essa bola Pé na Cova’. E eu pensava, será que ele é feio? Por que um apelido desses? Bom, aí acabou o jogo e eu fui no bar perto do campo. Estive com o Idalício [Santos] e nós dois começamos a conversar a respeito disso, e acabamos escrevendo. Depois eu pûs a música por cima, e transformamos o Pé na Cova, com os bonecos, no Carnaval. E até hoje não sei porque o João Pé na Cova tem esse apelido. Mas o bloco está ai” Afonso Pinto

“Todo mundo acha que que a Maricota foi criada em São Luiz, mas na verdade veio lá de Brasília. O Tarcísio [Ferreira, compositor] estava morando lá e a gente foi visitar. Eu fui passear, encontrei uma lagoa e comecei a compor. A ideia era usar um ritmo que sai um pouco da marchinha tradicional, que usam muito em congada. Quis fazer um bloco que tivesse esse mesmo ritmo, e que fechasse o Carnaval, fosse de madrugada. Eu saia com a sanfona, puxando o bloco, e as pessoas pegavam as latinhas vazias no chão e iam batendo, logo virou sucesso. O problema é que foi virando bagunça, começou a ter muita gente e ninguém escutava, aí perdeu a essência. Pensando nisso, lá pra 1994 consegui colocar o bloco no domingo a tarde, e aí ele explodiu. Hoje é sucesso total” Galvão Frade

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“

O Barbosa odiava o Carnaval. Sério. Era um motorista de vida sacrificada, eu era chefe dele na Atlântida. Nós fomos fazer um evento no Sesc Santo Amaro, em São Paulo, e ficamos um mês. Era um trabalho, uma correria, para ganhar dinheiro. Quando voltamos para São Luiz, ficamos animados, loucos para brincar o Carnaval de verdade. E o Barbosa era o motorista que nos trouxe.

Mal humorado, enchia o saco, freava, reclamava... E aí começamos a pensar na música, e acabou saindo. O legal é que uns cinco anos depois ele veio morar de vez em São Luiz, e começou a sair no bloco, realmente gostou da homenagem. Hoje ele se empolga durante o Carnaval. Por aqui, tudo é motivo de festa” Benito Campos

Bloco do Barbosa

Fantasia: Motorista de ônibus Letra: ‘Os Quadrilhas da Fumaça’ (1999) “Ô ô Barbosa / Essa curva é perigosa / Siga em frente nessa linha / Que eu vou contar pra tia Rosa! Ô ô Barbosa / Ai que dor no coração / Ô ô Barbosa / Mete o pé nesse bondão! / (One, Two, Three, Four!)”

Jerry Rodrigues

»» O motorista Benedito Barbosa foi a grande inspiração para a criação de um dos principais blocos do Carnaval de São Luiz

“

Quando teve esse evento em São Paulo, o Barbosa era o nosso motorista na volta. E ele era carrancudo, fechado, não dava nem bom dia direito. Já era Carnaval, então a gente veio animado, tocando e cantando. E aí começou a música...

Cada um foi falando uma frase, e ficou com vários compositores. Chegamos em São Luiz e logo virou um sucesso, porque a música pega fácil e tem uma coreografia. Uns três anos depois ele [Barbosa] foi na prefeitura pedindo um ofício para a empresa liberar ele no dia do bloco.

Ele ficou encantado quando saiu. Hoje ele é um cara super alegre, até começou a cantar no bloco, virou um popstar no Carnaval. É a prova de que a música é transformadora” Galvão Frade

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Capítulo VI

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Como viver sentindo a passagem do tempo? մմ Capítulo VI

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A enorme popularidade do Carnaval de São Luiz do Paraitinga logo começou a desencadear problemas e mostrar os primeiros transtornos que poderiam ocorrer na cidade, principalmente no início dos anos 90. Especialmente com a implantação da TV Globo Vale do Paraíba, no fim dos anos 80, e com o crescimento de blocos populares, como o Encuca a Cuca e o Juca Teles, a festa luizense teve em 1995 a primeira mostra de que teria alguma resistência.

Naquele ano, o tradicional Encuca a Cuca fez sua última participação no Carnaval. Isso porque o número de foliões cresceu desenfreadamente, e a cidade já não tinha condições de comportar tantos adeptos no bloco noturno. Os fundadores até tentaram organizar o bloco, mas não houve jeito: o Encuca, bloco mais tradicional da retomada do Carnaval, foi o primeiro a não resistir à passagem do tempo.

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A festa continuou recebendo mais foliões, cada vez mais, especialmente pelo sucesso do Festival de Marchinhas e pelas aparições na televisão. No início dos anos 2000, houve um decreto para que o Carnaval, oficialmente, só tocasse as marchinhas da cidade. Para fortalecer o vínculo dos foliões com as músicas luizense, foi lançado em 2004 o ‘De Bloco em Bloco’, CD com as marchinhas dos principais blocos de São Luiz: Balacobaco, Barbosa, Bico do Corvo, Caipira, Espanta Vaca, Juca Teles, Maricota, Pé na Cova e outras 12 canções foram gravadas aos turistas, para que decorassem os ritmos.

Galvão Frade, responsável pelo CD e um dos principais compositores de marchinhas de São Luiz, diz com convicção que a produção do ‘De Bloco em Bloco’ foi fundamental para o crescimento desenfreado da festa. Afinal, o turista que quisesse ouvir samba, axé ou funk não tinha lugar. Precisava se acostumar com as marchinhas. E ponto final.

Ao mesmo tempo, outro ponto que contribuiu para a alta das marchinhas luizenses foi a popularidade da Banda Estrambelhados, formada em 2003 e em evidência cada vez maior desde então. Com participações no Circuito Cultural Paulista e show por todo o Estado, disseminando a cultura de Paraitinga e suas famosas marchinha, os Estrambelhados afirmam publicamente sua influência no Paranga, em Elpídio dos Santos e na Corporação Musical São Luiz de Tolosa. Com a introdução de outros ritmos para formar o inconfundível som estrambelhado, a banda abusa das chitas e retalhos para dar ao público a impressão de que, onde quer que estejam, São Luiz está ali. E a fomentação do Carnaval luizense, espalhada pelos Estrambelhados por todo o estado de São Paulo, certamente teve ponto fundamental nessa história, convidando mais e mais foliões para a terra das marchinhas.

O crescimento foi tão grande e fora do comum que problemas estruturais começaram a aparecer. Sem espaço para tanta gente, muitos foliões passaram a dormir na rua, e a falta de água se tornou frequente. O baixo número de banheiros públicos e o grande volume de lixo produzido também se tornaram grandes obstáculos da organização do Carnaval luizense, que viu cerca de 200 mil pessoas passarem pela festa em 2009 -- a maior expectativa de público já registrada em São Luiz do Paraitinga.

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A força do Paraitinga e o Carnaval à moda antiga Rogério Marques

Nas últimas noites de dezembro de 2009, o estado de São Paulo registrou fortes chuvas. No Vale do Paraíba, as cidades de Guaratinguetá e Ubatuba sofreram com enchentes e deslizamentos entre novembro e dezembro. Em São Luiz do Paraitinga, o mês de dezembro registrou, apenas em seus três primeiros dias, o esperado para qualquer mês inteiro no verão. O nível do rio Paraitinga ficou dois metros acima do normal, alcançando as ruas mais baixas.

Nada, no entanto, que se aproximasse do que viria a acontecer na virada do ano. A madrugada do dia 31 de dezembro para o dia 1º de janeiro continuou com forte chuva, e assustou alguns moradores. No distrito de Catuçaba, a água já tinha alcançado as ruas. Na primeira manhã do ano de 2010, o rio já estava a 3,5 metros acima de seu nível normal: 1.000 moradores precisaram deixar suas casas, com a cidade já sem serviços de água e telefone.

A noite, a prefeitura decretou estado de calamidade pública.

Aos poucos, a cidade foi engolida pela força do rio Paraitinga. Cerca de nove mil pessoas deixaram suas casas, 80% da área histórica foi danificada, os danos pela chuva superaram os R$ 50 milhões e, até a Igreja Matriz, principal símbolo arquitetônico tombado da cidade, foi ao chão. São Luiz viveu os piores dias de sua história.

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“

Há quanto tempo que eu não vejo o sol nascer É chuva todo dia, temporal a toda hora...

E o nosso rio, que não para de encher, Já levou na correnteza, a minha viola!”

Sóchov (Galvão Frade, 2008)

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Ficou evidente que a cidade não tinha condições de receber o Carnaval. No ano anterior, a festa havia recebido seu maior público estimado, e, naqueles primeiros dias de 2010, só haviam escombros da cidade que respirava marchinha. Depois de quase três décadas, São Luiz do Paraitinga pela primeira vez não receberia foliões durante aqueles cinco dias especiais. Essa, ao menos, era a programação.

Era natural que a cidade não se envolvesse com o Carnaval neste ano. Apesar da limpeza e da retomada de alguns dos pontos comerciais, a estrutura geral continuava muito danificada. Mas, se algo ajudaria São Luiz a passar por seus piores momentos, seria o espírito festivo e musical. Na sexta-feira, 12 de fevereiro, o Bloco do Lençol saiu pelas ruas da cidade. Em percurso alternativo e reunindo foliões surpresos, foi o primeiro sinal de que, em hipótese alguma, o Carnaval morrerá em São Luiz do Paraitinga.

Eis que, no sábado de Carnaval, o sol acordou brilhando.

Como nos dias tradicionais de festa e diferente do primeiro dia do ano. Ao meio dia em ponto, o Largo do Rosário reuniu foliões da cidade para seu principal bloco. O Juca Teles reuniu os próprios luizenses por um caminho diferente, passando por diversas ruas, e comemorando um verdadeiro Carnaval à moda antiga.

Pela rua do Carvalho, em direção ao Benfica, com águas das sacadas e a participação dos próprios moradores fez com que muita gente voltasse no tempo, e visse naquele desfile um pouco da retomada do Carnaval de Paraitinga. Com os músicos no chão, cerca de 500 pessoas saíram no bloco. Um pouco diferente dos cerca de 30 mil do ano anterior. Mas, ao menos para os próprios luizenses, foi a esperança de dias melhores e a certeza de que o Carnaval, mesmo que tomado por turistas nos anos passados, nunca deixaria de ser o maior patrimônio da cidade.

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O Carnaval da Reconstrução e novos tempos Passados os estragos da enchente, ficou definido que o Carnaval voltaria a ser realizado normalmente em São Luiz do Paraitinga.

A partir de 2011, porém, haveriam duas grandes novidades. Primeiro, para não prejudicar a estrutura dos casarões danificados, os blocos não passariam mais pelo centro histórico. Agora, o caminhão sairia da praça Oswaldo Cruz em direção a saída da cidade, passando pela ponte a virando a esquerda no posto de gasolina.

Eles passariam, pela primeira vez, na recém-construída via de acesso João Roman, justamente às margens do Paraitinga, terminando o trajeto na rodoviária.

A segunda mudança foi uma tentativa de descentralizar a festa. A própria rodoviária foi reconstruída, e o local recebeu, além de um novo asfalto, um palco. A praça de eventos passou a receber shows e apresentações musicais, evitando que toda a concentração de foliões ficasse na praça principal e no centro, e auxiliando a fomentar o comércio em diferentes regiões.

De cara, o Carnaval foi um sucesso. O ‘Carnaval da Reconstrução’, aberto oficialmente no dia 12 de março pelo bloco do Rei Canário, recebeu mais de 120 mil foliões no total. No sábado, dia de Juca Teles, a cidade teve um tradicional dia de festa: com muitas chitas, flores, marchinhas, e, dessa vez, com gritos de “São Luiz voltou” sendo entoados a cada esquina.

Nos anos seguintes, a festa continuou como se não tivesse sido interrompida durante um ano para os turistas. Em 2014, o Carnaval ‘Chuva de Confetes’ teve 25 blocos e 12 apresentações musicais. Com um investimento de R$ 800 mil do poder público, foram cerca de 180 mil turistas na cidade. Com foliões do Vale do Paraíba, de diversos estados do Brasil e também do exterior, houve um retorno de quase R$ 15 milhões. E mais um ano de confirmação de que São Luiz do Paraitinga realmente havia ‘voltado’, e para ficar. Seja em 1981 ou em 2014, ao fim dos cinco dias de festa, a cidade que respira Carnaval deixa no ar o convite: ano que vem tem mais, e todo folião é bem vindo.

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A imprensa e o Carnaval luizense մմ Capítulo VII

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São Luiz é uma das poucas cidades antigas de São Paulo que possui documentações desde seus primeiros anos -- a povoação é datada de 1796. O município também tem uma forte relação com a imprensa, tendo diversos veículos em sua história. Em novembro de 1846, o padre Doutor Joaquim Domingues de Lameda fundou o primeiro jornal luizense, sem registros de nome e com poucos detalhes. O primeiro veículo de imprensa comprovado em São Luiz foi o jornal O Parahytinga, em 1874. De lá para cá, foram pelo menos 15 jornais diferentes -- com destaque para O Luizense, que circulou de 1903 a 1926. Essas publicações, no entanto, raramente detalham algum tipo de festa popular ou manifestações culturais pela cidade.

O próprio O Luizense e também o A Verdade, no início do século XX, retrataram algumas aparições do Carnaval de rua, mas seus maiores destaques foi para algumas críticas que a festa recebeu. A imprensa, no entanto, teve grande participação na formação e no crescimento do Carnaval luizense. Em um primeiro momento, de maneira inconsciente. A edição do telejornal Jornal Hoje, da Rede Globo de Comunicação, em 19 de fevereiro de 1980, apresentou uma reportagem que é considerada por muitos como o ‘pontapé incial’ para a retomada das festividades em São Luiz.

A repórter Maria Christina Pinheiro foi até Paraitinga para contar a história da cidade que não brincava o Carnaval. A chamada da matéria, feita pelo apresentador Wellington de Oliveira, era bem clara. “Há 60 anos que os 12 mil habitantes de São Luiz do Paraitinga, a 170 quilômetros de São Paulo, não brincam o Carnaval”. Maria Christina, então, apresenta a passagem, resumindo de forma superficial a história da ‘proibição’ católica. “A história começa em 1920, quando chegou aqui um padre italiano, Monsenhor Ignácio Gióia, que achava que o Carnaval era coisa do demônio”, foram as únicas palavras da reportagem em que a TV Globo tentava explicar o motivo da ausência da festa por tantos anos.

Na sequência, o entrevistado Judas Tadeu de Campos, identificado como morador da cidade, e Luis Salinas, ex-presidente do Clube Imperial Luizense, reforçam que não há Carnaval. A repórter questiona sobre a enchente de 1967, que aconteceu durante o Carnaval, e supostamente teria sido creditada aos castigos abordados pelo Monsenhor Gióia. “Não, não. Que ele falou isso não consta. Houve enchente, nesse Carnaval, nessa época... Depois de muitos anos, veio justamente na época do Carnaval”, explicou Luis Salinas, responsável pelo clube no ano de 67.

A repórter ainda entrevista José Lemes, creditado como diretor da escola Vagalumes do Morro, e termina a matéria afirmando que “no ano que vem, todo mundo acredita que o Carnaval vai sair.”

Para muitos, a reportagem exibida pela TV Globo serviu como empurrão. A cidade já havia tido algumas iniciativas para promover a volta do Carnaval às ruas e aos salões, mas a matéria sobre a opressão da Igreja contra a festa deixou moradores ressentidos -- que apontaram que o Jornal abusou de estereótipos e, de certa forma, teria ‘ridicularizado’ a cidade.

Em entrevista publicada na tese de mestrado ‘Do rabo e chifre às marchinhas’, da jornalista Stela Guimarães de Moraes na USP (Universidade de São Paulo), em 2010, Maria Christina Pinheiro, que na época da veiculação da matéria atuava como repórter da sucursal paulista da Rede Globo, afirmou que pautas ‘inusitadas’ eram procuradas. “Nós nos virávamos em busca de pautas. Íamos muito ao interior do estado naquele tempo e o noticiário internacional também era bastante privilegiado na cobertura, por causa da censura aos assuntos nacionais”, afirmou.

Conta Galvão Frade, à época um dos integrantes do grupo Paranga, que a reportagem serviu como ânimo para que o Carnaval voltasse à tona. E assim foi. A cidade que não brincava o Carnaval, em poucos anos teria uma das maiores festas do país.

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A cobertura das festividades de momo Foi no início dos anos 90 que Carnaval luizense começou a dar seus primeiros sinais de que seria uma festa que ultrapassaria fronteiras. Os foliões mais antigos da cidade colocam um fator como um dos grandes responsáveis pelo crescimento do evento: a força da televisão.

Em 1988, a Rede Globo fundou, em São José dos Campos, a afiliada TV Globo Vale do Paraíba -- que anos depois passaria a assumir a marca de TV Vanguarda. Com cobertura estritamente do Vale do Paraíba, o Carnaval de São Luiz do Paraitinga, que crescia a cada ano, passou a entrar no calendário de reportagens da emissora. Foi a partir das transmissões da Globo que a festa começou a receber em maior escala foliões de outras cidades.

Antes, a cobertura principal era feita pelo Valeparaibano, principal jornal impresso da região, fundado em 1952. Desde os primeiros anos da festa, o impresso dedicou-se a noticiar os eventos e também atos posteriores -- principalmente as repercussões sobre o Carnaval. Jornais impressos de grande porte, como o Estado de S. Paulo e a Folha de S. Paulo, se resumiam a poucas notas. O Estado, que teve como repórter o luizense Judas Tadeu de Campos, chegou a noticiar a retomada do Carnaval.

Muita coisa mudou nos anos 2000. Com a festa popularizada e recebendo cerca de 100 mil pessoas por ano, os veículos começaram a destacar o evento -- principalmente a partir de 2004, quando os ritmos que não fossem a marchinha foram oficialmente proibidos na cidade.

Em 2008, o Carnaval luizense chegou às páginas do americano The New York Times, um dos principais jornais do mundo. A reportagem, com o título ‘Carnaval on a Smaller Stage’, destacava cinco alternativas de carnavais de rua do Brasil, longe dos mais famosos destinos: Rio de Janeiro, Salvador e Recife. Ao lado da ilha de Morro de São Paulo (Bahia), Laguna (Santa Catarina), Ouro Preto e Diamantina (Minas Gerais), o Carnaval de São Luiz de Paraitinga foi citado como um dos melhores carnavais de rua à moda antiga. A matéria explicava que a proibição de ritmos como o samba e o axé, e falava sobre as marchinhas locais e trajes específicos de blocos.

Carnaval on a Smaller Stage Esta pequena cidade do interior de São Paulo fica a 115 milhas (183 km) da capital e a apenas 30 milhas (60,1 km) da popular praia de Ubatuba. A cidade não teve Carnaval por um período de 60 anos, que começou nos anos 20, quando um padre italiano cancelou a festa baseado em razões morais. Mas o Carnaval voltou a acontecer em 1981, e atualmente, a cidade é conhecida por ter mais uma das festas de rua mais retrôs do país.

As fantasias usadas pelos blocos são parecidas com as usadas nas festas que acontecem no país, com temas específicos para cada bloco, que neste ano incluem de bebês a motoristas de ônibus.

Os visitantes podem se hospedar em uma das pousadas da cidade ou a sua volta (faça reservas com pelo menos cinco ou seis meses de antecedência), ou alugue a casa de um dos residentes que deixa a cidade no período. Para mais informações (apenas em português; clique em pousadas para hospedagem), visite www.saoluizdoparaitinga.sp.gov.br.

The New York Times - 27/01/2008

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Deu no New York Times Eu quase não consegui ler Era tudo americano Actually prohibits more modern Rhythms like samba and axé It is São Luiz, it is São Luiz” It is São Luiz (Banda Estrambelhados)

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Reprodução / The New York Times

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As notícias, no entanto, passaram a ser mais frequentes a partir do dia 2 de janeiro de 2010. Quando a cidade foi atingida pela maior enchente da sua história, veículos de todo o Brasil informaram sobre os prejuízos causados pela força do rio Paraitinga: patrimônios destruídos, pessoas desabrigadas e, claro, que naquele ano não haveria Carnaval em São Luiz do Paraitinga.

Desde então, a cidade passou a frequentar páginas de jornais e reportagens de televisão. Em 2011, quando São Luiz fez o primeiro Carnaval pós-enchente, diferentes mídias estiveram no município para registrar como seria a volta da festa. De lá para cá, todos os anos o Carnaval tem destaque na imprensa: seja impressa, com a cobertura tradicional do desde 2010 jornal O VALE e desde 2013 da Gazeta de Taubaté, como na televisão, com diversas inserções na Tv Band Vale e na Tv Vanguarda, incluindo aparições na Rede. As televisivas Record, RedeTV e SBT também noticiaram o Carnaval luizense nos últimos anos, bem como os impressos Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo.

Reprodução / RedeTV

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terra.com.br Reprodução / Reproduç

estadao.com.br

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bo.globo .com

om.br / folha.uol.c

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ção / g1.

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Reprodução / RecordNews

globo.co

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100 Reprodução / Folha de S. Paulo - 09/02/2012

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101 Reprodução / O Estado de S. Paulo - 03/02/2008 Reprodução / O Estado de S. Paulo - 30/01/1999

Reprodução / O Estado de S. Paulo - 12/02/1994

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Taubaté - 02/03/2014

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VALE - 08/03/20

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104 Arquivo / O VALE

“O Carnaval de São Luís do Paraitinga é a festa carnavalesca mais tradicional no Vale do Paraíba, reunindo uma autenticidade perdida em muitas outras cidades da região. A tradição das Marchinhas, mantida após a volta do Carnaval de rua à cidade, é a marca da festa em São Luís, que atrai pela tradição e pela animação, unindo moradores e turistas, tomando conta das ruas da cidade. Em suma, São Luís conseguiu dar um sotaque valeparaibano ao Carnaval, criando uma leitura regional da festa, sem samba e sem desfiles de escolas de samba. Para a imprensa, Carnaval é imagem. Uma multidão na rua, com roupas coloridas, chapelões, ocupando as ladeiras da cidade, animada com o som das marchinhas, rende boas imagens. Para O VALE, por exemplo, o Carnaval do Vale do Paraíba se resume a três grandes eventos: São Luís, o desfile de escolas de Guará, que tem tradição e beleza, e o Litoral Norte, com o movimento e alguns bons eventos, como o Banho da Dorotéia e o Carnamar. Esses três, por sua plasticidade e capacidade de mobilização, são a Divisão de Elite do Carnaval do Vale. Todos esses eventos rendem boas fotos, boas histórias e algumas polêmicas” Hélcio Costa Jornalista há 35 anos, editor-chefe de O VALE desde 2010 e da Gazeta de Taubaté desde 2013, editor-chefe de O ValeParaibano de 1997 a 2010, e editor do caderno regional Folha Vale, da Folha de S. Paulo, de 1992 a 1997.

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Em suma, São Luís conseguiu dar um sotaque valeparaibano ao Carnaval, criando uma leitura regional da festa, sem samba e sem desfiles de escolas de samba”

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105 Arquivo pessoal

“A principal diferença do Carnaval de São Luiz para os demais da região são as roupas coloridas feitas de chita e a criatividade dos foliões, que sempre se fantasiam com algo que esteja em evidência no cenário nacional.

O Carnaval mexe com os brasileiros, e o de São Luiz mantém sua tradição, só tocando as marchinhas dos compositores da cidade. A praça Oswaldo Cruz sempre rende boas fotos, com o colorido dos foliões se confundindo com os casarões. Não dá para criar um roteiro: é seguir o bloco e estar sempre atento. A boa imagem está onde se menos espera” Rogério Marques Repórter fotográfico dos jornais O VALE e Gazeta de Taubaté, cobre o Carnaval de São Luiz há dez anos.

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‘A praça Oswaldo Cruz sempre rende boas fotos, com o colorido dos foliões se confundindo com os casarões. A boa imagem está onde se menos espera”

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106 Danilo Sardinha

“O Vale do Paraíba tem muitas festas típicas e culturais, mas marcantes mesmo são poucas. E o Carnaval de São Luiz é marcante porque não permite ‘invasões’ de outros tipos de música, porque impõe limites, porque preserva o que eles têm realmente de verdadeiro, de original, de raiz. É uma festa repleta de alegria e de verdade.

Carnaval no Brasil é notícia aqui e em qualquer outro lugar do mundo, e de São Luiz rende ainda mais. TV é essencialmente imagem. E lá, o que mais ‘rende’ são boas imagens.

Roupas coloridas, diferentes, criativas.

Tudo o que um repórter precisa para desenvolver um bom texto e preparar um belo material. O que aquele povo veste, toca, dança e canta não é algo produzido, falso ou demagogo.

Quem conhece aquela terra como eu conheço, sabe que aquilo é a mais pura expressão do jeito luizense de ser, de cantar, de dançar, de vestir. E mais, de ser!”

Marcelo Hespaña Repórter da TV Vanguarda, afilidada da Rede Globo no Vale do Paraíba, há 12 anos.

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Quem conhece aquela terra como eu conheço, sabe que aquilo é a mais pura expressão do jeito luizense de ser, de cantar, de dançar, de vestir. E mais, de ser!”

“A imprensa regional fez o Carnaval de São Luiz ser hoje reconhecido nacionalmente.

Transformou a cidade que recebia foliões do Vale do Paraíba, que não queriam praia nem salão, na cidade que recebe gente do país inteiro, em busca de cores e sons. A cobertura do Carnaval de São Luiz é pauta certeira. O colorido das chitas -- roupa oficial do folião -- e dos crepons, rende sempre boas imagens -- paraíso para fotógrafos e cinegrafistas.

A cidade, com mais de 200 anos, rende pelos casarões a curiosidade de pautas históricas. Quando se sabe do padre que disse que quem pulasse Carnaval teria rabo e chifre então...”

Claudio Nicolini Editor da TV Band Vale por quase dez anos e atual coordenador da Rádio CCR Nova Dutra

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107 Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

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A cidade, com mais de 200 anos, rende pelos casarões a curiosidade de pautas históricas. Quando se sabe do padre que disse que quem pulasse Carnaval teria rabo e chifre então...”

“A imprensa tem duas importâncias na formação do Carnaval luizense. A primeira porque foi justamente ela que deu início ao Carnaval de rua popular, não aquele Carnaval carioca. E através da valorização de pessoas que a elite de São Luiz achava desprezíveis. O ‘Chicote’ valorizou essas culturas populares, e ajudou a formar. A segunda é graças a televisão. Não foi ela que fez sozinha, mas a TV contribuiu muito no sentido de tornar o Carnaval um produto da indústria cultural” Judas Tadeu de Campos Foi repórter do Estado de S. Paulo, um dos editores do extinto jornal luizense O Chicote e professor aposentado da Universidade de Taubaté

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Não foi ela que fez sozinha, mas a TV contribuiu muito no sentido de tornar o Carnaval um produto da indústria cultural”

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apítulo VIII

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Por luizenses e para luizenses մմ Capítulo VIII

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O Carnaval foi a coisa mais importante que teve na cidade. Sou meio suspeito pra falar, mas o Carnaval ajudou a transformar em Estância Turística.

Nós criamos uma cultura diferente no estado mais rico da nação. A originalidade do Carnaval de São Luiz faz a gente e também o pessoal de fora se apaixonar. É gente de São Luiz fazendo música de São Luiz para São Luiz. Uma conversa no banco da praça acabou virando uma das melhores festas do Brasil” Benito Campos Artesão e compositor de Marchinhas

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Arquivo pessoal

Degiovani Lopes

Eu não participava daquele Carnaval antigo, mas ia ver.

Gostava muito de espiar os bailes, mas aí tudo acabou por conta do padre, infelizmente.

Quando resolveram voltar com o Carnaval foi uma festa só, e tudo era uma maravilha.

Os blocos se preparavam o ano todo para sair, e todo undo se mobilizava, era uma festa linda. Claro que nos últimos tempos mudou muito, porque tem muita gente de fora, mas a Cultura ainda prevalece. A diferença é que eu, com os meus 90 anos, já não sou a maior fã do mundo (risos). Mas entendo que a nove geração tenha seu espaço. E quer saber, acho que é muito por isso que o Carnaval daqui é tão apaixonante” Olga Fontes Compositora de Marchinhas

O Carnaval de Paraitinga

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Aqui em São Luiz, foram várias fases diferentes a respeito do Carnaval. Primeiro com alguns pequenos bailes ali no começo da década de 1960, depois com a intervenção da prefeitura naquela festa mais pensada no Carnaval carioca, e, principalmente, na década de 1980 com o Encuca a Cuca e o Juca Teles. A partir dali passou a virar algo mais teatral, o nosso Carnaval de verdade.

Com o tempo, o Carnaval daqui foi virando algo profissional, se tornou um produto. Não era mais a manifestação popular.

Claro que todas as fases e todos os tipos possuem suas próprias características, mas é diferente.

E, mesmo sendo totalmente diferente, não dá para dizer que é pior: o interessante é que o Carnaval de São Luiz justamente consegue agradar diversos gostos” Judas Tadeu de Campos Jornalista

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Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

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São Luiz é uma terra de muita festa, sempre acostumada a ouvir músicas e bandas diferentes. Quando a gente desenvolveu a nossa própria marchinha, o povo começou a ter facilidade para cantar e entender porque sabia que tudo aquilo estava vindo justamente dali. O Encuca acabou sim, os tempos mudaram sim, hoje é tudo diferente, mas ainda é o nosso Carnaval. Luizense dificilmente sai pra pular, mas sabe que foi ele que criou tudo isso que está aí, fazendo o sucesso e sendo notícia no mundo. Isso é o que vale pra gente” Luiz Homero dos Santos Compositor de Marchinhas

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O Carnaval não tem mais a identidade do começo, já que o domínio é da turma de fora. Mas ele sempre foi e sempre vai ser apaixonante.

Porque normalmente, o Carnaval em quase todas as cidades do Brasil parte do samba, e a gente criou marchinha. É um Carnaval diferente, e que foi criado propriamente aqui. O Carnaval é luizense, e nós temos o direito de dominar o Carnaval daqui. Afinal, a gente sabe que ele é nosso, né?”

Afonso Pinto Compositor de Marchinhas

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Arquivo pessoal

Lionel Medeiros

São mais ou menos três pontos que fazem o Carnaval de São Luiz ser inigualável.

O primeiro é a questão geracional: isso aqui é tradição, vem do berço. Com dois anos nós já estamos na procissão, e daí sobe no coreto, começa a cantar...

Você de um jeito ou de outro praticamente já nasce fazendo parte da cultura.

Depois tem a questão da rua, a dinamicidade dela. Pra gente é fundamental, ter toda essa festa espalhada, jogada pra rua, pra lá e pra cá. Isso é lindo. E terceiro e mais importante: o pessoal de São Luiz faz música para o pessoal de São Luiz e não está nem um pouco preocupado com o que vai acontecer depois. É música para a gente se divertir e fim de papo” Marco Rio Branco Compositor de Marchinhas

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São Luiz tem um Carnaval diferenciado. No Brasil temos Recife com o frevo, Salvador com o Axé, o Rio de Janeiro com o samba... e tem a marchinha.

Por mais que ela tenha sido criada no Rio, a marchinha tem sua capital em São Luiz. Você tem uma arquitetura histórica, uma música contagiante, pessoas bonitas, é perto de São Paulo... Isso aqui é o paraíso. Como dizia muito bem o Marco Rio Branco, São Luiz é uma ilha de marchinhas rodeada de samba por todos os lados. E é a nossa ilha de marchinhas” Galvão Frade Compositor de Marchinhas

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Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

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A liberdade com que o luizenses concede a cidade aos visitantes torna tudo mais atrativo. No meu ponto de vista, não há como guardar uma cultura apenas com o povo que aqui vive.

Muito mais do que ver o que acontece aqui, é preciso que o turista viva a cultura daqui. É esse elo, essa familiaridade, que as atraem cada vez mais pra cá. Acaba sendo o caso desse seu trabalho, além do fato de você estar em uma cidade vizinha, há toda uma coisa que te atrai aqui, uma coisa que faz as pessoas se sentirem em casa. Mas 20% dessa atração é o que eu consigo explicar, o resto é magia, é energia. Sim, São Luiz é muito mais místico do que conhecemos. E o mistério faz parte desse charme!”

Camilo Frade Compositor de Marchinhas

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Acreditamos que a consolidação do gênero musical preferido tenha sido o ingrediente mais importante dessa receita do sucesso carnavalesco. Entretanto, era preciso um pouco mais de consistência e por isso acrescentaram também os elementos da cultura secular local. Destacamos aqui as representações de lendas, mitos, personagens do folclore, confecção de bonecos, máscaras, cartolas, tiaras e outros itens complementares.

Por fim, a cereja especial desse saboroso bolo da alegria: o cenário cinematográfico do valioso casario colonial para garantir o melhor enquadramento dos blocos e da folia.

Ali, os foliões se embalavam, se embolavam e só paravam lá na porta da Igreja Matriz.

E tudo isso emoldurado naturalmente pelos verdes morros rodeando toda a cidade. E como já dizia o luizense compositor Elpídio dos Santos Filho, o Pio, “Desse jeito o Carnaval não para; Se eu grito um ‘e’ dá olê, olê, olê! Se eu grito um ‘a’ dá olê, olê, olá!”. Bloco vem, bloco vai... Evoé, São Luiz do Paraitinga!”

Maria Alice Ferreira e Degiovani Lopes da Silva Pesquisadores e autores do livro ‘Sem Rabo e sem chifre’

Arquivo pessoal

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մCapítulo IX

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O céu, o purgatório e o inferno մմ Capítulo IX

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118 Acervo Odilon BonafĂŠ

Degiovani Lopes

Acervo Odilon BonafĂŠ

O Carnaval de Paraitinga

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Acervo Odilon BonafĂŠ

Cris Bittencourt / Prefeitura de SĂŁo Luiz do Paraitinga

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121 Acervo Odilon Bonafé

Angélica del Nery / Prefeitura de São Luiz do Paraitinga

Iphan

Iphan

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Angélica del Nery / Prefeitura de São Luiz do Paraitinga

Cris Bittencourt / Prefeitura de São Luiz do Paraitinga

Cris Bitte

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encourt / Prefeitura de SĂŁo Luiz do Paraitinga

Jerry Rodrigues

Odilon BonafĂŠ

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124 Jerry Rodrigues

RogĂŠrio Marques

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125 Marcelo Caltabiano

RogĂŠrio Marques

RogĂŠrio Marques

O Carnaval de Paraitinga Marcelo Caltabiano

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Respeitável público do Sertão das Cotias Flores, chitas e o Carnaval de Paraitinga

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Jerry Rodrigues

Este livro-reportagem, caro leitor, é a obra definitiva sobre o Carnaval de São Luiz do Paraitinga. Com todas as suas cores, que parecem marchar pelas ruas da cidade, em um arco-íris de folia, anunciando ao povo do Sertão das Cotias: é dia de festa!

Aqui, você encontrará os versos e os personagens de uma cidadezinha que aprendeu a misturar realidade e fantasia. Fantasia de chita, como pede a tradição. De um povo que, tal qual a fênix da mitologia grega, tem o poder de renascer das cinzas. Da Quarta-feira de Cinzas. E então se renovar. Como aconteceu com o próprio Carnaval em São Luiz -- a cidade ficou por 60 anos sem folia, depois que um padre italiano ‘proibiu’ a festa mundana. Diziam até, veja só, que nasceria chifre e rabo em quem descumprisse a determinação e caísse na farra. Ou como ocorreu em 2010, quando a cidade sofreu com a tragédia das chuvas.

O trabalho desenvolvido por Caíque Toledo, repórter persistente e obstinado, é um registro histórico. É o resultado de dezenas de entrevistas, meses e meses de pesquisas detalhadas e garimpagem de fotos raras.

Mais do que isso, este livro-reportagem é um raio-x da alma luizense. Explica tintim por tintim como uma pequena cidade do interior paulista, reduto caipira com pouco mais de 10 mil habitantes, outrora famosa por não ter Carnaval, tornou-se palco de uma das festas mais cultuadas e genuínas do Brasil. Pois é, alguém avisa o Juca Teles e o Barbosa, por favor. Já deu até no New York Times!

Não tem jeito, Do céu, do purgatório e do inferno, ninguém escapa, caro leitor. Está na boca do povo, são palavras de amor. Amor ao Carnaval. Amor ao jornalismo. Amor a São Luiz do Paraitinga. Aproveite a leitura.

Guilhermo Codazzi da Costa