Revista Leite & Derivados - Edição 154

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ISSN 1807-9733 Nº 154 • Ano XXII Maio/ Junho 2015

O expoente mercado sem lactose e seus benefícios incalculáveis à indústria

Novo e histórico

O projeto que promete revolucionar o leite brasileiro

Futuro sólido

Embalagens sustentáveis remodelam perspectivas do setor

Exclusivo

Um sistema que favorece produtor, indústria e consumidor




SUMÁRIO

Maio/junho 2015

CAPA Mercado sem lactose cresce e beneficia indústria e consumidor

26 Conjuntura O projeto que promete expandir o leite nacional no mercado externo

18 Espaço Embrapa Um balanço exclusivo do consumidor

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brasileiro de lácteos

Perfil Pesquisador revela ganhos de sistema que integra lavoura, pecuária e floresta

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06Editorial /14Empresas & Negócios /22Infográfico - Conjuntura /24Espaço SNA /34Eventos – Fispal Tecnologia /42Sustentabilidade – Embalagem /48Consumo - Apas /49Índice de Anunciantes

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• editorial •

Uma nova revista José Danghesi A aclamada frase do poeta Fernando Pessoa “há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas” serve bem para representar o novo momento da Revista Leite & Derivados. Vivemos hoje em um “tempo de travessia”, especialmente na economia nacional, que nos permite dois tipos de passos: ou retrair-se ou ousar. E isso, tanto para a vida, quanto para o mercado de trabalho e para as relações comerciais, aplica-se muito bem. Nós preferimos sempre a segunda opção: fazer ainda mais. E é isso que estamos fazendo para o nosso leitor. Mudamos, abandonamos nossas “roupas velhas” para dar uma “nova forma ao nosso corpo”. Sem, entretanto, jamais, abandonar a qualidade que há anos torna este veículo o mais especial do setor. Este novo projeto gráfico foi pensado antes de tudo no leitor. Queremos que, com uma nova roupagem, você se sinta ainda mais atraído pelo conteúdo abrangente que trazemos a cada edição. Pensamos em uma diagramação e em recursos gráficos mais leves, refinados, que tenham mais apelo e ligação aos temas que tanto importam ao setor. Seja na alteração na fonte, para melhorar a leitura, ou no padrão de cores, tabelas e gráficos padronizados, a intenção é fazer fluir ainda mais sua experiência. Queremos que o conceito por trás da informação seja tão atrativo quanto ao conteúdo que você lê. A Revista Leite & Derivados quer se aprofundar cada vez mais em te-

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• Perfil •

Um por todos

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Pesquisador da APTA explica como sistema de integração lavoura, pecuária e floresta pode favorecer meio-ambiente, laticínios e consumidor Itamar Cardin

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aposta na alternativa correta nem sempre é a melhor opção. Para definir uma estratégia coerente e responsável de investimento sustentável, por mais que o retorno em longo prazo seja garantido, é preciso ponderar questões cruciais de mercado: tempo para reaver os gastos, probabilidade de lucro, tamanho da despesa, relação custo-benefício. Não há discurso que se sustente sem equilibrar essa balança. Uma empresa, para ser correta, precisa antes ser rentável. Encontrar esse ponto de equilíbrio pode ser ainda mais custoso à indústria láctea, um mercado que trabalha diariamente com questões ambientais complexas e urgentes. Mas, apesar dos reais percalços da sustentabilidade, alguns bons exemplos são notoriamente decisivos. E uma recente iniciativa desenvolvida no interior de São Paulo parece certificar o postulado: a alternativa correta pode, sim, ser a melhor opção. Essa foi a aposta da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, ao elaborar uma ampla pesquisa sobre o sistema de integração de lavoura, pecuária e floresta (iLPF).

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• Perfil • Desenvolvido no Polo Vale do Paraíba, mais precisamente na região de Pindamonhangaba, o estudo pretende incentivar o cultivo alternado de espécies agrícolas, forrageiras, florestais nativas e exóticas, buscando estimular a recuperação de pastagens degradadas. E, segundo a APTA, não há margem para dúvida: o investimento tem retorno financeiro garantido. Os experimentos foram instalados em uma área de 9,52 hectares no final de 2014. E, no início deste ano, foram plantadas sementes de leucena. Para o segundo semestre, por sua vez, mudas de cratília e de eucalipto irão para os solos. Embora a pesquisa ainda esteja no início, já é possível antever alguns benefícios: ganho na fertilidade de solo, redução de adubos, melhora na condição de armazenamento de água e disponibilidade de alimento no período seco, conforme enumera Hélio Minoru Takada, pesquisador da APTA. A utilização do sistema pode, inclusive, segundo ele, acarretar em ganhos concretos aos laticínios. “O iLPF pode trazer maior produtividade e maior oferta de produtos no mercado local e regional. Garante, ainda, a melhoria do bem-estar animal aliada à possibilidade de aumentar a fixação de gás carbônico, reduzir a emissão de óxido nitroso e de mitigar a emissão de gás metano.” Até mesmo o consumidor, refém dos ajustes de preço descontrolados do mercado, poderia ser beneficiado pelo sistema. “O iLPF pode propiciar ao pequeno produtor de leite e de carne uma estratégia a longo prazo de adequação da propriedade, na qual poderá regularizar o fornecimento de alimento”, comenta o pesquisador. Leia a entrevista completa com Hélio Minoru Takada, pesquisador da APTA. Também contribuíram com as respostas a pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste, Maria Luiza Franceshi Nicodemo, e o pesquisador Sergio Schalch.

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Como surgiu a ideia da pesquisa? A pecuária de leite é considerada a principal atividade familiar da região do Vale do Paraíba e, historicamente, ocupa papel importante na manutenção de grande parte das propriedades agropecuárias do Vale. O Polo Regional Vale do Paraíba, da APTA, realizou projetos de pesquisas na área de alimentação animal, envolvendo aspectos da pastagem, e obteve grande repercussão e interesse pelo dia de campo em recuperação de pastagens. O fato que deu andamento a esse projeto foi a escassez hídrica na safra 2013 e 2014, que acarretou em redução do período útil de pastagens e em resultados precários na produção de silagem com sorgo forrageiro. Os índices de qualidade do leite apresentaram problemas para atingir os limites mínimos exigidos pela Cooperativa de Leite.

O iLPF pode ser trabalhado tanto pela pecuária de corte quanto pela de leite? Existem várias modalidades de iLPF, incluindo a integração lavoura-pecuária, como os sistemas silvipastoris. Ele é apregoado para uso nos casos com experiência de sucesso na América Latina. No Brasil, os resultados e unidades implantadas são mais comuns, principalmente, para a pecuária de corte, embora existam experiências de sucesso em Minas Gerais, por exemplo. No caso do leite, é necessária a pesquisa nas várias condições do País e com diferentes tipos de espécies de forrageiras e arbóreas. A raça bovina, as espécies florestais e as culturas utilizadas vão influenciar no desenho do sistema. De modo geral, na pecuária leiteira, existe maior interesse pela produção de alimento para as vacas durante todo o ano, o que pode levar à inclusão de espécies de árvores forrageiras nos sistemas.


E como foi o passo-a-passo para a implantação do projeto? O Polo organizou, em outubro de 2014, um curso de capacitação em arborização de pastagens, em conjunto com a Embrapa Pecuária Sudeste. Selecionou-se para compor o sistema o plantio de sementes de Leucaena leucocephala, variedade Cuninghan, Cratylia argentea e Eucalyptus saligna, e a gramínea Panicum maximum, cultivar Mombaça. A área experimental foi dividida em quatro parcelas, sendo duas com o sistema silvipastoril e duas com pastagem a pleno sol. A área foi avaliada quanto à fertilidade de solo, densidade e porosidade. O levantamento de nível foi realizado para viabilizar a construção dos terraços para a conservação do solo. Já a correção do solo foi feita com aplicação de calcário, adubação de macronutrientes e micronutrientes.

Hélio Minoru Takada, pesquisador da APTA, segura muda de leucena

Quando a APTA deve ter uma conclusão final sobre esse trabalho? A partir do segundo ano de plantio será possível colocar bezerros e novilhas no sistema para o

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• Perfil •

O iLPF pode trazer maior produtividade e maior oferta de produtos no mercado local e regional pastejo no Mombaça e nas leguminosas e, assim, avaliar a taxa de pastejo, além do ganho de peso dos animais. Já no terceiro ano as vacas em lactação deverão pastejar no sistema silvipastoril e teremos os primeiros dados relativos a ganho reprodutivo, produção e qualidade.

Já é possível antever algum resultado? Ganhos na fertilidade de solo, redução de adubos, melhora na condição de armazenamento de água na pastagem e disponibilidade de alimento no período seco.

Especificamente para a pecuária de leite, quais os benefícios concretos que o sistema pode trazer? Algumas vantagens são: • Melhoria do bem-estar animal, com o conforto térmico dos animais no campo, a redução do período de ganho de peso e o aumento na produtividade; • Produção de alimento com elevado teor proteico, regularidade na produção com qualidade, plantas com

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maior potencial de aumento na taxa de lotação de animais e melhoria do custo/benefício alimentar; • Diversificação da produção e geração de renda, com produção de madeira para serraria; • Conservação do solo: redução do impacto das gotas de chuva na desagregação do solo e no escorrimento superficial em enxurrada, fixação de nitrogênio pelas leguminosas, ciclagem de nutrientes e microclima favorável; • Proteção ambiental: redução da erosão e aumento da diversidade de espécies.

Pensando em uma escala maior, que envolva laticínios, como o investimento pode objetivamente trazer retorno financeiro? O iLPF pode trazer maior produtividade e maior oferta de produtos no mercado local e regional. Garante, ainda, a melhoria do bem-estar animal aliada à possibilidade de aumentar a

fixação do gás carbônico, reduzir a emissão de óxido nitroso e de mitigar a emissão de gás metano pelos ruminantes, o que pode favorecer o marketing ambiental.

A pecuária brasileira vive um momento discrepante. Enquanto os produtores sofrem com o preço baixo do leite, o consumidor enfrenta problemas com o preço alto da carne. O iLPF poderia facilitar esse ajuste? A política de preços depende, principalmente, do mercado, que sofre influências das commodities na base da alimentação do gado, como a soja e o milho, e de seus insumos, sobretudo os carrapaticidas, os medicamentos e os adubos que sofrem com a alta do dólar e refletem na cotação do leite e da carne. A valorização do dólar refletirá diretamente no mercado internacional de leite e carne do Mercosul e de demais países.


Os benefícios do iLPF ao laticínio • Maior produtividade • Maior oferta de produtos no mercado • Alimento com alto teor proteico • Melhoria do bem-estar animal • Menor emissão de óxido nitroso e de gás metano • Amplo favorecimento do marketing ambiental

Há outros fatores que influenciam esses preços? As valorizações da carne também estão atreladas ao histórico de bezerros, com baixa oferta de animais de qualidade, e à falta de chuvas, que prejudica a qualidade das pastagens, reduzindo a taxa de prenhes.

E como o iLPF pode minimizar esse impacto? Os fatores acima têm influência muito acentuada na questão dos preços pagos ao produtor. Entretanto, o iLPF pode propiciar ao pequeno produtor de leite e de carne uma estratégia a longo prazo de adequação da propriedade, na qual poderá regularizar o fornecimento de alimento. Os sistemas silvipastoris podem ser uma fonte contínua de alimento

de qualidade, produzindo-o no período de menor precipitação e aumentando a produção de leite e carne. Eles reduzem, ainda, a influência das condições climáticas adversas na pastagem e no gado, proporcionando sombra para os animais. Além disso, o nitrogênio fixado pelas leguminosas ajuda a manter a produtividade e recuperar a pastagem degradada.

Em resumo, qual seria o grande benefício do iLPF? Pode-se verificar a influência direta desses efeitos e os ganhos que o iLPF traz na sustentabilidade da propriedade, mas é difícil quantificar seu efeito no mercado, pelos diversos fatores que o regulam. O que se pode afirmar é que o sistema refletirá em uma melhor relação custo/benefício na propriedade agrícola.

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• Empresas & Negócios • Queensberry retorna ao mercado de sorvete

Q Essas informações foram originalmente publicadas em nosso portal. Acesse e confira outras notícias: www. leiteederivados.com.br

uatro novas coberturas para sorve­ te – nos sabores morango, mirtilo, amarena e frutas vermelhas – foram re­ centemente apresentadas pela Queens­ berry. Presentes no catálogo de food ser­ vice da marca, as coberturas passaram a ser disponibilizadas para o varejo. O lançamento, contudo, não é exatamente uma novidade – representa, na verdade, o retorno da marca a esse mercado. Em entrevista exclusiva, Cristiano Moraes, diretor comercial da Queensberry, expli­ ca os principais pontos desse regresso.

// Experiências antigas “A Queensberry já esteve pre­ sente nesta categoria de produto em duas oportunidades. A primeira tenta­ tiva foi competir com um produto tra­ dicional no mercado (Kibon) com ca­ racterística de produto similar e uma embalagem mais prática, funcional e de baixo custo. Não era o posicionamento que sabíamos trabalhar e a Kibon tinha um brand awarness muito forte. Nos últimos anos, o mercado de produtos gourmet cresceu muito. O consumidor está em processo de aprendizagem de consumo de um produto que, apesar de ser mais caro, vale a pena. Além dis­ so, esse mercado cresceu significati­ vamente e o consumo de sorvetes com cobertura em sorveterias também.”

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// O retorno “Tirando um retrato do mercado de cober­ turas, o que vemos são produtos de baixíssima qualidade, puro açúcar e corantes artificiais. Con­ ciliando o cenário de comportamento, a categoria de sorvetes, a baixa qualidade da concorrência, a deficiência na distribuição de marcas com melhor qualidade, a nossa expertise em trabalhar com frutas e nossa experiência no mercado de cober­ turas, a Queensberry decidiu apostar novamente neste mercado.”

// Diferenciais “A embalagem de vidro foi escolhida para dar visibilidade e poder servir com uma colher ou uma concha. Não estamos entrando no segmento de chocolate e caramelo pois não é o nosso core business. Queremos oferecer uma cobertura para sorvetes, bolos, tortas, pudim e iogurtes com alto percentual de frutas e com muito pedaços. A em­ balagem predominantemente branca e dourada foi desenvolvida para dar leveza e sofisticação.”

A escolha dos sabores “O sabor morango é tradicional. O sabor mirtilo é uma fruta que caiu no gosto do brasileiro e não é oferecido na categoria. O sabor Amarena é clássico na Europa e em sorveterias finas em SP e Frutas Vermelhas é para quem acha o morango sem graça, mas adora as vermelhinhas.”


INGREDIENTES QUE VALEM OURO

Danfoss lança controlador com maior conectividade

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nterface amigável, fácil navegação e notáveis ca­ pacidades de conectividade de rede: esses são os prin­ cipais benefícios do EKE 347, um novo controlador de nível de líquido apresenta­ do pela Danfoss, que pode elevar o “controle para um novo nível”.

Ligado ao sensor que mede constantemente o nível líquido no vaso/re­ servatório, o EKE 347 pos­ sui informação clara, com display gráfico com texto, e integração ampla com PLC da instalação. A Danfoss destaca, ainda, entre suas caracte­ rísticas, o circuito do sinal de entrada analógico au­ toalimentado, a aplicação em nove idiomas, o rápi­ do assistente de menu, as melhores capacidades de controle e os algoritmos para minimizar as oscila­ ções indesejadas. Mas o grande des­ taque do EKE 347 é, de fato, segundo a empresa, a “informação e controle em um só lugar”, possibili­ tando “uma interface grá­ fica remota fácil e podero­ sa que se conecta a vários controladores EKE”.

KitKat reduz queda das vendas nacionais da nestlé

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pesar da turbulência macroeconômica em toda a América Latina, com a inflação pres­ sionando os preços em diversos mercados, a Nestlé obteve nacionalmente bom crescimento no setor de confeitos, com resultados favorá­ veis de KitKat e biscoitos. Em seu balanço mundial sobre o primei­ ro trimestre de 2015, a Nestlé destacou ainda as vendas nacionais das bebidas achocolata­ das e maltadas. Ainda assim, o relatório pon­ dera: o Brasil foi “afetado por um ambiente menos acelerado nas vendas dos produtos lác­ teos de prateleira”.

No resultado global, por sua vez, a com­ panhia apresentou crescimento orgânico de 4,4% – na região das Américas, essa taxa foi de 5,6% – e as vendas subiram 0,5%. “Nosso crescimento trimestral estava ali­ nhado com as expectativas e direcionado pelo crescimento real e política de preços”, avalia Paul Bulcke, CEO da Nestlé. “Nossa perspecti­ va anual está confirmada: pretendemos ter um crescimento orgânico de aproximadamente 5% com melhoria nas margens, ganhos subjacentes por ação nas moedas de valor constante e efici­ ência de capital.”

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• Empresas & Negócios •

Freddo aposta em interatividade de receitas

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ostrar a versatilidade de um pro­ duto ajuda a expandir as possi­ bilidades de consumo e, portanto, as vendas. Mas como entregar algo di­ ferente? Uma iniciativa da sorveteria Freddo aponta a criatividade, as redes sociais e uma boa gráfica como a apos­ ta ideal. Para promover seus potes de viagens, a marca lançou uma série de vídeos curtos que trazem receitas sim­ ples com sorvete. Intitulada “Os Truques da Fre­ ddo” e veiculada no YouTube e no Fa­

Salus investe

R$ 20

milhões

em fábrica de nutrição animal

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cebook da empresa, a campanha indica cinco receitas: bolo de morango com sorvete de creme americano, cupcake gelado, pirulito com sorvete e chocola­ te, lemon pie refrescante e rocambole com sorvete de doce de leite e recheio de creme. “A Freddo tem como objetivo trazer sempre o melhor do sorvete para o consumidor e, com essa proposta, a ideia é facilitar e se aproximar cada vez mais da casa do cliente. Por isso a mar­ ca aposta na campanha com receitas

diferentes, fazendo destes momentos os mais inesquecíveis”, avalia o presi­ dente da Freddo, Sergio Gratton.

A Salus Nutrição Animal inaugurou uma fábrica de premixes, núcleos e aditi­ vos nutricionais. A planta, localizada na rodovia SP-340, em Santo Antônio de Posse (a 30 km de Campinas), tem posição logística privilegiada, capacidade produtiva de 130 toneladas/turno e completa automação dos controles. O in­ vestimento foi de R$ 20 milhões. “São 356 pontos de controle ao longo de todo o processo de produção, que fornece dados precisos, onde tudo é pesado, registrado e auditável. As chances de erro e contaminação cruzada são minimizadas e a rastreabilidade é total”, explica Ronnie Dari, gerente de desenvolvimento da empresa. Esta é a primeira fábrica da Salus, que iniciou no mercado como trader de aditivos para nutrição animal. “Como trader, a Salus alcançou, em pouco mais de três anos, uma posição entre as cinco maiores”, acrescenta Abílio Tardin, um dos fundadores da Salus. “Agora, como fabricante, a projeção é atingirmos um marketshare de 5% em cinco anos, na indústria do premix.”


Alemanha recebe feira de maior custo-benefício do setor

Na Vitrine

Gourmet Chamados pela empresa de especiais, a Piracanjuba aposta no aumento de cremosidade de seus novos produtos Creme de Leite Gourmet, com 30% de gordura, e o Creme de Leite Bate Chantilly. Os produtos não levam gordura vegetal.

P

romovida na Alemanha há mais de 60 anos, a feira bienal de alimentos e bebi­ das Anuga se aproxima de sua 33ª edição. Sob o slogan “10 trade shows em um”, o evento apresenta players, novidades e tendências dos setores de laticínios, carnes, retail, ser­ viços, bebidas, alimentos orgânicos, congela­ dos, frescos, panificação e produtos gourmet. Segundo Katharina C. Hamma, CEO da Koelnmesse, organizadora do evento, a cidade alemã de Colônia sediará, entre 10 a 14 de ou­ tubro, a “feira internacional líder da indústria do leite e de produtos lácteos”. “O pavilhão de laticínios da feira é considerado o maior do mundo e, segundo especialistas, o comércio desse setor vem crescendo de 20% a 30% em países emergen­ tes”, divulgou a Koelnmesse. São esperados 6.800 fornecedores de

cerca de 100 países. A organização prevê público semelhante ao de 2013, quando recebeu 155 mil visitantes, entre os quais constam exclusiva­ mente compradores profissionais das áreas comerciais e gastronômicas. “A Anuga é a ação que oferece o melhor retorno em custo-benefício para a Apex”, afirma Rafael Prado, gerente executivo de Imagem e Aces­ so a Mercados. Na última edição, a agência investiu quase R$ 8 milhões e obteve retorno de US$ 1,1 bilhão em vendas. Neste ano, a estimativa é de aumen­ tar esse retorno para US$ 4 bilhões – ou seja, 27% a mais – com as cerca de 80 empresas que a Apex pretende levar.

Chocolate com café A Nespresso apresentou uma novidade ao mercado brasileiro: a linha Chocolates Nespresso. Disponíveis nas versões ao leite e amargo, eles foram especialmente elaborados para consumo com os blends da marca.

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• Conjuntura •

Leite fresco

Novo projeto do Ministério da Agricultura promete impulsionar setor rumo às exportações Thais Ito

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ltas expectativas circundam o novo programa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) dedicado à melhoria da produção do leite no Brasil. E um dos benefícios mais vislumbrados é, justamente, um dos pontos mais críticos da indústria láctea nacional: sua baixa competitividade no mercado externo. Intitulada Projeto de Melhoria da Competitividade do Setor Lácteo Brasileiro, a iniciativa se apoia em seis pilares titulares - assistência técnica, política agrícola, sanidade, qualidade do leite, marco regulatório e consumo - e um extraoficial: o otimismo. “Se os pontos já delineados forem colocados em prática em um curto espaço de tempo, a abertura do mercado para o setor será garantida”, declara a Associação Viva Lácteos, uma das entidades que participaram das discussões originárias do projeto. Foram cerca de dois meses para traçar um plano com metas para os próximos quatro anos. Uma delas, por exemplo, é elevar as exportações do setor - atualmente na casa do 1% - para 3%. Algumas constatações contribuíram para a identificação de oportunidades de melhora. Uma delas é a própria atuação brasileira inexpressiva no mercado externo, focada apenas na Venezuela e em um produto específico, o leite em pó integral. Há, ainda, outras questões fundamentais, como produção e demanda.

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“O crescimento da produção está acima da demanda doméstica. Nós temos uma pequena participação no mercado internacional. E apresentamos uma produtividade média que tem muitas condições - e com pouco a fazer - de aumentar muito”, explica o secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo (SDC) do Mapa, Caio Rocha, que fez a apresentação oficial do projeto à ministra Kátia Abreu. O novo projeto busca ajustar os principais gargalos do setor. E é visto com bons olhos até mesmo por quem não participará inicialmente das ações, como o Sindileite de São Paulo, estado que deve receber o plano apenas em uma


O leite no Brasil 3,3% 4,1% produção consumo • Nos últimos 10 anos, a produção cresceu em média 4,1% ao ano. Ou seja, em ritmo mais acelerado que o consumo, que cresceu 3,3% ao ano. • O Brasil exporta 1% da produção e importa 3%.

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• O Brasil é o 4o maior produtor de leite, atrás somente dos EUA, Índia e China. Estimase que a produção de 2014 tenha atingido 35,6 bilhões de litros e o consumo 181,5 litros/ habitante/ano.

61 36 36 • O Brasil tem baixa produtividade. Nosso índice de 4,4litros/vaca/dia fica atrás do México, Rússia, China, Nova Zelândia, Argentina, Austrália e outros. Os campeões são os Estados Unidos (26,5L/ vaca/dia) e o Japão (25,4L/vaca/dia).

•O

57 4 6,4

53 26

35

brasileiro consome mais leite fluído que os franceses, mas está bem atrás no consumo de queijo e iogurte.*

Valores referentes a kg/pessoa/ano (equivalente leite; 2012)

Fontes: FAO, Sidra/IBGE/MDIC/ Canaidan Dairy Information Centre/ The Nutri Journal

Bruno Lucchi, da CNA

Wenderson Araujo/Trilux

outra etapa. Por enquanto somente Goiás, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Caterina - que, juntos, representam 77% da produção nacional - serão agraciados pela iniciativa. “As expectativas são boas considerando que este programa parece ter em si a vontade política que faltava nos anteriores”, avalia Carlos Humberto Mendes de Carvalho, presidente da entidade paulista. Ao mesmo tempo, o superintendente Técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, garante que a concretização das medidas representaria um “avanço tremendo”.

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• Conjuntura • // Os pilares do projeto

O secretário Rocha faz questão de frisar: o novo projeto está alinhado ao recém-lançado Plano de Defesa Agropecuária (PDA), o que pode ser um ponto favorável por atrelar o esforço do Governo Federal. Um dos pilares ligados ao PDA é a sanidade animal. Ações para erradicar a brucelose e a tuberculose, assim, integram a pauta. Já a assistência técnica e gerencial promete melhorias em cadeia: capacitar o produtor e, consequentemente, aprimorar sua produção e seu produto, gerar mais

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produtividade e elevar sua renda. A meta é estimular a ascensão dos produtores de classes D e E à classe C. Na política agrícola, por sua vez, o objetivo é desburocratizar e garantir o acesso ao crédito. No que diz respeito ao marco regulatório, um dos destaques é a atualização do Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA). Em relação ao consumo, o projeto mapeia os principais mercados externos. Um pleito antigo vem à tona no pilar qualidade do leite: o monitoramento das análises laborato-

riais. “A ministra [Mapa] já aprovou recurso para viabilizar o trabalho da Embrapa de gestão de estatísticas de qualidade e gerar um real diagnóstico da qualidade do leite no Brasil”, assegura Lucchi, da CNA.

// Obstáculos e falhas

Os desafios, contudo, não são poucos. “As indústrias e produtores enfrentam problemas de ordem estrutural - energia elétrica, estradas, comunicações - que geram altos custos para a atividade e não contribuem com a qualidade esperada”, aponta Valter Antonio Brandalise,


diretor de expansão e política leiteira da Tirol. Também é necessário, para o executivo, mais severidade do governo no combate às fraudes. Segundo Carvalho, do Sindileite de São Paulo, o programa abrange os principais pontos debatidos nos últimos anos pelos representantes da cadeia na Câmara Setorial de Leite e Derivados. Mas, para ele, não se caminhou adequadamente como se esperava. “Dentre eles, em nossa opinião, o mais prioritário seria a promoção do consumo e a valorização da imagem do leite”, aponta. “Faltou uma tomada de posição mais concreta sobre a solução aos confli-

divulgação/Tirol

Conjuntura

“Os desafios não são poucos e tudo deve passar pela melhoria da qualidade do leite”, destaca Valter Brandalise, da Tirol

tos que existem em áreas do governo, como o caso do Guia Alimentar construído pelo Ministério da Saúde que traz pontos negativos para a imagem do leite.” Em um balanço geral, contudo, se concretizadas as medidas definitivamente darão novo fôlego ao setor. Um “novo leite” nacional pode emergir, beneficiando não somente os produtores e a indústria, mas os consumidores do Brasil e do mundo. “Temos uma grande chance de avançar e esperamos que a ministra Kátia Abreu queira deixar seu nome na história ao propiciar a transformação do setor de lácteos no Brasil”, conclui Carvalho.

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• Conjuntura •

AS

ASSISTÊNCIA • Conhecimento técnico e gerencial (tecnologia, gestão, produtividade e boas práticas)

Melhorar produto, PRODUTORES produção, produtividade e renda

80 MIL

Ascensão dos produtores das classes D e E para a classe C

• Capacitação para transportador. “É ele quem vai à porta do produtor, recebe o leite e depois entrega no balcão da indústria - é quase um fiscal”, enfatiza Caio Rocha, secretário do SDC

01

DO NOVO

LEITE “O produtor precisa de conhecimento gerencial muito aprofundado. O MAPA vai aportar recursos via editais, e as indústrias e cooperativas vão potencializar o que já fazem. É um dos principais ganhos para o setor primário” Bruno Lucchi, superintendente técnico da CNA

03 POLÍTICA AGRÍCOLA

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• Desburocratização de acesso a linhas de crédito (Pronamp e Inovagro) • Ampliação de instrumentos de comercialização

“O programa Inovagro da safra 2014-2015 contava com R$1,7 bilhão, dos quais foram acessados R$450 milhões. Desse montante, R$390 milhões foram para a avicultura, a suinocultura e a bovinocultura de corte e de leite. Quanto o leite representou no Inovagro? Apenas 5%” Caio Rocha, secretário do SDC 22

6 PEÇAS

SANIDADE • Elevar índice vacinal para brucelose para, no mínimo, 80%. “Em GO e no RS, os índices são positivos. Já em MG e no PR vamos melhorar a campanha de vacinação”, observa o secretário Rocha. • Articulação para operacionalização dos fundos indenizatórios • Promover programas de educação sanitária • Revisão do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT). A novidade é o processo de classifiação estadual.

“Uma excelente iniciativa haja visto que a exportação será o caminho natural. Porém, sem o certificado de livre de brucelose e tuberculose, jamais conseguiremos entrar em países de primeiro mundo. Tão importante quanto o programa, será a forma de execução do mesmo porque esbarramos em estrutura, custos e burocracia para expedição dos certificados.” Valter Antonio Brandalise, diretor de expansão e política leiteira da Tirol


CONSUMO DE LÁCTEOS

MARCO REGULATÓRIO • Publicação de regulamentos técnicos para soro, leite condensado e leite em pó • DILEI: reduzir em 70% o tempo entre solicitação e registro • Atualização do RIISPOA • Harmonização dos parâmetros de qualidade do serviço de inspeção (IN 62) entre as esferas federal, estadual e municipal

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 “O programa deveria ter uma posição mais firme em relação a publicação imediata do novo RISPOA, e não como aponta a necessidade de ações conjuntas para atualização deste dispositivo legal” Carlos Humberto Mendes de Carvalho, presidente do Sindileite-SP

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• Mercado interno: pedido de revisão do Guia Alimentar, do Ministério da Saúde. O setor lácteo considera a nova versão um “desserviço” por criticar o consumo de alimentos processados. • Mercado externo: mapeamento das prioridades. Em pauta: habilitação para exportar para a Rússia, certificação sanitária para os mercados da China, Argélia, Egito, Emirados Árabes e Arábia Saudita, e verificação da renovação do acordo de cotas para o leite em pó com a Argentina.

06 “Hoje exportamos 1%. A meta é passar a 3% em quatro anos. Isso equivale a 250 milhões de leite por ano. É importante para o setor e não é um desafio tão grande” Caio Rocha, secretário do SDC

QUALIDADE DO LEITE • Consolidar a LANAGRO-MG como laboratório de de referência • Certificação de laboratórios: norma ISO 17025 • Reestruturação do Plano Nacional de Qualidade do Leite (PNQL), incluindo a atualização de normas (IN 62/2011 - padrões de qualidade do leite) • Um melhor diagnóstico: centralização de dados em um novo sistema para mapear regiões problemáticas e principais gargalos • Integração do PNQL ao Sistema de Informações Gerenciais do SIF (SIG- SIF) e à Plataforma de Gestão do Agronegócio (PGA)

“O PNQL estava restrito a um ambiente de fiscalização, mas o projeto pretende dar autonomia ao gestor para avançar em outros pilares inerentes ao plano, como capacitação, fomento a boas práticas de produção e controle da qualidade dos laboratórios. É o principal avanço desse pilar” Bruno Lucchi, superintendente técnico da CNA

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• Espaço SNA •

Governabilidade e segurança Antonio Alvarenga, presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA)

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Brasil atravessa um dos períodos mais difíceis de sua história, onde se pontifica uma generalizada crise de confiança. Somos bombardeados diariamente com denúncias de corrupção nunca vistas na história desse País, envolvendo políticos, empresários e funcionários do executivo e do judiciário. Na economia, estamos atravessando uma combinação de indicadores negativos que alguns denominam de “tempestade perfeita”, com inflação em alta, estagnação econômica, déficit nas contas públicas, juros elevados, dívida pública em crescimento e perspectivas de desemprego. Na área política instalou-se uma verdadeira balbúrdia. Não podemos permitir que esse clima negativo paralise o País. A incerteza é uma das maiores inimigas do desenvolvimento. Ela amedronta os consumidores, inibe os empreendedores e afugenta os investidores.

Em meio a essa crise sem precedentes, temos a oportunidade de passar a limpo o Brasil, enfrentar e superar nossos problemas. É preciso ser implacável na punição dos corruptos e corruptores. Mas não se pode confundir uma questão criminal com a necessidade de reorganizar nossa economia. Não deve ser fácil para a presidente Dilma Rousseff implementar uma política econômica que não faz parte de seu ideário histórico e, ainda que indiretamente, admitir os erros cometidos em seu primeiro mandato. Não é hora de amaldiçoá-la continuadamente, como temos assistido. É preciso proporcionar a ela condições de governabilidade para que sua gestão encontre o caminho do equilíbrio econômico e da segurança institucional e política.


INGREDIENTES QUE VALEM OURO

Não podemos permitir que esse clima negativo paralise o País. A incerteza é uma das maiores inimigas do desenvolvimento Dilma entregou o controle da economia para um profissional competente, e a articulação política para o mais experiente de seus aliados. Esperamos que ambos devolvam tranquilidade à nação e garantam o equilíbrio das contas públicas, com a consequente melhoria de nossos indicadores econômicos. Há muito o que fazer para ajustar a economia e recolocar o País em uma trajetória de crescimento sustentável. O agronegócio já mostrou sua importância. Fornece comida farta, boa e barata na mesa dos 200 milhões de brasileiros e, ao mesmo tempo, proporciona exportações de US$ 100 bilhões que garantem o equilíbrio de nossa balança comercial, pressionada pelo gigantesco déficit do setor industrial. O bom senso econômico indica que os ajustes da economia devem garantir continuidade ao desenvolvimento de nossa agropecuária, mantendo e ampliando os programas governamentais de apoio ao setor, inclusive quanto ao financiamento rural.

Vamos aproveitar nossa vantagem comparativa. Temos disponibilidade de terras, clima adequado e tecnologia apropriada para avançar na produção de alimentos, fibras, energia e florestas. Somos competitivos na produção, mas precisamos melhorar nossa precária infraestrutura de armazenagem e escoamento da produção. Finalmente, não é justo que os produtores - verdadeiros heróis de nossa economia - permaneçam em estado de constante insegurança, à mercê dos eventuais problemas climáticos e das ocorrências de doenças e pragas. Está na hora de resolver essa questão por meio de um eficiente e amplo sistema de seguro rural que lhes proporcione garantia de renda e tranquilidade para empreender e gerar empregos e divisas para o País.

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• Capa •

Mercado zero lactose se expande, beneficia consumidor e traz inúmeras oportunidades à indústria láctea Thais Ito

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ão bastassem dores abdominais, diarreias, náuseas e outros incômodos, mais um sintoma assola os intolerantes à lactose: a tristeza de negar receitas tradicionais e outros quitutes apetitosos. A economista Fernanda Rodri-

gues, por exemplo, não só abriu mão de seu achocolatado preferido, como enfrentou outras mudanças para preservar sua saúde e bem-estar. “Eu tomava leite todo dia de manhã, fora queijo e chocolate, que adoro. Então, quando descobri que era intolerante à lactose, há três anos, fiquei bem chateada porque na época não existiam muitos produtos. E o que existia era muito caro”, conta. “É

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horrível. Você vai na casa de alguém e te oferecem um bolo. E aí?”, lamenta. A recente expansão de lançamentos do setor certamente melhorou a vida alimentar de Rodrigues. Há, porém, segundo ela, uma cultura ainda insatisfatória de desenvolvimento desses produtos. A economista é uma dos mais de 43% de brasileiros que apresentam intolerância ao açúcar que compõe o leite, segundo artigo publicado na revista Associação Médica Brasileira. A estatística mostra, portanto, que quase metade da população nacional compõe um mercado ávido por alternativas sem lactose. Mas o Brasil ainda engatinha nesse setor.


divulgação/Prozyn

Mercado de leite fluído com lactose reduzida representa menos de 1% no Brasil. “Há um vasto espaço a ser explorado”, diz Jadyr Oliveira, da Prozyn

O que é lactose? E lactase? Lactose é o açúcar contido no leite e seus derivados. Lactase é a enzima que decompõe a lactose, facilitando sua absorção pelo organismo.

O que é intolerância à lactose? É a incapacidade parcial ou total de digerir a lactose, em decorrência de uma produção insuficiente da enzima digestiva lactase pelo organismo. A deficiência pode ser congênita (a criança nasce sem condições de produzir lactase), primária

divulgação/Mintel

(ocorre uma redução natural e progressiva Naira Sato, da Mintel: “Uma das oportunidades é destacar o fato de que são produtos mais fáceis de serem digeridos”

da produção de lactase ao longo dos anos; é a mais comum) ou secundária (a produção de lactase é prejudicada por doenças intestinais ou alergia à proteína do leite, por exemplo). Os sintomas incluem dor abdominal, náuseas, desconforto, diarreia e gases. Vale ressaltar que intolerância à lactose é diferente de alergia ao leite: a primeira é uma reação adversa que envol-

“Para se ter uma ideia, na Colômbia, por exemplo, cerca de 60% de todo leite fluído é lactose reduzida. No País, produtos deste tipo giram em torno de menos de 1%”, destacou Jadyr Oliveira, diretor da Prozyn, durante um evento sobre o tema. “E estamos falando em produtos com melhor saudabilidade e digestibilidade. Há um vasto espaço a ser explorado.” Outro ponto instigante é o fato desse mercado ser capaz de atrair outros consumidores. Segundo a Mintel, empresa de pesquisa de mercado, “apenas 10% dos brasileiros concordam que leite sem lactose ou com baixo teor de lactose é só para quem tem problemas de saúde”. Assim, é possível destacar benefícios visando um público mais amplo, possibilitando o aumen-

ve a digestão ou o metabolismo, enquanto esta é uma resposta do sistema imunológico à proteína do leite.

Como desenvolver produtos sem lactose? Existem duas tecnologias, conforme explica Jadyr Oliveira, da Prozyn. “Uma que remove a lactose via ultrafiltração com membranas ou através da hidrólise enzimática da lactose”, pontua. “A segunda é mais vantajosa, pois além de mais barata não requer investimento em equipamentos de ultrafiltração.”

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• Capa • to do consumo deste segmento, de acordo com Naira Sato, especialista de Alimentação e Bebida da companhia. Uma das oportunidades, segundo Sato, é destacar que estes são produtos mais fáceis de serem digeridos e, assim, proporcionam sensação de leveza após o consumo. “A busca dos brasileiros por produtos mais saudáveis, como os sem lactose, também aumenta oportunidades para leites de origem vegetal, como produtos feitos a partir de grãos, castanhas ou sementes. No Brasil, o mais conhecido é o leite de soja, mas já é possível encontrar no mercado local leites feitos a partir de arroz, amêndoas, aveia, entre outros.” A tendência “lactose free”, aliás, já é percebida mundialmente. Ao anunciar a feira Anuga, uma das principais em alimentos e bebidas, que será promovida na Alemanha em outubro, o segmento foi um dos destaques mencionados por Katharina Hamma, CEO da Koelnmesse, organizadora do evento. “Em lácteos, particularmente, leites sem lactose são uma grande tendência.”

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// Abrindo alas Na base dessas novidades, que aparentemente ganham contornos de tendência irreversível, um mesmo produto aparece como centro propulsor. “O leite acaba sendo um ingrediente para todos os processados que queiram trazer o benefício do 0% lactose”, destaca a doutora em ciência dos alimentos Rodicler Bortoluzzi, da ADM do Brasil. “É, portanto, um mercado com muitas alternativas para crescer.” E essa empreitada já foi iniciada e celebrada no mercado nacional. De quatro anos para cá muitas empresas têm investindo no setor, antes reinado isoladamente por alguns itens apenas com lactose reduzida. “Até pouco tempo, a Verde Campo, que foi pioneira, estava sozinha. Mas depois a Piracanjuba desenvolveu uma linha importante e a Itambé também, lançando


Thais Ito

há alguns meses o zero lactose nas três versões mais comuns do leite, o integral, o desnatado e o semidesnatado, quando a grande maioria vendia apenas nesta última versão”, comenta Luciane Baldo, fundadora do site SemLactose. É um verdadeiro rally para o lançamento de iogurtes, queijos, creme de leite, leite condensado, entre outros, conforme ressalta Oliveira, da Prozyn. “Sem falar no leite em pó, que, além de consumido por grande parte da população, é usado também como ingrediente de outros produtos, como sorvetes, chocolates e pães. Isso abrirá a porta para uma variedade incrível de produtos alimentícios lactose reduzida.”

“O primeiro leite em pó sem lactose” chega ao mercado, anuncia Claudio Fileto, da Confepar

Essa porta, inclusive, acabou de ser aberta pela Confepar. Durante a feira de supermercados Apas, realizada em maio, a empresa apresentou o que denomina ser o primeiro leite em pó sem lactose do mercado. O produto será disponibilizado pela marca Polly, a partir de junho, na versão integral e posteriormente na desnatada. Claudio Fileto, gerente comercial e de marketing da Confepar, conta que o desenvolvimento da novidade surgiu da observação do mercado. “Já tínhamos o know how em leite em pó, mas buscávamos um segmento diferente. Somos exportadores e vimos muitas marcas proliferando o leite longa vida


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• Capa •

Lisiane Guimarães, da Piracanjuba: “Temos o único equipamento que realiza análise de isenção de lactose no Brasil. Estamos lidando com a saúde das pessoas”

O Laticínio Carolina quer expandir sua linha kids “sem lactose”, segundo Claudio de Lucca

desse segmento. Percebemos que havia no mercado produtos em pó para intolerantes, mas nenhum era leite”, relata. O pioneirismo também é uma característica da Piracanjuba. A começar pelo conceito “zero lactose”, que ajudou a abrir alas em um mercado antes reinado pela expressão «reduzida». “Já estávamos de olho no consumo de leite sem lactose na Europa, que é muito alto. No Brasil havia produtos com baixa lactose ou lactose reduzida. Queríamos lançar algo diferente», lembra Lisiane Guimarães, gerente de marketing da marca, que lançou o primeiro leite UHT zero lactose nacional em 2013. Mas a consolidação desse conceito não foi simples. O desenvolvimento do processo, segundo Guimarães, passou por um cuidado especial. “Antes enviávamos amostras aos Estados Unidos, mas depois adquirimos um equipamento para realizar a análise de isenção de lactose aqui. É o único equipamento no Brasil”. Mesmo assim, para confrontar periodicamente os resultados, a empresa ainda manda amostras para os EUA. “Temos todo esse cuidado porque é um produto muito perigoso, pois você está lidando com a saúde das pessoas, então temos que garantir que o nosso produto realmente tenha 0% de lactose”, sublinha.

// Oportunidades

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Quanto mais se analisa o mercado, mais oportunidades se proliferam. Para Baldo, do SemLactose, ainda há espaço para outras marcas competirem nos mesmos produtos. “Assim como há várias marcas de leite, faltam mais opções de fabricantes para cottage, requeijão, creme de leite, leite condensado, entre outros”, argumenta. “Além disso, é importante ter uma distribuição mais uniforme para que essas novidades cheguem ao interior dos Estados.” A análise de Baldo corrobora uma percepção atual de mercado: mais marcas estão estreando o conceito zero lactose em seu portfólio. É o caso do Laticínio Carolina, que promete introduzir o primeiro leite fermentado da categoria a partir de junho. “Além disso, a família Carolina está desenvolvendo novos produtos kids para estender a linha sem lactose”, antecipa Claudio de Lucca, gerente de vendas. Outra estreante é a importadora Allfood, que acaba de anunciar a chegada do queijo maturado Paiva sem lactose, de Portugal, com textura cremosa, amanteigada e com redução parcial de gordura. “Os parceiros europeus, que estão mais avançados em produtos funcionais, sempre propunham que importássemos produtos sem lactose”, explica Luciano Almendary, presidente da empresa. Ele revela, ainda, que pretende trazer mais queijos. E acrescenta: a próxima tendência será a de produtos orgânicos. A intenção de crescer nesse mercado é um fator comum a diversas marcas. Ninguém quer ficar de fora. E na Aurora não é diferente. “A ideia é popularizar o segmento, que


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Lançamentos do ano

Leite em pó pioneiro da Confepar

Piracanjuba

• Piracanjuba - doce de leite; creme de leite UHT; leite condensado à base de leite de vaca

Depois do leite condensado e do creme de leite, chega o doce de leite Piracanjuba

Além do leite fermentado, Carolina lança iogurtes

Tirolez

Allfood pretende importar mais queijos sem lactose, anuncia o presidente Luciano Almendary

• Carolina - leite fermentado; iogurte líquido (morango e salada de frutas); iogurte (com pedaços de frutas nos sabores morango e frutas vermelhas, e nas versões integral natural e integral desnatado)

Thais Ito

Thais Ito

atende diversos tipos de público, desde crianças e adolescentes até a fase adulta”, reforça Cristiano Silva, gerente de produtos da empresa. O conceito também já chegou ao food service. A Light & Saúde, por exemplo, lançou pratos “gourmet” congelados para delivery voltados aos intolerantes à lactose – no cardápio há opções como filé de frango grelhado com alecrim, badejo com alcaparras ao pomodoro e omelete de claras com legumes. Outro setor atento a esse mercado é o de equipamentos: neste ano, a SIG anunciou uma nova estação dosadora asséptica com foco, principalmente, para a produção de leite sem lactose. Há espaço para todos - até para quem está fora do setor lácteo. A Docile, empresa que produz pastilhas e balas de goma, já sentiu a demanda bater à sua porta. “Recebemos muitos e-mails, especialmente de mães, perguntando se nossos produtos têm lactose para saber se podem dar para os filhos”, conta Rita Fritz, coordenadora de marketing da companhia. Seu portfólio, que inclui marshmallows, brigadeiros e até balas de iogurte, foi desenvolvido sem lactose por uma questão de qualidade de textura e sabor. Acabou, assim, sem querer, atendendo necessidades dos intolerantes à lactose. O mercado está definitivamente instalado. E, como atesta Guimarães, da Piracanjuba, “não tem mais volta”. O momento agora é de aproveitar uma dessas raras oportunidades de relação win-win, onde tanto a indústria quanto o consumidor ganham. No lugar da lactose, entra o sucesso.

Tirolez traz cinco tipos de queijo light

Confira alguns destaques “sem lactose”: • Confepar - leites em pó integral e desnatado

• Itambé - leites UHT integral, desnatado e semidesnatado; requeijão light; iogurtes gregos tradicional e zero; iogurtes naturais integral e desnatado; leite condensado; creme de leite; iogurte sabor frutas vermelhas; leite flavorizado sabor chocolate UHT • Tirolez - queijos light nas versões mussarela, prato, minas padrão, minas frescal e cottage • Vigor - iogurtes grego (sabor tradicional, frutas vermelhas, limão siciliano e zero gordura) e natural (ameixa, natural e desnatado) • Allfood - queijo maturado sem lactose da marca portuguesa Paiva

Queijo importado de Portugal

• Aurora - leites longa vida integral, semidesnatado e desnatado; bebidas lácteas (uva verde, morango e frutas vermelhas)

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• Capa • Corrida com obstáculos O mercado consumidor é amplo e as oportunidades existem. Mas, como nada é perfeito, o setor tem seu entrave: a diretriz federal que dificulta o uso do claim “zero lactose” nos produtos, inclusive para os importados. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), tal rotulagem deve seguir a regulamentação de alimentos para fins especiais. Há, contudo, produtos que não foram desenvolvidos com esse objetivo, mas apresentam lactose reduzida por consequência do seu próprio processo padrão de fabricação, como alguns queijos. Por lei, portanto, eles não poderiam exibir o “zero lactose”. Além disso, mesmo que sejam classificados para fim especial, a regulamentação tampouco prevê a possibilidade de aplicar o claim na parte frontal do produto.

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Segundo o órgão, a regra está alinhada com as diretrizes do Mercosul e com o Codex Alimentarius. A indústria, contudo, rebateu. E a resposta foi favorável. “Nesse contexto, vale o ditado ‘o que abunda não prejudica’, isto é, se a informação for mais rigorosa não vai prejudicar o consumidor, o contrário sim”, declarou a juíza federal Edna Márcia Silva Medeiros Ramos, em decisão judicial a pedido do Sindileite de Goiás, para abster seus representados da vedação do uso do claim imposta pela Anvisa e pela União Federal. Para Luciane Baldo, do SemLactose, é uma vitória para os consumidores. “Considero muito útil. É difícil o consumidor analisar a tabela nutricional do produto, às vezes o tamanho da letra dificulta a leitura. Então o claim é importante para identificar o produto sem lactose”, alega. “Além disso, entendo a indústria. Isso agrega valor aos produtos.”

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COPA DO MUNDO

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• Eventos •

Cara nova Com inúmeras novidades, Fispal Tecnologia chega à 31ª edição

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ma das mais importantes feiras do setor promete redobrar sua força em 2015. Para a 31ª edição, que será realizada entre os dias 23 e 26 de junho, no Pavilhão do Anhembi, em São Paulo, a Fispal Tecnologia - Feira Internacional de Processos, Embalagens e Logística para as Indústrias de Alimentos e Bebidas programou uma série de novidades. O horário, por exemplo, será das 13h às 20h. Há, ainda, um novo projeto de circulação, com reestruturação da planta e a criação de seis passarelas principais. Por fim, prometendo ampliar a apresentação de tendências, a feira traz o Espaço do Conhecimento, um ambiente dedicado a palestras e debates com os estudiosos mais renomados do setor. Iniciativa da BTS Informa, promotora da feira, em parceria com o Senai-SP, o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o Espaço do Conhecimento terá uma programação de palestras técnicas, dirigidas aos profissionais que atuam em diversos setores da indústria. Destaque para a apresentação do estudo “Brasil Processed Food 2020”, um grande balanço do mercado brasileiro que será apresentado por especialistas do Ital.

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Em meio às novidades, que prometem garantir ainda mais qualidade ao ambiente de negócios, a Fispal Tecnologia espera mais de 52 mil compradores e uma forte presença internacional, com cerca de 30 países participantes.


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• Espaço Embrapa •

O mercado consumidor de lácteos no Brasil Kennya B. Siqueira, doutora em Economia Aplicada e pesquisadora da Embrapa Gado de Leite. Contato: kennya.siqueira@embrapa.br

Introdução Por muito tempo, o mercado lácteo brasileiro e mundial foi dominado pela oferta do produto. Fatores ligados à atividade produtiva, custos de produção, preço pago ao produtor, entre outros, eram as informações mais desejadas pelos agentes do mercado. No entanto, na nova economia, muitos conceitos mudaram. O crescimento populacional, associado ao aumento de renda, bem como à aceleração da urbanização e às mudanças de hábito dos consumidores, provocaram alterações nos mercados mundiais, de forma que a demanda de leite e derivados ganhou importância. Tudo isso, somado ao avanço tecnológico e à internet, fez com que o poder se deslocasse para o consumidor.

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O

acesso facilitado à informação transferiu maior poder de barganha para o consumidor. Este passou a impor o preço que estava disposto a pagar, bem como ditar a qualidade desejada dos produtos. A demanda de lácteos passou, então, a determinar os preços. Com isso, atualmente, “é preciso reconhecer que o poder não está mais nas mãos do produtor, mas sim nas mãos do consumidor” (COBRA, 2014). Entretanto, pouco se sabe sobre o mercado consumidor de leite e derivados no Brasil. Assim, para cobrir a lacuna e entender peculiaridades, preferências e tendências desses compradores, este artigo analisa características do mercado através da revisão da literatura realizada em artigos e revistas especializadas.

//Quem são os consumidores de leite no Brasil? Como o Brasil não dispõe de estatísticas oficiais atualizadas sobre o consumo de leite e derivados, este estudo vai primeiramente ava-


Figura 1: Pirâmide etária do Brasil em 2000 e 2015

Fonte: IBGE

liar as características da população brasileira. De acordo com o IBGE (2015), em 2000, o Brasil tinha 171 milhões de habitantes e, atualmente, esse número passou para cerca de 204 milhões de pessoas. Isso representa crescimento populacional médio de 1,7% ao ano. No entanto, o crescimento populacional brasileiro não ocorreu de maneira igualitária em todas as faixas etárias. A Figura 1 apresenta a pirâmide etária do Brasil em 2000 e 2015. Apesar de a população economicamente ativa (PEA) do Brasil ter crescido de 74,5% para 77,2% entre 2000 e 2015, a porcentagem de crianças diminuiu (de 19,9% para 14,9%) e a de idosos aumentou (de 5,6% para 7,9%). Essa informação é extremamente relevante porque, de acordo com pesquisa realizada em 2009 pela Láctea Brasil e pelo Milkpoint, os brasileiros consideram que o leite é um alimento essencial para crianças e idosos (Milkpoint, 2015). Além da avaliação por faixas etárias, as pesquisas de mercado mais recentes, influenciadas pelos profissionais de marketing, têm classificado a população por meio de gerações. De acordo com VEIGA NETO et al. (2015), não existe consenso sobre a definição dos limites temporais de cada geração, à exceção dos Baby Boomers, nascidos entre 1946 e 1964, ou seja, logo após a Segunda Guerra Mundial. Atualmente, eles têm entre 51 e 69 anos de idade. A geração imediatamente anterior aos Baby Boomers é chamada de Geração Silenciosa. São aqueles indivíduos que têm mais de 70 anos, nasceram no período das guerras mundiais e estão adaptados à autoridade e à disciplina. Por outro lado, a geração imediatamente posterior aos Baby Boomers é conhecida como Geração X. Alguns analistas consideram que ela é formada por pessoas que nasceram entre 1965 e 1976. Outros preferem o período de 1965 a 1980.

Segundo VEIGA NETO et al. (2015), essa geração parece viver à sombra dos Baby Boomers, sem apresentar características definidas que a identifiquem. Ao contrário da Geração X, as duas gerações seguintes apresentam características claras. A Geração do Milênio ou Geração Y engloba a parcela da população que nasceu entre 1976 ou 1980 (dependendo do autor considerado) até 1994. Essa geração é caracterizada por indivíduos multitarefas e atraídos por novidades. A geração seguinte, a Z, abrange os nascidos a partir de 1995, ou seja, aqueles que têm até 20 anos. Uma de suas características marcantes é o comportamento individualista, imediatista e a alta conectividade. A Figura 2 apresenta a divisão da população brasileira nas 5 gerações. Figura 2: Percentual das gerações da população brasileira em 2015

33,1% 31,6%

17,18% 5,0% 13,1%

G Geração Silenciosa (>1950)

Baby Boomers (1951-1965) Geração X (1966-1975) Geração Y (1976-1995) Geração Z (1996-2015) Fonte: dados IBGE. Elaboração própria

Na análise da Figura 2, primeiramente, é importante ressaltar que alguns limites temporais foram ligeiramente modificados devido à disponibilidade de dados do IBGE. Com esses números a figura mostra que, semelhante ao que está ocorrendo com a distribuição mundial, a maior parte da população brasileira é composta de consumidores das Gerações Y e Z. Juntos, eles representam 64,7% do País. Essas duas gerações, em comum, têm o gosto e a facilidade pelo uso da internet e das tecnologias digitais. Em termos de consumo alimentar, por sua vez, uma pesquisa mundial realizada pela Mintel

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• Espaço Embrapa • Figura 4: Evolução do consumo aparente per capita no Brasil (em L/hab.) 200 180 160

70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

140 120 100

2013 2011 2003 Classe AB

Classe C 2003

Classe DE 2011

80 60

133 137 137 124 121 129 126 129

143

156

163

184 * 172 172 175 180 *

Fonte: elaboração própria

Figura 3: Evolução percentual das classes econômicas no Brasil

40 20 0

2013

Fonte: dados de CPS/FGV. Elaboração própria

* Os dados de 2014 e 2015 são estimativas de Lorildo Stock e Kennya Siqueira, pesquisadores da Embrapa Gado de Leite

mostrou que elas estão dispostas a pagar mais caro por atributos de saúde, além de serem as mais preocupadas com a sustentabilidade no momento da compra. No entanto, quando se pensa em mercado consumidor, atualmente a Geração do Milênio merece mais atenção, pois seus indivíduos são formadores de opinião, economicamente ativos e têm demandas estabelecidas, enquanto a Geração Z, em sua maioria, ainda não ingressou na força de trabalho. É, portanto, dependente de recursos dos pais ou responsáveis. Além disso, a Geração Y tem maior poder de compra que os seus pais tinham na mesma idade. Aliás, o poder de compra é outra variável de significativa importância em análises de consumo. O Brasil passou, recentemente, por um processo de mobilidade nas classes sociais, o que resultou em inserção de grande contingente de pessoas na classe média, conforme mostra a Figura 3. O crescimento da classe média brasileira e da classe AB foi resultado do aumento de renda no País. Como pode ser observado na Figura 3, atualmente a classe C, ou classe média brasileira, representa mais de 50% da população e dos consumidores de leite do País. Os últimos dados oficiais sobre o consumo de leite são da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE de 2008/2009, período em que a realidade nacional era muito distinta. O IBGE está, no momento, realizando um novo levantamento, mas os resultados só devem ser divulgados em 2016. Enquanto isso, é

possível trabalhar com dados de consumo aparente ou disponibilidade de leite no Brasil -, calculado com base no volume de leite produzido no País, mais o volume de leite/derivados importados e menos o volume exportado. Na Figura 4 é apresentada a evolução do consumo aparente per capita. Até 2008, o consumo brasileiro de leite e derivados se situava em um patamar considerado de nível intermediário pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). Porém, a partir de 2009, o consumo per capita alcançou níveis mais elevados. Estima-se que, em 2015, cada brasileiro consumirá, em média, cerca de 60 litros a mais de leite do que consumia em 2000, o que representa um avanço para o setor. Além disso, o consumo per capita de 184 L/hab., em 2015, equivale a cerca de 511 ml de leite consumido por dia. É importante salientar que nem o Ministério da Saúde, no seu novo Guia Alimentar para a População Brasileira, nem a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelecem recomendações de consumo de leite. Nesse sentido, a FAO (2013) esclarece que não há uma indicação global para o consumo de lácteos e cada país tem desenvolvido suas sugestões, baseado na disponibilidade de alimentos, custos, estado nutricional da população, padrões e hábitos de consumo. Portanto, como o Brasil não estabelece níveis de consumo, uma forma de avaliar esse novo padrão é comparar com o recomendado em outros países. Assim, pode-se afirmar que o País finalmente atingiu um

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padrão aceitável de ingestão de laticínios, visto que a maioria dos países referendados em FAO (2013) recomenda o consumo de, ao menos, duas porções diárias de lácteos, o que equivale a 500 ml/dia.

//Características dos consumidores

de leite no Brasil

Devido às dimensões continentais do Brasil, levantamentos sobre o perfil do consumidor são muito difíceis de serem conduzidos. Diante disso, uma das pesquisas de maior abrangência realizada e que, de certa forma, envolve o consumo de lácteos é a Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). Esse estudo é conduzido pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, desde 2006, em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. Apesar do foco principal ser o monitoramento de fatores de risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs), a pesquisa fornece algumas informações sobre o consumo alimentar. No caso dos lácteos, o Vigitel 2013 traz apenas informações relativas ao leite integral. Esses dados mostram que a frequência de consumo do produto por adultos é elevada na maioria das capitais, com média de 53,5%. O menor número foi observado em Porto Alegre (40,3%) e o maior em Porto Velho (66,7%). No entanto, variações são observadas entre os sexos, com as mulheres representando um número médio menor (50,9%) do que os homens (56,6%), conforme mostra a Tabela 1 (leia na próxima página). Outra informação útil do Vigitel 2013 é com relação à idade e à escolaridade dos indivíduos que consomem leite integral. Os dados indicam que, em ambos os sexos, o consumo tende a diminuir com o aumento da idade, ao passo que a maior frequência foi encontrada entre indivíduos de escolaridade intermediária (9 a 11 anos de estudo). No entanto, como a pesquisa do Vigitel 2013 é realizada por telefone, seus resultados não podem ser representativos para a população brasileira. Embora aborde 2000 indivíduos/cidade, estimativas da POF 2008-2009 indicam que apenas 66,7% dos domicílios das 26 capitais e do Distrito Federal possuíam linhas telefônicas fixas, variando entre 28,7% em Macapá e 83,6% em Florianópolis. Assim, como forma de avaliar mais consumidores e características de consumo de leite e derivados no Brasil, foi realizado um levantamento de estudos científicos sobre o tema. Devido à disponibilidade de espaço, apenas alguns trabalhos


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• Espaço Embrapa •

Fonte: Brasil (2013)

Capital Aracaju Belém Belo Horizonte Boa Vista Campo Grande Cuiabá Curitiba Florianópolis Fortaleza Goiânia João Pessoa Macapá Maceió Manaus Natal Palmas Porto Alegre Porto Velho Recife Rio Branco Rio de Janeiro Salvador São Luís São Paulo Teresina Vitória Distrito Federal

Homens 51,8 62,0 57,1 66,6 52,8 51,5 64,0 50,4 55,7 52,2 48,4 58,3 49,3 66,5 47,8 61,9 45,4 65,8 55,4 61,5 51,9 62,5 61,1 59,2 52,9 52,7 52,9

Mulheres 43,8 57,8 52,0 63,9 53,5 50,8 50,9 42,5 51,4 51,7 43,7 54,5 43,2 63,8 42,1 51,4 36,1 67,6 45,0 64,0 44,7 58,9 58,7 52,6 57,3 41,2 49,1

Total 47,4 59,7 54,3 65,3 53,2 51,1 57,0 46,2 53,3 52,0 45,8 56,3 45,9 65,1 44,7 56,5 40,3 66,7 49,6 62,8 48,0 60,5 59,8 55,7 55,3 46,5 50,9

Obs: A graduação da escala de cores da tabela acima varia na sequência verde-amarelo-laranja-vermelho no sentido crescente dos valores, ou seja, os menores valores estão em verde mais forte e os maiores em vermelho mais forte

serão citados. No entanto, é importante salientar que foram consultados diversos outros estudos, que apresentaram características similares. Nascimento e Dorr (2010) entrevistaram 250 consumidores em Santa Maria (RS), que consumiam em média 96 litros de leite/ano. No estudo, as variáveis idade, sexo, bairro, estado civil, escolaridade e consumo de leites especiais não foram significativas para explicar o comportamento. Os autores observaram que 81% das pessoas têm preferência pelo leite UHT devido, principalmente, à disponibilidade de leite desnatado, à praticidade e à percepção de que este é um produto de qualidade superior. A variável renda se revelou como decisiva na escolha entre leite UHT e pasteurizado, sendo que a renda maior explicava o consumo de leite UHT. Além disso, a renda maior (acima de R$ 5000,00) estava relacionada a con-

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Tabela 2: Percentual de adultos que consomem leite integral segundo idade e escolaridade Variável

Homens

Mulheres

Total

18-24

62,3

57,1

59,8

25-34

58,9

54,2

56,6

35-44

59,2

54,2

56,5

45-54

53,7

47,1

50,0

55-64

46,8

42,9

44,5

mais de 65

48,8

45,2

46,6

0-8

54,4

50,9

52,5

9-11

60,9

55,2

57,9

mais de 12

53,1

44,9

48,5

Idade (anos)

Anos de escolaridade

Obs: A graduação da escala de cores da tabela acima varia na sequência verde-amarelo-laranja-vermelho no sentido crescente dos valores, ou seja, os menores valores estão em verde mais forte e os maiores em vermelho mais forte

sumidores mais preocupados com a marca. Já os consumidores com renda abaixo de R$ 5000,00 eram mais influenciados pelo preço, qualidade, embalagem e validade, nessa ordem. Mercês et al. (2013) entrevistou 395 pessoas em Juiz de Fora (MG) e o volume de leite médio consumido era de 287,9 ml/dia. A maioria dos consumidores afirmou ingerir leite diariamente (81,8%) e a preferência revelada foi pelo leite UHT (72%). Juiz de Fora também foi uma das cidades avaliadas no trabalho de Lucci et al. (2014), além de Lavras e Ijaci (todas na região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais). E 79% dos 330 entrevistados afirmaram ingerir leite longa vida - a principal justificativa foi a praticidade. Em Campina Grande (PB), Pereira e Linhares (2014) consultaram 50 consumidores para avaliar a influência das embalagens de leite longa vida sobre a tomada de decisão do consumidor. E os resultados mostraram que 58% das pessoas compram leite influenciadas pela cor. As mais reconhecidas pelos consumidores foram o vermelho (68%) para o leite integral e o azul (51,7%) para o desnatado. Ainda com relação à embalagem, Machado et al. (2014) realizaram pesquisa com 529 consumidores em Barra do Garças (MT) e obser-

Fonte: Brasil (2013)

Tabela 1: Percentual de adultos que consomem leite integral segundo as capitais


varam que 71% das pessoas costumam ler o rótulo dos produtos lácteos, sendo que as mulheres são as mais influenciadas. As informações mais consultadas são o conteúdo líquido da embalagem (74%), a data de validade (73,2%), o apelo nutricional (52,8%) e a tabela nutricional (42,5%). Outro resultado interessante é que o nível de escolaridade se apresentou como variável expressiva para explicar o interesse pelo apelo nutricional. Isso significa que o nível de interesse pelo apelo nutricional em lácteos aumenta à medida que o nível de escolaridade se eleva. Passanha et al. (2011) realizou estudo com 300 idosos na capital do estado de São Paulo e a média de consumo de leite foi de 275 ml/dia. A maioria dos entrevistados disse beber o leite no café da manhã (80%) e 36,1% consomem preferencialmente leite com café, 31,1% com achocolatado e apenas 10% o consomem puro. Em pesquisa realizada em Palmeira das Missões (RS), com 427 consumidores, Mallmann et al. (2011) mostraram que a maior frequência do consumo é diária e que a preferência versa sobre o leite UHT (84,4%). No momento da compra, os consumidores gaúchos se preocupam principalmente com a qualidade (35,9%) e com o preço do produto (29,7%). Resultado semelhante foi encontrado por Machado et al. (2011) em São Lourenço do Sul (RS) e Machado et al. (2010) em Santana do Livramento (RS). Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigitel Brasil 2013 - Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico/ Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 120p. COBRA, M. Marketing no Brasil. 4ª. Ed. Elsevier. São Paulo. 560 p. FAO – FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS. Milk and dairy products in human nutrition, 2013. Disponível em: <www.fao.org/docrep/018/i3396e/i3396e.pdf>. Acesso em: 22 abr. 2015. IBGE. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 02 abr. 2015. LUCCI, J.R. Caracterização e percepção dos consumidores de leite em três cidades de diferentes portes de Minas Gerais. Lavras, MG: UFLA, 2014. 104 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias) – Universidade Federal de Lavras, Lavras. MACHADO, W.R.C.; LEUNG, R.; LEITE, M.A.G. Percepção do consumidor sobre rotulagem de produtos lácteos

// Considerações finais

Os estudos e dados analisados permitem traçar alguns insights sobre o consumidor brasileiro de leite. Atualmente, a maior parcela desses consumidores é composta por indivíduos das Gerações Y e Z, pertencentes à classe média. No entanto, existem poucos estudos sobre o perfil de consumo dessa população. A maioria dos trabalhos científicos consultados mostra a preferência do consumidor pelo leite longa vida integral, que é consumido diariamente, sobretudo no período da manhã. As mulheres fazem a maioria das compras de leite para casa. E a qualidade do produto e o preço são fatores que mais influenciam na decisão de compra. No entanto, após analisar inúmeros trabalhos e pesquisas recentes sobre o consumidor nacional de leite, pode-se afirmar que o País ainda carece de estudos mais abrangentes e representativos. A maioria das pesquisas científicas realizadas é de alcance local ou regional. Além disso, é necessário incluir outras variáveis que possam explicar melhor as escolhas e tomadas de decisão do consumidor de lácteos. Neste momento em que os consumidores de lácteos são os detentores do poder, vale ressaltar que conhecer seu perfil é de extrema importância. Assim, as empresas que primeiro obtiverem informações sobre eles, bem como sobre as variáveis que influenciam sua decisão de compra, poderão investir melhor em marketing, propaganda, pontos de venda, rotulagem, etc., obtendo vantagens competitivas sobre as concorrentes.

industrializados. Revista de Engenharia e Tecnologia, v.6, n.2, ago/2014. MACHADO, G.I.O.; OCAÑA, G.; STRIDER, D.; PINHO, A. Avaliação do perfil e preferência do consumidor de leite no município de São Lourenço do Sul –RS. In: SALÃO INTERNACIONAL DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO, 3., 2011, Uruguaiana. Anais...Uruguaiana, RS, 2011.

CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 48., 2010, Campo Grande. Anais...Campo Grande, MS, 2010. PASSANHA, A.; GARCIA, H.S.; CERVATO-MANCUSO, A.M.; ANDRADE, S.C.; VIEIRA, V.L. Caracterização do consumo de leite em idosos. Rev. Bras. Crescimento Desenvolvimento Hum. 2011; 21(2): 319-326.

MALLMANN, E.; CAVALHEIRO, M.; MELLO, P.; MAGRO, D.; MIRITZ, L.D.; CORONEL, D.A. Caracterização do consumo de leite no município de Palmeira das Missões – RS. Sociais e Humanas, Santa Maria, v. 25, n. 02, julho/dez. 2012, p.295-308.

PEREIRA, C.P.A.; LINHARES, F.O. Identificação de códigos cromáticos em embalagens de leite e a percepção dos consumidores. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM DESIGN, 11., 2014, Gramado. Anais... Gramado, RS, 2014.

MERCÊS, E.S.; SIQUEIRA, K.B.; GAMA, M.A.S. Percepção dos consumidores de Juiz de Fora-MG quanto à possível oferta de leite funcional com elevado teor de ácido linoleico conjugado (CLA). In: CONGRESSO INTERNACIONAL DO LEITE, 12., 2013, Porto Velho. Anais...Porto Velho, RO, 2013.

VEIGA NETO, A.R.; SOUZA, S.L.B.; ALMEIDA, A.T.; CASTRO, F.N.; BRAGA JUNIOR, S.S. Fatores que influenciam os consumidores da geração Z na compra de produtos eletrônicos. RACE, Joaçaba, v.14. n.1, p. 287-312, jan./ abr. 2015.

MILKPOINT. Disponível em: <www.milkpoint.com.br>. Acesso em: 12 abr. 2015. NASCIMENTO, A.R.; DORR, A.C. Análise econômica do perfil dos consumidores de leite em Santa Maria – RS. In:

Agradecimentos A José Luiz Bellini Leite e Lorildo Aldo Stock, pesquisadores da Embrapa Gado de Leite, pelas valiosas contribuições ao trabalho.

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• Sustentabilidade •

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As embalagens do futuro

Aposta em sustentabilidade renova setor de embalagens e desenvolve inĂşmeras oportunidades de mercado Thais Ito

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divulgação/SIG

• Sustentabilidade •

A

crescente preocupação ambiental tem elevado a demanda da indústria de alimentos e bebidas por melhores soluções. Diversos pontos da cadeia, como o envase de produtos, entre outros segmentos, já desenvolvem importantes alternativas focando essa tendência. Estima-se que apenas o mercado global de embalagens sustentáveis avançará a uma taxa composta de crescimento anual (CAGR, em inglês) de 7,84% entre 2015 e 2019, segundo estudo divulgado pela empresa de pesquisa TechNavio, em fevereiro deste ano.

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“A tecnologia de embalagens sustentáveis utiliza matérias-primas sustentáveis, renováveis e recicláveis, com materiais como papel, plástico, metal e vidro, que podem ser facilmente moldados de acordo com as necessidades”, declara a TechNavio no estudo. “Uma das maiores vantagens é a menor produção de emissões tóxicas.” É mais uma importante oportunidade para aprimorar a atuação dos laticínios, oferecer um produto envolto em responsabilidade social e garantir a conscientização de stakeholders. Essas embalagens, aliás, também podem ser um trunfo de mercado, uma vez que exercem


divulgação/Tetra Pak

Fernando von Zuben, da Tetra Pak: a inovação não é só positiva para o meio ambiente, mas também uma vantagem competitiva para os clientes racterística pode facilitar a diferenciação do produto nas gôndolas.

divulgação/Tetra Pak

poder de influência na escolha de um produto. Norman Gierow, head de gerenciamento de mercado global da SIG Combibloc, explica que “embalagens modernas e bem-sucedidas oferecem benefícios específicos para o consumidor a partir do que faz mais sentido para ele”. Aplicar e comunicar o viés sustentável, assim, é um fator tão importante quanto o design. Ao ser percebida com valor pelo consumidor atento às questões ambientais, essa ca-

Tetra Pak anunciou em abril a disponibilização global da “primeira embalagem cartonada totalmente renovável”

// Empresa-chave e player proeminente Entre algumas empresas destacadas pela TechNavio está a Tecno Laval, grupo que engloba a Tetra Pak, apontada como player-chave no mercado de embalagens sustentáveis. Neste ano, a companhia celebrou a disponibilização da primeira embalagem cartonada 100% renovável, a Tetra Rex®, em escala global – o modelo, incluindo a tampa, é produzido a partir de papel e polietileno à base de cana-de-açúcar.

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divulgação/SIG

• Sustentabilidade •

Luciana Galvão, da SIG: “A empresa tem como objetivo desenvolver a melhor embalagem possível do ponto de vista ambiental”

O Brasil, aliás, foi pioneiro na aplicação do polietileno derivado de cana-de-açúcar na produção das tampas. A partir de 2014, o material passou a compor também camadas das embalagens. “Assim, as embalagens produzidas no Brasil passaram a ter até 82% de matéria-prima renovável”, destaca Fernando von Zuben, diretor de meio ambiente da Tetra Pak. “Acreditamos que essa inovação não é só positiva para o meio ambiente, mas também representa uma vantagem competitiva para nossos clientes, quando se trata do perfil ambiental de seus produtos.” Embalada por esse mercado sólido e crescente, a Tetra Pak sinaliza que mais novidades estão por vir. “A excelência ambiental é um dos pilares estratégicos da Tetra Pak e uma diretriz para o desenvolvimento de novos produtos no futuro”, atesta von Zuben. “Nossas embalagens são 100% recicláveis e atuamos com fornecedores, clientes e parceiros na busca de embalagens 100% renováveis.” Já a SIG Combibloc, apontada pela TechNavio como uma empresa “proeminente” no setor, busca um caminho similar. “As embalagens

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cartonadas são compostas por 75% de papel cartão, proveniente de fibras de celulose, obtidas a partir da madeira, um recurso renovável”, comenta Luciana Galvão, gerente de marketing da companhia na América do Sul. “A SIG trabalha somente com fornecedores de papel cartão que possuem suas plantas certificadas pelo FSC® (Forest Stewardship Council®), o que garante a origem e a rastreabilidade da madeira.” Um dos maiores destaques do portfólio da SIG é o modelo EcoPlus. Com mais de 80% de fibra de madeira, ele é apresentado pela companhia como a solução de embalagem mais ecológica do mundo. “Desde a extração da matéria-prima até a embalagem cartonada pronta, a combibloc EcoPlus emite 28% menos CO2 que uma embalagem cartonada padrão da SIG Combibloc de mesmo formato”, garante a executiva. Como parte de sua estratégia de sustentabilidade, a companhia também destaca ações em demais elos da cadeia, envolvendo clientes e prefeituras das cidades onde se instala. Entre elas estão atividades de inclusão social e educação ambiental, capacitação técnica de catadores de resíduos sólidos, programas de incentivo à reciclagem e doações de equipamentos para cooperativas de catadores de materiais recicláveis.

// O notável dos queijos Outra empresa “proeminente” desse mercado, segundo a TechNavio, acaba de lançar novidades sustentáveis para queijos. Trata-se da Sealed Air Food Care e sua nova geração Cryovac de sacos termoencolhíveis, composta por embalagens com permeabilidade moldada segundo as necessidades de cada tipo de queijo. Tudo para evitar o desperdício de alimento, uma das principais bandeiras da empresa. Entre os lançamentos estão os sacos com permeabilidade controlada, ideais para queijos que emitem gás durante a maturação, como


divulgação/Sealed Air Food

gouda, edam e minas padrão, e os sacos de alta barreira, indicados para peças de mussarela em barra. “Ambos modelos oferecem um diferencial extra de sustentabilidade: são feitos com filmes plásticos de menor espessura e gramatura, representando uma economia real em matéria-prima com desempenho superior”, explica Ellen Callmann, diretora de comunicação e marketing da empresa. “O resultado: maior resistência, apresentação requintada do produto e redução de 10% de material descartado no meio ambiente.” A executiva destaca, ainda, que “um ponto importante da discussão na indústria alimentícia é o desperdício, não apenas de recursos como água e luz, mas do próprio alimento”. É nesse ponto que a tecnologia da empresa pretende atuar. “A embalagem, por exemplo, protege os investimentos em energia durante a produção, o desen-

Sealed Air Food Care lança novas embalagens para queijos focadas em redução de desperdício de alimento Care

volvimento e o processamento do alimento. E assegura que a energia usada em transporte, varejo, compras, armazenamento e cozimento não seja desperdiçada.”

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• Consumo •

Os atalhos do varejo Feira Apas recebe mais de 70 mil visitantes e aponta principais tendências do setor Thais Ito e Itamar Cardin

U

m dos mais importantes eventos do setor alimentício brasileiro encerrou a edição de 2015 batendo todos os seus recordes. Realizada entre os dias 4 e 7 de maio, no Expo Center Norte, em São Paulo, a 31ª edição da Feira Apas - Congresso e Feira de Negócios em Supermercados registrou mais de 685 expositores – 138 deles internacionais – e 73.778 visitantes. Já o número de palestras do Congresso de Gestão, mediadas por professores da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Universidade de São Paulo (USP), todas elas debatendo o tema “Produtividade”, praticamente dobrou. Foram, ao todo, 59 discussões que trouxeram importantes perspectivas sobre o mercado consumidor brasileiro. E uma das tendências destacadas foi a crescente importância do segmento premium, segundo alertou Christine Pereira, diretora comercial da Kantar Worldpanel – na avaliação da empresa de pesquisa, um produto pode ser considerado premium quando seu preço é 60% acima do índice da categoria. O principal aspecto dessa tendência, para Pereira, é a real eficiência do produto: se o cliente comprova os benefícios em casa, como de saudabilidade ou praticidade, ele volta a comprar. “A ‘premiunização’ também tem a ver

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com o benefício do produto”. Entre as categorias que se destacam nesse segmento estão a manteiga e o azeite, além de produtos como creme para rosto, alvejante sem cloro e detergente líquido para roupa. Em linha praticamente oposta, por sua vez, uma pesquisa realizada pela própria Kantar Worldpanel e pela Nielsen revelou que o brasileiro pretende diminuir o consumo fora do lar.


Essa tendência reflete em parte a estagnação econômica, a inflação crescente e a consequente diminuição do poder de compra da população. “64% dos brasileiros afirmam que diminuem lazer foram do lar para economizar”, aponta Olegário Araújo, da Nielsen, durante coletiva prévia da Apas. “Com o aumento nos preços e buscando manter o padrão, os brasileiros tiveram que abrir mão de alguns gastos”, acrescenta Pereira, da Kantar. Uma das consequências foi a redução em 13% do gasto do brasileiro com alimentação fora do lar em 2014. A “geladeira cheia e mesa farta”, por outro lado, continuam sendo itens prioritários, especialmente nas classes médias e baixas de renda. Dados da Kantar apontam que o item “Ter dinheiro suficiente para comprar comida” é o segundo maior desejo de consumo para a classe baixa – atrás apenas do tópico “Comprar a casa própria”. Na classe média baixa, ele aparece em quarto lugar. E na média alta, em quinto.

// Crescimento A conjuntura difícil também impactou o setor supermercadista. Ainda assim, movidos pela esperança da retomada econômica, entre outros fatores, representantes do segmento apresentam projeções favoráveis para 2015. “Em janeiro, havíamos projetado um crescimento real de 2% para 2015, mas depois revisamos a estimativa e pre-

vemos, agora, um crescimento de 1% para este ano”, afirmou o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Fernando Yamada, durante a Apas. Em 2014, o crescimento real foi de 1,8%. Fatores como queda de emprego e renda explicam essa menor projeção. Mas, para Rodrigo Mariano, gerente de economia da Apas, há razões para manter o otimismo. “Fechamos 2014 no positivo, com crescimento real de 2,2% no Estado de São Paulo. Embora o comércio tenha desacelerado, o setor supermercadista foi um dos únicos a apresentar um desempenho favorável”, argumenta. “2015 não será um ano perdido. Crescer um pouco perto de um PIB que deve cair 1% é para se comemorar.” Yamada endossa o coro e ressalta acreditar no ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e em uma possível recuperação no segundo semestre. Ao mesmo tempo ele critica o baixo nível de investimento em logística (dedicando 17% do PIB a esse setor) em comparação com países como China (49,3%), México (21,6%), Estados Unidos (19,8%) e Índia (31,4%). Números do setor projetam crescimento de 6% em empregos formais na área. Em São Paulo, a perspectiva é chegar a 525 mil vagas.

• Índice de anunciantes • ABC Itaperuna............................................................................................21

Hiper Centrifugation...............................................................................39

ADI Systems.................................................................................................32

Mirainox.........................................................................................................47

Aguia Inox.....................................................................................................47

Geiger..............................................................................................................20

Andritz............................................................................................................29 Casa das Desnatadeiras........................................................................... 7 Casa Forte.....................................................................................................35

Horizonte Amidos....................................................................................11 Lacteus............................................................................................................13

Dairy.................................................................................................................34

SIG.....................................................................................................................33

Döhler..............................................................................................................28

TecnoCarne & Leite.............................................................. 3 e 2ª capa

Evertis...................................................................................................4ª capa

Tetra Pak.......................................................................................................... 5

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