GASTRÔ n CARNE DE SOL
Paixão
regional Texto BRUNA CASTELO BRANCO editoria.muito03@grupoatarde.com.br Foto RAUL SPINASSÉ raul.spinasse@grupoatarde.com.br
Embora o modo de preparo não seja mais o mesmo, a carne de sol é carro-chefe de muitos estabelecimentos e brilha saborosa como ícone da culinária sertaneja
S
e fosse para seguir o nome à risca, aquilo que conhecemos como carne de sol deveria agora se chamar carne de sombra ou carne de sereno. Por definição, a carne de sol é “o resultado do cozimento incompleto da carne de boi, da carne de carneiro, da carne de bode e da carne de porco pela exposição ao sol, depois de convenientemente temperada”, escreveu o escritor, professor e engenheiro Guilherme R. Radel (1930-2019) no livro A carne de sol: um ensaio introdutório. A carne não nasce carne de sol, ela vira carne de sol. E já faz algum tempo que não é tão comum se ver pedaços de boi cheios de sal pendurados num varal debaixo dos mais de dez sóis que habitam e torram o sertão nordestino. O que era cultura virou lembrança. Mas vamos deixar o saudosismo de lado: a mudança de hábito até que faz sentido. Primeiro, por uma questão de higiene e durabilidade. “Se deixar em contato direto com o sol, apodrece mais rápido. As pessoas passaram a se preocuparmaiscomisso,comasegurança”,explicaagastrônomaecharcuteiraBruna Moreira. Depois, como não podia faltar, vêm o gosto e a textura. Ao sol, a carne resseca mais rápido e fica mais durinha, bem diferente dos cortes macios normalmente servidos nos restaurantes. “Resseca um pouco mais. Quando não levamos a carne ao sol, ela desidrata toda por igual, não fica seca, e isso muda a textura e o sabor”, diz ela.
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SALVADOR DOMINGO 17/3/2019