Registro documentado de harpia sp bruno lima

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A ocorrência do Gavião-real (Harpyia harpyia) (Linnaeus, 1758) no Estado de São Paulo, Brasil: um novo suspiro de esperança para a conservação.

Por Bruno Lima.

A ocorrência do Gavião-real (Harpyia harpyia) (Linnaeus, 1758) no Estado de São Paulo, Brasil: um novo suspiro de esperança para a conservação. por Bruno Lima buiolima@gmail.com

Abstract: The author reports the observation and most recent documented record of Harpy Eagle in Sao Paulo state. The area of the record is about to disappear by a thermoelectric project and the author claims the attention of the Government to the importance of this area. A harpia ou gavião-real, Harpia harpyja (Linnaeus, 1758), é considerada a maior ave de rapina das Américas, sendo uma das maiores e mais poderosas dentre as aves viventes (Sick, 1997). A espécie ocorre originalmente do México à Bolívia e Argentina, estando presente em grande parte do Brasil (Sick, 1997), entretanto tem se tornado raro na porção sudeste e sul do país (Albuquerque 1995, Galetti et al. 1997) O gavião-real habita florestas densas, desde o nível do mar até 2.200 metros de altitude, e necessita grandes áreas para sobreviver (Thiollay, 1989) e se estima que um casal necessite de uma área maior que 100 km2 para suprir suas necessidades de biológicas, em especial quanto à disponibilidade de presas. Dada essa exigência territorial, é fácil supor que tanto o gavião-real quanto seu primo, o Uiracu-falso (Morphnus guianensis) ocorram em baixas densidades e variam entre raras a extremamente raras em toda a sua área de distribuição. O estado de Minas Gerais conta com um registro recente, de Tapira, em 2006, de um indivíduo pousado em um morro sobre um cerrado provavelmente, em momento de descanso, durante processo de dispersão ou migração (Oliveira & Silva-e-Silva, 2006). No Espírito Santo, um dos últimos registros trata-se de um indivíduo adulto observado em 11 de agosto de 1992 logo após capturar um bicho-preguiça (Bradypus variegatus) na Reserva da Companhia Vale do Rio Doce, em Linhares. Em 18 de Dezembro provavelmente o

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mesmo indivíduo foi observado pousado a uma altura de 20 metros. Ainda em tempos recentes, o município de Linhares permanece privilegiado por abrigar essa magnífica espécie, como demonstram as fotos recentes de Mercon (2017) e gravações como a de Rennó (2009). No mesmo Estado, o município de Sooretama também conta com registros recentes, como as fotos feitas por Betkowski (2015). Da igual maneira o município de Santa Teresa ainda abriga esse poderoso rapinante, registrado na Reserva Biológica Augusto Ruschi por Raton (2012). Atualmente, setembro de 2017, os indivíduos da Reserva Natural do Rio Doce, encontra-se em período reprodutivo, com um filhote recentemente saído do ninho (dados do Projeto Harpia não publicados) O Estado de São Paulo, entretanto, apesar de ainda abrigar remanescentes significativos de Mata Atlântica, não possui a mesma sorte que o Espírito Santo. A espécie carecia de registros recentes e bem documentados. Em 29 de Janeiro de 1999, uma garra de Gavião-real foi confiscada de um caçador, e este afirmava que a ave havia sido morta em julho de 1989 em Varadouro, no município de Cananéia, na região do Vale do Ribeira. Já em 01 de julho de 1990 dois indivíduos adultos foram avistados sobrevoando a região de Ariri, no extremo sul do litoral paulista. Em julho de 1991 e 1993 foram novamente observados ao norte de Cananéia, uma região com 45 km2 de floresta contínua (Galletti, 1997). Apesar de considerada residente em toda sua área de ocorrência (Brown & Amadon, 1968), há quem sugira que a espécie é migratória no Estado de São Paulo (Galletti, 1997). Segundo comunicação pessoal do birdwatcher paulista Antonio Silveira ele teria visto duas plainado sobre a área da EE Juréia-Itatins, por volta de 1994, mas ele ficou em dúvidas sobre se era mesmo a Harpia, o observador comunica que dois grandes gaviões foram avistados planando a grande altura na Estação Ecológica Juréia-Itatins, em PeruíbeSP. O dia estava nublado, mas as características observadas e o porte avantajado levam a crer que se tratava da espécie em questão (Antonio Silveira, com. pess.) Apesar das constantes buscas por diferentes pesquisadores, a espécie foi finalmente bem documentada em 20 de outubro de 2012, quando um indivíduo adulto foi avistado por nós na região do Rio Preto, em Itanhaém. O indivíduo vocalizava oculto pela densa copa de um alto guanandi (Callophylum brasilienis) enquanto uma gralha-azul (Cyanocorax caeruleus) denunciava sua presença com gritos de alarme. Ao fundo, um bando de guaxes (Cacicus haemorrhous) voava, agitados ao redor de seus ninhos colgantes, atentos a presença do poderoso rapinante. A gravação (Fig. 01) está depositada no Wikiaves sob o código WA2701424 (Lima, 2012)

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Fig 01: Registro documentado de gavião-real nas florestas de Itanhaém. A área do registro é considerada uma IBA (do inglês, Importante Bird Area), sendo uma das áreas prioritárias para a conservação das aves no Brasil (Bencke, et al., 2006) e abriga ao menos 162 espécies de aves, das quais 12 se encontram em sério risco de extinção (Lima, 2010). A região abriga ainda um importante remanescente de Floresta Alta de Restinga, ambiente do qual restam apenas 22% no Estado (Guedes et. Al, 2006) Desse modo, um registro recente da espécie certamente daria maior animo para aqueles que lutam pela conservação da Mata Atlântica paulista. E o presente registro não poderia ser mais oportuno, visto que as matas da região estão na iminência de serem “rasgadas” por torres e linhas de transmissão que sairão de uma Termoelétrica projetada para ser instalada no município vizinho de Peruíbe. Sabe-se de grande tempo que linhas de transmissão elétrica de alta voltagem estão entre os maiores riscos para aves de grande porte, como tuiuiús e grandes aves de rapina (In Guimarães et al., 2008). Portanto, se faz necessário lutarmos pela decretação de uma Unidade de Conservação na região, onde poderão ser realizados estudos de fauna e flora, e onde atividades como o ecoturismo poderão ser implantadas, de modo que as presentes e futuras gerações ainda possam contemplar essa majestosa rapinante, emitindo seu chamado do alto de um guanandi. -----------------------------------Agradecimentos O autor agradece aos editores e revisores do Programa Ambiental A Última Arca de Noé e ao Dr. Felipe Bittioli Goes pelas dicas e correções.

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Bibliografia Albuquerque, J.L.B (1995) Observations of rare raptors in southern Atlantic rainforest of Brazil. In: Field.Orn.66363-369 Bencke, G.A., G.N. Mauricio. P.F. Develey. & J.M. Goerck (2006) Areas Importantes para a Conservacao das Aves no Brasil: parte 1 – Estados do dominio da Mata Atlantica.Sao Paulo: SAVE Brasil

BETKOWSKI, S. E. (2015). [WA1941696, Harpia harpyja (Linnaeus, 1758)]. Wiki Aves - A Enciclopédia das Aves do Brasil. Disponível em: <http://www.wikiaves.com/1941696> Acesso em: 17 Set 2017. Brown, L. & Amadon, D. 1968. Eagles, Hawks, and Falcons of the World. McGraw Hill, New York. GALETTI, M.; M.A.P. MARTUSCELLI & I. SIMÃO. 1997. REcords of Harpy and Crested Eagles in the Brazilian Atlantic forest. Bulletin of British Ornithologists' Club, London, 117 (1): 2731. Guedes, D.M.L . Barbosa., E.S., Martim (2006) Composicao Floristica e estrutura fitossiciologica de dois fragmentos de floresta de restinga no município de Bertioga, SP, Brasil. ACTA Botanica Brasilica vol 2. 299-301.

Guimarães, I. G. et al., (2008). Plano de Ação Nacional para a Conservação de Aves de Rapina.Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Brasília, 136 p.

LIMA, B. (2012). [WA2701424, Harpia harpyja (Linnaeus, 1758)]. Wiki Aves - A Enciclopédia das Aves do Brasil. Disponível em: <http://www.wikiaves.com/2701424> Acesso em: 17 Set 2017.

MERÇON, L. (2017). [WA2647058, Harpia harpyja (Linnaeus, 1758)]. Wiki Aves - A Enciclopédia das Aves do Brasil. Disponível em: <http://www.wikiaves.com/2647058> Acesso em: 17 Set 2017.

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RATON, R. (2012). [WA750436, Harpia harpyja (Linnaeus, 1758)]. Wiki Aves - A Enciclopédia das Aves do Brasil. Disponível em: <http://www.wikiaves.com/750436> Acesso em: 17 Set 2017.

RENNÓ, B. (2009). [WA161837, Harpia harpyja (Linnaeus, 1758)]. Wiki Aves - A Enciclopédia das Aves do Brasil. Disponível em: <http://www.wikiaves.com/161837> Acesso em: 17 Set 2017. SICK, H. 1997. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 912p. Thiollay, J. M. 2007. Raptor communities in French Guiana: distribution, habitat selection, and conservation. Journal of Raptor Research 41: 90-----------------------

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