Revista Nacional da Carne - Edição 460

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Nº 460 • Ano XXXVIII www.btsinforma.com.br

S ETEM B R O / O U T U BRO

2015 Halal Um nicho humanitário em meio ao drama dos refugiados

Logística PIL: o plano certo na hora errada

TecnoCarne Sucesso da feira reforça solidez do setor

Tão perto, tão longe As oportunidades e os desafios políticos envolvendo a reabertura de China e EUA à carne brasileira




ÍNDICE

26 CAPA

A reabertura para China e EUA, as barreiras políticas e a oportunidade histórica ao setor

18 Conjuntura

O plano que poderia ser revolucionário e os entraves logísticos do setor

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40 eventos TecnoCarne 2015 aponta caminhos para o momento difícil do País

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36 Espaço VDMA Maior associação industrial da Europa estreia coluna na revista

06 08 12 14 16 24 38 48 50

Editorial Entrevista - Refugiados Espaço World Animal Protection Empresas & Negócios Espaço SNA Espaço ABPA Informe Publicitário Espaço CICB Índice de Anunciantes

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ISSN 1413-4837

editorial

Oportunidades externas José Danghesi

E

nquanto o cenário interno aponta para sérias dificuldades político-econômicas nos próximos meses, algumas interessantes oportunidades estão se delineando no mercado internacional. Trata-se de um momento interessante ao setor: ao mesmo tempo em que não pode baixar a guarda diante da crise brasileira, ele precisa ficar atento às novidades que podem impulsionar a carne no exterior. Uma dessas oportunidades veio com o anúncio da reabertura dos mercados de China e Estados Unidos à carne bovina in natura brasileira. O cenário, entretanto, tornou-se um pouco mais complexo do que se esperava. Como demonstramos em nossa reportagem de capa, cuidadosamente apurada pelo repórter Júlio Simões, alguns entraves políticos e burocráticos dificultaram a consolidação das reaberturas. A expectativa, é certo, permanece muito positiva. Mas sua efetivação pode levar alguns meses. O analista José Vicente Ferraz, da consultoria Informa Economics FNP, por exemplo, explica que é impossível prever quando a reabertura aos EUA acontecerá de fato. Situação similar à da China, onde problemas burocráticos podem atrasar essa liberação. Ainda assim, Ferraz garante: “a exportação direta e o aumento do consumo chinês devem beneficiar muito o Brasil”. Outra interessante oportunidade está surgindo de uma crise humanitária. Com as sucessivas guerras em países da África e da Ásia, e a consequente imigração maciça de muçulmanos, a carne halal (preparada segundo os preceitos do islã) hoje vendida na Europa e no Brasil pode tornar-se insuficiente para atender essa nova demanda. “O mercado halal é crescente porque a população islâmica aumenta cada vez mais. Como o Brasil é o maior exportador halal do mundo de carnes de frango e bovina, deverá se preparar para aumentar a exportação”, alerta Chaiboun Ibrahim Darwiche, presidente da Siil Halal, uma empresa de serviços especializada na área frigorífica, entre outras, para fazer a certificação halal. “Dos refugiados, 90% são muçulmanos e só comem alimentos halal, mas muitas empresas ainda não se deram conta disso.” Ocupar esse importante espaço não parece um desafio tão difícil à carne brasileira. Embora a crise interna traga dificuldades inerentes, o setor demonstra que pode superar as barreiras. É o que vimos na TecnoCarne, a feira mais importante da indústria de proteína animal, que terminou em agosto com um volume impressionante de negócios realizados. Como resumiu Péricles Salazar, presidente da Abrafrigo: “a feira (...) sinaliza o futuro com novos equipamentos e novas gestões”. Tenham todos uma excelente leitura. E um ótimo futuro pela frente.

Ano XXXVIII - no 460 - Setembro/ Outubro 2015

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Entrevista

Oportunidade humanitรกria


Revista Nacional da Carne | Setembro/ Outubro

Presidente de empresa certificadora de carnes halal avalia como setor pode aproveitar oportunidade única e, ao mesmo tempo, auxiliar refugiados Itamar Cardin

D

o caos fez-se o porvir. Em meio a uma crise humanitária sem precedentes, envolvendo conflitos políticos intermináveis, destruição de países inteiros, imagens desesperadoras de naufrágios e, sobretudo, milhões de refugiados árabes e africanos, uma letárgica, porém existente e real onda de solidariedade despertou pelo mundo. Cenas como a do pequeno Zaid, um menino sírio que foi agredido por uma jornalista


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Entrevista húngara e depois “acolhido” pelo Real Madrid, onde entrou em campo de mãos dadas com seu ídolo Cristiano Ronaldo, semeiam a expectativa de que os refugiados podem, aos poucos, ser recebidos e absorvidos por seus novos países. Esse processo de assimilação, entretanto, ainda encontrará inúmeras barreiras. Boa parte dos refugiados é de origem muçulmana, uma cultura que carrega conceitos distintos dos padrões ocidentais. Até questões básicas – como a alimentação – implicam em uma série de adaptações. E é exatamente no cerne desse drama, envolvendo tanto questões mercadológicas quanto humanitárias, ao facilitar a vida dos refugiados, que está surgindo uma oportunidade única à indústria da carne. A população muçulmana, afinal, alimenta-se de produtos de origem halal (eles necessitam seguir determinadas premissas islâmicas). Um conceito ainda pouco difundido no Brasil, mesmo após a chegada de uma nova leva de imigrantes. “No Brasil são 2 milhões e 100 mil muçulmanos que procuram halal. Dos refugiados, 90% são muçulmanos e só comem alimentos halal, mas muitas empresas ainda não se deram conta disso”, alerta Chaiboun Ibrahim Darwiche, presidente da Siil Halal, uma empresa de serviços especializada na área frigorífica, entre outras, para fazer a certificação halal. Em entrevista exclusiva à Revista Nacional da Carne, Darwiche detalha os passos para que um frigorífico se adeque ao abate halal. Avalia, ainda, o potencial interno desse nicho e faz um balanço do mercado mundial.

Leia a seguir a entrevista completa com Chaiboun Ibrahim Darwiche, presidente da Siil Halal.

Chaiboun Ibrahim Darwiche, presidente da Siil Halal

Qual o passo-a-passo para que um frigorífico obtenha uma certificação halal? O primeiro passo, para frigoríficos de aves e bovinos, é contatar uma empresa certificadora halal do Brasil e entrar com o pedido de certificação. Para isso, a certificadora enviará um requerimento à empresa visando conhecer o método de produção. Após o contrato, a certificadora enviará um supervisor ao frigorífico, para treinar os sangradores muçulmanos que trabalharão no abate e orientar as providências necessárias para adaptar a linha de produção aos padrões islâmicos. Feitos o treinamento e as devidas adaptações em todos os setores, o frigorífico é avaliado por um sheik religioso e um supervisor geral, enviados pela certificadora para verificar se os procedimentos estão de acordo com a jurisprudência islâmica e fazer a

avaliação do processo de produção. Estando tudo de acordo, o certificado de habilitação é emitido. É necessária a permanência de um supervisor geral na planta, contratado pela certificadora, para acompanhar diariamente o processo de produção. O abate halal deve ser manual, executado por um mulçumano praticante, conhecedor dos fundamentos do abate de animais no Islã, e realizado antes, em separado do não-halal. Equipamentos e utensílios devem ser próprios para o abate halal. A faca, bem afiada, deve permitir uma sangria única que minimize o sofrimento do animal até a sua morte. São abatidos apenas animais saudáveis, em perfeitas condições físicas e aprovados pelas autoridades sanitárias. A cada animal, o sangrador deve antes dizer a frase: “Em nome de Allah”. É fundamental também que, na hora do abate, o animal esteja com o peito voltado em direção à Meca cidade sagrada para os muçulmanos.

Como esse mercado tem se comportado nos últimos anos? O mercado mundial de produtos de alimentos halal cresce rapidamente, com taxa de 16% ao ano. Hoje são movimentados US$ 2,6 trilhões com o mercado halal mundial, e as previsões dão conta de que, em 2050, ele irá movimentar US$ 6,2 trilhões. Segundo a Abiec [Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne], as exportações brasileiras de carne halal, que segue as normas islâmicas, cresceram 447% em faturamento e 76% em volume nos últimos dez anos, somando US$ 1,5 bilhão em 2012.


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Revistafacebook.com/revistadacarne Nacional da Carne | Setembro/ Outubro

Como o mercado halal deve reagir nesse momento de uma crise humanitária histórica, envolvendo milhões de refugiados árabes e africanos? O mercado halal é crescente porque a população islâmica aumenta cada vez mais. Como o Brasil é o maior exportador halal do mundo de carnes de frango e bovina, deverá se preparar para aumentar a exportação e atender a esta demanda.

No caso específico de um frigorífico brasileiro, quais os benefícios de obter-se uma certificação halal? O entendimento das premissas islâmicas para a alimentação halal, que certifica produtos realmente lí-

citos para o consumo, tem feito com que os frigoríficos busquem a certificação não apenas para exportar aos países de maioria muçulmana, mas também para acessar um mercado interno crescente de grupos muçulmanos em diversas cidades brasileiras. Além disso, o consumidor não muçulmano também já entende que o selo halal é garantia de segurança alimentar.

A chegada de uma nova leva de refugiados no Brasil, como tem ocorrido nos grandes centros, pode abrir uma oportunidade ao mercado de carnes halal?

procuram halal. Dos refugiados, 90% são muçulmanos e só comem alimentos halal, mas muitas empresas ainda não se deram conta disso. A Siil Halal deu início aos trabalhos junto com algumas empresas brasileiras parceiras, no entanto, são necessárias mais empresas com produtos halal para suprir este mercado.

Há, então, um espaço de mercado para as empresas?

As empresas não certificadas devem aproveitar a tendência a este mercado crescente e buscar a certificação halal. A Siil tem trabalhado para ampliar a certificação. O processo para os mercados interno e externo é o mesmo, Sem dúvidas que novas opor- levando cerca de 20 a 30 dias para certunidades surgirão. No Brasil são 2 tificar uma empresa após ela estar com milhões e 100 mil muçulmanos que todos os requisitos preenchidos.


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Espaço World Animal Protection

Paola Rueda, supervisora de bem-

O caminhão tombou, e agora? R

ecentemente observamos, pelos meios de comunicação, o tombamento de uma carreta com 110 matrizes suínas na grande São Paulo. O episódio, que ganhou grande repercussão midiática devido à dificuldade em lidar com os animais, traz à tona muitas lições. Acidentes acontecem, mas não podemos continuar observando a falta de treinamento e de um plano de contingência eficiente que atenue o sofrimento dos animais. Houve negligência e ignorância de pessoas, empresas e órgãos que deveriam ser responsáveis pelo bem-estar destes animais até seu último momento de vida.

Infelizmente não é raro, no Brasil, acontecer acidentes como este. Muitos outros que ocorrem no interior com a mesma gravidade, ou ainda pior, passam despercebido e nada é feito a respeito. Este acidente, em especial, teve sua dimensão ampliada pela facilidade de acesso da imprensa e pela existência de outros problemas, como o trânsito, que no início foram mais relevantes às autoridades do que o sofrimento dos animais. A negligência iniciou-se na falta de um plano de contingência e terminou no total despreparo do motorista ao transportar os suínos (como mencionado pela imprensa, ele era pouco experiente). Entendemos que não há

estar animal da World Animal Protection

como prever um acidente, porém devemos nos preparar para tomar ações eficazes e rápidas. O plano de contingência ou emergência é de responsabilidade do proprietário, empresa ou transportadora. Ele tem como objetivo assegurar o bem-estar durante o transporte de animais vivos, prevendo riscos e quais ações devem ser tomadas. Ao longo destes seis anos do Programa Nacional de Abate Humanitário da World Animal Protection, observamos muitos acidentes envolvendo aves, suínos e bovinos. Em pouquíssimos casos as empresas estavam preparadas para agir de forma imediata. Um bom plano de contingência inicia-se com o preparo


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Revista Nacional da Carne | Setembro/ Outubro

de toda a equipe: dos motoristas, que devem estar habilitados em direção defensiva para transporte de carga viva e bem-estar animal; da equipe de logística, que irá gerenciar as ações que garantam o mínimo de bem-estar aos animais; e do responsável pelo bem-estar, que poderá prever quais medidas emergenciais devem ser tomadas. Primeiramente, é preciso ter mapeado quais são as rotas de transporte e onde estão localizados os possíveis pontos de apoio. No momento em que o acidente é comunicado, uma equipe treinada deve se deslocar até lá e avaliar a situação, que inclui os seguintes pontos:

Todas as unidades frigoríficas têm seus planos para incêndios bem estabelecidos e com brigadas treinadas, pontos de apoio, etc. Por que isso não acontece para acidentes com animais? A resposta é simples: não há nenhuma legislação que preveja essa obrigatoriedade. A World Animal Protection trabalhou mais de dois anos junto a especialistas e ao próprio Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), além de órgãos de trânsito competentes, na elaboração de uma legislação de bem-estar durante o transporte de animais vivos. Nessa minuta, estão previstas tanto a obrigatoriedade de um plano de contingência quanto a capacitação do motorista sobre direção defensiva e bem-estar animal. Infelizmente, a implantação de uma lei ou normativa no Brasil é um processo lento. Acreditamos que, por meio da implantação de uma legislação, todos os atores envolvidos no transporte de animais estarão mais aptos a enfrentar situações de emergência. A polícia rodoviária precisa entender como deve ser a ação para resguar• Como será realizada a realoca- dar a vida e o bem-estar dos animais, ção dos animais para outro veículo? bem como as concessionarias das • Há possibilidade de retirar os rodovias ou o próprio departamento animais e como serão retirados? de estradas e rodagem. Apenas com • Quais animais devem ser sa- a força de uma lei estes órgãos podecrificados emergencialmente (no lo- rão entender a importância de ações cal)? Nesse caso, é necessário ter à racionais e imediatas em situações disposição equipamentos para este envolvendo animais. sacrifício (dependendo da espécie e Enquanto não existir uma legisda categoria em questão), bem como lação e o plano de contingência não pessoas capacitadas. for obrigatório, acidentes como este Se a decisão for levar os animais irão se repetir. Até lá, será difícil vervivos ao frigorífico, os mesmos de- mos policiais, bombeiros, concesvem ter preferência no abate. A de- sionárias e demais órgãos públicos mora pode gerar dor e sofrimento a preparados para agir da forma coreles. O plano de contingência para reta. Todos eles dependem de uma acidentes deve funcionar igual a um orientação, o que só pode ser garanplano de emergência para incêndios. tido através da obrigatoriedade.


EMPRESAS & NEGÓCIOS

Revista Nacional da Carne | Maio/Junho

Duas Rodas entra no

mercado de nutrição animal Essas informações foram publicadas em nosso portal. Acesse e confira outras notícias:

www.nacionaldacarne.com.br

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A crise não está abalando os planos da Duas Rodas. Mesmo com o cenário econômico incerto, a empresa lançou a Statera, divisão voltada para o mercado de nutrição animal. Seu foco será no desenvolvimento de ingredientes para rações para pets e animais de produção, snacks, treats e gourmet (molhos). Líder nacional na fabricação de aromas e produtos para a indústria de alimentos e bebidas, a Duas Rodas promete oferecer um “extenso portfólio de soluções específicas de alta performance com linhas de Sistemas Funcionais, Bioingredientes, Especialidades, Sabores e Corantes”, segundo informa a empresa. As soluções desenvolvidas estão concentradas em duas linhas principais: Statera AF e Statera Pet, que contemplam blends de emulsificantes, enzimas, hidrocolóides e antioxidantes. Assim, proporcionam o aumento da capacidade nutricional qualificada de rações de animais de produção, rações secas, semiúmidas e úmidas, entre outras. Para o gerente de desenvolvimento de nutrição animal da Duas Rodas, Silvio Luiz Alago, estes blends trazem benefícios como a melhora da porosidade das partículas, a potencialização da digestibilidade e o aumento da performance. “A nova plataforma de negócios reforça o posicionamento estratégico da Duas Rodas, de ser uma empresa inovadora, consolidada e em intenso processo de expansão no mercado nacional e internacional”, acrescenta Hilton Siqueira Leonetti, diretor comercial da empresa.


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Revista Nacional da Carne | Setembro/ Outubro

Danfoss consolida

oportunidades e

cresce 14%

Tableplast

apresenta nova

caixa de passagem A Tableplast do Brasil apresentou ao mercado nacional a caixa de passagem da série Excellent, que pode ser usada na colocação de equipamentos elétricos ou eletrônicos para automação. Os produtos já estão disponíveis para comercialização. A série Excellent é composta por seis tamanhos, sendo que cada medida tem três profundidades, totalizando 18 modelos. Possui, ainda, códigos com proteção IP 65 sem vedação na tampa, podendo ser utilizada com água sob pressão, e códigos com proteção IP 67 com vedação, que pode ser submersa até um metro de profundidade. Além disso, a série Excellent assegura para o mesmo código duas opções de colocação da tampa na base. E permite a instalação de componentes elétricos, devido a possível colocação de chassis.

Os resultados do grupo Danfoss, um dos maiores fabricantes de componentes mecânicos da Dinamarca, com forte atuação no setor de refrigeração, ultrapassaram as expectativas da companhia. A receita líquida subiu 14% no semestre e os ganhos estão em igual nível a 2014. Segundo informações da empresa, a receita líquida atingiu US$ 3 bilhões, contra US$ 2,6 bilhões do mesmo período do ano anterior. A melhora inclui as vendas adicionais provenientes da fabricante de drives Vacon, empresa que a Danfoss adquiriu em 2014. “Ao todo, tem sido um bom primeiro semestre para nós. Continuamos a entregar fortes resultados e, por termos foco em oportunidades de crescimento, em grande parte somos capazes de contrabalançar suavidade em alguns dos nossos mercados”, comenta Niels B. Christiansen, presidente e CEO da Danfoss. “Por conseguinte, temos atualizado nossa expectativa para o ano inteiro de crescimento do resultado líquido para 9% a 14%”, acrescenta o executivo.


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Espaço SNA

Falta de insumos dificulta expansão da pecuária orgânica no Brasil A

tendência crescente, por parte dos consumidores brasileiros, em adquirir alimentos de qualidade, nutritivos e saborosos, livres de resíduos agroquímicos e que sejam produzidos em respeito ao meio ambiente, continua a impulsionar o mercado de orgânicos no País. Mesmo sem contar com estatísticas oficiais, a preferência dos consumidores reflete o crescimento e a variedade de alimentos orgânicos disponíveis nos varejistas, nas feiras municipais e na merenda escolar. No entanto, essa euforia ainda não atingiu a pecuária orgânica.

“No caso das carnes, a oferta no Brasil ainda é bastante limitada. Diversos elos da cadeia precisam ser resolvidos e, além disso, há muitos desafios a superar, como a alimentação à base de insumos orgânicos. Em um País com enorme produção de grãos geneticamente modificados, essa tarefa se torna difícil”, observa Sylvia Wachsner, coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos da Sociedade Nacional de Agricultura (CI Orgânicos).


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Revista Nacional da Carne | Setembro/ Outubro Para Wachsner, a pecuária brasileira é um mercado promissor que deveria levar em consideração o crescimento do orgânico. “Recentemente o governo brasileiro anunciou o fim do embargo da exportação de carne bovina à China, que tem trocado o consumo de carne de suína por bovina, de frango e de carneiro. Os pecuaristas aplaudem a retomada das exportações e esperam incrementar em US$ 1 bilhão nas vendas de carne in natura brasileira. Mas, desse mercado potencial, quanto poderia ser captado pela carne orgânica bovina e de frango?”, questiona.

Ações sustentáveis Apesar das dificuldades, a coordenadora da SNA vê com bons olhos o trabalho de instituições que se mobilizam para sedimentar, no Brasil, a pecuária orgânica. “A Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO), em parceria com a Korin, o WWF e a Embrapa Pantanal, tem focado sua atividade em produzir uma pecuária sustentável, adotando protocolos e processos de produção e responsabilidade socioambiental que insere a entidade em uma posição de vanguarda. As normas incluem um protocolo de diagnóstico socioambiental das propriedades rurais, com objetivo de criar uma base de dados para avaliar os ganhos sociais e ambientais de longo prazo.” Para Sylvia Wachsner, a demanda por carnes orgânicas existe e envolve um mercado disposto a pagar uma determinada margem pelos produtos. “A limitada produção de grãos orgânicos exige flexibilização diante da realidade. As carnes sustentáveis, comercializadas pela Korin, talvez seja um dos caminhos para atender esses mercados.” Atualmente, a carne sustentável é comercializada no mercado interno, mas o vice-presidente da ABPO, Nilson de Barros, já considera a hipótese de que, no futuro, a partir de uma análise da experiência brasileira, seja possível pensar no mercado de exportação.

Produção e certificação O Mato Grosso do Sul é o estado que abriga a maior criação de pecuária orgânica, localizada basicamente no Pantanal, em uma área de 140 mil hectares certificada para produção de carne orgânica.

Ao exigir a certificação orgânica, a proteção de nascentes, e a proibição tanto do uso de fogo no manejo das pastagens como da aplicação de defensivos agrícolas e químicos, a pecuária orgânica cumpre seu papel de proteger os solos e os recursos hídricos”, ressalta Sylvia Wachsner, da SNA

As fazendas de criação de gado orgânico devem seguir rígidas práticas e sistemas de produção que permitam sua auditoria e certificação. O gado deve ser criado da forma mais natural possível, em convívio com a flora e a fauna regional. Há também a preocupação com a lotação do rebanho e o descanso do solo. Os animais são tratados somente com medicamentos homeopáticos e fitoterápicos, e torna-se obrigatório o estrito cumprimento da legislação ambiental e trabalhista. O sistema produtivo orgânico é auditado e certificado, em todas as etapas de produção, conforme exige a legislação brasileira.

Benefícios Todos esses aspectos, segundo Sylvia Wachsner, contabilizam como benefícios para os consumidores e o meio ambiente. “O consumidor tem a garantia de que as fazendas de criação preservam a cultura do homem pantaneiro, seguem padrões corretos a nível ambiental e utilizam, de modo racional, os recursos naturais renováveis.” Ela ainda destaca que, “ao exigir a certificação orgânica, a proteção de nascentes, e a proibição tanto do uso de fogo no manejo das pastagens como da aplicação de defensivos agrícolas e químicos, a pecuária orgânica cumpre seu papel de proteger os solos e os recursos hídricos”.


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cONJUNTURA

Desvio de rota


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Revista Nacional da Carne | Setembro/ Outubro

Um balanço do Programa de Investimento em Logística e das oportunidades desperdiçadas com a infraestrutura nacional Thais Ito

U

ma chama de otimismo se acendeu em diversas indústrias brasileiras com o anúncio da nova etapa do Programa de Investimento em Logística (PIL). O pacote de concessões, que vislumbra investimentos em rodovias (R$ 66,1 bilhões), ferrovias (R$ 86,4 bilhões), portos (R$ 37,4 bilhões) e aeroportos (R$ 8,5 bilhões), poderia ser um verdadeiro turning point da competividade nacional. Há quem arrisque dizer que ele seria capaz de reduzir os custos logísticos pela metade. Mas, quando o programa é colocado sob perspectiva conjuntural, o consenso é de que seu lançamento ocorreu em momento inoportuno. O possível desperdício dessa oportunidade resulta em um cenário já conhecido à indústria: vias insuficientes, buracos e oscilação do preço do combustível. Um exemplo desse problema está no Mato Grosso, o Estado brasileiro que mais abate carne bovina. “Entre Rondonópolis e Cuiabá (MT), por exemplo, só tem uma opção de estrada [BR-364] para realizar essa rota, então todos os veículos que saem do Rio de Janeiro ou de São Paulo para o Nor-


cONJUNTURA

divulgação

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“Se totalmente aplicado, o PIL poderia diminuir cinco pontos percentuais dos custos logísticos”, analisa Afrânio Kieling, do SETCERGS

Revista Nacional da Carne | Maio/Junho te, através do Mato Grosso, só têm essa opção. Já estão duplicando, mas ainda é lenta”, conta José Appoloni, gerente da transportadora Transreal. “Além disso, o custo do diesel está alto - e representa 35% das nossas despesas - e há regiões, como em Alto Taquari (MT), onde precisamos andar a 10km/hora por causa dos buracos, o que eleva os custos de manutenção”, acrescenta o gerente da Transreal, uma empresa que carrega mensalmente cerca de cinco mil toneladas de carne in natura. Se a infraestrutura melhorasse, tanto no Mato Grosso como nas demais regiões do País, o setor poderia reduzir o custo do frete de 5% a 7%, segundo calcula Appoloni. “Essa redução seria possível se houvesse melhoria conjunta em rodovias e em portos onde, às vezes, o caminhão precisar esperar alguns dias até o navio ter espaço para atracar." É neste cenário que entra a importância do Programa de Investimento em Logística. Para Afrânio Kieling, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (SETCERGS), a efetivação do PIL seria fundamental ao desenvolvimento do País, sobretudo em um período de crise econômica. “Seria um imenso avanço. E estamos em boa época para exportar, seria uma grande saída para o País. Nesse momento de dificuldade, deveríamos exportar tudo o que podemos e diminuir as importações”, defende Kieling. “O PIL, se totalmente aplicado, poderia diminuir cinco pontos percentuais dos custos logísticos.” Ou seja, poderia reduzi-los à metade. Um percentual que transcende a importância numérica diante do impacto provocado por essas despesas. Afinal, os custos logísticos representam, em média, 11,19% dos gastos das empresas brasileiras, segundo estudo da Fundação Dom Cabral (FDC) – realizado no ano passado, o levantamento abordou

111 companhias que respondem por cerca de 17% do PIB brasileiro. Contudo, a instabilidade econômica e política, o envolvimento de grandes players de infraestrutura em operações judiciais e a recente perda do grau de investimento pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s, em setembro, são alguns dos elementos que ofuscam o otimismo em relação ao PIL, conforme aponta o professor de estratégia e gestão pública da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende.

Multimodalidade A dificuldade de implementação do programa, entretanto, é apenas uma pequena parcela do problema. O País, afinal, vive a necessidade de uma total remodelação de sua estrutura logística. Ainda de acordo com o levantamento da FDC, as rodovias representam 81,7% das vias de transporte utilizadas pelas empresas brasileiras, enquanto as ferrovias respondem por 14,6%. A expansão da malha ferroviária, assim, é destacada como um dos fatores essenciais para reduzir os custos. Não é à toa: quase 44% das despesas das companhias nacionais são impactadas pelo transporte de longa distância. Além de elogiar a multimodalidade de outros países como fator de eficiência, como a combinação de transporte de cargas em ferrovia e rodovia, o professor Paulo Resende ressalta dois aspectos que nos diferenciam dos líderes do ranking de infraestrutura, como Hong Kong, Alemanha e Reino Unido. E o primeiro deles é o planejamento de longo prazo. “O País tem essa cultura de investir de acordo com a agenda eleitoral”, critica. “A segunda questão é que vários desses países líderes já concluíram que orçamento público não é suficiente - e nem precisa ser - para arcar com todas as respostas às demandas por logísticas em diversos setores”, defende. Para o



cONJUNTURA

divulgação

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Respostas que valem ouro Paulo Resende, professor da Fundação Dom Cabral, recomenda às empresas uma autoanálise em relação à gestão de custos logísticos para ajudar a reduzir seus impactos. Confira o guia de perguntas sugerido pelo especialista e monte seu plano de ação:

1- Quais são os gargalos logísticos que afetam os custos das nossas operações? Realizar o mapeamento deles é o primeiro passo para encontrar as ações para mitigá-los. 2- Quais são os parceiros com quem devemos nos juntar para reduzir nossos custos logísticos? “Muitas empresas contratam as mesmas transportadoras ou dependem da oferta de matéria-prima das mesmas regiões. Elas conversam pouco entre elas sobre a formação de seus custos porque temem que o concorrente os conheça. Recomendo quebrar barreiras e caminhar na direção do movimento colaborativo para reduzir custos logísticos”, argumenta Resende. 3- Será que nossa estrutura logística é a mais adequada ou poderíamos ter uma estrutura mais enxuta? A tendência das empresas agora é “cortar gordura”. “Quando vivem períodos de estabilidade e de altas margens, as empresas não costumam se preocupar com gastos em logística. Agora é questão de se perguntar onde podem reduzir custos”, conclui.

Mauricio Endo, sócio da KPMG

professor, a participação da iniciativa privada é essencial para manter altos níveis e estabilidade de investimentos. Um modelo exemplar de infraestrutura que o Brasil poderia aspirar é o norte-americano. “Nos EUA, houve um investimento muito grande em ferrovias no passado como parte da política de desenvolvimento”, explica Mauricio Endo, sócio da KPMG e líder para o setor de Governo e Infraestrutura da empresa. “Existem grandes rodovias horizontais, de leste a oeste, entrecortadas por ferrovias que as cruzam de norte a sul, criando uma matriz de transporte que permite o deslocamento das cargas de maneira muito mais eficiente.” Esse modelo multimodal de infraestrutura, aliás, está embrionariamente contemplado no PIL. O pacote, segundo Endo, prevê um conjunto de projetos que interligam os principais centros produtores, na Região Centro-Oeste, aos corredores que conduzem aos principais centros de consumo e portos. Contudo, a curto e médio prazo, por três razões principais, ele acredita que o plano ferroviário dificilmente sai do papel: a exigência de recursos públicos; a necessidade, na maioria das

linhas, de ser construído “do zero”; e o custo muito maior que as obras em rodovias. “Devem custar mais que o dobro”, estima. Outra questão que pode azedar o PIL, segundo Rosinely Martins, responsável pela coordenação técnica de auditoria do Grupo SGS Brasil, é a falta de prazo para os planos de investimentos em portos, o que dificultaria a integração entre os modais para escoar a produção. “Dos R$ 66 bilhões previstos para investimento em rodovias, R$ 14 bilhões são projetos em avaliação, e ainda não sabemos o valor final dos pedágios, pois isso dependerá dos resultados dos leilões de concessão. Portanto, a previsão de economia no transporte rodoviário pode não acontecer”, lamenta.

Alternativas A necessidade do avanço logístico brasileiro já foi atestado até mesmo pelo Fórum Econômico Mundial: no ranking mundial de infraestrutura, divulgado pela entidade em 2014, o País ocupa apenas a 76ª posição. Cenário que é ainda pior para alguns setores específicos da economia, como a indústria da carne. “O setor de perecíveis deve ser o mais beneficiado [pela eventual concretização do PIL], já que os produtos possuem um shelf life menor, tendo a necessidade de entrar logo na cadeia de produção”, reforça Roberto Freitas Elibio, gerente de vendas da Brasa Burguers. Uma possível solução para reduzir custos operacionais seria adotar os modelos de simulação e de otimização, que podem gerar redução de 20% a 50%, de acordo com Rodolfo Silva, diretor de operações da Genoa, uma empresa de consultoria em processos de logística. Ele explica que a simulação permite realizar um planejamento


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estratégico da cadeia logística a partir do dimensionamento da frota que atenderá as fazendas, permitindo estimar quantos caminhões são realmente necessários e, assim, reduzir o número de ativos. “Podemos ‘testar’ a logística antes de ir para o mundo real”, resume. Já o modelo de otimização responde pelo operacional. “É a roteirização. Ou seja, o sequenciamento das atividades, indicando qual será a melhor rota, horários e ordem de atendimento para reduzir os custos totais”. Segundo ele, a logística de ‘pick and delivery’ [coleta e entrega], comum em todas as indústrias, é um processo custoso, pois cada viagem ou quilômetro a mais onera a competitividade. “A adoção de modelos científicos como esses consegue reduzir o número de viagens realizadas, de quilômetros percorridos e de caminhões na frota”, arremata. A complexidade dos problemas logísticos, como demonstra a Genoa, exige um cuidadoso trabalho de análise. Algumas soluções, no entanto, estão dentro da própria estrutura. Foi o que concluiu a paranaense Stival Alimen-

divulgação

Revista Nacional da Carne | Setembro/ Outubro

Empresa se divide em duas companhias - uma exclusivamente para o transporte de carga e reduz 10% dos custos com logística e transporte

-

tos, uma indústria de beneficiamento e produção que trabalha com risoto instantâneo de frango, entre outros itens. Há cerca de dois anos, ela se dividiu em duas empresas - uma de alimentos e outra de transporte. “Antes, todo custo de logística compunha as despesas gerais, então não tínhamos uma visão de quanto o custo do frete representava porque misturávamos as contas”, relata Alexandre Stival, presidente da companhia. Ao criar a própria transportadora, Stival não só buscou discernir os gastos referentes à logística, mas também abrir a possibilidade de gerar mais renda com os caminhões. “Antes, o caminhão ia para São Paulo ou Brasília, por exemplo, e voltava vazio porque não podia pegar frete. Hoje, ele volta carregado e dando lucro graças à criação desse novo serviço para terceiros”, conta. Assim, Stival comemorou a redução de 10% nos custos logísticos, o que acarretou no aumento de cerca de 0,5% no lucro final.


24

Espaço ABPA

Francisco Turra, presidenteexecutivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e vice-presidente da Associação Latino-americana de Avicultura (ALA)

E

m meio aos problemas registrados pelo mundo com Influenza Aviária (IA), envolvendo dezenas de focos e bilhões de dólares de prejuízos causados a produtores de diversos países, o Brasil pode orgulhosamente dizer que segue livre da enfermidade. Nunca ter registrado o problema, entretanto, dobra nossas razões para permanecer vigilantes e intensificar as ações de prevenção. Neste sentido, a consolidação de ações conjuntas entre países produtores torna mais efetiva nossa estratégia de ‘blindagem’. Foi com este objetivo que lançamos, junto às associações de produtores e exportadores avícolas do Cone Sul, a ideia de unificar esforços. Semanas atrás, estive em um encontro em Buenos Aires, tratando do tema com empresários e representantes dos países da região.


25

Revista Nacional da Carne | Setembro/ Outubro

A construção de uma proposta

latino-americana contra a IA E fomos além. Durante o XXIV Congresso Latinoamericano de Avicultura, centramos nossos esforços na adoção de medidas conjuntas entre os países produtores de carne de frango, ovos e outros produtos avícolas, na prevenção e combate – na ocorrência de focos – da Influenza Aviária. Após uma série de reuniões realizadas em Guayaquil (Equador), com a participação de lideranças dos países produtores avícolas da América Latina, foram estabelecidas – por meio da ALA – estratégias e iniciativas para combater e evitar a ocorrência de focos de IA no continente. As iniciativas contemplam diversas ações, como a criação de fundos e de planos de contingência em todos os países do bloco, e o estabelecimento de uma série de medidas de biosseguridade. Um grupo de trabalho foi criado com o objetivo de propor ações preventivas específicas para cada polo produtivo do continente. A ação envolverá, ainda, para a realização de análises de risco e simulados, a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agri-

A preocupação com a sanidade deve ser “palavra de ordem” para os produtores do continente. Com ações unificadas, somos mais fortes

cultura (IICA) e o Comitê Veterinário Permanente (CVP). O fornecimento de material genético avícola também esteve na pauta, frente à necessidade de se estabelecerem fornecedores em polos alternativos, que não tenham sido atingidos por Influenza. Neste contexto, o Brasil poderá se consolidar como um importante parceiro dos produtores latino-americanos. Hoje, basicamente abastecemos a América do Sul com material genético avícola. Estamos buscando consolidar acordos sanitários também com os países da América Central para que nosso setor seja um fornecedor alternativo a todo o continente, especialmente em tempos de crise sanitária. Na América Latina estão alguns dos maiores produtores, exportadores e consumidores mundiais de produtos avícolas, que geram não apenas riquezas, mas segurança alimentar para a população. A preocupação com a sanidade deve ser “palavra de ordem” para os produtores do continente. Com ações unificadas, somos mais fortes frente à Influenza Aviária.


26

capa

Parceiros Bastante comemorada pelo setor, reabertura dos mercados de EUA e China sofre com questões políticas e não se consolida como esperado Júlio Si mões


27

Revista Nacional da Carne | Setembro/ Outubro

incertos A

incerteza ainda envolve duas conquistas estrondosas do setor. China e Estados Unidos, após anos de negociação, finalmente reabriram no primeiro semestre seus mercados à carne bovina in natura do Brasil. O feito já foi apontado como um marco histórico à cadeia de proteína animal. E os passos iniciais, é certo, reiteram que a indústria pode colher imensos benefícios, sobretudo quando se trata do mercado chinês. Mas, quando analisadas com profundidade, devido a questões complexas como protecionismo ou excessiva burocracia, essas reaberturas se reduzem a um primeiro degrau. A carne brasileira ainda terá um longo e sinuoso caminho até, de fato, conquistar chineses e norte-americanos. E o problema maior vem da América do Norte. Em junho, quando os Estados Unidos anunciaram a decisão de comprar carne bovina in natura do Brasil, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Kátia Abreu, comemorou dizendo que o céu se iluminava para o País. Três meses depois, entretanto, o que se vê é um tempo encoberto por nuvens vindas do Congresso norte-americano: pressionados


28

por produtores locais, políticos têm Exportação brasileira de carne aos Estados Unidos de 2000 a 2015 exigido avaliações adicionais de risTotal Carne Industrializada Demais Carnes Período co para liberar a importação. A julgar US$ mil Tonelada US$ mil Tonelada US$ mil Tonelada por casos anteriores, a espera poderá 2000 80.898 37.657 80.435 37.457 463 200 ser longa e incerta como o rigoroso 2001 86.457 38.419 85.726 37.501 731 918 inverno do hemisfério norte. 2002 120.047 47.316 118.773 46.315 1.274 1.000 Para o analista José Vicente Fer2003 151.203 52.132 148.901 49.888 2.301 2.243 raz, da consultoria Informa Eco2004 199.023 57.283 197.434 55.572 1.589 1.710 nomics FNP, é impossível prever 2005 209.220 54.581 205.752 51.644 3.469 2.937 quando a reabertura acontecerá de 2006 277.311 65.750 273.466 63.058 3.845 2.692 fato. Como exemplo, ele cita o caso 2007 329.812 68.067 288.153 63.018 43.659 5.049 do suco de laranja, que levou praticamente uma década para entrar no 2008 300.355 53.651 279.934 51.251 20.421 2.399 mercado norte-americano. “Não digo 2009 228.752 44.404 223.177 43.217 5.575 1.187 que isso vá se repetir, mas mostra 2010 77.452 14.148 76.346 13.531 1.107 616 como pode demorar. Se por um lado 2011 163.762 12.862 162.497 12.285 1.265 577 a carne brasileira vai rebaixar os pre2012 186.573 18.536 184.638 17.823 1.935 713 ços e prejudicar a cadeia interna, por 2013 223.331 24.462 218.734 22.608 4.596 1.855 outro vai beneficiar os consumidores 2014 225.364 22.124 224.047 21.228 1.317 896 e o varejo, já que é mais barata e tende 184.674 20.312 183.900 19.973 774 339 2015(**) a vender mais. É um jogo de forças imprevisível.” (**) Acumulado de janeiro a julho/2015 Embora seja inegável a importância do varejo norte-americano, a efetiPara a Marfrig Global Foods, anos, embora inicialmente os Estavação da reabertura é um assunto que além de atingir mercados inexplo- dos Unidos tenham limitado a imextrapola a relação bilateral. Política rados, o estreitamento das relações portação a 64 mil toneladas, volume à parte, analistas e empresários do comerciais com os Estados Unidos a ser dividido com países da Amérisetor concordam que essa liberação pode “aumentar consideravelmente ca Central. deve influenciar outros mercados. o volume de exportação no médio E um importante catalisador des“Muitos países não têm a estrutura prazo”, conforme analisa Marcelo di ses números pode vir com a venda necessária para fazer as análises de Lorenzo, vice-presidente de Planeja- de dianteiros. “É um corte que prorisco, e acabam tomando os EUA mento Estratégico e diretor de Rela- duzimos e não exportamos, mas que como padrão. Porém, mesmo quan- ções com Investidores. O frigorífico, é bastante procurado por eles para a do a reabertura for efetiva, ainda le- porém, não quis falar em números. produção de hambúrguer”, explica vará alguns meses para que isso tenha No ano passado, o Brasil expor- Fernando Sampaio, diretor-execuefeitos práticos”, pondera Ferraz. tou para os Estados Unidos pouco tivo da Abiec, cujos associados resCoreia do Sul e África do Sul mais de 21 mil toneladas de carne pondem por 92% da carne negociasão alguns dos países, segundo a industrializada, resultando no fatu- da para mercados internacionais. Associação Brasileira de Frigoríficos ramento anual de US$ 224 milhões, Para a Marfrig, por exemplo, a (Abrafrigo), que podem abrir seus segundo dados do Ministério do procura pelo corte dianteiro terá immercados a partir da validação norte- Desenvolvimento, Indústria e Co- pacto positivo em diversos níveis, -americana. Já a Associação Brasilei- mércio Exterior (MDIC). Em 2015, dos valores praticados às toneladas ra das Indústrias Exportadoras de somente de janeiro a julho, o volu- negociadas. “Teremos mais uma opCarne (Abiec) lembra que os demais me negociado já havia atingido 20 ção para nossas exportações, o que membros do NAFTA (Canadá e Mé- mil toneladas, com quase US$ 185 possibilitará incremento de preços xico) e alguns países da América La- milhões faturados. A expectativa da em um primeiro momento e, no métina também podem ser influenciados Abiec é que o País supere as 100 mil dio prazo, o aumento de volumes”, pela decisão. toneladas exportadas nos próximos prevê Di Lorenzo.

Fonte: MDIC/SECEX

capa


29

Revista Nacional da Carne | Setembro/ Outubro

Mas, antes dos Estados Unidos finalizarem os processos burocráticos junto ao Mapa e iniciarem a importação, uma missão virá ao País confirmar a equivalência do sistema de inspeção sanitária dos frigoríficos nacionais. A visita estava marcada para o final de agosto, mas não havia ocorrido até o fechamento desta edição, em meados de setembro. Mesmo com o atraso e a morosidade dos processos, o mercado acredita que é possível começar a vender ainda em 2015. “Nossa expectativa é que isso aconteça no último trimestre”, aposta Sampaio, da Abiec. Já existem 14 plantas no Centro-Oeste pré-habilitadas a vender para os Estados Unidos, todas à espera do aval norte-americano.

China

Para Fernando Sampaio, da Abiec, reabertura dos EUA pode impulsionar venda de cortes dianteiros

Diferentemente dos Estados Unidos, a abertura do mercado chinês ocorreu de forma mais tranquila. Desde a segunda metade de maio, quando a presidente Dilma Rousseff e o primeiro-ministro Li Keqiang assinaram um protocolo sanitário, que ratificou a decisão anunciada em 2014, os frigoríficos têm vendido em boa quantidade diretamente para a China. Até então, esse mercado era abastecido via Hong Kong, fazendo da pequena região administrativa a maior compradora de carne brasileira. No ano anterior, por exemplo, foram embarcadas 252 mil toneladas de carne in natura para Hong Kong, média de 21 mil toneladas por mês, segundo dados do MDIC. Neste ano,


30

capa

Exportação brasileira de carne a Hong Kong de 2000 a 2015 US$ mil

Tonelada

US$ mil

Tonelada

Carne de Frango In Natura US$ mil

Tonelada

Miudezas de Carne US$ mil

Tonelada

Demais Carnes US$ mil

Tonelada

2000

165.677

195.162

23.064

11.230

63.634

114.721

21.210

21.390

57.769

47.822

2001

170.960

197.983

24.055

13.488

70.409

116.129

20.701

23.401

55.796

44.965

2002

167.961

232.674

21.386

14.032

76.844

144.248

21.162

27.209

48.569

47.185

2003

240.194

310.759

30.414

18.981

115.758

200.247

36.023

35.878

57.999

55.654

2004

284.433

293.410

43.887

23.185

132.688

180.033

40.413

38.107

67.445

52.085

2005

304.070

274.239

43.738

22.205

144.672

157.356

42.544

45.019

73.115

49.660

2006

460.627

440.071

61.122

27.599

252.632

296.634

65.300

56.033

81.573

59.806

2007

787.107

558.845

97.467

40.712

433.167

359.426

107.102

69.153

149.370

89.554

2008

1.171.428

649.759

224.744

64.658

567.858

419.248

170.129

78.419

208.697

87.435

2009

1.291.825

714.199

316.214

100.996

589.777

429.287

206.457

93.962

179.377

89.954

2010

1.082.743

555.999

235.278

66.722

501.388

334.196

189.856

85.302

156.221

69.779

2011

1.411.193

612.815

327.766

73.851

554.825

341.225

271.279

104.062

257.323

93.676

2012

1.416.368

602.090

433.078

99.720

474.665

308.466

279.891

108.717

228.735

85.187

2013

2.036.952

766.658

978.151

217.033

490.524

336.236

348.802

128.697

219.475

84.693

2014

2.251.960

775.966

1.174.052

252.031

458.028

315.868

423.995

135.270

195.885

72.798

837.871

337.931

387.960

95.034

179.074

138.137

168.930

58.645

101.907

46.114

2015(*)

Fonte: MDIC/SECEX

Carne Bovina In Natura

Total

Período

(*) Acumulado de janeiro a julho/2015.

de janeiro a julho, foram enviadas 95 mil toneladas, média de 13 mil mensais. Embora não seja o único fator, a queda reforça a ideia de que a reabertura chinesa provocará a transferência entre esses mercados, o que pode ser positivo a médio prazo, pois a simplificação dos processos agiliza as exportações e barateia os custos, dando competitividade à carne. Se a reabertura foi mais tranquila, os frigoríficos enfrentam outro problema imediato: a demora na certificação de novas plantas. Mesmo assim, nos primeiros 45 dias, as oito habilitadas negociaram 15 mil toneladas de carne in natura à China, colocando o país entre os 10 maiores importadores do ano. A expectativa da Abiec é vender 10 mil toneladas mensais aos chineses. Para isso, segundo a Abrafrigo, o ideal seria ter em torno de 30 plantas liberadas. Neste momento, além das oito que

já operam, outras nove aguardam um relatório de auditoria, produzido durante uma visita técnica em março e que está sendo traduzido do mandarim pelo Mapa. Os dois países ainda discutem detalhes do protocolo sanitário, que regulará as condições do produto. A expectativa é que tudo esteja resolvido até outubro. Embora ainda seja difícil falar em números, o setor acredita que a China tem condições de se tornar, em pouco tempo, o maior comprador da carne brasileira. “O tamanho do mercado chinês é enorme. O Brasil não tem produção para atender todo este mercado, mas, se conseguirmos exportar umas 150 mil toneladas no primeiro ano (2016), já está bom demais”, arrisca Péricles Salazar, presidente da Abrafrigo, que aponta os cortes dianteiros e os miúdos brancos (tendões, etc.) como os principais interesses do mercado chinês.

Já o analista José Vicente Ferraz, da FNP, vai além e classifica o mercado chinês como “explosivo”. “Acredito que a exportação direta e o aumento do consumo chinês devem beneficiar muito o Brasil. Eu não me arriscaria a fazer projeções numéricas, mas acho que a China pode vir a se tornar, destacadamente, o maior importador de carne bovina brasileira. O mercado chinês é explosivo, qualquer acréscimo no consumo per capita pode desequilibrar o mercado mundial. Tem um potencial excelente, mas há questões que precisam se confirmar. Projeções são projeções, nunca dá para ter certeza, porém a perspectiva é positiva e, no caso da China, mais concreta do que os EUA”, analisa. Nem mesmo a crise econômica no país asiático, que tem derrubado bolsas de valores e desvalorizado a moeda chinesa, consegue diminuir o otimismo brasileiro. “Quando se fala em cri-


31

Revista Nacional da Carne | Setembro/ Outubro

Exportação brasileira de carne à China de 2000 a 2015 Carne de Frango In Natura US$ mil Tonelada

Carne Bovina In Natura US$ mil Tonelada

Demais Carnes

US$ mil

Tonelada

2000

11.698

19.633

11.047

18.901

312

373

US$ mil

Tonelada

339

359

2001

10.320

17.996

8.814

16.423

1.158

1.172

348

401

2002

7.003

12.743

4.818

9.905

98

244

2.087

2.594

2003

11.516

16.784

6.697

11.644

752

723

4.067

4.417

2004

40.450

65.281

34.407

61.233

468

344

5.575

3.705

2005

85.355

121.595

79.572

117.806

152

107

8.630

3.683

2006

20.301

28.950

19.425

28.145

119

69

757

736

2007

13.819

12.788

13.061

12.373

203

86

556

328

2008

1.923

1.181

1.389

980

325

83

209

118

2009

40.726

25.147

37.599

24.009

2.969

1.068

158

70

2010

225.312

123.217

219.605

121.522

4.969

1.418

737

277

2011

433.149

198.676

422.927

195.844

9.751

2.680

470

152

2012

575.706

247642

492.829

227.445

73.055

16.630

9.822

3.567

2013

445.584

191.991

440.794

190.322

905

188

3.885

1.481

2014

521.142

228.505

518.794

227.548

456

106

1.892

852

2015 (*)

439.550

196.512

361.046

180.709

77.394

15.140

1.110

663

(*) Acumulado de janeiro a julho/2015

Fonte: MDIC/SECEX

Total

Período


32

capa

se econômica na China, significa que ela deixou de crescer absurdamente, mas ainda está crescendo acima da média. A China cresceu uma coisa fabulosa nos últimos 20 anos e agora está avançando mais modestamente, só que em cima de uma base que é 10, 20 vezes maior [que o resto do mundo]. Em outras palavras, ela continua crescendo significativamente em termos absolutos”, explica Ferraz. Ainda que os chineses tenham preferência por outros tipos de carne, a expectativa é que o processo de urbanização local aumente a procura por carne bovina. “O consumo de proteína animal é diretamente proporcional ao poder aquisitivo da população, e como eles já consomem

José Vicente Ferraz, da FNP: O mercado chinês é explosivo, qualquer acréscimo no consumo per capita pode desequilibrar o mercado mundial

porco, peixe e frango, a tendência é aumentar o consumo de carne bovina, que é muito baixo”, afirma Ferraz, acrescentando que “dificilmente” a China investirá em produção própria. “O boi é um animal demorado, ocupa espaço, estrategicamente não é bom para eles. Eles vão importar, deixando os recursos naturais e o esforço de produção para aquilo em que podem ser mais eficientes. Isso abre uma perspectiva muito boa para os exportadores mundiais de carne bovina, especialmente o Brasil.” Além do potencial mercado consumidor, a China também é uma peça importante na negociação de novos mercados, ainda que não seja tão influente quanto


33

Revista Nacional da Carne | Setembro/ Outubro

Os principais destinos da carne brasileira em 2015

Fonte: Abiec

Posição

País

Faturamento US$ (jan-julho/ 2015)

Volume em toneladas (jan-julho/ 2015)

1

Hong Kong

658.476.747,01

171.429,00

2

União Europeia

419.912.030,85

62.255,66

3

Rússia

373.939.682,07

111.492,52

4

Egito

368.340.544,82

109.450,71

5

Venezuela

331.403.480,84

58.149,05

6

Irã

226.819.915,94

59.129,14

7

Estados Unidos

186.442.630,38

20.263,20

8

Chile

140.059.667,88

28.913,94

9

China

77.393.663.00

15.140,43

10

Argélia

60.973.981,39

14.189,78


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capa

Uns choram, outros vendem lenço O ditado que diz “enquanto uns choram, outros vendem lenços” parece perfeito para ilustrar o atual momento do setor avícola brasileiro, cujas vendas externas atingiram níveis históricos nos últimos meses. Em julho, foram 447,2 mil toneladas embarcadas, superando as 395,7 mil toneladas de junho, até então o valor mais alto já alcançado em um único mês. Tanto resultado positivo levou a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) a rever suas metas. Em dezembro passado, a entidade imaginava que o setor poderia crescer de 3% a 4% neste ano, mas os resultados recentes elevaram a expectativa para 6% ou 7% em 2015. Para a ABPA, os resultados históricos se devem às aberturas de novos mercados, como Paquistão, Malásia e Mianmar, e ao aumento do consumo interno provocado pela crise econômica, que tem levado o brasileiro a substituir a carne bovina por outras mais baratas, como a de frango. Essa troca já chega a 20% entre os consumidores, segundo a entidade. “A surpresa, no entanto, foi o mercado externo”, destaca Francisco Turra, presidente da ABPA. “Além de novos mercados, tivemos uma queda violenta nas exportações norte-americanas em decorrência da gripe aviária. Isso abriu muito espaço para o Brasil, que nunca teve esse tipo de problema.” Um dos reflexos dessa queda foi a aproximação com o México, até então maior importador de frango dos Estados Unidos. O volume de vendas para eles tem aumentado desde o ano passado, segundo Turra, quando foram negociadas 840 mil toneladas. Recentemente, uma missão mexicana esteve no País para visitar plantas frigoríficas, indicando que eles podem aumentar o volume importado. Já com relação à carne suína, a ABPA avalia que as exportações têm melhorado nos últimos meses. “Tivemos um início de ano trepidante, com queda na exportação devido ao frio no hemisfério norte; aos problemas de transporte na Rússia, nosso principal comprador; e às dificuldades com Hong Kong, que viu alguns países, como a China, dificultarem a entrega da carga”, analisa Turra, que aposta em números positivos para 2015. “Não digo que vamos superar, mas a expectativa de crescer 2% a 3% deve se confirmar.”

os Estados Unidos. “As informações que temos indicam que já existem negociações com outros países da região dispostos a seguir o mesmo caminho. Essas conversas ainda precisam se confirmar, mas já é um ponto positivo”, antecipa Ferraz. Neste ano, além da China, o Brasil abriu mercado em Mianmar e tenta retomar as vendas para Coreia do Sul e Japão.

Mercado Interno As incertezas referentes aos mercados de China e, sobretudo, Estados Unidos, também são encontradas em solo nacional. A crise econômica – potencializada por problemas políticos – gerou um cenário de retração que tem diminuído o consumo interno no País. Para José Vicente Ferraz, da FNP, os tempos são difíceis, mas não catastróficos como alguns imaginam. “Conversando com atacadistas e distribuidores do mercado interno, todos são unanimes ao apontar que, desde meados do ano passado, houve um recuo de consumo no País. Essa diminuição é inevitável enquanto perdurar a crise, o que é impossível de prever. Mesmo assim, está longe de ser um quadro catastrófico. Tínhamos uma previsão otimista e, agora, temos uma um pouco menos”, pondera. É nesse sentido que a conquista efetiva de novos mercados pode ser determinante à carne brasileira nos próximos meses. “Somos capazes de absorver as novas demandas internacionais sem que isso cause um impacto negativo na produção destinada ao mercado brasileiro. Temos aumentado nossos esforços nos canais de food service, de pequeno e médio varejo, buscando um melhor serviço e aumento de participação neste segmento do mercado doméstico”, explica Marcelo di Lorenzo, da Marfrig. Já o diretor-executivo da Abiec, Fernando Sampaio, acredita que expandir os horizontes da carne brasileira pode ajudar a suprir as possíveis perdas internas. “Esperamos que o mercado melhore neste segundo semestre e estamos confiantes com a reabertura da Arábia Saudita e do Japão para ajudar nessa recuperação. Ainda não temos projeções para o ano que vem, mas acreditamos que será positivo”, decreta.



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Espaço VDMA

Máquinas de embalagem: Alemanha mantém liderança

Vera Fritsche, especialista para máquinas de embalar, mercados e feiras da VDMA

A

demanda mundial por máquinas de embalagem continua inabalável. Segundo estimativas da Associação Alemã de Fabricantes de Máquinas e Instalações, a VDMA, produziu-se mundialmente em 2013 o valor de 30,3 bilhões de euros em máquinas de embalagem. Com participação de 20%, a Alemanha manteve-se como principal país de fabricação, seguida pela Itália (19%), EUA e China (11% cada) e Japão (8%). O ano de 2014 foi novamente de sucesso para os fabricantes de máquinas de embalagem alemães. As estimativas preliminares indicam que aproximadamente 300 empresas, em sua maioria pequenas e médias, produziram maquinários e equipamentos no valor de 6,2 bilhões de euros, um aumento de 4% em comparação ao ano anterior. Não somente na produção, mas também nas exportações, as empresas alemãs dominaram o mercado e geraram mais de 85% de suas vendas no exterior. Em 2014, elas venderam maquinários no valor de 5,3 bilhões de euros em mais de 100 países, um aumento de quase 3%.

Exportações por regiões e países A Europa ainda é o mercado mais importante à Alemanha nesse segmento. Em 2014, os fabricantes exportaram 2,3 bilhões de euros em maquinários e equipamentos ao continente, o que corresponde a 44% do total. Após

a Europa, a Ásia é o mercado mais importante, com negociações no valor de 1,2 bilhões, ou 23% do volume – em 2003, a proporção era de 15%. Já a América do Norte adquiriu máquinas “made in Germany” no valor de 628 milhões de euros, enquanto a América Latina, em quarto lugar, comprou o total de 401 milhões de euros. A África vem em quinto, com 381 milhões de euros. Os Estados Unidos, por sua vez, ainda permanecem como maior mercado individual. Após um pico nas vendas em 2013, as exportações diminuíram 5%, alcançando 558 milhões de euros em 2014. A China veio em seguida com 471 milhões de euros, um aumento de 1% em relação ao ano anterior. A Rússia, que aumentou sua importação em 8%, atingindo 291 milhões de euros, permanece em terceiro – essa ampliação, entretanto, deve-se a um alto volume de vendas de máquinas de enchimento de bebidas. As exportações para a França (4º lugar) subiram 7%, alcançando 258 milhões de euros, enquanto para a Grã-Bretanha (5º lugar) avançaram 16% e chegaram a 220 milhões de euros. Já a Indonésia atingiu o 6º lugar, com um volume de 195 milhões de euros, um aumento de 53%. O ímpeto de crescimento em relação ao maquinário de embalagens é originado cada vez mais de países emergentes e em desenvolvimento, que expandem e modernizam suas indústrias ou ainda estão criando-as. O aumento da população, da urbanização, dos rendimentos e da crescente classe


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Revista Nacional da Carne | Setembro/ Outubro média é motivo para que a demanda de alimentos e bebidas modernos continue a crescer. Esta tendência reflete-se em ampliação da demanda para máquinas de processamento e embalagem adequadas.

no trabalho, continua a aumentar. Para os consumidores, é importante que os produtos exijam pouco ou nenhum tempo de preparo. Os snacks também têm crescido e estão se tornando uma megatendência. Já as seções refrigeradas, cada vez mais lotadas, oferecem produtos que podem ser consumidos Aumento da demanda de imediatamente e com pouco – ou nenhum – tempo de processamento. Aqui, alimentos e bebidas principalmente, as porções pequenas A indústria de alimentos e bebidas é são uma importante força impulsionaum mercado de crescimento dinâmico. dora de vendas. A cada ano, novos proNo ano passado, 758 milhões de toneladas de alimentos embalados foram vendidos no mundo. Já em 2018 serão 832 milhões de toneladas, um aumento de 10%. Os mercados de maior crescimento estão na Ásia, no Oriente Médio/África e na América Latina. Essas três regiões perfazem 55% do volume total do comércio de alimentos embalados. A demanda global por bebidas mostra uma imagem relativamente semelhante à dos alimentos. Em 2014, as vendas atingiram 918 bilhões de litros. E, para 2018, estima-se um aumento para 1.055 bilhões de litros, um crescimento de 15%. Os mercados de maior apelo já estão na Ásia, na América Latina e no Oriente Médio/África, e a perspectiva é que essas regiões tenham uma taxa de crescimento desproporcionalmente maior se comparadas ao mercado mundial. A crescente demanda por alimentos e bebidas torna necessário aumentar dutos são lançados. No segmento de conveniência sena produção. Este setor, aliás, já é um dos maiores compradores da indústria sitiva, questões como higiene, tempo de maquinário – em torno de 60% de de prateleira, processamento suave e todas as máquinas de embalagem pro- soluções de embalagem são de especial duzidas vão para as empresas de ali- importância. Um método muito eficiente para aumentar a vida útil do alimentos e bebidas. mento é a embalagem sob atmosfera de gás inerte, também chamada de MAP (embalagem com atmosfera modificaConveniência é tendênda). Além disso, o processo de vedação cia-chave faz uma grande diferença à qualidade A demanda do consumidor por pro- e à estanqueidade dos sacos tubulares dutos convenientes, como alimentos e – e, subsequentemente, à vida útil de bebidas de fácil consumo em casa ou prateleira. Portanto, a vedação com ul-

Os fabricantes alemães de maquinários de embalagem oferecem uma ampla variedade de soluções inovadoras para fornecer alimentos e bebidas seguros e de alta qualidade no mundo todo

trassom está se tornando cada vez mais popular. Graças a máquinas de embalagem modernas, com dispositivos para vedação hermética e com tecnologia MAP, a qualidade dos produtos é mantida e o alimento permanece fresco por mais tempo.

Flexibilidade é o que conta As pessoas são diferentes e, assim, seus hábitos e preferências mudam quando se trata de alimentos e bebidas. A oferta de produtos é enorme e, ao mesmo tempo, o ciclo de vida de um produto é, muitas vezes, pequeno. A capacidade de inovação e a alta responsividade às tendências é essencial para as empresas permanecerem competitivas. Isso não serve apenas para receitas, mas também para formatos e tamanhos de embalagens. A tecnologia envolvida deve reagir rapidamente e precisa ser adaptável. Já a flexibilidade é essencial: uma embalagem deve ter ampla variedade de tamanhos, seja para um produto individual ou tamanho família. Todas essas opções devem estar disponíveis em uma máquina. Em países com grande população e alto crescimento populacional, como os da Ásia, o foco das indústrias de consumidor final é direcionado ao alto e contínuo desempenho do sistema, para fornecer alimentos e bebidas seguros e de grande qualidade. Os fabricantes alemães de maquinários de embalagem oferecem uma ampla variedade de soluções inovadoras para fornecer alimentos e bebidas seguros e de alta qualidade no mundo todo. Sobre a VDMA

A VDMA (Associação Alemã de Fabricantes de Máquinas e Instalações) reúne 3.100 renomadas empresas – a maioria delas de médio porte - do setor de bens de capital, sendo a maior associação industrial da Europa. Ela representa os interesses econômicos, técnicos e científicos do setor de construção de máquinas, especialmente junto aos órgãos públicos nacionais e internacionais, assim como a diferentes esferas econômicas.


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EVENTOS

A logomarca


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Revista Nacional da Carne | Setembro/ Outubro

do progresso TecnoCarne minimiza efeitos

da crise, surpreende expositores e aponta rotas para um Brasil que tenta reencontrar seu caminho Itamar Cardin


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EVENTOS

Novidade na feira, o Meeting Business gerou quase R$ 10 milhões em apenas duas horas

O

s desafios pareciam estampados em cada estande montado na TecnoCarne & Leite – 12ª Feira Internacional de Tecnologia para a Indústria da Carne e do Leite. Pequenos que fossem, embora perceptíveis, eles eram como pequenas logomarcas de um momento peculiar, cunhadas em sucessivos erros econômicos e na interminável voracidade da política brasileira. Mas a TecnoCarne, realizada entre os dias 11 a 13 de agosto, no São Paulo Expo, demonstrou algo crucial a um Brasil que enfrenta uma severa crise conjuntural. Os entraves, reais e preocupantes, precisam ser encarados com coragem. E, diante de tamanha incerteza, há uma importante rota alternativa para minimizar os impactos da turbulência: reforçar a presença de mercado e investir com criatividade.

Assim, pautada por um certo receio conjuntural e, ao mesmo tempo, pela força crescente do setor de proteína animal, a TecnoCarne surpreendeu os expositores. E dois pontos foram cruciais para garantir essa resposta que o mercado tanto esperava: qualificação do público visitante e uma imensa quantidade de negócios realizados. Mais de 500 marcas nacionais e internacionais, provenientes de países como Estados Unidos, Uruguai, Espanha, China, Nova Zelândia e Alemanha, foram expostas durante o evento. Visitantes de 20 países, por sua vez, ao lado de influentes empresários brasileiros, concretizaram compras em todos os segmentos da cadeia. Os negócios das empresas participantes, segundo estimativas da organização, devem ser alavancados em até 20%. Apenas o Meeting Business,

um formato inovador de rodada de negócios, unindo os elos mais distintos da cadeia, gerou quase R$ 10 milhões em apenas duas horas. Já o Ciclo de Palestras - com oito apresentações gratuitas que abordaram temas como a evolução dos conservantes e o panorama mundial do mercado de carnes – garantiu informação, inovação e debates de qualidade. O resultado, assim, foi uma feira que reiterou não só a estabilidade do setor, como indicou possíveis caminhos às turbulências nacionais. “Crise sempre tivemos. E outras ocorrerão. O importante é entendermos que temos um alto potencial produtivo”, garante Péricles Salazar, presidente da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). “A feira vem em um momento importante porque sinaliza o futuro com novos equipamentos e novas gestões.”


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José Danghesi, diretor da feira, reforçou o ponto de vista de Salazar: as alternativas para enfrentar o momento difícil estavam visíveis no evento. “A TecnoCarne cumpriu o seu papel em ser uma plataforma de negócios e conteúdo que ajuda a desenvolver esse setor tão fundamental para a economia brasileira”, aponta Danghesi. “Mesmo com o difícil momento econômico e pelos tantos gargalos de infraestrutura que não permitem um crescimento maior e mais rápido, a cadeia da indústria de processamento de proteína animal mostra que está disposta a investir para tornar seus processos mais eficientes, ágeis e com qualidade superior”, acrescenta. Essa, aliás, foi uma conclusão quase unânime: embora a crise não tenha prazo para terminar, o setor de proteína animal tem sólidas condições de superar as dificuldades. “Não será com essa crise que o setor alimentício será afetado. Todos querem ter uma proteína no prato. E nós trabalhamos com quatro divisões da proteína: vermelha, frango, peixe e industrializada. Então, o consumo de carne bovina caiu, mas o de frango subiu. Há um equilíbrio”, explica Francisco Leandro, gerente geral da Marel. Opinião que foi praticamente compartilhada por Enri Tunkel, gerente de marketing LAM de refrigeração industrial da Danfoss. “Os frigoríficos estão sentindo, mas tem a exportação, que é uma importante oportunidade. Mesmo no Brasil, apesar da crise, as pessoas precisam comer”, pondera. Até mesmo empresas focadas em nichos específicos celebraram a sólida resposta do setor. É o caso da Branco Máquinas, voltada para o segmento de peixes. “É um momento mais do que necessário de mostrar

José Danghesi, diretor da feira, concede entrevista durante a TecnoCarne

Os executivos respondem: por que participar da TecnoCarne? Carlos Freitas, diretor comercial da América Latina da Budenheim É a primeira vez que participamos e nosso intuito é expor a marca, ficar mais conhecido. Procuramos focar algumas especialidades, para não competir com o produto local. Nosso foco principal é o rendimento. Ismael Edgard Bonet, do departamento de vendas da Boni Tripas O médio e o pequeno conseguem achar uma brecha nesse cenário, sobretudo quando se especializam em algo. Nossa ideia, assim, é focar o pequeno. Todos vêm aqui pensando no grande empreendedor, mas nosso foco é o pequeno. Odair Gomes, gerente comercial da CSV Refrigeração Industrial Aqui é o lugar ideal para a área de refrigeração, toda a cadeia frigorífica e láctea está presente. Arnaldo Marinaro, gerente de desenvolvimento da Energyarc Divulgação de produto é sempre importante para o negócio. Então, aqui, estou buscando tornar minha marca conhecida na cabeça do expositor. Fabiano Babichi de Gois, diretor da Incomaf É uma feira grande, renomada, que nos ajuda com a aproximação dos clientes. E essa aproximação é importante porque demonstra o quanto estamos preparados para atendê-los. Adalberto Perez, diretor da Tecmaes A feira traz oportunidades de encontrar pessoas do segmento da carne, sobretudo de quem ajuda a decidir. O público é muito qualificado.


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EVENTOS

minhas máquinas. Sentimos um pouco a crise, não serei hipócrita, mas não foi nada de especial. Até agora atingimos todos os objetivos traçados para o ano. Seguimos muito confiantes”, conta Joaquim Ferreira, diretor comercial da companhia. Mas nem só de boas expectativas vive o setor. A TecnoCarne, como todo grande evento segmentado, serviu de base para discussões aprofundadas sobre a cadeia. E, se o panorama geral aponta à solidez do mercado de proteína animal, apesar da crise econômica, alguns ajustes pontuais ainda precisam ser efetuados. Um dos exemplos lembrados é a da falta de boi no pasto, situação que está prejudicando os frigoríficos brasileiros. “O setor vem sentido em função da restrição de investimento e crédito. Outro entrave é a escassez de matéria-prima, com a falta de gado nos pastos. O consumo de energia

e água também preocupa”, resume Eduardo Almeida, gerente de refrigeração industrial da Bitzer.

A importância da feira Diante das dificuldades estruturais e macroeconômicas, a TecnoCarne foi apontada por grande parte dos expositores como um evento fundamental no calendário de 2015, capaz de dinamizar os negócios e trazer importantes alternativas. “A feira ultrapassa o nível nacional, atinge a América do Sul, há representantes de diversos países, o que é ainda mais importante em um momento como esse”, avalia Tunkel, da Danfoss. Já Ulisses Cason, vice-presidente de Marketing da Sealed Air divisão Food Care na América Latina, sintetiza a importância da feira em três pontos principais: demonstrar que

As empresas respondem: em um momento de crise econômica e

Shiguen A feira ajuda a divulgar produtos novos e a nos aproximar dos clientes. Ela é importante ainda mais em um momento como este, em que o mercado está fraco, onde o cliente compra mais pela manutenção do que investe em novidades. Paulo Alves, gerente técnico Farenzena Essa feira é o termômetro de como o Brasil está. O importante nesse momento é divulgar o produto,

porque sempre há compradores presentes. Denis Farenzena, diretor

maior. Mas não sentimos tanto a crise nesse mercado. Felipe Teixeira, gerente de produto

Bizerba A crise acaba mudando os hábitos de consumo, como no caso da carne bovina e de frango. Mas nós trabalhamos com alimentação, e isso as pessoas não deixam de comprar. Então encaramos a crise como uma oportunidade, algo que a feira pode reforçar. João David, diretor geral

Fimaco do Brasil Neste ano, aqueles que estão expondo mostraram ao mercado que não estão sendo afetados. Rafael Mohr, do departamento comercial

Starrett A feira se torna ainda mais importante em um momento como este. O bolo diminui, então precisamos brigar por um pedaço

Bettcher Precisamos aproveitar a feira para trazer novidades, lançamentos para os clientes aumentarem sua lucratividade. É uma grande vitrine. E tem sido bom, os visitantes são pessoas que decidem. Edson Bittencourt, diretor


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Revista Nacional da Carne | Setembro/ Outubro

a empresa está com “saúde”, apresentar novidades e comunicar alterações. “O principal objetivo é trazer material e ferramenta que nos ajude neste momento difícil. E o balanço está sendo positivo, a feira está indo além das expectativas.” E, se depender do resultado da TecnoCarne, as empresas têm reais motivos para apostar na melhora da situação econômica, mesmo que os números conjunturais ainda estejam desfavoráveis. “A feira atendeu muito bem as expectativas, sobretudo dentro da atual situação do País”, avalia André Trama, gerente de operações da Jarvis. Análise essa, aliás, que foi compartilhada por dezenas de expositores. “A concretização de negócios foi boa, superou nossas expectativas”, afirma Marco Antonio Magolbo, diretor da Handtmann. “O movimento foi bom, recebemos muitos clientes e

fizemos muitas prospecções”, acrescenta Thais Cini, analista de marketing da Fortress. “Tínhamos uma preocupação, por conta da crise, mas superou as expectativas. Tem público de muita qualidade”, completa Eduardo Gualtieri, diretor comercial da Dal Pino.

Inovações tecnológicas Não foram apenas os bons negócios e o público qualificado, entretanto, que marcaram a 12ª edição da TecnoCarne. Reforçando uma de suas características centrais, de servir como grande vitrine de inovações tecnológicas, a feira apresentou máquinas e equipamentos que prometem ser grande destaque no mercado de proteína animal. A Güntner, por exemplo, apostou na sustentabilidade. Em busca de inovação e de desenvolvimento

turbulência política, qual a importância da TecnoCarne? Foss É muito importante mostrar que ainda é fundamental investir para otimizar os processos. Em um momento como este o importante não é aumentar, mas otimizar. Jessica Catelano, do departamento de marketing Montemil Em um momento de crise você não pode se esconder, é fundamental aparecer ao mercado, mostrar que está inteiro. Mas, até agora, praticamente não tivemos mudanças. O que nos preocupa é 2016. Edimar de Assis, diretor Multisorb Nossa ideia é que, em ano de crise, torna-se fundamental divulgar a

marca. Ainda mais para nós, que estamos iniciando nosso processo no mercado brasileiro. Claudia Wetzel, business development leader Dânica O reflexo da crise vem para todos. Então é sempre bom nos apresentarmos, porque isso reforça a posição frente ao mercado. E, nesse momento, é fundamental buscar esse posicionamento. Walmyr Stryevski, gerente comercial Mill Indústria Todos os segmentos estão sentindo, mas estamos trabalhando para minimizar esse impacto. Assim, é importante estar presente e demonstrar a marca, até para

que o público conheça nosso trabalho. Marcelo Gobbi, gerente comercial Mastercorp Esse é o momento de ser agressivo no mercado. Precisamos estar focados em novos clientes, em fazer prospecções. E aqui as pessoas vêm prontas para comprar. Jair Stofella, do departamento de marketing Usinox A feira surpreendeu e está atendendo todas as expectativas. Esperávamos dificuldades por conta da crise, mas ela está sendo muito positiva. Lázaro Luiz Hemeque, diretor


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EVENTOS

Um Mercadão no meio da TecnoCarne Um estande suntuoso e criativo chamou a atenção do público na TecnoCarne. Entre corredores e equipamentos, logo em frente à entrada do centro de exposição, uma réplica do Mercado Municipal de São Paulo dava um clima animado à feira. O espaço, cuidadosamente montado pela New Max, trazia mesas e cadeiras de madeira em seu interior, como fosse um dos tradicionais bares do Mercadão. Do lado de fora pequenas hortaliças reproduziam com fidelidade as barracas de hortifrúti. E o chope gelado e os quitutes, como o sanduíche de mortadela, alegravam a visita de parceiros e compradores.

“Buscamos um ponto de referência que homenageasse São Paulo e tivesse ligação com nossos conceitos. Então fizemos uma réplica do Mercado Municipal porque nossos produtos, como condimentos, têm bastante a ver”, conta Paulo Rovina, coordenador de marketing da New Max. “Visitei várias vezes o Mercado Municipal, conversei com fornecedores e perguntei sobre produtos, como o sanduíche de mortadela. Aí trouxemos o conceito e fizemos com os nossos próprios produtos”, finaliza Rovina.

de produtos e tecnologia, a empresa apresentou o ECOSS Autonomous, um sistema de monitoramento inteligente utilizado na linha de Condensadores Evaporativos ECOSS. Responsável por monitorar parâmetros de temperatura e pressão do refrigerante, o sistema oferece uma interface única e uma solução completa para todo o processo. Permite, ainda, redução do consumo de água e dos custos com tratamento químico. “É uma solução que traz muita praticidade. O usuário pode simplesmente plugá-la e o equipamento funcionará por um longo tempo, porque sua vida útil e sua confiabilidade é grande”, comenta Oscar Baldin, engenheiro de produtos da Güntner. Outra companhia a apostar em uma interface amigável foi a Johnson Controls. Durante a TecnoCarne a empresa lançou nacionalmente o controlador Frick Quantum HD, com maior flexibilidade de comunicação e display touch de alta definição, que oferece visualização clara das informações do compressor. “Seu diferencial é a configuração de alta definição e o touch screen. A reação será muito positiva, é um importante avanço”, antecipa José Augusto Castro Chagas, gerente de refrigeração industrial América Latina da Johnson Controls Building Efficiency. Com o slogan “Re-imagine a Eficiência Operacional”, por sua vez, a Sealed Air divisão Food Care apresentou novidades em uma linha de produção automatizada. Um dos equipamentos em demonstração era a máquina de embalagem VS9X, que revelou ao público como “produtividade, higiene, manutenção e monitoramento de desempenho podem atuar em conjunto com sucesso”, conforme detalha a empresa. “A TecnoCarne é uma boa oportunidade para que os clientes vejam


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Revista Nacional da Carne | Setembro/ Outubro

na prática como seguimos inovando em sistemas, serviços, produtos e equipamentos de embalagem e higiene”, comenta Ulisses Cason, da Sealed Air. “Estes são desenvolvidos para proporcionar um desempenho ótimo, com maior eficiência operacional e diminuição das perdas, culminando em real criação de valor e

menores custos totais.” Preocupação com despesas também inspirou o lançamento da GEA, o Xtremely Efficcient Compressor Design, uma unidade compressora de baixo custo de manutenção e alta eficiência energética. “Temos uma tecnologia de ponta que traz redução de consumo de energia. Muitas empresas

em momento de expansão precisam de um freezer e procuram a GEA, para aumentar a produtividade e reduzir consumo de energia”, explica Paulo Mariotto, presidente da divisão de refrigeração da América Latina. Confira a seguir alguns destaques da TecnoCarne.

Novidades da TecnoCarne Esteira certificada

Responsável por inventar o primeiro transportador espiral do mercado, a Ashworth apresentou as esteiras Advantage, as primeiras para transportadores espirais da indústria a serem aprovadas pelo USDA (o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). Projetadas segundo a resistência das varetas de aço inoxidável, elas não sofrem flexão.

Tecnologia japonesa

A Mayekawa, multinacional japonesa com 90 anos de knowhow em sistemas de produção de frio industrial e processamento robótico de alimentos, apresentou suas unidades compressoras para refrigeração industrial. Os equipamentos, conhecidos popularmente como Compressores Mycom, proporcionam alta eficiência energética.

Termômetro gourmet

As duas inovações mais recentes da Akso estiveram na feira. Uma era o Termômetro Dobrável Gourmet, produto lançado para o setor alimentício que possui resposta rápida e exatidão de

°0,5C. A outra, o Combo 5 – Medidor Multiparâmetro de Bolso, analisa simultaneamente pH, condutividade, TDS, salinidade e temperatura.

Completo e seguro

Oferecer um equipamento mais completo e seguro. Essa foi a resolução da Camrey ao apresentar na TecnoCarne a Centrífuga CR12-, máquina que passou por uma recente adaptação. Projetada para processar buchos, folhosos, moelas e corações, entre outros, a centrífuga traz novidades como a chave de travamento e os sensores blindados.

Combo de novidades

Uma série de novidades esteve presente no estande da Mebrafe, como o RETMAC, um resfriador tubular de água para chiller, e os túneis contínuos, tanto da linha helicoidal como da linha de retenção variável. Os equipamentos, segundo a empresa, visam a alta produtividade e a redução no consumo de energia.

Menos manutenção A Intralox apresentou a esteira Intralox Autoempilhável, a primeira esteira modular plástica empilhável para aplicações de resfriamento e congelamento em espirais. Sua tecnologia única, devido ao mecanismo de bloqueio da esteira, reduz tempo de paradas e manutenção.

Desossa de pernil Um sistema de desossa vertical e dinâmico de pernil suíno foi o grande destaque apresentado pela Sulmaq. Trata-se do X-Ham, um equipamento que proporciona maior produtividade, melhor rendimento e melhor ergonomia na desossa, segundo informa a empresa.


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E spaço CICB

Setor coureiro deve prestigiar em massa o XXXIII Congresso da IULTCS José Fernando Bello, presidente executivo do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB)

uem trabalha com couro, independentemente da função na empresa, tem compromisso no próximo mês. Dos dias 24 a 27 de novembro ocorre o XXXIII Congresso da IULTCS (International Union of Leather Technologists and Chemists Societies). O evento, promovido na cidade de Novo Hamburgo (Rio Grande do Sul), é tido como um dos mais importantes do setor em nível mundial. O grande diferencial do encontro é que, apesar de reunir técnicos, traz as mais diferentes abordagens à discussão. Sua proposta é aprimorar continuamente o segmento. Nesta edição serão tratados desde temas ligados à melhoria de processos, como redução de custos e produção sustentável, até questões ligadas a design. Também serão apresentadas aos profissionais ligados à área “as novas exigências das montadoras de automóveis para o fornecimento de couro”. Portanto, uma programação variada deve atrair visitantes de diversas localidades do Brasil e do mundo.

Abstracts Os mais de 180 trabalhos aprovados para apresentação durante a trigésima terceira edição do Congresso da IUL-

TCS têm autores representantes de 24 países. Os abstracts trazem contribuições em nove temáticas centrais. O expressivo número de nações sugere que o volume de visitantes será significativo. Para a ocasião, são aguardadas cerca de mil pessoas, entre profissionais, pesquisadores, empresários e estudantes. A presença massiva da indústria nacional de couros e peles no congresso é fundamental, já que há mais de 20 anos o evento não é promovido no Brasil. A última vez que o País sediou o encontro foi em 1993, em Porto Alegre. A proposta da Associação Brasileira dos Químicos e Técnicos da Indústria do Couro (ABQTIC), entidade responsável pela organização da conferência em solo brasileiro, é repetir ou superar o sucesso. Para isso, é necessário que os produtores locais também o prestigiem. Em 2013, edição mais recente do evento bianual, o congresso ocorreu na Turquia.

Novo Hamburgo A cidade anfitriã do XXXIII Congresso da IULTCS, Novo Hamburgo, foi eleita de forma estratégica. Com mais de 250 mil habitantes, o município é conhecido como ‘A


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Revista Nacional da Carne | Setembro/ Outubro Capital Nacional do Calçado’. Na década de 1980, a cidade se destacou como a maior fabricante de sapatos do País. A habilidade na produção de calçados foi herdada dos imigrantes alemães, que colonizaram a região do Vale do Rio dos Sinos, zona onde está localizada Novo Hamburgo. No Vale, banhado pelo Rio do Sinos, o Brasil possui um de seus mais relevantes clusters de couro e calçados. Na região estão estabelecidos diversos curtumes, indústrias químicas e de componentes, o que favorece a produção de couros, calçados e artefatos. Apenas 40 quilômetros separam a cidade da capital do estado, Porto Alegre. Ademais, Novo Hamburgo fica muito próxima da Serra Gaúcha, região que mais atrai turistas no Rio Grande do Sul. Com excelente infraestrutura – variadas alternativas de hotéis e transporte público eficiente -, o município possui Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ‘muito alto’, conforme classificação da Organização das Nações Unidas (ONU). Novo Hamburgo é uma cidade que atrai investimentos, portanto, um excelente local para negócios. O XXXIII Congresso da IULTCS será realizado na Universidade Feevale, instituição acadêmica com as instalações mais modernas da região. Saiba mais sobre o evento em www.iultcs2015.org.

Os 9 temas centrais que guiam os abstracts: 1. Pesquisa fundamental em colágeno e em ciência e tecnologia do couro 2. Novos desenvolvimentos sustentáveis em operações e processos para fabricação de couro, bem como em tratamento e uso de resíduos 3. Tecnologias inovadoras em processamento de couro e tratamento de resíduos utilizados atualmente com êxito em escala industrial 4. Novos desenvolvimentos em produtos químicos e materiais para a indústria do couro 5. Otimização do uso de energia e máquinas na indústria do couro 6. Análises avançadas em couro 7. Saúde e segurança na indústria do couro 8. Design, moda e marketing na indústria do couro 9. Novos requisitos globais - pegada de carbono, novas certificações internacionais e outros - e seus efeitos no processamento do couro


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Índice I Anunciantes

Alphainox.................................................................................... 23

Incomaf.......................................................................35 e 4a capa

Artflexíveis.................................................................................. 29

Jarvis........................................................................................... 33

Ashworth..................................................................................... 49

Marrari......................................................................................... 38

Cargomax...................................................................................... 9

Mebrafe....................................................................................... 39

Fispal Food Service Nordeste.........................................2a capa

Metalquimia.................................................................................. 5

Fispal Tecnologia Nordeste ������������������������������������������������������ 3

Multifrio....................................................................................... 11

Frigostrella.................................................................................. 31

Refrio............................................................................................ 38

Güntner.......................................................................................... 7

Therm Tech................................................................................. 21

Handtmann.........................................................................3a capa

Tinta Mágica .............................................................................. 32




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