me=morar

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05 introdução Me=morar. O título do espetáculo surgiu antes mesmo dele se configurar como dança. Começou ideia, discutida entre os que confabulavam criar pela primeira vez um espetáculo de dança contemporânea, e foi virando escrita que constituiu o projeto aprovado em 2009 pela FUNARTE (Fundação Nacional de Artes) – Prêmio Klauss Vianna de Dança, de 2008. A transformação em espetáculo foi um processo árduo de incorporação e expressão dia após dia, de cinco meses intensos de trabalho, que uniu novidades de vários lados: primeira vez que se criava coletivamente sem verticalidade nenhuma para a tomada de decisões, primeira vez que se criava coreografia, primeira vez que se tinha compromisso com órgão público, primeira vez que se habitava uma casa e a transformava em ambiente cênico cuja vizinhança era fonte inestancável de pesquisa e humanidade. Tudo poderia significar alguma coisa. Os sentidos ficaram aguçados durante o processo de pesquisa, montagem e assim permaneceram até o último dia de apresentação.

Instáveis

sobre o chão da Casa 169,

experiências sensoriais mediam lacunas entre abandono e relação, fluxo e estrutura. Pelos cômodos, relatos. Histórias em construção.

A casa 169 localiza-se em uma das únicas ruas que conservam paralelepípedos na cidade, em uma região que acaba de se tornar patrimônio histórico do município de Campo Grande e do Estado de Mato Grosso do Sul e recentemente nacional, por haver sido moradia de funcionários da estação ferroviária que deu início a Campo Grande como município de relevância econômica para o país. No final da tarde a rua de casas uma ao lado da outra, que partilham muros baixos, fica movimentada com vizinhos tomando tereré ou chimarrão em conversas que, por falta de varandas, se desenvolvem nas calçadas, entre crianças, adultos, idosos que nos guiavam por ambientes imaginários e físicos da estação ferroviária Noroeste do Brasil construída em 1914, para ligar dois municípios (Bauru-SP a Corumbá-MS), e que entrelaçou vidas, que precisavam viajar por algum motivo. A vida movimentada e acolhedora da rua Dr. Ferreira, na vila dos ferroviários de Campo Grande, contrasta com os prédios da estação em estado de abandono. Havia continuidade de vida naquele local e assim eram as plantas que tomavam conta das ruínas, nascendo por entre pedras e concreto, lugares improváveis, imprevisíveis. Um lugar que nos reme-

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