Portfólio Académico

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PORTFÓLIO ACADÉMICO

CARLA ANDREINA GARCIA VERA TRABALHOS SELECIONADOS ARQUITECTURA
2023

O meu nome é Carla e sou uma estudante recém-graduada em arquitetura. Sendo natural da Venezuela, procuro muitas das minhas referências na arquitetura latino-americana para aplicá-las nos meus projetos. Neste documento estão apresentados alguns trabalhos académicos selecionados que comunicam o progresso das minhas habilidades, personalidade e experiência durante os meus estudos em arquitetura. O meu objetivo é entrar no campo profssional para assim expandir ainda mais os meus conhecimentos e fazer parte de uma equipa na qual possa colaborar com a melhor disposição. Sem mais a disser, espero este portfolio seja do vosso agrado.

Atentamente,

PÁG. 4 I

VIVENDAS COLETIVAS NA AV. DE

BOAVISTA | PORTO

CADEIRA | PROJETO III

RESIDENCIA ESTUDIANTIL EM

BONFIM | PORTO

CADEIRA | PROJETO IV

PÁG. 14

VIVENDAS SOCIAIS EM ROTA

ANÁLISE E MODELAÇÃO 3D

CADEIRA | CONSTRUÇÃO II

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TRABALHOS SELECIONADOS
II
III
I

A REVITALIZAÇÃO DE UMA COMUNIDADE

OLIVEIRA DE AZEMÉIS: PROPOSTA DE UMA ARQUITECTURA PARTICIPATIVA

TESE DE MESTRADO

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INTERVENÇÃO URBANA EM OLIVEIRA DE AZEMÉIS CADEIRA | PROJETO III

IV V
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Projeto académico | Projeto III 2018—2019

VIVENDAS COLETIVAS NA AV. DE BOAVISTA, PORTO

O projeto apresentado a seguir baseia-se na conclusão de três fases de trabalho durante o terceiro ano da universidade para a disciplina de Projeto III. Na primeira fase, fomos desafados a explorar de forma conceitual os diferentes tipos de acessos dedicados a conjuntos residenciais — acesso direto; acesso em galerias; acesso vertical múltiplo —, juntamente com a ausência de um contexto urbano. Graças aos resultados obtidos durante esta primeira fase, nas duas etapas seguintes do processo, foi mais fácil a formulação de uma proposta que se adaptasse ao terreno fornecido para a implantação de um complexo de habitação coletiva. Portanto, na segunda fase, foi-nos solicitado criar uma série de edifícios que se adaptassem ao terreno, desenvolvendo soluções para o espaço público e de circulação, que cumprissem o objetivo de organizar o terreno.

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Alçado geral surl

Finalmente, durante a última fase do trabalho, foi selecionado e desenvolvido mais detalhadamente um dos edifícios que faziam parte do complexo habitacional, aprofundando detalhes construtivos e estruturais.

Como pode ser observado na planta geral do terreno, este projeto consiste em quatro volumes paralelos à Av. de Boavista — para que não se perca a continuidade visual apresentada pelas diferentes edifcações ao redor do terreno de intervenção —, os quais incluem os três tipos de acesso estudados na primeira fase do trabalho, sendo que o edifício mais a norte tem acesso vertical múltiplo, seguido por um de acesso em galeria e os dois últimos volumes têm acesso direto.

O primeiro edifício procura resolver o desafo apresentado pela fachada lateral lisa do edifício pré-existente a oeste do terreno, fundindo o novo edifício com o antigo. É graças a essa união que decidi manter a nova volumetria de acordo com a mesma espessura do edifício pré-existente, tornando-o favorável para ser convertido em um conjunto habitacional de acesso vertical múltiplo. Em seguida, criei um edifício de acesso em galeria, o que permite que a volumetria seja mais estreita, respeitando a distância mínima entre os dois edifícios e sendo mais baixo, permitindo a entrada de luz noo edifício voltado para a avenida. Para acessar ambos edifícios, criei uma única entrada comum localizada entre os dois volumes, o que permite um acesso mais controlado e privado as residencias.

Alçado geral norte

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Plantas gerais dos edifcios residenciais — sistema de acesso vertical múltiplo e galeria

T0 T1 T2 T3 6
Planta R/C
Piso 1 ao 7 7

Por fm, o conjunto de unidades com acesso direto voltado para a rua António Patricio foi dividido em dois volumes horizontais, incluindo uma área comum de jardim e pátios de caráter privado para cada proprietário, seja nas unidades T2 e T3 de caráter duplex ou nas unidades T1 e T0 que compõem o conjunto. As habitações multifamiliares foram projetadas com a intenção de seguir a linguagem mais tranquila e residencial da rua António Patricio — evitando a construção de volumes imponentes —, mantendo assim as edifcações a uma altura semelhante à das casas pré-existentes em frente ao terreno de implantação.

T2 DUPLEX T0 T3 DUPLEX T1 T3 T3 T2 T2 T2 T3 T3 T0 T1 T1 8
Diagrama conceptual da divisão de apartamentos em cada conjunto

Plantas generales del conjunto residencial — sistema de acceso directo

Planta baja Piso 1 Piso 2
T0 T1 T2 T3 9

Foi selecionado o conjunto de edifícios de acesso vertical múltiplo e galeria para a última fase do exercício, devido à necessidade de trabalhar de forma mais extensiva numa solução fnal coerente para o conjunto, o que levou à perfeição do módulo base que se repete em ambos os volumes, como pode ser apreciado nas plantas apresentadas nesta página.

À esquerda, a planta correspondente aos apartamentos T0 e T2 presentes no edifício em galeria. À direita, a planta correspondente aos apartamentos T1 e T2 presentes no edifício de acesso vertical. Ambos os edifícios partilham o mesmo módulo em espelho, o qual foi ligeiramente modifcado para cumprir com os requisitos de área mínima quadrada de acordo com o tipo de apartamento.

Planta do modulo de acesso em galeria — t0 e t2

Planta do modulo de acesoo vertical múltiplo — t1 e t2

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1. Sistema ecothermic plus — technal

2. Placagem de pedra

3. Poliestireno expandido

4. Tela de impermeabilização

5. Camada de forma

6. Geotextil

7. Poliestireno extruido

8. Tijolo

9. Regularização

10. Godo

11. Chapa de zinco

12. Betão

13. Reboco

14. Argamassa de assentamento

15. Pavimento madeira

16. Camada de ar

17. Poliestireno expandido + graniplast

18. Mosaico hidraulico

19. Pedra

20. Caixa de areia

21. Pavimento microbetão

22. Tout-venant

23. Enrocamento

24. Terra compactada

25. Dreno periferico

26. Sapata de betão

Secção do corte construtivo do edifício residencial de sistema de acesso vertical múltiplo

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Secção do corte transversal ao terreno 12
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RESIDENCIA ESTUDIANTIL EM BONFIM, PORTO

Para este projeto, o programa exigia a criação de uma residência estudantil em Bonfm, Porto, que fosse acompanhada por um programa de espaços comuns para uso dos residentes da nova área habitacional. O maior desafo deste projeto foi trabalhar com um programa tão complexo como este em um terreno com topografa irregular e grandes inclinações, conseguindo integrá-lo de forma coerente no mesmo e tentando manter algumas das suas qualidades positivas pré-existentes.

Com base na visita realizada, pude identifcar várias características que talvez pudessem ser trabalhadas para manter a essência do local, como, por exemplo, a existência prévia de um caminho que conecta a parte mais alta do terreno com o ponto mais baixo da Rua das Eirinhas, que se adapta naturalmente à inclinação do terreno.

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Projeto académico | Projeto IV 2019—2020

Fotografas tiradas durante a visita presencial ao terreno e posteriormente analisadas para obter uma melhor compreensão sobre a sequência e características da área.

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A solução fnal apresenta quatro volumes unifcados por uma mesma linguagem horizontal no ponto mais alto e estável do terreno, de forma a não comprometer a estabilidade destes. Três dos quatro volumes, destinados às residências estudantis, estão localizados do lado esquerdo do terreno — incluindo quartos compartilhados, áreas de refeições e cozinhas — a uma cota mais baixa da nova via principal para garantir a redução de ruídos provenientes da rua na área residencial. Ao mesmo tempo, esta área está ligada ao quarto e último volume, que é composto por espaços administrativos, áreas comuns e de estudo, e um auditório.

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Corte AA’
B’ B C’ C A’ A D’ D Pantas piso 1, 0 y -1
Corte BB’
17 Corte CC’ Corte DD’
18 Planta habitação Corte longitudinal

Corte transversal

19 habitação partilhada

Alçados dirección oeste

Alçados dirección este

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Projeto académico | Construção II

2018—2019

“VIVIENDAS SOCIALES EN ROTA” DO GUILLERMO VÁZQUEZ CONSUEGRA

Análise e modelação 3D

Este exercício desenvolvido durantea cadeira de Construção II tinha como propósito demonstrar as nossas habilidades analíticas e de representação tridimensional através da reconstrução detalhada de um projeto de escolha livre. O objetivo deste exercício era aprimorar o nosso conhecimento sobre os processos de execução, técnicas construtivas, características e dimensões físicas dos elementos que compõem a obra, assim como o conhecimento de texturas, entre outros.

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Noventa habitações compõem o conjunto do quarteirão em Rota, uma cidade costeira na província de Cádiz. Foi proposto um bairro em torno de um boulevard central, como parte de um concurso que surgiu em 1996, mas que foi superado pelo arquiteto sevilhano Guillermo Vázquez Consuegra.

A solução para estas habitações sociais o levou a ganhar o Prêmio Europeu de Arquitetura W. Ugo Rivolta em 2008, no qual, durante seu discurso, proferiu as seguintes palavras:

“É muito importante valorizar e promover habitações sociais, uma arquitetura que tem sido negligenciada nos últimos anos. Durante as vanguardas históricas, o carro-chefe do movimento moderno eram as habitações públicas, porque são elas que constroem a cidade; no entanto, agora elas passaram para segundo plano. Atualmente, todo o interesse se concentra na arquitetura singular, nas grandes infraestruturas culturais.”

Estas palavras não apenas demonstram a capacidade analítica deste arquiteto, que é o que o destaca, além de sua criatividade e rigor, no contexto da arquitetura espanhola, mas também sua preocupação em “construir o lugar”, entendendo este termo como a base mais importante do método de projeto para relacionar o contexto e o construído. Em suas obras, pode ser apreciada a ideia de que os espaços equilibrados são idealizados com o propósito de serem vividos.

Vázquez Consuegra oferece uma solução que, apesar de manter os alinhamentos das fachadas exteriores, possui uma série de quebras em seu interior; que vão gerar uma intensa relação espacial entre a arquitetura e a natureza de seu jardim interior.

Frente às suas paredes planas e uniformes que formam a fachada, o interior resulta em dobras múltiplas, assemelhando-se a um biombo, confgurando um espaço orgânico e uma paisagem geométrica interessante no coração do quarteirão.

Corte constructivo general

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24 Vista geral do interior e fachada exterior

1.Reboco de tijolo com argamassa 1:6

2.Formação de inclinação com betão celular

3.Folha de PVC armada de 1,2 mm

4.Geotêxtil 160 g/m²

5.Isolamento em poliestireno extrudido E=3 cm

6.Brita limpa com diâmetro superior a 8 cm

7.Reboco de gesso

8.Parafuso galvanizado M-10 fxado com epóxi

9.Painel de alumínio PNL 60x40x3

10.Caixa de persiana de alumínio com 2 mm de espessura

11.Folha fna de alumínio com espessura de 1 mm

12.Preenchimento com espuma de poliuretano projetada

13.Persiana

14.Peça de tijolo perfurado

15.Perfl de alumínio PNL 30

16.Reboco de 15 mm

17.Divisória de tijolo vazado simples

18.Câmara de ar

19.Isolamento de 30 mm

20.Rodapé de terrazzo

21.Terrazzo com espessura de 3 cm

22.Argamassa de cimento 1:6 com espessura de 2 cm

23.Camada de areia com espessura de 2 cm

24.Laje

25.Placa alveolar aligeirada autoportante 26.Câmara sanitária de laje

27.Reboco de argamassa 1:6

28.Poliestireno expandido de 2 cm

29.Acabamento com chapolam

30.Tubo galvanizado de 40x20x2

31.Chapa de alumínio dobrada de 3 mm

32.Parede de betão aparente

33.Tubo de alumínio de 30x15x1,5

34.Junta de 50 mm

35.Vedação contínua com massa de poliuretano monocomponente

36.Carpintaria deslizante de alumínio

37.Guia da persiana

38.Vedação contínua com massa de poliuretano monocomponente

39.Tubo de aço galvanizado #100MM para ventilação da câmara, Classe

C5/M

40.Junta asfáltica

41.Junta de poliestireno extrudido

42.Soleira hidráulica

43.Base de betão

44.Folha de polietileno

45.Enchimento de brita limpa

46.Geotêxtil de feltro

47.Folha drenante DELTA MS

48.Parede de betão

49.Laje de betão

50.Betão de limpeza

51.Solo natural compactado

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Pormenor da cobertura interior e fachada exterior
Pormenor da parede interior e fachada exterior 26
27 Pormenor do interior e assentamento

Projeto

académico | Projeto V 2020—2021

INTERVENÇÃO URBANA EM OLIVEIRA DE AZEMÉIS

Para este último projeto acadêmico da disciplina de Projeto, tivemos a oportunidade de nos confrontar com uma cidade no distrito de Aveiro sobre a qual deveríamos refetir, a fm de posteriormente propor um modelo de intervenção. Desta forma, após realizar uma análise e desenvolver propostas territoriais, surgiu a proposta “Desvanecer Fronteiras, Cicatrizar Territórios” para o caso de estudo selecionado: Oliveira de Azeméis.

Para entender melhor o motivo do título, é necessário desfragmentá-lo. “Desvanecer Fronteiras” refere-se à refexão realizada sobre os problemas apresentados pelas fronteiras — naturais e humanas — que dividem o território, não apenas dentro dele, mas também com comunidades adjacentes. Por outro lado, “Cicatrizar Territórios” refere-se à intenção de destacar as diferentes variáveis que impedem a concepção de um território homogêneo e coerente, e apresentar possíveis soluções para esses problemas.

Por meio de uma análise abrangente do município, conseguimos formular uma hipótese para a transformação do território, com o objetivo de abordar os problemas identifcados.

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Fotografas tiradas durante uma das várias visitas presenciais ao município, nas quais tivemos contato direto com seus habitantes e conseguimos obter uma conclusão mais aproximada da realidade do território

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FASE 1

ANÁLISE PROSPETIVO

A primeira fase deste exercício consistiu em realizar uma análise aprofundada do território de acordo com seus múltiplos aspectos, incluindo a história do local, características territoriais e características socioeconômicas.

Esta análise nos permitiu reconhecer várias questões presentes no território — como a inexistência de equipamentos municipais, lacunas nos sistemas viários e pedestres, falta de infraestrutura para o tratamento de águas residuais, ausência de redes de transporte público regulares, entre outros —, que colocavam em dúvida sua capacidade de proporcionar qualidade de vida aos seus cidadãos.

Assim, áreas com uma preocupante falta de espaço público, bem como espaços culturais e de lazer, habitação, etc., foram identifcadas, juntamente com as linhas de água e as zonas residenciais e industriais, a fm de mantê-las em consideração ao criar soluções que atendessem às necessidades das áreas.

Análisis Prospetiva da Parroquia de Oliveira de Azeméis

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Análise do territorio de Oliveira de Azeméis

FASE 2

PROPOSTA ESTRATEGICA E UNIDADES OPERATIVAS

Com base nas necessidades identifcadas durante a primeira fase, foram defnidas três unidades operacionais — mobilidade, IC2 e corredor verde — que buscam resolver algumas destas questões. Graças à criação destas três unidades, tornou-se mais fácil para nós refetir sobre possíveis soluções e gerar diferentes propostas para melhorar a rede pública de transporte, a inclusão de novas instalações de diversos interesses — comerciais, de lazer, recreativas, etc. —, espaços verdes de caráter público, espaços educacionais e habitações.

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33 Proposta estratégica

FASE 3

ZONAS DE INTERVENÇÃO PRIORITARIAS

Na última fase, tivemos a oportunidade de trabalhar individualmente em nossa própria ZIP — Zona de Intervenção Prioritária — selecionada previamente. Neste caso, meu interesse estava voltado para a unidade do corredor verde, que tinha o propósito de oferecer à comunidade um eixo de travessia contínua ao longo do território, por meio da concepção de um conjunto de instalações públicas ligadas por vias pedestres e ciclovias. Por essas razões, escolhi desenvolver a ZIP Abelheira, que se apresenta como um dos vários núcleos verdes para a comunidade, simbolizando os novos pulmões de Oliveira de Azeméis.

O jardim é a essência principal desta ZIP e nela existem diversas atividades físicas que ocorrem em áreas variadas, a fm de aumentar a oferta de áreas recreativas para esta nova zona de habitação e comércio. Em resumo, minha intenção para esta área foi criar um espaço de transição entre o centro de Oliveira e sua zona industrial, que atualmente não se interligam de forma progressiva, mas colidem de maneira violenta, sem deixar espaço para a criação de uma separação entre essas duas áreas.

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Estudos visuais da re-naturalização junto a Ribeira de Lações
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Zona de Intervenção Prioritaria da Abelheira

Cortes da Zona de Intervenção Prioritaria da Abelheira

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A REVITALIZAÇÃO DE UMA COMUNIDADE

OLIVEIRA DE AZEMÉIS: PROPOSTA DE UMA ARQUITECTURA PARTICIPATIVA

Como trabalho fnal para a conclusão do curso, minha dissertação nasceu do interesse em unifcar comunidades, tanto social quanto fsicamente, por meio de uma proposta de reprogramação urbanística de um território existente, fundamentada na ideia de técnicas de participação pública e coletiva. Para atingir este objetivo, escolhi o caso da disciplina de Projeto V, devido à proximidade com o caso de estudo, sendo uma experiência pessoal que me permitiu aprofundar minha compreensão sobre um exemplo real.

A metodologia do trabalho consistiu na identifcação e análise dos problemas que ocorrem em comunidades onde espaços públicos de lazer são quase inexistentes, criando uma falta de integração, participação e gradualidade, e estabelecendo como, a partir dos problemas identifcados, é possível chegar a uma resposta de intervenção que possa ser aplicada de forma geral a qualquer comunidade que apresente problemas semelhantes.

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Projeto académico | Tese de Mestrado 2022—2023

Todo projeto urbano deve considerar as limitações e defciências de um território, levando em consideração o direito de todos ao acesso a espaços públicos. Assim, procuro propor um método de transformação do território que crie espaços e práticas sociais sustentáveis incentivadas pela participação da comunidade, criando soluções que possam se adequar às condições de diferentes terrenos e às necessidades dos usuários, fazendo uso da participação coletiva dos residentes para debater as necessidades do território e justifcar as decisões tomadas para a reprogramação do mesmo.

O objeto do trabalho foi a refexão sobre a condição das comunidades urbanas abandonadas que precisam ser revitalizadas, enquanto o objetivo foi demonstrar como uma metodologia participativa pode infuenciar positivamente a transformação de um território, usando como exemplo as Cidades Industriais em Portugal e refetindo sobre sua condição atual.

Para atender às necessidades dos territórios e garantir um resultado positivo, apresentei um referencial teórico no qual foram estudados modelos participativos e adaptativos que empregam as técnicas mais adequadas para enfrentar a fractura de um território.

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MODELO DE CIDADE INDUSTRIAL CONTEMPORÂNEA NO DISTRITO DE AVEIRO

Este capítulo concentrou-se em defnir o que se entende por cidade industrial e seus dois tipos de desenvolvimento, clássico e difuso. No desenvolvimento industrial clássico, as indústrias se concentram em uma única área da cidade, enquanto na industrialização difusa, pequenas e médias empresas estão dispersas ao longo do território.

No que diz respeito ao distrito de Aveiro, predomina a industrialização difusa, o que impediu a formação de grandes aglomerados urbanos nas áreas rurais ocupadas pelas indústrias. Atualmente, o conceito de “cidade industrial” evoluiu para o de “regiões industriais”, estas regiões costumam estar localizadas próximas a grandes cidades, facilitando o acesso aos recursos produzidos pelas empresas, ao mesmo tempo que garantem espaço sufciente entre elas para realizar atividades em grande escala sem afetar a vida cotidiana dos residentes.

O
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Oliveira de Azeméis também experimentou um forte crescimento industrial devido à oferta de trabalho em diversas indústrias. Estarreja se destacou pelo seu complexo químico e foco no desenvolvimento industrial sustentável.

Em relação a São João da Madeira, esta cidade se transformou em um importante centro industrial com inúmeras empresas, em parte impulsionado pela instalação da linha ferroviária de Vouga.

Na região de Águeda, mais da metade da população trabalhava no setor agrícola em 1950, mas 20 anos depois, 54% de sua força de trabalho estava empregada no setor secundário.

A maioria destes municípios caracterizaram-se por serem regiões industriais com desenvolvimento disperso em vez de concentrado. Apesar de terem ocorrido avanços, ainda existem desafos em termos de infraestrutura e serviços nas áreas onde as indústrias já estão consolidadas. Assim, surge a pergunta sobre o que acontece quando a indústria já está estabelecida em uma comunidade, como visto nos casos anteriores com parques industriais consolidados.

Em 1980, Santa Maria da Feira recuperou seus níveis de produtividade, mas os salários estavam abaixo da média nacional. A atividade industrial afetou a agricultura, levando muitas famílias a buscar emprego na indústria para melhorar seus salários.

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SOBRE AS CIDADES PARTICIPATIVAS

A arquitetura participativa surge como resposta aos erros cometidos na construção com uma abordagem individualista, buscando envolver a comunidade na concepção do projeto, levando em consideração suas necessidades e valores coletivos. Basicamente, esta ideia se baseia em um estudo antropológico, arquitetônico e social para se adaptar às necessidades e culturas de cada comunidade, promovendo a tomada de decisões comunitárias e a troca de conhecimentos, estabelecendo uma relação igualitária entre o arquiteto e a comunidade. Isso torna o processo contínuo e enriquecedor, promovendo o desenvolvimento positivo do território, evitando imposições e incentivando a participação ativa da comunidade. Ao contrário da abordagem do Movimento Moderno, a arquitetura comunitária busca se adaptar às necessidades e desejos da comunidade, promovendo a participação conjunta dos habitantes na criação de espaços arquitetônicos, incentivando a atividade contínua e a experiência comum.

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Escala da Participação por Roger A. Hart Diagrama de uma zona residencial organizada hierarquicamente; espaços privados, semiprivados, semipúblicos e públicos extraído de A Humanizaçao do Espaço Urbano por Jan Gehl

Técnicas para inibir ou promover o contato extraídas de A Humanizaçao do Espaço Urbano por Jan Gehl

Enquanto à metodologia usada, isso depende do contexto e dos objetivos do projeto, mas sempre deve seguir os princípios da participação de múltiplos atores, soluções amplas e implementação gradual, misturando diferentes técnicas, como dinâmicas de grupo, entrevistas e observação presencial do território, adaptando-as às necessidades da comunidade e incentivando a participação de todos os membros.

O espaço público na cidade é de grande importância para a vida coletiva da comunidade, razão pela qual é fundamental analisar o design urbano para entender como a cidade funciona e encontrar soluções para os problemas que surgem, com o objetivo de criar ambientes positivos que enriqueçam a vida dos habitantes, evitando construções ostentosas e forçadas para mascarar a falta de vida social e as fragilidades urbanas, sem trazer benefícios reais para a qualidade de vida dos residentes ou resolver as divisões na comunidade.

Em Espanha, nos últimos anos, vários municípios têm sido exemplos de arquitetura participativa. Neste subcapítulo, foram apresentados projetos a nível local, onde o urbanismo participativo e a arquitetura social foram desenvolvidos graças à gestão municipal que prioriza a colaboração entre os habitantes e os profssionais para criar espaços urbanos que atendam às necessidades e desejos da comunidade.

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O projeto de reabilitação da Praça Baró em Coloma de Gramenet buscou criar uma rede de espaços públicos consolidados que se complementassem entre si. Foi utilizada a participação ativa da comunidade, especialmente dos jovens, por meio de processos participativos e debates para coletar ideias e chegar a acordos. O projeto foi dividido em quatro fases, que incluíram análises coletivas, sessões de co-criação com grupos de jovens e elaboração de uma proposta fnal.

Em conjunto com a participação de cidadãos e profssionais, buscou-se dar novos usos à Biblioteca Municipal de Náquera, tornando-a um símbolo de identidade comunitária. Foi realizado então uma análise profunda da realidade dos residentes da área, priorizando a criação de identidade cidadã por meio de atividades colaborativas como “imaginacción” e “grafftiacción”. A metodologia impulsionou a energia cidadã e criou uma estrutura simples e fexível para o aproveitamento do patrimônio público, adaptando-se às diferentes realidades locais, desde que a participação necessária seja garantida para preservar a identidade do espaço.

44 BARCELONA VALENCIA

Para o Bairro de Virgen de Begoña, foi possível conceber ações propostas pela comunidade, fnanciadas por eles próprios, com o objetivo de recuperar o equilíbrio social e territorial dos bairros desfavorecidos. Foram realizadas sessões para identifcar os fatores prioritários a serem considerados para melhorar o bem-estar e a qualidade de vida dos bairros. As entidades locais apresentaram propostas que foram avaliadas e adaptadas pelos profssionais em planejamento urbano.

Foi realizado um diagnóstico participativo do bairro Sant Miquel para defnir colaborativamente as respostas que fariam parte do Plano de Intervenção de Ações de Melhoria. As informações obtidas foram gerenciadas de forma simplifcada, utilizando mapas, diagramas e percentagens para facilitar a compreensão, também foram realizados workshops colaborativos para a defnição de propostas, com o objetivo de tornar o bairro mais acolhedor, habitável, atrativo e ativo, impulsionando o turismo rural e melhorando a qualidade de vida.

45 MADRID GIRONA

CASO DE ESTUDO: OLIVEIRA DE AZEMÉIS

Este último capítulo consistiu em uma breve explicação do projeto “Desvanecer Fronteras, Cicatrizar Territorios”, apresentado nas páginas 28-37, explicando o processo e a metodologia com a qual o grupo trabalhou, bem como meu envolvimento pessoal e individualizado durante a última fase do projeto, seguido por uma refexão sobre o trabalho.

Depois de refetir sobre o trabalho realizado e adquirir novos conhecimentos, reconheci que havia aspectos que poderiam ter sido abordados de forma diferente. Talvez a condição da pandemia e a falta de aproximação pessoal com a comunidade tenham afetado a abordagem mais pessoal do projeto. No entanto, a intenção sempre foi proporcionar um espaço urbano digno que melhorasse a qualidade de vida dos moradores, impulsionasse a economia e criasse uma rede de espaços acessíveis por meio da reabilitação dos espaços existentes.

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O espaço público é essencial para a qualidade de vida dos cidadãos, permitindo atividades recreativas e sociais inclusivas. No distrito de Aveiro, o crescimento industrial do passado resultou em uma falta de consideração pelo espaço público. Com a desindustrialização, surgiram vazios urbanos que precisam de um redesenho do território para valorização e melhoria da qualidade de vida. A arquitetura participativa é uma solução para revitalizar comunidades, envolvendo os residentes no processo de projeto e tomada de decisões.

Para concluir o trabalho, deixei aberta esta última pergunta: Não será necessário que o arquiteto, seguindo seu papel de transformador da cidade no que se refere ao projeto urbano, estabeleça diálogos mais diretos e imediatos com as comunidades para as quais vai projetar uma nova solução de restauração do espaço comum?

Finalmente, apresentei uma ideia hipotética de como um programa poderia funcionar na prática, com o objetivo de integrar a comunidade. Primeiro, propus uma série de perguntas que poderiam ser feitas à população em espaços públicos, a fm de compreender a opinião sobre seu território. Com base nessas perguntas, decisões poderiam ser tomadas em relação às atividades a serem realizadas posteriormente para envolver a comunidade de forma prática e ativa na tomada de decisões, fazendo com que

eles pensem e refitam sobre o espaço em que se movem diariamente. Em seguida, seriam realizadas reuniões entre profssionais, levando em consideração os resultados das pesquisas e atividades já realizadas, criando um esquema muito básico da ideia inicial que se pretende mostrar à comunidade para a melhoria do território e, mais uma vez, solicitando suas opiniões sobre esse plano, fazendo ajustes com base nas novas críticas da comunidade. Finalmente, dessa forma, seria possível chegar a um plano que se aproxime o mais possível da ideia de um espaço ideal para a comunidade, já que as decisões sempre buscaram, dentro das capacidades dos profssionais, cumprir e atender às demandas da população.

Embora esta série de etapas seja apresentada como um processo muito geral, o plano pode ser adaptado a qualquer situação, pois seria possível implementar diferentes técnicas para atingir os objetivos de qualquer comunidade. É importante considerar que um projeto desta magnitude leva tempo, possivelmente vários anos, e requer uma equipa diversifcada com conhecimentos em várias áreas profssionais.No entanto, é por essa mesma razão que apresentei este programa para ser considerado para um trabalho imediato.

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