Revista Empresa Brasil 137

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Empresa

Brasil

Ano 13 l Número 137 l Dezembro de 2016

Vendas de Natal deste ano não entusiasmam lojistas

GOVERNO PRECISA CONVENCER A POPULAÇÃO SOBRE A NECESSIDADE DAS REFORMAS


Federações CACB

DIRETORIA DA CACB TRIÊNIO 2016/2018 PRESIDENTE George Teixeira Pinheiro (AC) 1º VICE-PRESIDENTE Jésus Mendes Costa (RJ) VICE-PRESIDENTES Alencar Burti (SP) Emílio César Ribeiro Parolini (MG) Ernesto João Reck (SC) Francisco de Assis Silva (DF) Guido Bresolin (PR) Itamar Manso Maciel Júnior (RN) Jussara Pereira Barbosa (PE) Kennedy Davidson Pinaud Calheiros (AL) Olavo Rogério Bastos das Neves (PA) VICE-PRESIDENTE DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS Sérgio Papini de Mendonça Uchoa (AL) VICE-PRESIDENTE DA MICRO E PEQUENA EMPRESA Luiz Carlos Furtado Neves (SC) VICE-PRESIDENTE DE SERVIÇOS Rainer Zielasko (PR) DIRETOR–SECRETÁRIO Jarbas Luis Meurer (TO) DIRETOR FINANCEIRO Jonas Alves de Souza (MT)

Acre – Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Acre – FEDERACRE Presidente: Adem Araújo da Silva Avenida Ceará, 2351 Bairro: Centro Cidade: Rio Branco CEP: 69909-460

Paraná – Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná – FACIAP Presidente: Guido Bresolin Rua: Heitor Stockler de Franca, 356 Bairro: Centro Cidade: Curitiba CEP: 80.030-030

Alagoas – Federação das Associações Comerciais do Estado de Alagoas – FEDERALAGOAS Presidente: Kennedy Davidson Pinaud Calheiros Rua Sá e Albuquerque, 302 Bairro: Jaraguá Cidade: Maceió CEP: 57.020-050

Pernambuco – Federação das Associações Comerciais e Empresariais de Pernambuco – FACEP Presidente: Jussara Pereira Barbosa Rua do Bom Jesus, 215 – 1º andar Bairro: Recife Cidade: Recife CEP: 50.030-170

Amapá – Associação Comercial e Industrial do Amapá – ACIA Presidente: Nonato Altair Marques Pereira Rua Eliéser Levy, 1122 Bairro Centro Cidade: Macapá CEP: 68.900-083

Piauí – Associação Comercial Piauiense - ACP Presidente: José Elias Tajra Rua Senador Teodoro Pacheco, 988, sala 207. Ed. Palácio do Comércio 2º andar - Bairro: Centro Cidade: Teresina CEP: 64.001-060

Amazonas – Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Amazonas – FACEA Presidente: Valdemar Pinheiro Av. Senador Álvaro Maia, 2166 Sala 01 – Praça 14 de Janeiro Bairro: Centro Cidade: Manaus CEP: 69.020-210 Bahia – Federação das Associações Comerciais do Estado da Bahia – FACEB Presidente: Clóves Lopes Cedraz Rua Conselheiro Dantas, 5. Edifício Pernambuco, 9° andar Bairro: Comércio Cidade: Salvador CEP: 40.015-070 Ceará – Federação das Associações Comerciais do Ceará – FACC Presidente: João Porto Guimarães Rua Doutor João Moreira, 207 Bairro: Centro Cidade: Fortaleza CEP: 60.030-000 Distrito Federal – Federação das Associações Comerciais e Industriais do Distrito Federal e Entorno – FACIDF Presidente: Francisco de Assis Silva Quadra 01, Área Especial 03, Lote 01, Núcleo Bandeirante, Setor de Indústria Bernardo Sayão Cidade: Núcleo Bandeirante/DF CEP: 71735-167

CONSELHO FISCAL TITULAR Amarildo Selva Lovato (ES) Valdemar Pinheiro (AM) Wladimir Alves Torres (SE)

Espírito Santo – Federação das Associações Comerciais, Industriais e Agropastoris do Espírito Santo – FACIAPES Presidente: Amarildo Selva Lovato Av. Nossa Senhora dos Navegantes, 955. Ed. Global Tower, sala 713, 7° andar - Bairro: Enseada do Suá - Cidade: Vitória - CEP: 29.050-335

CONSELHO FISCAL SUPLENTE Domingos Sousa Silva Júnior (MA) Ubiratan Silva Lopes (GO) Pedro José (TO)

Goiás – Federação das Associações Comerciais, Industriais e Agropecuárias do Estado de Goiás – FACIEG Presidente: Ubiratan da Silva Lopes Rua 143 - A - Esquina com rua 148, Quadra 66 Lote 01 Bairro: Setor Marista Cidade: Goiânia CEP: 74.170-110

CONSELHO NACIONAL DA MULHER EMPRESÁRIA Neiva Suzete Dreger Kieling (SC) CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO JOVEM EMPRESÁRIO Fernando Fagundes Milagre SUPERINTENDENTE DA CACB Juliana Kämpf GERENTE ADMINISTRATIVO-FINANCEIRO César Augusto Silva COORDENADOR DO EMPREENDER Carlos Alberto Rezende COORDENADOR DA CBMAE Eduardo Vieira COORDENADOR DO PROGERECS Luiz Antônio Bortolin COORDENAÇÃO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL fróes, berlato associadas COMUNICAÇÃO SOCIAL Neusa Galli Fróes SCS Quadra 3 Bloco A Lote 126 Edifício CACB 61 3321-1311 70.313-916 Brasília - DF Site: www.cacb.org.br

Maranhão – Federação das Associações Empresariais do Maranhão – FAEM Presidente: Domingos Sousa Silva Júnior Rua Inácio Xavier de Carvalho, 161, sala 05, Edifício Sant Louis. Bairro: São Francisco - São Luís CEP: 65.076-360 Mato Grosso – Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Mato Grosso – FACMAT Presidente: Jonas Alves de Souza Rua Galdino Pimentel, 14 - Edifício Palácio do Comércio 2º Sobreloja – Bairro: Centro Norte Cidade: Cuiabá CEP: 78.005-020 Mato Grosso do Sul – Federação das Associações Empresariais do Mato Grosso do Sul – FAEMS Presidente: Alfredo Zamlutti Júnior Rua Piratininga, 399 – Jardim dos Estados Cidade: Campo Grande CEP: 79021-210 Minas Gerais – Federação das Associações Comerciais e Empresariais de Minas Gerais – FEDERAMINAS Presidente: Emílio César Ribeiro Parolini Av. Afonso Pena, 726, 15º andar Bairro: Centro Cidade: Belo Horizonte CEP: 30.130-003 Pará – Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Pará – FACIAPA Presidente: Fábio Lúcio de Souza Costa Avenida Presidente Vargas, 158 - 2º andar, bloco 203 Bairro: Campina Cidade: Belém CEP: 66.010-000 Paraíba – Federação das Associações Comerciais e Empresariais da Paraíba – FACEPB Presidente: Alexandre José Beltrão Moura Avenida Marechal Floriano Peixoto, 715, 3º andar Bairro: Bodocongo Cidade: Campina Grande CEP: 58.100-001

Rio de Janeiro – Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Rio de Janeiro – FACERJ Presidente: Jésus Mendes Costa Rua Visconde de Inhaúma, 134 - Grupo 505 - Bairro: Centro Cidade: Rio de Janeiro CEP: 20.091-007 Rio Grande do Norte – Federação das Associações Comerciais do Rio Grande do Norte – FACERN Presidente: Itamar Manso Maciel Júnior Avenida Duque de Caxias, 191 Bairro: Ribeira Cidade: Natal CEP: 59.012-200 Rio Grande do Sul – Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul - FEDERASUL Presidente: Simone Leite Rua Largo Visconde do Cairu, 17, 6º andar Palácio do Comércio - Bairro: Centro Cidade: Porto Alegre CEP: 90.030-110 Rondônia – Federação das Associações Comerciais e Industriais do Estado de Rondônia – FACER Presidente: Cícero Alves de Noronha Filho Rua Senador Álvaro Maia, nº 2697, Bairro: Liberdade Cidade: Porto Velho CEP: 76.803-892 Roraima – Federação das Associações Comerciais e Industriais de Roraima – FACIR Presidente: Joaquim Gonçalves Santiago Filho Avenida Jaime Brasil, 223, 1º andar Bairro: Centro Cidade: Boa Vista CEP: 69.301-350 Santa Catarina – Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina – FACISC Presidente: Ernesto João Reck Rua Crispim Mira, 319 - Bairro: Centro Cidade: Florianópolis - CEP: 88.020-540 São Paulo – Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo – FACESP Presidente: Alencar Burti Rua Boa Vista, 63, 3º andar Bairro: Centro Cidade: São Paulo CEP: 01.014-001 Sergipe – Federação das Associações Comerciais, Industriais e Agropastoris do Estado de Sergipe – FACIASE Presidente: Wladimir Alves Torres Rua José do Prado Franco, 557 - Bairro: Centro Cidade: Aracaju CEP: 49.010-110 Tocantins – Federação das Associações Comerciais e Industriais do Estado de Tocantins – FACIET Presidente: Pedro José Ferreira 103 Norte Av. LO 2 - 01 - Conj. Lote 22 Prédio da ACIPA Bairro: Centro Cidade: Palmas CEP: 77.001-022

• O conteúdo desta publicação representa o melhor esforço da CACB no sentido de informar aos seus associados sobre suas atividades, bem como fornecer informações relativas a assuntos de interesse do empresariado brasileiro em geral. Contudo, em decorrência da grande dinâmica das informações, bem como sua origem diversificada, a CACB não assume qualquer tipo de responsabilidade relativa às informações aqui divulgadas. Os textos assinados publicados são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores.


PALAVRA DO PRESIDENTE George Teixeira Pinheiro

O renascimento do Brasil

A

o fazer apontamentos para este último editorial do ano de 2016 de Empresa Brasil, lembrei que, ao longo de minha vida, já passei por muitos momentos difíceis do Brasil. Assisti a períodos de governo ricos de ideias e realizações, como de JK e de FHC, decepções com Jânio Quadros, Fernando Collor, Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Dessas lembranças, o que ficou é que o país sempre se recupera. Nunca chegamos de fato ao precipício. Estamos acostumados a enfrentar adversidades. Quem diria que conseguiríamos erradicar uma inflação que chegou a 2.477,15% em 1993. Só no mês de junho de 1994, antes de o real entrar em circulação, a inflação foi de 47,43%. No ápice da hiperinflação, os preços eram reajustados diariamente. O tomate, por exemplo, chegou a aumentar inacreditáveis 4.492,25% em 1993! Ainda há pouco, vivíamos momentos muito difíceis, um mau humor generalizado, um desencanto muito

grande. Um clima de pessimismo inútil e que não leva a nada, só à paralisia. Embora eu seja cético por natureza, no fundo sou otimista. No meu DNA, estava escrito que eu seria otimista. Há um processo de combate à corrupção no país, que é muito positivo. É como se estivéssemos tirando toda a sujeira que vinha sendo acumulada há muito tempo. E isso veio para ficar. É um processo de saneamento, e isso é muito bem-vindo. Pela primeira vez tudo está sendo investigado com profundidade e está sendo atacado. Do ponto de vista da economia, embora ainda muito longe da recuperação, estamos no caminho certo. A inflação começou a ser dominada. O controle do déficit fiscal está muito perto de acontecer. Com isso, a taxa Selic deve recuar. Logo virão os investimentos e o Brasil, enfim, voltará a crescer. O ano de 2017 será como um renascimento do Brasil. Desejo a toda a rede CACB um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de realizações.

George Teixeira Pinheiro, presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil

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ÍNDICE

12 ECONOMIA

3 PALAVRA DO PRESIDENTE

20 EMPREENDER

Do ponto de vista da economia, embora ainda muito longe da recuperação, estamos no caminho certo.

Parceria com Votorantim aposta no desenvolvimento de pequenos municípios.

5 PELO CONGRESSO 14 FÓRUM

Afif defende a reforma política.

8 MATÉRIA DE CAPA

EXPEDIENTE

24 EVENTO

Coordenação Editorial: Neusa Galli Fróes fróes, berlato associadas escritório de comunicação Edição: Milton Wells - mwells@terra.com.br

22 FEDERAÇÃO Para Ernesto João Reck, presidente da Facisc, governo precisa convencer a população sobre a necessidade das reformas

Vida difícil, endividamento das famílias e alta dos produtos afetam vendas de Natal.

24 EVENTO

12 ECONOMIA

26 JUSTIÇA

Credibilidade no governo é condição fundamental para a volta dos investimentos.

Sérgio Moro destaca papel do empresário no combate à corrupção.

14 FÓRUM

28 CONJUNTURA

CACB toma posse no Conselhão do governo Temer.

Inflação começa a declinar para a meta de 4,5% ao ano.

16 COMÉRCIO EXTERIOR

30 LIVRO

Superávit recorde não retrata realidade da economia do Brasil.

Como matar a borboleta-azul – Uma crônica da era Dilma.

18 MPEs

31 ARTIGO

Crescer sem Medo garante parcelamento dos débitos em 120 meses.

As microfranquias vão tirar o Brasil da crise, por Renato Ticolaut Neto.

Controle de gastos públicos é essencial para o equilíbrio fiscal.

Projeto gráfico: Vinícius Kraskin Diagramação: Kraskin Comunicação Revisão: Press Revisão Colaboradores: Rosângela Garcia ,Tagli Padilha e Katiuscia Sotomayor Execução: Editora Matita Perê Ltda. Comercialização: Fone: (61) 3321.1311 - comercial@cacb.org.br

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PELO BRASIL

Afif defende a reforma política A palestra de abertura da 17ª edição do Congresso da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), em 21 de novembro - acompanhada por cerca de mil pessoas -, coube ao presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos. Ele frisou a urgência de se fazer a reforma política

antes de qualquer outra. “Estamos com um profundo desgaste da estrutura política. E vai piorar muito, porque a Lava Jato não para. A única reforma que pode ser entregue já é a do sistema político. É a mãe das reformas. E não pode ser feita pelo Congresso, mas sim por uma Constituinte exclusiva.”

Calendário de mutirões 2017 da CBMAE A CACB, através de sua rede CBMAE (Câmaras e PACEs), finalizou o calendário de mutirões para 2017. Os encontros irão acontecer a partir de abril (03 a 07), depois em agosto (07 a 11) e o último em novembro (20 a 24). Os mutirões existem para oferecer, especialmente para micro e pequenas empresas, soluções rápidas, eficientes e de baixo custo para resolução de conflitos

empresariais, por meio da Conciliação. O coordenador da CBMAE na CACB, Eduardo Vieira, explica a importância dos mutirões, cujos locais serão trabalhados a partir de

janeiro, nas empresas que recuperam os seus créditos com maior agilidade. “Elas podem ter mais recursos para fazer frente às suas despesas do dia a dia, reforçando o seu caixa, além de manter o fluxo de caixa positivo, pode evitar a busca de empréstimos. Assim, o uso da conciliação, especialmente para micro e pequenas empresas, pode ser uma alternativa para a sua sobrevivência”, esclarece.

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PELO BRASIL

Facisc obtém nova liminar que permite manutenção dos despachos no Porto de São Francisco do Sul A Facisc obteve na Justiça, em 25/11, mais uma liminar que permite a manutenção dos despachos de importação e exportação, desta vez no porto de São Francisco do Sul, que abrange Itapoá. O documento beneficia as empresas associadas que, constatada a regularidade documental, concluam os despachos aduaneiros das mercadorias importadas ou exportadas pelas empresas substituídas pela requerente.

O porto está localizado na Ilha de São Francisco do Sul, litoral norte de Santa Catarina, a 215 quilômetros da capital, Florianópolis

Programa OEA Integrado reduz custos operacionais das exportadoras As empresas exportadoras e importadoras do Brasil que aderirem, voluntariamente, ao programa Operador Econômico Autorizado (OEA Integrado) poderão reduzir os próprios custos operacionais entre 40% e 60%, conforme dados apurados na Suécia, nação pioneira na implantação desse sistema. O órgão deve aderir oficialmente ao programa –

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que, no Brasil, é coordenado pela Receita Federal – no próximo dia 13 de dezembro, em São Paulo. Para o Mapa, o OEA Integrado está

alinhado ao Agro+, plano de desburocratização, simplificação e modernização do agronegócio, lançado em agosto passado pelo órgão federal. O Operador Econômico Autorizado é uma iniciativa do Fórum Internacional de Aduanas. Até agora, 84 empresas brasileiras – a maioria do setor de eletroeletrônicos – já aderiram ao programa.


Núcleo de contabilistas de Campos Novos promove painel sobre equilíbrio financeiro Conscientizar o empresário sobre a necessidade de buscar conhecimento, e executar as ferramentas de planejamento empresarial é uma das metas do Núcleo dos Contabilistas de Campos Novos - SC (Nucon). Com esse objetivo, o núcleo promoveu, no dia 1º de dezembro, a primeira edição do Painel com o tema Equilíbrio Financeiro Empresarial no auditório da Acircan. Os temas abordados foram: Controles Básicos, Gestão de Custos, Gestão Orça-

mentária, Demonstrativos Financeiros, Planejamento Estratégico e Planejamento Financeiro. Os contadores que conduziram as atividades reforçaram o conceito da necessidade de planejamento financeiro e controle de todas as atividades da empresa. As finanças controladas e em dia revelam que os processos e projetos conduzidos pela empresa estão trazendo o retorno esperado para seus proprietários.

Nucon promoveu debate sobre gestão financeira

Rombo no FIES é de abalar a República O ministro da Educação, José Mendonça Bezerra Filho, afirmou na Associação Comercial de São Paulo (ACSP) que a auditoria nas contas do Ministério revelou uma situação de precariedade financeira, sobretudo em relação ao Fundo de Financiamento Estudantil (FIES). “Vamos reformular o FIES, garantindo equilíbrio financeiro, porque, na prática, o que se projeta é um rombo estratosférico, de abalar realmente a República”, afirmou Mendonça Filho durante o evento, organizado pelo Conselho Político e Social e pelo Conselho de Economia, ambos da ACSP. Segundo ele, a proposta de reformulação precisa ser concluída até o final deste ano ou no início de 2017. O ministro frisou que o FIES é um programa importante para o ensino superior brasileiro, tendo em vista o significativo aumento na oferta de vagas na rede privada. Dezembro de 2016

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CAPA Foto: Divulgação

Shopping Centers resistem à crise

Vida difícil, endividamento das famílias e alta dos produtos afetam vendas de Natal Previsão da ACSP para as vendas de fim de ano é de uma queda entre 4% e 5%, em comparação com o ano anterior, considerado o pior Natal da década

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e as pesquisas estiverem certas, a crise econômica deverá afetar em cheio as vendas de Natal deste ano. Baseada em projeções elaboradas pelo Instituto de Economia Gastão Vidigal, com dados do Índice Nacional de Confiança (INC/ ACSP/Ipsos) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa

da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) é de queda entre 4% e 5%, em comparação com 2015 – menos intensa do que a verificada no ano passado (-7,2%). Vida difícil, endividamento das famílias e alto preço dos produtos estão sendo apontados como os principais fatores responsáveis pela magreza do Papai Noel em 2016. Mesmo


a perspectiva de conseguir um dinheirinho extra com um trabalho temporário deixou fora um número significativo de interessados. A previsão da Associação Brasileira de Trabalho Temporário (Asserttem) é uma redução de 7%, se comparado com o número de vagas ofertadas no mesmo período do ano passado. De acordo com a entidade, cerca de 100 mil postos devem ser oferecidos em todo país, dos quais 20 mil serão para jovens na situação de primeiro emprego e cinco mil podem se tornar vagas efetivas. REFORÇO DO E-COMMERCE E DOS SHOPPINGS Se as lojas físicas estão esperando menos clientes neste Natal, o mesmo não deve acontecer com as vendas online. Nem tampouco com os shopping centers. O faturamento para o varejo eletrônico no período de 15 de novembro a 24 de dezembro deste ano é estimado em R$ 8,4 bilhões, cerca de R$ 1 bilhão a mais do que no ano passado. Quem confirma a expectativa otimista do setor é a Ebit, empresa que mede a reputação das lojas virtuais por meio de pesquisas com

consumidores reais, gerando dados estratégicos e táticas para o mercado online. Segundo o diretor executivo da Ebit, Pedro Guasti, um grande impulsionador das vendas foi a Black Friday. “Com a consolidação da Black Friday no Brasil, muitos consumidores aproveitaram os descontos oferecidos pelo varejo na data para adiantar as compras de final de ano. A Black Friday, em um único dia, é responsável por 25% do faturamento do e-commerce para o período do Natal”, explica Guasti. Para ele, com a crise, muita gente trocou o varejo físico pelo online em busca por melhores preços. “Essa migração de consumidores será a maior responsável pelo crescimento do e-commerce em tempos de economia retraída”, afirma. Já a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) acredita, conforme a Superintendente Adriana Colloca, em um aumento de 4,5% nas vendas, em relação ao mesmo período do ano passado. “Temos percebido uma leve retomada do otimismo nos últimos meses. Entre junho e setembro deste

Produtos mais desejados – Natal 2016 1) Celular e smartphone 2) Livros 3) TV 4) Perfume 5) Calçados: sapatos/tênis 6) Máquina de lavar roupas 7) Fogão 8) Jogos 9) Vinho 10) Cafeteira Fonte: Ebit

Foto: Divulgação Abrasce

Adriana: “Abrasce percebe leve retomada do otimismo” Dezembro de 2016

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CAPA Pesquisa revela que 40% dos entrevistados querem gastar menos neste ano, 21% pretendem investir o mesmo valor do ano passado

Celulares e smartphones continuam no topo da lista de presentes

Foto: Anthony Caronia/DSOP

Reinaldo: “As pessoas estão preocupadas com suas contas”

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ano, as vendas em shopping centers brasileiros cresceram 4%. E temos a perspectiva de manter esta curva em crescimento”, revela. Adriana destaca ainda que os segmentos de destaque na data devem ser perfumaria, telefonia, lazer e alimentação. “Os demais setores devem se comportar de maneira regular”, prevê. ESTIMATIVA DE VENDAS É DE R$ 50 BILHÕES A compra de presentes de Natal deve injetar R$ 50 bilhões na economia. Esta é a perspectiva apontada na

pesquisa que consultou 1,6 mil consumidores nos 26 estados e no Distrito Federal e foi feita exclusivamente para o período do Natal pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito no Brasil (SPC Brasil). As duas instituições estimam que o gasto total do brasileiro seja de cerca de R$ 465 no Natal, para uma média de quatro presentes. Outro dado importante revela que 40% dos entrevistados querem gastar menos neste ano, 21% pretendem investir o mesmo valor


do ano passado e apenas 22% assumiram que devem gastar mais que em 2015. A pesquisa, que prevê queda de 5% nas vendas em relação ao mesmo período do ano passado, registra ainda que, entre os que não pretendem dar presentes, 23% justificam que a prioridade é pagar as contas atrasadas. É o que explica o presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos. Segundo ele, “as pessoas estão mais preocupadas em pagar suas contas do que gastar com presentes de Natal”. O especialista reforça também que o consumidor está mais cauteloso, buscando quitar dívidas e amenizar a situação. “O aumento dos preços de produtos e serviços, somado à falta de educação financeira levou muitos ao endividamento, que já atinge 57,7% da população, conforme pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor”, argumenta. Domingos alerta que, para controlar as finanças neste fim de ano, é preciso evitar as compras por impulso e fazer um planejamento de gastos.

Artesanato como alternativa Enquanto o comércio formal prevê perdas e estagnação e o e-commerce acredita em lucro, as feiras entram como alternativa para o consumidor que está segurando o dinheiro no bolso. Em Canoas, Região Metropolitana de Porto Alegre/RS, a Rede de Compartilhamentos A Rosa realiza feiras onde compartilha produtos produzidos por suas três associadas. Os produtos são diversos. Bárbara Nunes, com sua arte e fotografia, Gabrielle Gazzo leva a nutrição e Vanda Longhi, com paisagismo. Em dezembro, no dia 10, o grupo estará mais uma vez em ação e tem expectativa, de acordo com Bárbara, de boas vendas em virtude da proximidade com o Natal. “Oferecemos produtos criativos e bem acabados, com diversos valores, desde os mais acessíveis aos mais elaborados”, revela a artista plástica. Os preços dos produtos variam de R$ 5 até R$ 200, o que, segundo Bárbara, possibilita ao cliente a compra de um bom presente por uma média de R$ 50. Foto: BBC Fotografia

Feiras de artesanato são opções para quem quer economizar Dezembro de 2016

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ECONOMIA

“Credibilidade no governo é condição fundamental para a volta dos investimentos” Além do controle dos déficits fiscais, Marcel Solimeo, economista da ACSP, agrega a necessidade de uma reforma trabalhista para o país voltar a crescer

A

crise econômica que se iniciou no segundo trimestre de 2014 poderá terminar a partir do segundo semestre do próximo ano, mas ainda de forma lenta, segundo prevê o economista Marcel Solimeo, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Para 2017, conforme Solimeo, a expectativa é de um incremento do PIB entre 1% e 1,5%, e uma inflação de 5% no período de 12 meses. A taxa Selic cairá gradativamente, devendo ficar entre 11% e 12%. Esse cenário, contudo, está condicionado a uma forte atuação do governo nas áreas fiscal e trabalhista. “Considero a aprovação da PEC que limita os gastos públicos e da terceirização, além de uma maior flexibilidade dos contratos de trabalho, como fundamentais para o país poder voltar a crescer”, afirma Solimeo.

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Solimeo: “Houve uma melhora na confiança do mercado sobre a gestão da economia, mas ainda se esperam medidas concretas do governo, que ainda não mostrou capacidade de fazer o país voltar a crescer”


Para o economista, desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff, houve uma melhora na confiança do mercado sobre a gestão da economia, porém ainda se esperam medidas concretas do governo, que ainda não mostrou capacidade de induzir a retomada do crescimento. “O fato é que o setor produtivo está bem menos pessimista sobre o curto e médio prazo da economia, mas é preciso atuar mais fortemente para garantir a credibilidade necessária para a retomada dos investimentos.” Além da PEC, Solimeo acredita que a reforma da Previdência Social é indispensável para o equilíbrio das contas e a redução do risco-país. “Sem a reforma da Previdência, não haverá o controle da dívida pública, ainda mais pelo crescente envelhecimento da população brasileira.” Ao melhorar o perfil das contas públicas, e impedir déficits fiscais nos próximos anos, o governo também impedirá o crescimento da dívida bruta do setor público – o que é visto pelas agências de classificação internacional e o mercado financeiro como indicador de solvência do país. Como efeito, haverá

maior estabilidade econômica, abrindo caminho para a retomada do crescimento, acrescentou. “Nessa linha, o setor de infraestrutura representa um dos grandes trunfos do governo, haja vista o programa de investimentos estimado em cerca de R$ 198,4 bilhões, em rodovias, ferrovias, portos e hidrovias. Esse é o caminho para o país voltar a crescer”, diz Solimeo. “O aumento do consumo, certamente, deverá ficar para mais tarde, quando o equilíbrio fiscal estiver consolidado.” Haverá ainda condições para uma reforma tributária no governo Temer? Apesar de ser imprescindível para permitir maior crescimento às empresas, sobretudo as MPEs, ela deverá ficar mesmo para o próximo presidente da República em 2018, acredita o economista. “Entendo que essa reforma deverá avançar a partir da próxima legislatura, com um novo presidente da República e um novo Congresso”, afirmou. “Com a legitimidade das urnas, o novo presidente terá mais poder para negociar tanto com os governadores como com os parlamentares.”

“Sem a reforma da Previdência, não haverá o controle da dívida pública, ainda mais pelo crescente envelhecimento da população brasileira”

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FÓRUM Foto: Beto Barata

CACB toma posse no Conselhão do governo Temer Pela primeira vez, um dirigente da entidade passa a fazer parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES)

O

presidente da CACB, George Pinheiro, tomou posse no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). Repaginado, o Conselho é composto por 96 membros da sociedade e de entidades. Esta é a primeira vez que a CACB é convidada a ocupar a cadeira de conselheiro. “Vamos colocar nossas demandas no lugar certo e informar quais as necessidades dos empreendedores para crescer”, explica Pinheiro.

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Segmentos como saúde, segurança pública, primeira infância, esportes, economia digital, inovação e empreendedorismo ganham espaço neste novo formato. Nomes como dos empresários Abílio Diniz, presidente do Conselho de Administração da BRF, Benjamin Steinbruch, presidente da CSN, Edson de Godoy Bueno, fundador da Amil, Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho de Administração do grupo Gerdau, Luiz Carlos Trabuco, pre-

sidente do Bradesco, Roberto Setúbal, presidente do Itaú, permanecem. O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, destacou a diversidade do Conselhão e disse que a revisão dos representantes é plural, com uma visão horizontal de todo país. Composto por representantes da sociedade civil, o CDES presta assessoramento direto ao presidente da República em todas as áreas de atuação do Poder Executivo Federal. Designados pelo presidente


da república, os conselheiros atuam por um período de até dois anos, facultada a recondução. O principal fórum de debate dos conselheiros são as reuniões plenárias, que acontecem, ordinariamente, três vezes ao ano. Esses são os momentos de dialogar diretamente com o presidente da república. O Conselho tem um comitê gestor que atua como representante do conjunto de conselheiros. Eleito por seus pares, é composto

por cinco integrantes, o que permite que haja interlocução mais ágil, frequente e direta dos conselheiros com a Presidência da República. Cabe aos seus membros interagir com os demais conselheiros, levando suas preocupações, posições e propostas ao governo, e vice-versa. Além disso, o comitê gestor contribui com a organização das atividades do Conselho propondo pautas, sugerindo a criação de grupos de trabalho e avaliando o plano de trabalho.

George Pinheiro saúda o presidente Michel Temer

Presidente enfatiza a importância do diálogo Com o slogan “Diálogo para o Desenvolvimento”, foi aberta a 45ª reunião plenária do CDES, a primeira do atual governo, no dia 21 de novembro. O presidente da república, Michel Temer, atualizou os conselheiros sobre a situação atual do governo, suas perspectivas e preocupações. Além disto, foram detalhados o funcionamento, os objetivos e suas expectativas quanto ao trabalho do CDES. Segundo Temer, é necessário fazer reformas para

crescer. Ele destacou a importância do diálogo entre o governo e a sociedade e disse que é necessário ter humildade para falar menos e escutar mais. “Os conselheiros representam uma extraordinária soma de talentos e de conhecimentos, dos mais diversos setores da nossa economia, que contribuirão para melhorar o desenvolvimento e crescimento do Brasil”, enfatizou o presidente. O Conselho é um canal de comunicação aberto entre o governo e os representantes

da sociedade brasileira. O ministro da Casa Civil e Secretário Executivo do CDES, Eliseu Padilha, explicou que o critério da escolha dos conselheiros define estratégias com o objetivo de representar: • Grande parte do PIB brasileiro • Segmentos dinâmicos da economia nacional • Parcela significativa do universo laboral/sindical • Ampla gama de interesses sociais.

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COMÉRCIO EXTERIOR

Superávit recorde não retrata realidade da economia do Brasil Diferença monetária entre exportações e importações deste ano será obtida à custa da forte queda do nível de atividades

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m 2016, o Brasil deverá celebrar um novo recorde em sua balança comercial. A estimativa da Associação dos Exportadores do Brasil (AEB) é de um superávit de US$ 42 bilhões, diante de US$ 19,6 bilhões de 2015. Essa é a boa notícia. A má notícia é que esse resultado será obtido graças à redução das importações devido ao quadro recessivo da economia brasileira, que ainda permanece muito forte, avalia José Augusto de Castro, presidente da AEB. Segundo as projeções da entidade, as exportações brasileiras devem somar US$ 187 bilhões em 2016. O resultado representa uma queda de 1% em relação ao ano anterior. As importações apresentarão um recuo ainda maior. A previsão da entidade é que somem US$ 145 bilhões, ante os US$ 172 bilhões do ano passado. O Ministério do Desenvolvimento informou que foi man-

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Conforme as projeções da AEB, as exportações brasileiras devem somar US$ 187 bilhões em 2016

tida a estimativa de um saldo positivo de US$ 45 bilhões a US$ 50 bilhões neste ano. Já o Banco Central prevê um superávit da balança comercial de US$ 49 bilhões para 2016, com exportações em US$ 190 bilhões e importações no valor de US$ 141 bilhões. Até outubro, a balança apresentou um superávit recorde em 28 anos. Entre-

tanto, esse resultado foi obtido em razão de queda no comércio, com redução acumulada de 5,1% nas exportações e de 23,1% nas importações, e recuo de 10,2% e 15%, respectivamente, no mês de outubro. Para a AEB, a alteração do quadro recessivo só virá com a redução de custos com as reformas tributária, trabalhista


e previdenciária, e investimentos em infraestrutura, principal estímulo às exportações. EFEITO TRUMP O Brasil tende a seguir como coadjuvante nas relações comerciais dos Estados Unidos após o início do mandato de Donald Trump, em janeiro de 2017, na avaliação de especialistas. A perspectiva é de que as atenções do novo presidente deverão estar voltadas para a China. Apesar de não ter feito parte da pauta do futuro presidente na corrida eleitoral, o mercado brasileiro poderá ser afetado indiretamente, caso sejam aplicadas medidas mais radicais de protecionismo mencionadas pelo republicano durante a disputa pela Casa Branca. “Se optar por impor uma maior taxação às mercadorias vindas da China, o governo Trump afetará a atividade econômica dos asiáticos, o que vai reduzir, por consequência, suas importações de commodities e prejudicará o Brasil”, avalia Castro. “O mais grave, nesse primeiro momento, é que ele distribuiu incertezas por todos os lados, e a maioria das avaliações dos economistas para os

próximos quatro anos contava com Hillary Clinton como presidente. A neblina, agora, precisa ser desfeita pelos republicanos, para que o mercado se programe de forma segura.” O fato de não ter citado seus planos para o comércio exterior na fala inaugural é emblemático, avalia a economista Zeina Latif, da XP Investimentos. “Mesmo governando com um Congresso dominado por seu partido e em um momento em que o mundo passa por uma forte onda protecionista, Trump deverá medir bem seus passos iniciais. Fora do contexto acalorado da campanha, propor a revisão de acordos como a Parceria Transpacífico (TPP) seria absurdo e dificilmente contaria com o apoio dos demais republicanos.”

Até outubro, a balança apresentou um superávit recorde em 28 anos

Castro, presidente da AEB: “Governo Trump pode prejudicar as exportações de commodities do Brasil” Dezembro de 2016

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MPEs Foto: Charles Damasceno/Sebrae

Presidente Michel Temer sanciona a lei do Crescer sem Medo, no Palácio do Planalto

Crescer sem Medo garante parcelamento dos débitos Projeto de Lei foi sancionado no final de outubro e deve beneficiar empresas de micro e pequeno porte, além de microempreendedores individuais

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Projeto de Lei Complementar (PLP) 25/2007, conhecido como Crescer sem Medo, sancionado pelo presidente Michel Temer no último dia 27 de outubro, traz novidades aos micro e pequenos empresários e ainda beneficia os microempreendedores individuais (MEIs) do país. Dentre elas,

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o projeto inclui dois novos setores no Simples e amplia limite para MEIs. Das mudanças, segundo o presidente do Sebrae Nacional, Guilherme Afif Domingos, a menos anunciada é também um dos pontos de maior relevância: a criação da Empresa Simples de Crédito (ESC), que poderá conceder empréstimos a ne-

gócios locais, aumentando as ofertas de financiamento para os empreendimentos de micro e pequeno porte. Afif acredita que “o crédito é um dos grandes dramas do empreendedor, e agora o cidadão poderá montar uma empresinha no seu município e emprestar dinheiro para a produção local”, comemora Afif.


Outra importante alteração da nova legislação se refere ao limite de faturamento anual para que uma micro e pequena empresa saia do Simples e entre no Lucro Presumido. Foi criada uma faixa de transição de até R$ 4,8 milhões para as empresas que ultrapassarem o teto atual de R$ 3,6 milhões. Afif explica que a ideia é ampliar os impostos parcialmente, de acordo com o crescimento da receita. Conforme ele, o principal é “eliminar os degraus para a empresa crescer e criar uma rampa suave de crescimento, na qual só vai pagando o imposto progressivamente quando muda de uma faixa para outra”. MENOS TABELAS, MAIS PARCELAMENTOS As mudanças, que começam a valer já em 2018, irão proporcionar uma redução de seis para cinco tabelas e de 20 para seis faixas, com progressão de alíquota. Desta forma, quando uma empresa exceder o limite de faturamento da sua faixa, a nova alíquota será ampliada somente no montante ultrapassado.

Além disso, o Crescer sem Medo também estende de 60 para 120 meses o prazo para parcelamento de dívidas tributárias de micro e pequenas empresas e ainda possibilita parcela mínima de R$ 300,00. A notícia caiu como uma luva para os endividados, uma vez que, de acordo com a Receita Federal, há cerca de 600 mil pequenos negócios com débitos tributários, cujo valor é de R$ 21 bilhões.

Lei traz mudanças para o setor de bebidas e incentiva a formalização de trabalhadores autônomos, além de regularizar o conceito de parceria com os proprietários

DOIS NOVOS SEGMENTOS NO SIMPLES Cabeleireiros e cervejeiros comemoraram a sanção do Crescer sem Medo. É que a lei traz mudanças para o setor de bebidas e incentiva a formalização de trabalhadores autônomos, além de regularizar o conceito de parceria com os proprietários de salão de beleza, permitindo a divisão de custos tributários. Para quem atua no setor de bebidas, a legislação permite que os microprodutores, que hoje estão sujeitos à mesma forma de tributação de grandes empresas do ramo, possam optar pelo Simples Nacional. Dezembro de 2016

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EMPREENDER

Parceria com Votorantim aposta no desenvolvimento de pequenos municípios CACB, Sebrae e Votorantim se unem para estimular o empreendedorismo e o protagonismo local. A iniciativa começa em cidades de MG e RS

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m projeto que tem como referência o sucesso dos núcleos setoriais do Empreender – programa que apoia empresários de um mesmo setor, estimulando a competitividade por meio do associativismo – está mobilizando empresários e produtores rurais nas cidades de Itaú de Minas (MG), Fortaleza de Minas (MG) e Pinheiro Machado (RS). A nova ação conjunta entre Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) e Sebrae Nacional, com apoio do Instituto Votorantim, Votorantim Cimentos e Votorantim Metais, investe em cursos de capacitação a oficinas de gestão, tudo gratuito, para beneficiar a comunidade. PILOTOS A metodologia é baseada na definição de prioridades municipais e na criação de nú-

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Em Minas Gerais, as associações comerciais são as responsáveis pelo andamento do projeto

No Rio Grande do Sul, serão atendidos o Sindicato Rural e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais.


cleos para atender às demandas dos pequenos negócios. No Rio Grande do Sul, serão atendidos o Sindicato Rural e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Em Minas Gerais, as associações comerciais são as responsáveis pelo andamento do projeto. Cada localidade trabalha com uma agenda prioritária, seguindo metodologias comuns de fortalecimento dos núcleos. A ideia é que eles próprios sejam responsáveis pelo processo. PARCERIA EFICIENTE Carlos Rezende, coordenador executivo da CACB e coordenador do programa Empreender, explica que a parceria técnica e financeira tem como objetivo a melhoria do ambiente de negócios: “O projeto-piloto vai promover a consolidação da metodologia de desenvolvimento regional sustentável com protagonismo local, melhorando a realidade de pequenos negócios”. O Desenvolvimento Local e o Relacionamento com Comunidades são parte da estratégia dos negócios da Votorantim. A coordenadora de Dinamismo Econômico no Instituto Votorantim, Carolina Alves de Jongh, destaca que se

trata de um desafio de mobilização e envolvimento: “Assim que os resultados começam a aparecer, percebe-se o grande potencial de disseminação de boas práticas e de dinamização da economia local. O desafio é garantir que os núcleos gerem ações cada vez mais relevantes para o ambiente de negócios local e que se tornem grupos independentes de agentes externos”. Para o gerente de Políticas Públicas e Desenvolvimento Territorial do Sebrae, Bruno Quick, a parceria é uma decisão lógica: “O Sebrae tem priorizado cada vez mais o protagonismo local e a definição de agendas a partir das demandas dos próprios territórios. Com a capilaridade da rede da CACB, sobretudo em função dos bons resultados dos núcleos do Empreender, ganhamos na capacidade de interlocução com os empresários. E a Votorantim contribui para a produção do desenvolvimento em torno dos seus empreendimentos. É uma combinação inteligente: atores complementares em convergência com o mesmo objetivo: dinamizar a economia local e contribuir para transformar o desenvolvimento das empresas e da região.”

“Com a capilaridade da rede da CACB, sobretudo em função dos bons resultados dos núcleos do Empreender, ganhamos na capacidade de interlocução com os empresários.” Bruno Quick, gerente de Políticas Públicas e Desenvolvimento Territorial do Sebrae Dezembro de 2016

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FEDERAÇÃO

Governo precisa convencer a população sobre a necessidade das reformas Ernesto João Reck, presidente da Facisc, acredita que é preciso transmitir à população a real necessidade das reformas para facilitar a tramitação das propostas no Congresso Nacional

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ara o presidente da Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc), Ernesto João Reck, acreditar no governo é uma tarefa difícil e só será possível quando ele demonstrar transparência e transmitir para população a real necessidade das reformas. Em entrevista a Empresa Brasil, o empresário observa que a reforma da Previdência não pode ser feita por etapas.

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“O mercado está com a expectativa da aprovação de uma forma consistente, que equilibre as contas e trabalhe com prazo máximo de 2017.” A seguir, leia os principais trechos: O presidente Michel Temer deve enfrentar forte resistência na reforma da Previdência. Em sua opinião, o que é essencial nessa reforma que não se pode abrir mão?

Por muitas vezes foram iniciadas reformas com o firme propósito de mudanças e, nas diversas oportunidades, o governo tinha grande maioria na Câmara e no Senado, mas elas não aconteceram, ou foram insignificantes. Nossa percepção é de que o governo federal fez muito pouco na redução do gasto público. Acreditamos possível fazer muito mais com menos. Mesmo necessárias, as reformas en-


contrarão resistências. Não podemos fazer a reforma da Previdência por etapas, por exemplo, pois corremos o risco de a segunda etapa não acontecer. Ela deve atingir todos os segmentos, sem privilégios. Mas com consciência sobre os direitos adquiridos. O mercado está com a expectativa da aprovação de uma forma consistente, que equilibre as contas e trabalhe com prazo máximo de 2017. O governo não deveria expor com maior clareza o déficit da Previdência? Acreditar no governo é uma tarefa difícil e só será possível quando ele mostrar transparência em todos os sentidos e transmitir para população a real necessidade das reformas. Assim será possível cobrar dos legisladores a votação da reforma. A tese de que a Previdência é superavitária sempre foi propagada por sindicatos, advogados previdenciários e políticos, cujo principal argumento se deve à sonegação. Porém, para fazer uma análise mais criteriosa, é necessário analisar a contabilidade do Regime Geral

de Previdência Social, deslocando tempo e energia do verdadeiro debate. Portanto, independentemente dos resultados, é necessário que o governo trate com transparência, pois o dinheiro da Previdência impacta a todos os trabalhadores.

“Acreditar no governo é uma tarefa difícil e só será possível quando ele mostrar transparência em todos os sentidos. Nossa percepção é de que o governo federal fez muito pouco na redução do gasto público” O que deve vir depois da reforma da Previdência? Considero que a reforma política é extremamente importante para implementar as demais reformas. Ao que tudo indica, o governo está empenhado em fazer a reforma da Previdência e, depois, levar adiante as demais reformas. Quais são os pontos essenciais dessa reforma? Não diria essenciais, pois

toda reforma tem aspectos importantes para melhoria da sociedade. Mas acredito que os pontos mais polêmicos seriam sobre a idade mínima de 65 para aposentadoria de homens e mulheres, e a possibilidade de o tempo de contribuição exigida aumentar. A possibilidade de acúmulo de benefícios e novas regras para concessão de pensão também precisam ser revistas para que o processo hoje realizado seja mais criterioso e eficaz. O que deve ser alterado na reforma trabalhista? A reforma trabalhista vem ao encontro do anseio dos empresários, já que a legislação atual é da década de 1940. As relações mudaram, por isso é preciso acompanhar esse processo evolutivo. Pelos estudos que vêm sendo realizados, os pontos considerados mais relevantes são a possibilidade de prestigiar as negociações coletivas no chamado acordado sobre o legislado, a regulamentação da terceirização e o programa de proteção ao emprego. Este último já existe, porém apenas em caráter provisório. Dezembro de 2016

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EVENTO

O governador do Paraná, José Richa, destacou as políticas públicas de seu estado para atrair investimentos

Controle de gastos públicos é essencial para o equilíbrio fiscal Austeridade é consenso entre governadores da Região Sul durante o Fórum Regional Sul

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usteridade. Essa foi a palavra-chave utilizada pelos governadores de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e do Paraná, durante o Fórum Gestão Pública – Ajustes ou Calamidades, promovido pela Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná (Faciap), em Curitiba. O governador de Santa Catarina, Raimundo Colom-

bo, afirmou que a redução da folha de pagamento foi uma das medidas tomadas por seu governo para manter as contas equilibradas. A troca de experiências entre os estados, segundo ele, é importante para a criação de políticas públicas eficientes neste momento de crise. “Para se enfrentar a crise, é preciso medidas inteligentes, que produzam


resultados de melhoria do serviço público e equilíbrio fiscal”, defendeu Colombo. “Precisamos de soluções conjuntas para que haja compreensão por parte de todos da necessidade de adotar essas mudanças.” MODERNIZAÇÃO DO ESTADO O governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, também defendeu a modernização do Estado e a promoção do crescimento econômico como pilares para o enfrentamento da crise. Ele citou a experiência do RS, que iniciou em 2015 um novo modelo de gestão. “Mesmo com as dificuldades que tivemos, todos deram sua contribuição para implantar uma cultura nova no processo de gestão na área pública”, afirmou. Sartori salientou que é necessário um controle de gastos por parte do poder público. “O controle público é essencial para que se tenha equilíbrio fiscal. No Rio Grande do Sul, o ajuste fiscal, o controle do dinheiro público e equilíbrio financeiro são uma pauta positiva para criar um futuro melhor para o Estado”, disse.

POLÍTICAS PÚBLICAS José Richa, governador do Paraná, destacou as políticas públicas voltadas para atrair investimentos e estimular o desenvolvimento de seu estado. Ele citou o programa Paraná Competitivo, que contribuiu com a expansão industrial, especialmente em cidades do interior. “Hoje, vivemos o maior ciclo industrial da história”, declarou. Para dar suporte ao crescimento, informou Richa, há investimentos em infraestrutura, com a duplicação de 500 quilômetros de rodovias e a modernização e melhorias operacionais no Porto de Paranaguá. O Paraná também ampliou o crédito às entidades do setor produtivo, por meio da agência

Presidente da CACB, George Teixeira(D), com os governadores e os presidentes da Federasul e da Faciap

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JUSTIÇA paranaense do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). “Nosso governo foi o que mais aplicou recursos para capitalizar o BRDE, em 55 anos de história do banco. Foram R$ 200 milhões, que alavancam em sete vezes a capacidade de financiamento da instituição”, salientou. Com a deterioração da economia a partir de 2014, o Governo do Estado precisou aplicar o ajuste fiscal, promovendo o reajuste de alíquotas de impostos, a redução de gastos e despesas do governo e a reforma da Previdência. “Com isso, ampliamos em 2,5% a arrecadação do Estado, ao mesmo tempo em que diminuímos as despesas”, disse. AJUSTE O presidente da Faciap, Guido Bresolin Junior, definiu o ajuste fiscal promovido pelo Paraná como caminho necessário para equilibrar as contas, que serve de modelo para outros estados. “O Paraná tem saído à frente, por causa do ajuste fiscal que o governo promoveu e pelo posicionamento das lideranças paranaenses em entender as reformas necessárias”, declarou.

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Sérgio Moro destaca papel “Os empresários estão menos tolerantes e mais ativos contra a corrupção porque perceberam não só o problema moral, mas os custos que isso traz para o desenvolvimento do país”, afirmou o juiz Sérgio Moro, durante a 9ª Reunião do Conselho de Administração da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná (Faciap), em Curitiba. “Quem não conhece algum empresário que se recusou a participar de uma licitação pública porque acreditava que era um jogo de cartas marcadas, por achar que teria de pagar propina?”, indagou. Sérgio Moro destacou o papel do setor privado no combate à corrupção e disse que o trabalho deve ser feito, independentemente da iniciativa do poder público. “É importante que a ação dos empresários seja coletiva no sentido de fazer com que empresas que pagam propina não recebam vantagens competitivas.” E incentivou as entidades do setor produtivo a atuarem no resgate de valores porque, segundo ele, o

Moro: “O trabalho de combate à corrupção deve ser feito, independentemente da iniciativa do poder público”

que muda o país são as instituições mais fortes. O presidente da Faciap, Guido Bresolin Junior, reafirmou os pontos defendidos pela Federação por meio do Movimento Brasil Mostra Sua Garra, que são responsabilidade fiscal e econômica do poder público, transparência como arma contra a corrupção, a Justiça, cujas demandas não devem agir em favor de


do empresário no combate à corrupção

interesses particulares, a ética nas relações sociais e o respeito aos cidadãos brasileiros. “O setor produtivo quer contribuir para uma sociedade mais justa. O que passa, também, por uma máquina pública mais enxuta e mais competitividade nas cadeias produtivas”, declarou. Já o presidente da CACB, George Pinheiro, valorizou o trabalho do juiz Sérgio Moro e lembrou que a população

brasileira deixou de sustentar a monarquia, mas ainda sustenta a corte. “Quando é que isto vai acabar?”, questionou. Em seguida, defendeu a necessidade de as entidades empresariais também contribuírem contra a corrupção. E acrescentou: “Todos somos responsáveis pelo extermínio da corrupção sistêmica, como está instalada no nosso país”. Durante o Fórum, o presidente do Observatório Social, Ney Ribas, fez duas proposições. Pediu aos governos estaduais a implantação do Conselho Estadual de Transparência e Controle Social e o apoio à criação de uma lei de responsabilidade estadual para definir limites de gastos. “São medidas para integração da sociedade no que diz respeito à geração de riqueza e à correta aplicação dos recursos públicos”, disse Ribas. Os fórum regionais começaram com discussões sobre o Brasil pela Região Sudeste, na sede da ACSP, seguiram pelo Nordeste, em Fortaleza, e continuaram no Sul. Eles representam o início de uma longa caminhada de discussões.

“A população brasileira deixou de sustentar a monarquia, mas ainda sustenta a corte. Quando é que isto vai acabar?” Presidente da CACB, George Pinheiro

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CONJUNTURA Foto: Divulgação

Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central, promete inflação na meta em 2017

Inflação começa a declinar para a meta de 4,5% ao ano Transformar a promessa de ajuste fiscal em realidade é essencial ao BC para reduzir a taxa Selic

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esde 9 de junho deste ano como presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, ao que tudo indica, deverá mesmo cumprir a tarefa de conduzir a política monetária para a meta de inflação de 4,5% para os anos de 2017 e 2018. Apesar de não ter sido na velocidade desejada, o fato é que a inflação caiu.

É bem verdade que parte disso reflete o fim do ajuste dos preços administrados, registrados no período de 2012 a 2014. A variação do IGP-M em outubro foi de 0,16%, o que levou a um acumulado de 8,78% em 12 meses e 6,63% no ano. Caso a expectativa de 0,04% para novembro seja confirmada,


o acumulado no ano ficaria em 6,67% e, em 12 meses, em 7,19%, uma queda significativa em comparação ao ano anterior, quando a taxa alcançou 10,54%. Para as instituições financeiras, ao final de 2017 a Selic estará em 10,75% ao ano. A taxa é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve como referência para as demais taxas de juros da economia. CRÉDITO Ao reajustá-la para cima, o BC contém o excesso de demanda que pressiona os preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Quando reduz os juros básicos, o Copom reduz também o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas alivia o controle sobre a inflação. As taxas teriam sido menores se as contas públicas estivessem em melhor forma e a diretoria anterior do BC tivesse melhor sucesso quanto ao controle da inflação. Não haveria o risco da chamada dominância fiscal, e a inércia inflacionária seria

bem mais baixa, dois fatores que levaram à maior resistência da inflação. Daqui para a frente, é essencial transformar a promessa de ajuste fiscal em realidade. Isso permitiria ao BC reduzir mais fortemente os juros e, assim, contribuir para a recuperação da economia.

Uma política fiscal bem-sucedida deverá permitir taxas de juros mais baixas e, com isso, diminuir o risco-país, o que afasta a possibilidade de calote do governo federal

RISCO-PAÍS Ao final de novembro, a taxa real de juros para 2017 se encontrava ao redor de 5,5% ao ano, muito elevada ainda, mas inferior à observada antes da adoção das medidas de ajuste fiscal de longo prazo. Seus efeitos sobre o crescimento devem se fazer sentir em 2017 e 2018. Uma política fiscal bem-sucedida deverá permitir taxas de juros mais baixas por pelo menos dois canais. Além de reduzir a inflação, reduzirá também o risco-país. O risco caiu cerca da metade, de 5% ao ano no início de 2016, para algo em torno de 2,5% ao ano ao final do mês anterior, uma queda impulsionada em larga medida pela anunciada política de controle das contas públicas. Dezembro de 2016

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LIVRO

Intervir demais matou a “borboleta-azul”

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m 2014, ano de eleições presidenciais no Brasil, o PIB ficou estagnado, com alta de 0,1%, o pior resultado desde 2009. Entretanto, em 2015 a situação piorou, com uma queda de -3,8%, a menor taxa desde 1990, provocada pela “deterioração dos indicadores de inflação, juros, crédito, emprego e renda ao longo de todo o ano”. Neste ano, a previsão é de uma nova queda, com um recuo de 3,4%. Como foi possível arruinar a economia brasileira em tão pouco tempo? É com esse objetivo que a economista Monica Baumgarten de Bolle escreveu o livro Como matar a borboleta-azul – Uma crônica da era Dilma. O título foi baseado em uma praga de coelhos que ameaçou destruir as plantações em fazendas no interior da Inglaterra, nos anos 1970. A solução encontrada pelo governo foi espalhar um vírus que dizimou os coelhos. A diminuição da população de coelhos provocou o aumento das ervas daninhas, que, por sua vez, destruíram a grama que alimentava as formigas.

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As formigas protegiam os ovos da borboleta-azul: sem formigas, a espécie desapareceu. A história da praga dos coelhos serve como uma metáfora para explicar o que houve com a economia do Brasil, depois que o governo Dilma Rousseff resolveu descartar o tripé macroeconômico adotado em 1999, ou seja, metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário. Em seu lugar, Dilma preferiu adotar a chamada “nova matriz econômica”, sustentada por cinco pilares: política fiscal expansionista, juros baixos, crédito acessível fornecido por bancos estatais, câmbio desvalorizado e aumento das tarifas de importação para “estimular” a indústria nacional. Para completar, determinaram que “um pouco mais de inflação gera mais crescimento econômico”. O resto do filme dá para imaginar. Inflação, renda real em queda, endividamento recorde da população, varejo em crise, vendas de automóveis cada vez piores, inadimplência recorde. Mais de 12 milhões de desempregados. Fim dos graus de investimentos do país concedidos pelas agências internacionais.

Livro explica as causas responsáveis pela ruína da economia do Brasil no governo Dilma Rousseff

COMO MATAR A BORBOLETA-AZUL Autor: Monica Baumgarten de Bolle Páginas: 272 Formato: 16cm x 23cm Editora: Intrinseca Preço: R$ 39,90


ARTIGO

As microfranquias vão tirar o Brasil da crise Renato Ticoulat Neto*

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stá na hora de discutir a sociedade que a gente quer. Com o Brasil vivendo um momento complicado, a necessidade de buscar soluções para mudar este cenário só aumenta. Mundo afora, por exemplo, o modelo que está surgindo como protagonista do desenvolvimento socioeconômico, especialmente nos países emergentes, é a microfranquia. E, se há solução para o nosso país sair da crise, ela está nas mãos desse braço do empreendedorismo. Em diversas regiões da África e da Ásia, as microfranquias são usadas como meios para impulsionar a economia local e gerar uma série de vantagens sociais às comunidades onde os negócios atuam. A partir do modelo, pessoas que dificilmente teriam a chance (e a expertise) de se tornarem donas das próprias empresas aderiram ao empreendedorismo, gerando um avanço socioeconômico irreversível a elas e às suas regiões.

Por seu custo reduzido – negócios de até R$ 80 mil, segundo definição da Associação Brasileira de Franchising (ABF), mas com muitas custando menos de R$ 10 mil com financiamento em até 48 meses com aval do Sebrae, – as microfranquias estão ao alcance de uma comunidade que está sendo obrigada a empreender sem

Em diversas regiões da África e da Ásia, as microfranquias são usadas como meios para impulsionar a economia local ter nenhuma vocação. São estudantes, donas de casa e aposentados que buscam um complemento de renda e desempregados criando o seu “autoemprego”, indo à luta para mudar a própria realidade. Não por acaso, o número de abertura de empresas MEI (Microempreendedor Individual) está batendo recordes.

Nesse cenário, a microfranquia se apresenta como uma opção e tanto para a comunidade que quer empreender com quem já fez e deu certo. No entanto, é necessário muito cuidado para não se iludir. Por isso, o franqueado por trás do negócio deve saber trabalhar para desconstruir essas deficiências. Um processo que ainda está em desenvolvimento no Brasil. Ao contrário do que muitos pensam, o baixo investimento inicial não deve ser o único diferencial frente ao modelo já estabelecido de franquias. Se bem compreendidas, as desigualdades entre os dois tipos de negócios podem possibilitar aos franqueadores e franqueados uma evolução em conjunto, gerando, a partir das pernas dos próprios brasileiros, uma revolução interna no país. Mas isso exige trabalho – e uma mudança de perspectiva do empresariado. *Diretor executivo da Jan-Pro no Brasil Dezembro de 2016

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